INTRODUÇÃO
A minha história de vida começou em
tempos muito distantes. Começou numa pequena vila no norte da Alemanha
entre 1840-1850 onde vivia um pastor Luterano, Louis Harms. Através das
suas pregações Deus trouxe um avivamento na região de Lunenburg. Mais e
mais pessoas vinham à igreja assistir aos cultos, ao ponto de não haver
lugar para acomodar toda a gente. Um culto já não era suficiente e Louis
Harms necessitava de fazer cultos pela tarde também. Mas, logo se viu
que também isso não bastava. Havia, no povo, uma fome enorme pela
Palavra de Deus. No final, decidiu-se fazer três cultos ao Domingo e
algumas pessoas chegavam a caminhar 80 km para assistirem aos cultos.
Naquele tempo, as pessoas eram
maioritariamente pobres. Os filhos dos agricultores não viviam bem.
Bebiam muito e entregavam-se ao mundo e aos seus pecados. Mas, sob as
pregações de Lous Harms, os jovens começaram a converter-se. Pararam com
suas vidas inúteis, pararam de beber e com suas vidas de mentiras e de
falsa moralidade.
Um dia, chegaram a Louis Harms e
disseram-lhe: “Pastor, queremos contar-lhe uma coisa. Temos uma enorme
vontade de pregar o evangelho aos pagãos. Eles também precisam de ouvir
esta mensagem”.
Louis Harms concordou com aquele desejo.
Mas, a pergunta surgiu em seu coração sobre onde seriam formados estes
jovens para que pudessem empreender tal responsabilidade. Então,
enviou-os para a Universidade de Hamburgo. Contudo, duas semanas mais
tarde, estavam de volta a casa muito tristes e desapontados com tudo.
Qual seria a razão? Os professores acharam-nos pouco inteligentes para
pregarem o evangelho. Porém, os jovens não estavam na disposição de
aceitar tal desfecho para as suas pretensões e desejos de pregar o
evangelho de Jesus. Então, Louis resolveu enviá-los para a Universidade
de Bremem, mas, aconteceu a mesma coisa por lá e foram devolvidos a casa
uma vez mais. Mas, nem mesmo este segundo rude golpe conseguiu
demovê-los de pregarem o evangelho. No final, Louis Harms não viu outra
saída para a questão senão criar uma escola onde formar os jovens como
missionários.
Após haver resolvido este problema da
formação, apareceu o segundo problema. Como fazê-los chegar a África?
Era o desejo intenso de Louis conseguir fazer chegar estes missionários
à África Oriental, para a tribo dos Gala, na Etiópia. Era um povo
valente, mas, cheios de fome por honra e conquistas. A vida desta tribo
consistia em conquistas e guerras. Louis estava convencido que
conseguiria trazer esta tribo a Deus e que eles, por sua vez, iriam
fazer chegar o evangelho ao resto de África. Com esse propósito, um
navio foi construído. Foi um ato audaz de pura fé porque a congregação
não era propriamente rica. Contudo, confiaram no Senhor e
perguntaram-lhe em oração se Ele iria providenciar tudo que necessitavam
para o efeito. Pouco tempo depois, um empresário de Hamburgo ofereceu
todo o metal e outro material necessário para a construção do navio. Um
outro comerciante providenciou a madeira e assim construíram aquele
pequeno navio que passou a chamar-se Kandace.
Em 1854, Louis Harms enviou os seus
primeiros missionários para África. Despediu-se deles com estas
palavras: “Nunca mais nos veremos. Despedimo-nos aqui até ao dia que nos
veremos no céu”. (De fato, os missionários nunca mais voltaram para a
sua terra natal. Eles faleceram longe de seu país no meio dos povos
pagãos de África. Não havia sido fácil, mas, eles ofertaram suas vidas
para a propagação do evangelho de Cristo).
Assim, o navio partiu em direcção a
África Oriental. Os missionários aproximaram-se de seu destino e
atracaram, cremos, na região de Mombaça. Mas, logo se aperceberam que as
portas da Etiópia não se iriam abrir para eles. Ficaram profundamente
desapontados e não teriam outra alternativa senão voltarem para a
Alemanha. Podemos apenas imaginar o tamanho do seu desapontamento. A
caminho de casa, o navio atracou em Durban. Ali, os missionários
começaram a tocar as suas trompetes na proa do navio. Merensky
trabalhava, na altura, em Durban. Ele havia sido enviado por uma
organização missionária de Berlim. Assim que ouviu as trompetes, deduziu
imediatamente que se tratava de alemães. Subiu a bordo para conhecer os
missionários de Hermannsburg. Quando terminaram de relatar toda a sua
história de desapontamentos, Merensky confortou aqueles jovens com as
seguintes palavras: “Fiquem aqui no meio da tribo Zulu! Os Zulus são tão
guerreiros quantos os Galas. Tragam o evangelho a eles porque eles
também não sabem nada sobre Jesus”.
Os missionários resolveram aceitar o
conselho e ficaram na África do Sul. Foi o início da obra missionária
Alemã entre os Zulus e, desde então, os Alemães tornaram-se muito
familiares para os Zulus.
Depois disso, levou mais dez anos até que
a minha família, os Stegens, embarcassem no Kandace e viessem parar em
Durban. Chegaram para permanecer para sempre na África do Sul. Não
chegaram como missionários, mas, como fazendeiros que desejavam
prosperar para suportarem os missionários na obra de Deus. Houve outras
famílias que chegaram antes e depois deles, mas, foi assim que os
alemães começaram a povoar aquela zona da África do Sul. Não demorou
muito até que houvesse uma comunidade alemã vasta e igrejas deles por
todo lado.
INFÂNCIA E CONVERSÃO
Os meus antepassados que chegaram em 1869
eram de parte de minha mãe. Da parte de meu pai, chegaram apenas entre
os anos 1881-1883. Na nossa história familiar nunca houve um pregador.
Também, já no ano 1900 toda a família havia perdido contato com os
familiares que permaneceram na Europa. Nunca mais ouvimos falar deles.
Alguns de nós, daqueles que vieram viver na África do Sul, acabaram
virando as costas para Deus com o decorrer dos anos. Meu pai e minha mãe
permaneceram, contudo, dentro de uma disciplina evangélica rígida. Todos
os domingos éramos obrigados a ir à igreja, frequentar os cultos e não
era nada agradável. Por essa razão, eu já havia determinado em meu
coração que, assim que me tornasse adulto, jogaria toda a religião para
o alto e não iria querer saber mais nada de Deus. Claro que era de
esperar que não usássemos o tempo que nos resta para aprofundar a nossa
fé cristã. Muitas vezes, mentíamos para nossos pais para arranjarmos
maneira de escaparmos aos cultos. Recordo-me que, por vezes, fazíamos
planos para jogarmos à bola e inventávamos uma dor muito grande para
podermos ficar em casa na hora do culto. Assim que os nossos pais saiam
para o culto, vestíamos calções e íamos chutar a bola na rua. Com
certeza que já não nos queixávamos de dor!
Apesar dessas coisas, a nossa família
tinha fama e nome de quem era fiel à igreja e de quem frequentava os
cultos assiduamente. Mas, a verdade era que éramos pessoas completamente
mundanas. A sala de dança estava no nosso terreno. O chão era
devidamente preparado durante dias para que as nossas danças corressem
bem. Havia casamentos, noivados e outras coisas que serviam de desculpa
para termos nossas festanças e danças. As pessoas de todo o condado e
arredores frequentavam o nosso salão de bailes particular. Ali bebiam e
dançavam. E esse tipo de vida persistiu até ao dia em que algo aconteceu
em nossa igreja que marcou definitivamente a minha própria vida e a de
outros.
O nosso pastor foi chamado para outro
lugar e chegou um outro. Tínhamos o hábito de levar rebuçados para o
culto. Assim, não adormecíamos nos cultos. Os bombons ajudavam a
manter-nos acordados. Mas, com o novo pastor, as coisas mudaram. Os seus
sermões pegavam em nós e faziam a diferença. Era algo que nos chamava a
atenção naturalmente. E, ainda por cima, ele tinha uma mão segura sobre
nós, as crianças. Lembro que quando havia corridas de carros em
Pietermaritzburg por altura da Páscoa, pediamos que seus sermões fossem
mais curtos para podermos ir assistir a elas. Então, ele fazia o sermão
durar apenas uns dez ou quinze minutos. Para nós, era uma coisa muito
linda e todos afirmavam que aquele era, realmente, o melhor pastor que
alguém podia desejar. “É o melhor pastor do mundo! É o homem mais certo
para nós! Não poderíamos desejar melhor!” Era o que todos diziam.
Mas, na verdade, o nosso pastor era a
pessoa mais infeliz do mundo. Ele apercebia-se que faltava algo muito
importante em sua vida. Nunca teve paz em seu coração desde a sua
meninice. Pensou que alcançaria essa paz tornando-se pregador da
Palavra. Foi assim que saiu para a Europa para estudar teologia durante
um ano. Como era uma pessoa muito talentosa e inteligente, teve a melhor
prestação nos estudos. No final dos seus estudos, os seus professores
não o queriam deixar voltar para África. Desejavam que se tornasse
pregador na Europa e tentaram de tudo para convencê-lo que toda aquela
inteligência nunca seria prestável ou apreciada em África. A isso
respondeu da seguinte forma: “Sabem, na minha terra (África do Sul) as
bananas são todas tortas e preciso ir lá endireitá-las!”
Os professores concordaram com ele rindo,
pois, viram que seria inútil persistirem contra seu desejo. Deixaram-no
voltar a África. Tornou-se missionário e, com o decorrer do tempo,
tornou-se o pastor de nossa congregação.
Contudo, ficou claro para ele que os seus
sermões e obra não conseguiam preencher as suas necessidades espirituais
mais básicas. Por vezes, ficava com a impressão que deveria trabalhar
mais e até começou a ter mais cultos durante a semana. Como consequência
disso, esgotou-se completamente e já não conseguia terminar a obra de
abrir mais congregações aqui e ali. Toda a situação levou-o a um
esgotamento, o que o levou a consultar um médico Judeu. Após a consulta,
o médico disse-lhe isto: “Eu admiro-me muito que vocês, crentes, tenham
tanto medo da morte. Vejo que os meus pacientes cristãos dizem que crêem
no Messias e são os que mais têm medo de morrer!”
Para o nosso pastor, aquelas palavras
foram como um murro no estômago. O médico aconselhou-o a parar por três
meses se quisesse evitar um colapso nervoso e esclareceu que, caso isso
acontecesse, iria acabar internado em algum hospital. O nosso pastor não
acatou as palavras do seu médico e foi para casa, desmotivado e triste.
Mas, as palavras do médico sobre os crentes tiraram-lhe a paz que ainda
lhe restava. Depois de pensar lucidamente durante um tempo nelas, chegou
e disse à sua esposa: “Eu não consigo acreditar que não haja uma pessoa
neste mundo que não me consiga ajudar. Tenho consciência de uma grande
falta em minha vida, mas, não consigo colocar meu dedo no problema. Não
consigo ver qual é o problema. Tenho a certeza que em algum canto deste
mundo deve existir uma pessoa capaz de ajudar-me”.
Partiu em viajem decidido a encontrar
alguma pessoa que soubesse ajudá-lo. Estava decidido a não regressar
enquanto não obtivesse todas as respostas para todas as suas questões,
ainda que tivesse de viajar pelo mundo todo. Foi assim que chegou a
Pretória onde encontrou um evangelista. Era de se saber que havia muita
gente que não gostava nada do evangelista em questão e muitos até
falavam mal dele e o desprezavam. Mesmo tendo conhecimento de tudo que
acontecia à volta desse evangelista desprezado, nosso pastor resolveu,
ainda assim, ir conversar com ele sobre as suas necessidades
espirituais. Tinha esperança de encontrar as respostas naquele homem.
Ao entrar, o nosso pastor teve um grande
desapontamento. O evangelista mal conhecia o Grego arcaico e o seu
Hebraico também não era lá grande coisa. Perguntou-se: “Como é que este
homem me pode ajudar? Ele sabe menos que eu! Se nem conhece os idiomas
nos quais a Bíblia foi escrita, como poderá este homem ajudar-me?”
Contudo, o evangelista conhecia o Senhor
Jesus e sabia orar de forma a ser atendido. Enquanto escutava o seu
visitante, clamava a Deus secretamente: “Senhor, suplico-te que anules
as coisas que impedem este homem de Te ver. Brilha com Tua luz n’Ele
porque ele precisa de Ti”. No fim da visita, o evangelista propôs que
orassem juntos. Assim que se ajoelharam, o pastor entendeu pela primeira
vez as palavras de Jesus: “Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir
a minha voz e abrir, entrarei e cearei com ele e ele Comigo”,
Apoc.3:20.
Foi somente naquele preciso momento que
se apercebeu que Deus sempre esteve fora de sua vida. Não vivia em seu
coração – só na sua cabeça. Com uma fé de criança confiante pediu ao
Senhor para entrar em seu coração. Foi uma experiência maravilhosa para
o nosso pastor, pois, todo seu interior mudou e quando se levantou de
seus joelhos tinha uma paz que nunca havia experimentado. Foi o dia mais
importante de toda a sua existência. Voltou logo para a sua congregação
e no domingo seguinte estava de volta ao púlpito. A sua pregação havia
mudado radicalmente. Era como se o estivéssemos ouvindo pela primeira
vez. Ouvindo todas as suas palavras, dava para perceber que algo muito
significativo havia acontecido com ele. Diante de nós estava um novo
homem, uma criatura completamente nova.
Tudo que lhe aconteceu teve a capacidade
de impressionar-nos a todos. Eu sabia que também precisava de tudo
aquilo que meu pastor havia achado porque eu não conseguia vitória sobre
nenhum dos meus pecados e de minhas tentações. Era uma guerra constante
a que se dava dentro de mim. Éramos seis filhos, cinco rapazes e uma
menina. A menina era a mais nova. Quando íamos para a Santa Ceia, íamos
muito pesados porque as nossas consciências pesavam bastante e
acusavam-nos. Estávamos sempre conscientes da nossa natureza pecadora
nessas ocasiões. Após confessarmos certos pecados e depois de havermos
participado na Ceia, voltávamos para casa mais leves, isto é, menos
pesados. Mas, a caminho de casa, já os meus irmãos começavam a brigar e
tudo voltava ao usual. A verdade é que o arrependimento chega sempre
tarde. Quando chegávamos a casa, já não tínhamos a paz que havíamos
obtido durante o culto da Ceia por havermos brigado muito no caminho.
Isso preocupava-me bastante e eu sabia que já estava contaminado com
pecado novamente. Sentia-me sujo. Então, percebia que teria de esperar
mais três meses para a próxima Ceia para tornar a confessar os meus
pecados. Essa ideia perturbava-me bastante. Quando chegava a hora que
era pronunciado o perdão de nossos pecados novamente, sentia-me deveras
feliz. Contudo, nada mudava. Continuava sendo desobediente a meus pais,
respondia e falava alto; não honrava meus pais; dava sempre a minha
opinião e fazia aquilo que me apetecia. Variadíssimas vezes,
apercebia-me que agia mais como um filho do diabo que um filho de Deus.
A minha consciência perturbava-me continuamente e tinha plena
consciência que desprezava o mandamento de Deus, o qual diz-nos para
honrarmos nosso pai e nossa mãe. Sabia que pecava contra Deus,
principalmente nesse aspecto. Tudo isso fazia-me muito infeliz e dizia:
Senhor, eu nunca mais farei tal coisa, nunca mais cometerei tal pecado.
Não quero mais ser assim”. Mas, não demorava muito e voltava tudo ao
mesmo.
O nosso pastor exteriorizava a sua nova
relação com Jesus. Ele vivia um momento lindo. Pregava que precisamos de
Jesus incondicionalmente em nossas vidas e que não teríamos como nos
libertar de nós mesmos de outra maneira, porque somente Ele pode
libertar-nos de todos os nossos pecados. Somente Ele poderia
fortificar-nos ao ponto de obtermos êxito total lutando contra os nossos
pecados. Isso causou uma transformação em minha própria vida. Eu orava
com lágrimas: “Senhor Jesus, preciso muito de Ti! Liberta-me da minha
desobediência, da minha vontade de brigar e da minha boca grande!” E
tudo mudou. Já não era preciso que alguém me dissesse para ir à igreja e
sentia-me muito mal quando não podia ir. O Senhor Jesus também começou a
operar em nossa casa. Não demorou muito até que o salão de danças e de
bailes fosse transformado em um lugar onde a Palavra de Deus era pregada
e ensinada. Aos poucos, chegava mais e mais gente para ouvir o evangelho
em nossa casa.
Após a minha conversão, a Bíblia
tornou-se o livro mais amado e mais querido. Nunca fui amigo de leitura
e até mesmo na escola a leitura era, para mim, um castigo enorme. Mas,
assim que Jesus entrou em meu coração, tudo mudou e eu podia ficar horas
e horas, noite e dia, lendo a Bíblia e lendo todos os livros sobre
avivamento. O meu coração ficava cheio de alegria lendo como as pessoas
vinham a Jesus e verificando como os seus corações eram profundamente
tocados pelo Deus vivo. A Bíblia tornou-se o livro mais importante da
minha vida e perdi a vontade de fazer qualquer outra coisa. Não havia
nada mais com valor para mim.
Quando a minha família saia para visitar
alguém, eu tratava sempre de arranjar uma desculpa para ficar em casa.
Nunca lhes contava que desejava ficar em casa para ler a Bíblia e cantar
do hinário de Salmos que tinha. Antes disso, nunca alguém me via cantar.
Mas, Jesus mudou tudo em mim, pois, eu já não conseguia ficar sem
cantar. Sempre que ficava sozinho em casa, pegava em minha Bíblia e
lia-a de joelhos. Quando a família estava em casa, eu pegava na Bíblia e
dizia-lhes que ia caminhar um pouco. Desaparecia entre as plantações de
árvores e passava ali horas muito agradáveis e produtivas. Jesus falava
mesmo comigo. Onde fosse ou onde estivesse, no campo ou em cima do
trator, meu Novo Testamento estava sempre comigo. Lia um capítulo atrás
do outro e até os memorizava. Ninguém me obrigava a fazer isso, mas, a
própria Palavra criava um desejo enorme e ela vivia dentro de mim. Era,
para mim, mais doce que o mel.
Os meus colegas de escola vivam uma vida
superficial e inútil. Passavam seus dias com as moças. Não conseguiam
entender por que razão eu era diferente e que proveito eu tirava de tudo
aquilo. Não entendiam como é que eu podia passar
horas lendo minha Bíblia. Mas, a verdade
é que Jesus significava muito para mim. Ele era grandioso a meus olhos.
Tornou-se o meu primeiro amor. Experimentava uma alegria muito profunda
e inexplicável. Sentia um grande encorajamento através das promessas que
o Senhor fazia na Bíblia. Por exemplo, João 15:7: “Se vós estiverdes em
mim e as minhas palavras estiverem em vós, pedireis tudo o que quiserdes
e vos será feito”. E eu pensava para mim que, nem que fosse a única
promessa existente na Bíblia, ainda assim seria a pérola mais preciosa
na face da terra. Contudo, não era a única promessa. Li mais adiante:
“Até agora nada pedistes em meu nome; pedi, e recebereis, para que o
vosso gozo se cumpra”, João 16:24. Estas palavras enchiam-me de um gozo
inexplicável. Se era verdade aquilo que lia, podia pedir qualquer coisa
para que a Sua alegria em nós transbordasse e fosse plenamente
aperfeiçoada. Outra promessa que causou uma grande impressão em meu
espírito: “Na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em mim
também fará as obras que eu faço e as fará maiores do que estas, porque
eu vou para meu Pai”, João 14:12.
Todas estas coisas aconteceram entre os
anos 1949 e 1951. Ainda era muito jovem e tudo era aceite e crido com
uma fé espontânea de criança. Sempre que lia as palavras de Jesus que
diziam “Na verdade, na verdade, vos digo…” eu cria nelas como se da
verdade se tratasse e nem questionava nada. Jesus não era mentiroso! Em
Mateus, Marcos, Lucas e João eu lia sobre as obras de Jesus e dizia para
mim que, se deveras crêssemos em Jesus e a Sua palavra fosse viva em
nós, de acordo com aquela promessa, faríamos qualquer obra que Ele fez e
até mesmo obras ainda maiores que aquelas. Não consigo achar palavras
para explicar tudo o que aquilo significava para mim na altura. Era como
se o Céu se tivesse aberto! Jesus e a Sua Palavra eram tudo para mim.
Não tinha tempo para moças e para qualquer outra coisa do mundo.
O CHAMADO DE DEUS
O pensamento de alguma vez tornar-me
Pastor nunca me cruzara a cabeça. Eu sempre dizia: “A coisa mais ruim é
alguém ser professor. Mas, alguém ser pastor ainda é pior que isso!”
Meus pais e avós desejavam muito que me tornasse fazendeiro. Mas, o meu
alvo era fazer dinheiro e ser rico. O dinheiro era o meu deus. Já quando
era criança desejava ser rico e até cheguei a fazer uma plantação de
tabaco para vendê-lo. Enquanto os meus amigos queriam andar com as
moças, eu fazia tudo para andar atrás de dinheiro. O meu pensamento era:
“Primeiro o dinheiro. Depois, as outras coisas”.
Eu não pensava sequer na obra
missionária. Após haver completado a escola, prontifiquei-me logo para
ir ajudar o meu pai em sua fazenda, onde morávamos e trabalhávamos
felizes. Foi ali que, pela primeira vez, ouvi o chamado de Deus de forma
inesperada. Chamava-me para ir trabalhar na Sua vinha. Minha mãe havia
oferecido um livro a cada um de nós pouco tempo antes disso. O livro que
me calhou foi um de Werner Heukelbach. Era a história de um homem que
experimentara uma transformação em toda a sua existência e vida. Antes
havia sido um homem iníquo e pecador e, mais tarde, um evangelista.
Aquele livro chegou a mim no momento mais apropriado. Não poderia ter
chegado em melhor altura. Foi, então, que senti que Deus me queria na
Sua obra. Disse de pronto: “Senhor, se me pedires isso, estou pronto e
disposto para ir”. Naturalmente que naquela fase de primeiro amor e de
grande entusiasmo pessoal, eu não havia feito as contas sobre tudo o que
me iria custar. Dirigi-me de imediato aos meus pais, irmãos, irmã e,
também, ao meu pastor, dizendo que eu estava seguro que Deus me estava
chamando para a a obra missionária. O nosso pastor ficou muito
entusiasmado e convidou-me para ir com ele para Transvaal-Este. Havia
ali uma conferência onde iriam estar os melhores e mais conhecidos
evangelistas do mundo. Concordei e tinha a convicção de que aquela
conferência seria uma enorme bênção para mim.
Era a primeira vez que me afastava da
minha família e da fazenda. Lá no Transvaal tive muito tempo para pensar
e repensar na decisão sobre o meu futuro. Foi então que me apercebi que
seria o fim do trabalho na fazenda que muito amava. Iria deixar os meus
pais e irmãos. E também não conseguia aceitar ser um pastor pobre e
viver como um pobre coitado. O dinheiro ainda significava muito para
mim. Os meus pensamentos começaram a ver a vida que o nosso pastor
levava e muitos outros iguais a ele. Via como eles apenas sobreviviam na
pobreza e não faziam mais nada senão pregar, batizar e enterrar pessoas
nos funerais. Eu reconheci que eu não desejava ser assim.
Definitivamente, aquilo não era obra para mim!
Assim, estava disposto a recuar na minha
decisão porque eu simplesmente não estava na disposição de seguir por
aquele caminho. Naquela conferência havia, de fato, bons pregadores.
Quando assistia o culto da noite o meu coração clamava alto e dizia:
“Senhor, estou disposto a seguir-te, quero seguir Teu caminho”. Mas, na
manhã seguinte, o meu coração estava novamente endurecido e decidi que
ia voltar para casa. Escutava mais um culto à noite e desejava seguir ao
Senhor. O meu coração derretia-se a favor do Senhor e de Sua causa e
estava disposto a atender o Seu chamado. Mas, no dia seguinte,
repetia-se aquela dureza novamente. E assim continuava até que uma manhã
decidi mesmo voltar para casa e tornar-me fazendeiro. Mas, havia um
problema que eu não sabia como resolver: havia afirmado ao meu pastor
que ouvira a voz de Deus e que Ele me chamara. O que responderia se ele
me perguntasse qual a razão por que mudara de ideia? Antes, havia dito
claramente que Deus me havia chamado para a Sua obra e até convenci
todos que estava firme na minha convicção. E agora precisava arranjar
maneira de sair daquela enrascada. Estava, deveras, desolado.
Mas, um outro problema surgiu. O que
responderia à minha mãe quando ela perguntasse como é que a minha volta
para casa rimava com o tal chamado que eu afirmei vir de Deus? Aquelas
questões perturbavam meus pensamentos. Até que cheguei a uma ideia
brilhante: na conferência falara-se de como algumas pessoas afirmavam
haver tido uma palavra de Deus quando abriam as Escrituras. A ideia
surgiu e vi nela uma maneira de sair daquela situação complicada onde me
metera. Diria ao meu pastor que havia ouvido mal ou que, talvez, Deus me
tivesse colocado à prova como colocou Abraão quando lhe pediu para
sacrificar seu filho, Isaque. Deus só desejava colocar à prova a
capacidade de Abraão obedecer-Lhe. Deus somente quis provar a sua
fidelidade a Ele. Tal como Deus permitiu que Isaque ganhasse sua vida de
volta, desse mesmo jeito Deus permitia que eu voltasse para a minha.
Ganhava minha vida de volta como Isaque e ia trabalhar na fazenda
completamente dedicado a Ele. Mas, precisava confirmar isso com uma
palavra abrindo as Escrituras em qualquer lugar.
Também poderia usar o mesmo argumento
com minha mãe. Fazendo isso, tudo se encaixaria dentro da verdade que eu
supunha. Ninguém iria discutir mais comigo e todos concordariam com os
argumentos apresentados. Resolvi afastar-me dali um pouco sentei-me em
cima duma rocha. Só precisava pedir a Deus uma palavra na Bíblia, onde
ela se abrisse. Peguei em minha Bíblia e expliquei ao Senhor como Ele
havia de proceder comigo, e como devia dar-me uma palavra que revertesse
toda a minha decisão. Expliquei-Lhe o queria de minha vida. Eu iria
trabalhar numa fazenda minha e usaria o meu dinheiro para suportar a
igreja e os missionários. A minha casa estaria à disposição de Deus para
estudos bíblicos, reuniões de oração e quaisquer cultos. Expliquei a
Deus tudo que sentia nos mínimos detalhes. Era isso que desejava para a
minha vida. Então, orei: “Senhor, não desejo fazer todas estas coisas
sem Ti. Preciso da Tua bênção sobre a minha decisão e sobre tudo que
irei fazer por Ti. Agora, preciso que me dês uma palavra para confirmar
todos estes planos que tenho e os quais compartilhei contigo”. Atrevi-me
a abrir a Bíblia na esperança que algum versículo se destacasse e
estivesse em negrito. Mas, foi um desapontamento total. Os meus olhos
caíram sobre um versículo de letras normais no lado direito da Bíblia.
Como isso aconteceu não sei dizer, mas, vi aquele versículo: “Vinde após
mim e eu vos farei pescadores de homens”, Mat.4:19.
Fiquei zangado e fechei a minha Bíblia
com estrondo como se tal coisa fosse capaz de tirar de mim aquelas
palavras que não desejei ver ao abrir a Bíblia daquela maneira. Eu
estava a ferver por dentro e na minha raiva disse: “Senhor, vou-Te
mostrar que eu não farei isso! Eu não me tornarei pescador de homens
nenhum! Eu não quero isso para a minha vida e prefiro passar pela vida
sem Ti do que fazer isso!” Voltei para o lugar das conferências, arrumei
as minhas coisas e disse ao meu pastor de forma grossa e curta que
estava voltando para os meus pais na província do Natal. Ele ficou
tranquilo e não me disse nada. Mas, passado um pouco de tempo acabou por
me dizer:
“Erlo, tens a certeza que essa é a
vontade de Deus para ti?”
“Sim, claro que tenho!” disse-lhe e
tornei a confirmar-lhe uma vez mais.
“Então, não desejo tornar a falar sobre
este assunto contigo. Quero que seja a última vez”.
Foi dessa maneira que consegui enganar
meu pastor e mentir-lhe. É uma coisa inexplicável que um crente tenha a
coragem de mentir daquela maneira! Naquele dia apercebi-me como o
coração do homem pode tornar-se tão mau de um momento para o outro. E eu
já me podia considerar um filho de Deus.
O meu pastor levou-me para a estação
para apanhar o transporte para casa. Antes de partir, ele ligou para os
meus pais para informar que chegaria à estação de Pietermaritzburg às
seis horas da manhã seguinte. O meu pai e os meus irmãos foram
buscar-me. Assim que nos encontramos na estação, um deles disse alegre:
“É tão bom que estejas de volta! O nosso Deus é verdadeiramente um Deus
de amor!”
Naturalmente que os meus irmãos não
conseguiam imaginar nada do que se passava dentro do meu coração. Eu
sabia muito bem que não havia sido aquele Deus de amor que me trouxera
de volta! Estava em rebeldia e em oposição a Deus. Virara as minhas
costas a Ele e havia-Lhe dito que não desejava seguir o Seu caminho para
a minha vida.
Uns dias mais tarde, encontrava-me
sozinho com minha mãe e ela perguntou-me de repente: “Erlo, o que
aconteceu? Tu primeiro disseste-nos que o Senhor havia-te chamado para
trabalhar na Sua vinha e agora voltaste atrás. Por que razão fizeste
isso?”
O que poderia dar como resposta ali a
uma pergunta tão direta? Não tinha palavras para responder-lhe. A única
coisa em que pensei foi fazer chantagem emocional: “Mãe, se a senhora
não me quiser mais aqui, basta dizer!” Saí dali abruptamente e
enfurecido, batendo a porta atrás de mim.
Isso também significou o fim dos
cânticos e de ler a Bíblia. Não tocava mais na Bíblia. Os dezoito meses
que se seguiram foram, para mim, o inferno aqui na terra. Eu tinha de
reconhecer que desobedecer a Deus é dez mil vezes pior que obedecê-Lo.
Uma decisão contra Deus leva-nos por um caminho muito difícil. Nunca
mais quero passar por tal coisa. Dizemos com frequência: “O preço que se
paga para seguir Deus é muito alto para mim. O sacrifício é grande
demais! Não consigo pagar todo esse preço”. Mas, podem crer em mim que o
preço da desobediência é maior e mais difícil. Após dezoito meses,
entrei em meu quarto para ajoelhar-me. Pela primeira vez depois daquela
guerra terrível haver começado, peguei em minha Bíblia novamente. O meu
olho caiu, novamente, sobre um versículo específico que falava do amor
de Deus por mim. É muito difícil explicar o que se passou em meu coração
entorpecido e destroçado naquele momento. Muito triste, dizia ao Senhor:
“Senhor, como é possível ainda teres amor por mim? Mesmo tendo
esbofeteado Teu rosto e de ter virado minhas costas para Ti, ainda assim
me amas!” Não consigo descrever aqui tudo que se passou, mas, resumindo,
posso dizer que o amor de Deus desarmou-me completamente. Meu coração
insensível ficou partido e toda a resistência desapareceu como nevoeiro
diante do sol quente. Chorei como uma criança e nunca consegui entender
como o Senhor ainda tinha amor por mim. Logo a mim que o magoou tanto.
Naquele momento experimentei o que é, realmente, o amor de Deus.
Uns dias depois, tornei a abrir a minha
Bíblia onde lia: “Simão, filho de Jonas, amas-Me mais do que estes?”,
João 21:15. Era como se o Senhor estivesse ali do meu lado perguntando:
“Erlo, amas-Me realmente?” É verdade que amava meus pais, meus irmãos, a
casa de meus pais e a fazenda. Mas, agora o Senhor perguntava-me se O
amava a Ele. Sim, eu amava o Senhor, nem teria como não amá-Lo. Pedro
respondeu-Lhe: “Sim Senhor, Tu sabes que te amo”. E o Senhor
respondeu-lhe de volta: “Apascenta as minhas ovelhas”. O Senhor tornou a
perguntar a Pedro se o amava. Pedro tornou a pensar e a responder da
mesma forma. E Jesus disse-lhe para apascentar as Suas ovelhas. Mas, na
terceira repetição, Pedro entristeceu-se com a pergunta e clamou:
“Senhor, Tu sabes todas as coisas, sabes que Te amo”. E foi assim que
aconteceu comigo, também. E Jesus respondia: “Apascenta as minhas
ovelhas!” Bastou para mim. Levantei-me de meus joelhos, fui ter com
minha mãe e disse-lhe: Mãe, agora vou começar uma nova vida!”
Logo de seguida, procurei meu pastor e
disse-lhe que as minhas dúvidas haviam chegado ao fim e que toda a
guerra interior dos tempos anteriores havia sido encerrada. E foi assim
que comecei uma vida completamente nova. Inscrevi-me, de imediato, numa
Escola Bíblica e, desde então, nunca mais tive qualquer dúvida sobre o
chamado de Deus.
DOZE ANOS NO DESERTO
Antes de ter iniciado o meu ministério
em 1951, eu ainda disse uma coisa ao Senhor que me traria grandes
problemas no futuro.
“Senhor, este passo que estou dando
está-me custando um preço muito alto. Estou deixando os meus pais, a
minha herança, os meus irmãos e irmã, tudo que possuo ou que poderia
considerar como meu. Por essa razão oro e peço que, por causa do Teu
nome e onde eu andar Contigo por esta terra, eu não esteja brincando às
igrejas. Eu saio nessa condição. Se saio para pregar o evangelho, quero
fazê-lo da maneira que Tu fazias e não me importa onde isso aconteça.
Mesmo não trabalhando numa igreja de tijolo, que seja nas montanhas, no
campo, eu desejo pregar da maneira que vem nas Escrituras. É dessa
maneira que desejo servir-Te. E que as Tuas promessas e a Tua Palavra se
manifestem em minha vida e se cumpram da maneira que vem na Bíblia. Da
maneira que Tu pregavas e ensinavas as pessoas quero eu ensinar e pregar
também, porque dizes na Tua Palavra: “Assim
como o Pai me enviou, também eu vos envio a vós”, João 20:21”.
Quando terminei os meus estudos no
Seminário, aconteceu algo inesperado. O Senhor abriu uma porta para ir
pregar entre os Zulus. Nós vivíamos no meio dos Zulus, mas, eu nem
sequer falava Zulu. De todos em minha família, eu era o mais fraco nesse
aspecto, pois, era de todos o que menos conseguia expressar-me em Zulu.
Por essa razão, eu não conseguia entender muito bem por que razão Deus
me enviava para o meio dessa tribo. Fiz o seminário numa escola branca e
agora o Senhor abria uma porta entre os negros Zulus. Era claro que Deus
tinha outros planos diferentes dos meus. Mas, como eu amava ao Senhor,
desejava fazer a Sua vontade. E foi assim que me tornei um missionário
entre os Zulus.
Durante muito tempo, os Zulus escutaram
a minha mensagem, mas, diziam: “É verdade, o Cristianismo é uma coisa
excelente. O Cristianismo trouxe-nos coisas muito boas. Existem escolas,
hospitais e até podemos tornar-nos pessoas qualificadas. Contudo, o
Cristianismo ainda é uma coisa estranha para todos nós. Continua sendo a
religião dos brancos, feita para os brancos. É a religião deles, é a sua
tradição. Vocês, os brancos, têm os vossos Deuses: Deus Pai, Deus Filho
e Deus Espírito Santo. Mas, nós temos os nossos espíritos e todos eles
também têm nomes. Mesmo que o Cristianismo não seja uma coisa má na
generalidade, ainda assim não basta para nós. Não serve. Para nós é como
uma água que se joga em cima do fogo para apagá-lo. O Cristianismo até
apaga o fogo, mas, não tem poder para alcançar as raízes das nossas
vidas e da nossa cultura. Por isso é que necessitamos manter os nossos
deuses e precisamos manter as tradições dos sacrifícios aos espíritos
que herdamos de nossos pais e antepassados”.
Os Zulus também me diziam: “O
Cristianismo é uma coisa boa. Mas, é pena que queiram pregar para nós,
trazendo o evangelho, para nós, os negros. Seria muito melhor para vocês
levarem essas palavras aos brancos para que eles se convertessem
primeiro! Nós trabalhamos para os brancos e bem sabemos como eles são.
Brigam muito e ficam zangados e impacientes por tudo e por nada! Eles
tratam mal e xingam muito facilmente. São pessoas que não têm amor. Não
vemos esse amor neles”. Alguns iam mais longe ainda e diziam-me: “Nós
não te queremos mais aqui. Vai pregar para os brancos! Vai ver as coisas
que eles fazem! Eles vão aos cinemas, bebem muito, fumam, são imorais. E
tu vens pregar para nós para nos converter? Por que razão não se
convertem vocês? Se vocês se converterem de verdade, poderíamos ver mais
claramente o que o vosso evangelho significa e que ele funciona!”
Seis anos depois de haver começado esse
ministério, orei a Deus muito intensamente e disse: “Senhor, dá-me a
sabedoria e o poder do Espírito Santo para eu poder convencer este povo
que Tu não és somente Deus dos brancos, mas, que és Deus de todos os
povos e que Jesus morreu para salvar qualquer pessoa. Que possam ver que
Jesus, o Filho do Deus vivo, é Salvador para todo mundo e para toda a
humanidade. Que saibam que ninguém chega ao Pai senão por Jesus”. Logo
de seguida, preparei-me exaustivamente para trazer-lhes uma mensagem.
Nessa época, assistiam às pregações centenas de pessoas. Eles chegavam
de todos os lados. Comecei pelo Velho Testamento e revelei-lhes como os
profetas já falavam antecipadamente no Messias e previam a Sua vinda;
como Jesus veio de uma maneira muito invulgar havendo nascido de uma
virgem; como Jesus ainda com doze anos de idade se sentava no Templo
argumentando com os doutores da Lei. Prossegui falando do seu batismo,
das tentações no deserto, do Seu ministério na terra e sobre a Sua morte
em Golgota para reconciliar o mundo com Ele. Prossegui falando sobre a
maneira como ressuscitou dos mortos e como subiu aos céus. Afirmei que
agora encontrava-se à direita do Pai e que todo poder no céu e na terra
Lhe havia sido dado. E frisei, ainda, que nenhuma pessoa aqui da terra
pode ser ajudada ou guardada sem ser pelo nome de Jesus. Não existe
outro nome no céu e nem debaixo na terra que nos possa preservar em
segurança. E Ele voltará um dia para julgar os vivos e os mortos,
(continuei) e todo aquele que n’Ele crê nunca será condenado com a morte
eterna. Tentei de tudo para convencer os meus ouvintes que Jesus era a
única saída, o caminho, a verdade e a vida e que ninguém se salvaria a
não ser através do nome d’Ele. Finalizei a minha mensagem com as
seguintes palavras: “Jesus é o mesmo hoje, ontem e será para sempre a
mesma pessoa. Tudo muda, mas Jesus nunca mudará. Ele ainda é o mesmo que
era dois mil anos atrás. Por isso, não precisam ir aos feiticeiros, aos
izinyanga e izangoma e não precisam procurar contatos com
os mortos. Venham a Jesus, a Ele que vence a morte e que ressuscitou e é
o Deus dos mortos e dos vivos. Venham a Jesus com vossos pecados,
necessidades e problemas. Deixem os mortos, pois, existe um Deus vivo! ”
Não tinha a menor suspeita do que
aconteceria depois deste sermão. Não imaginei onde me havia metido. Uma
pessoa presente no culto escutava atentamente as minhas palavras. Assim
que o culto terminou, aquela senhora Zulu, de idade avançada, chegou e
disse:
“Mfundisi (Pastor), diga-me: isto tudo
que o senhor acabou de dizer é mesmo verdade? É mesmo assim como o
senhor disse?”
“Claro que sim!” respondi. “A senhora
pensa que inventei tudo isto e que estas coisas vêm da minha cabeça? Ou
não sabe que quando servimos ao Senhor já não podemos mentir? Tudo o que
disse aqui é mesmo a verdade!”
“Jesus, o Deus dos brancos, está mesmo
vivo? Ele é um Deus vivo?”
“Sim, Ele é o Deus vivo”.
Ela perguntava: “Ele ainda faz hoje
aquilo que fazia dois mil anos atrás?”
“Sim, claro que faz!”
“O senhor tem como falar com Ele?”
“Sim, claro que posso. Nós, os Cristãos,
chamamos a isso oração. Qualquer pessoa pode orar”.
A senhora exclamou sorridente: “Como
estou feliz! Hoje encontrei uma pessoa que serve um Deus vivo! Eu tenho
uma filha, já adulta, que se encontra completamente possessa de
demónios. O senhor pode falar com Deus para curá-la?”
“Sim, posso!”
Com aquelas últimas palavras eu
amarrei-me e comprometi-me. Toda a minha coragem e determinação ficaram
à deriva. “Ó Erlo”, comecei a ralhar comigo próprio, “és tão burro como
um filho de jumento! Agora metestes-te em uma enrascada muito grande!
Por que razão não deixaste uma abertura no teu sermão por onde pudesses
escapar e livrar-te de coisas destas? O que vais fazer agora? Como vais
livrar o teu couro desta situação?” Na verdade, aquilo serviu de lição
para mim. Muitos pensamentos cruzaram a minha mente naquele momento.
Pareciam raios passando pela minha cabeça. Como reagiria a senhora se
lhe perguntasse se ela realmente achava que Jesus queria ajudar a sua
filha? Mas, surgiu logo um segundo pensamento: “Erlo, tu acabaste de
dizer às pessoas que viessem a Jesus com qualquer tipo de problema e que
não procurassem os izinyanga e os izangoma.“ Mais e mais
pensamentos contraditórios surgiam do nada. Talvez aquela fosse a cruz
que a mulher tivesse de carregar o resto da vida! Essas coisas podem
acontecer por esse tipo de motivo! Ou talvez não seja a vontade de Deus
curá-la! E certas coisas devem acontecer apenas no tempo determinado de
Deus! Será que era esta a altura certa de curar a moça? “Ó pobre mãe”,
pensava em mim, “se fosses uma mãe branca ou europeia poderíamos
facilmente chegar a um acordo e conversarmos inteligentemente sobre este
assunto. Mas, és uma mulher simples de África e pensas como uma criança
sem qualquer experiência e sem conhecimento dos fatos desta vida!”
Isso eram coisas que passavam pelos meus
pensamentos como relâmpagos. Na verdade, aquela senhora simples vinha a
Jesus com uma fé pura de criança. Era dela que o Senhor falava quando
dizia que alguém devia crer como um daqueles pequeninos! O problema aqui
era eu. Não era ela quem tinha o problema. Mas, o que eu deveria fazer
naquela situação? Eu não queria, de maneira nenhuma, que ela pensasse
que havia-se metido num beco sem saída. Então, permaneci calmo
exteriormente, o mais calmo que podia transparecer. Deixei passar o
tempo para que conseguisse achar as palavras. “deixando passar o tempo,
chega o conselho”. Resolvi fazer-lhe umas perguntas. Perguntei onde se
encontrava a filha dela, se estava ali.
“Não, ela não está aqui”, respondeu
prontamente. “Ela está em casa. Vivo a 1 km daqui. Podemos ir de carro
metade do caminho e, o resto do caminho, temos de caminhar”.
“Certo”, disse. “Eu vou consigo até lá”
Enquanto íamos a caminho, a senhora
começou a contar-me aquilo que verdadeiramente se passava. Ela era viúva
há quatro anos, o seu filho trabalhava em Durban e ela vivia junto com a
sua nora e com aquela filha possessa e louca. Por fim, chegamos à sua
cubata e eu pude entrar para ver a moça. Olhei e fiquei em estado de
choque. “Mas, a senhora não me contou a metade daquilo que estou a ver!”
No centro das cubatas dos Zulus existe
sempre um pau que serve de pilar para sustentar a cubata. Haviam
amarrado a moça possessa naquele pilar. Mas, amarraram-na com arames de
aço e esses arames já haviam cortado a sua pele e carne. Os ferimentos
sangravam e já existiam muitas cicatrizes nos pulsos e nos braços dela
onde ferimentos antigos haviam sarado. Alguns desses ferimentos ainda
não haviam sarado completamente. A moça possuía uma força inexplicável
com a qual tentava libertar-se das suas cadeias. O arame de aço cortava
a sua carne como uma faca. E ela falava numa língua estranha que ninguém
entendia.
“Há quanto tempo é que a amarram assim,
deste jeito?” Perguntei.
“Há três semanas. E ela fala todo tempo
nessa língua que ninguém entende. Fala noite e dia sem parar. Não come,
não dorme e se lhe damos algo para comer, ela agarra no prato e atira
contra a parede”.
“Por que razão não tentam usar algo
menos cortante para amarrá-la? Não podem usar cordas?”
“Não funciona”, suspira a mãe. “Já
tentamos tudo. Ela rebenta com a corda mais forte que temos. E quando se
solta, quebra tudo que encontra, sai correndo e foge. Depois, torna-se
tarefa impossível trazê-la de volta. Ela corre por aí como um animal
feroz de cubata em cubata e pelos campos e terrenos dos vizinhos. Onde
passa, arranca as plantas, o milho, repolho e tudo que encontra. Os
homens da tribo perseguem-na com paus e batem nela com muita força. Ela
foge para as montanhas e não a vemos durante muito tempo. Apanha chuva,
está sujeita aos relâmpagos (*), apanha muito frio e eu, como sua mãe,
não sei mais onde encontrá-la!” (* Nota do tradutor: os zulus temem
muito os relâmpagos).
A senhora olhou para mim com lágrimas
nos olhos.
“O senhor tem noção do que acontece
dentro do coração duma mãe que tem uma filha assim? Se ao menos ela
morresse, seria muito melhor! Era preferível a morte a viver desta
maneira!”
Ela acalmou-se um pouco e conseguiu
continuar a sua descrição.
“A minha filha rasga a roupa toda e anda
nua pelos campos. É muito perigosa. Quando morde alguém, os seus dentes
penetram fundo e ela não larga até arrancar carne. Quando alguém tenta
libertar as suas vítimas, ela não abre a boca. Por essa razão, as
pessoas trancam-se em suas cubatas quando a vêm aproximar-se. Se ela
corre para a escola, as crianças pulam pelas janelas em pânico e fogem
para tudo que é canto. O diretor da escola já convocou os professores
para informar que esta situação não pode continuar assim”.
Em tom de choro, mostrou-me o seu
kraal.
“Já não tenho uma vaca sequer, nem uma
ovelha ou cabrito. Já sacrifiquei tudo aos nossos antepassados e aos
espíritos. Não tenho mais nada para sacrificar. O que não sacrifiquei,
tive de vender para conseguir dinheiro para pagar os izinyanga.
Eles pedem muito dinheiro para as suas feitiçarias. E, depois de
receberem, dizem que os nossos deuses não conseguem ajudar minha filha.
Agora estou muito pobre. Todo o meu dinheiro acabou e até eu estou no
fim das minhas forças. Sabe, Mfundisi, já peguei algumas vezes
numa faca para matar minha própria filha. Estava em desespero. Mas, era
como se alguém me dissesse para não fazê-lo e que era um grande pecado.
Depois, queria dar um fim à minha própria vida. Mas, quem cuidaria da
minha filha? O que aconteceria com ela? Mas, agora estou muito feliz!
Finalmente encontrei alguém que serve o Deus vivo. Agora sei que a minha
filha vai ser finalmente curada e tratada!”
Aquelas últimas palavras penetraram em
mim como uma espada. Cortaram meu coração. Quase rompi em lágrimas. Ali
lembrei as palavras de Gideão: “O que é feito de todas as suas
maravilhas que nossos pais nos contaram?”, Juízes 6:13. No meu interior
clamava ao Senhor: “Senhor, faz um milagre! Tu tens o poder para ajudar
esta pobre infeliz e de curá-la”. Prometi à senhora que voltaria e que
iria procurar todos os meus amigos e cooperadores para contar-lhes o que
se passava. Desejava saber se eles iriam orar comigo pela moça. Todos
concordaram em fazê-lo e chegaram a prometer colocar de lado todo tipo
de trabalho para ajudarem na intercessão.
“Sabem”, dizia-lhes eu, “há seis anos
que oramos por um avivamento e ainda não aconteceu nada. Quem sabe se é
isto que precisávamos, a tal fagulha que irá causar o incêndio. Se esta
moça for curada, pode ser o início de um avivamento porque toda a tribo
conhece-a. Que grande vitória poderá ser esta para o Senhor Jesus diante
de todo o povo! Assim, os Zulus saberão que Jesus é realmente o
verdadeiro Deus de toda a humanidade”.
Fui até à nossa fazenda e perguntei aos
meus pais se não disponibilizariam um quarto durante todo tempo que
estivéssemos orando e intercedendo pela moça. Concordaram em ajudar e
eu, juntamente com outros homens, levamos a moça enraivecida para a casa
de meus pais. Toda a tribo estava a par de tudo que se passava e
comentavam todos sobre o que estávamos tentando fazer pela moça. Mal a
moça entrou no quarto, começou a quebrar as cadeiras e derrubou a mesa.
Decidimos, então, tirar tudo de lá e deixamos somente a cama. Mas, até a
cama ela tentou destruir e tirou as penas do colchão que rasgou. Fomos
obrigados a tirar a cama também. No fim, colocamos somente uma esteira e
umas mantas no chão. Ela bateu nas grades das janelas arrancando e
torcendo algumas. Em poucas horas, o quarto transformou-se numa pocilga.
Durante três longas semanas estivemos
orando e jejuando pela moça, mas, ela não se curava. Ela cantava hinos
satânicos que ela própria compunha. Alguém aconselhou-nos a usar o nome
de Jesus e de clamar pelo sangue d’Ele. Assim, os demônios fugiriam.
Mas, nem assim os demônios se calavam. Pelo contrário, eles amaldiçoavam
o sangue de Jesus e blasfemavam sem problemas. Eram as coisas mais
horríveis e desprezíveis aquelas que os demônios diziam e faziam. A moça
tirou toda a sua roupa e sentou-se em cima dos seus próprios
excrementos. Com os seus pés descalços batia com tanta força no chão que
se ouvia à distância. Parecia que alguém batia no chão com uma marreta.
Por vezes, isso durava horas. As pessoas à volta não conseguiam suportar
aquelas pancadas no chão, muito menos a sua maneira estranha de gritar e
os hinos de blasfêmia que cantava em alta voz. Era como se a moça fosse
uma amostra do próprio inferno!
Após três semanas, eu estava no fim de
mim mesmo. Estava prestes a ter um colapso nervoso. Eu não tinha
explicação para nada do que se passava entre nós. Nós seguimos a Bíblia
à risca, contudo, não funcionou. A parte prática não batia com a teoria.
Tudo aquilo que a Bíblia diz na teoria é certo, mas, na prática não
funcionava. Era um amargo de boca que eu precisava engolir. Que mais
podia fazer? Só podia ir ter com a mãe da moça e confessar toda a minha
incapacidade. Como lhe diria que a sua querida filha não se havia
curado? E toda a tribo e toda a gente nas redondezas sabia que nós, os
crentes, estávamos orando pela moça. Todos eles haviam ouvido que nós
dizíamos para eles não irem pedir ajuda aos feiticeiros e que viessem a
Jesus com qualquer tipo de necessidade ou problema. Dizíamos que Jesus
nunca rejeitaria quem viesse a Ele. E agora, deveria ir ter com aquela
mãe e dizer que Deus nos mentiu? E não apenas a nós, mas, a todos os que
esperavam algo de nós e a quem pregávamos o nome de Jesus. Isso eu não
poderia fazer!
Com uma oração final, clamamos dizendo:
“Ó Senhor, não é o nosso nome que está em causa aqui. É o Teu nome que
ficará mal visto. Tem tudo a ver com a manifestação do Teu poder e de
toda a Tua autoridade. O que comentarão todos os pagãos que vierem a
saber de tudo que se passou aqui se enviarmos a moça tresloucada de
volta sem estar curada? Ó Senhor, não queres operar e conceder-nos um
milagre, não para nossa glória, mas, por causa da Tua glória e do Teu
nome?”
Todas as nossas súplicas eram em vão e
nada de bom acontecia. Deus estava mudo e escondido nos Céus. Era
terrível para todos nós. Eu não tinha mais nada a fazer senão ir
conversar com aquela mãe e reconhecer que não conseguíamos ajudá-la. Era
uma coisa muito difícil para mim e orei ao Senhor com muita firmeza e
seriedade: “Senhor, já não tenho coragem para olhar estas pessoas de
frente. Preciso ser totalmente sincero com elas. Como é que poderei
continuar a pregar para elas se eles próprios são testemunhas que a
realidade é diferente daquilo que prego? E eu também não posso fingir e
mentir para mim mesmo. Também tenho uma consciência! Também preciso ser
sincero comigo próprio. Senhor, não tenho condições para continuar a
trabalhar nesta área. Se for possível, envia-me para outro lugar”.
O Senhor foi misericordioso comigo e eu
pude ir para outro distrito, para Hanover, para o lado da Costa Sul.
Permaneci lá dois anos. Mas, a partir de então já não conseguia crer na
Bíblia toda. Não conseguia acreditar que a Bíblia era realmente a
Palavra inspirada de Deus e que tudo que ela dizia era verdade. Talvez
fosse parcialmente verdade, mas, não tudo que vinha lá escrito. Contudo,
estava certo que Deus não era mentiroso. A convicção que nem tudo na
Bíblia batia certo poderia ter muitas explicações. Talvez por não haver
editoras ou edições impressas como temos hoje e por tudo haver sido
escrito à mão e ter andado de mão em mão, a Bíblia poderia conter erros
e algumas inverdades poderão ter sido colocadas por algumas pessoas que
ajudaram a escrevê-la. Talvez alguns versículos não fossem exatamente
aquilo que originalmente foi dito por Deus. Se fosse assim, havia
explicação para o que sucedeu conosco. Para mim, havia muitas coisas na
Bíblia que batiam certo. Contudo, havia outras que não. A partir de
então, sempre que pregava, escolhia as porções que me convinham mais e
aquelas que faziam sentido para a minha experiência pessoal. Todas as
porções das Escrituras que não batiam com aquilo que experimentava
pessoalmente, eu procurava evitar.
Vou citar um exemplo. O Senhor Jesus
disse à mulher Samaritana: “Qualquer que beber desta água tornará a ter
sede; mas, aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede,
porque a água que eu lhe der se fará nele uma fonte de água que salta
para a vida eterna”, João 4:13-14.
Aos meus olhos, havia ali um erro
qualquer. Havia algo que eu não entendia muito bem. Como pregador já
havia viajado muito por muitos lugares, visitado muitas igrejas e
congregações. Centenas de pessoas haviam-se entregado a Jesus e vieram
beber naquela fonte de água viva que Jesus dava. Bebiam daquela água,
mas, continuavam tendo sede. Entre só nas casas dos crentes e verifique
por si mesmo. Veja quantas coisas do mundo encontra em suas casas,
quantas revistas, quantos romances e outras coisas que significam prazer
– até mesmo livros e material pornográfico e sobre sexo. Conhecia homens
jovens que não conseguiam passar por uma livraria sem olhar para as
mulheres expostas nas revistas e jornais. Muitos ainda compram tais
coisas, levam para casa e escondem-nas de seus pais. E são jovens que
afirmam crer em Jesus e que beberam da água viva! Contudo, ainda
demonstram ter uma sede que tentam satisfazer com as coisas do mundo. Os
seus tesouros são terrenos e perecíveis.
Será que existe alguma pessoa que tenha
mais sede que os próprios crentes? Quantos deles não só desejam ter o
mundo, mas, ainda desejam pecar? Talvez, a maioria deles não ceda ao
pecado abertamente, mas, fazem-no mais que os outros em secreto e quando
ninguém os vê! Existem crentes que desejam fumar, outros desejam e bebem
álcool e muitos outros praticam e desejam os pecados horríveis do sexo.
Alguns filhos de crentes exigem saber dos pais por que razões não podem
frequentar as discotecas da mesma maneira que os seus amigos do mundo
frequentam. “Por que razão”, dizem, “não podemos levar uma vida igual à
que o mundo leva?” Os pais crentes têm uma enorme dificuldade em criar
seus filhos na fé e ainda se dizem crentes. Fazem tudo isso e ainda se
dizem evangélicos! Contudo, a Bíblia diz assim: “Não ameis o mundo nem o
que o mundo tem”, 1 João 2:15. Olhem um pouco para os crentes e
comparem-nos com as pessoas do mundo! Conseguem ver alguma diferença
entre eles? E em Romanos 12:1 lemos: “Não sejam iguais a este mundo,
mas, sejam transformados pelo conhecimento da vontade de Deus”. Aqui as
Escrituras dizem-nos, sem sombra de dúvida, que nunca nos devemos perder
no mundo e nem entregarmo-nos a ele em nenhum aspecto. Mas, qual é a
situação dos crentes? Em que estado é que eles se encontram?
A minha conclusão final era que as
pessoas continuavam com sede depois de haverem bebido uma vez da água
viva. Por essa razão, eu achava que Deus não poderia ter afirmado
aquilo. Como Deus não é mentiroso, só podia ser um dos erros nas
Escrituras. Concluí que aquele versículo havia sido mal escrito e que
Jesus não poderia ter dito aquilo daquela forma. Assim, eu encontrava
muitos versículos nas Escrituras que, na minha opinião, os crentes
atuais não podiam interpretar literalmente da forma que vinha explícito.
Não deviam levar a sério certas partes das Escrituras. De acordo com a
minha experiência, ninguém podia ter o livro dos Atos dos Apóstolos como
um livro para os dias atuais. Aquilo foi para uma era, até o final do
primeiro século, talvez. É verdade que eu tinha conhecimento de ter
havido alguns avivamentos aqui e ali, mas, também eram coisas
esporádicas e coisas do passado. Não estávamos ali clamando por um
avivamento de todo coração? Tanto pedimos e tanto imploramos que já
estávamos cansados e exaustos de clamar!
Com o decorrer do tempo, um cooperador
disse-me:
“Erlo, precisamos orar por um
avivamento”.
Eu já havia aprendido a lidar com uma
situação dessas e olhei diretamente para ele e respondi-lhe:
“Meu querido irmão, estás sendo
extremista! Eu já fui assim, já pensei dessa maneira. Nós já oramos por
um avivamento de todo o nosso coração e nada aconteceu. Provavelmente,
os avivamentos só aconteciam no passado devido ao amor e à entrega dos
crentes daquelas épocas. Mas, hoje isso já não é possível. Não mais.
Espero que, em breve, esta verdade que te falo te seja revelada para que
consigas alcançar a maturidade espiritual”!
Conseguem ter uma ideia daquilo que se
passava comigo? Permitia que as minhas próprias conclusões me levassem
por caminhos errados e para conclusões torcidas. No decurso dos anos,
apercebi-me (como você certamente já deve ter-se apercebido também), que
no mundo existem congregações e denominações que colocam suas coisas
preferidas e ensinos prediletos como bandeira. Pastores na América davam
uma enorme ênfase à fé. “Creia, basta crer!” Para eles não importa o
verdadeiro estado do coração: basta crer. Quando ouvi isso, imaginei que
fosse essa a coisa que me faltava. Poderia ser esse o segredo que eu
ainda não havia descoberto. Quem sabe era a chave para resolver o
imbróglio onde me encontrava. Seria essa a chave que buscava há tanto
tempo? Talvez o avivamento ainda não me tenha sorrido por minha fé ser
pequena! Aquele pensamento dava-me novo alento e resolvi comprovar a sua
veracidade, imaginado que, aquele que não arrisca, também não alcança.
O meu sermão seguinte foi sobre fé.
Repetia uma vez atrás da outra que era necessário termos fé. De todo o
meu coração e com toda a minha convicção eu afirmava que a fé era a
coisa mais importante: “Se crermos, se tivermos fé, podemos mudar as
montanhas do seu lugar!”
Sabe o que aconteceu a seguir? Na
audiência haviam pessoas que tinham um cego em casa. Quando me ouviram
dizer que através da fé poderíamos experimentar e ver a glória de Deus,
ficaram muito felizes. Logo após o culto foram até casa buscar o seu pai
cego e disseram-me:
“O senhor disse ali no culto que não
existe coisa impossível para quem tem fé. O nosso pai está cego. O
senhor pode orar para que se cure?
“Sim, claro”, respondi. Mas, em meu
coração estava com ansiedade de ver onde aquilo ia terminar. Não
exteriorizava nada da minha intranquilidade. “Vocês também crêem que
Deus pode fazer isto?”
“Mas, é claro que cremos, pastor!”
“Está bem. Sabem, é que o Senhor Jesus
sempre perguntava aos doentes que vinham a Ele se eles criam que Ele era
capaz de curá-los”.
Daquela maneira, eu poderia consolar-me
e justificar-me caso o homem não ficasse bom. No mínimo, aquelas pessoas
iriam sentir-se meio culpadas caso nada acontecesse e não somente eu.
Pedi para voltarem lá pela tarde para orarmos. Entretanto, eu usei todo
aquele tempo para reunir toda a fé que podia reunir para que eu
estivesse pronto assim que chegassem. Eu raspava todo pedaço de
esperança e de fé, para acumulá-la no meu coração. Eu desejava muito que
a minha fé se tornasse tão grande como uma montanha. Não pensei nas
palavras de Jesus que diziam: “Em verdade vos digo que, se tiverdes fé
como um grão de mostarda, direis a este monte: Passa daqui para acolá e
há-de passar; e nada vos será impossível”, Mat.17:20. É pena que os
crentes troquem as coisas e queiram que a fé é que seja como a montanha
e a obra pequena! Gostam muito de trocar as coisas e de vê-las ao
contrário. Os crentes fazem a fé ser do tamanho da montanha para moverem
a pequena semente de mostarda!”
As pessoas vieram conforme havíamos
combinado. Eu havia-me preparado e tinha esperança que aquelas pessoas
também tivessem reunido toda a fé que lhes fosse possível para podermos
orar com eficácia. Após havermos orado, abri meus olhos rapidamente para
ver o que havia acontecido. Fiquei bastante admirado vendo o homem ainda
cego. Continuava cego! Abanei a minha cabeça e não conseguia entender
por que razão as coisas aconteciam daquela maneira. Eu estava mesmo
cheio de fé e de esperança. Minha fé era intensa. As pessoas voltaram
para casa, desapontadas e eu fiquei sozinho, na minha casa, com os meus
pensamentos. Repetia uma vez atrás da outra: “Senhor, eu não entendo!
Verdadeiramente, não consigo perceber!”
Depois desta má experiência com aquele
homem cego, disse para mim mesmo: “Agora é o fim Erlo! Já chega. Nunca
mais tornas a fazer uma asneira destas. Jumento idiota! Precisas
aprender a ser cauteloso com tuas palavras. Sempre que pregares,
precisas ter uma porta de fundo aberta por onde possas escapar para
nunca mais caíres em situações desconfortáveis como estas”. Depois
disso, as minhas pregações eram muito cautelosas, muito bem preparadas e
muito mais cuidadosas.
E assim se passaram mais seis anos
pregando o evangelho. Normalmente, fazíamos os nossos cultos em uma
tenda grande onde eu pregava duas vezes por dia, de manhã e à noite.
Quando mudava de área, ficava por lá uns oito, nove, doze e, por vezes,
catorze meses. Trazia a palavra de Deus sem cessar. E sempre aconteciam
as mesmas coisas. No início havia umas cem pessoas nos cultos. Depois
crescia para duzentas, trezentas, quatrocentas, seiscentas pessoas.
Depois disso, começava a diminuir aos poucos até que no final do ano não
restavam mais que cem pessoas. Durante aquelas campanhas exaustivas de
evangelização, muitas pessoas convertiam-se ao Senhor. Era usual que
duas centenas de pessoas ou mais viessem à frente entregar as suas vidas
a Jesus. Também acontecia as pessoas que se entregavam a Deus ficarem
para trás depois dos cultos para se arranjarem com Deus. Mas, uns meses
mais tarde, tudo voltava àquilo que era. Não se notava mais a mudança
nas pessoas! Durante os períodos de evangelização, chegavam a comprar
centenas de Bíblias, mas, as suas vidas não mudavam de maneira nenhuma.
Talvez houvessem exceções aqui e ali, mas, nada que se destacasse.
Durante aquele tempo, muitos pastores
vinham perguntar-me como eu conseguia reunir tanta gente nos meus
cultos. Qual era o segredo do meu ‘sucesso’, perguntavam-me. Eles só
viam os números e aquilo que era visível. Só não sabiam que eu era a
pessoa mais infeliz deste mundo! Eu sabia muito bem qual era o
verdadeiro estado das coisas. Sabia como as coisas começavam e como elas
terminavam eventualmente. Eu não entendia nada de tudo aquilo que se
passava comigo. Ainda por cima, havia um pensamento que me atormentava
continuamente e me mantinha sempre ocupado na mais profunda tristeza e
agonia. Sempre que erguia a minha tenda em algum local, eu escolhia o
lugar mais densamente habitado para que fosse mais fácil atrair as
pessoas para os cultos de evangelização. E confrontava-me a mim mesmo e
dizia: “Erlo, tu não és nada parecido com João Batista! Ele pregava no
deserto, longe de tudo que era cidade ou vila e em lugares onde não
viviam pessoas. Contudo, toda a Jerusalém vinha ouvi-lo e não apenas
Jerusalém, mas, todas as pessoas em lugares distantes como Samaria,
Judeia e arredores. E que fazes tu, Erlo? Podes explicar-me? Tu vais
para onde tem muita gente e nem mesmo assim consegues atrai-las para a
verdade!”
Perguntava a João em meus pensamentos:
“João, como conseguias isso? Qual era o teu segredo?” Eu não fazia a
mínima ideia de como tornar tal coisa possível e dizia para mim mesmo em
forma de consolo, mas, que não convencia ninguém: “Talvez João tivesse
uma forte personalidade que atraía pessoas. Ou talvez tivesse um dom que
eu não tenho, um dom de prender as pessoas às suas palavras”. Eu lia uma
vez e outra as palavras dele e ficava pasmado. E ficava-me perguntando
se havia mais alguém neste mundo com a mesma coragem de João, capaz de
confrontar as pessoas da maneira que ele confrontava. Eu dizia: “João,
se tivesses vivido no nosso tempo, certamente que te teriam degolado
ainda mais cedo do que fizeram no teu tempo!” Eu nunca tinha visto um
pastor falar ao povo daquela maneira que João falava. Ele clamava e
dizia que as pessoas eram “víboras”. “Raça de víboras, quem vos ensinou
a fugir da ira que está para vir? Produzi, pois, frutos dignos de
arrependimento…”, Luc.3:7-8.
O que acontecesse nos tempos de hoje?
Era isso que me perguntava. O discurso de João não era atraente. Hoje,
as pessoas chegam com um sorriso, aceitam Jesus para se salvarem, vão
para casa e, não tarda, continuam com a mesma vidinha de sempre. Nada
muda. Passados alguns meses precisávamos convertê-las novamente. Qual
era o segredo de João Batista? Sabemos que a fonte o seu poder não
consistia no fato de comer gafanhotos no deserto! Ele não era
convincente porque vestia roupas de pobre, as quais eram amarradas por
um cinto com cabelos de camelo! Fazia milagres para atrair gente? Não
temos qualquer conhecimento de qualquer milagre que tivesse feito! Não
curava ninguém, os cegos não se curavam quando vinham a ele para
ouvi-lo, os coxos não ficavam curados. Qual era o seu segredo? De onde
vinha a sua virtude?
Aquele homem, João, falava contra o
pecado. Mas, sabemos que isso está fora de moda hoje. Não ‘podemos’
falar contra o pecado hoje. Muitos pensam que falar assim é estar fora
de época. Recentemente, um pastor perguntou-me: “Erlo, quando pregas,
qual é o teu tema? Se eu prego sobre o pecado e se menciono certos
pecados pelo nome, a congregação sente-se mal e fica com mal-estar. Eles
começam a mexer-se nas cadeiras e ficam inquietos. Será que sou bobo
continuando a pregar dessa maneira?” Amigos, não foi para nos libertar
de todos os nossos pecados que Jesus veio morrer por nós? Por essa razão
é que se chamou “JESUS”, aquele que salva do pecado (Mat.1:21).
Jesus deseja que todo o seu povo fique consciente de cada pecado que
comete. E o homem que veio preparar o Seu caminho, fazia precisamente o
mesmo. Por que razão, então, as pessoas daquele tempo se aproximavam
para escutar aquelas palavras fortes e diretas de João? Por que razão
desejavam ardentemente ouvir as pregações dele? E por que razões hoje
não desejam ter esse tipo de pregação dentro das igrejas? Isso era um
enigma para mim. Eu não conseguia dar uma resposta clara a nenhuma
destas questões.
“Senhor”, orei, “dá-me este dom que João
tinha. Preciso tê-lo também”. Mas, apesar da minha oração ardente, na
campanha seguinte ficava tudo igual. Nada de diferente acontecia.
Centenas de pessoas vinham e muitas Bíblias eram distribuídas – eram até
compradas! Mas, no final, apenas umas tantas pessoas permaneciam em
Jesus.
Enquanto pensava e meditava nestas
coisas, lembrei-me de uma coisa que havia acontecido em minha vida
antigamente. Em 1965 estive na Namíbia, uma terra semi-deserta, muito
seca. Lá não buscam ouro na terra, pois, não é tão importante para elas.
Se conseguirem achar água, tem mais valor para elas que ouro. Enquanto
estava de visita a um fazendeiro daquelas bandas, ele mostrou-nos uma
coisa interessante. Mesmo ao lado de sua casa, fizeram um furo e
encontraram muita água. Colocaram uma bomba com a qual a extraíam. O
fazendeiro pegou numa caneca, tirou um pouco daquela água e deu-me a
provar. Dei um gole e tive de cuspir a água para o chão. Não era
possível bebê-la. O fazendeiro começou a contar-nos que havia muita água
debaixo da terra e que nem sequer precisavam furar muito fundo para
encontrar fortes correntes de água. Mas, quando encontraram aquela água,
ficaram felizes depressa demais. Estava saturada de sais minerais e de
outros compostos químicos. Era água má demais para alguém conseguir
beber. Então, decidiram usar aquela água apenas para fins domésticos,
como lavar roupa e louça. Mas, para seu desapontamento, viram que as
roupas apareciam furadas por causa dos compostos químicos. O fazendeiro
quis consolar-se regando as plantas e o jardim. Mas, duas semanas depois
estava tudo morto. Foi então que ficaram com a certeza que não podiam
usar aquela água para nada. Não tinha nenhum proveito. Onde aquela água
fosse usada, surgiam estragos irreparáveis.
Assim que o fazendeiro terminou o seu
relato, um pensamento cruzou a minha mente tão veloz como um raio cruza
os céus: “Escuta, Erlo. O teu ministério é assim, desse jeito. Quanto
mais tempo tu pregas, tanto mais pessoas se afastam de ti. São cada dia
menos pessoas em teus cultos. Pregas e as pessoas morrem. A tua água é
igual a esta, Erlo”. Aquilo nunca mais me deu descanso e começou a
devorar-me por dentro como um câncer. “”Ó Senhor”, falei, “quanto mais
prego e quanto melhor tento pregar, mais me coloco em Teu caminho e
perturbo Tua obra! Ó meu Deus, o que mais devo fazer?”
E foi assim que decidi que, depois de
doze anos de evangelista e de missionário, eu não podia continuar
daquele jeito. Só podia reconhecer que durante todos aqueles anos de
trabalho nada havia mudado. O mundo continuava igual. Tudo era como um
deserto muito árido. Perguntei a mim mesmo: “Erlo, onde está o fruto
destes doze anos de trabalho? Podes enumerar pelo menos uma dúzia de
pessoas que são realmente fiéis ao Senhor e que se hajam convertido
através do teu ministério e de tuas pregações?” Eu tinha de reconhecer
que era um caso perdido. Não conseguia achar uma pessoa realmente fiel e
dedicada a Jesus depois de tanto tempo de trabalho! Será que valia a
pena continuar com aquele ministério que não produzia qualquer fruto
digno desse nome?
Não, de maneira nenhuma! Perdi meu
tempo. Muitas pessoas estiveram ganhando dinheiro e gozando as suas
vidas. Por que razão eu não poderia ter feito o mesmo? Por que razão
havia eu de continuar como um missionário pobre e sem sucesso na
pregação, tentando convencer as pessoas daquilo que na teoria era certo,
mas, que na prática não dava resultados? Se Deus ainda hoje é realmente
o mesmo e se a Sua palavra nunca mudará, por que razão a vida cristã é
tão pobre e tão questionável à luz das promessas de Deus? Eu orava, mas
não obtinha respostas às minhas orações. Eu batia e nada se abria.
Procurava e não achava. Estava à beira do desespero total.
QUANDO A PALAVRA DE DEUS SE TORNA VIVA
Chegamos a Mapumulo em 1966. É uma
pequena vila mais ou menos a 100 km de Durban. Eu havia feito uma
campanha de evangelização naquela área em 1963 e centenas de pessoas
haviam-se convertido na altura. Desses convertidos, restou uma pequena
congregação de cerca de 130 pessoas. Todas as vezes que visitava aquela
congregação, eu precisava trazer a paz entre os membros. As pessoas de
lá brigavam muito e atiravam-se uns aos outros. Não se entendiam muito
bem entre eles.
Tornou-se claro, para mim, que Deus
nunca iria operar em nosso meio enquanto aquelas pessoas não
restabelecessem a paz entre elas e enquanto não reatassem relacionados.
O Senhor necessita de canais limpos e nós, os Seus filhos, precisamos
ser esses canais. O nosso maior problema não é os pagãos não conhecerem
Jesus, mas, os crentes não andarem nos caminhos d’Ele, fazendo tropeçar
a verdade. É trágico, mas, os crentes causam maiores estragos à obra de
Deus que os pagãos todos juntos. É desses crentes que a Bíblia diz que
não são quentes e nem são frios. Nas reuniões, dirigi-me a todos e
disse:
“Sabem, amigos, ando pensando muito nos
últimos tempos sobre aquilo que eu disse a Deus em 1951 quando Ele,
inicialmente, chamou-me para a Sua obra. Eu havia dito que sairia para
pregar somente na condição de tornar-me um verdadeiro evangelista e
nunca alguém que brinca às igrejas. Olhando para trás, agora, preciso
confessar que todo o meu ministério até ao momento não passou de um
show, um circo. Sinto-me espiritualmente falido e não tenho nenhuma
intenção de continuar assim”.
“Olhem para os lugares onde há festas e
bailes”, continuei. “Se vier uma banda nova, uma orquestra, vêm mais de
trezentas pessoas. Mas, num estudo Bíblico, não vêm mais que 30 pessoas.
Vão ver o que se passa nos campos de futebol. Quantas pessoas assistem a
um jogo e com que espírito? E nos nossos cultos vêm cinquenta, talvez
cem pessoas. Como é que isso é possível se Deus ainda é o mesmo hoje, se
o Espírito de Deus ainda não mudou e se a Bíblia é, ainda,
verdadeiramente a Palavra de Deus? Se olharmos atentamente para as
teorias, ideologias e as doutrinas dos que não são cristãos e onde eles
colocam seus corações e pensamentos com alegria e com determinação,
comprovamos que as suas ideias crescem, abundam, aumentam de volume e
seu sucesso expande-se. E a verdade diminui a cada dia que passa! De
acordo com as estatísticas, em 1945, a população do mundo era 38%
cristã. Mas, de acordo com as previsões, no ano 2000 a população cristã
será aproximadamente 10% ou até menos. É um fato muito triste, mas, não
deixa de ser uma verdade. Na história deste mundo nunca houve uma época
com tantos pagãos como na atual. Se continuarmos desta maneira, a
verdade e a fé cristãs desaparecerão em breve e para sempre”.
Aos que prestavam atenção àquilo que eu
dizia, coloquei uma questão:
“Estão dispostos a reunirem-se todos os
dias às sete horas da manhã e todas as noites às seis horas para
investigarmos a Palavra de Deus com toda a atenção, para orarmos de todo
o nosso coração para buscarmos a Sua face? Quem sabe se Deus nos dá
ouvidos e se nos será misericordioso. Pode dar-se o caso de começar a
operar no nosso meio da Sua maneira e da maneira que a Bíblia diz”.
Os crentes levaram a minha proposta a
sério e concordaram em fazer isso que pedia. Reuníamo-nos de manhã e ao
fim da tarde. A partir daquele dia, os nossos cultos nunca mais foram os
mesmos. Pegamos o nosso versículo em João 7:38: “Quem crê em mim como a
Escritura diz, do seu interior correrão rios de água viva”. Subitamente,
algo chamou a nossa mais profunda atenção.
Jesus pronunciou estas palavras no
último dia da festa dos Judeus e no início do capítulo lemos: “Depois
disto andava Jesus pela Galileia; pois não queria andar pela Judeia,
porque os judeus procuravam matá-lo. Ora, estava próxima a festa dos
judeus, a dos tabernáculos. Disseram-lhe, então, seus irmãos: Retira-te
daqui e vai para a Judeia, para que também os teus discípulos vejam as
obras que fazes. Porque ninguém faz coisa alguma em oculto, quando
procura ser conhecido. Já que fazes estas coisas, manifesta-te ao mundo.
Pois nem seus irmãos criam nele”. Foi aqui que Jesus respondeu dizendo
algo muito valioso. “O Meu tempo ainda não é chegado; mas, o vosso tempo
está sempre presente”. Nestas palavras existe um pensamento secreto, um
tesouro escondido. Isto significa que cada pessoa que deveras confia em
Jesus e realmente caminha com Ele não tem autoridade para andar conforme
quer e nem quando quer. Nem Jesus podia fazer isso. Ele era tão
dependente do Pai do Céu que só podia fazer aquelas obras nas quais a
boa vontade de Deus fosse clara. Só agia quando e conforme o Pai
orientava ou dizia para fazer. O próprio Senhor Jesus dá-nos, aqui, o
exemplo de que nunca podemos agir de autoria própria e que, sem Ele,
nada podemos e nada devemos fazer. Não podia dizer, sequer, aquilo que o
Pai não Lhe houvesse dito em segredo a cada momento da Sua vida. O
Senhor dá-nos, aqui, um cheirinho do que realmente significa segui-Lo.
Além do mais, tudo quanto façamos sem Ele nunca terá qualquer valor
diante de nosso Pai. Tal e qual Jesus era totalmente dependente do Pai,
nós devemos ser d’Ele. É bom que levemos estas palavras muito a sério!
A Bíblia diz-nos o que aconteceu a
seguir. “Mas quando seus irmãos já tinham subido à festa, então subiu
ele também, não publicamente, mas, como que em secreto”. Durante a
festa, Jesus teve a grande oportunidade de dirigir-se ao povo ali
presente. Mas, não fez isso, não falou ao povo senão quando a festa já
ia a meio. No último dia da festa, Jesus clamou e disse: “Se alguém tem
sede, venha a mim e beba. Quem crê em mim como a Escritura diz, do seu
interior correrão rios de água viva”, João 7:37-38. Mesmo tendo Jesus
consciência que muitas pessoas andavam buscando a Sua vida para matá-Lo,
ainda assim clamou no meio do povo e não se escondeu de ninguém. Ele
clamou em alta voz. É interessante ver qual a palavra usada no grego
original quanto a esta palavra “clamar em alta voz”. A palavra é
“krazõ”. É esta mesma palavra que é usada quando Jesus clamou na Cruz na
hora da Sua morte. “Cerca da hora nona, bradou Jesus em alta voz
e entregou o espírito”. Ele não falou baixinho no meio da festa onde
muitas pessoas O buscavam para matá-Lo. Aqui, vemos, claramente, que
Jesus tinha uma enorme necessidade interior pressionando-O do lado de
dentro para expressar-se diante do povo. E Ele só o fez no último dia da
festa. Algo, finalmente, explodiu em Seu coração. E é por esta razão que
devemos assumir que estas palavras seriam muito importantes e que
devemos prestar muita atenção a elas.
Enquanto Jesus clamava em alta voz,
daquela maneira e com aquelas palavras, não se estava importando com
nada do que Lhe poderia acontecer. Não se preocupou com as
consequências. Para Ele só importava que alguém cresse naquilo que dizia
e que escutassem o que dizia e estivessem totalmente atentos ao
significado profundo das Suas palavras. “Se alguém tem sede, venha a mim
e beba. Quem crê em mim como a Escritura diz, do seu interior correrão
rios de água viva”. É fácil vermos aqui que Jesus não estava falando de
umas gotas de água viva. Falava de correntes de água viva, de rios
fortes. Também não falava de água normal, mas, de água viva. Se
encontrarmos um rio em pleno deserto, comprovaremos que o deserto
transforma-se no mais lindo jardim. Um rio tem esse poder. O que uma
corrente de água viva é capaz de conseguir num deserto seco e árido? E
quase todas as pessoas também sabem que ninguém consegue parar um rio em
sua força total. Quando um único rio está na sua máxima força e uma
barreira está diante dele, as águas sobem alto e passam por cima.
Ninguém consegue deter um rio. Um rio tem muita força e essa força causa
enorme pressão. Se a parede da barragem não ceder com a pressão, a água
galgará por cima dela. E as terras à sua volta serão inundadas.
Espiritualmente falando, isto significa
o seguinte: quando cremos em Jesus do jeito que dizem as Escrituras, a
vida de Deus fluirá de dentro de nós como poderosas correntes de água
viva. Tão fortes serão que não existe qualquer coisa capaz de impedi-las
na sua força. Nem as paredes do ateísmo, nenhum mundanismo, nenhum poder
conseguirá impedir estas águas vivas de fluírem e de alcançarem aquilo
que devem alcançar. E tem mais: quanto maior for a resistência do
inimigo, mais forte se torna a força das correntes. E aqui lemos não
apenas de um rio, mas, de vários rios que fluirão a partir do nosso
interior. Se é impossível travar a corrente forte de um rio,
imagine se alguém é capaz de impedir a força de vários rios de água viva
ao mesmo tempo! Prestem atenção a um detalhe: as Escrituras não dizem
aqui que estas águas vivas fluirão a partir da vida de um pastor ou de
um missionário abençoado, mas, a partir de todas as vidas entregues a
Jesus e de todos aqueles que crêem n’Ele! Se você realmente confia em
Jesus, isto aqui está falando de si e não do seu pastor.
Quando, em 1966, começamos a ler as
Escrituras com intenção de investiga-las a fundo, começamos a
perguntar-nos a nós mesmos como é que era possível que nós, que tanto
buscávamos estas correntes poderosas de água viva, nunca as houvéssemos
achado. Não é verdade que quem busca acha? Mas, as Escrituras afirmam na
sua simplicidade que todo aquele que crê em Jesus terá estas correntes
fortes de água viva dentro dele e que se inundará tudo à sua volta. Nem
será preciso falar muito para isso acontecer! As próprias correntes de
água viva falarão por nós, em nosso lugar. Elas falarão por si. Coloquei
uma pergunta simples diante de todos ali presentes:
“Quem, aqui, crê em Jesus?”
“Eu creio”, disseram todos levantando o
dedo sem excepção.
Mas, não é uma coisa admirável? Não
seria de esperar que isto que Jesus diz fosse verdadeiramente comprovado
por nós também? Não deveriam estar fluindo rios fortes de água viva a
partir de nós? Estão fluindo? Claro que não! Nenhuma das nossas vidas
dava evidências de qualquer corrente de água viva. A realidade da nossa
vida não batia com aquilo que as Escrituras dizem. E porque não? Ainda
que cremos em Jesus, estas coisas não estavam acontecendo conosco!
“Estamos perante um enorme problema, um enigma. Deveríamos ter estas
correntes em nós - era suposto termos isto que a Bíblia diz. Qual será o
nosso problema? Ou será que toda a nossa fé é um engano completo, uma
mentira?” Estávamos todos perplexos com o que nos estava acontecendo!
Nós sabíamos, sem sombra de dúvida, que críamos em Jesus e que a Bíblia
estaria falando de nós, ali. Sabíamos que éramos crentes. Mas, havia
alguma coisa que não estava batendo certo. De repente, algo chamou-nos a
atenção. “… Como dizem as Escrituras…”
Em Apoc.22:18-19 vem escrito o seguinte:
“Eu testifico a todo aquele que ouvir as palavras da profecia deste
livro: Se alguém lhes acrescentar alguma coisa, Deus lhe acrescentará as
pragas que estão escritas neste livro; e se alguém tirar qualquer coisa
das palavras do livro desta profecia, Deus lhe tirará a sua parte da
árvore da vida, e da cidade santa, que estão descritas neste livro”. Uma
oração de temor surgiu dentro de nós: “Senhor, será que não estamos
crendo do jeito que dizem as Escrituras? Havemos torcido as Escrituras
em algum lugar? Não estamos conscientes de o haver feito
propositadamente!”
Conforme íamos lendo e analisando as
Escrituras, apercebemo-nos deste pequeno detalhe: “…Como as Escrituras
dizem…”. Ali estava o segredo daquele versículo. Era um segredo de
enorme relevância. Toda a nossa visão mudou a partir de então. É
importante crermos da maneira que as Escrituras dizem e não da maneira
que desejamos crer. É necessário que a nossa fé esteja de acordo com
tudo aquilo que dizem as Escrituras e que a nossa fé seja, realmente,
“aquilo que dizem as Escrituras”. E concluímos que, se Jesus naquele
tempo provava a fé das pessoas com o que as Escrituras dizem, se
colocava a fé deles diante daquilo que as Escrituras revelam e
manifestam, devemos fazer o mesmo agora, colocando a nossa fé à luz
das Escrituras. O que dizem as Escrituras e qual o seu verdadeiro
significado de tudo que dizem? Essa frase levou-nos a buscar nas
Escrituras tudo que diziam para fazermos uma comparação cuidada entre a
nossa fé e aquilo que elas dizem.
Ainda antes de havermos começado a
investigar as Escrituras, os nossos corações haviam determinado que
deveríamos lê-las como crianças sem engano. Devíamos aceitar as
Escrituras com fé de criança, mas, sem nunca adotarmos criancices. Não
desejávamos comer o creme do bolo e recusar comer o resto. Não seria bom
aproveitarmos a cereja do bolo e desprezar ou negligenciar o resto.
Muitos só querem ouvir falar do amor de Deus, da graça e não se
interessam por mais nada. Aliás, ainda recusam falar sobre outras coisas
e rejeitam quem fala de outra maneira. Decidimos que não iríamos ser
assim. Não agiríamos daquele jeito. Não nos justificaríamos, não nos
faríamos passar por melhores ou piores pessoas. Seriamos objetivos e
fiéis ao que as Escrituras realmente dissessem. Iríamos julgar-nos à luz
das Escrituras da maneira que seremos julgados um dia diante de Deus.
Iríamos olhar para tudo o que a Luz manifestasse. Iríamos colocar-nos na
luz, enfrentar a luz – custasse o que custasse. Não nos deixaríamos
levar pelo nosso próprio entendimento das coisas, mas, somente por
aquilo que as Escrituras dizem mesmo! Não nos comportaríamos como
meninos malandros em relação à verdade, alimentando-nos somente daquilo
que nos convinha ouvir. Queríamos olhar a verdade nos olhos. Desejávamos
levar a palavra de Deus como a verdadeira palavra de um Deus vivo.
Queríamos permitir que toda a Sua Palavra tivesse a oportunidade
de se expressar a nós e de se manifestar aos nossos corações tal e qual
ela é. Nossos corações estariam abertos para tudo que as Escrituras
dissessem ainda que aquilo que dissessem não fosse do nosso agrado e não
fosse aquilo que desejássemos ouvir ou, ainda, que não estivesse de
acordo com os nossos sentimentos ou com as nossas experiências ou
expectativas pessoais. Também determinamos que iríamos ler um livro
inteiro de cada vez e não andar pulando de versículo em versículo. Não
queríamos tirar uma ideia daqui e outra dali, mas, desejávamos ter uma
imagem global de toda a verdade e conhecer o seu todo. Desejávamos uma
imagem mais completa e muito correta de toda a Escritura para melhor a
entendermos.
Não sei como aconteceu, mas, começamos
com o livro dos Atos dos Apóstolos. Por que razões escolhemos aquele
livro para começarmos, não sei dizer ao certo. Aconteceu assim. Contudo,
a Palavra começou a atacar-nos em nosso íntimo logo desde o início. Um
versículo atrás do outro atingia-nos profundamente. Quanto mais líamos e
investigávamos, tanto mais éramos atingidos. Através da Sua Palavra
fomos humilhados e quebrantados. Fomos averiguar minuciosamente a vida
dos discípulos de Jesus depois da Sua ascensão.
Pouco tempo antes de haver subido aos
Céus, Jesus disse aos Seus discípulos de forma clara que de maneira
nenhuma se ausentassem de Jerusalém, mas, que esperassem pelo momento
que Seu Espírito fosse derramado sobre todos eles. Os discípulos,
aproximando-se d’Ele, perguntaram-Lhe se seria aquela a época em que o
reino de Israel ia ser restaurado. Ao que Jesus respondeu: “A vós não
vos compete saber os tempos ou as épocas que o Pai reservou à sua
própria autoridade. Mas, recebereis poder, ao descer sobre vós o
Espírito Santo e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém, como em
toda a Judeia e Samaria e até aos confins da terra”, At.1:7-8. Vemos,
aqui, que os discípulos estavam ocupados com coisas da terra novamente e
que estavam muito preocupados com coisas que não lhes pertenciam e nem
cabiam saber. Jesus impediu o rumo dos seus pensamentos e dirigiu toda a
sua atenção para a coisa mais importante e mais desejável de todas para
cada um deles: receber o Espírito Santo em toda a Sua plenitude! E a
razão? Para que fossem testemunhas d’Ele.
O Senhor tornou-nos conscientes do fato
de que nós, também, nunca nos deveríamos ocupar com coisas menos
importantes, nem mesmo enquanto lemos as Escrituras, mas, que
estivéssemos ocupados com a parte importante: receber o Espírito Santo.
Sempre que estamos ocupados com coisas de menor importância – ainda que
essas coisas venham nas Escrituras como era o caso do reino de Israel na
terra – faz com que percamos a visão daquilo que é, realmente, de grande
importância. Era o que estaria para acontecer com os discípulos depois
da ressurreição. Eles estavam ocupados em tentar saber qual seria o
acontecimento seguinte sobre o futuro terreno de Israel e em que época
seria a consumação de Israel como nação. Jesus, porém, chamou-lhes à
atenção dizendo: “A vós não vos compete saber os tempos ou as épocas que
o Pai reservou à sua própria autoridade”. Quantas vezes encontramos
cristãos que se encontram ocupados precisamente com coisas como essas?
Eles só querem determinar o tempo e hora para a vinda do Senhor e o que
irá acontecer em Israel. Mas, Jesus disse claramente que veio “para
lançar fogo sobre a terra e como desejo que esteja aceso!” Luc.12:49.
Contudo, nós – os próprios discípulos de Jesus – conversamos sobre
coisas e mais coisas e andamos muito ocupados com outras coisas enquanto
o coração de Jesus se quebranta com o desejo de ver o Seu fogo aceso na
terra! Jesus não permitiu que os discípulos saíssem de Israel
precisamente porque deveria ser ali que receberiam o Espírito Santo.
Jerusalém, na altura, era um lugar
terrível para os discípulos. A cidade era um ninho do mal. A coisa pior
que poderia acontecer neste mundo aconteceu precisamente em Jerusalém: o
ungido de Deus, o Salvador do mundo, havia sido crucificado ali. Depois
da morte de Jesus, todos os discípulos viviam fechados e escondidos
quando estavam em Jerusalém. Mas, apesar de tudo, Jesus mandou-os para
dentro de Templo ao invés de saírem dali. Ele mandou-os de volta para
Jerusalém para permanecerem lá até receberem o Espírito Santo. Esta foi
a nossa primeira lição importante que aprendemos.
Nós éramos tal e qual aos discípulos e
eles eram tal e qual a nós. Todos temos a tendência de evitar problemas.
Quando um lugar se torna insuportável para nós, fazemos de tudo para
fugirmos dele. E, depois, os Cristãos tentam sempre justificar as suas
más opções. Culpam os filhos, ou o marido ou a mulher pelos problemas
que têm. As esposas acham que as coisas são muito mais fáceis para os
maridos. Os maridos, por sua vez, acusam o fato de as coisas serem mais
fáceis para elas. Os filhos pensam o mesmo dos pais e os pais dos
filhos. Cada qual tem as suas próprias ideias. Assim, a mulher pensa em
abandonar o seu marido por crer que é impossível continuar a viver com
um homem como dela. O homem abandona a sua família por crer que se
tornou impossível viver com a sua esposa debaixo do mesmo teto. Um diz
que não suporta mais viver em seu próprio lar por haver-se tornado um
inferno e que seu próprio lar é uma coisa horrível! Outras famílias
dizem que precisam mudar de residência por haver-se tornado impossível
viver no seu bairro ou cidade.
Sabem, se eu não conseguir ser funcional
para Deus de forma simples no lugar onde vivo, não irei consegui-lo em
nenhum outro lugar. Os Zulus têm um provérbio que diz assim: “Se uma
batata estragada for colocada num saco de batatas boas, isso nunca
transformará a batata estragada em batata boa”. Se a minha vida não anda
bem, se a minha caminhada cristã está apodrecida onde estou, mudar de
lugar nunca resolverá nada. Pelo contrário, estragará os lugares para
onde for. Se Deus não me consegue usar onde estou, não serei uma bênção
onde for.
Talvez essa tenha sido uma das razões
por que Jesus mandou os Seus discípulos permanecerem em Jerusalém. Ele
conhece as fraquezas humanas todas. Ele avisou-os que receberiam poder
quando o Espírito Santo descesse sobre eles. Uma das provas que alguém
foi cheio do Espírito Santo é a visibilidade de que o Espírito Santo,
realmente, vive dentro da pessoa. Lemos em Atos 1:8: “Recebereis poder
quando o Espírito Santo vier sobre vós…”. Jesus afirmou que o poder do
Espírito Santo é a tal prova que somos batizados no Espírito Santo. A
palavra grega é “dínamos”. Foi a partir dessa palavra que nasceu a
palavra “dinamite”, a qual usamos atualmente. Nós não usamos dinamite
para fazer explodir areia solta ou terra mole. Usamos dinamite para
rebentar rocha dura. A dinamite é usada onde os outros meios não obtêm
qualquer sucesso. É por isso que os discípulos precisavam o poder do
Espírito Santo e nós também. Eles precisavam ser discípulos em Jerusalém
primeiro. O poder de Deus torna-se visível precisamente no lugar mais
difícil e mais complicado de todos, humanamente falando. É nesse terreno
onde o poder de Deus se pode manifestar e os seus efeitos ficarem
visíveis. Nas trevas mais difíceis, nos lugares mais complicados é onde
o Espírito Santo melhor se manifesta. Ali obtém o mais saboroso dos
sucessos e será ali onde deve operar com a maior facilidade. Jesus
prometera-lhes este poder que deveriam receber em Jerusalém e que ali
deveriam trabalhar em primeiro lugar, antes de irem para Samaria e
outros lugares do mundo. Ali, em Jerusalém, o terreno era mais
endurecido que rocha e seria ali que iriam trabalhar e ser testemunhas
de Jesus. Ali precisavam de dinamite. Que poder!
Mas, para que receberiam aquele poder?
Jesus disse: “Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo
e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém, como em toda a Judeia e
Samaria e até os confins da terra”, At.1:8. Mostrei ao grupo que Jesus
não havia dito que os discípulos receberiam poder para curar os enfermos
ou para fazer milagres! Não é verdade que os crentes, hoje, acreditam
serem essas as coisas mais importantes e que para isso receberão poder?
Mas, não é assim. Jesus disse que receberiam poder para dar testemunho
de Jesus e não testemunho de milagres. Por essa razão, somente aquele
que recebe de verdade o poder de Jesus pode tornar-se uma verdadeira
testemunha de Cristo.
Que entendemos sobre ser uma testemunha
de Cristo? A palavra original em Grego usada é “martus”. Isso significa
“mártir”. Isso seria dizer que alguém morre por aquilo em que acredita.
Por isso, o poder que recebemos, que é o poder do Espírito Santo, tem
como objetivo tornar-nos testemunhas desse calibre: chegarmos ao ponto
de poder ser mártires por Jesus. Isso significa poder para sermos fiéis
a Jesus até ao fim e permanecermos firmes sob qualquer circunstância. É
poder para seguirmos em frente sem qualquer vontade de olhar para a
esquerda ou para a direita! É poder para conseguirmos ser como o
primeiro mártir, Estêvão. Enquanto era apedrejado, Estêvão via o céu e
seu rosto brilhava de alegria. O céu estava aberto para ele, não tinha
nenhum mistério. Mas, o que acontece quando as pessoas nos atiram
pedras? E quando as pessoas são antipáticas para nós? E quando fazem
certos comentários acerca de nós? E quando pisam os nossos calos? Como
fica o nosso rosto? Brilha? Brilha como o rosto de um anjo como
aconteceu com Estêvão? Vemos o céu aberto como ele? Olhem só como as
pessoas ficavam quando eram cheias do poder do Espírito Santo! Estêvão,
um homem de oração, uma testemunha de Deus! Enquanto era apedrejado, via
o céu aberto e o seu rosto brilhava como o de um anjo. Estando a morrer,
clamava: “Senhor, não lhes imputes este pecado!” Sim, isso era o
verdadeiro poder do alto, um homem que não vacilava sob circunstância
alguma e permaneceu fiel até ao fim. Ele era um homem de Deus e não
camaleão que muda o seu semblante mediante as circunstancias em que se
encontra.
Então, este poder do qual Jesus falava
aqui seria para que fossem testemunhas - mártires. E caiu em nós que,
naquela altura, nunca nos seria possível sermos mártires por Jesus na
África do Sul, pois, as circunstâncias nunca chegariam a esse ponto.
Concluíamos que, para podermos ser mártires para Jesus, haveríamos de
viver em países onde os filhos de Deus são perseguidos pela sua fé. Mas,
Heb.12:4 diz outra coisa: “Ainda não lutastes contra o pecado até ao
sangue”. Noutras palavras, ainda não lutaram contra o pecado até à
morte. Por isso, a pessoa cheia do poder de Jesus lutaria até à morte
contra o seu pecado, preferiria morrer a pecar. Então, podemos ser
testemunhas de Jesus e de Seu poder em qualquer parte do mundo. Vamos
colocar isto de forma prática: “Prefiro morrer do que deitar-me com
outra mulher”. “Prefiro morrer que mentir”.
O nosso grupinho começou a pensar se
seriam capazes de se tornarem nesse tipo de testemunhas para Cristo.
Sabem, a nossa fé corre maiores perigos quando pecamos do que quando
somos perseguidos! Perguntei-lhes:
“Vocês não dizem que acreditam que a
perseguição opera para o bem daqueles que amam a Deus? Então, deve ser
precisamente durante tempos de perseguição que um crente dá maior e
melhor testemunho do verdadeiro poder de Jesus. Será ali que veremos se
a pessoa é realmente crente ou não”.
Enquanto pensávamos nisto, voltámos os
nossos corações quebrantados para o Senhor. Olhámos para nós mesmos e
verificamos que éramos pessoas iguais àquelas que Paulo descrevia em 2
Tim.3: “Sabe, porém, isto, que nos últimos dias sobrevirão tempos
penosos; pois os homens serão amantes de si mesmos, gananciosos,
presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a seus pais, ingratos,
ímpios, sem afeição natural, implacáveis, caluniadores, incontinentes,
cruéis, inimigos do bem, traidores, atrevidos, orgulhosos, mais amigos
dos deleites do que amigos de Deus, tendo aparência de piedade, mas,
negando-lhe o poder”.
Por que era assim? Não é verdade que
isto está falando de coisas feias como divórcios e adultérios? Sim, a
Bíblia afirma que virão tempos difíceis porque as pessoas irão ter
aparência de santidade, mas, negarão o seu poder. Uns vão desejar
aparentar que frutificam, mas, negam Deus em sua essência. Fala aqui de
todos aqueles que se chamam crentes e negam o verdadeiro poder de Deus!
Se pudéssemos olhar bem para a gravidade destas coisas, veríamos como
isto é demoníaco e feio. São as coisas mais feias que podemos imaginar.
Quando nos apercebemos que aquele trecho
de Timóteo se referia a nós, os nossos corações quebrantaram-se! Fomos
atingidos profundamente e começamos a perguntar-nos a nós mesmos como
estariam as nossas vidas e em que situação estávamos diante da verdade.
Ficamos conscientes das nossas incapacidades e das nossas fraquezas. Os
nossos corações quebraram.
Persistimos e fomos mais fundo na
Palavra de Deus. Cavamos ainda mais fundo. Vimos que os discípulos
voltaram para Jerusalém depois de Jesus haver subido para os céus. Eles
reuniram-se no templo e oravam. Entre eles estava Maria, a mãe de Jesus
e Seus irmãos. A Bíblia afirma que estavam todos unidos e eram de um só
coração e alma, tal era a união entre eles. Aquele tipo de união era
deveras muito invulgar, pois, o Espírito Santo ainda não havia sido
derramado sobre eles. Aquilo que aconteceu em Golgota e com Jesus e Sua
cruz bastava para unir os corações dos discípulos daquela maneira.
Naquela união invulgar, todos, com o mesmo coração e em uníssono,
estavam orando a Deus para o derramamento do Espírito Santo. Podemos
fazer uma pequena ideia de como a Cruz de Cristo penetrou fundo nas
vidas daquelas pessoas e o que ela significava para todos eles. Hoje,
existem pessoas que dizem que não conseguem ser uma união porque ainda
não foram cheios do Espírito Santo. Nesta parte das Escrituras vemos que
esses pensamentos são loucura e desvario! Na verdade, para haver união,
basta a Cruz de Cristo e basta as pessoas haverem-se achegado a ela.
Somente a Cruz de Cristo consegue alcançar o fim das inimizades, brigas,
desuniões e divórcios e isso para sempre. Naquele tempo, a Cruz de
Cristo tinha um significado tão grande para todos que até os próprios
irmãos de Jesus (que antes O perseguiam e criticavam) estavam ali,
orando e clamando pelo poder do Espírito Santo. Eles tornaram-se crentes
e até se uniram aos demais discípulos.
Continuamos lendo os Atos dos Apóstolos
para vermos que tipos de vidas levavam todos os discípulos de Jesus
depois da Sua ascensão. No dia de Pentecostes, o Espírito Santo foi
derramado sobre os Apóstolos e sobre outros crentes ali presentes. As
pessoas ao redor admiravam-se por verem os discípulos falando em seus
idiomas de origem: Partos, Medos, Egípcios. Alguns começaram a gozar e
diziam: “Estão bêbados!” Pedro, porém, levantou-se para explicar-lhes
tudo que se estava passando: “E acontecerá nos últimos dias, diz o
Senhor, que derramarei do meu Espírito sobre toda a carne”, At.2:17. Se
Deus chamava aquilo de “’últimos dias” há dois mil anos atrás, quanto
mais agora serão os últimos dias? Agora era mais “últimos dias” que dois
mil anos atrás! Se aquelas palavras proféticas contavam para o tempo dos
Apóstolos, quanto mais contariam para nós! Aquilo era para nós também!
Deveria acontecer conosco, pois, hoje é mais “’últimos dias” que então.
Se já naquele tempo os discípulos cuidavam das suas próprias vidas
esperando a vinda de Jesus a qualquer momento, quanto mais nós, agora,
dois mil anos depois, devemos estar atentos com nossas vidas? Se existe
uma diferença marcante entre nós e os discípulos de Jesus daquele tempo,
então, só pode ser o fato de não estarmos em fogo como eles estavam para
Deus! Então, perguntem-me como é possível que os crentes atuais vivam de
maneira imprópria e muito pior que os piores crentes de então. Nós,
hoje, deveríamos estar mais em chama para Jesus que os discípulos
daqueles tempos! Estou plenamente convencido que deveria ser assim! Se a
promessa da vinda de Jesus não passa de palavras vazias, então, essa
verdade deveria tornar-nos crentes mais firmes que qualquer outro crente
em qualquer outra época. Então, sendo hoje mais últimos dias que dois
mil anos atrás, devemos hoje estar amando o Senhor mais ainda e ter mais
dedicação ao Senhor e ainda estar crescendo cada vez mais em poder e em
todas as virtudes do Céu.
Continuamos lendo. Vimos que quando a
promessa se cumpriu com os discípulos, logo no primeiro dia, 3.000
pessoas converteram-se. Se quiséssemos, poderíamos ver de quantas nações
havia convertidos. Havia ali convertidos de várias nações e de outros
idiomas. Pensem nisto! Milhares de pessoas reuniam-se diariamente sendo
um de coração, um de espírito em união total. Como era possível? Eram
pessoas de nacionalidades diferentes, falavam idiomas diferentes e,
ainda assim, estavam em união. Será que temos noção do que se estava
passando aqui? Conhecemos bem as características duma alma. Agora,
imaginemos uma multidão de mil almas juntas. Temos noção do que
significa termos uma grande multidão em união e isso não apenas na
aparência? Sua união era verdadeira e real. Não era uma união
superficial, não tinha como ser superficial. Era o maior dos milagres!
Entre nós as coisas aconteciam da seguinte forma: quando se colocava uma
pergunta, alguém respondia de uma maneira ou de outra, outra já
respondia de outra maneira e uma terceira pessoa teria ainda outra
opinião. Assim, várias pessoas tinham uma ideia própria, diferente. E
ali só estávamos 30 pessoas! Eu lembro muito bem ainda, como um certo
senhor dizia numa de nossas reuniões: “Estou muito feliz que aquela
senhora não frequenta as nossas reuniões! Agora, não preciso ver a
mulher todos os dias, porque, se tivesse, estaria sempre irritado aqui
nas reuniões”. É muito fácil vermos crentes que se irritam mutuamente! É
frequente acontecer isso. Agora, será que dentro daquela multidão de
3.000 pessoas não havia nenhuma mulher? Claro que havia! Havia mulheres
e homens, jovens e adultos e todos os dias reuniam-se em perfeita união
para orarem e fazerem coisas em comum! Não vemos alguém que não queria
estar perto de algum outro, não vemos algumas pessoas evitarem as
outras. Havia uma união perfeita entre eles. Aliás, nem se falava na
possibilidade de rompimentos de relações ou de brigas! Nem existia essa
possibilidade sequer.
Analisamos as vidas e a convivência
daquele povo convertido. Víamos que a pessoa de Jesus era real entre
eles e que não era apenas uma arma de arremesso contra os outros. Também
não era o desejo de participarem na Ceia que os movia, nem uma hora ou
duas de culto e de estudo da Palavra. Rodavam à volta da pessoa de Jesus
em uníssono e em união perfeita! Aqueles crentes eram diferentes de nós.
Jesus era a sua vida. Todas as outras coisas eram de menor importância e
de pequena relevância. Víamos como todos aqueles que possuíam bens e
casas vendiam-nas sem serem forçados ou exortados a fazê-lo, para
entregarem aos pés dos apóstolos, os quais diziam, ainda assim, que não
possuíam prata e nem outro. Ninguém considerava seu nada daquilo que
possuía. Tudo era feito em comunhão uns com os outros e tudo pertencia a
todos. Por essa razão, não faltava nada a ninguém. Que congregação
aquela!
Foi assim que nos apercebemos por que
razão o local onde eles oraram sacudia e a terra onde pisavam tremia
quando oravam. Mas, o que acontecia entre nós? Os nossos filhos é que
nos sacudiam! Alguns homens eram sacudidos por suas esposas, outros por
seus familiares. Mas, quando aqueles crentes oravam, era o local e a
terra que tremiam! Quando oraram, toda a Jerusalém tremeu e houve
grandes transformações dentro da cidade!
Ficou claro que os crentes de hoje, nós,
vivíamos em constante temor dos homens. Temos tanto medo do que irá
acontecer aos nossos filhos e sobre o que nos reserva o futuro. Se a
porta não for trancada à noite, os crentes medrosos não conseguem dormir
sossegados e os seus pensamentos atormentam-nos e, em alguns casos,
levam-nos ao desespero! Claro que isso não é operado pelo Espírito de
Jesus! Tais pessoas e tais congregações nunca conseguirão sacudir o
local onde se encontram! O lugar é que sacode a eles. Quanto menos podem
esperar sacudir as portas do inferno! Se não são capazes de sacudir o
lugar onde estão, como conseguirão abalar as portas do inferno? Quanto
mais seguíamos adiante, lendo, tanto mais éramos convictos e
quebrantados! Os nossos encontros já não eram estudos Bíblicos, mas,
tornaram-se encontros de choro, lágrimas e lamentações profundas.
Quando nos comparávamos àquela primeira
congregação de discípulos, nossa principal reação foi abanar a cabeça e
ficarmos perplexos. Estávamos cheios de vergonha. Eu, pessoalmente,
clamava ao Senhor pedindo-lhe para no futuro, lá no céu, Ele nunca me
apresentar ao Apóstolo Paulo. Se o fizesse, imaginem Paulo falando
comigo e dizendo: “Erlo, conta-me alguma coisa importante que tenha
acontecido durante o teu ministério na terra”! Ou a Pedro. E se ele me
perguntasse: “Erlo, como era a congregação que lideraste na terra?
Conta-me e eu falo-te da minha”. “Ó Senhor”, dizia eu sentindo-me
desqualificado e inútil, “será que ainda posso considerar-me crente?”
Continuamos lendo. Chegamos ao capítulo
5 de Atos. Ali apercebemo-nos de que, onde o Senhor opera, o diabo
também se encontra muito ativo. Ele não dorme. Ele sempre vem para
destruir, principalmente onde Deus opera. E ele entrou no coração de
Ananias e de Safira. Quando Ananias verificou que as pessoas levavam as
suas posses e propriedades e as entregavam aos apóstolos para ajudar os
pobres e outros, sentiu que também deveria vender a sua propriedade.
Marido e mulher estavam de acordo sobre a coisa errada. Decidiram, em
conjunto, vender a sua terra e esconder parte do preço sem necessidade
de esconder e entregar a Pedro uma parte como se tivessem entregue tudo.
Poderiam dizer a Pedro que só estavam entregando metade e ninguém
acharia estranho. Mas, Pedro era um homem de Deus cheio do Espírito
Santo. E logo ali, o Espírito Santo falou com Pedro mostrando-lhe o que
se passava. Pedro, que não estava ali para agradar pessoas, perguntou de
imediato a Ananias se havia vendido a sua propriedade pelo valor que
estava entregando. Sem hesitação, Ananias respondeu que sim. Pedro falou
com ele novamente, dizendo: “Ananias, por que encheu Satanás o teu
coração, para que mentisses ao Espírito Santo e retivesses parte do
preço do terreno? Enquanto o possuías, não era teu? E vendido, não
estava o preço em teu poder? Como, pois, formaste este desígnio em teu
coração? Não mentiste aos homens, mas, a Deus. E Ananias, ouvindo estas
palavras, caiu e expirou. E grande temor veio sobre todos os que
souberam disto. Levantando-se os moços, cobriram-no e, transportando-o
para fora, o sepultaram”, At.5:3-6.
Três horas mais tarde chegou a sua
esposa fingida, Safira. Ela não sabia de nada do que se havia passado.
Assim que Pedro a avistou, perguntou-lhe: “Venderam a vossa propriedade
por este preço?” O que acham que ela responderia? Ela não tinha
intenções de ir contra o marido e de negar a palavra dele diante de
Pedro! Ela queria ser fiel a ele nesse aspecto! Já havíamos falado que
os casais discordam facilmente e que brigam por tudo e por nada e
dividem-se facilmente. Mas, este casal concordava facilmente com o
pecado. Na primeira igreja era assim. Naquele tempo, as esposas e os
maridos estavam de acordo! E era assim, também, com Ananias e Safira.
Safira respondeu afirmativamente à pergunta que Pedro lhe fez. Pedro
respondeu imediatamente: “Por que é que combinastes entre vós provar o
Espírito do Senhor? Eis aí à porta os pés dos que sepultaram o teu
marido e te levarão também a ti”, At.5:9. Safira caiu morta aos pés de
Pedro e vieram umas pessoas que a levaram e sepultaram ao lado do
marido.
Enquanto líamos o historial daquela
congregação dos Apóstolos, perguntávamo-nos a nós mesmos se teríamos
algum desejo de pertencer àquela congregação onde as pessoas caíam
mortas por mentir. Não seria arriscado demais? Ali estava uma
congregação onde qualquer tipo de pecado era revelado em qualquer pessoa
(até nos que ofertavam) e onde nunca passava em claro qualquer
transgressão. Ali, a mentira era punida ao vivo e no primeiro momento
oportuno. O que aconteceria conosco se pertencêssemos àquela
congregação? Todos sentíamos que tínhamos grandes pecados para esconder
e tínhamos outros pecadinhos que só aos nossos olhos seriam pequenos.
Bem, depois de pensarmos objetivamente, concluímos que talvez fosse
melhor não estarmos orando por um avivamento. Não seria muito bom
pertencermos a tais congregações! Perguntava-me a mim mesmo o que
aconteceria comigo se Ananias ou Safira fossem meus familiares ou
irmãos. Como me sentiria? Que faria eu naquelas circunstâncias? Eu penso
que sairia para contar a todas as outras congregações ao redor e para
avisá-las para nunca se associarem àquela congregação e para ninguém
colocar os pés dentro dela! Eu diria aos irmãos de outras congregações:
“Acham que isto é amor? Como podem chamar isto de amor de Deus? Pensem
um pouco e digam se isso é coisa certa, se é algo que se faça! Não! Cem
vezes digo: Não! Tenham cuidado e nunca vão a esse lugar! Tenho a
certeza que não é o Espírito de Deus que está operando através de
Pedro!”
E, por outro lado, que aconteceria se
estivéssemos no lugar de Pedro? Como reagiríamos ouvindo o Espírito
Santo sussurrar dentro de nós sobre o que se estava passando? Que
diríamos nós a Ananias, um homem que trazia dinheiro para a igreja? Eu
creio que, nas minhas circunstancias, eu o abraçaria dando-lhe meu
carinho de irmão e até diria: “Ó irmão, que Deus te abençoe por isto! Na
próxima reunião iremos mencionar a bondade do teu feito para que todos
fiquem sabendo. Iremos propor-te como líder ou como presbítero da nossa
congregação porque todos nós precisamos de pessoas como tu!” Temos
necessidade de pessoas assim, de pessoas que trazem dinheiro para a
igreja! Mas, não foi isso que Pedro fez. Os homens que estão
verdadeiramente e realmente cheios do Espírito têm outra linguagem e
falam de outra maneira com qualquer pessoa. Eles dizem: “Antes a morte e
a fome do que viver numa congregação de mentirosos e aproveitadores!”
Era essa a perspectiva da verdadeira congregação de Cristo e era essa a
visão que tinham. A santidade de Deus era tão óbvia e tão atuante que o
pecado era castigado até com a morte, se fosse preciso. Ao olharmos para
isso dessa maneira, podemos ver por que razões congregações como as de
Pedro conseguiam mudar o mundo através do poder de Jesus. Eles e suas
orações não apenas sacudiam a terra, mas, sacudiam os próprios portões
do inferno. Agradeçamos todos a Deus que aquela congregação não era
descartada e incriminada como seria nos dias de hoje. Vamos agradecer a
Deus por ela ter sobrevivido!
Voltamos a Atos 3. Vemos Pedro entrando
no Templo juntamente com João. Havia ali um coxo de nascença, o qual
colocavam na porta do templo para mendigar. Ambos os Apóstolos olharam
de frente para o coxo e disseram-lhe: “Olha para nós. Não tenho prata
nem ouro; mas o que tenho, isso te dou; em nome de Jesus Cristo, o
nazareno, levanta-te e anda”, At.3:4,6. Assim que Pedro acabou de falar
e de expressar a verdade, um milagre ocorreu. Nós analisamos aquele
texto minuciosamente. Inicialmente, Pedro e João olharam fixamente para
aquele homem. Admirei-me muito com as palavras de Pedro. Comecei a
repreender Pedro em meus pensamentos. Seu comportamento não foi o
melhor. “Pedro, já te esqueceste que ainda há bem pouco tempo negaste o
Senhor e que não podes dizer às pessoas para olharem para ti? Como podes
chegar diante de alguém e dizer, “Olha para mim”? Como podes olhar as
pessoas diretamente nos olhos e dizer uma coisa dessas? Deverias ter
vergonha de te colocar como exemplo!” E, na minha imaginação, era como
se Pedro me estivesse respondendo. “É, Erlo. Bem sei que neguei ao
Senhor uma e outra vez e até mais vezes do que sabes. E é verdade que me
senti miseravelmente desprezível. Quando Jesus olhou para mim e
perguntou se O amava, quebrou meu coração. Em profunda agonia e mágoa
pedi ao Senhor que me perdoasse e Ele esqueceu meus pecados para sempre.
Agora posso olhar as pessoas nos olhos. Não preciso ter vergonha”. É
precisamente essa a boa notícia do Evangelho. Em Jesus alcançamos
perdão. Mesmo que os nossos pecados sejam vermelhos como o carmesim,
tornar-se-ão tão brancos como a neve.
Assegurei o nosso grupinho que os
maiores pecadores estarão sempre em vantagem: eles amarão Jesus mais que
todos os outros. Precisava assegurar-lhes essa verdade. Um Fariseu, uma
vez, convidou Jesus para comer em sua casa e viu como uma prostituta
começou a lavar-lhe os pés com suas lágrimas e a derramar unguento sobre
Ele, secando-Lhe os pés com seus cabelos sujos. Aquele Fariseu “justo”
começou a pensar que Jesus não sabia quem era aquela mulher e que, se
realmente fosse profeta, saberia que era uma mulher sem vergonha. Mas,
Jesus conhecia os pensamentos do Fariseu e respondeu-lhe assim: “Vês tu
esta mulher? Entrei em tua casa e não me deste água para os pés; mas,
esta com suas lágrimas os regou e com seus cabelos os enxugou. Por isso
te digo: Perdoados lhe são os pecados, que são muitos; porque ela muito
amou; mas, aquele a quem pouco se perdoa, pouco ama”,
Luc.7:44,47.
“Estas palavras de Jesus ainda valem
para os dias de hoje”, assegurei-lhes. As pessoas que pecaram muito e
vêm a Jesus para alcançarem grande perdão, são pessoas muito
privilegiadas – amarão mais a Jesus que nós, os “justos” e os certinhos.
Eles conseguem amar Jesus mais que todos e isso é algo precioso. Não
podemos desprezar o amor que têm por Jesus. Quanto mais funda for a obra
de Deus em nós, quanto mais profundamente operar o Espírito Santo dentro
de nós, quanto mais profunda for a nossa conversão a Jesus, maior será o
nosso amor por Ele. Existem crentes e pessoas que não amam Jesus
profundamente porque nunca chegaram a ver a sua própria natureza
pecadora e nunca olharam os seus pecados de frente e nunca os viram como
Deus os vê. Por essa razão não dão valor a Jesus, não O amam como
convém. Foi esta a principal verdade que ficou clara para nós a partir
daquele texto.
E Pedro disse: “Olha para nós!” Eu não
conseguia entender aquilo. Aquelas palavras eram contrárias a toda a
minha escola, eram opostas a tudo que havia aprendido. A teologia era
contrária àquilo que Pedro estava fazendo. Nós somos instruídos a
colocar Jesus como o foco central e a desviar o olhar das pessoas de nós
e dizemos para eles olharem para Jesus e não nos terem como exemplos. E
ali estava Pedro dizendo ao homem para olhar para ele. Pedro era um
homem cheio do Espírito Santo e cometia erros primários! Como podia
Pedro cometer erros desses? Não se pode falar assim quando pregamos a
Jesus às pessoas. Antes, dizemos: “Olhem para Jesus! Olhem para a Cruz,
em Golgota! Olhem para Deus, o Pai! Olhem para a Sua Palavra!” Ninguém
de bom senso, por muito justo que seja, deve dizer, “olha para mim” e
nem “olha para nós”! Os olhos das pessoas têm de estar focalizados em
Jesus e sob circunstância alguma nesta terra devemos chamar a atenção
das pessoas para colocá-la sobre nós! “Ó Senhor”, orei, “será que
cometeste algum erro entregando a Pedro as chaves do Reino do Céus? Como
pudeste confiar num homem destes?”
Não conseguíamos entender nada daquilo.
E foi assim que fomos levados à Palavra de Deus novamente. Em 2Cor.3:2-3
lemos o seguinte: “Vós sois a nossa carta, escrita em nossos corações,
conhecida e lida por todos os homens, sendo manifestos como carta de
Cristo, ministrada por nós e escrita, não com tinta, mas com o Espírito
do Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne do
coração”. E foi assim que ficamos esclarecidos. De acordo com as
Escrituras, Pedro e João eram cartas vivas, escritas pelo Espírito Santo
de Deus. Todos podiam e deviam olhar para eles, vendo o seu exemplo e
perguntar como conseguiam ser assim. Por essa razão, podiam olhar para
aquele coxo e dizer-lhe para olhar para eles. Estávamos completamente
seguros que aquele homem deficiente via e lia Jesus ao olhar fixamente
para Pedro e para João. Eles eram um espelho, uma imagem fiel do que
Jesus era e ainda é. Se assim não fosse, aquele homem nunca teria
reagido da maneira que reagiu, olhando fixamente para Pedro e
levantando-se de sua doença. Por trás daqueles homens era visível toda a
glória de Deus e todo o Seu poder. Senão fosse assim, aquele homem não
creria ao ponto de curar-se. Se Pedro e João não revelassem claramente a
glória e o esplendor de Deus, aquele homem olharia para eles e diria
algo mais ou menos assim: “ Pedro, como podes dizer uma coisa dessas
para mim? Não sabes que sou enfermo desde que nasci? Porque estás
brincando comigo, gozando comigo? Não se faz uma coisa dessas com
ninguém!” Contudo, vemos naquele homem uma reação completamente
diferente. Ele, realmente, viu a glória e esplendor de Deus por trás de
Pedro e de João. Se não fosse assim, nunca teria reagido com fé e pulado
sobre os seus pés. Tal é o poder de Deus visível em seus servos e tal é
o poder de Jesus, nosso Redentor!
Aqueles homens de Deus eram, deveras,
uma carta aberta de Cristo. Concluíamos que não tínhamos qualquer
direito de pregar o evangelho se não conseguíssemos dizer: “Olhem para
nós”! Se não conseguíssemos ser um exemplo bom, uma amostra verdadeira
do que significa o Evangelho, não temos nenhum direito de abrir a boca
para falar em Deus a alguém. Nunca devemos sequer pensar em dar
testemunho se não pudermos dizer para as outras pessoas olharem para
nós. Se o fizermos, causaremos enormíssimos estragos à causa de Jesus na
terra. As nossas vidas devem ser uma carta aberta de Cristo ao mundo.
Devemos ser somente um reflexo real de Jesus. Se não o formos, seremos
como aqueles Fariseus de quem Jesus dizia em Mat.23:3: “Portanto, tudo o
que vos disserem, isso fazei e observai; mas, não façais conforme as
suas obras; porque dizem e não praticam”. Ainda hoje encontramos aqueles
que pregam as verdades que não vivem e nem experimentam na vida prática.
Ainda existe muito Fariseu hoje em dia e talvez você seja um deles. João
e Pedro eram pessoas que podiam dizer à qualquer pessoa do mundo para
olharem para eles. E nós? Eles eram verdadeiras testemunhas da vida e da
realidade de Jesus. Somos nós cartas abertas de Jesus que qualquer homem
pode ler e entender? É triste comprovar que poucos crentes lêem a Bíblia
da maneira que devem e entendem-na muito menos do que devem. Não
conseguem entender a Bíblia. Mas, com os jornais e as revistas não têm
problema nenhum. Entendem tudo, lêem tudo e até comentam sobre tudo que
lá vem. Conhecem os jornais e as revistas melhor que a própria Palavra
de Deus. E ainda assim se auto-denominam de crentes que nasceram de
novo.
Sabem, se formos uma carta aberta de
Jesus, até os analfabetos conseguirão lê-la. Sabe o que eles lêem? Eles
lêem as nossas vidas, as nossas coisas todas. O mundo ainda hoje aponta
o seu dedo para onde estão lendo. Eles costumam dizer: “Olhem para
aquele crente! E ainda se chama crente! Mas, vejam só como é que ele
vive! Só sabe brigar e gritar com os outros! Vejam como se zanga! Vejam
o que faz quando se zanga! Se alguém fala com ele, está-se defendendo
sempre de alguma coisa!” As nossas vidas precisam ser aquilo que o
evangelho é. É aí onde se encontra o maior segredo do poder do evangelho
em qualquer parte do mundo. Deixem-me perguntar: como estão as nossas
vidas? Devemos perguntar a nós próprios se, por acaso, as outras pessoas
vêem o nosso Senhor Jesus Cristo bem manifesto em nós. Somos um espelho
daquilo que Jesus é? Os meus filhos e a minha esposa vêem mesmo Jesus em
mim em todos os aspectos da minha vida?
Um evangelista muito conhecido, o qual
recebia muitos convites para pregar pelo mundo fora, um dia resolveu
levar a sua esposa junto com ele. Era um orador muito talentoso, cheio
de vigor e de palavreado. Todos ficavam pendurados em seus lábios. Todos
gostavam de ouvir os seus discursos. Não havia alguém capaz de pregar
como ele. Numa certa congregação onde discursava, duas senhoras estavam
sentadas ao lado da esposa do pregador, uma de cada lado, na fila da
frente. Depois da pregação do marido, todos ainda estavam sob o efeito
da pregação dele e via-se que havia causado uma grande impressão em cada
alma presente. Só podiam dizer “amém” a tudo que haviam ouvido. Havia
sido um discurso muito forte. Uma das senhoras comentou com a esposa do
pastor: “Ó, que privilégio é viver com um homem destes e tê-lo como
marido!” Foi, então, que a esposa respondeu da seguinte maneira: “Vocês
não sabem nada do que se passa lá em casa! Lá, é um inferno viver com
ele!”
Então, quando a tua própria vida não
consegue causar uma boa impressão sobre tua esposa, é melhor não falares
de Jesus para ninguém neste mundo, pois, não assustará o diabo sequer.
Se não impressionas a tua esposa, como é que essa vida irá causar
impressão aos poderes do inferno? Será melhor, então, limpar a nossa
porta em vez de andarmos a criticar este e aquele pecado nos outros.
Mas, voltando à história de Pedro e de
João e sobre aquilo que disseram ao coxo depois de haverem dito para ele
olhar para eles: “Prata e ouro não tenho, mas, aquilo que tenho te dou”.
Até onde sabemos, parecia que o Apóstolo João não possuía o dom de
curar. Isso não significava, de maneira nenhuma, que ele não estivesse
cheio do Espírito Santo também ou que ele não possuísse o Espírito Santo
de Deus em seu poder. Na verdade, João possuía um poder tal que devemos
estar agradecidos por ele já não estar vivo e aqui entre nós hoje!
Ficaríamos muito incomodados com a sua presença e com o testemunho de
vida no ministério pobre que temos. E se ele dissesse: “Quem comete
pecado é do Diabo (…) Qualquer que é nascido de Deus não comete pecado;
porque a sua semente permanece nele; e não pode pecar, porque é nascido
de Deus”, 1João 3:8-9. O que lhe responderíamos hoje à luz dessa parte
da Escritura? “João, ainda bem que já morreste! Nenhum cristão do século
vinte concorda contigo nesse aspecto! João, foste longe demais nas tuas
afirmações! Não existem pessoas que consigam ficar sem pecar o tempo
todo!” Mesmo que João tivesse sido carne como qualquer um de nós, era
muito evidente a manifestação do verdadeiro poder de Deus em sua vida
nesse aspecto da santidade. Ele experimentava o verdadeiro poder de Deus
em toda a sua vida, de alto a baixo. Ele vivia Jesus de tal maneira que
não conseguia entender como é que era possível alguém pecar depois de
conhecer Jesus e seu poder. Ele não conseguia imaginar a possibilidade
de alguém pecar depois de haver nascido de novo.
A Bíblia diz: “Aquele que roubava, não
roube mais. Aquele que mentia, não minta mais. Aquele que se pensava em
divorciar-se, não se divorcie”. E por ai adiante. Isto significa que a
pessoa já lidou com os seus pecados e que não existem mais. Até Jesus
que foi crucificado por nós, disse: “Vai e não peques mais!” Vêem, era
esse o tipo de linguagem de Cristo e dos Cristãos da altura. Era o
idioma de quem estava realmente cheio do Espírito Santo. Só assim
podemos entender qual era, realmente, a fonte de todo aquele poder. E
era óbvio que as suas vidas não envergonhavam ninguém que realmente
pertencesse a Deus. “Olha para nós!” Pedro continuou: “Prata e ouro não
tenho”. Não é verdade que só quando tudo vai bem conosco é que somos
capazes de sorrir? Só quando temos tudo é que o nosso rosto é capaz de
brilhar e manifestar satisfação e alegria. Só quando temos prata e ouro
é que seremos capazes de ser exemplos de alegria e dizer: “Olha para
mim!” Contudo, quando as coisas correm mal e quando somos obrigados a
reconhecer que não temos prata ou ouro, como está nosso rosto e nosso
sorriso? Será que ficamos muito preocupados sem saber como iremos fazer
para comer amanhã? Ficamos nervosos e impacientes por tudo e por nada?
Pedro era capaz de dizer: “Prata e ouro não tenho, mas, olha para mim.
Ainda sou capaz de dar-te aquilo que tenho!”
Ainda me recordo daqueles momentos
quando líamos essa passagem e comentávamos sobre isso. Contei ao pequeno
grupo de Zulus uma história que aconteceu numa certa catedral, onde
estavam mais ou menos umas 2.000 pessoas presentes. Lá não tinham o
hábito de passar o saco para as pessoas colocarem o seu dinheiro, mas,
na saída havia uma enorme mesa onde se colocavam as ofertas ao saírem.
Depois de todas haverem saído, a mesa estava cheia de dinheiro e de
moedas. Podemos dizer que estava cheia de prata e de ouro. O velho
sacerdote começou a contar o dinheiro juntamente com o seu sacristão.
Dizia para o jovem assistente: “Olha só, jovem! Pedro já não pode dizer
que não tem prata e ouro!” O jovem respondeu: “É verdade, mas, o Pedro
de hoje também já não consegue dizer ‘em nome de Jesus de Nazaré
levanta-te e anda!’”
Disse aos meus ouvintes: “Como podem
ver, os papéis inverteram-se. O que os Apóstolos podiam dizer e fazer
naquele tempo, nós já não dizemos e nem fazemos. O que eles diziam, nós
já não dizemos e o que eles eram capazes de fazer, nós já não
alcançamos. Aquilo que eles não tinham, na altura, hoje em dia é uma
coisa de grande importância. Não é assim? Muitas vezes, são essas coisas
que determinam se desejamos fazer ou concluir toda a vontade de Deus.
Quem sabe se não estamos mais longe do Céu e de Jesus que Judas
Iscariotes estava!”
Ainda antes de eu haver concluído aquele
pensamento, aconteceu algo muito inesperado. Uma jovem Zulu levantou-se
repentinamente no meio do culto. Estava lavada em lágrimas.
Profundamente tocada, ela disse:
“Pastor, pare, por favor! Não suporto
mais ouvir! Posso orar? Por favor?”
Aquilo aconteceu de forma tão inesperada
que eu fiquei sem saber o que fazer. Muitos pensamentos passaram por
minha cabeça como faíscas. A moça havia-se convertido há cerca de três
meses. Será que sabia orar? E se orasse sobre a coisa errada? O que ela
iria dizer na oração? Havia sido a primeira vez que alguém me
interrompera e, também, interrompera um culto enquanto eu falava. Não
sabia o que fazer. Fiquei sem reação. Por fim, resolvi colocar de lado
as minhas dúvidas e disse-lhe: “Está bem, pode orar”.
Com os olhos cheios de lágrimas, ela
começou a orar. Foi uma oração muito simples. Ela falou com Jesus:
“Senhor Jesus, nós ouvimos o que diz a
Tua palavra e a Tua promessa. Ouvimos como os primeiros discípulos eram
poderosos e como a primeira congregação era e fazia. Ó Senhor, não podes
voltar a fazer o mesmo entre nós e dar-nos um avivamento? Não podes
novamente derramar sobre nós o Espírito que os discípulos tinham
antigamente? Não podes fazer, neste século vinte, o mesmo que fizeste
com os Teus filhos de antigamente?”
Eu não tenho palavras para descrever
aquilo que se passou dentro de mim naquele momento. O meu coração
queimava dentro de mim. Lembrei-me dos dois discípulos de Emaús depois
de haverem estado a falar com Jesus sem saberem de quem se tratava:
“Porventura não ardia em nós o nosso coração quando, pelo
caminho, nos falava e quando nos abria as Escrituras?” Luc.24:32. Senti
que aquela oração havia sido inspirada pelo Espírito Santo. Quando a
moça terminou de orar, dei o culto por encerrado e dirigi-me de imediato
para casa do meu irmão em Mapumulo, onde eu estava alojado.
“Friedel”, disse-lhe, “aconteceu uma
coisa muito estranha hoje. O culto foi interrompido. Não foi
interrompido por terroristas ou ladrões, mas, por uma oração. E se
aquela oração veio do Espírito Santo, eu creio que em breve teremos um
avivamento em nosso meio e que acontecerão as mesmas coisas aqui que
aconteceram com os discípulos antigamente, há dois mil anos atrás”.
Pouco tempo depois disso, os Céus
romperam e o Espírito Santo foi derramado sobre nós como um vento.
AVIVAMENTO COMEÇA SEMPRE POR TI
Antes de descrever o que aconteceu
quando o Espírito de Deus começou a Sua obra em nosso meio, ainda quero
contar algumas coisas importantes. À medida que nos reuníamos à volta da
Palavra de Deus e orávamos de todo coração, suplicando para que um
avivamento ocorresse entre nós, Deus pegou no maior pecador ali
presente. Sabem quem era ele? Era eu mesmo, Erlo Stegen. Foi
precisamente comigo, o pastor, quem Deus começou a confrontar e a
convencer do pecado.
O que aconteceu comigo pessoalmente
fez-me pensar no que havia acontecido com um certo pastor na América.
Aquele pastor sofria sob o peso do seu ministério e suspirava debaixo da
sua carga. Não havia crescimento em sua congregação e as pessoas estavam
mortas. Tudo estava frio e muito morto. Os jovens não participavam no
Evangelho, não viviam o Evangelho; os Presbíteros eram brutos e viviam
com falta de amor. Para o pastor, não havia solução, pois, já havia
tentado de tudo. Quando pregava aos Domingos, era como se houvesse uma
parede de concreto entre ele e a audiência. As palavras voltavam vazias
e sem fruto, faziam ricochete no povo. O pastor em questão ouviu falar
de um outro pastor que começou a experimentar avivamento em sua
congregação. Decidiu ir visitá-lo e consultá-lo sobre o seu problema.
Saiu para descobrir qual seria o seu segredo e viajou cerca de dois mil
quilômetros. Quando chegou lá, contou o seu dilema e a sua necessidade
ao pastor que experimentava avivamento. Mal entrou, disse logo: “A minha
congregação está morta e não acontece nada com as pessoas. Os diáconos e
os presbíteros estão mortos e são insensíveis, não querem ouvir nada do
que digo e os jovens andam sempre ocupados com as coisas do mundo”.
“Oh meu irmão”, respondeu o pastor
depois de ouvir toda a queixa, “o senhor não precisa ficar aqui muito
tempo. Posso dar-lhe já a receita que o senhor tanto deseja. Pode voltar
ainda hoje para casa. Assim que chegar em casa, entre em seu escritório
ou local de trabalho, sente-se no chão, pegue num pedaço de giz e faça
um círculo à sua volta. Fique dentro desse círculo e ore seriamente para
Deus operar dentro daquele círculo. Peça a Deus um avivamento dentro
daquele círculo. Pergunte-Lhe se não pode começar ali com a Sua obra!”
Quando o visitante ouviu aquilo, é óbvio
que não ficou muito feliz. O conselho que ouvira era um comprimido muito
amargo para engolir. Ficou irritado porque aquilo era tudo menos um
elogio. Aquelas palavras diziam que o culpado era ele e não a
congregação. Ficou zangado, como aconteceu com Naaman, o oficial Sírio
ao qual Eliseu mandou mergulhar sete vezes no rio Jordão. Provavelmente,
pensou que a água do Jordão era muito suja e que seria muito inadequado
mergulhar nele sete vezes. Poderia parecer uma forma de desprezo para um
oficial Sírio tendo o valor que tinha, pois, provavelmente achava-se
digno demais para que Eliseu “brincasse” com ele daquela maneira após
haver feito uma viagem tão longa para ir vê-lo de propósito acerca da
sua lepra. Mas, os servos de Naaman convenceram-no a mergulhar no Jordão
e, quando o fez, ficou completamente são de todas as suas feridas na
pele. O pastor acabou por se acalmar e humilhar-se.
Quando chegou a casa, decidiu fazer
aquilo que seu irmão e colega o havia aconselhado fazer. Começou a orar
intensamente para que a obra de Deus fosse feita nele. Depois de haver
começado a fazer isso, entendeu pela primeira vez o verdadeiro
significado de tudo aquilo. No domingo seguinte, dois homens começaram a
clamar por arrependimento sob a sua pregação. Choravam e, depois do
culto, vieram confessar-se a ele dizendo que as suas vidas estavam
perdidas e numa desordem total. Não estavam bem com Deus. Levavam vidas
muito mundanas e muito desordenadas. E, no culto, aperceberam-se que,
sendo amigos do mundo, haviam-se tornado inimigos de Deus. Os dois
homens converteram-se. Mas, isso foi apenas o inicio de tudo. Depois
disso, o fogo de Deus consumiu toda a dureza e todo pecado naquela
congregação.
Com esse exemplo, quero exemplificar e
explicar o que se estava passando entre todos nós naqueles momentos.
Jesus começou a operar duma maneira que não esperávamos. Quando eu me
perguntava qual a razão por que não experimentávamos avivamento e por
que razão todos à minha volta eram frios, eu tinha muitas respostas e
muitas conclusões próprias. Eu afirmava que a culpa era do bem-estar e
da riqueza de muitas pessoas dali; dizia às pessoas que as coisas também
não eram fáceis para os missionários brancos que trabalhavam entre os
negros; desculpava-me afirmando que eles tinham muitos preconceitos
contra os brancos e que havia muita política nas suas cabeças e que isso
impedia a obra de Deus; dizia que as tradições e os costumes dos negros
eram coisas mais importantes para eles e que não as desejavam abandonar;
que os negros diziam que o Cristianismo era a religião dos brancos e
acreditavam mesmo nessa mentira; ademais, estava convencido que os
homens e as mulheres tinham maior interesse em bebida e em álcool do que
em Jesus; eu culpava os jovens de amarem o mundo; dizia que as cabeças
das moças só rodavam com música e que os moços só andavam atrás de
dinheiro. Dizia, também, que tudo que faziam girava à volta de desejos e
de sexo ou outras coisas da carne.
Sempre culpei os outros por eu não
experimentar avivamento. Via todos os pecados do meu próximo e dos
membros das minhas congregações. Via os pecados de outros pastores. Mas,
quando começamos a orar de todo coração por um avivamento entre nós,
Jesus começou a pôr luz em minha vida, mostrando e revelando tudo que se
passava em mim. Obrigou-me a ver os meus próprios pecados e a deixar de
olhar para os pecados e erros dos outros. Deixei de ter tempo para
buscar os erros nos outros e de pensar neles como a causa principal de
tudo que se passava no nosso meio. Eu não enxergava os meus próprios
pecados. A verdade é que, quando Jesus começou a trabalhar comigo,
deixei de me lembrar do resto do mundo, na verdade, esqueci tudo o resto
à minha volta. Antes, fazia precisamente o oposto: esquecia-me de mim e
de minhas faltas para olhar para as dos outros. Antes, estava plenamente
convencido que eu havia sido chamado para tratar das outras pessoas e
fazê-los converterem-se. Era isso que fazia. Fiz isso durante todos
aqueles anos. Pregava para as pessoas e dizia-lhes que abandonassem os
seus pecados e aceitassem Jesus como seu Salvador. E eu trabalhava
arduamente nesse sentido. E pretendia trabalhar assim até que o céu
descesse sobre nós. Contudo, não havia sinais do fogo que Jesus
prometeu. E só vimos os primeiros sinais desse fogo quando Jesus começou
a operar dentro de mim. Jesus pegou fundo em minha vida e em meus
pecados. Revelou todos os meus pecados, os secretos e os outros. E tudo
que ocorreu naquela altura está tão fresco em minha memória como se
tivesse ocorrido no dia de ontem. Quero, por isso, descrever os
acontecimentos na sua ordem e da maneira que aconteceram para que possa
servir de bênção para alguém.
Conforme já foi dito, havíamos decidido
investigar as Escrituras minuciosamente dando toda a atenção aos
pormenores. O nosso objetivo era claro e estivemos reunidos diariamente
cerca de três a quatro meses. O lugar que achamos para nos reunirmos era
um estábulo de vacas abandonado. O estábulo virou local de oração e de
súplicas. Limpamos o estrume todo, lavamos o local e raspamos as paredes
para ficarem menos escuras. Reconheço que, na altura, eu ainda não
conseguia entender a mensagem que Jesus me queria passar e ensinar
pessoalmente. Jesus queria dizer-me mais ou menos o seguinte: “Erlo, se
realmente queres que o Meu Espírito opere em teu ministério e através da
tua vida, então precisa acontecer contigo aquilo que está acontecendo
com este estábulo. Precisas ser limpo e purificado”. Somente um tempo
depois da operação de Deus haver começado em mim é que comecei a ver e a
entender quanto estrume endurecido havia em minha vida e em minhas
paredes e de quantas coisas sujas me teria de limpar. Eram aquelas
coisas que tornavam os ouvidos de Deus surdos ao ponto de nunca
escutarem as nossas súplicas urgentes, (Is.59:1,2).
A maioria das vezes que falta avivamento
genuíno, tem como razão principal o não somos canais puros e purificados
para transportarmos as águas puras e vivas das quais o Senhor Jesus é o
autor. Por essa razão, desejo falar sobre minha vida e sobre minha
experiencia pessoal, exemplificando através de mim qual a razão
principal por que Deus, muitas vezes, não opera como dantes. É porque
não somos instrumentos que Deus possa usar. Somos instrumentos
descartáveis e inúteis, tal e qual eu era na altura.
Numa manhã de Sábado, alguns crentes
zulus vieram ter comigo para me perguntarem se não havia maneira de
anteciparmos a reunião da noite para as duas da tarde. Alguns deles
vinham de muito longe e queriam voltar para suas casas, caminhando,
antes de anoitecer. Naturalmente que concordei sem hesitação. Quando nos
reunimos à hora marcada, olhei pela janela para o lado de fora. Estava
lá o Governador do Distrito, algumas pessoas importantes da vila, o
chefe dos correios, o chefe da polícia e o juiz. Jogavam tênis do outro
lado da rua. Fiquei com vergonha e comecei a pensar: “Que estarão
aqueles a pensar de mim? Eis-me aqui, orando, chorando e clamando a Deus
com estes negros, de joelhos. Com certeza que pensam que enlouqueci!
Devem pensar que sou doido. Que devo fazer? Devo adiar a reunião e dizer
que seria melhor voltarem à noite? Assim, as pessoas importantes que
jogavam tênis já teriam ido para casa! E que pensariam os Zulus de mim
se o fizesse? Eu havia prometido ter o culto às duas da tarde!” Comecei
a duvidar disto e daquilo e logo tive uma ideia brilhante: fechar a
janela e ninguém de fora iria ouvir nada do que se passava lá dentro!
Levantei-me em direcção à janela e quando a fechei Deus falou comigo:
“Está bem, Erlo, podes fechar a janela.
Mas, estarás dentro com o povo e eu fico do lado de fora! Eu também
não vos ouvirei tal e qual o povo do outro lado da rua!”
Eu entendi de imediato a mensagem. A
verdade da voz era clara e fez muito sentido para mim. Vi que Deus não
se referia nem à janela e nem aos brancos importantes que jogavam tênis.
Deus estava apontando o Seu dedo ao meu orgulho e ao meu coração altivo.
Era esse coração que me estava separando do Deus vivo, fechando a
janela.
Foi a primeira vez que, realmente, me
apercebi que o Espírito de Deus era um Espírito Santo. Foi ali
que tive essa noção pela primeira vez. Já havia falado sobre o Espírito
Santo centenas de vezes, talvez milhares de vezes, mas, nunca me havia
apercebido da santidade do Espírito Santo. Nunca havia
experimentado nada que me revelasse o tipo de santidade do Espírito de
Jesus. Pregava muito sobre o Espírito Santo e o Seu poder, mas, nunca me
havia apercebido da Sua santidade. Mas, ali ficou claro para mim pela
primeira vez. Afinal, eu não sabia do que estava falando quando falava
do Espírito Santo. Sempre frisei os aspectos da misericórdia, mas, sobre
a Sua santidade nunca havia pensado e nunca me havia confrontado com
ela. Nunca tive uma revelação da verdadeira santidade de Deus. Atingiu a
minha alma tão profundamente que caí de joelhos diante daquele grupo de
crentes, chorando como uma criança muito ferida. Olhei para cima e vi
claramente em minha mente as palavras escritas em Tiago: “Deus
resiste aos soberbos”.
Foi, então, que me apercebi pela
primeira vez em toda a minha vida em que posição me encontrava em
relação a Deus. Ele resistia-me. Não estava afim de me abençoar e antes
afim de resistir-me. Sempre imaginei que era o diabo quem me resistia.
Sempre tive essa convicção. Mas, de acordo com a Bíblia, era o próprio
Deus quem me resistia, ainda que pregasse o Evangelho. Se fosse o diabo
a resistir-me, ainda haveria esperança para mim. Mas, se é Deus quem me
resiste, que esperança haveria para mim? Quem me salvaria da mão d’Ele?
Nunca me havia passado pela cabeça que havia dois poderosos a
resistir-me todos aqueles anos. Havia o diabo, o dono deste mundo, o
príncipe das trevas neste mundo, poderoso; e havia o Senhor, o Deus
Todo-Poderoso, Criador do Céu e da Terra. Clamei do fundo do meu
coração:
“Erlo, estás verdadeiramente perdido!
Não existe esperança para ti!”
Naquele momento ficou bem claro para mim
por que razão as pessoas não se convertiam de verdade sob a minha
pregação. Deus resistia a um orgulhoso e altivo. Estava explicado por
que razão os doze anos de trabalho árduo não haviam produzido qualquer
fruto digno desse nome! Eu preciso explicar, aqui, que eu não era do
tipo de pessoa que chorava facilmente. Mas, naquele momento, o meu
coração ficou tão atingido que não me consegui conter. Chorei
amargamente por causa do meu pecado. Estava envergonhado. Meu coração
duro e sujo como aquele estábulo estava quebrantado e foi dilacerado
veementemente. Já nem sentia vergonha de me encontrar a chorar na frente
da congregação. Todos olhavam para mim admirados, sem saber o que se
passava comigo. Só conseguia soluçar e dizer que era, realmente, um
grande pecador. Disse que era pessoa muito orgulhosa e que o meu orgulho
era grande e que Deus, afinal, me resistia. Era Ele quem estava contra
mim. Não consegui continuar com o culto. Somente lembrei de pedir a
todos ali presentes que orassem por mim. Coloquei-me sobre meus joelhos
e chorava amargamente, dizendo:
“Senhor, perdoa-me, um pecador.
Salva-me. Tem misericórdia!”
Mas, Jesus não parou por ali. Operou
ainda mais profundamente em mim. Continuou revelando um pecado atrás do
outro. Era época do Natal. Antes, o Natal era uma ocasião muito
importante para todos nós, especialmente para nós, seis irmãos e a
família. Por vezes, já começávamos a cantar hinos de Natal um mês antes
da ocasião. Nós nos alegrávamos e nos regozijávamos como os passarinhos
que se preparam para imigrar para o calor. Mas, o Natal de 1966 foi
diferente. Depois dos dias festivos, um irmão veio perguntar-me:
“O senhor sabe que o Natal já passou?
Sabia que era Natal?”
“Não irmão, eu não me havia apercebido
que era Natal”
Não havíamos tido nenhuma mensagem ou
culto de Natal, nenhuma comemoração, nenhuma decoração específica da
ocasião. Contudo, posso afirmar que havia sido o Natal mais feliz de
toda a minha existência! Deus estava muito ocupado comigo. Eu só pensava
em uma única coisa e clamava a Deus sem interrupção: que tivesse
misericórdia de mim. Todo o resto havia perdido importância.
Uns dias depois disso, já a nossa
pequena congregação se reunia quando eu passava de carro. Eu podia
ouvi-los cantar e senti um grande desejo de juntar-me a eles de
imediato. Mas, logo pensei: “Não posso fazer isso! Preciso ir mudar de
roupa e barbear-me. Não posso ir para o culto com roupa normal sem estar
bem vestido. Preciso colocar a minha gravata e ser um exemplo quando
compareço diante das pessoas. Não posso abrir a Bíblia diante do povo
vestido desta maneira. Que irão pensar os meus irmãos e irmãs?” E aos
olhos do meu espírito havia certas pessoas cujas opiniões sobre mim eram
importantes. De repente, as palavras do profeta que eu mais amava na
Bíblia cortaram o meu coração. Elias, quando estava diante de um rei, o
Rei Acab, disse-lhe (não se importando diante de quem estava presente):
“Deus, diante de quem eu estou…” 1 Reis 17:1.
Podemos pensar um pouco nesta palavras
de Elias e ter muitas opiniões sobre elas. Mas, vamos colocar-nos a nós
mesmos na situação de Elias. Aquele rei terreno era seu rei e tinha todo
poder para tirar-lhe a vida ou de permitir-lhe viver. Mas, Elias estava
à vontade porque estava mais consciente da presença de Deus. “Deus em
cuja presença estou…”. Diante de um rei, o seu rei, Elias só tinha
consciência de Deus. A presença do Rei Acab não o afetou minimamente. E
era rei. E o que estava acontecendo comigo? Eu não estava diante de
nenhum rei sequer. Ia estar diante dos presbíteros e do povo de minha
igreja. Certamente que eu nunca seria capaz de dizer aquilo que Elias
disse se fosse eu diante de um rei. E ali estava eu preocupado com o que
certas pessoas iriam pensar de mim.
Quando eu estava diante da minha
congregação para pregar, tudo era feito para agradar pessoas. Perguntava
a mim mesmo se iriam gostar de ouvir isto ou como reagiriam se eu
falasse sobre aquilo. Perguntava-me se iria magoar alguém com minhas
palavras, etc. Nunca me perguntava o que Deus pensaria de mim ou de
minhas palavras. Não estava consciente de meu Deus, que é maior que
qualquer rei. As pessoas eram, para mim, a parte mais importante
juntamente com suas opiniões! E foi ali que vi claramente em que
situação perigosíssima qualquer pregador pode colocar-se quando prega
para o agrado de certas pessoas ou para o desagrado de outras. É muito
perigoso estarmos a pregar sobre aquilo que as pessoas gostariam de
ouvir. Deus fez-me lembrar as palavras de Paulo: “Se eu ainda agrado
pessoas, não posso ser um servo de Cristo”, Gal.1:10. “Paulo”, clamei,
“também disseste que aquele que prega para os outros deve ter o cuidado
de não tornar-se rejeitado! Mas, em que situação me coloquei a mim
mesmo? Como é que Deus me está vendo agora? Como fico diante da Sua
Palavra sendo julgado por ela?” Eu sempre afirmava aos meus ouvintes que
vinha a eles como servo de Jesus. Mas, agora ficava claro que eu era
servo de pessoas. Tudo provava que eu nem poderia ser membro duma
congregação de Deus, onde Deus fosse realmente rei e senhor. Quanto mais
ser servo de Jesus! Foi dessa maneira que fui sumariamente julgado pela
Palavra de Deus.
Eu penso que era isso que Jesus queria
transmitir ao dizer que a palavra que Ele falou é que nos julgaria. Ele
disse que não veio para julgar o mundo, mas, que a Sua palavra o faria.
No momento que senti que alguém pode, realmente, estar pregando para os
demais e, ainda assim, ser rejeitado e desqualificado por não participar
dessa prova segundo as regras, foi precisamente o momento que me senti
julgado pela Palavra que Jesus trouxe. Fiquei profundamente tocado.
Chorava amargamente. E do nada surgiu uma imagem em minha cabeça. Tenho
a certeza que se eu conseguisse pintar, se fosse artista, eu pintaria
(ainda hoje) a imagem que estava diante de mim. Vi um enorme templo
pagão cheio de deuses estranhos e um homem andando e se encurvando
diante de cada ídolo pelo qual passava. Ora se encurvava diante de um,
ora diante de outro conforme a necessidade. Dobrava com muita reverência
e adorava a imagem. E vi que aquele homem era eu. Nem mais: era mesmo
eu! Deus deu-me uma imagem de como eu era de fato. Foi assim que me
apercebi que tipo de pessoa era aos Seus olhos.
Enquanto visualizava aquela imagem, o
meu coração quebrantou-se e entrei num pranto que não conseguia parar.
Era demais para meu coração. Durante doze anos eu andei pregando para os
outros deixarem seus deuses e pecados e que não servissem ídolos e
deuses, afirmando que somente o Senhor é Deus. Mas, eis-me aqui dobrando
minhas costas diante de ídolos e de outros deuses da minha cabeça. Eu,
afinal, servia o diabo e os seus deuses. Quando isso aconteceu vi que,
de fato, amava outros deuses e os servia; até diante de pessoas eu
cedia. Isso era servir outros deuses. Não é fácil colocar em palavras
aquilo que se passou em mim naqueles momentos. Não sei como descrever o
que se passou. Estava em estado de choque ao contemplar-me e ver-me da
maneira que Deus me via. Ficou tudo claro. Tudo me parecia em vão.
Fiquei muito tempo ali espetado no chão, como se nada existisse ao meu
redor. Por fim, virei-me e dirigi-me para o local da reunião. Não fui
capaz de pregar ou de dizer uma palavra. Não foi possível conduzir o
estudo Bíblico naquele momento. Lavado em lágrimas, só disse:
“Vamos orar”. Ajoelhei-me, chorei e
continuei: “Senhor, perdoa-me, um pecador. Preciso ser salvo”.
Havia esquecido completamente que um dia
me havia convertido, quando era criança. Uma coisa é falarmos de Deus ou
sobre Jesus. Outra coisa é estarmos debaixo do juízo d’Ele e das
palavras que falou e experimentar esse juízo de forma real.
“Ó Senhor”, orava, “tem misericórdia de
mim, um pecador. Quebra todos os ídolos que encontrares em mim”.
Eu já não pensava na riqueza ou na
pobreza como razão para o insucesso; já não me escondia por trás dos
pecados dos jovens; já não acusava os erros dos outros. Era eu o
pecador. Havia-me esquecido totalmente de todas as outras pessoas. E
Deus havia-me colocado em Seu moinho. E moía fino, não deixando grãos
intocados. Certamente, somente aqueles que, um dia, tiverem ou tiveram o
privilégio de experimentar estas coisas que tento descrever, entenderão
aquilo a que me estou referindo. Naqueles momentos, eu esqueci que já
pregava o Evangelho há doze anos e esqueci toda a minha formação
teológica. Não valia de nada. Sentia que era como aquele publicano que
batia no peito dentro do templo: “Senhor, tem misericórdia de mim, um
pecador!” Tal como ele, batia forte em meu peito para experimentar uma
conversão profunda. Era eu quem precisava de perdão. Eu era, realmente,
um tolo cego, tão cego como a morte. O Senhor teve de me pegar pelo
colarinho para esfregar o meu nariz nos meus pecados. De outra maneira,
nunca os veria da maneira que Deus os vê.
Um certo dia, caminhava com a minha
Bíblia na mão em direção ao local das nossas reuniões. Cheguei a uma
loja onde algumas pessoas se encontravam. Enquanto passava, sem querer
toquei em minha própria face. Foi então que me apercebi que não me havia
barbeado. Havia esquecido. Desde pequeno que me haviam ensinado que isso
era uma vergonha para um homem, sair à rua sem se barbear. Sempre me
haviam dito que era uma vergonha para qualquer homem aparecer no meio de
pessoas com a barba por fazer. Fiquei espetado no chão, chocado. Como me
pude esquecer? Logo de imediato surgiu aquela mesma perguntinha de
sempre: “O que este povo estará pensando de mim?” E uma vez mais veio a
mim uma palavra que me bateu como um martelo poderoso: “Que pensam as
pessoas de ti!? Não está escrito que todos devemos estar verdadeiramente
mortos para o mundo e para o pecado?” Era novamente a Palavra de Deus a
julgar-me impiedosamente. A luz manifestou outro pecado novamente. O meu
entendimento ficou claro.
Como vêem, durante um verdadeiro
avivamento, a Palavra de Deus é vivente. Ela opera poderosamente sem
poupar qualquer pessoa. A Palavra atingia-nos profundamente e éramos
escrutinados minuciosamente. É nessas alturas que não devemos agir como
patos ou como gansos. Os patos e os gansos não ficam molhados por baixo
das penas quando mergulham. Mal saem da água, estão secos. Sacodem a
água como se nada tivesse acontecido. Ou como as pedras que permanecem
anos dentro da água ou no fundo de um rio, as quais estão sempre
molhadas por fora, mas, dentro continuam secas. Durante tempos de
verdadeiro avivamento, a Palavra funciona como um martelo poderoso e
quebra tudo que é duro e tudo que é rocha.
“Senhor”, disse, “eu creio
verdadeiramente em Ti, mas, confesso que não creio do jeito que as
Escrituras dizem, pois, a Tua Palavra afirma que todo aquele que crê em
Ti está realmente morto para o mundo e o mundo para ele. Eu não estou
morto para o mundo. Ainda me preocupo com aquilo que pensam de mim”.
Era verdade. Eu não me sentia morto
para aquilo que o mundo dizia ou pensava. O mundo sobrevivia em mim e
era, deveras, uma coisa muito importante para mim. Estava mais morto
para Deus que para o mundo. E no momento que me apercebi disso, eu
obtive outra resposta para o enigma da falta de poder no meu ministério.
Permanecendo vivo para o mundo, não me era possível crer da maneira que
as Escrituras dizem. Era por isso que eu também não experimentava os
tais rios de água viva fluindo através de mim. O Senhor havia afirmado
que os rios de água viva só fluiriam através daqueles que cressem
como as Escrituras dizem. Agora era fácil ver por que razão o meu
ministério durante doze anos não havia dado frutos e por que razão eu
era mais seco que um deserto árido. Agora também estava explicado por
que razão os corações das pessoas permaneciam duros ouvindo-me.
Apercebi-me que eu era, realmente, o verdadeiro tropeço para Deus e para
a Sua obra. Era fácil ver por que as promessas de Deus não davam certo
em minha vida. Por essas razões era impossível termos um avivamento em
nosso meio. Deus não tinha como operar através de mim e de meu
ministério. Havia muitas coisas carnais em minha vida que
impossibilitavam a operação de Deus. Essas carnalidades entristeciam e
anulavam por completo a obra do Espírito Santo em nosso meio. Nós
havíamos tornado Deus surdo. Éramos os principais responsáveis pelo
afastamento de Deus. Ou não sabemos nós que um avivamento é a mais pura
obra do Espírito de Deus que é Santo? Havemos esquecido isso? Quando me
apercebi disso, o meu coração quebrantou-se novamente e tornei a chorar
amargamente. Na verdade, Deus não me dava descanso. A Sua mão não se
levantava de cima de mim. Eu implorava para Deus transformar-me numa
nova criatura e numa pessoa realmente nova para que pudesse ser usada
por Ele sem impedimentos.
Depois disso, Deus começou a revelar
qual era o real estado do meu coração morno e sem vida. Mostrou-me um
monte de três camadas. Na parte inferior, havia muitas pessoas. Na
camada seguinte, havia menos gente e os seus rostos mostravam, por
vezes, tristeza e pesos. E, na parte superior, havia pessoas cujos
rostos brilhavam como o de anjos. Eles estavam cheios de luz e de vida.
Como eu desejava chegar à parte superior! Não entendi imediatamente o
significado daquela imagem que eu contemplara. Mas, uns dias depois, eu
li: “Antes fosses quente ou frio! Mas, agora que és morno e não és nem
quente e nem frio, cuspir-te-ei da minha boca para fora!”
(Apoc.3:16,16). E foi daquela maneira que Deus me revelou como existem
pessoas frias, mornas e quentes e como a vida de morno é dura e
implacável; e como ser morno põe Deus em agonia ao ponto de querer
vomitar. Vi como ser morno era uma coisa muito horrível aos olhos de
Deus.
Era precisamente isso que acontecia
comigo. Quando o Senhor me manifestou a verdade e mostrou como eu era
aos Seus olhos, apercebi-me de como todos os meus pecados estavam
relacionados com o fato de eu ser uma pessoa morna. Ali, caí sobre os
meus joelhos, rompi em lágrimas e clamei ao Senhor:
“Senhor, imploro-te que me dês um
coração que esteja em fogo para Ti noite e dia! Não suporto mais ser
morno assim. Retira de mim este coração morno e sujo, retira a minha
espiritualidade preguiçosa e livra-me desta situação trágica. Dá-me um
coração igual ao que queres! Tem misericórdia de mim! Tu vieste para
lançar fogo sobre a terra e eu estou morno! Por favor, Senhor, faz meu
coração um fogo. Começa comigo, em mim. Entrego-me totalmente em Tuas
mãos para que prossigas com essa obra do jeito que entenderes. Pega em
minha vida toda e faz dela tudo aquilo que te convém e tudo aquilo que
desejas alcançar!”
Mas, o Senhor continuou trabalhando,
operando ainda mais fundo. Revelava um pecado atrás do outro. Um dia,
pensava distraidamente nas palavras que ouvira de um Primeiro-ministro
da África do Sul, Hendrik Verwoerd. Anos atrás, ele dizia acerca do
grande problema racial no nosso País, que devemos amar o nosso próximo
como a nós mesmos. E ali estava o Senhor a lembrar-me das palavras do
nosso Primeiro-ministro. Eu havia comentado: “É mais fácil falar que
fazer!”
“Erlo, lembras as palavras do teu
Primeiro-ministro?” Perguntou-me Jesus. “Ainda te recordas do que ele
vos havia dito? Lembras que ele disse que precisas amar o teu próximo
como amas a ti mesmo? Bem, hoje não é o Primeiro-ministro do teu País
que te fala, mas, o Rei dos reis e o Senhor acima de todos os senhores.
Diz-me, Erlo, tu realmente amas o teu próximo como a ti mesmo?”
Sabem, quando estamos diante do Deus
vivo e Ele faz-nos uma pergunta dessas, precisamos pensar bem antes de
responder.
“Falando a verdade, Senhor, eu entreguei
a minha própria vida por causa deles. Dei a minha vida para salvar estes
negros à minha volta. Deixei todas as coisas que queria por causa das
suas vidas”.
“Erlo”, respondeu-me, “Eu não perguntei
se deste a tua vida por eles. Só estou perguntando se os amas como amas
a ti mesmo e com aquele amor que as Escrituras dizem. Tu realmente amas
o teu próximo como a ti mesmo com esse amor?”
Em 1 Cor.13:3 lemos o seguinte: “E ainda
que eu distribua todos os meus bens entre os pobres e ainda que entregue
o meu próprio corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada disso me
aproveitará”.
“Senhor”, tive de admitir, “se for
realmente sincero, tenho de reconhecer que não amo o meu próximo do
jeito que me amo a mim mesmo. Quando eu preciso passar a noite em algum
lugar e tenho uma cama e o que comer, reconheço que não penso muito na
possibilidade dos outros não terem tudo que tenho. Desde que eu tenha o
que preciso, estou satisfeito. Se o meu próximo consegue o que precisa
ou não, não tem muita importância para mim. É verdade, Senhor, não amo o
meu próximo como a mim mesmo”.
Jesus persistia com a sua pressão sobre
mim e não cedia de maneira nenhuma. Continuou, dizendo:
“Portanto, tudo o que vós quereis que os
homens vos façam, fazei-lho também vós, porque esta é a lei e os
profetas”, Mat.7:12. “Tu fazes isso, Erlo?”
“Senhor”, suspirei, “nunca pensei nessas
coisas dessa maneira. Eu não faço isso. Quando chego a algum lugar,
recebo sempre do melhor por ser o pregador. Todas as pessoas são sempre
simpáticas comigo e, quando não são, fico indisposto e zangado com elas.
Por vezes, até lhes digo como se estão comportando mal comigo”.
“Erlo”, continuou, “Os primeiros serão
os últimos e os últimos serão os primeiros, os maiores serão menores e
os menores serão os maiores. Eu mesmo coloquei esse exemplo diante de
vós, para o seguirem na perfeição. Eu não lavei os vossos pés? Não me
tornei no menor e no mais insignificante de todos, um servo para
qualquer um?”
“Ah Senhor”, clamei em agonia e
quebrantado, “não é isso que se passa comigo. Eu não faço isso! Os
outros lavam os meus pés, mas, eu não lavo os pés de ninguém. Eu não sou
o menor de todos aqui!”
Como era fácil, para mim naquele tempo,
falar e pregar sobre estes assuntos! Mas, quando é Deus a colocar os
fatos diante dos nossos olhos de forma tão clara, as coisas parecem,
realmente, muito diferentes!
“Que tipo de relacionamento tens com
estas pessoas à tua volta! Como te relacionas com cada uma delas?”
Se um humano nos faz uma pergunta
dessas, arranjamos sempre uma maneira de dar respostas dúbias ou de nos
esquivarmos à resposta. Mas, isso não tem como acontecer quando é com o
Deus vivo que estamos lidando e quando é Ele quem nos faz as perguntas.
“Senhor! Isso não! Não podes pedir tal
coisa de mim! Por favor Senhor, isso não!” Supliquei ao Senhor.
Era algo que eu não conseguiria fazer.
Quando ia a algum lugar, aparecia sempre alguém oferecendo-se para levar
a minha mala. Significaria isso que, sempre que um negro vem vindo com
uma mala na sua mão, eu devo oferecer-me para carregar-lhe a mala?
Preciso mesmo ser o mais insignificante?
“Não posso, Senhor! Eu, um servo de
todos e de qualquer pessoa? Isso não pode ser assim! As pessoas daqui
são diferentes! Eles vão abusar e rir de mim, com certeza! Eles vão
aproveitar-se de mim! Não creio que seja capaz de fazer isso dessa
maneira, Senhor. De maneira nenhuma!”
“Não ouviste dizer, Erlo, que todo
aquele que quer salvar a sua própria vida perdê-la-á e todo aquele que
perdê-la, ganhá-la-á? E que todo aquele que perder a sua vida por minha
causa e por causa daquilo que quero, ganhará a vida eterna? Erlo, tu
entregas a tua vida assim a essa morte?”
“Oh, Senhor, existe alguma coisa mais
difícil que morrer? Morrer, eu? Abandonar tudo, tirar tudo de mim eu até
consigo, mas, pedir que morra é outra coisa. Preciso mesmo morrer?”
Uma vez mais, ouvi aquela voz especial
de Deus: “Se não estás disposto a tornar-te um servo de todos e de
qualquer um, se teu coração não tem nele a disposição de ser sempre o
menor de todos, todas as tuas orações são em vão. Por isso, pára de
pedir-Me avivamento, pois, nunca ouvirei essa oração. Eu não descerei”.
Fiquei entre a espada e a parede, estava
preso numa esquina sem saída. Dia e noite havia uma enorme luta dentro
do meu coração. A luta dentro de mim era tão intensa que, quando
despertava de noite, a minha cama estava toda molhada de tanta
transpiração! Eu não estava doente ou com febre! Era tudo por causa
daquilo que se passava dentro de mim! A luta era feroz e Deus não cedia
de maneira nenhuma! Eu creio, firmemente, que, por vezes, é mais fácil
para qualquer um de nós estarmos sem Deus que na Sua presença, quando
ela é mesmo real. Numa dessas ocasiões de luta feroz, Deus dirigiu-me à
Sua Palavra:
“Erlo, quando fazes uma coisa a favor ou
contra o menor de todos, fazes a Mim. Por isso, quando fores julgado, um
dia, irei colocar o menor diante de Ti e tudo que lhe houveres feito ou
não é que te irá julgar, pois, foi isso que fizeste a Mim”.
Fiquei estupefado! Não dava para crer
naquilo que ouvi!
“O que é isso que Me estás dizendo,
Senhor? Como é isso Senhor?”
Sabem, amigos, quando é realmente o
Senhor quem fala connosco, usa as palavras que conhecemos há muito tempo
de trás para a frente e apercebemo-nos que as havíamos entendido de
outra maneira. Só assim entendemos o verdadeiro significado de todas as
Suas palavras. Então, perguntei-me qual era a pessoa mais insignificante
aos meus olhos. Pergunte isso a si mesmo! Qual é a pessoa mais
insignificante aos seus próprios olhos? Se você deseja, realmente, medir
a sua espiritualidade e a sua proximidade a Jesus, se precisa medir a
profundidade de seu amor por Deus, se quer mesmo saber qual a medida
correta, então, procure saber qual a pessoa mais insignificante aos seus
olhos. Podemos ter a certeza que o verdadeiro relacionamento que temos
com Deus nunca será maior que o relacionamento que temos com essa
pessoa. Também não temos maior amor por Jesus que temos por um irmão ou
irmã que é insignificante aos nossos olhos. Essa é a única maneira de
medir de forma correta o amor que realmente temos por Deus. É
equivalente ao que temos pelo menor de todos aos nossos olhos. É essa a
verdade por toda a eternidade. Tudo o mais que disserem ou tentarem
explicar sobre este assunto não passam de mentiras e de esquemas
enganadores. É hipocrisia, é fingimento. A Verdade é esta: “O Rei, lhes
dirá: Em verdade vos digo que quando o fizestes a um destes Meus
pequeninos irmãos, a Mim o fizestes”, Mat.25:40.
Pois é, irmãos, quando vemos estas
coisas como elas realmente são, quando as vemos sob a luz de Deus, somos
atingidos por um tipo de temor que não conseguimos explicar ou
descrever. Tudo pára à nossa volta. Mas, isso não deixa de ser bom,
pois, tudo que se encontra em nosso coração sai para fora, para a
visibilidade. E, também, foi assim comigo, pois, tive de reconhecer
diante de Deus que, em minha vida, as coisas não andavam muito bem. Não
estavam da maneira que deviam estar. Eu não pensaria se havia alguma
criança que precisava de alguma manta ou coberta desde que eu estive
debaixo da minha própria. Não perguntaria se alguma criança estava
quentinha e aconchegada. Se eu não tivesse de partilhar o meu quarto com
alguém que roncasse, para mim estaria tudo bem. Que seja outro a
partilhar o quarto com uma pessoa que ressona! Mas, chegará o dia quando
Deus nos dirá: “Sabias que era Eu quem iria estar no quarto contigo e
era Eu quem roncava?” E que poderemos responder? “Oh Senhor, se eu
soubesse que eras Tu! Se alguém me tivesse dito que eras Tu, eu Te daria
meu quarto todo ou ficaria lá Contigo!”
É dessa maneira calada que Deus nos
coloca à prova. Deus faz a maioria das coisas naqueles momentos e
daquelas maneiras que menos esperamos. Nós encontramos o nosso coração e
a maneira como tratamos o Senhor ao lado de uma pessoa acamada que fede,
ao lado de um deficiente, ao lado de um cego ou ao lado de uma pessoa
muito pobre. É nesses momentos que podemos medir o nosso amor por Jesus
também. Se não estamos dispostos a levar essas coisas a sério já, neste
momento, olhando esse touro de frente, então iremos encará-lo de frente
um dia no Juízo Final.
Houve um dia, por essa ocasião, que eu
estava em pé debaixo de uma árvore. Uns negros passavam e iam
conversando e ouvi um comentário que faziam sobre mim:
“Olha aquele branco ali”, apontando para
mim. “Deve ser um bêbado. Mas, parece que não é dos piores”.
Não sei o que eu estava parecendo para
eles, ou em que estado me encontrava. Mas, uma coisa é certa: Deus havia
transformado uma pessoa orgulhosa e segura de si em alguém que era
desprezado por aqueles que eram considerados os menores. Antes, eu
olhava de cima para baixo sobre eles. Mas, agora era a vez deles. Foi
isso que aconteceu comigo quando Deus começou a trabalhar em minha vida.
Os dias foram passando, mas, Deus não parava. Era persistente e
perseguia todo o Seu intento sem dó. Ele revelava todas as minhas ações
à luz d’Ele, mostrava como Ele as via. Ele dizia mais ou menos assim:
“Erlo, quando falaste com essa criança,
falaste como Eu o faria? A maneira como falaste com ela é mesmo a
maneira que Eu próprio o faria? Por que não me respondes, Erlo, que se
passa contigo? Responde-Me!”
As coisas tornaram-se demais para mim.
Já estava no meu limite. Não aguentava mais.
“Senhor, não aguento mais! Estou no meu
limite!”
Logo de seguida chegava a resposta:
“Erlo, não estás pedindo por avivamento?
Só te quero dizer que avivamento é isso: é amares teu próximo e
tratá-los como a ti mesmo. Isso é o avivamento. Então, pára de
pedir avivamento. Eu não descerei de outra maneira. Tu pedes que eu
desça, Eu começo a operar e a fazer aquilo que virei fazer em vosso meio
e tu dizes que não aguentas mais? Sabes que, se Eu descer, vai ser para
Eu ser Deus e Senhor em vosso meio? Queres que venha fazer o que tu
queres? Assim, não descerei”.
Já percebem por que razão muitas pessoas
pedem avivamento e não recebem. Por essa razão, muitos chegam ao fim das
suas vidas sem nunca haverem experimentado avivamento. Sabem por que
razão? Por as suas orações hipócritas e fingidas não passam disso mesmo.
Não passa de teatro e Deus não participa em peças de teatro. Ele não
tolera coisas fingidas. Ele não quer nada com hipócritas. Eu creio de
todo o meu coração que, se a nossas vidas e a nossa fé estiverem,
realmente, de acordo com as Escrituras, não precisaremos orar por
avivamento: ele aparecerá sem mais nem menos. O avivamento será uma
consequência natural de vidas dessas e duma fé que está de acordo com
aquilo que as Escrituras dizem. Não será necessário oramos e suplicarmos
por rios de água viva, porque os rios de água viva fluirão naturalmente.
Essa é a minha opinião pessoal. Assim que a nossa fé estiver de acordo
com o que as Escrituras dizem, esses rios aparecerão. Se temos de orar,
que oremos para Deus colocar-nos de acordo com as Escrituras e que
aquilo em que cremos e somos se torne uma cópia fiel das Escrituras. E o
Senhor continuou operando em minha vida até que eu, finalmente, cedi.
Clamei e disse:
“Ó Senhor, opera e faz conforme queres.
Não olhes para as minhas queixas e continua fazendo tudo que desejas em
mim. Ainda que isso signifique a minha própria morte, não deixes de
operar conforme Teu desejo. Eu quero ter essa disposição. Quero ser “um
povo disposto para o Senhor”, Luc.1:17. E se ainda assim não estiver de
acordo, faz na mesma a Tua vontade comigo até eu ter essa disposição”.
Ainda me lembrei de uma outra coisa que
hoje me faz sentir uma enorme vergonha. Eu pedia ao Senhor:
“Senhor, dá-nos um avivamento, mas, que
seja uma coisa que esteja de acordo com as nossas maneiras de agir e que
siga a ordem à qual estamos habituados. Que haja ordem e que não
apareçam coisas estranhas para nós”
Naquele tempo, nós tínhamos as nossas
próprias heresias, maneiras e comportamentos hipócritas. O Senhor
respondeu-me assim:
“Erlo, Tu realmente tens noção de quem
Eu sou? Queres tu ser o meu deus? Queres ser o Mestre e que eu seja o
discípulo? Será que tens autoridade para prescrever a maneira como devo
ou não devo agir em vosso meio? Sempre que o Meu Espírito opera e quando
Ele começar a operar aqui, Ele fará aquilo que Me apraz, tudo aquilo que
Eu desejo. Eu não irei operar de acordo com teus desejos e de
acordo com tuas ideias. Se não queres humilhar-te e abandonar as tuas
próprias ideias e doutrinas, Eu simplesmente não descerei. Os teus
pensamentos não são iguais aos Meus, os Meus pensamentos não são os teus
e os teus caminhos não são os Meus.”
Aquelas palavras penetraram fundo em mim
e levei-as muito a sério. O meu coração quebrantou-se novamente. É
natural que, hoje, é fácil entender que somente aquilo que Deus faz tem
como manter-se. Agora sei que isso é uma verdade. Todo o resto nunca
deixará de ser imaginações de pessoas e pensamentos que nunca geram
fruto duradouro. A outra verdade é que só existe verdadeira ordem onde
Deus realmente opera. Onde Deus não está, não existe ordem verdadeira.
As coisas até podem decorrer calmamente onde Deus não reina e as pessoas
podem estar muito caladas, mas, os pensamentos podem estar desordenados
e levar a pessoa para aqui e ali. Isso é, também, desordem. Verdadeira
ordem só pode existir onde Deus realmente reina e quando pode ter firme
sobre nós a Sua mão. Mas, não deixa de ser verdade que onde Deus opera,
Ele faz tudo da maneira que quer. Nós não podemos estar a dar indicações
a Deus de como deve operar ou agir no nosso meio. Deus é o Senhor e
somente as Suas obras permanecem para sempre. Ele tem o direito que Lhe
pertence, pois, é Deus do Céu e da Terra. Quando é, realmente, Deus quem
opera, as coisas acontecem da maneira que Ele quer. Ele não é o servo,
não é nosso discípulo ou o escravo. Ele não pode fazer parte da nossa
vida como se fosse o nosso cachorrinho que chamamos e mandamos para onde
queremos. Ele é Deus. É o Deus vivo e o Senhor dos senhores. Estaremos
orando em vão se não estivermos providenciando espaço para Ele operar da
maneira que quer e como quiser. Foi assim que Deus me trouxe ao ponto
onde havia de aceitar toda a Sua autoridade sobre tudo e onde eu me
submetesse ao Deus vivo, aceitando ser d’Ele o reino sobre mim e não
meu.
Durante o tempo que Deus estava ocupado
comigo, trazendo todo o tipo de pecados para a luz, não suspeitava,
sequer, que Deus também estava ocupado com o resto da congregação. Deus
estava operando ao mesmo nível com todos. O Seu Espírito começara a
trabalhar. Mostrou os pecados de todos, humilhou a todos. Um ia pedir
perdão ao outro por haver sido antipático; outro, ainda, confessava a
uma criança que a havia tratado mal e implorava o perdão à criança;
outro que não havia castigado o filho da maneira que devia. Os filhos
reconciliavam-se com os pais e os pais com os filhos. Um dizia: “Por
favor, perdoa-me por haver falado desta maneira e castigado gritando”.
Outro: “Perdoa-me, o meu coração estava amargurado contra ti”. Outro:
“Perdoa-me por te ter julgado e falado de ti com os outros em vez de te
buscar para esclarecer tudo”.
Daquela maneira, as pessoas começaram a
acertar as suas vidas - entre elas e Deus e entre elas mesmas pedindo
perdão e chamando o pecado pelo nome. Um irmão escreveu-me uma carta
onde pedia perdão por haver contado mentiras sobre mim a outros e que
não deveria ter feito, ainda mais sendo eu servo de Deus, dizia ele.
Mas, eu não tinha mais o direito de julgar fosse quem fosse por aquilo
que me fizeram, pois, eu próprio era o maior dos pecadores. Eu só sabia
orar: “Senhor, perdoa os meus pecados. Sou um enorme pecador. Jesus
salva-nos ou então morreremos para sempre!”
O Senhor nunca parou de trabalhar em
todos os corações até haver conseguido exterminar tudo que era impureza.
Ele purificou-nos de alto a baixo. Limpou a eira completamente de tudo
aquilo que entristecia o Seu Espírito e tudo aquilo que fazia com que
não ouvisse nenhuma das nossas orações. Quando eliminou por completo
todas as coisas sujas em nós e retirou de nós todas as obras do diabo e
as obras que se fazem às escondidas nas trevas, finalmente, o caminho do
Senhor havia sido preparado para que pudesse trabalhar sem impedimentos
ou limitações. Os Céus romperam-se subitamente num dia que não
esperávamos e o Espírito Santo desceu sobre nós como havia acontecido no
tempo dos Apóstolos.
Em 1 Pedro 4:17 lemos, claramente, que o
Juízo de Deus começa pela casa de Deus. E, também, é ali que Deus começa
a trabalhar através do Seu Espírito. A obra do Espírito Santo começa
sempre na casa de Deus e entre o Seu povo. Nem podia ser de outra
maneira. Deus, quando começa a trabalhar, não começa com os pecados dos
outros, não começa com os pecados dos nossos filhos, ou dos nossos pais,
mas, começa sempre nos nossos próprios pecados. Senhora, Deus não começa
a trabalhar no seu marido e antes em si. Precisa varrer do mapa os seus
próprios pecados. É esse o evangelho, são essas as boas novas do
Evangelho de Jesus. E você, meu honrado senhor, deve esquecer todos os
pecados de sua querida esposa e começar pelos seus. O verdadeiro
avivamento de Deus só pode começar por nós e nunca pelos outros. Não
precisamos ficar à espera que seja o nosso próximo a resolver-se. Não é
preciso. Basta lidarmos com os nossos pecados e, principalmente, com os
prediletos. Devemos parar com os nossos próprios pecados e estancá-los
para sempre – eliminar e exterminar tudo aquilo que possa entristecer o
Espírito Santo e possa fechar os Seus ouvidos santos para as nossas
orações. Os pecados dos outros, o mal dos nossos amigos, não têm
capacidade de extinguir o fogo do Espírito Santo em nossos corações – de
maneira nenhuma!
A Palavra de Deus diz, por alguma razão,
para nunca entristecermos o Espírito Santo. Sempre que não haja
avivamento em nós ou entre nós, não podemos culpar ninguém desse fato.
Somos supra-responsáveis por essa situação. Somente nós somos
responsáveis pela ausência de avivamento e do Espírito Santo. Se Deus
não opera no nosso meio, de quem mais será a culpa senão nossa? Não
coloquem as culpas no mundo ou na sua força, não se desculpem atribuindo
as culpas à imoralidade ao redor. Antes, coloquem a culpa no hipócrita
que se diz crente e não experimenta o poder de Deus em sua própria vida
e igreja. O Juízo começa sempre na casa de Deus e, antes de qualquer
avivamento, somos julgados pela Palavra de Jesus. Esta é a verdade. E se
a verdade é uma boa nova para si ou se é uma má notícia, não deixa de
ser o medicamento apropriado para o seu problema, seja ele qual for.
Queixe-se de si mesmo se não vê o Espírito Santo de Deus a mover-se como
em tempos antigos. Você também se queixa da ausência do Espírito Santo
da mesma maneira que eu fazia? É uma dessas pessoas?
DAS TREVAS PARA A LUZ
Em João 16:7-8 o Senhor Jesus disse
assim: “Todavia digo-vos a verdade, que vos convém que eu vá; porque, se
eu não for, o Consolador não virá a vós; mas, quando eu for, vo-lo
enviarei. E, quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e
do juízo”.
A palavra “Consolador” no grego original
é “parakletos”. Isso significa mais ou menos “aquele que está do teu
lado, ombro a ombro, apoiando”. Os Céus rasgaram-se e Ele veio habitar
no meio do Seu povo. Ele falava com o povo em uma linguagem que todos
entendiam. Naquele dia, todos entendiam muito bem o significado da
Palavra de Deus e tudo quanto o Espírito Santo lhes dizia era claro.
Mas, nem mesmo assim se convertiam todos quantos ouviam. Alguns eram
avessos e até gozavam dizendo que os que foram cheios do Espírito
estavam bêbados. E esses que gozavam com os discípulos também ouviam o
evangelho em seu próprio idioma. Assumimos que o Espírito Santo fala uma
linguagem que todos entendem – até mesmo os que rejeitavam. Quando o
Espírito Santo começa a operar, tudo perde seu valor: a cor da pele, a
nacionalidade, a religião, o idioma e qualquer outra coisa que seja
importante para o ser humano. O Espírito Santo é capaz de tocar em
qualquer tipo de coração. Ele conhece os idiomas do mundo inteiro. Ele
fala a médicos e professores, para izangomas e izinyanga,
para analfabetos, para ímpios e para teólogos, para alunos quanto para
professores. Só podemos ficar maravilhados com o modo como Ele fala aos
corações dos homens de qualquer nação em qualquer parte do mundo.
Logo após o Espírito Santo haver descido
sobre nós, Deus começou a manifestar-se ao povo da nossa região e
arredores. Cada dia trazia mais e mais pessoas ao conhecimento do
Evangelho e começou a penetrar fundo nas barreiras de Satanás que ali
existiam. Não tocávamos sinos para chamar as populações para os cultos;
não enviávamos convites; não fizemos nenhuma publicidade; não
organizamos nenhum evento ou coisa do gênero. Aquele mesmo Espírito que
reuniu todas aquelas pessoas no dia de Pentecostes, Ele mesmo começou a
trazer o povo até nós e a reunir as pessoas. Começou a operar. Agora,
aquele problema em minha cabeça sobre o que acontecia com João Baptista
estava explicado. Ele, João, estava cheio do Espírito desde o ventre de
sua mãe. Foi esse mesmo Espírito que começou a operar em nosso meio de
forma poderosa.
A primeira pessoa a vir até nós foi uma
isangoma (feiticeira). Ela tinha uma escola para isangomas.
Andou cerca de 7 km a pé. Eu não a conhecia e não sabia quem era ela.
Perguntei-lhe o que desejava.
“Desejo que o senhor ore por mim”,
respondeu. “Desejo muito conhecer Jesus. Já estou farta desta vida que
levo. Estou presa e acorrentada a Satanás e aos poderes do inferno!”
“O que me está dizendo?” Perguntei sem
entender muito bem.
Quase não dava para acreditar! Eu não
entendia. Durante doze anos de ministério sempre tentei converter
feiticeiros e bruxas, mas, nunca havia obtido qualquer sucesso. Eu
passava semanas e semanas pregando o evangelho nas suas zonas e nunca
uma pessoa daquelas se havia convertido. E eis aqui, agora, uma
feiticeira explicando para mim o que ela precisava fazer. Ela pedia para
a libertarmos daquelas correntes do inferno que a prendiam. Eu não
entendia.
“Quem falou com a senhora?”
“Ninguém”.
“Quem é que lhe falou sobre Jesus,
então?”
“Ninguém!”
“A senhora esteve em algum culto ou
pregação recentemente?”
“Não, eu nunca frequentei qualquer culto
em toda a minha vida”.
“Então, quem é que enviou a senhora
aqui?”
“Ninguém!”
“Mas, eu não entendo”. Os meus olhos
deveriam estar muito arregalados de surpresa. “Quem enviou a senhora até
nós? Quem lhe contou que estávamos aqui?”
A Feiticeira interrompeu-me subitamente.
Eram perguntas a mais e sem nexo para uma pessoa aflita.
“Por favor, pode parar de fazer tantas
perguntas? Estou a caminho do inferno, estou a um passo de ser condenada
para sempre. Se Jesus não me salvar agora e se Ele não me libertar das
garras de Satanás, tenho a certeza que irei cair dentro do inferno.
Serei amaldiçoada para sempre e nunca mais terei oportunidade de me
acertar com Jesus. A minha única esperança é que Jesus ainda me consiga
salvar!”
Fiquei ainda uns momentos sem qualquer
reação a olhar para aquele ‘fenômeno’, pensando no que deveria fazer.
Nunca havia lidado com um caso daqueles. Chamei alguns cooperadores e
expliquei-lhes o que se passava. Depois, perguntei à feiticeira se ela
estava disposta a confessar todos os seus pecados e de entregar-se
completamente a Jesus. Em Prov.28:13 lemos: “Aquele que encobre as suas
transgressões, não prosperará. Mas, aquele que as confessa e deixa,
alcançará misericórdia”. Se alguém estiver confessando qualquer pecado
sem a clara intenção irrevogável de nunca mais torná-lo a cometer, a
confissão será sempre vã. Tais confissões não passam de palavras
fingidas e discursos hipócritas. Somente os que confessam e abandonam os
seus pecados para sempre, alcançam misericórdia. Por isso, perguntei:
“A senhora está disposta a confessar
todas as feitiçarias como pecado e a abandonar tais práticas para
sempre?”
Ela estava disposta. Mal terminei a
pergunta, ela começou a confessar todos os seus pecados e nem perdeu
tempo. Só depois de ela estar confessando é que eu comecei a
perguntar-me de que forma deveríamos orar por ela. Ela estava possessa
de demônios. Lembrei que antes eu já havia tentado expulsar demônios de
pessoas usando o Nome de Jesus e invocando Seu sangue de perdão sobre a
pessoa. Mas, sempre que o fiz, os demônios riam na minha cara e
blasfemavam o Nome de Jesus. Para eles, era pura brincadeira se os
mandasse sair ou tentasse expulsar. Não lhes acontecia nada. “E agora,
como devo orar por esta mulher?” Perguntei-me.
Fomos para o meu quarto e colocamos
várias cadeiras em forma de círculo. Começamos a cantar um hino de
Páscoa que falava sobre a ressurreição de Jesus. Cantamos sobre como
Jesus venceu a morte, o pecado e todos os poderes do inferno. Cantamos
sobre como o Seu sangue precioso lava de todo pecado. Quando cantávamos
o hino pela segunda vez, a feiticeira levantou-se da sua cadeira
subitamente. Os olhos de ódio dela eram como os olhos de um tigre feroz.
Parecia um animal feroz querendo atirar-se para cima da sua presa. Um
dos cooperadores pôs-se a fugir de medo, correndo para fora. Tivemos de
chamá-lo de volta e precisamos assegurar-lhe carinhosamente que não
precisava temer as forças do inferno porque o Senhor Jesus havia vencido
tudo por nós. Asseguramos-lhe que Jesus era a nossa vitória. Parecia que
o próprio Satanás olhava para nós através dos olhos daquela pobre
mulher. Era algo muito repugnante e chocante de ver. Logo de seguida,
aquela mulher que nunca vira um branco em toda a sua vida, começou a
falar num inglês perfeito. Depois, latiu como um cachorro. O latir não
era coisa fingida – era coisa real. Era tão real que um cachorro da rua
atirou-se à janela pelo lado de fora querendo briga. Depois disso,
ouvimos muitos porcos a guinchar dentro dela. Clamamos ao Senhor Jesus e
expulsamos os demônios em Nome de Jesus. Os demônios responderam gozando
conosco:
“Somos trezentos guerreiros e possuímos
esta mulher. Ela pertence-nos desde sempre. Não sairemos daqui de dentro
dela. Ela pertence-nos”.
Persistimos com a ordem e persistimos
orando e, de repente, os demônios começaram a gritar em pânico:
“Agora está muito quente para nós aqui!
O fogo de Deus está-nos queimando! Temos de ir, senão ficamos
esturricados!”
Depois daquelas palavras, saíram cem
demônios dela e depois mais cem. Os últimos cem atacaram o corpo da
senhora e saíram dela com gritos estridentes. Mas, antes de haverem
saído, disseram uma coisa invulgar, algo que, para nós, era de extrema
importância:
“Já sabíamos da existência de Deus Pai e
de Deus Filho, mas, nunca nos havíamos cruzado com Deus o Espírito
Santo. Agora que Ele chegou, estamos aqui sendo derretidos como
asfalto!”
Aquilo fez-me pensar muito nas palavras
em Zacarias 4:6: “Não por força nem por violência, mas, pelo Meu
Espírito, diz o Senhor dos Exércitos”. Antes, eu não conseguia entender
muito bem o verdadeiro significado das palavras em Efésios 6:12: “Porque
não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, contra os
principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste
século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares
celestiais”. Antigamente, eu somente me perguntava de que maneira
teríamos de lutar contra essas forças. Era um mistério para mim. Mas, de
repente ficou tudo claro. Não pode ser a carne a lutar contra aquelas
forças do mal e das trevas, mas, o Espírito de Deus. Jesus também havia
falado muito sobre o fogo do Espírito Santo. A Bíblia também fala de
Deus como um fogo consumidor. O verdadeiro significado daquelas palavras
só ali se tornou claro para mim. Entendi pela primeira vez da maneira
que se deve entender. Aqueles acontecimentos foram tornando as coisas
mais claras para todos nós.
Depois de todos os demônios haverem
abandonado aquela senhora, o rosto dela mudou completamente. Pode
imaginar um rosto de uma bruxa sofrida, cheia de rugas e de pesar? Bem,
assim que ela se viu liberta, ela parecia mais com alguém que esteve
toda a sua vida toda aos pés do Senhor Jesus. Parecia uma pessoa que
havia sido santificada durante anos pela presença do Senhor. O seu rosto
brilhava de alegria, parecia que o céu brilhava através do seu
semblante. Com um sorriso celestial e seguro, ela ia dizendo:
“Como é maravilhoso! Jesus libertou-me
do mal! Ele comprou-me com Seu sangue. Comprou a minha liberdade. Ele
quebrou as correntes que me prendiam!”
Nunca mais irei esquecer aquela imagem!
Quando vivemos uma coisa daquelas, só podemos dobrar os nossos joelhos
em profunda humildade e estar agradecidos. Como o nosso Salvador é
maravilhoso e vitorioso!
Depois daquela feiticeira, chegou uma
outra pessoa e mais outra. No inicio, só chegavam feiticeiros e pessoas
ligadas ao ocultismo e à feitiçaria. Deus começou com o epicentro de
Satanás. Com o passar do tempo, também iam chegando todos aqueles que
estavam possessos de espíritos malignos, uma pessoa atrás da outra.
Alguns demônios contavam quantos demônios havia na região e falavam de
centenas e de milhares deles. Alguns deles diziam que não saiam sem
antes verem sangue. Por isso, muitas das pessoas possessas que apareciam
chegavam a vomitar sangue antes de serem completamente libertas.
Naqueles dias, perguntávamos sempre às pessoas quem os havia trazido ali
ou quem os havia enviado. A resposta era sempre a mesma: “Ninguém!”
Nenhuma das pessoas que chegavam havia
estado em algum culto ou sob alguma pregação de alguém. Todos, sem
exceção, experimentavam que era o Espírito Santo quem os trazia até nós
de forma inexplicável. Acontecia a mesma coisa que aconteceu no dia de
Pentecostes com os discípulos. As pessoas diziam-nos:
“Não temos paz em nosso coração. Algo
dentro de nós empurra-nos até aqui. Nunca em toda a nossa vida estivemos
tão conscientes de todos os nossos pecados como agora. Sentimos em nosso
coração que devíamos vir para aqui salvar-nos!”
Outros, por sua vez, diziam que ouviram
uma voz dizendo:
“Ide àquele lugar assim e assim e lá vos
será dito tudo que devem fazer”.
Também havia pessoas que haviam visto
algum ser ou rosto o qual lhes indicava o caminho para onde deviam ir.
Algumas pessoas apareciam com tornozelos inchados e com ferimentos nos
pés de tanto caminharem. Chegavam a andar durante semanas inteiras até
chegarem onde estávamos. Alguns andavam noite e dia sem parar. Eu nunca
pensei que fosse possível alguém sobreviver sem dormir. Contudo, nós
trabalhávamos noite e dia e nunca nos sentíamos cansados. Vivíamos
através do verdadeiro poder de Deus. Não tínhamos tempo para comer. O
Senhor levava-nos como que sobre asas de águia. Não importava a que
horas saíamos de casa, a qualquer hora ou dia havia sempre pessoas
esperando e pedindo ajuda. Por vezes, cem, duzentas e, muitas vezes,
trezentas pessoas de uma só vez, todas profundamente convictas de
pecado. Havia homens duros e sanguinários que vinham humilhar-se diante
do seu Criador. Antes não queriam nada com o Cristianismo e ei-los ali
suplicando por salvação. Choravam amargamente como crianças que haviam
apanhado uma grande surra. Estavam de rastos, espiritualmente falando.
Imploravam por misericórdia. Deus havia-lhes revelado todos os seus
pecados e o Seu Juízo sobre eles manifestava-se juntamente com toda a
Sua justiça.
“Por que razão não vão trabalhar e
voltam mais tarde para serem atendidos?” Perguntávamos.
“Não podemos!” Diziam. “Não conseguimos
dormir, não temos sossego”.
“Que aconteceu?”
“Somos grandes pecadores. Será que Deus
ainda nos pode perdoar?” As pessoas que nunca haviam chorado, rompiam em
lágrimas cheias de aflição e lamentavam todos os seus muitos pecados.
“Será que ainda existe esperança para nós?”
“Claro que sim!” Respondíamos.
“Ah, só dizem isso porque não sabem como
havemos pecado e como os nossos pecados são grandes!”
Pegávamos na Bíblia e líamos para eles
em lugares como Is.1:18: “Ainda que os vossos pecados sejam como a
escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam
vermelhos como o carmesim, se tornarão como a branca lã”. Alguns
abanavam as suas cabeças, perplexos e admirados com aquele perdão tão
grande. Tinham uma convicção de pecado tão profunda que não conseguiam
imaginar o tamanho do presente que Deus lhes estava dando em troca. O
próprio Espírito Santo convencia as pessoas de pecado de tal maneira que
alguns entravam em desespero total, pensando que já não havia esperança
para eles. Era como se estivessem perante o Dia do Juízo de Deus. Não
acreditavam ser possível o seu perdão. Era necessário insistir muito com
a Palavra de Deus até estarem plenamente convencidos ao ponto de
confessarem seus pecados um por um. Um dia, apareceu um pagão, um homem
enorme, o qual chorava de tal maneira que eu já não conseguia ouvir mais
o seu choro. Tive de deixar tudo que tinha para fazer e colocar de lado
todos que estava ajudando só para ir ajudar aquele homem. Perguntei-lhe:
“Amigo, pode dizer-me o que se passa
consigo?”
“Oh”, respondeu-me entre os soluços
fortes, “eu sou um grande pecador e só me falta um pouquinho até cair no
inferno. Em breve irei parar lá”.
Lemos em João 16:7 o seguinte:
“Todavia digo-vos a verdade, que vos convém que eu vá; porque, se eu não
for, o Consolador não virá a vós; mas, quando eu for, vo-lo enviarei”.
Podemos perguntar-nos a nós mesmos o que é isso de um CONSOLADOR que vem
até nós. Aquilo era tudo menos consolo. Mas, no versículo seguinte vemos
confirmado que a verdadeira obra desse Consolador seria, precisamente,
convencer o mundo de pecado, do juízo e da justiça de Deus. Por norma,
quando as pessoas apregoam as novas de um Consolador, falam de tudo
menos daquele tipo de desconsolo que nós presenciávamos ali diante de
nossos olhos. Muitos mesmo perguntariam debaixo de dúvidas que tipo de
consolo seria aquele. A verdade é que aquelas pessoas não aceitavam ser
consoladas. Se mencionássemos algum dos seus pecados, parecia que
ficavam ainda mais loucos e em maior agonia. Quando Deus envia o Seu
Consolador, a primeira coisa que faz é convencer as pessoas tanto do
pecado, como da gravidade das suas culpas e da realidade do Seu juízo. É
por essa razão que, aqui, nós não entendemos como é que é possível
alguém afirmar que tem o Espírito Santo quando ainda guarda algum pecado
em sua vida. Como conseguem andar com pecado em suas vidas se dizem ter
o Espírito Santo? A primeira coisa que o Espírito de Deus faz é
convencer a pessoa do pecado e do juízo. E esse juízo acontece ali
mesmo, ao vivo diante dos nossos olhos.
É precisamente isso que experimentamos
quando o Espírito de Deus realmente desce sobre um lugar. Sentimos como
se o dia do Juízo tivesse chegado. As pessoas ficavam sem dormir,
aflitas, ficavam sem vontade de comer e sem beber e não encontravam
descanso em lugar nenhum e de nenhuma maneira. Essa situação dura até
que cada um que chegue à Cruz de Cristo e a experimente de forma
igualmente real. Nenhuma daquelas pessoas se contenta com uma oração de
entrega do seu coração a Jesus. Nenhum achava a sua paz confessando seus
pecados sozinho e silenciosamente. Os pecados eram trazidos para a luz e
para o conhecimento de quem ouvia. As pessoas mencionavam todos os seus
pecados um por um de forma bem audível e clara e só depois disso
experimentavam o perdão do qual falavam logo de seguida. Descreviam os
detalhes dos mesmos e não apenas os títulos - não sentiam paz até
haverem confessado todos daquela maneira. Muitas vezes, orávamos por uma
multidão de até quinhentas pessoas para que fossem perdoadas de seus
pecados. Mas, depois, quando estávamos querendo ir para casa, as pessoas
não saiam dali e continuavam sentados clamando e chorando sem haver
achado perdão. Cada pessoa tinha um desejo enorme de ser atendida de
forma individual e pessoal, confessando todos os seus pecados juntamente
com um missionário ou cooperador, nomeando cada pecado pelo seu nome. Se
não fizessem assim, não sentiam paz e nem sossego e não experimentavam
qualquer perdão. Não eram libertos de seus pecados e nem das suas
correntes do mal. Uma oração geral ou qualquer tipo de oração de entrega
de vida era simplesmente incapaz e ineficaz. Era coisa banal e sem
qualquer proveito. Lemos em Efésios 5:13 o seguinte: “Mas todas estas
coisas se manifestam, sendo condenadas pela luz, porque a luz tudo
manifesta”. Também lemos em 1 João 1:7: “Mas, se andarmos na luz, como
ele na luz está, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus
Cristo, seu Filho, nos purifica de todo o pecado”. Aqui fica claro para
todos nós que o sangue de Jesus só limpa se nós colocarmos toda a nossa
vida na luz, juntamente com tudo aquilo que fizemos. Precisa ficar tudo
claro e tudo tem de ficar visível na luz. O poder purificador do nosso
Salvador nunca se poderá manifestar enquanto algum pecado se encontra,
ainda, encoberto ou escondido da vista de alguém. Não podemos viver nas
trevas, escondendo no escuro onde ninguém vê. Devemos colocar tudo na
luz e andar, dali em diante, na luz de Deus do modo que Ele mesmo está
na luz.
Quero aproveitar para acrescentar que,
quando olhamos para certo tipo de pecados através de olhos humanos, a
maioria deles parecem banais e inofensivos. Mas, quando o pecado é
revelado aos nossos olhos por Deus, qualquer pecado por pequeno que seja
torna-se grande, tão grande como uma montanha que não pode ser
ultrapassada. O Senhor Jesus usa como exemplo quando alguém olha para
uma mulher por causa do desejo. Jesus afirma que tal pessoa é um
adúltero. E quando uma pessoa não tem paciência com seu próximo ou diz
que seu próximo é louco, Deus classifica-o como assassino e reserva-lhe
o fogo do inferno como recompensa justa. Na verdade, é essa a medida
através da qual somos julgados à luz de Deus. A medida d’Aquele a quem
chamamos de Salvador é essa. É óbvio que a medida de qualquer crente
morno nunca será a mesma que a de Jesus, pois, o crente morno fecha os
olhos para a realidade da sua própria situação pecaminosa, afirmando que
não é coisa grave ou séria. Se experimentarmos a santidade e a
verdadeira presença de Deus, não pensaremos mais dessa maneira. Teremos
outra opinião sobre qualquer tipo de pecado. Se isso nunca acontecer
conosco aqui na terra, certamente que nunca impedirá que um dia
encaremos Deus e a Sua opinião. Contudo, será tarde demais, pois,
acontecerá no dia do Juízo quando já não houver nada a fazer. Podemos
ter a certeza que, um dia, experimentaremos a presença de Deus: ou aqui
ou no dia do Juízo Final. Se não passarmos pelo moinho purificador de
Deus aqui na terra antes de morrermos, iremos seguramente encarar a
realidade de outra maneira em algum tempo desta vida.
Quando visito a Europa, ouço com
frequência as pessoas comentarem: “É verdade, mas, essas coisas só
acontecem lá em África, entre os negros”. Esquecem que a Bíblia tanto é
branca como negra, para África, para a Europa, ou para qualquer outra
parte do mundo. Em África, a Bíblia não é diferente. A Palavra de Deus é
e será sempre a mesma em todos os lugares. Deus é verdadeiramente Luz e
todos aqueles que entram nessa Luz tornam-se luz também, igual à de
Jesus, com a mesma intensidade. Vemos como, muitas vezes, nos chegam
pessoas sob o jugo do pecado, ou tristes e pesados sofrendo debaixo do
jugo das trevas e do encobrimento do pecado e, assim que trazem todos os
seus pecados e iniquidades para a luz, os seus rostos e semblantes
transformam-se maravilhosamente. Experimentam de forma real como Jesus
realmente perdoa pecado e saem com um brilho em seus rostos difícil de
descrever. Refletem a luz e o perdão de Deus sem a necessidade de usar
palavras.
Foi dessa maneira que o fogo de Deus se
manifestou no nosso meio. O próprio Espírito Santo trazia as pessoas até
nós. E ele mesmo as guiava para fora das trevas e para a sua maravilhosa
Luz. Levaria muitas horas para descrever aqui tudo aquilo que acontece
entre nós. Mas, prefiro ser breve.
Uma jovem, um dia, vinha da escola a
caminho de casa e sentou-se debaixo de um limoeiro. De repente,
apareceu-lhe um quadro diante dos olhos no qual uma mão invisível
começou a escrever. Cada palavra escrita era um pecado que ela havia
cometido. Depois de haver lido a longa lista dos seus pecados, pegou num
pedaço de carvão que estava ali no chão e um pedaço de papel que
encontrou e começou a escrever o que lia. E cada pecado que escrevia no
papel era apagado do quadro. A moça ficou muito angustiada sentindo uma
enorme convicção de pecado. Sem qualquer descanso, ela andou vários
quilômetros até chegar a nós. “Estes são os meus pecados”, dizia ela
mostrando-nos o papel sujo onde escrevera e entregando-o a mim. “Deus
mostrou-me todos os meus pecados e toda a minha vida. Será que ainda
existe perdão para mim?” Ela converteu-se naquele mesmo dia.
Vivemos várias experiências do gênero
muitas vezes. Um jovem pagão que nunca havia aprendido a escrever ou a
ler, trabalhava no campo. Era uma tarde cheia de sol e não havia
qualquer nuvem no horizonte. De repente, tudo ficou escuro à sua volta.
No meio da escuridão, aquele jovem viu um quadro onde alguém escrevia. O
que ele entendeu foi que o que estava sendo escrito eram os seus pecados
e que tudo aquilo testemunhava contra a sua vida. Aquele jovem
analfabeto conseguia ler cada palavra. Depois de haver lido até à última
palavra, a escuridão desapareceu e tudo ficou claro novamente. Ficou tão
impressionado com aquilo que aconteceu que todo o seu corpo tremia com
temor. Não sabia o que fazer. De repente, lembrou-se que havia uma certa
mulher crente na vizinhança e desatou a correr para lá. Entrou pela
cabana dela e perguntou-lhe se ela sabia escrever. A senhora confirmou
que sim. Ele disse-lhe:
“Deus mostrou-me todos os meus pecados!
Eu não fazia ideia de que era um pecador tão grande! Nunca me havia
apercebido que Deus era tão santo assim! Eu não poderei comparecer
diante de Deus desta maneira! Eu irei dizer quais são os meus pecados e
a senhora pode escrevê-los para mim?”
Começou a ditá-los e a senhora
escrevia-os todos, um por um. Depois disso, o moço caminhou uns 20 a 30
km até chegar a nós. Chegou cansado e todo suado. Contou-nos tudo que se
havia passado com ele e entregou-me o papel escrito pela senhora crente.
Disse:
“Por favor, leia tudo. Estão aí as
coisas feias que cometi em toda a minha vida. Não deve existir pecador
maior que eu neste mundo. O que vai acontecer comigo agora? O senhor
pode ajudar-me? Será que Deus irá perdoar-me?”
Indicamos-lhe o caminho para Jesus e
precisamos assegurar-lhe sobre o que dizia a Palavra de Deus: “Se
confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os
pecados, e nos purificar de toda a injustiça”, 1 João 1:9. Ele ficou
incrédulo, perplexo! Não conseguia acreditar que existisse tal perdão ou
que fosse possível ser perdoado de tão grandes pecados! Pediu-nos para
nos ajoelharmos e orarmos aos pés de Jesus colocando ali a lista dos
seus muitos pecados. Levantou-se uma nova pessoa e saiu com uma alegria
difícil de descrever em palavras.
“Agora, preciso buscar os meus pais, os
meus irmãos e restante família para pedir-lhes perdão, pois, sempre fui
rebelde e desobediente. Também nunca fui honesto no meu trabalho!”
Saiu com o firme propósito de ir contar
à sua família e conhecidos tudo que lhe aconteceu e pedir-lhes perdão de
tudo que se lembrasse. Deus operou daquela maneira em sua vida,
dando-lhe uma última oportunidade de arranjar a sua vida.
Outros que eram analfabetos e tinham
filhos na escola que sabiam ler, traziam a Bíblia para casa pedindo às
crianças para a lerem em voz alta para eles. Depois, chegavam a nós
narrando de que maneira Deus havia falado com eles através da Bíblia.
Amigos, Deus operou de tantas maneiras diferentes que torna-se
impossível definir um padrão. Ele, realmente, usa muitas formas de
alcançar pessoas. Um dia, apareceu uma senhora que também era uma
isangoma (feiticeira). Relatou-nos como Deus falara com ela,
mandando-lhe pegar na Bíblia e ler um certo capítulo e um versículo
específico. A senhora pegou na Bíblia e buscou o dito versículo. Ela
chegou à fé em Jesus. Depois, veio confessar todos os seus pecados. Era
analfabeta e nunca havia aprendido a ler. No entanto, conseguia ler a
Bíblia. Pusemos à prova a sua capacidade de leitura e, lendo em voz
alta, vimos que lia de forma perfeita. Este não foi um caso isolado.
Houve muitos casos destes. Houve muitos que se converteram que não
sabiam ler e nem escrever. Mas, haviam recebido ordem para lerem a
Bíblia ouvindo uma voz e assim que a abriam, conseguiam lê-la. Assim que
obedeciam, ganhavam a capacidade de ler. Mas, não eram capazes de ler
mais nada para além da Bíblia.
Quando um Zulu adoece por alguma razão,
não vai ao médico e vai antes a algum inyanga ou isangoma
para tentar descobrir a razão ou a causa da sua doença. Um certo
inyanga famoso tinha um filho de vinte e cinco anos de idade. Aquele
filho era o braço direito do seu pai, sendo um ajudante precioso em seu
ofício. O seu nome era Mabanga. Um dia, o moço adoeceu severamente.
Ganhou gangrena e até se viam os tendões dos dedos dos pés de fora. Os
seus pés apodreciam rapidamente. Com o apodrecimento da sua carne,
sentia tanta dor que não conseguia descansar um só momento. As
feitiçarias do pai já não resolviam nada e o pai mandou vir um
izinyanga do Zimbabwe. Mas, nem assim conseguiram curar a sua
doença. O pai viajou até Moçambique e trouxe de lá um dos feiticeiros
mais famosos que havia na altura. Também não conseguiu resolver nada. As
dores aumentavam cada vez mais. Precisamente na altura que estava muito
mal fomos convidados a trazer a mensagem do Evangelho pela primeira vez
à sua região. Um cristão local dirigiu-se ao jovem inyanga e
disse-lhe:
“Olha, moço, estão chegando uns
mensageiros de Deus aqui ao nosso distrito. Vai ter com eles e pede-lhes
para orarem por ti para seres curado”.
“Não! De maneira nenhuma!” Respondeu.
“Feitiçaria não bate com o Cristianismo. Essas coisas não andam juntas”.
Contudo, as dores intensificavam-se mais
e mais e ele acabou por vir a um dos cultos sem ninguém saber. Sentou-se
na última fila na esperança de que ninguém, por ali, o reconhecesse ou
visse. Naturalmente que o pregador não conhecia o moço e não suspeitava
que fosse o filho de um feiticeiro famoso. Conforme acontecia sempre,
limitou-se a trazer a mensagem do Evangelho de forma clara. Mas, a
mensagem descrevia com precisão o que estava acontecendo com Mabanga. O
jovem escondia-se atrás das pessoas e começou a pensar:
“Quem contou toda a minha vida para
aquele homem na frente? Como sabe ele de todos os meus pecados?”
Não conseguia entender como era possível
que o pregador conhecesse toda a sua vida daquela maneira. Tinha a
certeza que havia sido aquele Cristão que o convidou que havia contado
tudo ao pregador. Durante a pregação, a Palavra causou uma forte
convicção de pecado no jovem feiticeiro e ele viu toda a sua vida
pecaminosa a desenrolar-se diante de seus olhos. Quando todas as pessoas
se haviam levantado para deixar o local do culto, o jovem permaneceu
sentado sem poder levantar-se. Parecia que estava pregado à cadeira.
Todas as pessoas do lado direito e do esquerdo já haviam ido embora,
mas, ele continuava ali espetado, sem mover-se. Assim que o pregador se
aproximou dele, começou a chorar e clamou:
“Eu sou um pecador! Estou a caminho da
perdição! Sem Cristo, estarei perdido para sempre. Será que Jesus ainda
me pode perdoar?”
Aquele pagão abriu todo o seu coração e
confessou cada pecado que cometeu. E, logo de seguida, Jesus tocou nele
e foi curado imediatamente de todo o seu sofrimento. O pregador nem
havia sequer pedido pela cura do jovem feiticeiro. Jesus curou o moço
por Sua própria autoria e iniciativa. Jesus não apenas se compadeceu da
sua alma, mas, também de seu corpo enfermo.
Tais coisas só acontecem quando o
Espírito Santo realmente desce sobre nós. Em 1 Cor.14:23-25 lemos que
quando um incrédulo entra num culto onde o Espírito Santo esteja
operando de verdade, os segredos do seu coração são trazidos para a luz
e o incrédulo será convencido por todos que Deus está, realmente, ali
presente entre eles. Será convicto e cairá sobre o seu rosto para
reconhecer Deus como Senhor e adorará o Senhor vendo claramente como
Deus está nas orações das pessoas dentro do lugar. Foi o que aconteceu
ali, naquele dia.
Pouco tempo depois disso, o jovem teve
um sonho. Os céus abriram-se e uma Bíblia desceu até ele e foi colocada
na sua frente. No sonho, uma voz dizia-lhe:
“Mabanga, abre a Bíblia e lê Provérbios
8 versículo 1”.
“Senhor, eu não sei ler!” Respondia.
“Sou analfabeto e nunca aprendi letras. Nunca frequentei uma escola”.
“Se sou Eu a mandar que leias, não
podes, de maneira nenhuma, afirmar que não consegues ler porque fui Eu
quem criou o teu entendimento e os teus olhos”.
Mabanga abriu a Bíblia e assim que a
abriu, conseguia ler. Foi a primeira vez em toda a sua vida que
conseguiu ler alguma coisa. Depois, continuou lendo e chegou aos
versículos adiante: “A vós, ó homens, clamo; e a minha voz se dirige aos
filhos dos homens. Entendei, ó simples, a prudência; e vós, insensatos,
entendei de coração”, Prov.8:4-5.
Quando terminou de ler aqueles
versículos, a Bíblia fechou-se e foi recolhida para os Céus novamente.
No dia seguinte, o sonho foi repetido. O Céu tornou a abrir-se e a
Bíblia desceu novamente. A mesma voz disse:
“Mabanga, abre a Bíblia e lê em Isaías
49 versículo 15 e 16”.
Abriu a Bíblia e leu o seguinte:
“Porventura pode uma mulher esquecer-se
tanto de seu filho que cria, que não se compadeça dele, do filho do seu
ventre? Mas, ainda que esta se esquecesse dele, contudo eu não me
esquecerei de ti. Eis que nas palmas das minhas mãos eu te gravei; os
teus muros estão continuamente diante de mim”.
A Bíblia tornou a ser recolhida. No dia
seguinte, aconteceu a mesma coisa e Deus mandou que lesse em Jeremias 1
versículos 4 a 7.
“Assim veio a mim a palavra do SENHOR,
dizendo: Antes que te formasse no ventre te conheci, e antes que saísses
da madre, te santifiquei; às nações te dei por profeta. Então disse eu:
Ah, Senhor Deus! Eis que não sei falar; porque ainda sou um menino. Mas
o Senhor me disse: Não digas: Eu sou um menino; porque a todos a quem eu
te enviar, irás; e tudo quanto te mandar, falarás”.
Mabanga quase não conseguia esperar para
amanhecer. Saiu à procura de uma Bíblia. Levado pela sua fome da Palavra
de Deus, foi de cabana em cabana entre o seu povo perguntando se, por
acaso, alguém tinha uma Bíblia. No final, indicaram-lhe um pregador
local. Teve a certeza que seria ali que encontraria aquela Bíblia que
tanto desejava. Assim que chegou à casa do pregador, perguntou de forma
bruta e direta:
“O senhor tem alguma Bíblia?”
“Tenho sim”, veio a resposta.
“Posso pedi-la emprestada por uns
momentos?”
“Claro que não!”Respondeu o pregador.
“Para que queres a minha Bíblia? Tu não sabes ler e só vais sujá-la! Não
és o filho do feiticeiro? Os filhos de feiticeiros não podem frequentar
a escola para poderem apascentar as ovelhas e as cabras do pai. Nunca
foste a uma escola!”
“Sim, é verdade! Mas, deixe-me só pegar
na Bíblia um pouquinho, por favor”.
Aquilo era muito estranho para o
pregador. Convidou a sua visita a entrar. Colocou vários livros diante
dele, os quais tirou duma caixa, com os títulos virados para ele:
“Diz-me, qual destes livros é a Bíblia?”
Mabanga apontou imediatamente para a
Bíblia e suplicou:
“Por favor, posso só pegar nela para
verificar uma coisa!?”
Abriu a Bíblia e, para admiração tanto
dele como do pregador, conseguia ler cada palavra para a qual olhava. A
partir daquele momento, aquele feiticeiro analfabeto não apenas
conseguia ler de maneira perfeita, mas, conseguia escrever também.
Depois disso, saiu com uma Bíblia na mão
por todas as vilas e aldeias ao redor pregando e trazendo o Evangelho de
Cristo a todos que ouviam. Um dia, chegou a uma conferência e pediu
autorização para falar. Deram-lhe cinco minutos. Depois dos cinco
minutos, assumiu que poderia falar mais um pouquinho e falou mais um
quarto de hora. Mas, no final, o seu discurso durou mais de uma hora e
todos os pastores ali presentes ficaram admirados e perguntaram-lhe:
“Mas, onde aprendeu letras? Onde
estudou? Em que seminário esteve?”
Ergueu a sua Bíblia e afirmou com
segurança:
“A minha Bíblia é o meu Seminário”
“Mas, onde obteve todo este
conhecimento?”
“Aprendi da Bíblia”, respondeu erguendo
a sua Bíblia novamente.
Aquele filho de feiticeiro que nunca
estudou é, desde então, um excelente cooperador e missionário nosso. É
um instrumento muito ativo e Deus usa-o poderosamente desde então. O
Senhor tem operado muito acima daquilo que Lhe pedimos e suplicamos. Ao
Senhor pertence todo o poder de toda a Terra e Céu. Ele é hoje aquilo
que foi ontem e aquilo que será para sempre em toda a eternidade.
Quero contar mais algumas coisas que
aconteceram depois que o avivamento começou entre nós. Desde o inicio do
avivamento que se tornou uma coisa normal alguém converter-se e, duas ou
três semanas depois de voltar à sua aldeia ou casa, pedir-nos para
visitarmos a sua região. Perguntávamos o que estava acontecendo e a
resposta era sempre: “A região está em fogo, toda pronta para a
colheita”. Quando chegávamos, havia centenas e centenas de pessoas
esperando pela mensagem do Evangelho. Estavam debaixo de árvores e ao ar
livre, todos esperando que lhes trouxéssemos uma mensagem.
Perguntávamos:
“O que aconteceu por aqui? Por que razão
se reuniram todos aqui desta maneira?”
“Este homem (mulher) que vive aqui
converteu-se. Nós estivemos olhando para a sua vida em todos os
detalhes. Agora, desejamos a vida que ele(a) tem. Também nos queremos
converter ao mesmo Deus que ele(a) se converteu. Desejamos o mesmo Deus
que ele(a) tem”.
As vidas de todas aquelas pessoas
estavam prontas para a ceifa e para o reino de Deus. O terreno estava
preparado e o fruto bem maduro e pronto para ser colhido. E o Senhor ia
alcançando mais e mais terreno para nós e para a Verdade espalhando o
Evangelho. Em menos de uma semana vinham centenas e centenas de pessoas
a Deus, limpando todas as suas vidas de pecado. Em muitas regiões, as
discotecas, os bares e os campos de desporto eram fechados. Perguntam-me
por que razão? Porque as pessoas achavam que já não tinham tempo para
tais coisas! Todo o seu tempo era usado a favor do Evangelho. Saíam com
a mensagem e voltavam com convertidos. Até mesmo as crianças levavam o
Evangelho com sucesso a muitas e muitas pessoas. É verdade que não
tinham qualquer conhecimento teológico ou preparação, mas, sabiam uma
coisa: “Conhecemos Jesus pessoalmente e Ele perdoou todos os nossos
pecados. Jesus nos tem salvado. Através de Jesus somos feitos Filhos de
Deus”. Era essa a mensagem que levavam.
Era dessa maneira que os convertidos
alcançavam o povo para Deus: através das suas vidas. Chegavam centenas
de pessoas a quem Deus curava espírito, alma e corpo. Provavelmente,
aconteceu entre nós de tudo que vem descrito no livro dos Atos dos
Apóstolos. Deus apresentou-se em nosso meio com Seu poder e glória e
manifestava-se às pessoas de variadas maneiras. Fazia milagres, curas e
outros sinais. Muitas vezes, vinham pessoas paralíticas que eram
colocados no chão ou no gramado. Deus tocava neles, muitas vezes, mesmo
antes de começarem os cultos da pregação do Evangelho. Lembro-me
perfeitamente como chegou até nós um homem cego. Nós fizemos um culto ao
ar livre, na rua. Durante uma das pregações, os seus olhos abriram-se de
repente sem ninguém haver orado por ele. Nunca mais esquecerei como
aquele homem caminhava no meio das pessoas, passando pelos ‘corredores’
e entre as abertas. Levantou no ar o pau que usava quando era cego e
exclamou alto:
“Eu sempre disse que Jesus era o Deus
dos brancos. Mas, agora sei que Ele também é meu Deus!”
Desde logo, desde o inicio do
avivamento, os negros não podiam mais argumentar e esconderem-se atrás
da desculpa que Deus era somente para os brancos. Agora afirmavam: “O
Senhor Jesus é o nosso Deus!”
Ainda quero contar mais algumas coisas
em relação àquela moça possessa da qual falei no inicio e pela qual
oramos e não conseguimos tratar. Deve estar lembrado que tivemos de
entregar a moça de volta à mãe e contar-lhe desapontados que nada
podíamos fazer por ela. Desde aquele dia até ao dia que começou o
avivamento entre nós haviam-se passado seis anos. Tornei a pensar na
moça e orava incessantemente para que Deus nos concedesse a oportunidade
de ajudá-la, caso ainda estivesse viva. Enquanto estávamos em uma
campanha missionária em um certo lugar, avistamos aquela triste mãe.
Havia envelhecido bastante desde a última vez que a vimos. Parecia que
haviam passado mais de vinte anos sobre ela e não seis. O meu coração
saltou dentro de mim alegre por havê-la avistado ali! Sabem o que
aconteceu? Deus operou milagrosamente e restabeleceu a moça totalmente,
dando-lhe uma vida normal. Deixou de ser necessário viver escondida nas
montanhas. Ela entregou-se a Jesus de coração. Tão poderoso é o nosso
Deus e tão poderosa é a mensagem do Evangelho de Cristo!
Muitos pagãos que ouviam a mensagem de
Jesus pela primeira vez abandonavam de imediato a sua vã maneira de
viver para seguir Jesus. Todos eles se sujeitavam à soberania e ao poder
de Deus. Contudo, não lhes era possível saberem tudo sobre a nova vida.
Ainda que desejassem muito, era-lhes impossível entender tudo de
imediato. Jesus mesmo disse assim: “Ainda tenho muito que vos dizer, mas
vós não o podeis suportar agora”, João 16:12. Era, também, isso que
acontecia com os recém-convertidos. Quando se convertiam, voltavam às
suas casas e aldeias e Deus guiava todos os seus caminhos de forma clara
e precisa. Jesus instrui-os sobre seu andar e sobre seu viver futuro
também. Muitos deles voltavam regularmente até nós para confirmarem que
tudo que haviam aprendido de Jesus pessoalmente era a coisa certa e que
não se haviam enganado. Queriam confirmar que era mesmo Jesus quem os
estava ensinando e falando com eles. Conforme já disse, havia muito
analfabetismo entre a população negra. A maioria não sabia ler nem
escrever. Não tinham maneira de consultar a Palavra de Deus e muitos nem
haviam ouvido falar dela sequer. Mas, Jesus tornou-se o seu Mestre e
ensinava cada ovelha d’Ele de maneira individual, pessoal e clara.
Uma certa senhora de idade esteve
escravizada ao álcool durante muito tempo. Ela converteu-se. Depois
disso, foi para sua casa. Mas, uns dias mais tarde, voltou a nós com uma
pergunta: “Digam-me: se me tornei Cristã e se entreguei a minha vida a
Jesus, não devo beber mais?”
Ficamos muito curiosos sobre a razão
daquela pergunta e tentamos descobrir mais. Perguntamos por que razão
perguntava aquilo.
“Depois dos cultos que assisti aqui, fui
para casa e lá sempre tivemos o hábito de nos reunirmos com os amigos
para beber. Quando dei o primeiro gole de álcool, fiquei muito mal e
senti uma vontade enorme de vomitar. Tive de sair de casa, correndo,
para não vomitar ali dentro. Aquilo durou tanto tempo e tinha tantas
dores que pensei que ia morrer. Nunca tal coisa me havia acontecido! Uns
dias depois, tornei a tentar e aconteceu-me a mesma coisa. Agora, não
consigo ver vinho sequer, pois, fico agoniada com o cheiro dele. Por
favor, digam-me: os que são crentes não podem beber vinho? Será que
beber vinho é contrário à natureza Cristã? Eu não entendo. Parece que
Deus mudou muitas coisas em minha vida e existem muitas coisas que já
não consigo fazer. Isso é certo? É certo viver dessa maneira?”
Foi assim que muitas pessoas tomaram
conhecimento das verdades Cristãs. Eles confirmavam que a Palavra de
Deus era, realmente, a Verdade: “Assim que, se alguém está em Cristo,
nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez
novo”, 2 Cor.5:17.
Entre os Zulus, é frequente encontrarmos
muitas coisas estranhas. Por exemplo, há crianças que são sujeitas a
feitiçarias logo desde o nascimento. Depois, na sua vida de adultos,
sujeitam-se irremediavelmente a feitiçarias, a sacrifícios aos
antepassados e mortos. Isso são coisas muito comuns entre eles. Uma vez,
um Zulu converteu-se e, depois, foi convidado por um irmão seu para
fazer-lhe uma visita. Antes da visita, o dito irmão havia sacrificado
aos antepassados e falado com eles. Aquele recém-convertido não sabia
que haviam sido feitas oferendas aos espíritos dos antepassados naquele
dia. Enquanto comia sem saber que aquela comida havia sido oferecida aos
mortos, aconteceu uma coisa muito estranha diante dos olhos de todos.
Todos viram. O corpo do recém-convertido começou a inchar-se. Inchou de
tal maneira que não conseguia abrir os olhos sequer. Chamou o seu irmão
e perguntou-lhe que tipo de carne havia colocado na mesa e se era carne
oferecida aos espíritos. O irmão disse que era carne de sacrifícios.
Então, o homem inchado suplicou aos que estavam ali para levá-lo
rapidamente para casa. Chegando lá, colocou-se sobre seus joelhos e
implorou a Deus que lhe perdoasse aquele pecado de haver comido carne
oferecida a espíritos, ainda que não soubesse de nada. Enquanto orava, o
inchaço desapareceu por completo e voltou ao seu estado normal. Foi
daquela maneira que aprendeu que não podia mais participar em oferendas
aos espíritos de seus antepassados falecidos. Apercebeu-se que não podia
comer carne de oferendas. Ainda hoje, em nossos dias, Deus continua
operando da mesma maneira e falando com todos. Deus instrui as pessoas
no caminho que devem seguir. Deus faz com que vejam muitas coisas e,
todos eles, como ovelhas, são capazes de ouvir a voz do seu Pastor.
Depois de haverem se convertido, Cristo torna-se seu Deus e a Bíblia a
sua direção. Deus transforma as pessoas, também, do lado de fora e de
tal maneira que se tornam a Sua imagem. Tornam-se como Cristo em sua
maneira de viver.
Uma certa senhora Zulu entregou a sua
vida a Jesus. O seu marido era um homem completamente entregue ao vício
de beber. Era conhecido como um dos maiores alcoólicos da região. A
senhora e os filhos deles tinham, muitas vezes, de esconder-se no meio
das plantações de milho e até dormiam lá porque o homem espancava-os
muito. Gastava todo o seu dinheiro e salário em bebida e a senhora tinha
de sustentar a família sozinha, através de esforços próprios. É fácil
perceber que não havia qualquer paz naquele lar, principalmente porque a
mulher não se calava diante do marido. As trocas de palavras e de
argumentos terminava sempre na maior das discussões e em briga. Mas,
chegou o dia em que ela se converteu. Pouco tempo depois disso, o marido
ficou perplexo, olhando a grande transformação que ocorreu em sua
esposa. Sem saber qual a razão de tão grande mudança, perguntou-lhe:
“Mulher, diz-me o que aconteceu
contigo?”
“Por que razão perguntas, meu esposo?”
“Mudaste tanto! Não discutes mais
comigo, não respondes mais a provocações. Tu eras daquelas pessoas que
tinha de ser sempre a última a falar e a última palavra tinha de ser
sempre a tua. Era como se fosses tu quem mandava aqui e não eu. Mas,
agora tens-me um respeito muito grande, tão grande que eu não consigo
entender. Agora, parece que sou um rei aqui em casa e não teu marido!
Que se passa contigo?”
As coisas aconteciam assim: quando o
homem chegava bêbado da fazenda onde era empregado, ela já não
perguntava onde ele havia estado e com quem. Também não perguntava por
que razão ficara tanto tempo fora depois do trabalho. Em vez disso, ele
chegava a casa e ela tinha comida quentinha preparada e servia-o. Ela
estava tranquila e simpática com ele e conversava de maneira educada.
Assim que se apercebeu disso, começou a abanar a sua cabeça em assombro.
“Diz-me uma coisa: tu tornastes-te
Cristã? Foste lá aceitar o Deus dos brancos?”
A senhora não respondeu nada ao marido
porque temia ser morta por ele por causa desse ‘crime’. Mas, o homem
insistiu com ela até que ela teve de reconhecer que havia entregue a sua
vida a Jesus e que havia estado com os brancos em Mapumulo para
entregar-se ao seu Deus. O homem respondeu:
“Se esse Deus dos brancos conseguiu
fazer contigo aquilo que eu nunca consegui usando um pau, isso quer
dizer alguma coisa! Quero ir lá contigo para ver o que se passa!”
No dia seguinte, o homem apareceu numa
pregação. Converteu-se. Um domador de leões Sul-Africano disse, uma vez,
que ele era capaz de domar qualquer leão por muito agressivo que fosse e
por muito mau que se mostrasse. Mas, dizia ele, nunca conseguiu domar a
sua esposa. Por isso, não nos podemos admirar que, para alguns homens, a
conversão genuína das suas esposas seja um autêntico milagre
inexplicável! Para muitos, a mudança das suas esposas quando é Deus quem
a opera, é um verdadeiro feito. Quando vêem a mudança das suas esposas,
a mudança fala por elas. Queridas senhoras e esposas, nunca se esqueçam
duma coisa: os maridos têm uma característica muito própria, a qual
recusa sempre ouvir uma esposa quando ela quer mudá-lo e mandar nele. O
coração do homem é assim mesmo. Mesmo quando ele se apercebe que a
mulher tem razão, se a mulher começar a pregar para ele, ele
simplesmente recusa dar ouvidos por ser a voz da esposa. E porque o
Senhor Jesus sabe disso, Ele prometeu que vos ajudará em tudo sempre
que, como esposas, se sujeitem total e incondicionalmente aos vossos
maridos. É através da vossa vida e do caminhar que qualquer esposa
consegue trazer o marido a Jesus.
Os filhos que se converteram em nosso
meio voltavam para casa e não contavam nada do que se havia passado com
eles. Mas, as suas vidas, a sua obediência e caminhar mudaram tanto que
intrigavam os seus pais. Uns dias depois das suas conversões, os pais
acabavam por perguntar-lhes o que havia acontecido com eles. Os pais
precisavam insistir duas ou mesmo três vezes com a pergunta para que
respondessem. Perguntavam por que razão já não era preciso mandá-los
fazer os trabalhos de casa e da escola e que fossem ajudar a mãe com a
lida da casa; etc. Os filhos respondiam muito contra as mães sempre que
as mães pediam para fazerem alguma coisa. “Mãe, por que tenho de ser
sempre eu a fazer isto e aquilo? Por que não mandas outro fazer e mandas
sempre a mim? Por que tenho de ser sempre eu a lavar as panelas e os
pratos?” Mas, depois de se haverem convertido e ainda antes de seus pais
dizerem qualquer coisa, eles já se levantavam para cumprir com os
menores deveres e obrigações. Quando a mãe e o pai chegavam a casa
vindos do trabalho, a casa já estava arrumadinha e limpa e os trabalhos
da escola estavam terminados e bem-feitos. Os pais ficavam admirados e
sem entender o que se estava passando. Já não precisavam perguntar onde
os filhos haviam estado ou o que haviam feito. E muitos casais
converteram-se por causa da brusca e permanente mudança nas vidas dos
filhos. O fogo de Deus espalhava-se rapidamente porque as vidas dos
filhos estava em fogo para Jesus. As suas vidas eram as suas pregações e
as suas mensagens vivas. Nem se davam conta do quanto falavam e de como
elas falavam alto. As crianças convertidas chegavam à escola e
convertiam os colegas e os professores. E isso ajudou muito a espalhar o
avivamento rapidamente entre o povo pagão. Escolas inteiras vinham a
Deus, incluindo professores e diretores.
Pouco tempo depois do avivamento ter
começado, vieram uns pais ter comigo dizendo que queriam tirar os seus
filhos da escola. Fiquei muito admirado e não conseguia entender o
porquê de tal decisão. Perguntei-lhes qual a razão que tinham para os
seus filhos não poderem mais ir para a escola. Eles responderam:
“Se ficarem na escola já não podemos
pregar o evangelho!”
Fiquei pior do que inicialmente.
Perguntei mais ainda, querendo saber mais razões, tentando, assim,
ganhar tempo para pensar e entender. Disseram:
“A Bíblia ensina-nos que se alguém não
consegue governar bem a sua própria casa, não pode pregar o evangelho e
se não governa bem a sua própria casa não pode ter funções na
congregação. Nós sabemos que os nossos filhos não são obedientes na
escola, não fazem bem os seus trabalhos de casa, não são obedientes aos
professores, não respeitam os seus colegas. Agora precisamos tomar uma
decisão séria. Se os nossos filhos não se converterem, não temos
qualquer hipótese de pregar o Evangelho!”
Pensei para mim: “O que irá acontecer
agora?” Enquanto pensava, vieram mais explicações:
“Estivemos orando sobre este assunto
intensamente e decidimos que não podemos mandar os nossos filhos para a
escola. É melhor que fiquem analfabetos do que tornarem-se filhos do
diabo!”
Quanto escutei aquilo, bati com uma mão
na outra, estupefato. Mas, os pais estavam irremediavelmente
determinados em sua decisão de não mais enviarem seus filhos para a
escola. Depois de haverem tomado essa decisão, chegaram ao pé dos filhos
e disseram:
“Filhos, nós pregamos o Evangelho e
contamos às pessoas tudo que Jesus fez. A Bíblia ensina-nos que, se não
formos capazes de educar os nossos próprios filhos, não podemos ensinar
alguém, não podemos ser obreiros numa congregação e nem pregar o
Evangelho de Jesus. Vocês são desobedientes e não são uma luz de Deus na
escola onde andam. Não se tornaram sal por lá. Agindo desse modo, vocês
amarraram as nossas mãos e amordaçaram a nossa boca. Não podemos abrir
as nossas bocas por causa das vossas ações e das vossas vidas. Por isso,
não estão permitidos a ir para a escola estudar enquanto estiverem
servindo o diabo!”
Aqueles pais Cristãos cumpriram a sua
palavra tirando os filhos da escola. Passou-se uma semana, depois outra
semana e depois disso trouxeram os seus filhos para a nossa missão.
Imploravam ao Senhor que os ajudasse, pois, desejavam muito pregar o
Evangelho de Jesus. Oravam intensamente. Com o decorrer do tempo, os
filhos converteram-se um após o outro! Alguns deles não tinham mais de
sete anos de idade sequer e outros rondavam os doze ou treze. Deus
operou uma profunda convicção de pecado nas crianças e deu-lhes um
coração quebrantado. As crianças vieram conversar comigo e confessaram
os seus pecados comigo e orando comigo. Foram conversar com os seus pais
pedindo perdão por cada pecado e desobediência. Depois, pediram aos pais
para irem à escola para poderem ir pedir perdão aos seus coleguinhas e
aos professores. Os pais permitiram, mas, quiseram antes comprovar e ver
os frutos da conversão em suas vidas práticas. As crianças prometeram
aos pais que, a partir daquele momento, iriam viver para Jesus na
escola. Os pais vieram ter comigo para pedir um carro emprestado para
poderem ir falar com o Diretor da escola. Também desejavam pedir-me
conselhos sobre aquilo que deveriam conversar com o Sr. Diretor para
explicar tudo que havia acontecido e por que razão haviam tomado tal
decisão de tirar os filhos da escola, pois, haviam tirado as crianças da
escola sem dar qualquer explicação ao Sr. Diretor. Desejavam esclarecer
as coisas com ele. Eu disse-lhes:
”Esse problema é vosso. Eu não disse
para tirarem as crianças da escola! Disse? A decisão foi vossa e eu não
dei a minha opinião. Vocês haviam-me garantido que havia sido Deus quem
vos colocou no coração que deviam tomar essa decisão. Perante isso, eu
não podia dizer nada. Se foi realmente Deus quem colocou isso em vossos
corações, Ele mesmo vos ajudará a resolver isso com o Sr. Diretor! Se
foi Deus, saberão o que fazer e o que dizer-lhe no momento que falarem
com ele”.
Os pais levaram o meu carro e partiram
em direção ao Diretor da escola, muito preocupados e angustiados. Temiam
muito porque o Diretor não queria nada com o Evangelho. Ele havia mesmo
proibido a pregação e a divulgação do Evangelho em toda a escola. Quando
chegaram à escola, oraram ainda dentro do carro e pediram a direção de
Jesus. Suplicaram que Deus fosse na sua frente e que preparasse todo o
seu caminho. Assim que abriram os seus olhos e quando terminaram de
orar, apanharam um enorme susto! O Diretor estava ao lado deles, do lado
de fora na janela do carro! Ficaram mudos e estavam muito perplexos. O
Diretor dirigiu-se a eles e falava com voz trêmula:
“Amigos, preciso pedir-lhes desculpa,
pois, sinto-me muito culpado em relação a vocês. Podem perdoar-me, por
favor?”
Aquele casal Cristão estava sem
palavras. Ficaram atônitos e sem reação. Não sabiam o que responder ao
Sr. Diretor. O homem estava completamente mudado e diferente daquilo que
esperavam encontrar, pois, eles haviam cometido um grande erro tirando
as crianças da escola sem dar-lhe qualquer explicação. Eles é que haviam
vindo até ele para pedir perdão e o Diretor é quem lhes veio pedir
perdão antes que pudessem dizer qualquer coisa. Foram para o escritório
dele e o Diretor sentou-se em sua cadeira e dirigiu-se a eles novamente:
“Eu sinto que sou culpado diante de
vocês”
“Não”, responderam, “nós é que viemos
aqui pedir desculpa ao senhor! Fomos nós quem tirou as crianças da
escola sem dar explicação ao senhor! É isso que viemos fazer aqui. Nós
pregamos a Palavra do Senhor Jesus e somos servos d’Ele. E como servos
d’Ele, não podemos estar ativos na pregação do Evangelho se não temos
filhos obedientes e se não conseguimos governar bem a nossa própria
casa. Ouvimos dizer que os nossos filhos eram muito desleixados e
desobedientes, que não faziam bem os seus trabalhos escolares e alguns
deles ainda brigavam com os seus colegas. Por essa razão, vimos que as
coisas não podiam continuar assim. Se os nossos filhos não se
convertessem, não podíamos continuar a pregar o Evangelho. Não tínhamos
outra opção e não achamos nenhuma outra alternativa senão tirá-los da
escola e resolver primeiro esse problema. Por isso, quisemos manter os
nossos filhos em casa até se converterem. É preferível que não aprendam
nada e sejam analfabetos toda a vida do que se tornarem pequenos
demônios que trabalham para a causa do diabo!”
“Amigos”, disse o Diretor, “vocês dão-me
permissão para reunir todos os pais dos alunos para vocês dizerem todas
estas coisas que acabaram de dizer-me? O meu pedido é que digam isso da
mesma maneira que disseram a mim, sem alterar nada. Isso que fizeram e
disseram trará enormes benefícios para toda a escola e para todo o nosso
sistema escolar. Só desejo que todos os pais ouçam isto e ganhem os
mesmos princípios em casa que vocês têm. E quero prometer a vocês que as
portas da minha escola, a partir de agora, estão escancaradas para a
vossa pregação do Evangelho. Podem vir aqui pregar sempre que desejarem.
Qualquer hora do dia e sempre que desejem, as portas estarão sempre
abertas para os senhores trazerem a mensagem de Jesus. Basta virem.
Quando chegarem, as aulas param todas e reuniremos todas as crianças e
professores para ouvirem. Vocês podem movimentar-se aqui na escola da
maneira que quiserem e à hora que quiserem!”
Os pais perguntaram, ainda, se podiam
trazer as crianças de volta para a escola. O Diretor alegrou-se muito
com isso e concordou logo, cheio de entusiasmo. Assim que aquelas
crianças recém-convertidas chegaram à escola, cada um deles foi
individualmente pedir perdão ao Sr. Diretor pelo seu comportamento
anterior. Desde o menor até ao maior tiveram a iniciativa de pedir
perdão por tudo que fizeram, nomeando os pecados pelo nome. De seguida,
pediram autorização para falarem com todos os colegas. O Diretor reuniu
as centenas de crianças na sala principal da escola. Os filhos dos
Cristãos falaram pedindo perdão por tudo de mal que haviam feito, por
seu comportamento diabólico e por todos pecados que se lembraram.
Pediram perdão por haverem vivido uma vida muito má, por serem infiéis a
Jesus e maus de coração. Enquanto aquelas crianças se abriam com seus
coleguinhas, pedindo-lhes perdão, um dos professores começou a chorar e
a soluçar alto. Depois, outro professor e mais outro chorava. Depois, as
crianças também começaram a chorar. O Espírito de Deus moveu-se entre os
alunos e professores e centenas deles entregaram as suas vidas a Jesus
naquele dia. Em apenas três semanas, o fogo de Deus espalhou-se por
todas as escolas de Kwazulu e chegou mesmo à Universidade. Milhares de
jovens e de estudantes converteram-se naqueles dias, uns após os outros.
O Espírito de Deus tocou em muita gente. Jesus alcançou a Sua vitória
sobre o mal e era doce a Sua vingança sobre o mal. Muitas vezes, Deus
chegava no momento que não esperávamos para fazer aquilo que não
esperávamos ver. Ele opera de maneira que não conseguimos imaginar ou
planificar antecipadamente.
O SENHOR VELA SOBRE A SUA OBRA
Quando alguém pede um avivamento genuíno
e recebe, nunca deve subavaliar os problemas que irão surgir. Problemas
e perseguições irão acontecer sem qualquer sombra de dúvida porque o
diabo tem um ódio mortal a qualquer obra que é verdadeiramente operada
pelo Espírito Santo. Um avivamento pode ser descrito como uma obra do
próprio Espírito Santo através das vidas de pessoas de servos abnegados
e inteiramente fiéis ao Senhor e somente a Ele de forma exclusiva e
clara, os quais estejam revestidos do o Seu poder e santidade com o
intuito exclusivo de trabalhar arduamente para o Reino de Deus
aqui na terra. Sempre que tais homens penetram em território inimigo
para livrar as almas presas nas trevas, podemos esperar que o diabo não
irá ficar a olhar de braços cruzados e passivo. Ele irá mover ou
mobilizar toda a sua força, astúcia e sabedoria para ou impedir o
avivamento de acontecer ou de se manter; ou, então, para causar grandes
estragos dentro do movimento de avivamento ou mesmo alcançar o povo com
mentiras acerca do movimento antes que o evangelho e a verdade cheguem
lá. Irá espalhar muitas mentiras acerca do avivamento antes que seja
vista a verdade e antes que seja amada. Para esse efeito, usa os seus
servos e todos aqueles que andam sem Deus (e no mundo existem muitos).
Mas, o pior é que ele usa mais facilmente todos aqueles que se chamam
filhos de Deus, os quais de filhos de Deus não têm nada.
Para ilustrar o que acabei de dizer,
quero contar algumas coisas que aconteceram pouco antes do avivamento
começar e, também, depois de haver começado. Durante aquela época em que
nos reuníamos para implorar a Deus que descesse até nós e durante o
período que tivemos para regularizarmos as nossas vidas para estarem de
acordo com Deus, fui chamado pelo Governador do Distrito e, quando
cheguei lá, estava um Juiz com ele. Ambos me cumprimentaram e
perguntaram onde estávamos congregando e em que lugar estávamos tendo as
nossas reuniões. Expliquei que estávamos usando um estábulo de vacas que
havíamos limpado. Perguntaram onde se situava esse estábulo mais
precisamente. O Sr. Governador explicou melhor qual a razão de me
haverem convocado para uma reunião. Disse-me que havia pessoas na
vizinhança que apresentaram uma queixa em Pietermaritizburg contra as
reuniões. As pessoas não desejavam que eu estivesse pregando o evangelho
naquela área e pediam que me fosse vedado o acesso a ela. Então,
mencionaram vários outros lugares onde eu não podia pregar e nem levar o
evangelho. O Governador do Distrito e o Juiz apontaram os locais no mapa
da região e pediram-me para estudá-la. Haviam determinado qual a minha
‘fronteira’ e que linhas eu não podia atravessar. Então, mostraram-me
pelo mapa que o estábulo onde nos reuníamos era cortado pela linha que
não podia trespassar. Era local proibido, tal como o território a norte
dele. Por isso, parecia que parte do estábulo estava em território
proibido e a outra parte não estava. O Sr. Governador perguntou-me onde,
dentro do estábulo, é que eu ficava quando pregava. Respondi que ficava
em pé “à esquerda da mesa que se encontrava na esquina esquerda do
estábulo”. O Juiz olhou atentamente para o mapa e verificou que eu
ficava precisamente na fronteira que eles haviam traçado. Eu pregava do
lado de fora do território proibido, mas, a congregação sentava-se
dentro de território proibido. No final, a reunião terminou com uma
permissão da parte das autoridades para podermos continuar as nossas
reuniões daquela maneira. Mas, não estava autorizado a pregar nos
territórios proibidos. Deus operou em seus corações de maneira
maravilhosa, resolvendo aquele problema de forma muito peculiar e
engraçada. Pouco tempo depois disso, o avivamento começou. O diabo
tentou de tudo para impedir o seu progresso. Contudo, se nos submetermos
completamente a Deus e se andarmos somente para glorificá-Lo, o Senhor
baralha todos os pensamentos de Satanás e dá a volta por cima porque,
para Deus, nada é impossível.
Dois ou três dias depois de o avivamento
haver começado, veio uma nova proibição de alguém muito influente e
muito poderoso a nível do governo que não queria nada com o
Cristianismo. Ele alegou que o território onde nos encontrávamos era
terreno industrial e não nos podíamos congregar naquela área. Eu pensei
que seria o fim do nosso avivamento. Mas, Deus não pode ser preso e
acorrentado. O Seu Espírito não pode ser limitado e impedido de operar.
É verdade que não podíamos pregar mais naquela zona, mas, o fogo que
Deus acendeu pegava fundo nas vidas das pessoas e os corações são o Seu
território. Deus saiu a pregar em vez de nós. Trazia almas, umas atrás
das outras e ainda removia todos os impedimentos em nosso caminho.
Quando o diabo viu que não obteve
sucesso ao tentar impedir o progresso do avivamento pelo lado de fora,
tentou pelo lado de dentro. O diabo procurava pessoas para serem usadas
pelo lado de dentro do avivamento. Mesmo que sempre tivéssemos a noção e
a consciência de que Deus sempre esteve conosco, eu tive (pessoalmente)
uma enorme dificuldade em aceitar todas as limitações exteriores que
eram impostas contra a obra de Deus. Por essa razão, eu orei a Deus de
forma audaz e emotiva. Um certo dia, caminhava e atravessei a
‘fronteira’ do território proibido e veio-me a promessa de Deus: “O povo
e a terra te darei como herança”. Fiquei muito feliz ao ouvir aquela
promessa! Clamei de regozijo: “Senhor, mas, é impossível! Proibiram-me
de pregar neste território e não posso pisar nele”. Mas, a palavra que
Deus me falou cumpriu-se escrupulosamente.
Como era de esperar, continuamos orando
e reunindo como congregação, ainda que às escondidas. Um certo dia, veio
uma senhora que trabalhava na Câmara (Prefeitura) pedindo-me que orasse
por ela, pois, dizia que estava possessa de demônios. O pensamento veio
a mim que ela, provavelmente, estava sendo sincera, mas, resolvi falar
de outra maneira. Então, disse-lhe que não podia orar por ela porque
havia sido proibido pelo governo local e que a Bíblia ensina-nos a
sermos obedientes aos nossos governos. Expliquei todos os detalhes à
senhora e mandei-a de volta sem atender o seu pedido. Ela foi ter com o
Sr. Governador para contra-lhe. Uns dias depois, o Sr. Governador
convocou-me para outra reunião. Queria saber por que razão me recusara a
orar pela senhora que trabalhava para ele. Expliquei-lhe que não podia
orar por ela porque havia sido proibido pelas autoridades de fazê-lo.
“Ninguém pode impedir o senhor de orar
por alguém!” Disse-me.
“Mas”, respondi, “eu só oro (por casos
destes) juntamente com minha congregação e com meus cooperadores. Não
oro sozinho”.
O Sr. Governador ficou calado por uns
momentos e ficou pensando. No final disse:
“Pode ir, o senhor pode orar e fazer o
seu trabalho!”
Como nos alegramos! Aquela ordem foi
como uma rachadura numa muralha forte que acabou por quebrar-se em
pedaços mais tarde. Já nos podíamos reunir novamente! Já podíamos orar
por pessoas. Daquela senhora que trabalhava na Câmara, saíram legiões de
demônios. Eram dos tais que recusavam sair se não derramassem sangue. E
isso aconteceu. Durante aquelas horas que se passaram, ela cuspia sangue
da sua boca.
Pouco tempo depois disso, estávamos
reunidos em meu quarto e orávamos. Naquele tempo, eu ficava na casa de
meu irmão, em Mapumulo. Era uma casa enorme. Tinha muitos quartos e
ninguém tinha como saber, pelo lado de fora, em que quarto estávamos.
Enquanto orávamos, bateram fortemente na janela. Levantei-me dos meus
joelhos e abri a janela. Estavam dois homens desconhecidos do lado de
fora. Diziam que tinham vindo chamar-me. A uns dez quilômetros dali
havia falecido um homem que eu nunca conheci e o seu último desejo era
que fosse eu a fazer o seu funeral. O último desejo de um Zulu é, para
eles, algo sagrado. Sem pensar e sem perguntar ao Senhor o que devia
fazer, dei-lhes a primeira resposta que me veio à cabeça. Disse que não
podia atender o seu pedido. Amigos, a verdade é que as nossas próprias
línguas podem servir de instrumentos para as forças do inferno. Quantas
vezes falamos demais ou depressa demais? A língua chega a agir mais
depressa que o cérebro, pois, conseguimos falar antes de pensar! Dei-me
conta de ter agido mal. Voltei atrás e perguntei-lhes se podiam esperar
enquanto eu ia colocar a questão diante de Deus. Imaginei que com oração
as coisas fossem ficar mais claras e ficasse sabendo o que deveria
fazer.
Convidamos os dois homens a passar
aquela noite conosco. No dia seguinte pedimos para irem falar com o
Governador do Distrito e contarem-lhe tudo sobre o último desejo do
morto. Sendo feito dessa maneira, já não seria um problema, pois, seria
um desejo da própria comunidade que desejava respeitar o último desejo
da pessoa que havia falecido. O Sr. Governador tinha consciência que
qualquer Zulu faz qualquer coisa para cumprir o último desejo de um
morto. Eles temem os problemas que os mortos lhes podem trazer se não
cumprirem os seus últimos desejos. Chegados ao edifício do Governo
Distrital, foram enviados para os deputados que lidam com aquele tipo de
assuntos. O que iriam dizer aquelas pessoas que não me queriam ouvir e
nem me ver em seu bairro ou distrito? Resolveram que não podiam proibir
o último desejo de um morto, ainda que fosse pagão. Os pagãos negros
acreditam que se o último desejo de alguém não for cumprido, o seu
espírito irá persegui-los e perturbá-los por muito tempo. Os que tinham
poder para decidir não tiveram outra opção senão autorizarem que o
funeral fosse conduzido por mim em zona proibida. Deram-me permissão
para ir para o território proibido em um certo horário específico.
Deram-me até duas horas para cumprir o meu dever. Depois das duas horas,
deveria sair sem demoras do território e não podia permanecer lá nem
mais um minuto. Deram-me uma autorização por escrito e ficamos tão
alegres com aquela decisão que quase pulamos no ar de alegria. Fomos
para o lugar do funeral na hora e dia marcados. Quando lá chegámos, já
havia centenas de pessoas esperando. Que oportunidade maravilhosa para
pregarmos o Evangelho! Mais parecia uma festa de casamento que um
funeral! Não havia lamentos nem choros porque Deus abençoou tudo e
sentíamos que estávamos em terreno conquistado pessoalmente por Jesus.
Uns dias depois, outra pessoa faleceu no
mesmo Distrito. O último desejo era o mesmo: que eu fosse fazer o
funeral. Mandamos os homens ao Sr. Governador novamente. Ele tornou a
enviá-los e toda a história repetiu-se. A consequência foi que tivemos
novamente outra oportunidade para trazer o Evangelho ao Distrito. Não
passaram muitos dias e outra pessoa faleceu cujo último desejo era que
eu fizesse o seu funeral também. Sabem, nós servimos a Pessoa que tem em
Suas mãos as próprias chaves da morte e da Vida. Nada é impossível para
Ele. Deus já uma vez usou Faraó para glorificar o Seu nome. Ainda hoje
Deus usa-se de pessoas duras e que não ouvem, cujos corações não sentem
as coisas do Céu. Ainda se glorifica dessa maneira.
Em poucas semanas já haviam falecido
cerca de dez pessoas com o ultimo desejo de serem enterradas por mim.
Todos os falecidos pertenciam ao Distrito que me foi vedado e no qual
não podia entrar ou visitar. Por fim, O Sr. Governador ficou muito irado
com toda a história e disse aos seus funcionários:
“Eu não vos entendo! Por um lado, vocês
proíbem este homem de pregar naquele distrito. Mas, por outro lado,
dão-lhe permissão para fazer os funerais e entrar nos territórios
proibidos! Não vos entendo!”
Durante aqueles funerais, Deus
transformou milhares de pessoas na zona em questão. Assim, através da
morte de umas poucas pessoas, Deus salvou milhares de almas. Muitas
pessoas chegaram àquela nova vida que só encontramos em Cristo.
Deus foi abrindo as portas para
penetrarmos cada vez mais fundo em território que não podíamos visitar e
fomos espalhando o Evangelho. Hoje, as portas que se abriram naquela
época ainda se encontram abertas para nós. Nunca mais se fecharam. Até
os líderes que nos proibiam de entrar no distrito acabaram por tornar-se
nossos amigos. Convidam-nos muitas vezes para visitarmos a sua área.
Depois daqueles funerais, as pessoas todas, incluindo aquelas que
apresentaram queixa, começaram a dizer o seguinte:
“Esse é o tipo de Evangelho que queremos
ouvir! Deixem esses pregadores entrar em nossos territórios para nos
trazerem o Evangelho!”
Mas, aquilo que aconteceu não foi caso
isolado. Sempre que Deus opera de verdade, o diabo surge com formas de
resistência e entra em ação de uma ou de outra maneira. Um avivamento
onde só aparecem coisas positivas não pode, de maneira nenhuma, estar
sendo operado pelo Espírito Santo. Pode estar sendo operado por outro
espírito, mas, não pelo de Deus. Talvez pergunte por que razão digo
isto. A razão principal é que o inimigo não descansa. Ele não pára
quieto. Se o inimigo ficar quieto, é porque o seu reino não está sendo
ameaçado. Sempre que o diabo se ergue contra um avivamento, esse é um
dos sinais que o avivamento é genuíno e que o seu reino está sofrendo um
rude golpe. Sendo assim, o diabo reúne os seus poderes e tudo que tem
para fazer frente à perda do seu território, reino ou influência. E o
diabo encontra esses canais em todo lado e, muito especialmente, entre
aqueles que são crentes fingidos ou enganados.
No tempo de Jesus não era diferente de
hoje. Todos os Fariseus eram os mais crentes e os mais fingidos também.
Hoje usamos a palavra “Fariseu” como um palavra insultuosa e feia. Mas,
naquele tempo era sinônimo de prestígio e era muito prestigiante ser-se
chamado Fariseu. Um Fariseu jejuava duas vezes por semana, dava os seus
dízimos, orava muito e muitas vezes e fazia muitas coisas que os outros
não faziam. Eram pessoas que oravam intensamente pela vinda do Messias.
No fim, as suas orações foram atendidas e o Messias foi enviado à terra
– à sua terra. Contudo, quando o Messias chegou, odiaram-no e
crucificaram-no. Os Fariseus amaldiçoaram o Senhor Jesus porque Ele não
veio até eles no formato que eles haviam imaginado ou pré-concebido.
Isso acabou por acontecer dessa maneira porque eles, durante os anos e
séculos anteriores enquanto oravam pela vinda do Messias, paralelamente
faziam as suas próprias coisas e criavam as suas próprias doutrinas e
imaginações sobre como o Messias devia ser. Eles criaram imaginações
próprias sobre o tipo de Messias que preferiam. Esqueceram que o Jesus
já existia e não podia ser outra pessoa para além daquilo que já era e
sempre foi. Imaginaram um tipo de rei que lhes agradasse e fizesse
aquilo que desejavam conseguir. Talvez pensassem que seria um Rei a
erguer o Seu trono no Monte das Oliveiras. Eles eram os que tinham as
promessas da Bíblia – ou assim pensavam – e acreditavam que essas
promessas substanciavam a sua ideia de Messias. Mas, como Jesus
chegou até eles de uma outra maneira que não imaginavam, não o
aceitaram. “Pode alguma coisa boa vir de Nazaré?” Diziam. “Nós sabemos
de onde este vem!” A Palavra de Deus diz que quando o Messias chegar,
não saberemos de onde Ele vem, porque aparecerá de repente como um raio
inesperado. “E diziam: Não é este Jesus, o filho de José, cujo pai e mãe
nós conhecemos? Como, pois, diz ele: Desci do céu?” (João 6:42). “Não é
este o filho do carpinteiro? E não se chama sua mãe Maria e seus irmãos
Tiago, José, Simão e Judas? E não estão entre nós todas as suas irmãs?
De onde lhe veio, pois, tudo isto?” (Mat.13:55,56). E eram esses os
argumentos fingidos dos Fariseus que pensavam que sabiam tudo. Eu desejo
realçar aqui que é uma coisa muitíssimo perigosa ter a verdade pela
metade, experimentá-la em parte e conhecer uma coisa em parte. É assim
que as pessoas mais espirituais e mais religiosas se tornam os piores e
mais mortais inimigos de Jesus e da Sua causa. E foi assim com os
Fariseus: eles foram os que se opuseram ao Enviado de Deus que pretendia
salvá-los a todos sem exceção. Ainda que eram eles mesmos quem orava
pela vinda do Messias, rejeitaram-no e cuspiram n’Ele. As suas
imaginações e os seus pensamentos e doutrinas impediram não apenas que
experimentassem um verdadeiro avivamento vindo do Céu, mas, com o tempo,
fez com que se tornassem verdadeiros inimigos dele e de Jesus.
Muitos séculos se passaram desde então,
mas, mesmo assim isso deve servir de lição para qualquer um de nós que
se considera crente e ora por avivamento. Tal como acontecia no tempo
que Jesus andou sobre a terra, hoje acontece o mesma coisa da mesma
forma e pelas mesmas razões. Devemos ter cuidados especiais precisamente
com todos aqueles que oram por um avivamento genuíno. Quando começa,
pode não chegar no formato que desejam. Jesus não disse apenas por dizer
que quando o novo vinho chegasse não fosse colocado em odres velhos. Bem
avisou para nunca tentarmos colocar vinho novo em odres velhos, pois,
podemos tornar-nos inimigos de um avivamento verdadeiro dessa forma. Os
odres velhos rebentam e derramam o vinho novo e estará irremediavelmente
perdido e desperdiçado. Se Jesus conseguir que o Seu vinho novo flua
através de nós em direcção ao mundo, então temos de levar em conta que
os nossos odres, que muito estimamos por nós, terão de tornar-se novos
também, tal e qual o vinho. Noutras palavras, se realmente desejarmos
que Jesus renove os nossos espíritos e corações e o seu formato de forma
clara e permanente, devemos estar igualmente preparados para negar os
nossos próprios caminhos e meios que tanto prezamos e amamos. Devemos
estar dispostos a abandonar para sempre os nossos próprios argumentos,
ideias e imaginações ou idealizações de como Deus opera ou deve operar.
Fazendo isso, devemos, depois, poder aceitar os caminhos e os modos de
Jesus atuar. Não poderá haver um avivamento genuíno até ao dia que
estivermos dispostos a abandonar tudo que somos e pensamos e imaginamos
acerca de Deus e de nós mesmos e se não nos humilharmos ao ponto de
deixarmos de existir para sermos outros e estarmos conforme o Céu. Nunca
haverá um avivamento genuíno até que as pessoas tomem o rumo de Deus,
para que Ele faça a Sua vontade e não a deles. Por Ele ser Deus, tem
todos os direitos exclusivos sobre as nossas vidas e maneiras de ser e
de pensar. E se não estivermos na disposição de Deus e não formos um
povo afim, certamente que nos tornaremos os maiores opositores do
avivamento de Deus assim que ele começar. Conheço pessoalmente um certo
homem que dizia assim: “Quando orarmos por um avivamento, devemos vigiar
e guardar (segurar) firmes os nossos corações para não nos tornarmos
inimigos do avivamento pelo qual oramos a Deus”. Apesar das suas
palavras de sabedoria, esse homem tornou-se um inimigo da obra genuína
de Deus. Assim que o avivamento chegou, ele foi um dos principais
opositores dessa obra. A razão por que ele se tornou um opositor desse
avivamento, foi Deus ter começado a usar pessoas que ele não esperava
que usasse. Também dizia que o avivamento começou em um lugar onde não
devia ter começado, entre as pessoas que ele não imaginava.
Muitos anos atrás, um certo homem
trabalhava na Província do Cabo Ocidental com Andrew Murray. Era um
pastor holandês da Igreja Reformada. No distrito onde trabalhava, Deus
havia concedido um avivamento. Tudo começou durante uma reunião de
oração onde se pedia um avivamento genuíno. Entre o povo ali presente,
estava uma moça de cor, a qual sentava-se sempre nas ultimas filas. Ela
orou e implorou a Deus que descesse sobre eles. No momento que ela
terminou de orar, Deus atendeu o seu pedido. O Espírito Santo desceu e
operou poderosamente. Muitos começaram a chorar como crianças que haviam
apanhado uma enorme surra e outros oravam para se converterem logo ali.
Assim que Andrew Murray viu aquilo, tentou estancar o movimento de
imediato. Ele não concordava com aquilo. Tentou resistir ao Espírito
Santo e impedi-Lo de operar porque ele imaginava uma outra forma de
avivamento que decorresse de uma outra maneira pré-concebida. Mesmo
sendo ele o pastor daquela congregação e tendo ele sido o principal
pedinte de um avivamento, foi ele quem se manifestou, em primeiro lugar,
contra Deus assim que tudo começou. Ele não esperava que Deus chegasse
daquela maneira. Estava convencido que Deus não faria as coisas daquela
maneira. Mas, pela graça de Deus, Jesus confrontou-o logo ali e mandou
que não fizesse nenhuma tentativa de impedir a obra do Espírito Santo.
Assim que Andrew Murray se apercebeu da gravidade da sua atuação e da
sua infértil maneira de pensar, pediu a Jesus para ser perdoado e para
transformá-lo num instrumento que estivesse totalmente e exclusivamente
de acordo com a vontade de Deus. Assim, podemos ver que aqueles que oram
a Deus pedindo um avivamento genuíno podem tornar-se os principais
opositores de uma verdadeira obra do Espírito Santo de Deus. Quando as
coisas acontecem de forma que não esperamos, podemos colocar-nos numa
situação contrária à de Deus.
Também experimentamos algo semelhante
entre nós. No final de 1966, na fase inicial do avivamento, nós
regozijávamo-nos de todo o coração e dizíamos:
“Que vitória! Agora toda a igreja irá
ficar feliz e todo o mundo Evangélico triunfará juntamente conosco e se
alegrará com a obra de Deus! Ficarão felizes por, finalmente, as sombras
e as trevas irem perder o seu poder e o seu domínio nas igrejas!”
Quão grande foi o nosso desapontamento
em relação às igrejas! Os Cristãos tornaram-se facilmente em opositores
principais da verdadeira obra do Espírito Santo. Durante cerca de dez
anos nenhuma porta de nenhuma Igreja se abriu. Estavam todas encerradas
e seladas. Nenhuma congregação de nenhuma denominação viu com bons olhos
ou apreciou a obra poderosa de Jesus em nosso meio. As suas portas
permaneceram seladas para impedirem a entrada de Jesus em seu meio. Isso
durou até as igrejas tradicionais ficarem plenamente convencidas que
aquilo era, realmente, uma obra de Jesus. Depois de verificarem os
frutos que permaneciam e as vidas das pessoas realmente transformadas,
começaram a aceitar a obra de Deus.
Nos tempos de John Wesley foram os
Anglicanos os principais opositores do avivamento que se deu na altura.
Foram eles que armaram os exércitos Cristãos contra Deus. Wesley foi
impedido de pregar em qualquer igreja. Por essa razão, foi um dia ao
cemitério e colocou-se diante do tumulo de seu falecido pai e dizia
metaforicamente: “Agora, ninguém pode impedir-me de pregar a verdade.
Aqui está meu pai falecido e só aqui posso pregar livremente!” Pois é,
amigos, é muito custoso sermos verdadeiros filhos de Deus inteiramente
de acordo com a Bíblia. Se formos honestos seguindo Jesus, seremos
perseguidos de qualquer jeito. Sempre que existirem falatórios,
mentiras, más-línguas, perseguições e muitas tentativas de lançar terra
sobre plantinhas já nascidas da semente ou em cima de fruto verdadeiro
vindo de boa semente, é quase sempre um bom sinal. Alguém pode
mostrar-me onde existe um verdadeiro homem de Deus ou profeta que fale a
verdade sem hesitar sem que seja perseguido? Podem mostrar-me um homem
desses que nunca seja molestado e perseguido com boatos e falsos
relatórios de heresia ou de outras mentiras? Raramente se falará bem de
tais pessoas em círculos Cristãos. Foi dito do nosso Senhor Jesus que
Ele fazia o que fazia através do poder de Satanás e que expulsava
demônios pelo poder de Belzebu. E foram os crentes que oravam pela vinda
do Messias quem afirmou isso convictamente. Por essa razão, Jesus avisou
todos os seus verdadeiros discípulos de antemão: “Basta ao discípulo ser
como seu mestre e ao servo como o seu senhor. Se chamaram Belzebu ao pai
de família, quanto mais aos seus domésticos?” (Mat.10:25 e 5:12).
DEUS É UM FOGO CONSUMIDOR
Quando falamos de avivamento, podemos
compará-lo com o sol. Quando o sol nasce ou se põe no horizonte, parece
uma bola vermelha para a qual podemos olhar e ficar maravilhados. Muitos
mal conseguem distinguir entre o sol e a lua em certas circunstâncias,
pois, o sol fica sem força e sem brilho. Contudo, tudo muda quando o sol
brilha em toda a sua força no calor do meio-dia. Tudo fica claro. Nessas
alturas, ninguém precisa estar a convencer-se que está ao sol, pois, o
sol é real demais e a sua luz também. Todos são capazes de sentir o seu
calor até mesmo dentro de casa. Mas, quando o sol se põe no horizonte,
todos podem olhar para ele novamente porque perde a sua força e perde
aquela intensidade capaz de cegar pessoas. Assim é a vida Cristã normal.
Sempre que Deus se retira da vida Cristã, a Sua luz fica fraca e até
podemos olhar diretamente para o sol. Contudo, o auge de um avivamento
pode ser comparado ao sol na sua máxima força. Então, Deus opera em Sua
glória, poder, majestade, grandeza, esplendor manifestando toda a Sua
santidade. Nessas ocasiões, somos capazes de experimentar coisas que
estão muito além do nosso entendimento ou imaginação.
No tempo da Igreja Primitiva também era
assim. Pouco tempo depois de Pentecostes, Ananias morria por haver
mentido. Poucas horas depois, a sua esposa também morreu pelo mesmo
motivo. Contudo, hoje podem mesmo haver divórcios dentro das igrejas e
congregações e nada acontece! As pessoas formam grupos onde a hipocrisia
é praticada e ninguém sente a dor do castigo sobre tal pecado horrendo!
Todos continuam com suas vidas como se nada estivesse acontecendo e
vivem na mais completa normalidade! Mas, sabemos que quando Jesus voltar
em todo o Seu poder e na virtude que o ressuscitou dos mortos ou quando
descer e manifestar-se com o mesmo poder às pessoas dentro de um
avivamento, então acontecem coisas que nos fazem pasmar por causa dessa
aparente tranquilidade.
Desejo, agora, dar a conhecer algumas
das muitas coisas que aconteceram em nosso meio para poderem ter uma
ideia do que, normalmente, acontece num avivamento. Em primeiro lugar,
desejo contar-vos o que aconteceu em Mapumulo. O nosso pequeno grupo de
Cristãos reunia-se ali implorando a Deus por um avivamento.
“Senhor, disseste na Tua palavra: ‘Vim
lançar fogo na terra; e que mais quero, se já está aceso?’ Senhor,
eis-nos aqui. Pedimos de todo coração que lances esse fogo em nosso
meio. Faz aquilo que tanto desejas. Cumpre aquilo para que desceste à
terra”.
Falando humanamente, fizemos o Senhor
lembrar as Suas próprias palavras, conforme a promessa em Luc.3:16:
“Esse vos batizará com o Espírito Santo e com fogo!” Foi precisamente
isso que nos levou a orar:
“Senhor, imploramos-Te que venhas lançar
esse fogo sobre nós”.
Então, aconteceu algo a que não
estávamos habituados. Uma pessoa na qual tínhamos a máxima confiança,
clamou em alta voz, dizendo:
“Ai de mim! Os meus olhos queimam como
se estivessem no fogo! Estou sendo consumido! Tenho olhos impuros em
mim! Ó Senhor, imploro-Te que me perdoes!”
“Ai de mim, pois minha língua é impura…
meus lábios também” dizia outro.
Aquilo levou-nos a pensar no que
aconteceu ao profeta Isaías. Ele viu o Senhor sentado em Seu alto e
sublime trono. O Seu séquito enchia o templo e os anjos clamavam:
“Santo, Santo, Santo é o SENHOR dos Exércitos”. Isaías clamou em agonia
e disse: “Ai de mim! Pois estou perdido; porque sou um homem de lábios
impuros e habito no meio de um povo de impuros lábios; os meus olhos
viram o Rei, o SENHOR dos Exércitos”, Is.6:5. E nós experimentamos o
mesmo e, pela primeira vez, vimos o que significam as palavras em
Heb.12.29, as quais dizem que Deus é um fogo consumidor!
Durante outro culto, uma outra pessoa
começou a gritar durante a reunião de oração: “Os meus pés estão ardendo
em chamas!” Na maior angustia, aquele homem tirou os sapatos dos seus
pés, lançando-os contra a parede em frente. Começou a pular no chão como
que desejando apagar um fogo invisível. Nenhum de nós via qualquer
chama. Era, provavelmente, uma experiencia espiritual. Não sabemos
explicar aquilo. Aquele pobre homem sentia tantas dores que chegamos a
temer que fosse morrer. Deus havia começado a estar em nosso meio e
falava a cada um sobre os seus pecados, especificando-os. Falava com
cada um aquilo que cada um tinha. Deus tocava naqueles pontos onde cada
um ainda se encontrava impuro. Poderia tentar explicar aqui quais as
razões por que essas pessoas experimentavam todas essas coisas, mas,
podem imaginar. Pode fazer uma pequena ideia do que significa alguém ter
olhos impuros: via as coisas do mundo como novelas; lábios e língua
impura, pés impuros que andavam em caminhos que não eram os melhores.
No nosso meio havia um pregador que
havia sido uma grande bênção para muitos. Muitas almas haviam-se
convertido e libertado através dos seus esforços. Esse mesmo pregador,
começou a clamar:
“Senhor, tem misericórdia de mim, um
pecador! Estou perdido! Estou perecendo!”
Aquele pregador contou-nos, depois, que
durante a reunião de oração sentia-se como se tivesse rebentado em
vários pedaços e tivesse sido cortado ao meio, por dentro. Ele usou as
mesmas palavras que Jesus usou naquela parábola do servo infiel: “Mas se
aquele mau servo disser no seu coração: O meu senhor tarde virá; E
começar a espancar os seus conservos e a comer e a beber com os ébrios,
virá o senhor daquele servo num dia em que o não espera, e à hora em que
ele não sabe, e separá-lo-á (cortá-lo-á ao meio) e destinará a
sua parte com os hipócritas; ali haverá pranto e ranger de dentes”.
Aquele irmão estava numa enorme agonia
por causa do que lhe estava acontecendo e pediu-nos para orarmos por
ele. Formamos um círculo à sua volta e começamos a orar. Durante a
oração, ele levantou-se repentinamente de seus joelhos, correu para o
meio da sala e começou a rastejar pelo chão, em agonia. Clamou bem
alto:
“Estou aqui nas mais densas trevas! Ó
que escuridão terrível! Não consigo enxergar a minha mão sequer!”
Aquilo aconteceu enquanto estava um sol
radiante. Quando ele foi para o meio da sala, paramos de orar. Foi a
primeira vez que experimentamos uma coisa tão horrível. Não sabíamos o
que fazer, ou como agir. Ele continuou gritando:
“Fui lançado nas mais densas trevas
exteriores! Aqui há pranto e ranger de dentes!”
Amigos, aquelas palavras citadas das
Escrituras fez-nos entender o que se passava com aquele pregador Zulu.
Insistimos na nossa oração e dissemos:
“Senhor, perdoa o teu servo, tem
misericórdia”.
Quando tornou a voltar a ele, explicou o
que lhe aconteceu da seguinte maneira:
“Não tenho palavras para descrever o que
me aconteceu! As trevas onde me achei eram tão densas, tão palpáveis que
eu não acho que possa haver coisa pior em toda a criação!”
Pedimos encarecidamente ao homem para
confessar o seu pecado logo ali, de imediato e para humilhar-se diante
de Deus trazendo os seus pecados para a luz. Não o fez. Uns dias depois,
morreu e a sua morte foi horrível, tal como a de Judas Iscariotes. O que
aconteceu com ele, não desejo a ninguém. As pessoas que o enterraram
contaram-nos, mais tarde, como ele estava. Depois da sua morte veio à
luz o seu pecado. Ficamos a saber quais os pecados que mantinha
secretos. As coisas que se realçaram foi: o ter-se envolvido com as
meninas da igreja; as críticas que fazia aos servos de Deus e a sua
má-língua amargurada. Ele falava dos outros por trás e fazia fofocas
sobre os outros filhos de Deus. O Juízo de Deus havia caído sobre ele.
Foi daquela maneira que experimentamos uma das vertentes do verdadeiro
batismo de fogo.
Em uma outra região, havia muitas
pessoas que haviam-se reunido em nome do Senhor. Oravam com intensidade
de maneira muito séria. De repente, ouvimos um som de vento, o qual
podemos comparar com aquele som que um jato faz quando passa sobre nós à
baixa altitude. Deus desceu sobre aquele lugar como no tempo dos
discípulos e o lugar tremeu. As janelas, o teto e o lugar tremeram como
se fosse um tremor de terra. Entre o povo ali reunido, estava um certo
homem que era temido por toda a tribo. Quando ele queria matar alguém,
fazia-o com o maior prazer malévolo e com um sangue frio de arrepiar.
Muitas vezes, ia, com uma aparência calma, chegava perto da vítima e
transpassava-o com a sua lança sem pestanejar. Era, deveras, um pagão
endurecido e sanguinário. Não temia ninguém e não deixava qualquer
vítima escapar das suas mãos. Ninguém sabe como aconteceu e como aquele
homem foi parar no meio do povo que se reunia para orar a Jesus. Mas,
estava lá. Claro que foi levado por Deus e só através da providência de
Deus aquele assassino pôde ver o poder de Deus manifestar-se. Quando viu
o som forte daquele vento e o teto tremendo juntamente com as paredes,
caiu sobre os seus joelhos, cheio de temor e tremendo. Uma convicção de
pecado profunda apoderou-se dele. Antes de abandonar o local de culto,
havia-se entregue a Jesus completamente e havia limpo toda a sua vida de
pecado, confessando cada pecado que cometeu. Desde então, tornou-se uma
pessoa completamente nova e ainda hoje é uma testemunha viva para Jesus.
É, ainda, um grande exemplo para todos os pagãos da região.
Mais ou menos a uns 150 km de Mapumulo,
também houve Cristãos que se reuniram para oração. Imploravam a Deus que
viesse incendiar a sua região cheia de pecado e crime. O local onde se
dava aquela reunião de oração era pequeno demais. Por isso, todos os
móveis haviam sido removidos para que coubesse mais gente. Alguns
sentavam-se em cadeiras e outros no chão. Entre eles, estava uma mulher
que era conhecida como uma Cristã fiel. Sob aquelas orações, ela
ergueu-se de repente e, andando de um lado para o outro, exclamou:
“Ai de mim! Sou indigna! Não tenho
dignidade de estar aqui neste lugar! Como me atrevi a vir para aqui e
comparecer diante da face do Senhor com todos os meus pecados? Não devia
ter vindo para cá!”
Ela pulava no chão como se o chão
estivesse em chamas ou muito quente. Suava muito e clamava fortemente.
“Ó, estou-me queimando! Ai de mim! Quão
grandes são as minhas culpas!”
Logo de seguida, pediu licença a todos
respeitosamente e saiu do local de culto. Ela não saiu andando, mas,
correndo muito rapidamente. Sem descanso, correu a encosta toda até
chegar a casa. Assim que chegou lá, pediu perdão ao marido.
“Jesus criou-me, inicialmente, para ser
uma ajuda para ti, meu esposo. Contudo, eu não tenho cumprido essa
missão. Não tenho seguido os caminhos do Senhor em relação a ti. Nunca
fui o melhor exemplo. Nunca fui uma verdadeira esposa de acordo com as
Escriturasi! Por favor, meu marido, podes perdoa-me já?”
Saiu dali a correr e foi procurar os
filhos.
“Meus filhos, perdoem-me. Eu nunca fui
uma boa mãe para vocês. Quantas vezes gritei convosco e irei-me muito!
Disse-vos coisas que nunca deveria ter dito! Disse outras da maneira
errada. Por favor, perdoem-me!”
Depois, procurou todos os vizinhos.
Humilhou-se diante deles e fez paz com aqueles com quem tinha más
relações. Pedia-lhes perdão por haver sido antipática e gritado com
muitos deles. Implorou-lhes o seu perdão e dizia que era uma grande
pecadora.
Depois, foi falar com o patrão para quem
trabalhava, um homem branco. E, assim, produziu frutos dignos de
arrependimento. Voltou para o local de culto e os Cristãos ainda se
encontravam lá. Ajoelhou-se na frente de todos e orou:
“Senhor, estou muito agradecida por
ainda me teres dado esta oportunidade de me arranjar e de colocar minha
vida em ordem. Obrigado por esta última oportunidade que me deste.
Agradeço a Tua misericórdia. Agora, recebe a minha vida em tuas mãos.
Agradeço-Te por me ainda teres dado esta derradeira oportunidade de ser
perdoada de todos os meus pecados e de haver pedido perdão a todos
aqueles contra quem pequei e a quem fiz mal, tanto através de ações como
de palavras!”
Muitos anos já se passaram desde então.
Mas, ainda hoje esta mulher é uma testemunha viva de Jesus. Sua vida é
um exemplo vindo do Céu. Ela experimentou pessoalmente e ao vivo que
Deus não se deixa escarnecer. Experimentou a real presença do Espírito
Santo e sabe do que fala quando fala da Sua santidade. Aquela convicção
profunda de pecado não ficou sem fruto. O esposo dela, que era um
alcoólico e vivia uma vida de escravidão ao álcool, converteu-se logo de
seguida, também, através do exemplo da sua vida. Ele próprio tornou-se
um grande exemplo para todos os pagãos ao redor. Todos os seus filhos
converteram-se também e todos servem ao Senhor de todo coração. Três
deles tornaram-se missionários e são cooperadores na nossa missão.
Em Malaquias 3:3, lemos sobre Jesus: “E
assentar-se-á como fundidor e purificador de prata; e purificará os
filhos de Levi e os refinará como ouro e como prata; então, ao Senhor
trarão oferta em justiça”.
Eu não sei se já viu ouro a ser
refinado, se já assistiu o processo ao vivo. Eu já tive o privilégio de
assistir atentamente e com interesse à purificação do ouro. E todas as
vezes que assisti, veio-me à ideia a maneira que Jesus nos purifica, tal
e qual o fundidor purifica o ouro e a prata. O fundidor não tem pressa.
Senta-se quietinho em seu lugar, olhando e esperando que o ouro passe
pelo fogo. Abençoados são todos aqueles que durante esta vida conseguem
passar por esse processo de purificação total. Bem-aventurados são todos
aqueles que são purificados pelo Senhor pessoalmente. Pois, é melhor que
aconteça agora que passarmos pelo Seu fogo no final. E todos terão,
necessariamente, de passar por esse fogo, seja agora ou depois. Ai de
todos aqueles que nunca passaram pelo fogo de Deus enquanto viveram
nesta terra, porque, no final, passarão por esse fogo para serem
julgados!
Ainda tenho outro caso que gostaria de
relatar. Em 1967, uma jovem moça converteu-se. O seu nome era Lilimo.
Ela passou por uma conversão muito profunda e, depois da conversão, o
seu coração estava em chama para Jesus. Ia incansavelmente de cidade em
cidade, de vila em vila pregando a verdade de Jesus. Clamava às pessoas
para se converterem. E quando chegavam, ela dizia: “Não se venham
converter se não estão completamente decididos a servir ao Senhor de
todo o vosso coração porque Deus não permite que escarneçam d’Ele!”
Muitas e muitas pessoas convertiam-se através dos seus apelos.
Abandonavam as suas vidas antigas para seguir Jesus em uma nova vida.
Infelizmente, o seu primeiro amor começou a esfriar por alguma razão.
Durou pouco. Pouco tempo depois, a sua vida espiritual começou a
deteriorar-se e a enfraquecer de dia para dia. Já não frequentava as
reuniões de oração com a mesma assiduidade e pontualidade; e já não
frequentava os cultos com a mesma regularidade. Dizia, muitas vezes, que
se sentia muito cansada e resolvia ficar em casa. O fogo de sua vida foi
diminuindo até que já não restava nada de seu amor inicial por Jesus.
Começou a levar uma vida muito má. Andava conquistando rapazes e
tornou-se uma conquistadora da carne. Também andava com homens casados e
a sua vida tornou-se desgostosamente suja pela prostituição. No final,
esperava um filho de um homem que já tinha três mulheres. Tornou-se a
quarta esposa dele.
Nove anos mais tarde, em 1976, chegou à
nossa missão de surpresa, para assistir ao culto de Domingo. Eu e outros
missionários estávamos de saída para trabalharmos noutros campos
missionários naquela manhã. Mas, antes de sair, vi-a e perguntei-lhe
como estava e que podíamos fazer por ela. Ela não escondeu a sua
vergonha e, olhando para o chão, disse que tinha um enorme desejo de
voltar a estar conosco. Queria voltar.
“Eu não tenho tempo, agora, para
conversarmos porque estou de saída para outros cultos”, respondi. “Mas,
hoje haverá um culto aqui que será liderado por outros missionários e
cooperadores. Podes assistir a esse culto”.
Mais tarde, vim a saber que estiveram
aproximadamente mil pessoas naquele culto. Sentavam-se, como sempre, à
direita e à esquerda do corredor principal que havia entre o povo.
Lilimo sentou-se quase na frente, em uma das filas mais perto do
púlpito. Era um dia lindo, sem uma nuvem à vista. Não havia sinais de
nuvens sequer. Mas, assim que o culto começou, apareceu uma nuvem do
nada, a qual escurecia muito rapidamente como acontece com as nuvens
carregadas de chuva. Aquela formação de nuvens aglomerou-se mesmo por
cima do local de culto. À volta da nuvem, o céu continuava azul e lindo.
Parecia uma formação de nuvens negras isoladas que pairavam sozinhas
mesmo por cima do local onde se dava o culto. Um dos cooperadores levou
a minha filha (a qual tinha apenas alguns meses de idade) para o culto
também. Colocou a criança no corredor muito perto do local onde Lilimo
estava sentada. Enquanto decorria o culto, um raio saiu daquela nuvem
negra e atingiu Lilimo. As pessoas que estavam à volta dela não sofreram
nada e somente ela foi atingida. A força daquele raio era tal que ela
foi projetada pelo ar e caiu no corredor entre as pessoas. Ficou imóvel
e desmaiada no chão de cimento. Veio a si somente horas depois e só
conseguia sussurrar. Um dos lados do seu corpo estava paralisado e não
mexia.
“Quero falar com o pastor”, pedia
sussurrando. “Por favor, chamem-no”.
O pastor veio e ela abriu o seu
coração, confessando os seus pecados. Começou a confessar cada pecado
que cometeu desde 1967 e levou horas para terminar. O pastor em questão
era uma pessoa experimentada e já havia vivido e presenciado coisas
maravilhosas em muitas confissões detalhadas de pecados. Já havia ouvido
muito tipo de confissões de pessoas profundamente convictas. Mas, ele
reconheceu que nunca, em toda a sua vida, havia ouvido uma confissão de
pecados igual àquela. O coração do pastor derreteu-se todo e ele mesmo
chorava ouvindo Lilimo. A moça começou a falar e a contar tudo,
começando em 1967, relatando dia a dia, pecado a pecado, ano por ano
colocando tudo que fez e pensou na luz. Parecia que lia de um livro bem
escrito. A sua vida tornou-se um livro aberto do qual ela lia página a
página. Trazia as suas culpas desde muito fundo de seu coração,
colocando tudo na luz, coisa a coisa. Depois disso, levaram-na para uma
sala que temos na missão, que é para acomodar pessoas doentes e a qual
chamamos de hospital. Nós chegamos à missão já pela noite a dentro e
achamos estranho encontrarem-se tantas pessoas ainda ali, todas diante
do ‘hospital’. E ninguém arredava pé dali.
“Que aconteceu aqui?” Perguntei.
“Faleceu alguém?”
“Não”, responderam. “Deus visitou-nos
hoje e Ele esteve em nosso meio”.
“Sim, mas, por que razão ainda estão
aqui a esta hora? Que se passou?” Queria saber.
“Lilimo está ali deitada no hospital. O
senhor não pode ir lá vê-la agora, por favor?” Hesitei um pouco, mas,
naquele momento vieram uns quantos cooperadores ter comigo, os quais
diziam-me: “Vá rapidamente falar com ela ali no seu quarto, por favor!”
Assim que entrei no quarto dela, reparei
que Lilimo não se mexia na cama. Começou a falar muito baixinho assim
que se apercebeu que eu estava ali.
“O senhor viu a maneira como me converti
antigamente e lembra-se, certamente, como eu estava em fogo para Jesus e
como O amava muito. Depois, entrei em declínio e a minha vida desceu
muito baixo. Agora, ainda tenho aqui uns pecados que preciso confessar
para o senhor. Pode ouvir-me?”
Tornou a abrir o seu coração e confessou
o resto dos pecados que tanto desejava confessar ao meu lado. Depois
disso, os crentes ali reuniram-se à volta dela, oramos por ela e Jesus
atendeu os nossos pedidos. Ela ficou completamente restabelecida.
Levantou-se da cama e clamou:
“Necessito ir falar com minha mãe o mais
urgente possível. Preciso pedir perdão a ela logo. Quantas vezes me
avisou! Quantas vezes ela tentou trazer-me de volta para o caminho
certo! Desejo muito falar com ela para pedir-lhe que me perdoe! Alguém
pode levar-me lá?”
Um dos missionários ofereceu-se para
levá-la de carro até sua mãe. Quando chegaram, ela correu, procurando a
mãe e, quando a achou, disse:
“Ó mãe, perdoe-me! Hoje dei de cara com
Deus através de uma grande luz, tal como aconteceu com o Apóstolo Paulo
a caminho de Damasco. Ele caiu no caminho depois que um raio o atingiu”.
“Filha”, respondeu, “já chega de tantas
mentiras. Já me mentiste demais e só dizes coisas bestas. És tão
mentirosa que é quase impossível encontrar alguém pior. De que tipo de
raio estás falando? Hoje foi um dia de sol e nem houve nuvens!”
“Mãe, não estou mentindo! Fui realmente
atingida por um raio!”
Contou à mãe tudo que lhe havia
acontecido e pediu-lhe o seu perdão. Depois disso, voltou para
Kwasizabantu, a nossa missão. Disse-nos:
“Vão ficar sem ver-me durante algumas
semanas. Preciso ir a muitas vilas e cidades, em todas onde me envolvi
com homens ou onde pequei de uma ou de outra maneira. Quero regularizar
todos os meus pecados. Por favor, orem por mim enquanto estiver longe.
Preciso produzir frutos dignos do meu arrependimento!”
E, assim, saiu para fazer aquilo que
prometera fazer.
E como estão as coisas conosco aqui? Que
se passa em sua vida? Também deseja ser atingido pela ira de Deus para
decidir arranjar-se? Está esperando pelo fogo do Céu? Bem-aventurados
são todos aqueles que não viram isto que contei e acreditam. Porque
esperamos pela ira de Deus para nos arranjarmos? Porquê esperar ainda
mais? Já não basta que Deus fale conosco através deste exemplo? Quem
escapará, mais cedo ou mais tarde, de se apresentar diante do Deus vivo?
Será que é necessário que algo semelhante aconteça conosco antes de
decidirmos regularizar tudo, sem exceção, em nossas vidas? Será que a
Palavra de Deus já não nos deu bastantes exemplos? Não basta o que lá
vem escrito? Ou será que ainda vamos continuar a ter Deus como
mentiroso? “Hoje, se ouvirdes a sua voz, Não endureçais os vossos
corações, como na provocação”, Heb.3:15. Ainda nos encontramos no tempo
da misericórdia. Ainda é tempo de acharmos perdão. Agora é a hora de nos
purificarmos e de nos submetermos a Jesus. Tudo aquilo que, seguramente,
não agrada a Deus, deve ser abandonado e odiado. Tudo aquilo que não
passar como puro no Seu fogo, tudo quanto não for provado pelo Seu fogo
não permanecerá na Sua presença santa. Tudo que é sujo devemos abandonar
e confessar. Vamos fazer isso agora, pois, não sabemos em que dia será o
Dia do Juízo. Não sabemos em que dia responderemos pelos nossos pecados
e em que dia a Sua ira irá chegar!
APRENDENDO ALGUMAS LIÇÕES DE GRANDE
VALOR
Pouco tempo depois de haver começado o
avivamento, senti um enorme peso em meu coração e uma grande necessidade
de descarregar aquele peso em oração juntamente com alguém diante do
Senhor. Decidi pedir a um irmão para dirigir o próximo culto e, assim,
eu poderia ir para as montanhas orar. Diante dos meus olhos interiores
visualizei uma família dedicada a Jesus para irem orar comigo. Peguei em
meu carro e dirigi-me para a família em questão. Uns quilómetros depois,
foi necessário fazer o resto do percurso a pé até chegar ao lugar.
Cheguei à sua casa. Estavam muito felizes por me verem. O meu semblante
estava sério e fechado, porque eu ainda tinha a ideia de que, quando
oramos e jejuamos, podemos ser, de certa maneira, antipáticos. Cria que
não era necessário rirmos. Pensava que o nosso rosto e atitude deveria
ou poderia ser fechada. A família estava tão feliz e as crianças tão
alegres que o seu rosto brilhava.
“Que surpresa!” Disseram. “Por favor,
diga-nos qual a razão para vir visitar-nos!”
“Sabem”, respondi, “quero dedicar este
dia à oração e jejum”.
“Certo!” Disseram. “Mas, antes disso
vamos fazer qualquer coisa para o senhor comer. Dê-nos só um momento”
Os Zulus são pessoas muito
hospitaleiras. Sempre que os visitamos é impensável deixar a casa deles
sem havermos comido. Um café, chá ou algo semelhante não é coisa que se
ofereça a uma visita, dizem eles. Antes da despedida, é necessário uma
refeição forte para o caminho. Até os mais pobres entre o povo têm esse
costume. Ainda que só tenham uma galinha no quintal, apanham-na para
oferecer à visita depois de preparada e cozinhada. Mas, quando os meus
amigos falaram de comida (a mim que desejava jejuar) recusei
determinado. Tentei explicar que naquele dia não seria necessário
darem-me de comer porque eu desejava jejuar e orar. Eles riram de mim e
disseram:
“Está falando sério? Quer que mais tarde
o Senhor Jesus nos venha-nos dizer: ‘Eu estava com sede e não me deste
de beber, estava com fome e não me deste de comer’? As coisas estão bem
claras para nós! Pelo menos hoje não iremos dar ouvidos às suas
palavras! Entre, entre! Seja bem-vindo à nossa casa”.
Não tinha escolha. Entrei. Eles
desapareceram para apanharem uma galinha. Não podemos simplesmente
colocar a galinha na panela. Ela precisa ser morta, depenada e limpa.
Fiquei ali, sentado e esperando, esperando… parecia uma que estava
esperando uma eternidade e não apenas algumas horas.
Por uma ou outra razão, nós, os brancos,
estamos sempre com pressa. Queremos sempre fazer alguma coisa ou chegar
a algum lugar. Nunca temos tempo e tudo tem de acontecer o mais
rapidamente possível. Contudo, todos sabemos que esse é o caminho mais
curto para um hospital de loucos ou para um esgotamento nervoso. Os
Zulus, por seu lado, nunca estão com pressa. Têm todo tempo do mundo!
Enquanto estava ali sentado esperando pela refeição, eu orava e dizia:
“Ó Senhor, como estou desperdiçando este dia! Eu desejei tanto que fosse
um dia dedicado a Ti! Que erro ter vindo aqui! Teria sido melhor ficar
longe daqui. Poderia estar orando com outras pessoas!” E ali permanecia
eu, sentado, esperando e esperando. Estava cheio de mágoa contra mim
mesmo por haver cometido um erro daqueles. Olhava incessantemente para o
meu relógio. Já havia passado do meio-dia e a tarde estava avançando e a
refeição ainda não estava pronta. As horas passaram calma e
impiedosamente. Depois de um longo tempo, alguém chegou para oferecer-me
um suco. Após um tempo, trouxeram-me mais um chá. Depois de uma longa
espera, a mesa foi preparada e estava cheia de boa comida. Estava tão
cheia que não cabia mais nada em cima dela. Havia de tudo sobre a mesa.
Havia galinha, outros tipos de carne, diversos tipos de salada, frutas,
arroz, batata cozida. Parecia ser uma refeição servida para um rei, um
banquete. E eu tinha de sentar-me à mesa para comer, precisamente no dia
que determinara orar e jejuar. De acordo com a tradição Zulu, precisamos
deixar sozinha uma visita que desejamos honrar para ela estar à vontade
para comer tudo que deseja. Os donos da casa abandonam a sala para que a
visita se sinta mais à-vontade. Mas, antes de abandonarem a sala, aquela
família hospitaleira orou pedindo a bênção de Deus sobre toda a comida.
Saíram para eu comer. Embora o meu prato fosse grande, era pequeno
demais para colocar todo tipo de comida. Não tinha como colocar um pouco
de tudo. Os meus amigos colocaram tanta comida à minha disposição que,
mais tarde, tive de dizer-lhes que não apenas comi, mas, exagerei.
Terminei a refeição. Mas, logo veio algo mais para beber! Depois,
trouxeram-me mais coisas frescas para beber.
“Queridos amigos”, supliquei, “não
consigo comer mais nada, por favor! Sabem que é pecado comer muito e
beber tanto assim?”
“Está bem”, responderam. “Nós vamos só
limpar a mesa e voltaremos para orar”.
“Ó não!” Respondi. “Como poderei orar
com uma barriga tão cheia?”
Como vêem, naquele tempo as minhas
orações ainda dependiam da minha barriga e não do meu coração! Depois de
havermos arrumado e limpo tudo, ajoelhamo-nos para orarmos. Mal nos
ajoelhamos, o lugar onde nos encontrávamos, tremeu. Eu não entendia! Não
sei como aquilo aconteceu! Bati na minha testa com a minha mão e clamei
chorando:
“Senhor, na verdade eu ainda não Te
conheço! Como é possível? Meu amado Senhor, quem és Tu afinal?”
E foi assim que aprendi a entender e a
conhecer o Senhor de uma outra maneira à qual não estava habituado. Eu
nunca o havia encontrado daquela maneira. Na verdade, eu vivia de uma
imagem de Deus. Fazia uma ideia d’Ele. Infelizmente, não era só eu quem
fazia isso. Muitas e muitas pessoas cometeram esse erro durante centenas
e centenas de anos. Criaram um Deus da sua própria cabeça e ainda
ensinam a todos quantos os ouvem a vê-Lo dessa maneira. Quantas pessoas
escreveram sobre a imagem que têm de Deus? Podemos facilmente afirmar
que Deus é assim e assado e, depois, tudo tem de decorrer com a ideia
formada. Então, as coisas precisam decorrer de acordo com o que estamos
habituados. Se nós nos aproximamos de Deus, tem de ser da maneira a que
estamos habituados e, se não for, ficamos confusos e baralhados. É assim
que muitos de nós vivemos em pecado sem nos darmos conta. Dizemos que
não podemos ter outros deuses e que não devemos fazer nenhuma imagem
daquilo que está no céu. Afirmamos que não podemos servir essas imagens.
É tão fácil pregarmos para os pagãos e ensinar-lhes essas coisas! Como é
fácil dizer-lhes que devem abandonar os seus deuses e as suas imagens!
Contudo, andamos aqui a servir as imagens que fazemos de Deus em nossa
cabeça. Imaginamos Deus e servimos essa imaginação. O deus da nossa
cabeça é aquele que nos cai bem e a esse desejamos servir. Esse deus faz
tudo que desejamos e da maneira que desejamos e, contudo, não deixa de
ser um ídolo formado por nossa própria imaginação. É uma escultura da
qual somos os artistas. Esse deus da nossa cabeça precisa, então,
dar-nos tudo aquilo que desejamos e queremos. Na verdade, esse não é o
verdadeiro Deus vivo! O meu coração quebrantou-se. Percebi que não
conhecia o Deus que servia.
E foi daquela maneira simples que Deus
revelou aquela verdade através daqueles irmãos negros. Ele manifestou-se
daquela maneira a mim. Era um Deus totalmente diferente daquele que
sempre imaginei e concebi em minha mente. Durante as semanas seguintes e
os meses seguintes, eu somente dizia: “Senhor, eu não te conheço, não te
conheço! Como és diferente daquilo que imagino!” Naquele dia, quando
passarmos pelo fogo de Deus no Dia do Juízo para sermos analisados e
julgados, naquele momento quando as nossas obras forem provadas pelo
fogo, então muitas coisas, imaginações e ideias em nós serão queimadas.
Ali iremos ver que a maioria das coisas em que acreditamos e das quais
dependemos não passam de coisas de pessoas, de ajuntamentos humanos e de
ideias de homens – tudo fruto da imaginação de quem, realmente, não
conhece Jesus como Ele é!
Isso foi o que aconteceu comigo naquele
dia. Eu precisei colocar de lado tudo que aprendi e renovar a minha
mente. Tinha de começar do zero e negar tudo que havia aprendido e tudo
aquilo em que confiava. Todas as minhas doutrinas, confianças, todas as
minhas ideias e pensamentos, todas as minhas imaginações sobre Deus
precisavam ser abandonadas. Precisava começar de novo, como uma
criancinha pequenina. Precisava voltar aos tempos do alfabeto
espiritual, ali onde tudo começa. Precisava aprender tudo de novo, desde
o inicio. Nunca mais fui capaz de fazer qualquer coisa através da minha
força ou fazê-la da maneira que entendia que devia ser feito. Deveras,
não podia confiar mais em meu próprio entendimento. Por essa razão,
entreguei-me totalmente a Deus e confiei-lhe toda a minha vida para
guiar-me e seguir conforme Ele ia revelando. Para mim, foi uma coisa
completamente nova, algo que nunca antes havia experimentado. Por isso,
afirmo hoje para todos vós que uma vida levada no Espírito é uma forma
de vida totalmente diferente. Se não conhecermos essa vida e não nos
aprofundarmos nela e se não caminharmos de acordo com ela, ou se não
estivermos dispostos que Deus nos guie em todos os aspectos, então,
todas as nossas orações por avivamento não significarão absolutamente
nada. Toda a nossa sabedoria, toda a vida velha, precisam ser totalmente
renovadas. Se isso não acontecer e se Jesus não nos preencher totalmente
com Seu Espírito e se não bebermos do Seu novo vinho de forma renovada,
o avivamento não durará muito tempo. Tudo será em vão. As Escrituras
dizem que o Senhor tem pensamentos que não são os nossos e os Seus
caminhos também não são nada iguais aos nossos. Por isso, fica claro que
não existe vida com Deus se não negarmos as nossas próprias ideias,
pensamentos e caminhos e se não estivermos inteiramente dispostos a
afirmar de todo o coração: “Não a minha vontade, Senhor, mas, a Tua seja
feita!”
Estou deveras agradecido a Deus por tudo
aquilo que aprendi entre os Zulus, um povo completamente diferente
daquilo que sou. Na medida que eu ia vendo as suas vidas, a sua
confiança de criança em Jesus, a sua obediência simples, o seu caminhar
simplificado com Cristo, só podia olhar de forma crítica para a minha
própria vida e forma de viver o evangelho. Tal como já afirmei antes,
uma das características do homem branco é a pressa que tem para fazer
tudo. Nesse aspecto, eles não são nada semelhantes a nós, pois, eles não
têm a capacidade de serem apressados e impacientes. Parece que nenhum de
nós conseguiu, ainda, entrar no descanso do Senhor e que não sabemos o
que isso significa. Lembra-se daqueles momentos quando Jesus dormia no
barco e seguia com os Seus discípulos? Enquanto eles temiam a tormenta e
as ondas altas, Jesus estava deitado dormindo sossegadamente. Sim,
dormia porque não era dono de nenhuma parte de Seu ser e Ele vivia
daquele descanso que o mundo não consegue dar. Por essa razão podia
dormir descansado sob aquela tempestade.
Mais um exemplo da Bíblia pode
esclarecer melhor este descanso. Não é um exemplo de Jesus, mas, da vida
de uma pessoa, de um humano. O primeiro homem que existiu, Adão, não
pensava em mulher como muitos fazem hoje. O povo de hoje já começa a
pensar no sexo oposto desde tenra idade, alguns mesmo antes dos doze,
treze anos de idade. Por vezes, isso tira-lhes o sono de tal maneira que
passam noites sem dormir! Outras vezes, ficam depressivos e outros ainda
suicidam-se porque as coisas não acontecem da maneira que desejam.
Deus colocou Adão num sono profundo e
dele criou a mulher. Como vê, Adão não passou nenhuma tormenta por causa
de mulher e não ficou noites sem dormir por causa disso. Não pensou na
necessidade de uma ajuda e de alguém que se encaixasse nele. Não se
preocupava minimamente com o seu futuro, mas, deixou tudo nas mãos de
Deus. Somente o Senhor deveria saber do que ele tinha necessidade.
Podemos facilmente ver e comprovar que existe vida no descanso em Deus e
que Ele opera durante o nosso descanso. Deus não diz somente por dizer
que ao homem nada aproveita preocupar-se e aborrecer-se com as coisas
deste mundo. Se o homem preocupar-se, não resolve nada. A sua
preocupação não o leva a lado nenhum. Não temos como acrescentar no
comprimento do nosso cabelo ou mudar a sua cor com preocupações. A
verdade é que, todos quantos se preocupam muito, pecam muito. Por essa
razão, as Escrituras mostram claramente que existe uma vida descansando
em Deus de todo coração. Existe uma vida sem preocupações e sem pressas.
Tal tipo de vida existe tanto para jovens quanto para velhos.
Na Bíblia, lemos muitíssimas vezes as
palavras “esperar no Senhor” e “aqueles que esperam do Senhor”. Será que
a Bíblia diz em vão que aqueles que são capazes de esperar no Senhor e
que mantêm acesa a expectativa n’Ele renovam as suas forças? As
Escrituras também dizem que, “aquele que crê, nunca se apresse”. Assim é
a pessoa que sabe esperar no Senhor e assim sabe viver. Os Zulus sabem
muito bem o que isso significa. Sabem que a pessoa que espera em Deus
tranquilamente experimenta uma alegria e uma paz enorme em seu coração.
Por isso, vemos que eles são realmente pacientes quando se trata de
esperar no Senhor. Todo o tempo que passarmos esperando no Senhor, nunca
será tempo perdido – nunca será em vão.
Quando algum Zulu visita o seu rei,
levantam-se muito cedo, logo pela madrugada. Antes do sol nascer, já se
encontram na porta do Kraal (Palácio feito de cubatas). Não batem
à porta como nós. Antes, esperam no caminho fora do portão e chamam a
atenção do seu rei com cânticos e louvores. Assim, esperam ser notados.
Naqueles cânticos, dizem que não existe ninguém como o seu rei e que ele
é o chefe de todas as coisas que a tribo possui e que ele é rei dos
leões e dos animais selvagens. É através desses cânticos e do estalar
das suas línguas que batem à porta do rei Zulu. Permanecessem lá fora,
em pé, até que o rei resolva enviar um dos seus servos para chamá-los. E
nem ainda assim atrevem-se a entrar. Depois de chamados, chegam somente
até à porta até ouvirem o próprio rei a incentivá-los a entrar. Eu já
vi, pessoalmente, como os Zulus são capazes de permanecer horas e horas
em pé esperando até serem chamados pelo seu rei. Um dia, perguntei a um
deles se tinha a certeza que o rei sabia que ele estava ali e se podia
esperar daquela maneira sem ir perguntar. O homem respondeu calmamente
que o seu rei sabia que ele estava ali!
“E que te disse ele?” Perguntei.
“Ele não me disse nada”, veio a
resposta.
“Como assim?” Eu não conseguia entender!
“Onde está o rei agora? Está com sua família?”
“Não, ele saiu de carro”.
Pareceu-me que o rei havia saído logo
pela manhã, deixando o homem ali espetado, em pé, esperando. Aquele
homem esperava pacientemente até que o rei voltasse. Depois, muito mais
tarde, o rei chegou e entrou em sua casa. Comeu descansado e tornou a
entrar no seu carro e saiu. Passou mesmo ao lado da sua visita sem
dizer-lhe uma única palavra.
“Quando vai chegar o teu rei?” Eu quis
saber.
“Não sei, senhor”, respondeu-me o homem
levantando os seus ombros.
“Mas, por que razão ficas aqui ainda?”
“Vou esperar por ele!”
“Quanto tempo ainda vais esperar?”
“Vou esperar até que chegue”.
Foi então que clamei:
“O que o rei queria alcançar com tudo
aquilo? Por que razão saiu de carro novamente sem atender aquele homem?
Se fosse comigo, eu já teria ido embora faz tempo!”
“O que está por ai dizendo, homem
branco?” Interrompeu-me aquele Zulu bruscamente. “Como pode o senhor
falar dessa maneira? Se eu saísse agora daqui, seria uma ofensa para o
rei e seria como se lhe estivesse cuspindo no rosto e agredindo. Ai de
mim se eu não estiver aqui quando o rei chegar! Ele já me viu e, por
isso, não me resta mais nenhuma opção senão esperar por ele até que
chegue. E faço isso com alegria. Ele é o meu rei e o meu senhor, eu sou
o súbito. Por essa razão, ele não pode fazer as coisas para agradar-me e
da maneira que eu quero que sejam feitas. É assim que demonstro que ele
é meu rei e senhor. Se ele dançasse com a minha música e se ele fizesse
aquilo que eu desejo, já não podia ser meu rei e seria meu igual. Mas,
como é ele o rei, sou eu quem lhe deve respeito e obediência
incondicional. Sou eu quem deve obediência e respeito pelas suas
decisões”.
É dessa forma que um Zulu espera pelo
seu rei. Não se impacienta. Não se irrita esperando e não se comporta de
maneira indecente. Espera pacientemente até que seja chamado pelo rei.
Então, quando pregamos para este povo e dizemos que Jesus é o nosso Rei
e que devemos esperar n’Ele, as coisas ficam muito claras para eles.
Para eles, é uma coisa lógica. “Naturalmente, pois, Jesus é o nosso
Rei!” Dizem. A Palavra de Deus diz assim: “Mas os que esperam no Senhor
renovarão as forças, subirão com asas como águias; correrão e não se
cansarão; caminharão e não se fatigarão”, Is.40:31.
Quando iniciei a minha obra entre os
Zulus, houve um rei que foi rei durante toda a sua vida. Ele sempre foi
o líder do seu povo. Era ele quem governava e geria tudo. Conduzia todos
os assuntos da maneira que desejava e entendia. Detinha poder absoluto
sobre tudo. Somente ele tinha a capacidade de resolver problemas. Era o
único que tinha voto e todos os outros tinham de dobrar diante do seu
querer. No nosso tempo, fala-se muito de eleições, direitos humanos e o
direito de fazer isto ou aquilo da maneira que entendemos melhor. Para a
população negra da África do Sul, esse conceito foi uma coisa
completamente estranha e difícil de entender. Nós dizemos que todos têm
o direito ao voto. Contudo, eles afirmam que só existe uma pessoa que
tem esse direito: o seu rei e senhor. Eles também ficaram pasmados sem
entender muito bem como era possível o governo governar numa assembleia
onde a oposição também tinha voto. Não entendiam como é que os brancos
podiam viver dessa maneira. Para os negros, só havia uma maneira de
lidar com a oposição governamental: transpassar o opositor com uma
lança! Para eles, não havia alternativa. Não havia outra solução para um
problema desses. O inimigo só podia ser destruído, custasse o que
custasse.
Esta visão ‘política’ de tempos antigos
podemos seguir com alegria em nossa vida espiritual. O Senhor Jesus
precisa governar todo o nosso coração e toda a nossa existência como Rei
e Soberano. Somente Ele dever ser Senhor e Rei em nosso coração. Ele é o
primeiro e o último, o começo e o fim de tudo. Sem ser Ele, nada pode
tomar o menor lugar em nosso coração e vida. Na vida de um Cristão
consagrado, não pode existir qualquer forma de oposição. Só o Senhor
Jesus deve governar. Somente Ele tem todos os direitos sobre toda a
nossa existência. Foi uma das razões que se tornou uma alegria, para
mim, poder pregar o Evangelho no meio deste povo. Quando dizemos que
Jesus é Rei, Deus e Senhor, entendem de imediato que significa que devem
submeter-se a Ele em todos os aspectos de sua vida. Sabem logo o que
fazer. Entendem desde o primeiro momento que não pode existir outro e
que ninguém e nada mais pode orientar as suas vidas. Sabem que nada mais
pode alinhar em suas vidas e sabem comprometer-se com a vontade de Jesus
em todos os seus aspectos. Sabem que a oposição não pode falar em seus
corações. Nada mais pode sobreviver em seus corações. Quase não é
necessário explicar-lhes que não podem servir dois senhores. Eles
entendem essa linguagem muito bem.
“Deus é nosso Rei e Senhor! Somente Ele
governa. Devemos permanecer-Lhe fiéis até à morte!”
Por estas razões e outras mais é que os
negros não sentem qualquer dificuldade em esperar em Deus. Eles sabem
exercitar-se na esperança e na expectativa que têm no Senhor. Sabem
esperar d’Ele. Eles pensam assim:
“Agora entregamos todos os nossos pesos
e todas as nossas preocupações ao Senhor. Podemos entregar-nos a Ele
confiadamente. Devemos, contudo, olhar para Ele e segui-Lo fielmente”.
Já contei aqui como estes negros
simples entendem estas verdades e de que maneira correspondem a estas
questões. Mas, como acontecem as coisas conosco? Como vai isso aqui
entre nós? Quantas vezes recusamos esperar? Será que nos impacientamos
facilmente quando as coisas não decorrem de acordo com as nossas
pretensões? Podemos esperar dessa maneira em Jesus? Quantas vezes as
coisas tornam-se difíceis demais para esperarmos pacientemente? Nós não
conseguimos continuar a esperar em Jesus e não suportamos quem espera.
Por que não? Muitos chegam a crer que quem reage está no auge da sua
capacidade espiritual e isso prova que é espiritual. Mas, a verdade é
que isso revela precisamente o oposto. Tal visão demonstra o quanto
ainda somos carnais. Sabemos que todos aqueles que andam cheios de febre
ansiosa para fazer coisas e de empreender, conseguem muito pouca obra e
as suas obras não permanecem. Ficam com a impressão de estarem a fazer
muito e, na realidade, não fazem nada e não alcançam nada. Mas, quando
temos a capacidade de esperar somente no Senhor, vemos as coisas
acontecerem. Para o Senhor, mil anos é como um dia. E Ele consegue fazer
em um dia mais que mil anos de trabalho duro. É isso que venho
experimentando em minha vida pessoal. Antes do avivamento ter começado,
eu estava sempre ocupado e apressado. As minhas campanhas evangelisticas
chegavam a durar doze meses ou mais. Muitas vezes, fazia dois cultos por
dia durante esse tempo! Eu era como Pedro que pescou toda a noite sem
apanhar nada. Trabalhava com todas as minhas forças e não alcançava
nenhum fruto digno desse nome. Cansava-se e ficava exausto. E porque eu
havia chegado ao fim das minhas forças e por não poder continuar daquela
maneira, decidi parar com tudo. Depois daqueles doze anos de trabalho
sem fruto, Jesus apareceu e disse: “Faze-te ao mar alto e lança as tuas
redes para pescar”, Luc.5:4. Aquelas palavras Jesus havia dirigido a
Pedro, também. E ele respondeu: “Mestre, havendo trabalhado toda a
noite, nada apanhamos; mas, sobre a tua palavra, lançarei a rede”.
Porque Pedro obedeceu, ao lançar as redes, apanharam tantos peixes que
as redes se rompiam e corriam o risco de afundar o barco.
Se nos cansarmos de uma maneira carnal,
podemos trabalhar até chegar a morte para nos levar daqui e, ainda
assim, verificaremos que não alcançamos nada. Mas, todos aqueles que
trabalham através do Espírito de Deus, parecem pessoas que não fazem
nada e, no entanto, alcançam muito! Depois do avivamento haver começado,
eu dizia no fim de cada dia: “hoje alcançamos mais para Jesus que em
doze anos de trabalho”. E era verdade. O trabalho árduo de doze anos
alcançava menos que um dia de trabalho depois do aviamento e a qualidade
desse trabalho nem era de ser comparado. Para isso acontecer, foi
necessário aprender a confiar no Senhor, obedecê-Lo e sujeitar-me
integralmente a Ele. Só preciso fazer aquilo que Ele me disser para
fazer. No resto, fico quieto. Só depois disso tornou-se possível ir para
outras cidades e trazer multidões para Jesus sem sentir-me cansado em
nenhum aspecto. Devo somente permanecer em intimidade absoluta com Jesus
e nunca entristecer o Seu Espírito ou extingui-Lo. A coisa mais
importante é e será sempre permanecer aos pés de Jesus para ouvi-Lo
calmamente. A Bíblia ensina-nos a orar sem cessar. Isso não significa,
de maneira nenhuma, que devemos ficar sempre de olhos fechados sobre os
nossos joelhos sem sairmos dali. As Escrituras ensinam que devemos ter
uma cumplicidade e uma comunhão permanente com Jesus. Ó, como é
importante que as nossas vidas sejam totalmente sujeitas a Jesus de
forma permanente e duradoura. Só assim poderemos testemunhar de como
Deus opera e que Ele é realmente Rei e Senhor. Somente assim receberemos
todo o Seu poder e bênção sobre tudo aquilo que fazemos dessa maneira.
Da mesma maneira que um Zulu espera até
que o seu rei chegue, assim deve ser a nossa atitude em oração diante do
Senhor. Também é de extrema importância que saibamos esperar e receber
de Deus durante o dia inteiro e não fugirmos dessa comunhão meio dia
depois de começarmos a esperar, ou meia semana depois. Quantas vezes
aconteceu de saírmos e abandonamos o nosso posto mal se
começamos a esperar? E quantas vezes abandonamos o nosso posto momentos
antes do Senhor chegar com a Sua bênção? Foi assim que Saul perdeu a sua
bênção e o reino foi tirado dele. Não conseguiu mais esperar no último
momento, esperar até que Samuel chegasse. Como as pessoas se tornam
tolas e se apressam inutilmente! Nem se apercebem do prejuízo que causam
às suas próprias vidas e às daqueles que os rodeiam. Já aconteceu isso
comigo. “Vamos, depressa! Apressem-se! Andem logo! Precisamos chegar ao
culto. Preciso dirigir o culto! Não posso chegar tarde!” E, sempre que
chegava ao local de culto, as pessoas ainda não estavam lá e tínhamos de
esperar! Ficava ali, esperando e resmungava comigo mesmo. “Erlo, olha só
o que acontece quando não te deixas guiar por Deus! Não seguiste o
Espírito de Jesus”.
É verdade que também podemos atrasar-nos
por não ouvirmos Deus. Já ouvi falar de um certo pastor que chegou ao
local onde haveria de pregar e o povo já havia ido para casa! No culto
seguinte, tornou a chegar atrasado. O pastor estava preocupado com a
situação e perguntou a um irmão se não queria orar com ele pelo povo. O
irmão repreendeu-o e disse. “Ainda não entendeu o que deve fazer, pois
não? Basta levantar-se mais cedo da cama!” Também sabemos como os anjos
tiveram de apressar Ló e a sua esposa para saírem de Sodoma e Gomorra.
Ló estava lento demais e demorava a resolver-se sair dali. Repito: a
coisa mais importante é mantermos um relacionamento contínuo com o
Senhor Jesus e que as nossas vidas estejam em ordem e que sejamos
obedientes em tudo e em todos os aspectos quando Ele dirige. Então, Deus
nos guiará fielmente, pois, Ele sabe melhor que nós quando devemos
apressar-nos e quando devemos esperar. Se você, por acaso, é pessoa
impaciente e nervosa, saiba que esse tipo de fruto não vem do Senhor e
que você não se encontra agindo dentro da paz de Deus e dentro daquele
tipo de descanso que somente Ele dá. Através da impaciência e da pressa
só nos arruinamos a nós mesmos e trazemos grandes prejuízos a toda a
obra de Deus. Muitos missionários acabam por cometer grandes erros por
não saberem esperar do Senhor. Os negros são, por natureza, calmos e
lentos a fazer as coisas. Por exemplo, se um culto estiver marcado para
as 11 horas da manhã, eles chegam mais tarde do que a hora marcada.
Existem várias razões para isso acontecer. Muitos deles não têm relógios
e outros necessitam caminhar muito para chegar aos locais de culto.
Muitos missionários chegam aos locais marcados e à hora marcada e o povo
ainda não chegou lá. Ficam nervosos e impacientes e pecam agindo dessa
maneira. Um pecado leva ao outro e uma atitude errada chama a outra e lá
se vai a bênção de Deus! Seria melhor perguntarem a verdadeira razão de
estarem ali em vez de se irritarem contra o povo. Os missionários servem
para pregar o Evangelho e não para se irritarem. Por isso, não é
importante como ou quando fazê-lo, seja às 11 horas ou seja ao meio-dia!
As nossas prioridades devem permanecer continuamente diante dos nossos
olhos. Se permanecermos em paz total e permitirmos que Deus tome conta
de tudo por nós. Ele mesmo nos guardará de qualquer coisa que nos possa
acontecer. E somente assim Ele nos guardará para não cairmos em qualquer
tipo de tentação. É suposto sabermos esperar no Senhor.
Muitas vezes, descobrimos ter uma enorme
dificuldade para esperar. Perdemos a paciência quando alguém não chega a
horas e, se tivermos que esperar uns cinco minutos a mais, ficamos
irados ou frustrados. Por vezes, isso parece-nos uma coisa difícil e
complicadíssima de suportar. Se você, por acaso, pecar ficando nervoso
ou impaciente, não é pior? Vale a pena perder a vida ou a comunhão com
Cristo por causa duma coisa dessas? Ou será que ainda é daqueles que
acredita que não tem nada de mal explodir e dizer: “Não aguento mais
esta situação! O que me vale esperar assim?”
Quando os pagãos aceitam o Evangelho e
submetem-se a ele, eles mudam mesmo. Para eles, as coisas são claras e
tudo se torna novo. Mas, a mesma coisa deve acontecer com todos aqueles
que crêem ser Cristãos. Também precisamos mudar e ser transformados
quando o Evangelho entra em nossas vidas. As suas vidas nas trevas
densas do paganismo não é muito diferente do paganismo mais ‘light’ que
hoje chamamos Cristianismo ou Evangélico. O paganismo continua sendo
paganismo, seja ele muito escuro ou menos claro. É precisamente do
paganismo cristão que devemos libertar-nos totalmente e energeticamente
para nos entregarmos aos pés do Senhor Jesus. Ali devemos colocar toda a
nossa existência em ordem e à disposição incondicional do Espírito Santo
de Jesus. Existem tantas coisas que parecem ser santas ou espirituais
que vêm das profundezas do inferno! Se permitirmos que o Espírito Santo
opere profundamente em nossas vidas, Ele pode transformar-nos
completamente.
INVESTIGA-TE A TI MESMO
No inicio do avivamento, havia entre nós
um Cristão muito sóbrio e cheio de boa vontade. O seu coração estava em
fogo para Deus. Nunca o vimos fora de si e estava sempre calmo e na
maior paz de espírito. Uns dois ou três dias depois de nos havermos
começado a reunir no estábulo, o irmão perguntou-me:
“Erlo, onde, na Bíblia, vêm aquelas
palavras que estavam ontem ali na parede?”
Olhei admirado para ele. Disse-lhe que
não havia nada escrito na parede e nunca houve. Mas, ele insistiu
dizendo que estava algo escrito na parede no dia anterior. Dizia que na
primeira linha a frase tinha escrita a palavra “test” em inglês e na
linha de baixo estava a palavra correspondente para “provai” em Zulu.
Tentei convencê-lo que não havia nada escrito na parede no dia anterior.
Contudo, ele abanou a cabeça e assegurou-me que vira aquelas palavras
escritas na parede, acima da porta e eram muito claras. Explicava com
muita precisão o que havia visto. Eu fui olhar para o lugar onde ele
apontou, cheio de dúvidas e não conseguia ver nada. Não via nenhum
vestígio de cola ou algo ali que houvesse segurado as letras que ele
afirmava ter visto. Não havia nenhum buraco de prego e nenhum vestígio
de qualquer pedaço de papel que pudesse ter estado colado ali com
letras.
Quando cheguei em casa, peguei na minha
Bíblia inglesa e pedi ao Senhor para me falar através da Sua Palavra.
Abri-a e os meus olhos caíram sobre 2 Cor.13:5: “Examinai-vos a
vós mesmos, se permaneceis na fé; provai-vos a vós mesmos”. Eram
as palavras que o irmão havia visto. Eram as palavras “Examinai” e
“provai”. Fiquei de boca aberta, olhando aquelas palavras. Fiquei
admirado de nunca me ter apercebido daquele mandamento colocado daquela
maneira. E, a partir de então, aquelas palavras foram de extrema
importância para nós. Foram uma enorme bênção. Tornaram-se como que a
nossa bandeira, o nosso estandarte. E desejamos muito ser obedientes a
esta palavra até ao fim. Devemos investigar tudo e, depois, colocar à
prova.
Mas, acima de colocarmos algo ou alguém
à prova, devemos, em primeira mão analisarmos a nós próprios e
colocar-nos a nós mesmos à prova. Podemos, por exemplo, perguntar a nós
mesmos as seguintes perguntas: como está a minha vida neste momento?
Ainda caminho conforme a verdade? Ou será que já me desviei? Sobre essas
perguntas, a Palavra de Deus dá-nos respostas concretas e com ela nos
devemos comparar ou julgar. Infelizmente, as coisas acontecem entre os
Cristãos de maneira muito diferente. Eles antes comparam-se uns com os
outros e medem-se pelas pessoas. Depois dizem como crianças: “Eles fazem
isto ou aquilo! Por que razão não podemos nós fazer o mesmo? Por que
razão não posso estar satisfeito com a minha vida Cristã se as pessoas
não apontam erro em mim e se me sinto como sendo melhor que a maioria
dos Cristãos da minha congregação?” Quantos pensam assim e agem em
conformidade! A bíblia, contudo, ensina-nos a colocar-nos à prova sob a
luz da Palavra de Deus e não sob a luz dos demais, comparando-nos uns
com os outros. Devemos olhar e julgar as nossas vidas e corações somente
à luz das Escrituras, pois, é através dessa luz que temos de viver cada
dia de toda a nossa existência. Se nós próprios nos colocássemos sempre
à prova para ver se a nossa fé ainda está de acordo com aquilo que as
Escrituras dizem e afirmam, vendo se cremos conforme a Bíblia,
seguramente que os rios de água viva que a Bíblia promete nunca
deixariam de fluir. Seríamos rios enormes repletos de água viva pura.
Contudo, se não nos julgarmos, o Senhor irá fazê-lo e irá medir-nos à
luz das Escrituras muito em breve. Ele mesmo o fará, mais tarde ou mais
cedo. Provavelmente irá acontecer numa altura que menos esperamos que
aconteça.
Aprendemos isso, também, através de algo
que aconteceu na Bíblia. Belsazar, filho de Nabucodonosor, rei da
Babilônia, sabia muito bem tudo que havia acontecido com seu pai e que
ele perdera a inteligência de pessoa e ficou comendo erva como animal
durante sete anos. Mesmo tendo pleno conhecimento e consciência disso,
Belsazar não se humilhou diante de Deus para que pudesse continuar numa
vida que agradava à carne. Um belo dia, fez uma grande festa para
alegrar-se e folgar. Comia e bebia vinho juntamente com as muitas
mulheres que lá se encontravam. Muito animado, mandou buscar os
utensílios que haviam sido tirados do templo de Deus em Jerusalém e que
haviam sido trazidos para a Babilônia. Trouxeram e eles, juntamente com
os seus convidados, bebiam vinho usando esses utensílios consagrados a
Deus. Mas, de repente, viu uma mão a escrever na parede: “MENE, MENE,
TEQUEL, UFARSIM”. Um enorme temor apoderou-se dele logo ali, ainda que
era um rei muito poderoso e destemido. Gritou e perguntou a todos ali
presentes se havia alguém capaz de interpretar aquelas palavras. Ninguém
apareceu capaz de fazê-lo nem mesmo havendo prometido um galardão
grandioso a quem conseguisse fazê-lo. A rainha, contudo, sabia de alguém
que poderia facilmente interpretar aquelas palavras porque servia o Deus
vivo. Era Daniel. Ele já havia feito interpretações corretas e
maravilhosas no reinado do seu sogro. Daniel foi convocado para
comparecer diante do rei da Babilônia. Quando compareceu, lembrou-se de
tudo aquilo que acontecera com Nabucodonosor e disse: “E tu, Belsazar,
que és seu filho, não humilhaste o teu coração, ainda que soubesses tudo
isto. E te levantaste contra o Senhor do céu (…) em cuja mão está a tua
vida”, Dan.5:22,23.
Deus pesou a Belsazar no momento que ele
menos esperava, mais precisamente no momento que estava bêbado. Deus
pesou-o e achou-o em falta. A verdade é que Deus sempre usou a mesma
medida, seja para quem for e em que ocasião for. Quando coloca o peso da
Palavra do outro lado da balança, a pessoa não pode estar mais leve,
seja ela quem for. Qualquer pessoa precisa equilibrar a balança e não
ser mais leve que o peso da Palavra de Deus. Ele não esperava ser pesado
pela balança de Deus naquele momento. Então, nós devemos pesar-nos nessa
balança diariamente para ver se ainda permanecemos na fé. Alguém pode
perguntar como se faz isso. Basta abrir a Palavra de Deus! Ela mesma nos
julgará. Por exemplo, o Velho Testamento diz: “Não matarás”; mas, o Novo
Testamento chama alguém de assassino quando se zanga com seu irmão e
grita com ele. É somente um exemplo dessa medida pela qual todos nós
seremos medidos. Lemos, por exemplo, em Mat.5:23-24 o seguinte:
“Portanto, se trouxeres a tua oferta ao altar e aí te lembrares de que
teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa ali diante do altar a tua
oferta e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão e, depois, vem e
apresenta a tua oferta”. Vejam bem como a Palavra de Deus coloca esta
questão e não tirem e nem acrescentem nada dela. Ali, não diz apenas que
devemos fazer isso quando temos algo contra o nosso irmão, mas, quando
nosso irmão tem alguma coisa contra nós. Não deve pedir que seja o irmão
a vir falar consigo, mas, você é quem deves ir falar com ele. Só depois
disso é que qualquer tipo de oferta será aceitável para Deus. É essa a
medida da balança de Deus. Se você pesar-se a si mesmo dessa maneira
enquanto há tempo, da maneira que a Bíblia diz para fazê-lo, não verá se
está abaixo do peso que Deus coloca no outro lado da Sua balança ou se
você equilibra o Seu peso? Nabucodonosor e seu filho foram colocados na
balança e foram achados mais leves que o peso de Deus. A balança tombou.
Como estamos nós? A nossa balança está equilibrada ou tomba para o lado
do peso de Deus? A Palavra é mais pesada que as nossas vidas?
Toda a Palavra de Deus é um espelho no
qual nos devemos olhar. Devemos colocar-nos perante a luz da eternidade.
Você sabe que o espelho somente reflete aquilo que é colocado diante
dele. O espelho nunca mente acerca do que revela. E se não for colocado,
não reflete nada. Devemos colocar-nos a nós mesmos diante desse espelho
diariamente para vermos se está tudo em ordem. Se, realmente, desejamos
pesar a nossa espiritualidade, devemos colocar-nos à luz da Palavra de
Deus. Devemos ser colocados perante ela. Só através dela devem ser
medidas e pesadas todas as nossas obras, palavras e pensamentos. Quando
digo isto, não significa que devemos tirar os nossos olhos de Jesus e
antes precisamente o contrário. É precisamente por Jesus (que também é a
própria Palavra) que nos devemos pesar, colocando-nos diante do espelho.
Se colocarmos os nossos olhos somente n’Ele, na Sua Palavra, no Seu
amor, na Sua santidade e misericórdia para transformar, a Sua vida
deixará as Suas marcas em nós. É isso o avivamento. O avivamento que
recebemos de Deus não é nada mais que isso. É algo nascido da própria
Palavra de Deus. Este avivamento entre nós aconteceu precisamente porque
alguns poucos Cristãos reuniram-se diante da Palavra de Deus e
pesaram-se através dela. A Palavra teve a oportunidade e a capacidade de
falar com eles e de os colocar na balança de Deus. Quando, em 1966,
decidiram investigar a Palavra de Deus minuciosamente e espelharem-se
nela, o avivamento começou.
Os crentes ali diziam que, se houve
alguma era na história deste mundo onde os Cristãos mais precisaram da
Palavra de Deus, essa era é aquela em que vivemos. Os apóstolos só
tinham parte das Escrituras completas, mas, nós que temos toda a
Escritura, não temos como nos desculpar! Quando Jesus caminhava com Seus
pés nesta terra, Ele mesmo disse que não estava ali para julgar o mundo,
mas, que a Sua Palavra o faria. Seria a Palavra a julgar. É por essa
razão que devemos prestar a maior atenção à Palavra de Deus. A Palavra
de Deus deve ser a nossa medida, a nossa orientação. É por ela que nos
devemos testar e provar diariamente. Se não o fizermos, iremos seguir
com a corrente e iremos parar no inferno, como a maioria dos crentes.
Não podemos seguir o caminho da maioria e nem os caminhos das pessoas e
dos pregadores, mas, das palavras de Jesus. É por ela que nos devemos
medir. Não podemos seguir atrás dos costumes e das lendas tal e qual a
maioria dos Cristãos faz hoje em dia. Não nos podemos habituar, também,
às coisas que a maioria dos Cristãos se apegou com o decorrer dos
séculos e que as igrejas defendem. Não são esses costumes que nos irão
julgar um dia.
Sabia que se lançarmos uma rã na água
quente ela morre logo e que, se a colocarmos na água fria e começarmos a
aquecer a água gradualmente ela aguenta-se muito mais tempo com vida? A
rã aguenta-se com vida até temperaturas muito altas se formos aquecendo
a água gradualmente porque o seu organismo começa a adaptar-se à
temperatura conforme ela vai subindo. Da mesma maneira, as pessoas podem
acostumar-se a muitas coisas se forem colocadas nelas gradualmente. As
coisas do mundo que estão em direta oposição e inimizade à Palavra de
Deus começam a entrar em nossas casas gradualmente e acabam em nossos
corações sem que nos façam sentir mal. Essas coisas foram entrando na
igreja sutilmente e foram moldando e adaptando o corpo e o organismo
para não se sentirem mal com as coisas do mundo. Hoje, o mundo reina em
paz dentro das igrejas de todo mundo e, quem se opuser a isso, é
prontamente excluído! Os corações e as almas dos Cristãos estão sendo
governados pelas coisas do mundo e assim desejam permanecer. Essas
coisas acontecem de forma tão gradual e tão sutil que poucos se dão
conta desse esquema sábio do diabo. Devemos levar isso em conta. Se não
o fizermos, podemos habituar-nos ao mundo e ao mundanismo de tal maneira
que acabamos por ser arrastados e arrastar muitos conosco para o abismo.
No Oceano Índico existem correntes
fortes abaixo da superfície da água. Em cima, a água está parada, mas,
na parte de baixo existem muitas correntes poderosas capazes de arrastar
muita gente para as profundezas. Também existem correntes na superfície,
as quais não arrastam para as profundezas, mas são capazes de arrastar
para dentro do mar sem que alguém se dê conta. E, de repente, a pessoa é
lançada contra rochas por haver-se afastado da praia. E porque acontece
isso? Porque as pessoas desatentas são levadas por não prestarem atenção
e pagam essa falha com a sua vida. Espiritualmente falando, aprendemos
uma grande lição com este Oceano. Devemos prestar a maior atenção às
Escrituras e colocar-nos constantemente à prova perante elas. Ainda sou
um Cristão na verdadeira essência da Palavra? Ainda me baseio e me firmo
somente na Palavra de Deus? Permaneço igual à Palavra e ao que ela diz?
Faço somente e integralmente aquilo que vem na Palavra tal e qual ela
diz? Faço tudo quanto Deus me manda e tudo aquilo que Ele espera que eu
faça logo e da maneira que Ele exige? Estou ao nível espiritual que
devia estar? Ou será que me deixei levar pelas correntezas sutis do
mundo sem aperceber-me disso?
Pouco tempo atrás aconteceu uma coisa
entre nós, em Kwasizabantu, que foi uma grande lição para todos. Um
homem de origem alemã, cujos pais vieram há muitos anos para a África do
Sul, ocupava um excelente cargo em seu emprego. Era um especialista em
sua área e todos os Cristãos da sua congregação consideravam-no um
excelente exemplo. De repente, adoeceu. Foi a médico e, depois de
consulta minuciosa, ficou a saber que os médicos nada mais podiam fazer
por ele. Estava com câncer em um estado muito avançado. Não havia
qualquer esperança para ele. Podemos somente imaginar o grande choque
que a notícia causou nele. Foi um grande impacto. Um dos nossos
cooperadores foi visitá-lo e ele contou-lhe:
“Desde que tomei consciência da minha
doença, começou a acontecer uma coisa muito estranha comigo. Dia e noite
toda a minha vida passa diante de mim, desde os tempos de criança.
Lembrei-me de uma coisa que prometi a alguém, a qual nunca cheguei a
cumprir. Liguei, de seguida, ao meu filho pedindo-lhe para levar-me à
pessoa em questão. Quando cheguei lá, expliquei que já não me restava
muito tempo de vida e que Jesus estava colocando todo o meu passado
diante dos meus olhos. Fez-me lembrar das minhas culpas
misericordiosamente e mostrou a minha falta de fidelidade. Fiquei
convencido que sou um grande mentiroso. Para compensar o incumprimento
da minha promessa, passei um cheque com uma quantia enorme.
Olhou para os olhos do missionário que o
visitava e disse ainda:
“Meu querido irmão, preciso preparar-me
para entrar na eternidade! O passado está encerrado e tudo acaba aqui.
Não quero mais saber de política, não tenho mais tempo para esse tipo de
coisas. Não me interessa saber de nada do que se passa neste mundo.
Anteriormente, era algo importante em minha vida. Mas, agora, nada disso
conta mais e nada disso me interessa. Os meus pensamentos não conseguem
digerir nada que pertença a este mundo. Todas as minhas obras, palavras
e ações são nitidamente colocadas diante de mim. Peço perdão por ter
vivido assim, interessando-me por muitas coisas deste mundo e ter vivido
da maneira dele por longo tempo”.
Foi assim que aquele irmão partiu para a
eternidade. Encontrou o seu fim inesperadamente. Ainda bem que, para
ele, ainda houve um tempinho para achar misericórdia.
Nos Estados Unidos vivia uma moça muito
linda. Era a menina do olho dos seus pais orgulhosos. Ela destacava-se
muito das outras moças e sabia-o. Já na escola, todas as pessoas
seleccionaram-na como a mais bela. Quando estava na Universidade, foi
escolhida como a mais bela de todas. Quando olhavam para ela, não
conseguiam parar olhar. Os seus pais orgulhavam-se muito disso e
sentiam-se vaidosos por haverem sido eles a trazerem tanta beleza para
este mundo. Foi eleita como a rainha da beleza e uma grande festa foi
programada para a ocasião. Os próprios pais recolocaram a coroa dela
sobre a sua cabeça. Estavam muito felizes e muito orgulhosos de sua
filha. Quando terminou a festa, os pais despediram-se da filha e foram
para casa. Assim que chegaram a casa, o telefone tocou. A mãe atendeu e
ouviu a voz de um médico muito preocupado:
“Venham imediatamente para o hospital.
Houve um acidente e a vossa filha encontra-se em estado muito grave.
Encontra-se na unidade de cuidados intensivos”.
Quando os pais chegaram ao hospital e
entraram na unidade de cuidados intensivos, não conseguiam reconhecer a
filha. Tinha o rosto completamente inchado e destorcido. Estava deitada
numa cama especial porque tinha o pescoço quebrado e os seus pés estavam
desfeitos. Estava toda entubada e havia muitos aparelhos à volta da
cama. A mãe ficou calada, em estado de choque e sem expressão. Sentou-se
ao lado da filha. A moça estava consciente de tudo e apercebeu-se da
proximidade da sua mãe. Abriu os olhos e sussurrou:
“Mãezinha, chegou a minha hora. Estou às
portas da morte. A senhora ensinou-se sempre como uma menina deve
arranjar-se e maquiar-se, como devia acender um cigarro e como devia
segurar um copo de vinho e beber com etiqueta. Mas, a senhora não me
ensinou como devo morrer. Estou falecendo e entrando na eternidade sem
preparo. Mãe, o que devo fazer agora? Tem alguma coisa para ensinar-me?”
A mãe ficou sem palavras, não sabia
explicar para a filha o que devia fazer para entrar na eternidade em
paz. Começou a chorar.
“Mãezinha, por favor, apresse-se a
explicar-me o que devo fazer! O meu tempo está esgotado! Estou morrendo!
Que devo fazer?
Mas, não veio resposta nenhuma da boca
da mãe. E foi assim que a vida da moça acabou. Faleceu logo de seguida.
Acham que ela colocou-se na balança enquanto vivia? Estava na luz?
Diga-me, se você morresse agora, em que situação se encontraria? Estaria
pronto para morrer? Estaria alegre no leito da sua própria morte? Ou
estaria leve demais se o peso de Deus fosse colocado no outro lado da
balança? Já entendeu a verdadeira mensagem do Evangelho? Vive de acordo
com ela? Pode ser julgado de acordo com tudo que vem nas Escrituras? O
Senhor Jesus poderá dizer para si: “Bem está, servo bom e fiel. Sobre o
pouco foste fiel, sobre muito te colocarei; entra no gozo do teu
Senhor”, Mat.25:21. Estamos todos prontos para morrer? Você está pronto?
Pense bem nisso e responda! Olhe para si mesmo e coloque-se à luz das
Escrituras e da eternidade. Como estaremos diante daquela luz que
ninguém consegue abafar ou atenuar? Devemos arranjar as nossas vidas
imediatamente sem mais perdas de tempo e sem mais desculpas e evasivas.
As nossas vidas devem ser um espelho fiel das Escrituras se quisermos
passar o teste da luz de Deus. Qual é o verdadeiro estado da sua vida?
Em que estado se encontra precisamente neste momento?
Dentro de um avivamento genuíno, a
Palavra de Deus é viva e muito afiada. É mais afiada que uma espada de
dois gumes, a qual corta pelos dois lados. No Dia do Juízo será tudo
igual, pois, ali, a Palavra de Deus será o único fator determinante.
Seremos julgados por essa Palavra e as decisões do Juiz serão tomadas à
luz daquilo que as Escrituras dizem. Não podemos ser o nosso próprio
espelho e não poderemos contornar este fato. Não teremos como fugir da
Palavra de Deus naquele dia. A Palavra irá alcançar-nos sempre, seja
hoje ou mais tarde. A Bíblia será a medida que Deus usará nesse
Tribunal. Agora, entendem por que razão digo às pessoas para pensarem
muito bem antes de pedirem um avivamento? Já tomaram consciência do que
significa sermos julgados pela Palavra de Deus quando menos esperamos?
Já se perguntaram se conseguem aguentar uma situação onde a Palavra de
Deus começa a ser viva e começa a operar? Seremos capazes de seguir em
frente quando a Palavra começa a apontar tudo de forma clara e a
comparar-nos com ela, quando a Palavra é o sim e o amém? Quando um
avivamento chega, não podemos viver mais da nossa maneira e as coisas
nunca mais vão correr do jeito que queremos. Ninguém mais poderá
esconder pecado e ninguém conseguirá abrigar um segredo em seu coração.
Todos precisam passar por uma transformação genuína e a conversão já não
pode ser leviana. Toda a nossa existência precisa ser colocada em ordem.
Devemos saber andar naquela luz onde tudo é claro e nada fica escondido.
E é nessa luz, substanciada pela própria Palavra de Deus, que devemos
andar continuamente. É precisamente nessa luz que devemos poder andar
sem hesitações ou impedimentos antes de sermos julgados.
Vamos colocar as nossas vidas à prova
enquanto o futuro ainda nos parece longe, diante de nós. Ninguém sabe
quanto tempo de vida lhe resta ainda. Será que Moisés afirmou em vão,
“Ensina-nos a contar os nossos dias, de tal maneira que alcancemos
corações sábios”? Sal.90:12. Um dia, muito em breve, estaremos diante de
Deus, quer tenhamos a certeza de estarmos salvos ou não. Tanto os que
têm a certeza da vida eterna e os que não têm, todos deverão comparecer
diante do Juízo Final. Devemos estar sempre alerta e andar no temor do
Senhor e da Sua vinda porque, lá, as certezas não contarão para nada.
Ele pode voltar a qualquer momento e virá no momento que menos
esperamos. Seremos todos colocados na sua balança e precisamos
equilibrar o nosso peso com a Sua Palavra. Ai de nós se formos achados
mais leves e a balança desequilibrar-se contra nós! Saibamos que seremos
todos pesados, sem exceção. É mais provável que Deus nos vá chamar
precisamente quando não estamos orando ou de joelhos. Irá chamar-nos no
momento menos oportuno. Seremos chamados no momento em que estamos
pecando e não no que estamos orando. Deus também nos pode julgar
naqueles momentos de impaciência, mágoa ou irritabilidade. Virá quando
estamos com maus pensamentos e más conversas, quando estamos orgulhosos
e pensando sermos mais que os outros. A verdade é que não sabemos em que
circunstancias Deus virá e em que momento nos apanhará.
Já aconteceu muitas vezes comigo os
Europeus dizerem-me: “Erlo, em África podes falar dessa maneira, porque
lá vivem de outra maneira. As circunstâncias são diferentes. Lá vivem
uma vida inocente e simples. Mas, aqui na Europa é diferente. Temos
lojas de objetos sexuais, a televisão é imoral e cheia de coisas
perversas. Aqui lidamos com pornografia e idolatria de todo tipo e temos
muitas imagens de moças nuas e moços nus espalhadas por todo lado e em
todas as ruas. Diariamente ouvimos todo tipo de música mundana. Não
temos opção senão sermos envenenados por estes males. Então, não podes
esperar que vivamos nesta Europa moderna da maneira que explicas em teus
sermões. Podes pedir essas coisas a povos primitivos e inocentes, mas,
não a nós”. Que esperam que lhes responda? Tal como o fermento incha a
massa, assim faz o pecado com as vidas dos que se chamam Cristãos por
este mundo a fora. Mas, devemos saber já que somente aquele
espírito que é capaz de atestar na vida pessoal que Cristo realmente
veio na carne para vencer e derrotar todo tipo de pecado é que,
realmente, pertence a Deus. Examine-se a si próprio e coloque-se à prova
para ver se ainda está no caminho de Deus e na fé. Pergunte-se a si
mesmo que tipo de espírito está em si, se de Deus ou do mundo. Jesus
também deseja ter uma igreja pura, imaculada e resistente ao pecado
dentro do mundo moderno e industrializado. Sempre que os Cristãos
obtiverem vidas purificadas e santas, um avivamento começará em seu meio
que será operado pelo Espírito Santo de Jesus. Para que o Espírito Santo
possa operar em sua vida, precisa ter espaço livre em todo o seu coração
e vida. Ele chama-se Espírito Santo precisamente porque não
tolera qualquer tipo de sujidade ou de impureza no lugar onde habita. Se
o Espírito Santo conseguir uma oportunidade de operar através de nós,
toda a glória de Deus manifestar-se-á. E o deserto será transformado num
jardim de beleza incomparável. Então, todos olharão para aquilo que
antes era deserto para o verem florir de beleza, cheio de vida. O mundo
verá claramente, então, que Deus realmente existe e que ainda é o mesmo
Deus neste nosso século vinte.
PURIFICA-TE E LIMPA A TUA PRÓPRIA VIDA
Se Deus opera, é porque faz aquilo que
quer. As coisas acontecem da maneira que Deus deseja. Usa pessoas
somente como instrumentos. Por essa razão, pode surgir a seguinte
pergunta: como posso tornar-me um instrumento de honra em suas mãos? Em
todo lado fazem-me essa pergunta. Os Cristãos desejam saber: “Que
devemos fazer e como devemos proceder para termos, também, um avivamento
genuíno em nosso meio? Como posso tornar-me instrumental e ser usado por
Deus para uma obra dessas? Que devo fazer para ser usado?”
Nas Escrituras vem escrito o seguinte. “Ora,
numa grande casa não somente há vasos de ouro e de prata, mas também de
pau e de barro; uns para honra, outros, porém, para desonra”. Vemos
que existem instrumentos numa casa que são descartáveis e para uso comum
e outros são mais importantes. Mas, a parte mais importante da conclusão
desta verdade, é o versículo que se segue: “De sorte que, se alguém
se purificar destas coisas, será vaso para honra, santificado e idôneo
para uso do Senhor e preparado para toda a boa obra”, 2Tim.2:21. Foi
precisamente isso que aconteceu conosco no inicio do avivamento. É essa
a chave de todas as perguntas sobre o avivamento e a falta dele. De
acordo com estas palavras do Apóstolo Paulo, devemos purificar-nos de
toda a imundície e de impureza da carne e do espírito. Não existe outra
maneira de nos tornarmos instrumentos que possam ser usados por Deus.
Algumas pessoas dizem: “Não posso fazer nada porque nasci assim. Eu
tenho este caráter já desde nascença, pois, meus pais também o têm e
passaram-no para mim. É a minha herança genética. Não posso mudar. Serei
sempre um instrumento de desonra para Deus, o qual Ele nunca irá usar.
Infelizmente, não existe nada a fazer”. Agradeça a Deus que isso não é
bem assim! Isso não é verdade. Ninguém é obrigado a permanecer da
maneira que sempre foi, nem mesmo quando é um vaso para destruição e
para todo tipo de desonra. Não é preciso permanecermos com essa ideia
fixa que iremos ser uma vergonha para nosso Deus! Tudo ainda pode
tornar-se novo!
Com o decorrer dos anos, pudemos
confirmar, em muitas ocasiões, que Deus não tem preferência de umas
pessoas sobre as outras. Homem ou mulher, jovem ou velho, qualquer um
pode facilmente tornar-se um vaso para bom uso e de grande honra, desde
que se limpe e se purifique. Qualquer pessoa limpa vê Deus e torna-se um
instrumento em Sua obra. Não é necessário que uma pessoa seja formada e
não importa que seja analfabeta. A coisa que mais conta é a purificação
do homem desde os fundamentos do seu coração. Se a pessoa for santa de
coração, poderá alojar o Espírito Santo. Onde existe uma pessoa pura,
existe trabalho para o Espírito Santo fazer através dela. Quando existem
pecados em nossa vida, o Espírito Santo entristece-se e Ele simplesmente
pára de operar até que os pecados em questão sejam determinantemente
exterminados. As Escrituras dizem: “Todavia o fundamento de Deus fica
firme, tendo este selo: O Senhor conhece os que são seus e, qualquer que
profere o nome de Cristo, aparte-se da iniquidade”, 2Tim.2:19.
Consegue ver o que conta aos olhos de Deus e qual é a única base onde
Deus pode construir? Deus não construirá sobre nenhum outro alicerce.
Esse fundamento, esse alicerce, é: qualquer que profere o nome de
Cristo aparte-se da iniquidade. Se construirmos sobre outro tipo de
base, sobre outro tipo de fundamento ou alicerce, estamos construindo
sobre areia. Quando se trata da purificação que Deus exige de cada um de
nós, não podemos depender do juízo que os humanos fazem sobre o assunto,
não podemos confiar naquilo que entendemos ou aceitamos e nem podemos
basear-nos em qualquer doutrina ou ensinamento. As coisas precisam ser
preto no branco sem acrescentar e sem tirar da Palavra de Deus. Só
podemos construir em cima do fundamento de Deus, o qual é: “Qualquer
que profere o nome de Cristo, aparte-se da iniquidade”. Deus nunca
suporta uma mentira. E sabemos que quando Deus fala sobre a mentira, não
se refere às mentiras de outras pessoas, mas, às nossas. Os meus são os
únicos pecados capazes de entristecer o Espírito Santo.
Com o intuito de dar ênfase a isto, irei
usar um exemplo de uma filha de Jesus. Ela vivia numa certa área de um
distrito juntamente com umas pessoas que tornavam a sua vida impossível.
Logo na primeira semana, assim que casou, já havia levado com um pau na
cabeça. O marido dela era um homem muito bruto e explodia de ira
facilmente. Era alcoólico, dizia muitos palavrões e fazia muitas coisas
erradas. Havia pouca gente como ele. Mesmo trabalhando, não se
preocupava com o bem-estar da esposa e dos filhos. Como consequência,
três dos seus filhos morreram à fome. Não apenas gastava todo o seu
salário em bebida, mas, quando chegava a casa diariamente, pegava no
chicote ou num pau e batia em todos. Ainda hoje aquela pobre mulher tem
cicatrizes originadas na pancadaria que o marido aplicava nela. Todos os
filhos têm ou tinham grandes marcas de maus tratos por parte do pai.
Muitas noites, tanto a esposa como os filhos precisavam dormir na rua ou
no campo escondidos dele. A sua vida era muito difícil, chegando ao
ponto de tornar-se insuportável.
É interessante verificar que Deus começa
sempre a operar lá onde as circunstâncias são mais difíceis e
insuportáveis. É isso que explica aquele hino que diz que “quanto mais
escura a noite, mais brilham as estrelas”. E isso é verdade. Quanto mais
escuras forem as circunstâncias onde nos encontrarmos, mais brilhante e
clara se torna a nossa luz – se realmente formos luz. Entre os Zulus, as
famílias vivem em comunidade. As sogras vivem com as noras e netos. E
neste caso que estou descrevendo, a vida em comunidade era um verdadeiro
inferno. A juntar a todos os problemas, a sogra da senhora era uma
pessoa muito má também. Não era de admirar que todos os dias houvesse
brigas e pancadaria. Os filhos chegaram ao ponto de desejar a morte do
pai e chegaram a prometer que o matariam assim que tivessem crescido. As
coisas continuaram daquela maneira até que a mulher se converteu em
1963. Nunca poderei esquecer a sua conversão. Lembro-me perfeitamente
como ela chegou a um culto e depois veio conversar comigo cheia de
queixas.
“Ó, o senhor não imagina como sofro
debaixo das mãos do meu esposo! Ele é muito duro comigo e bebe
muitíssimo. Anda com outras mulheres, usa muita linguagem rude e feia e
faz muitas coisas horríveis”.
Depois disso, foi a vez de falar sobre a
sogra. Quando terminou de se queixar, perguntei-lhe:
“Diga-me, como estão as coisas consigo?
Como está a sua vida pessoalmente?”
Ela era a líder dos jovens e uma crente
nominal. Cheia de mágoa e ferida com a minha pergunta direta, respondeu:
“Por que me pergunta uma coisa dessas? O
problema está em meu marido e não em mim. Não sou a culpada e antes ele!
A culpa de haver tantas brigas em casa é somente dele”.
“Vamos ver o que diz a Bíblia a esse
respeito”, respondi. De acordo com a Bíblia, a sua casa é o seu campo
missionário. É um enorme privilégio podermos viver num lugar tão escuro.
É precisamente nessas circunstâncias que a luz da senhora deve brilhar
mais”.
“Ó, mas, como é difícil!” Interrompeu-me
de imediato.
Contudo, o Espírito Santo, ainda assim,
começou a Sua obra na vida da senhora. Acabou reconhecendo que também
havia pecado contra o marido e não apenas o marido contra ela. Ela
reconheceu ter muitas culpas a que responder também. Não era apenas a
sogra que vivia com o coração cheio de veneno, mas, ela fermentava muita
amargura, a qual impedia-lhe de perdoar. No momento que ela visualizou
as próprias culpas com os seus olhos espirituais, ela clamou e disse:
“Por favor, agora diga-me o que devo
fazer!”
“Limpe toda a sua vida e regularize
todas as coisas das quais é culpada. A Bíblia diz para vencermos o mal
com o bem”, respondi.
O Espírito Santo continuou operando na
vida dela e acabou por tornar-se um instrumento nas mãos de Deus.
O primeiro passo que deu, foi ir ter com
o marido dizendo-lhe: “Meu esposo, perdoa-me, por favor”. Não mencionou
ao marido o fato de ele ter um relacionamento extra-conjugal com outra
mulher. Somente disse:
“Eu não fui uma mulher conforme a
Bíblia. Não sou uma esposa sujeita ao marido que tenho e nunca te tratei
com amor. Muitas vezes, irritei-te e disse coisas que não deveria ter
dito. Nunca suportei ouvir-te falar asneiras e palavrões e ver-te beber.
Sempre fui uma pessoa impaciente”.
Depois disso, foi ter com a sogra para
regularizar o relacionamento entre ambas. No dia seguinte, quando chegou
a casa pela noite, comprou um pão para a sogra com o último dinheiro que
tinha. E foi amontoando brasas de fogo e de juízo sobre as cabeças
daquelas pessoas que a tratavam mal.
Não muito tempo depois disso, Deus
começou a usar aquela mulher com grande poder. Primeiro, foi o filho
mais velho que se converteu e depois o segundo filho. Depois disso, a
sogra também se humilhou. Logo de seguida, foi a cunhada e uma vizinha
que foram conquistadas pelo seu amor e terminaram em conversão. Foi como
uma reação em cadeia que se espalhou pela área toda. Muitas pessoas
começaram a converter-se e a entregarem-se a Jesus de coração.
Convertia-se uma pessoa após a outra e isso não através de qualquer
pregação, mas, através de um exemplo de vida. Sempre que a vida de
alguém está de acordo com as Escrituras, as suas palavras carregam poder
e glória. Então, todos notam que as suas palavras não são palavras
vazias, as quais ninguém deseja ouvir.
Quero sublinhar que somos testemunhas
oculares de muitos casos destes. Vemos como o Espírito Santo opera e
espalha a verdade sempre que encontra um coração purificado e limpo.
Isso somente confirma que a pessoa está no caminho certo. Muito
rapidamente tornam-se instrumentos nas mãos do Deus vivo. Mas, assim que
as coisas começam a correr bem e permitem que um pecado entre em suas
vidas, tornam-se imediatamente inúteis e passam a ser vasos de desonra
novamente. O Espírito Santo deixa de trabalhar através deles logo de
imediato. Todos nós temos o privilégio exclusivo de nos podermos tornar
instrumentos para honra nas mãos de Deus. Mas, para isso acontecer, será
necessário limparmos tudo nas nossas vidas até aos mínimos detalhes. No
idioma Zulu, dizemos: “Deus só dá avivamento assim que encontra uma vida
capaz de viver da maneira que Deus espera que essa vida seja vivida”. É
muitíssimo importante que as nossas vidas se encontrem numa tal
intimidade com Jesus que não seja uma coisa que dê certo apenas em
alguns momentos. A nossa vida deve ser uma corrente constante de água
viva que não cessa de estar limpa e nem de fluir. Somente nessas
condições Deus concede a bênção da salvação a quem nos rodeia. Foi o que
aconteceu com a mulher que veio conversar comigo. Assim que quis cumprir
a Palavra de Deus, chegou a bênção dela. E agora, depois do avivamento,
Deus ainda a usa poderosamente como um instrumento muito valioso em Suas
mãos. Usa-a, agora, como nunca antes. Devo mencionar aqui um pequeno
detalhe que ela precisou aprender com o decorrer dos anos: enquanto ela
permanecia fiel, o marido permitia-lhe frequentar os cultos. Mas, sempre
que reagisse de forma carnal, se zangasse, gritasse ou estivesse em
rebeldia, então, parecia que o diabo dominava e o marido começava a
proibi-la de ir aos cultos. E sempre que isso acontecia, ela vinha a nós
queixando-se da sua necessidade:
“Eu já não posso vir mais aos cultos. O
meu marido proibiu-me de vir”.
“O que aconteceu?” Perguntava.
“Não aguentei mais. As coisas
tornaram-se demasiado pesadas para mim. Então, eu também disse umas
coisas ao meu marido”.
“Como assim? Foi a senhora que disse na
carne ou foi pelo Espírito de Jesus?”
“Devo reconhecer que não foi feito em
amor. Também não era da vontade de Deus que eu falasse daquela maneira.
O meu coração encheu-se de soberba. Não fui humilde quando falei”.
“Então, a senhora precisa voltar lá e
regularizar a sua vida novamente”.
“Mas, isso é muito complicado! Não posso
voltar lá e pedir perdão pela mesma coisa cem vezes seguidas!”
Contudo, Deus não dava nenhuma outra
saída para aquela mulher. Ela só tinha como opção ir humilhar-se diante
do marido e pedir perdão. “Meu esposo, perdoa-me, porque Deus não me
permite agir dessa maneira.
Logo que tivesse feito aquilo, o Senhor
tornava a abrir-lhe as portas e ela já podia frequentar o próximo culto.
O que nós aprendíamos através do exemplo dela, era que nunca devemos
agir de forma carnal. Quem deve falar é o Espírito. Zangas, brigas,
mágoas e sentir-se magoada por pequenas coisas não passava de obras da
carne. E é dessas obras que nos devemos limpar. Devemos humilhar-nos
para que nenhuma das obras do diabo sejam vistas em nenhum de nós e para
que o Espírito Santo não seja entristecido. Não demorou muito até que o
esposo daquela senhora zulu viesse buscar a sua conversão também. Desde
então, também ele tem levado muitas almas a Jesus.
A verdade é esta: o esposo dela só mudou
quando ela chegou e disse:
“Senhor Jesus, estou disposta a
humilhar-me e seguir o Teu caminho. Estou disposta a fazê-lo e a fazer a
Tua vontade mesmo que necessite ficar com um marido destes até ao fim da
minha vida. Dá-me, por favor, graça e misericórdia para conseguir
permanecer fiel até ao fim”.
Foi só através dessa atitude que Deus
pôde agir e converter o marido dela. Ele pôde ver a grande transformação
na vida dela. Ele chegou diante da esposa e disse:
“Ouve, mulher. Eu conheço-te muito bem!
Sei como és obstinada e como é difícil para ti tornares-te humilde. O
que aconteceu contigo? Pareces uma pessoa diferente! Já não te conheço”.
Foi assim que aquela mulher simples se
tornou uma luz suficientemente convincente para levar outras pessoas a
Jesus Cristo. Na vida dela era verdade que as palavras de Jesus
funcionavam. “Quem crê em mim, como diz a Escritura, rios de água
viva correrão do seu ventre”, João 7:38. O tempo é curto para contar
tudo o que Deus fez através dessa mulher simples. Podia, ainda, contar
como os filhos dela foram convertidos, o pai e a mãe dela também. Foram
todos ganhos para Jesus depois que se humilhou. Esta mulher tornou-se um
instrumento precioso porque estava disposta a limpar-se e a colocar toda
a sua vida em ordem e ao dispor de Jesus.
Espero que o seu exemplo simples também
vos encoraje a seguir os passos dela. É preciso coragem para arriscar e
o resto vem a seguir. É preciso fazê-lo, ainda que no inicio as coisas
ainda não fiquem logo claras. Mas, Deus pode, de seguida, operar de uma
maneira que nem podemos imaginar. Quem sabe se a salvação da sua própria
família não depende da sua vida. Quem sabe se a salvação deles depende
do fato de você necessitar urgentemente de seguir os passos que aquela
mulher deu. Contudo, os planos de salvação que Deus tem não terminam nas
pessoas que mais amamos. Diante de nós está o mundo inteiro. Jesus
deu-nos a ordem dizendo: “Portanto, ide, fazei discípulos de todas as
nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo”,
Mat.28:19. Isto quer dizer, levar o Evangelho a milhões de pessoas que
nunca conhecemos. Nunca em toda a história deste mundo houve tantos
pagãos como hoje. O que acontecerá se Deus nos chamar à atenção
pedindo-nos responsabilidades pelas almas que se estão perdendo? É por
essa razão que cada Cristão deve abrir as portas do seu coração
totalmente, para que haja espaço e oportunidade para Jesus fazer aquilo
que há muito deseja fazer. Se as nossas vidas e corações estiverem
deveras abertos e dispostos a serem limpos, certamente que nos
tornaremos instrumentos valiosos e exclusivos nas mãos do Senhor Jesus.
Ele conseguirá, então, operar através de nós como nunca antes.
Certamente lembram que falei sobre
aquele dia quando tinha um grande peso em meu coração e busquei alguém
para orar comigo. Lembra-se de como eu desejava passar aquele dia em
oração e de como aqueles filhos de Deus me receberam e eu aprendi a
conhecer Jesus de uma maneira totalmente nova. Em seu meio, sempre senti
a presença de Deus de forma muito clara. A verdade é que esse casal que
busquei era precisamente essa senhora, o esposo e os filhos deles.
Sempre que aquela família se ajoelhava para orar, bastavam dois ou três
minutos para os céus abrirem-se e a terra tremer.
Qual é o seu segredo? Como é possível
Deus ouvir as suas orações de maneira tão rápida? O segredo reside
precisamente no fato daquelas vidas estarem limpas e sujeitas a Jesus
incondicionalmente. Eles possuem corações limpos. É desse coração puro
que saem todas as suas orações. É esse o segredo deles. Vêem como é
muito importante termos as nossas vidas bem limpas e colocadas em ordem?
Vamos manter as novas vidas intocáveis e limpas de tudo aquilo que as
possam sujar. Vamos clamar ao Senhor e pedir-Lhe que nos revele esta
verdade de forma clara e que nos mostre tudo aquilo que não Lhe agrada.
A obra principal do Espírito Santo é revelar-nos os nossos pecados. Só
precisamos dar tempo e espaço total a Deus para que possa manobrar
dentro de nós para fazer aquilo que Ele quer. Se Ele fizer a Sua obra em
nós e revelar-nos tudo aquilo que O entristece, não teremos corações
pesados sendo devorados por lástima. Não devemos sentir-nos tristes
revendo todos os nossos pecados. Pelo contrário, deve tornar-se uma
alegria para qualquer um de nós. Vamos usar a Palavra de Deus como um
espelho porque é muito importante que tudo aquilo que seja conseguido em
nós esteja totalmente de acordo com as Escrituras. Vamos, depois,
esforçar-nos com tudo que somos e temos para que as palavras de Deus não
sejam vistas apenas no papel, mas, lidas em nossas vidas. A Sua palavra
deve ser aquilo que pensamos e somos. Vamos ser a Bíblia sempre que
olhamos para o nosso próximo ou o nosso próximo para nós. Que as pessoas
possam ler a Palavra olhando para nós. Só assim seremos instrumentos de
Deus para bom uso e o Espírito Santo poderá usar-nos da maneira que
quiser.
Como estou feliz porque o Senhor não faz
acepção de pessoas, seja a pessoa qual for! Que Ele tenha misericórdia
de nós e que ache no nosso meio, agora, corações dispostos a serem
feitos instrumentos fiéis e valiosos do Espírito Santo. O Senhor Jesus
deseja muito poder usar a si que me ouve hoje aqui. E deseja usá-lo
precisamente no lugar onde se encontra. Viva para Jesus ai onde se
encontra – é precisamente ai onde deve começar a obra de Deus e onde
necessita tornar-se instrumental. Se não conseguir ser um instrumento
onde está, nas circunstâncias onde se encontra, nunca será qualquer tipo
de instrumento de bênção em nenhum outro lugar. Jesus mandou os
discípulos esperarem em Jerusalém por alguma razão. Eles tinham de
permanecer em Jerusalém e não sair de lá. Só depois de haverem espalhado
o Evangelho em Jerusalém, no lugar mais difícil de todos e onde Jesus
foi crucificado e onde eles eram procurados para serem mortos, poderiam
partir para outros lugares com o Evangelho, distribuindo-o
gratuitamente. Todo aquele que se limpa de tudo, torna-se facilmente um
canal para bom uso nas mãos santas do Senhor. Esse instrumento limpo
será usado sob quaisquer circunstâncias para glória do Senhor. Não
demorará muito até que o Senhor comece a usar um instrumento totalmente
purificado de tudo aquilo que contamina ou pode sujar. Que Deus conceda
que se encontrem pessoas as quais Ele pode usar poderosa e livremente.
Que haja pessoas dispostas a serem usadas em qualquer lugar e de
qualquer maneira pelo Senhor e que estejam dispostas a sujeitarem-lhe
todo o seu coração e de aceitarem a verdade com todo ele também.
Um dia, chegou à missão um homem cego.
Um dos missionários disse-me:
“Erlo, aquele senhor deseja falar
contigo”.
“Agora estou muito ocupado. Você pode
falar com ele em meu lugar?” Respondi. Mas, o missionário voltou e
disse:
“Tenho muita pena, mas ele disse que só
quer falar com o senhor e não comigo”.
“Diga-lhe, por favor, que neste momento
não poderei vê-lo porque tenho muitas coisas para fazer. Que deseja ele?
Diga-lhe que pode confiar plenamente em ti e fale você com ele! Não pode
ser você a ajudá-lo?”
Aquele senhor cego não quis nada com a
solução encontrada. Existem pessoas que simplesmente não ouvem! Tudo que
dissermos, será em vão. É muito difícil abrirem mão do que querem.
Preferem quebrar que dobrar. É assim que as pessoas gostam de ser,
cheios de teimosia. Depois, pensei: “Bem, que seja eu a ceder! Não me
fará mal nenhum ceder”. Deixei tudo que tinha para fazer e fui ter com o
homem para saber o que desejava de mim. Ele disse:
“O senhor está vendo que sou cego? Por
favor, ore por mim para os meus olhos abrirem”.
“Deve estar brincando comigo!” Disse,
admirado com aquele pedido. “Isso eu não posso fazer!”
O senhor ficou muito zangado e falou
irado:
“O senhor é Erlo Stegen?”
“Sim, eu mesmo”.
“Bem, lá no lugar de onde venho moram
três pessoas que eram cegas e deixaram de ser cegas quando o senhor orou
por elas. Por que razão o senhor recusa orar por mim?”
“Isso não posso fazer, de maneira
nenhuma. Ainda que deseje muito fazê-lo, a sua atitude amarra as minhas
ações, mãos e pés”.
“Como assim, senhor?”
Passei a explicar-lhe. “Tudo começa no
espiritual. Na Bíblia, num livro chamado Tiago, diz: confessai os
vossos pecados uns aos outros e orai uns pelos outros para serdes
curados”. Expliquei os detalhes do que significava tudo aquilo e
continuei: “Diga-me, o senhor já viu Deus?”
“Não! Como posso? Ninguém vê Deus!”
Respondeu.
“O senhor ainda não viu o Senhor Jesus
crucificado na Cruz? Já se apercebeu como os seus pecados foram
responsáveis pela morte d’Ele na Cruz?”
O homem Zulu riu: “Não, não! A culpa da
morte de Jesus não foi dos homens negros! Foram os brancos que o
crucificaram e não nós!”
“Já alguma vez se apercebeu da santidade
de Deus? Já alguma vez experimentou que Deus é um Deus santo?”
“Não, ainda não”.
“Já alguma vez pensou na realidade de
que Jesus também morreu por causa dos pecados que o senhor cometeu?
Também contribuiu para crucificar Jesus! Foram os seus pecados que
pregaram Jesus naquela Cruz”.
O pobre homem escutava atentamente as
minhas palavras. De repente, os seus olhos espirituais abriram-se e ele
entendeu a verdade. Exclamou logo de seguida:
“Agora, eu acho que estou entendendo! Já
comecei a entender aquilo que o senhor quer me explicar”. E mesmo antes
de eu poder dizer mais alguma coisa, o homem abriu o seu coração como
uma janela e começou a orar e a confessar todos os seus pecados diante
de mim. Começou a confessar desde os seus tempos de menino. Não parou de
confessá-los, um por um. Trouxe cada pecado para a luz de Cristo.
Depois, disse: “Ó, como sou um pecador grande! Sou horrível!”
Sabem o que aconteceu de seguida? Assim
que terminou e tirou todos os seus pecados do caminho, pulou e começou a
gritar:
“Os meus olhos abriram! Consigo ver!
Consigo ver!”
Foi assim que, logo de seguida, acabou
por ver a luz de forma física também. Nem sequer fizemos uma oração para
que o milagre acontecesse. Ninguém lhe impôs as mãos e ninguém havia
feito qualquer tipo de oração a respeito do seu estado físico. O Senhor
Jesus tomou toda a iniciativa em Suas próprias mãos e fez aquilo que
entendeu fazer da maneira que quis. Jesus mesmo se deu a conhecer ao
homem.
Em Tuguela Ferry, uma zona das
redondezas, era tudo muito seco. A área experimentava uma grande agonia
com falta de chuva. Todo o distrito estava sequíssimo e a terra não
podia ser plantada ou semeada. É muito raro haver chuva naquelas bandas.
Espiritualmente, as coisas ainda eram piores. Muitos missionários já
haviam tentado converter o distrito nos cem anos anteriores. Contudo,
nunca tiveram qualquer sucesso. As pessoas não queriam saber nada do
Evangelho. E toda aquela zona estava completamente deserta no tocante à
verdade até que Deus resolveu intervir. Mandou um poderoso avivamento
para toda a região. Milhares de pessoas começaram a converter-se e a
confessar os seus pecados. Assim que as poderosas águas espirituais
começaram a abundar e a abrir caminho naquele território, vieram,
também, as águas das nuvens. Nunca choveu tanto como então. Todo o povo
exclamava com alegria afirmando que as chuvas começaram a chegar desde o
momento que a região se entregou a Deus para serem purificados de todos
os seus pecados. Juntamente com a enorme bênção espiritual, chegou a
chuva. Assim é o Deus que conhecemos e que nunca negamos! Não existe fim
para as Suas misericórdias todas. E quando curou a sua terra, todo o
território, Deus também começou a curar o povo das suas doenças e males.
As pessoas fisicamente doentes eram curadas assim que viam o Messias e
limpavam todas as suas vidas sem deixar pecado por limpar. A sua vez de
serem curados havia chegado. Os cegos podiam ver, paralíticos podiam
andar e os mudos começaram a falar. Todos exuberavam vivendo com a
alegria o fato de terem sido visitados por Deus. Aquilo que o profeta
profetizou com grande expectativa, aconteceu, também, em nosso meio.
De repente, havia uma enorme fome pela
Palavra de Deus em todo aquele território. O povo aglomerava-se só para
ouvir o Evangelho. Depois dos cultos, muitos ficavam para trás para
purificarem as suas vidas, confessando pecado a pecado. Corriam para
onde ouvissem que estávamos pregando o Evangelho. Nem era necessário
fazer qualquer tipo de apelo. Não era necessário chamarmos o povo para
se apresentar na frente do púlpito. Não me era necessário dizer-lhes que
precisavam converter-se e entregar-se a Cristo. A própria Palavra de
Deus tornou-se viva e eficaz - sozinha. Tomou as rédeas em suas próprias
mãos. Todas as pessoas sabiam perfeitamente tudo o que deviam fazer e
como deveriam fazer. Nem era necessário dizer-lhes que deviam confessar
todos os seus pecados, pois, faziam-no sem ninguém dizer-lhes nada. O
Espírito Santo explicava-lhes tudo pessoalmente. Tudo quanto deviam
confessar já se encontrava em seus lábios e confessavam sem demoras.
Chegavam a nós e suplicavam: “Por favor, senhor, dê-nos uma oportunidade
de confessar os nossos pecados juntamente com os senhores e orem por
nós!” Quando pregávamos naquelas zonas, as pessoas diziam que não podiam
voltar para casa sem estarem sanados e limpos de todos os pecados.
Diziam que não se atreviam a sair dali sem antes haverem colocado todas
as suas vidas em ordem. Todas as suas impurezas e iniquidades eram
trazidas para a luz e mencionavam pecado por pecado na nossa frente.
Quando chegavam aos locais onde íamos pregar, estavam sob enormes cargas
e de rastos debaixo da convicção de pecado. Mas, quando saiam dali,
parecia que haviam entrado no céu. Os seus rostos mudavam e as suas
feições brilhavam. Era uma alegria pura, de criança, a qual víamos nos
seus rostos aliviados depois de receberem perdão. Os olhares pareciam
cheios de vida, alegres e expressivos. Foi assim, dessa maneira, que
Deus operou em nosso meio. Cada dia juntava muitas pessoas aos que já
haviam sido purificados.
Uma vez, decidimos ter cultos ali
durante três dias seguidos. Normalmente, pregávamos ao ar livre, no mato
e nas vilas. Mas, naqueles dias decidimos estender uma tenda enorme. A
verdade é que a tenda tornou-se pequena demais para tantas pessoas com
fome da Palavra. Na sexta-feira à noite, num desses cultos, reparei numa
moça mesmo à frente do púlpito, completamente paralisada, estendida numa
maca ou esteira. O lugar estava lotado e ainda havia muito povo do lado
de fora. A moça estava ali, na frente, completamente inerte. Não se
mexia.
No Sábado, pela noite, eu estava,
pessoalmente, muito cansado. Devido à exaustão, pedi que me chamassem se
necessário, pois, ia deitar-me um pouco para descansar. Precisava
descansar primeiro e só depois de descansar teria condições para
continuar. Pedi aos cooperadores para resolverem as questões, reunirem o
povo da melhor maneira e explicar-lhes a Palavra e fazerem os
aconselhamentos. Normalmente, era ajudado por cerca de 50 cooperadores.
Eles faziam aconselhamento. Mesmo com tantos cooperadores, era
impossível atender a todas as pessoas, mesmo ficando noites seguidas sem
dormir e passar horas e horas seguidas aconselhando, orando por pessoas
e explicando a Palavra. Muitos dos cooperadores ficavam com os olhos
inchados e vermelhos de cansaço. Houve casos de pessoas que precisaram
esperar cinco dias seguidos até poderem ser atendidas. Só queriam
confessar os seus pecados juntamente com alguém. Não arredavam pé dali.
Muitas vezes, dizíamos que fossem para os empregos e voltassem depois.
Eles simplesmente recusavam. “Não podemos sair daqui sem antes
colocarmos toda a nossa vida em ordem com Deus. Temos de alcançar paz
com Deus primeiro, custe o que custar!”
Saí para descansar, Sábado à noite. Umas
poucas horas depois, os cooperadores vieram chamar-me. Contaram-me que
centenas e centenas de pessoas haviam-se purificado de todos os seus
pecados, colocando tudo na luz. Mas, ainda havia cerca de 200 pessoas
esperando na tenda. Todos eles sofriam de algum tipo de enfermidade e
recusavam sair dali antes orarmos por eles. Queriam ser curados. Quando
acontece isso, quando muitas pessoas doentes se reúnem daquela maneira,
oramos por eles em grupos e impomos as mãos sobre somente uns 5% do
total. Pelos outros, oramos em grupos de dez ou mais pessoas. Por vezes,
eram grupos de centenas de pessoas pelos quais orávamos. Suplicávamos ao
Senhor que tocasse em cada um deles, já que nos era impossível orar por
todos individualmente. Contudo, havia muitas pessoas que eram tocadas
ainda durante a pregação da Palavra. Eram tocadas tanto espiritualmente
quanto fisicamente. Isso acontecia mesmo quando eram irmãos a pregar que
não possuíam o dom de cura, pois, era Jesus quem tocava neles
pessoalmente. Jesus tomava a iniciativa e Ele mesmo fazia a Sua obra.
“…Eu sou o Deus que te cura”, Ex.15:26. Estas palavras ainda hoje são
confirmadas entre nós.
Naquela noite especifica, contaram-me
que havia cerca de dez pessoas cegas que pediram especificamente que
orássemos por elas através da imposição de mãos. Depois disso, oraria
pelos demais em grupos. Sabe o que aconteceu? O poder de Deus naquele
dia era tão evidente e tão presente que curou os dez cegos ainda antes
de entrarmos no local onde nos esperavam. Os seus olhos abriram-se -
simplesmente. Eles podiam ver. Naturalmente que aquilo só poderia
acontecer porque já haviam confessado todos os seus pecados e mencionado
todos eles pelo nome. A sua vida estava em ordem e os seus olhos também
foram colocados em ordem.
Mas, a cura dos dez cegos não foram as
únicas. Ainda havia uma outra senhora cega que foi curada que não estava
ali. Naquele dia, um dos cooperadores trazia muito povo num camião
pequeno. Vinham para os cultos de todo lado. Os zulus não têm noção de
que um carro pode estar cheio demais. Desde que ainda haja um
buraquinho, alguém sobe. Quando o cooperador vinha a caminho, trazendo o
povo, uma senhora cega mandou-o parar. Estava ao lado da estrada com uma
menina segurando a sua mão para guiá-la e ajudá-la. O cooperador parou
amigavelmente e foi falar com a senhora, perguntando em que podia
ajudá-la. Estava a mais ou menos uns 40 km do local onde os cultos
estavam sendo feitos. A senhora disse:
“Ouvi dizer que estavam indo para os
cultos. Posso ir junto?” E a menina também dizia. “E eu também posso ir
junto? Têm lugar para mim?”
“Infelizmente, não é possível! O nosso
carro já está cheio demais. Não cabe nem mais uma agulha nele”,
respondeu o cooperador.
A senhora começou a chorar
copiosamente. O homem teve dó e dirigiu-se a ela novamente:
“Desejo muito levá-la. Espere, eu vou
perguntar se alguém quer sair para a senhora caber no camião. É a única
maneira. Se alguém descer, a senhora sobe”
Ninguém quis descer e dar lugar à
senhora. Todos estavam com muita fome da Palavra. E a maioria havia
vindo de longe e não teria como voltar para casa, pois, não conheciam o
lugar. Também ninguém conhecia gente por ali onde pudessem passar a
noite. Não havia nada a fazer pela senhora. Ela ficou para trás, lavada
em lágrimas e chorando muito. Isso havia acontecido, creio, na sexta à
tarde. No Sábado à noite, cerca da meia-noite, foi quando Deus visitou
aqueles 10 cegos. No domingo à tarde, o cooperador que trouxe o povo,
levava-os de volta para as suas aldeias e territórios respectivos.
Fizeram o mesmo percurso de volta. E ali estava a mesma senhora,
esperando que voltassem. Ela estava muito alegre e pulava de alegria.
“Eu consigo ver! Consigo ver! Agora sou
uma discípula de Jesus!” Dizia.
“Como aconteceu isso, senhora?”
“No Sábado à noite, já muito tarde, os
meus olhos abriram e eu conseguia ver!”
Fizeram mais algumas perguntas e
concluíram que ela havia sido curada à mesma hora que Deus foi
misericordioso para aqueles dez cegos. Foi no mesmo instante que os
curou que ela, também, foi curada e restaurada. Assim é o nosso Deus. A
sua misericórdia não tem fronteiras e não tem lugar onde não possa
alcançar alguém. Não existe ninguém como Ele.
No Sábado à noite, tal como na noite
anterior, estava aquela moça ali na frente do púlpito, completamente
imóvel no chão. Depois de havermos feito uma oração geral para o
restante do povo enfermo, os cooperadores que me assistiam e ajudavam o
povo, chegaram-se e disseram:
“Agora, só falta aquela moça. Ela está
completamente paralisada, dos pés à cabeça. Ela já está na sua cabana,
mas, precisamos ir lá para orarmos, também, por ela”.
“Que estão dizendo? A moça não consegue
falar! Ela não consegue confessar os seus pecados sequer”.
A moça já estava acamada há mais de 18
meses. Já não conseguia abrir os olhos e apenas mexia as pálpebras
ligeiramente. Conseguia movimentar um dedinho da sua mão direita também.
Na verdade, era um cadáver vivo. Os pais já haviam feito tudo que lhes
era humanamente possível. Já a haviam levado a vários médicos em
diferentes lugares e nenhum conseguia ajudá-la minimamente. E como os
médicos não resolveram, foram aos feiticeiros tentar a sua sorte. Um
desses feiticeiros cozinhou um sapo para fazer feitiçaria e tirou o sapo
da água a ferver, colocando-o assim, quente, sobre a testa da moça. Como
consequência, a pele da testa ficou queimada. Por fim, a sua irmã, a
qual era uma professora, trouxe-a aos cultos e colocou-a mesmo na frente
de todos.
“Vocês dizem para eu orar por ela. Mas,
ela arranjou a vida dela com Deus?” Perguntei.
“Sim ela arranjou a vida dela com
Jesus”, respondeu um dos cooperadores, sossegado.
“Isso não é possível. Como conseguiram
isso? Ela nem é capaz de dizer uma única palavra! Como é que ela
confessou os seus pecados?” Quis saber.
“Nós sentamos do lado dela e
perguntávamos: ‘Alguma vez foste desobediente aos teus pais?’ A Bíblia
diz para honrarmos os nossos pais para que os nossos dias se prologuem
aqui na terra. Se não honras os teus pais, então, pecas. ‘Houve alguma
ocasião que não deste ouvidos aos teus pais? Será que alguma vez te
disseram uma coisa a qual nunca cumpriste?’” Como resposta, a moça
pestanejava com as pálpebras para dizer que sim. ‘Alguma vez foste
desobediente aos teus professores na escola? Já disseste alguma
mentira?’ Uma vez mais, as suas pálpebras diziam que sim. ‘Já te
envolveste com os meninos?’
Os cooperadores diziam daquela moça de
18 anos de idade o seguinte: “Ela confessou os seus pecados! E Jesus
prometeu que, se confessássemos os nossos pecados Ele é justo e fiel
para nos perdoar de todas as nossas iniquidades e nos purificar de todas
elas!” Ela estava ali deitada na nossa frente. Assim que os crentes ali
começaram a orar por ela, o poder de Deus manifestou-se de tal maneira
que o corpo dela começou a tremelicar e a movimentar-se como quando um
vento passa por uma árvore. Ela foi colocada em pé como que por umas
mãos invisíveis. Começou a caminhar, mas, já não sabia o que era ter
equilíbrio. O seu cérebro já não assimilava a sua posição em pé e não
mantinha o seu equilíbrio. Caia e levantava-se, ia de um lado para o
outro como uma cana no vento. Primeiro foi para a esquerda e depois para
a direita. Uma das pessoas segurou nela para não cair no chão. Pouco
depois, já se equilibrava e já assimilava a sua postura em pé. Começou a
andar em círculos naquele lugar pequeno e louvava o Senhor cheia de
alegria. Isso aconteceu cerca da meia-noite, também. Mas, de repente,
estávamos rodeados de muitas pessoas. Vieram parar ali como se tivessem
sido chamados. Como ficaram sabendo e de onde veio todo aquele povo, não
sei dizer. Mas, em situações de avivamentos, algumas coisas
inexplicáveis acontecem sempre. Assim acontecem as coisas nos lugares
onde a presença de Deus enche tudo e todos.
Entre aquele povo, havia uns homens
incrédulos que trabalhavam para a Câmara Municipal. Chegaram perto e
perguntaram:
“Onde está a moça que foi curada?”
Respondemos apontando para ela: “Ela
está ali”.
Disseram: “Nós desejamos estar com ela a
sós, por favor. Não queremos nenhum pregador aqui e nenhum crente.
Queremos interrogá-la a sós!”
Os quatro homens ficaram com ela a sós
no quarto. Depois de um longo período de tempo, saíram e exclamaram em
alta voz diante da multidão que estava ali a ouvi-los:
“Anagreta, o Deus que te curou hoje tem
poder até para ressuscitar mortos! Permanece fiel a Ele até ao fim da
tua vida!”
No dia seguinte, pela manhã, alguns
cooperadores levaram Anagreta para ir ver o pai. Ele trabalhava numa
outra cidade como guarda prisional. Saíram dali com ela, que não era
apenas uma moça completamente curada, mas, era uma menina muito alegre e
totalmente liberta dos seus pecados. Quando chegaram ao portão da prisão
onde trabalhava o pai, tocaram a campainha e foi o próprio pai quem veio
atender. Assim que olhou e reconheceu a filha ali em pé, clamou em alta
voz:
“Anagreta, és realmente tu ou é o teu
espírito?”
“Sou eu papai”.
Ele abraçou-a e esqueceu-se
completamente de fechar o portão atrás de si. Os cooperadores precisaram
avisá-lo que o portão ainda se encontrava aberto e que os presos podiam
fugir.
“Como foi possível acontecer isto?”
Queria saber o pai admiradíssimo! “Como é possível?” Perguntava uma vez
atrás da outra.
“O Senhor Jesus perdoou os meus pecados,
pai. Salvou a minha alma e, depois, curou o meu corpo”, explicou a moça.
Mal escutou aquelas palavras, dobrou-se
e disse:
“Ele é realmente o Deus vivo! Não existe
outro como Ele!”
E, assim, o nome de Jesus foi
glorificado. Ainda hoje é glorificado através destas pessoas. Mais
tarde, Anagreta casou-se e teve dois filhos. Como é verdade que “muitos
primeiros serão derradeiros e muitos derradeiros serão primeiros”!
(Marc.10:31). São coisas que não conseguimos definir e explicar através
da nossa mente humana. Contudo, não podemos pensar que são apenas os
cegos espirituais que não enxergam estas coisas. São os surdos
espirituais e os paralíticos espirituais também. Por essa razão, lemos
em Isaías 35 uma palavra que se encaixa de forma perfeita no tocante ao
corpo das pessoas: “E ali haverá bom caminho, caminho que se chamará
o Caminho Santo; o imundo não passará por ele, pois será somente para o
seu povo; quem quer que por ele caminhe não errará, nem mesmo o louco”.
Todas as almas que trilham este Caminho Santo, experimentam uma
conversão e uma transformação total. Alcançaram uma vida simplesmente
profunda e completamente nova. Entraram numa experiencia de vida
desconhecida à qual precisavam ser obedientes. Mas, ai de todos aqueles
que tornem a cair no erro e no pecado de uma vida errante depois de
haverem experimentado a verdade!
Em Tugela Ferry havia um certo
feiticeiro que se converteu. Era cego, mas, quando se converteu, os seus
olhos abriram-se. Uns meses depois da sua conversão e do milagre, a sua
vida antiga prendeu-o de novo. Começou a praticar coisas do diabo
novamente e, um dia, subiu às montanhas para procurar raízes e plantas
para usar em feitiçaria. Quando encontrou as raízes que procurava,
começou a cavá-las. Assim que começou a cavar, perdeu a visão e
tornou-se novamente cego. Não tinha condições para descer da montanha,
sozinho e começou a gritar, pedindo ajuda. Algumas pessoas ouviram os
seus gritos e levaram-no de volta para casa. Ainda hoje é cego. Nunca
mais foi curado. Não foi sem uma boa razão que Jesus, uma vez, disse a
um homem: “Olha que já estás curado; não peques mais, para que não te
suceda coisa pior”, João 5:14.
Um outro zulu de cerca de 90 anos de
idade era parcialmente paralítico e arrastava o seu corpo com alguma
dificuldade. Aquele pagão endurecido ouviu o Evangelho. Chegou à fé.
Deus também curou o seu corpo de maneira maravilhosa. A maravilha
permitiu que o homem começasse a andar normalmente. Permaneceu uns três
dias em nosso meio e voltou para sua casa. Os seus filhos ficaram
completamente pasmados ao verem a transformação na vida do pai.
Gritaram:
“Pai, que aconteceu com o senhor?”
“Jesus curou-me”, respondeu o homem já
com o cabelo branco.
“O Senhor Jesus? Tudo bem, mas,
precisamos, também, agradecer aos espíritos dos nossos antepassados”,
disseram-lhe.
Degolaram um boi para sacrificarem aos
antepassados. Infelizmente, o velho pai não fez nada para impedi-los. No
momento que começou a fluir o sangue do animal para a terra, o velhinho
caiu paralítico mesmo à frente dos filhos. Pouco tempo depois, faleceu e
entrou, assim, na eternidade. É verdade, amigos, o profeta disse uma
grande verdade. Neste caminho só andarão aqueles que são santos. Por
isso se chama Caminho Santo.
A Bíblia diz: “Se o meu povo, que se
chama pelo meu nome, se humilhar, orar e me buscar e se converter dos
seus maus caminhos, então, eu ouvirei dos céus, perdoarei os seus
pecados e sararei a sua terra”, 2Cron.7:14. Talvez você já conheça
este versículo de cor. Mas, diga-me, já se deu ao trabalho de pensar
nesta verdade a sério para ver se isto não é precisamente o que precisa
fazer. Provavelmente, este versículo fala para si. Será que já levou
estas palavras a sério e já as aplicou a si próprio? Já pesquisou todos
aqueles versículos que Deus liga diretamente à Sua boa vontade em
perdoar para ver se o caso não se aplica a si? Deus fala bem claro aqui,
dizendo que “se o Meu povo se humilhar”! “Se o Meu povo buscar o
Meu rosto, se eles se converterem, Eu ouvirei desde os Céus”. Podem ter
esta certeza: nenhum avivamento começa com os de fora. O Juízo começa
sempre na casa de Deus. Todo avivamento começa conosco, com a
purificação e transformação da congregação de Deus. Por isso, é de
extrema importância que sejamos nós a abrir o Caminho através do qual o
Espírito Santo vai operar. Nenhum impuro poderá caminhar nessa via que
se chama Caminho Santo. Para cada cristão, deve ser verdadeiramente um
caminho acessível e prático. Deus deseja intensamente que este caminho
seja usado e que esta via se encontre cheia de gente. Como seria
maravilhoso se toda a Igreja de Jesus, todos que se chamam crentes ou
Cristãos, conhecessem e experimentassem este caminho de glória e de
santidade exclusiva a Jesus e que pudessem ver e provar as virtudes
genuínas do nosso Redentor!
NADA É PEQUENO DEMAIS
Ainda antes de haver começado o
avivamento, já Deus havia começado a operar em minha vida sobre aquelas
coisas ou pessoas que, aos meus olhos, eram pequenas ou insignificantes.
Anteriormente, organizava pregações e campanhas e fazia tudo ao meu
alcance para encher os cultos de pessoas. Espalhava centenas de convites
e panfletos, os quais mandava imprimir. Quando as pessoas vinham aos
cultos, fazia de tudo para que se entregassem a Jesus. Usava de todos os
meios possíveis para convencê-los a aceitarem a fé em Jesus e a
confiarem-Lhe as suas vidas para sempre. Mas, quando o Espírito de Deus
começou a operar, começou a mostrar logo os meus próprios pecados -
pecados esses que eu, até então, considerava insignificantes e aos quais
eu não desejava prestar a atenção devida. Esses pecados eram, segundo as
Escrituras, as pequenas raposas que destruíam a vinha. Deus havia-me
dito:
“Erlo, o que adianta pregares para os
outros quando a tua própria vida está imunda? O teu relacionamento com
os menores e insignificantes que crêem em Mim não é aquilo que espero de
ti!”
Aquelas palavras foram como uma bofetada
no meu rosto. Antes, eu até pensaria mais ou menos do seguinte modo:
“Que tenho que ver com as pessoas mais pequeninas aos olhos de todos?
Aqueles que governam, os que são importantes, esses sim são bem vistos
por mim. Mas, por que me devo preocupar com aquelas pessoas mais simples
que nada significam para este mundo ou para o regalo dos meus olhos?”
Contudo, ficou muito claro, na altura, que Deus vê as coisas de outra
maneira. Jesus esperava de mim que vivesse a verdade do Evangelho
precisamente para com todos aqueles que eu considerava desprezados ou
simples.
A Palavra também diz que, caso um homem
não consiga governar bem a sua própria casa, não pode de maneira nenhuma
ter cargo de liderança na Igreja. Se a minha vida não está em ordem
perante os meus filhos, de que vale pregar para os filhos dos outros?
Como podemos ser líderes dos outros se não conseguimos sê-lo em nossa
própria casa? A maneira que vivemos e convivemos com a nossa própria
família, em casa, costuma ser algo a que não prestamos muita atenção e
não pensamos que seja uma coisa tão importante assim. Não relacionamos
isso à nossa prestação espiritual dentro do Corpo de Cristo. Essa é uma
das tais coisas que, a nossos olhos, é considerada pequenina demais para
ser tratada e para nos ocuparmos dela. Talvez consigamos preparar os
melhores sermões e expressar a verdade da melhor maneira. E, por essa
razão, não nos apercebemos, sequer, que não produzem aquele efeito que
Jesus esperaria. E a verdade é que é através dessas coisas pequenas que
se esvai a bênção que Deus nos prometeu sempre que executamos a Sua
vontade.
Quando o Senhor Jesus ensinava ao povo
sobre isto, Ele mesmo afirmava: “Pois, se nas riquezas injustas não
fostes fiéis, quem vos confiará as verdadeiras?” Luc.16:11. Noutras
palavras, se não somos totalmente fiéis nas questões financeiras, também
o Pai do Céu não nos poderá confiar as coisas espirituais. Se não somos
fiéis em todos os aspectos da vida desta terra, nunca podemos aspirar a
poder trabalhar na verdadeira Vinha do Senhor. Podemos até trabalhar
noutra vinha supostamente espiritual, mas, não na do Senhor. Talvez você
argumente: “Mas, que relação existe entre a minha vida diária e a minha
espiritualidade ou o meu serviço na congregação? Saio-me muito bem no
serviço à congregação! Prego, canto, testemunho e sou convincente e não
tenho qualquer dúvida de que sou uma pessoa salva. Será que conta assim
tanto eu não ser totalmente fiel lá onde trabalho, em meu emprego? Que
diferença faz se as minhas finanças não estão bem cuidadas e se a minha
contabilidade não está em ordem? Tudo isso são questões menores! Será
que são coisas tão importantes assim? Deus dá crédito a esse tipo de
coisas?” Podemos argumentar para nos justificarmos da melhor maneira,
mas, também devemos levar em conta que o Deus do Céu só tem uma resposta
a todos esses argumentos bem elaborados: “Não sendo fiel nas coisas
mínimas, não serás abençoado por Mim!”
Um bom exemplo de um pequeno começo é o
de um certo pai que disse para os seus filhos: “Se um dia, qualquer um
de vós tornar-se Cristão, a minha própria mão pegará em uma lança e eu
mesmo transpassarei o vosso coração de um lado ao outro!” (Normalmente,
quando um Zulu diz uma coisa, ele executa-a e não importa o quanto lhe
custa. Para eles, é uma grande desonra faltar à palavra). E um dos seus
filhos converteu-se. Naturalmente que não contou nada ao pai. Mas,
tentou fazer uma aproximação diferente. Disse ao pai o seguinte: “”Pai,
pequei contra o senhor em muitos aspectos. Como filho, deveria honrar o
senhor e ser-lhe obediente”. Quando o pai viu como estava a ser
valorizado pelo filho que lhe pedia perdão pelas coisas do passado,
ficou muito emocionado e foi sacrificar aos deuses e espíritos para
agradecer-lhes a mudança do seu filho. O trabalho do pai na tribo era
ditar e compor hinos aos espíritos para ensinar a todos. Ele, contudo,
não sabia que tipo de espírito havia transformado o seu filho daquela
maneira. Não sabia a qual deles agradecer.
O filho tornou-se um exemplo para toda a
família e seu rosto brilhava de alegria e humildade. Consequentemente,
todos os outros filhos acabaram por se converter também. Antes, toda a
casa estava cheia de objetos dedicados ao espiritismo e aos rituais de
feitiçaria. Todos os objetos tinham um significado na vida do seu pai.
Através da feitiçaria e adivinhação, conseguia prever o futuro das
pessoas. Depois da sua conversão, o pai trouxe todos os objetos que foi
guardando durante os anos de sua vida. Todos os filhos tornaram-se, com
o tempo, evangelistas ou pregadores do Evangelho. Foram os primeiros da
sua região, a qual estava em densas trevas, a converterem-se pela luz.
As suas vidas, a partir de então, tornaram-se verdadeiras luzes
brilhantes que atraiam todo o tipo de pessoas para Jesus.
Também não devemos começar por cima e
antes por baixo. Que diria de algum jovem que entra para um banco para
trabalhar e logo na primeira semana deseja ser promovido a diretor ou a
gerente? Qualquer um diria que algo está louco e que precisa marcar uma
consulta psiquiátrica. É uma loucura que alguém pense tornar-se gerente
de uma instituição uma semana depois de começar a trabalhar nela.
Qualquer pessoa mentalmente sã sabe que deve começar de baixo e não de
cima. Contudo, não é precisamente isso que acontece com os Cristãos? As
pessoas esquecem que a única coisa que é começada de cima para baixo é a
cova somos enterrados! Do mesmo modo, se não formos fiéis aos mais
insignificantes a nossos olhos, nunca conseguiremos entrar para a esfera
das coisas grandiosas do Céu. Deus, que conhece bem os corações, sabe
que iremos ser infiéis no grande e no muito se não formos fiéis no pouco
e aos menores.
Provavelmente, existem muitos entre nós
desejosos de terem um encontro especial com Deus por desejarmos a bênção
que vem com Ele. Mas, que ideia temos de tal encontro especial? Vamos
analisar e ver o que as Escrituras têm a dizer sobre isso. Quando o
profeta Elias estava dentro de uma gruta, Deus falou-lhe e disse: “Sai
para fora, e põe-te neste monte perante o SENHOR”, 1Reis 19:11. Quando
Elias obedeceu, Deus apresentou-se diante dele. Primeiro demonstrou o
seu poder através de um forte vento, o qual soprava pelas montanhas como
se as fosse cortar ao meio e como se despedaçasse as rochas. Deveria ter
sido uma grande manifestação e um grande sinal. Se isso acontecesse nos
dias de hoje, provavelmente todo o mundo teria imagens do acontecimento
em poucos minutos! Todos os Cristãos, provavelmente, diriam que era uma
grande manifestação de Deus! Contudo, as Escrituras dizem outra coisa.
Dizem que Deus não estava no vento. Depois disso, houve um tremor de
terra. Mas, nem ali estava o Senhor. De seguida, um grande fogo vindo do
Céu, mas, nem ali se encontrava Deus. Mesmo que fossem chamas enormes e
devoradoras, Deus não seria achado nelas. Não representavam Deus. Depois
de o fogo apagar-se, houve uma brisa leve e uma voz suave. Foi quando
Elias escondeu o seu rosto.
Consegue ver a lição que este incidente
contém para nós? Nós procuramos sempre coisas grandiosas e excelentes e
desprezamos, entretanto, as coisas suaves e gentis. E sendo verdade que
Deus se manifesta dessa forma humilde e simples, Ele acaba por passar
por nós sem nos darmos conta disso.
Como somos apressados para testemunhar
do Espírito de Deus quando não existe nada do Seu fruto em nossas
próprias vidas! Como estamos acostumados a exigir de Deus coisas
grandiosas! Mas, se quisermos experimentar as coisas grandiosas de um
avivamento genuíno, precisamos armar-nos com o pensamento que todas as
grandes coisas começam sempre pequeninas.
Quero contar-lhes a história de um certo
homem que orava intensamente juntamente com sua esposa por um avivamento
em seu distrito. Oraram durante muito tempo.
“Senhor, dá-nos um avivamento, quebranta
os corações das pessoas e traz o povo a Ti! Concede uma fome nas almas
das pessoas por Tua Palavra!”
Apesar da sinceridade das suas orações,
tudo permanecia na mesma e a dureza das pessoas permanecia intacta. Não
foi fácil para eles, mas, apesar dos desapontamentos, continuaram
pedindo, confiando que Deus, em breve e em Seu tempo, atenderia os seus
pedidos. No final, a luz raiou e Deus começou a operar em seu meio.
Começou a trabalhar da maneira que o faz sempre: não com os criminosos e
os pagãos de fora, mas, com quem ora! Começou a revelar-lhes as tais
coisas insignificantes a que não davam muita atenção. Primeiro, foi
necessário colocar ordem na casa de Deus e arranjar as vidas daqueles
que pediam avivamento.
Como ficaram felizes quando a primeira
pessoa veio para converter-se! A esposa preparou uma refeição digna de
rei! Alegraram-se e agradeceram a Deus pela primeira alma convertida! E
assim continuou, dia após dia. Deus ia juntando almas de muitas pessoas
que se iam salvando a cada dia. Mas, três meses depois, as coisas
tornaram-se demais para a esposa. Um dia, o marido chegou com dez
pessoas em casa. Todos queriam conhecer Jesus. Ela olhou pela janela
para ver quantos convidados tinha à porta.
“Por que razão o meu marido traz tantas
pessoas para casa de uma só vez?” Murmurava. “Não posso continuar assim!
Estou demasiadamente cansada para receber tanta gente de uma só vez.
Agora, preciso cuidar da comida, servir as pessoas e, depois, ainda
preciso limpar tudo! Não aguento mais!”
Quando o esposo entrou e viu a expressão
no rosto dela, chamou-a e disse:
“Vamos conversar um pouquinho no
quarto?”
Ajoelharam-se e oraram:
“Jesus, perdoa-nos por havermos orado
por um avivamento. Por favor, pára com a Tua obra. As coisas estão a
começar a ser demais para a minha esposa!”
Quando a esposa ouviu aquela oração,
arregalou os olhos com estupefação e converteu-se logo ali do seu
pecado!
Tocou no ombro do marido e disse:
“Meu querido esposo, não ores mais
assim! Pára!” Ele calou-se e ela orou. “Jesus, perdoa-me! Peço do fundo
do meu coração que me perdoes!”
Humilhou-se e implorou o perdão de Deus
de todo o seu coração. E, assim, o Senhor pôde prosseguir com a Sua
obra. O casal tornou-se instrumento na salvação de muitas pessoas.
Eu visitei, pessoalmente, aquele casal
uns tempos mais tarde. Posso dar testemunho de como recebem as pessoas e
de como a senhora se tornou uma fonte de paz e de calma vinda do Céu.
Mais parecia um anjo do que pessoa. Era dedicada à tarefa que lhe
cabia sempre que recebia pessoas. Era uma fonte de simpatia e de
amabilidade. É bem possível que Deus não ouça as nossas orações sobre
avivamento porque Ele vê que não passam de palavras vazias, por muito
emotivas que sejam. Ele bem sabe que as coisas se tornarão insuportáveis
para nós assim que chegue o avivamento. Ele não deseja murmuradores
queixosos em Sua obra. Sempre que Deus começa a operar, nunca nos
devemos esquecer que tudo tem um preço. É verdade que um avivamento
custará muito a quem trabalha nele. É melhor que faça as contas primeiro
e contabilize tudo que vai perder ou deixar de fazer. Será que você irá
ser fiel até ao fim numa situação de avivamento real? Não podemos
ignorar o fato que Deus nos sonda e julga desde o lugar mais fundo do
nosso coração. Deus nunca foi e nunca será tolo dando uma bênção à qual
não iremos ser fiéis. Se formos desistir logo nos passos iniciais, Deus
saberá e recusará a bênção. Jesus bem sabe quais são aqueles que são
capazes de dar continuidade à Sua obra e de levá-la até ao fim. Ele bem
sabe de quem pode esperar certas coisas e de quem não pode esperar. O
mais importante é tornarmo-nos pessoas fiéis em tudo que fazemos ou
pensamos. Deus não nos levará por caminhos fáceis quando pedimos um
avivamento. Ele deseja, somente, que possamos permanecer fiéis onde quer
que nos encontremos.
Deus deseja ardentemente trabalhar
através de qualquer um de nós. Para sermos usados por Ele poderosamente,
não necessitamos ser pastores ou pessoas bem formadas. Talvez você se
encontre na mesma situação que um menino se encontrava, do qual ouvimos
falar quando Jesus multiplicou os seus peixes e o pouco pão que tinha.
Não guardou os peixes e o pão para si. Pode ser que seja você a pessoa
através de quem Deus deseja trazer o Seu fogo para consumir o pecado da
sua cidade ou bairro. Imagine Jesus diante de si dizendo algo assim:
“Com o pouco que tens, os teus pequenos pães e peixinhos, Eu poderia
alimentar uma multidão inteira e trazer abundância espiritual a muitos
famintos e perdidos. Através de ti poderia ter chegado o tal avivamento
se apenas te tivesses mostrado fiel no pouco que tinhas. Mas, não foste
fiel no pouco e mostraste que não estavas disposto a tornar-te fiel no
muito. Não estavas disposto a dar aos outros do pouco que tinhas! As
pessoas à tua volta passam fome porque não multipliquei nada”.
Não devemos pedir coisas grandiosas,
mas, por misericórdia para nos tornarmos fiéis nas coisas menores e
insignificantes. Só assim Deus poderá conceder-nos coisas maiores e de
maior significado - até mesmo sem pedirmos por elas. Tudo que é grande
começou sempre pequeno. Seja totalmente fiel a tudo aquilo que Deus lhe
deu e a tudo que já possui. Não importa o quão pequena a tarefa é - ela
trará uma bênção muito grande. Os Zulus dizem: “A bênção de Deus não
provém do fato de podermos estar diante de multidões e de pregarmos a
verdade, mas, no fato de podermos ser fiéis no emprego e em tudo aquilo
que Deus entregou em nossa mão, seja grande ou pequeno”.
Lembro-me, ainda, quando viajei para a
Europa em 1974. Foi mais de cem anos depois dos meus antepassados terem
vindo para a África do Sul. No primeiro culto, havia somente duas
pessoas. Preguei para aquelas duas pessoas que vieram. No culto
seguinte, já estavam mais três pessoas: dois adultos e uma criança. Eram
cinco no total. Quando vi que o número havia aumentado para cinco,
fiquei muito feliz e pude ver que Deus estava fazendo a Sua obra.
Agradeci a Deus por aquelas vidas. Orei por aquelas pessoas com um
coração grato. Deus sempre me ensinou a estar agradecido pelas coisas
menores e de menor valor aos nossos olhos. Se conseguirmos ser assim,
veremos grandes coisas sendo feitas por Jesus ao nosso redor. Logo
veremos como Jesus abençoa a menor coisa e a multiplica a cada dia
sempre que a fidelidade é multiplicada.
É isso que experimentamos, muitas vezes,
no tocante às coisas materiais e às provisões de comida na nossa missão.
Uma certa vez, tivemos cerca de três mil visitantes. Contudo, tínhamos
pouca comida. Tínhamos apenas algumas poucas panelas com provisões. As
mulheres que estavam servindo na cozinha reuniram-se à volta das poucas
panelas e oraram:
“Senhor, agradecemos-Te pela comida que
temos. Damos graças que ainda temos esta pouca comida. Pedimos que sejas
Tu mesmo a distribui-la e a servi-la. Podes abençoar estes alimentos que
temos? Amem!”
Depois disso, começaram a servir.
Parecia que a comida não diminuía nas panelas. Todos ficaram
satisfeitos. O que sobrou ainda chegou para o dia seguinte. Como podem
ver, aquelas pessoas simples estavam agradecidas a Deus pelo pouco que
tinham ao seu dispor.
Nós, na missão, desejamos muito poder
continuar desta maneira. Queremos andar nos caminhos do Senhor até ao
fim. É o caminho mais maravilhoso que existe, aquele onde o menor é
supra fiel à coisa mais insignificante. É esse o caminho do poder de
Deus.
ALGUNS PENSAMENTOS SOBRE AVIVAMENTO
Sempre que falo sobre avivamento, faço-o
com um desejo intenso em oração para que não apenas me expresse
corretamente e seja ouvido, mas que, ao mesmo tempo, esse avivamento
comece em seu coração de imediato. Um avivamento não é algo que se possa
agendar como se faz com campanhas de evangelização. Tal como o nascer de
novo é um dom do alto, também qualquer avivamento que seja genuíno é um
dom de Deus. A verdade é que durante as campanhas de evangelização, o
homem pode ser o foco central das atenções. Mas, num avivamento real
Jesus é o centro de todas as atenções. Ninguém tem como evitar isso.
Todas as pessoas ficam fora da relevância, nos bastidores. Num
verdadeiro avivamento onde o Espírito Santo opera sem restrições, as
pessoas raramente dão atenção ao que acontece à sua volta, aos milagres
e outras coisas que vão ocorrendo espontaneamente, mas ficam totalmente
focalizadas na pessoa de Jesus. Ainda que aconteçam muitos milagres e
sinais, é isso que acontece sempre. Tudo é feito por causa de Jesus e
através d’Ele. Ele é o ponto central. Todo o resto é secundário, ainda
que aconteçam muitas coisas secundárias. Podemos afirmar com toda a
certeza que só existe obra verdadeira através de qualquer pessoa chamada
para a Sua vinha quando essa pessoa se encontra cheia do Espírito Santo
e do Seu poder e quando o seu coração esteja todo ao serviço de Jesus.
Outra característica de um avivamento verdadeiro é que as pessoas lidam
de forma fulminante contra tudo que é pecado em suas vidas e que elas
começam a estar de acordo com as Escrituras. Isto significa que as vidas
tornam-se celestiais e agradáveis a Deus.
Não desejo repetir as coisas que
experimentamos durante este avivamento na África do Sul. Mas, existe um
fato relevante que desejo frisar: o nosso avivamento começou num
estábulo de vacas. O estábulo estava sujo e cheio estrume de vaca e até
as paredes se encontravam sujas. Para tornar o lugar limpo, precisei ir
buscar alguns prisioneiros, na prisão local, para o limparem, os quais
faziam trabalho comunitário. Enquanto acontecia isso, Deus tomou aquilo
como lição e figura para as nossas próprias vidas. Na altura, eu ainda
não entendia a lição. Mas, com o decorrer do tempo, a lição ficou clara.
Quando desejamos um avivamento, devemos limpar os nossos estábulos em
primeira mão. Todo o estrume que o pecado deixou e até seu cheiro
deve ser retirado de dentro das nossas próprias vidas antes que possa
haver um avivamento. Os nossos corações, motivos e vidas devem ser
totalmente e inquestionavelmente limpos. Deus não viverá numa pocilga,
num coração de gente suja. Num estábulo também existem serpentes, ratos
e outros bichos repugnantes e nojentos. Devem ser todos removidos
também. Nós limpamos as paredes todas e pintamos as paredes de branco
novamente. Isso serve de imagem para todos aqueles que desejam ter um
avivamento. A limpeza é a coisa que precede qualquer avivamento. Se não
estivermos integralmente dispostos a passar por uma purificação total e
pessoal para podermos construir a nossa casa espiritual, podemos orar
por avivamento até à nossa velhice que ele não acontecerá.
Um avivamento genuíno começa sempre
através da operação do Espírito Santo no poder da ressurreição de Jesus.
Vivemos numa era onde se fala muito da terceira pessoa da Trindade,
nomeadamente, no Espírito Santo. Não sei se alguma vez se falou tanto no
Espírito Santo quanto agora, nesta era. As pessoas perguntam mais e mais
e estão cada vez mais interessadas no tema. Contudo, é a minha convicção
pessoal que nunca em toda a história houve tanta ignorância e tantos
mal-entendidos sobre a obra e a pessoa do Espírito Santo quanto agora. É
uma situação triste e deplorável a que vivemos nos dias de hoje. É algo
admirável e incrível de ver como as pessoas vão de norte a sul atrás
deste e daquele, todas tateando em trevas densas e afirmando que a
Bíblia é a sua luz. Não dá para entender como é que se tornou possível
haver tantos Cristãos com a Bíblia à frente dos olhos e não terem olhos
para ver. Nunca existiu tanta infertilidade e tanta falta de
conhecimento verdadeiro quanto hoje sobre a verdadeira obra do Espírito
Santo. Ainda não entendemos bem o significado daquilo que Jesus disse em
João 16:8, sobre o que aconteceria quando o Espírito Santo, o
Consolador, viesse até nós de forma clara. É claro pelas Escrituras que
primeiro irá convencer do pecado e depois da justiça e do Juízo de Deus.
Se a Palavra de Deus é realmente o fundamento de tudo que pregamos e
somos e se vivermos completamente de acordo com ela, saberemos
facilmente distinguir entre todos os espíritos que andam reinando e
operando nas igrejas atuais. Sempre que se ouvir falar de algum
avivamento, poderemos facilmente verificar se vem de cima ou de baixo –
se vem de Jesus ou do diabo!
Deus revelou há muito tempo atrás ao Seu
profeta Joel que derramaria o Seu Espírito sobre toda a carne. E sabemos
que quando Deus decide uma coisa, Ele a executa. Contudo, sabemos que o
diabo não ficará quieto a esse respeito, olhando descansadamente quando
Deus opera. Podemos ter a certeza que fará alguma coisa contra qualquer
avivamento que seja genuíno. Em primeiro lugar, irá tentar opor-se a
ele. Tentará de tudo para destruir ou impedir a obra de Jesus. Se não
conseguir, muda de tática e começa a imitar a operação do Espírito
Santo. Ele juntar-se-á à verdade para miná-la de alguma forma. Ele é
sobejamente conhecido como o anjo da luz. Devemos levar isso em conta
sempre que existe um aviamento, para não falarmos mal daquilo que Deus
faz porque o diabo a imita de outra forma. Devemos estar atentos, tanto
os que trabalham no avivamento quanto os que olham de fora para ele.
Se o Espírito Santo estiver
verdadeiramente no terreno, operando, a primeira coisa que ficará clara
é o fato de as pessoas começarem a abrir os olhos para os seus próprios
pecados. Jesus revela-lhes toda a Sua santidade e toda a Sua justiça e,
todos aqueles cujos olhos são abertos, ficam convincentemente avisados
sobre o Juízo de Deus.
Vemos claramente que toda a operação de
Deus não tem como finalidade as curas dos cegos e não agrega qualquer
valor aos milagres e outros acontecimentos simultâneos ao avivamento. O
diabo tem como fazer qualquer um dos milagres que Jesus executa. A
bíblia alerta-nos claramente para a vinda do Anticristo e de como ele
fará muitos prodígios e sinais. Irá, com certeza, induzir multidões ao
erro e irá prendê-las no engano. Lemos mesmo que a Palavra de Deus avisa
claramente que “muitos Me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não
profetizamos nós em Teu nome? E em Teu nome não expulsamos demônios? E
em Teu nome não fizemos muitas maravilhas?” Então virá a resposta que
desapontará a muitos: “Nunca vos conheci; apartai-vos de Mim, vós que
praticais a iniquidade”, Mat.7:22,23. Na primeira parte destes
versículos vemos que Jesus fala dos milagres noutra perspectiva. Jesus
vê-os com outros olhos. Não vê os milagres da mesma maneira que vemos.
Todos os que pecam terão como herança as trevas eternas, mesmo tendo
sido profetas, milagreiros ou pregadores da Palavra aqui na terra
durante todo o seu tempo de vida. A Palavra de Deus não encobre qualquer
desculpa para o pecado. Hoje vivemos uma época onde se busca muito o
milagre. É verdade que acontecem muitos milagres quando Deus está
realmente presente entre nós. Mas, a maior verdade e o sinal mais
evidente e mais marcante é e será sempre a transformação nas vidas das
pessoas que escutam e recebem a verdade. Sempre que é Deus quem opera
realmente, as coisas decorrem na maior ordem que possamos imaginar. Não
existe maior ordem que aquela onde Deus opera verdadeiramente. E, nessa
ordem, a parte espiritual está sempre em primeiro lugar. Deus não tem
culpa que as pessoas incrédulas e duras admirem-se com milagres e
sinais. Sempre que Jesus opera verdadeiramente, Ele abre os olhos
espirituais das pessoas e Jesus considera esse o maior e, talvez, o
único verdadeiro milagre digno desse nome. A maior maravilha é a cura do
espírito morto do homem. É a isso que se referem as Escrituras quando
dizem que seremos sarados pelas Suas pisaduras. A ressurreição
espiritual é o cumprimento dessa parte das Escrituras. Somos curados dos
nossos pecados e todos os nossos males espirituais, por grandes que
sejam. Esses males são piores que os males físicos. São os males
espirituais que levam as pessoas a uma condenação eterna.
Quando eu falo de avivamento, o único
significado que dou a essa palavra é que Jesus realmente reina na alma e
no coração da pessoa sem qualquer sombra de dúvida. Quando isso acontece
de forma clara e evidente, podemos dizer que estamos perante uma vida
cheia do Espírito Santo. Com isso não quero afirmar que é necessário que
se manifeste qualquer tipo de dom como prova que a pessoa foi cheia do
Espírito. Não sou dessa opinião e vimos isso no terreno. Todo aquele que
se encontra realmente cheio do Espírito Santo, revela claramente a
própria vida de Jesus, por dentro e por fora. Quando olhamos para isso
sob essa perspectiva, podemos afirmar que as línguas estranhas que
afirmam ser sinal de alguém estar cheio do Espírito não constitui prova
e nem pode constituir. Se o Espírito nos preenche de verdade, não apenas
toca as nossas línguas e a nossa maneira da falar, mas, vai mais fundo
até a nossa essência e coração. Toca na nossa maneira de pensar e de ver
tudo à nossa volta, os nossos olhos e toda a nossa existência. Os nossos
corpos e espíritos tornam-se verdadeiros templos de Deus, tal e qual a
Palavra nos ensina. Toda a nossa existência é renovada e começa a
espelhar toda a vida de Jesus de forma fiel e exata. Todo aquele que
estiver verdadeiramente cheio do Espírito manifestará uma enorme
semelhança a Jesus em todos os aspectos da sua vida e todos verão nele a
vida de Jesus estampada tal e qual ela realmente é. Tais pessoas
experimentam a realidade da vida de Deus vinda dos céus.
Talvez você se pergunte como é que tal
coisa é possível e o que é experimentar essa realidade na vida prática.
A Bíblia diz que poderemos distinguir o bom do mau pelos frutos que
brotam. Tal como qualquer árvore se pode conhecer e distinguir pelos
frutos que dá, a vida Cristã só pode ser provada e garantida pelos
frutos de santidade que brota na vida diária.
O que é o fruto do Espírito? A primeira
coisa que é mencionada em Gal.5:22 é o amor. Será que conhecemos este
amor que Deus é e dá de forma real, prática e clara? O amor não se
ensoberbece, não se sente orgulhoso, não trata com leviandade, não fere
as outras pessoas por meio de palavras ou ações de amargura e não guarda
uma lista de mágoas contra ninguém. O amor é reconhecido,
principalmente, por nunca buscar os seus próprios interesses, mas, os
dos outros. Amor não fala grosso com ninguém e não deseja o mal de
ninguém. O amor não se cansa e nem desiste. Mesmo que todo o resto passe
e termine, o amor permanece. Será que você possui esse tipo de amor?
De seguida, a alegria também é
mencionada como fruto do Espírito e é por esses tipos de frutos que o
mundo conhecerá que pertencemos ao Céu e a Jesus e não à terra. Você
possui esta alegria sem fingimento? A Palavra de Deus diz:
“Regozijai-vos sempre”, 1Tes.5:16. Se a alegria de Deus é
realmente vista em nós, segue a paz de Deus que não é igual à que o
mundo dá. Logo, segue-se a paciência, bondade, mansidão, temperança,
humildade, simpatia, autocontrole. Estes são os frutos que são
experimentados apenas por aqueles que são realmente e veridicamente
cheios do Espírito Santo de Deus. Se estes frutos não forem vistos em
nossa vida, como poderemos, ainda, imaginar que somos cheios do
Espírito?
Cristão que me ouve, escute: a Palavra
de Deus tornou-se completamente nova desde que o avivamento começou
entre nós. A Bíblia tornou-se um livro muito importante para toda a
minha existência. Dentro de qualquer avivamento, a Bíblia torna-se muito
querida e muito amada. Os crentes podem ficar a lê-la dia e noite e a
identificarem-se com ela. Quando isso acontece, os jornais, as revistas
e outro tipo de literatura não podem, de maneira nenhuma, tomar um lugar
paralelo no coração do Cristão. Nenhum tipo de literatura tem a
capacidade de tornar-se como a Bíblia dentro de qualquer avivamento
genuíno. Por essa razão, não é de estranhar que Jesus (que também é a
Palavra) tome o lugar principal no coração de quem crê. Nada mais e mais
ninguém tem como tomar esse lugar em qualquer coração que esteja
realmente cheio do Espírito Santo. Nem pai e nem mãe, nem esposa e nem
filho se torna importante e tem lugar de relevo no coração que
transborda da plenitude de Deus. Não são tão queridos como Jesus em tais
corações. Ele é o princípio e o fim, o primeiro e o último - até em
nossos corações. E isso não acontece apenas na teoria, mas, na
totalidade de toda a vida prática de cada homem nascido de novo em total
sinceridade e fidelidade. Em Filipenses, Paulo afirma que “para mim, a
vida é Cristo!” Ali não diz que Cristo é dono apenas do Domingo ou da
manhã quando estamos em nossa meditação diária. Não, Ele torna-se,
realmente, toda a nossa vida e não apenas um Deus do nosso sentimento ou
entendimento. Ele é o ponto central de toda a nossa existência, o mais
que tudo do nosso ser e qualquer outra coisa só pode tomar um lugar
secundário ou menos importante. Todo o resto torna-se uma questão menor,
um detalhe sem relevo e sem importância de maior.
Na nossa opinião, é importante um
cristão permanecer no lugar onde se encontra. É precisamente lá que deve
tornar-se uma Luz. Toda a pessoa deve ser guiada pelo Espírito e ser
colocada onde Deus mostra. Não gostamos de ver Cristãos que parecem
borboletas, os quais andam de flor em flor. No tocante a nós, não
apreciamos muito que andem de igreja em igreja, de um lugar para outro
como se o lugar fosse importante para se viver a vida de Deus. Cremos
que cada pessoa tem um chamado especifico para cumprir, o qual deve
ser-lhe delegado por Deus. Mas, antes disso, a pessoa deve provar-se
fiel naquilo que tem em mãos para executar fielmente. Contudo, mesmo que
uma pessoa afirme que se encontra fazendo as coisas que Deus lhe
entregou para fazer, ainda assim, ‘espiamos’ a sua vida para ver se
mostra todos os frutos do Espírito. Só dessa maneira podemos verificar e
comprovar se a pessoa é realmente cheia do Espírito de Jesus e se a sua
vida está completa ou é uma mera imitação. Só assim saberemos com
certeza se foi Deus quem realmente guiou a pessoa daquela maneira que
afirma ser a vontade de Deus. Já aconteceu, entre nós, qualquer pessoa
dar frutos bons dentro da sua própria congregação sempre que vive bem
com Deus. Só assim nos regozijamos com a obra alcançada. Alegramo-nos
porque podemos comprovar o fato de ter havido uma transformação genuína
sempre que retornam às suas congregações de origem. Os problemas entre
branco e negro desaparecem e não deixam rasto. Alemães e ingleses
tornam-se irmãos inseparáveis. Negros de raças diferentes (os quais
antes odiavam-se) reúnem-se em total harmonia, com o amor de Cristo a
ser claramente visto e experimentado entre eles. As paredes do apartheid
e da separação racial não resistem a nenhum avivamento genuíno. As cores
da pele e dos olhos deixam de ser vistas. O mais bonito de ver é quando
até entre igrejas deixa de haver separações de raça ou separações
doutrinárias para se apegarem à verdade de forma clara e transparente.
As separações entre igrejas são as piores formas de segregação que
existem. As diferenças entre igrejas já chegaram a dividir nações.
Havia um certo homem de Deus na América.
Era um advogado, o qual antes ria-se de Deus e pensava mal de quem cria
n’Ele. Não queria nada com o evangelho. Um dia visitou uma igreja onde
as pessoas suplicavam por um avivamento. Na semana seguinte, tornou a
haver uma reunião de oração na qual se tornava a pedir por avivamento. O
homem em questão tornou a assistir à reunião. Depois de uma terceira vez
onde as mesmas pessoas oravam pelo mesmo avivamento, o pastor perguntou
se não podiam orar por ele. Ele respondeu: “Não creio, pastor”. Todos
ali presentes certamente pensaram: “Somente um ímpio muito orgulhoso
poderia rejeitar uma proposta destas! Imaginem! Nem deixa alguém orar
por ele!” Mas, o advogado continuou: “Não desejo que orem por mim pela
razão seguinte: eu já vim a estas reuniões três vezes e todas as vezes
pedem a mesma coisa. E sempre que chego aqui verifico que nenhuma das
vossas orações foi atendida. Eu sou realmente um grande pecador e nenhum
grande pecador deveria rejeitar tal oferta, mas, não vejo que as vossas
orações estejam sendo atendidas. Qual seria o proveito de algum de vós
orar por mim?”
Uns tempos depois, o mesmo advogado
converteu-se. Começou por limpar a sua própria vida em primeiro lugar e
a trazer tudo para a luz. Depois, Deus deu-lhe um coração quebrantado.
Nos anos seguintes, percorreu todo o país e dava ênfase ao fato de todas
as pessoas necessitarem urgentemente de se reconciliarem com Deus
tirando todos os pecados de suas vidas e cidades. Milhares de pessoas
chegaram a conhecer Deus por causa da sua conversão genuína.
Um dia, cada um de nós terá de
comparecer diante de Deus para sermos julgados. Pensem só se Ele nos
disser algo assim: “Meus filhos, Eu bem quis fazer essa obra através de
vocês, mas, as vossas iniquidades e os vossos pecados impediram-Me de
fazê-lo. Por causa disso o Meu Espírito não pôde operar”. A Bíblia diz
para nunca entristecermos o Espírito. Porque a Bíblia diz isso, fica
bastante óbvio que o perigo de isso acontecer é real. Se, realmente,
desejamos um avivamento genuíno e se desejamos que Deus, realmente,
opere pelo poder do Espírito através de nós, então precisamos purificar
as nossas vidas para que fiquem sem mácula e sem mancha. Quando foi a
última vez que você limpou os seus pecados? Imagine-se a viver dentro de
uma casa que nunca foi limpa e arrumada. Logo, veja se será possível que
o Espírito de Deus, que é Santo, poderá viver num templo desordenado e
sujo! Existem pessoas que demoram anos a limpar as suas vidas! Algumas
levam anos até se decidirem! Entretanto, reina a amargura, as mágoas, as
inimizades, a falta de reconciliação, a preferência de pessoas, a
duplicidade de coração e outras coisas mais. E isso tudo num coração no
qual é suposto Deus estar vivendo e sentindo-se à-vontade para poder
trabalhar e operar tranquilamente! Podemos ter a certeza que não será o
pecado do meu irmão ou de qualquer outra pessoa que entristecerá o
Espírito em minha vida! Só os meus próprios pecados têm esse poder de
incapacitar-me espiritualmente. Somente os meus pecados podem impedir o
Espírito de operar. Já contei aqui tudo que se passou comigo
pessoalmente. Eu orava intensamente por um avivamento enquanto a minha
vida estava suja e impura. A minha vida pessoal negava a Deus e
entristecia profundamente o Espírito Santo. Quando me apercebi disso,
ainda fui a tempo de humilhar-me diante de Jesus para limpar todo tipo
de sujeira que existia em mim. Depois disso, Deus abriu os céus e
derramou o Seu Espírito Santo sobre nós. Foi o inicio do avivamento que
ainda hoje perdura.
O evangelista americano, D L Moody, um
dia disse: “Para Deus, nenhum tipo de terreno é duro demais ou difícil
demais se as nossas vidas forem achadas puras e limpas de tudo que é
pecado”.
Desde que experimentamos este avivamento
em nosso meio, creio de todo o meu coração que o mesmo Deus que nos
enviou o Seu Espírito pode fazê-lo em qualquer parte do mundo sob
quaisquer circunstâncias. Se Deus pode operar entre um povo
profundamente preso e enraizado nas teias da feitiçaria e do
espiritismo, um povo que ama e adora outros deuses e outros espíritos,
cheios de incredulidade e de sentimentos de guerra, ódio e rancor,
então, não duvido minimamente que Deus possa fazer o mesmo entre vocês
que me escutam. No primeiro dia que o Espírito Santo foi derramado entre
nós, eu disse para mim mesmo: “Agora, eu creio que um grande avivamento
é possível mesmo na Rússia onde os crentes são duramente perseguidos
pelo comunismo. Não existe nada impossível para o Espírito de Deus. Não
existem barreiras e nem muros que possam impedir Deus de operar!”
Eu não sei se algum dia nos iremos
encontrar novamente. Mas, de uma coisa estou certo: todos nós iremos
comparecer diante do Juízo de Deus. Ali será revelada a maneira que
vivemos aqui na terra e será visto tudo aquilo que fizemos ou deixamos
de fazer. Naquele dia, serão abertos os livros e toda a nossa vida será
manifestada diante dos céus e da terra. Não haverá nada que ficará
encoberto, pois, os livros serão todos abertos. Será que nos
envergonharemos naquele dia? Ou aquele dia será grande motivo de alegria
e de júbilo? Em Luc.12:2,3 está escrito: “Mas nada há encoberto que
não haja de ser descoberto; nem oculto, que não haja de ser sabido.
Porquanto tudo o que em trevas dissestes, à luz será ouvido; e o que
falastes ao ouvido no gabinete, sobre os telhados será apregoado”.
Que Deus possa estender a Sua mão de misericórdia até si quando você
buscar a Sua face. E quando estiver em frente de Deus, que seja Ele
a dizer: “Bem está, servo bom e fiel. Sobre o pouco foste fiel, sobre
muito te colocarei; entra no gozo do teu Senhor”, Mat.25:21. Amem.
EPÍLOGO
Este livro, O VERDADEIRO AVIVAMENTO
COMEÇA POR TI, é uma compilação de relatos feitos por Erlo Stegen ao
vivo e, também, de alguns sermões de há muito tempo. Desde então, a obra
cresceu fenomenalmente e ainda cresce sem parar.
Erlo é co-ajudado por mais de 200 outros
missionários e por muitos outros que se juntaram à obra voluntariamente.
Recebem muitos convites para pregar em todos os cantos do mundo e de
congregações na África do Sul. Existem várias missões na África do Sul,
Moçambique. Alemanha, Suiça, França, Holanda, Roménia, Rússia, Bélgica e
Austrália. Todas essas missões desenvolveram-se através de uma estreita
cooperação com a missão principal na África do Sul, Kwasizabantu *(cuja
tradução é: lugar onde se ajuda pessoas). A sua missão principal é a
pregação do Evangelho.
Nasceu uma escola dentro da missão,
também, a qual tem os melhores resultados de todo o continente africano.
Em 1994, nasceu a faculdade Cedar College of Education, a qual é
credenciada e acreditada pela Universidade do Noroeste da África do Sul.
Nasceram e desenvolveram-se, entretanto, outros estabelecimentos de
ensino e de apoio locais como a Escola Thabita para adultos e, também,
escolinhas e creches para criancinhas. Existem orfanatos para órfãos da
Sida (Aids), um hospital para pessoas em fase terminal, principalmente
para pessoas afetadas com Sida (Aids). Existem mais de vinte outros
projetos, os quais desenvolveram-se para providenciar tudo aquilo que a
missão precisa no seu dia-a-dia, como fábrica de iogurtes, reprodução de
trutas e exportação de água mineral (A’quelle).
A Obra de Deus cresce diariamente e
multiplica-se de tal forma que não é possível contabilizar os
acontecimentos. Para mais informações, pode contactar a missão em:
KWASIZABANTU MISSION
P.O.BOX 252
KRANSKOP
3268
South Africa
Tel.0027-324815700
Fax:0027-324815510
Email: mail@ksb.org.za
Ou pode visitar o sítio na internet:
http://www.kwasizabantu.org.za/
http://www.kwasizabantu.org.za