O PODER DA ORAÇÃO PERSEVERANTE

por

Dr. Andrew Murray 

E o Senhor disse: "Os homens devem sempre orar e nunca desfalecer...

E CONTOU-LHES também uma parábola sobre o dever de orar sempre, e nunca desfalecer. Dizendo: Havia numa cidade um certo juiz, que nem a Deus temia, nem respeitava o homem. Havia também, naquela mesma cidade, uma certa viúva, que ia ter com ele, dizendo: Faz-me justiça contra o meu adversário. E por algum tempo não quis atendê-la; mas depois disse consigo: Ainda que não temo a Deus, nem respeito os homens, todavia, como esta viúva me molesta, hei de fazer-lhe justiça, para que enfim não volte, e me importune muito. E disse o Senhor: Ouvi o que diz o injusto juiz. E Deus não fará justiça aos seus escolhidos, que clamam a ele de dia e de noite, ainda que tardio para com eles? Digo-vos que depressa lhes fará justiça. Quando porém vier o Filho do homem, porventura achará fé na terra? Lucas 18:1-8.

De todos os mistérios do mundo da oração, a necessidade da oração perseverante é uma das maiores. Que o Senhor, que é tão bondoso e desejoso para abençoar, tenha ainda de vir a ser inquirido, tempo após tempo, às vezes ano após anos, antes da resposta vir, não podemos facilmente entender. Esta é também uma das grandes dificuldades práticas no exercício e no exercitar da oração da fé. Quando, após a súplica perseverante, nossa oração permanece sem resposta, é frequentemente mais fácil para nossa carne preguiçosa a qual tem toda aparência de submissão piedosa, pensar que devemos ali cessar de orar, porque Deus pode ter Sua razão secreta para reter Sua resposta à nossa súplica. É somente pela fé que a dificuldade será superada.

Quando a fé tem o seu suporte na Palavra de Deus e no bom Nome de Jesus e acha-se rendida à direcção do Espírito para buscar somente a vontade e a honra de Deus em oração, não é necessário sairmos desencorajados pela demora, antes deveríamos ganhar ânimo por ela sabendo que é Deus que a atrasa. É conhecido a partir das Escrituras, que o poder da oração em fé é simplesmente irresistível; a fé real nunca pode sair desapontada. Ela sabe que, justamente como a água, para exercitar o irresistível poder que ela tem, deve ser reunida e acumulada até que a correnteza possa descer em plena força; assim também, ali deve frequentemente existir um acumular de oração até que Deus veja que a sua medida está cheia e carecida de resposta.

Esta fé sabe que, tal como o agricultor tem necessariamente de dar os seus mais de dez mil passos semeando todas as suas sementes, cada qual uma parte da preparação real para uma colheita abundante, assim também existe essa necessidade absoluta de uma oração perseverante e ininterrupta, toda ela trabalhando em prol da bênção mais desejada. Sabe a fé com toda a certeza, que nem uma singular oração crente poderá falhar em todos seus efeitos nos céus acima, mas que tem sempre uma grande influência e entesoura poder para fazer deflagrar uma resposta no devido tempo se houver perseverança. Ela sabe que não lida com coisas e pensamentos humanos e possibilidades que possam falhar, mas acima de tudo com a Palavra de Deus. E foi precisamente assim, desse mesmo modo, que Abraão pensou também, durante longos e finitos anos "em esperança, creu contra a esperança" (Romanos 4:18), tornando-se como os "imitadores dos que pela fé e paciência herdam as promessas", Hebreus 6:12.

Para nos capacitar, precisamente quando a resposta a qualquer oração tarda a chegar, a combinar uma confiança sossegada e quieta mas alegre, a uma paciência perseverante em todas as nossas muitas orações, teremos muito especialmente de tentar entender estas palavras pelas quais o nosso Senhor nos revela qual o carácter e conduta, não deste juiz iníquo, mas de Deus o Pai, para com todos aqueles que Ele permite que clamem a Ele noite e dia: "Digo-vos que depressa lhes fará justiça.", Lucas 18:8.

De pronto lhes fará toda a justiça diz nosso Mestre. A bênção já está devidamente preparada e condimentada e Ele não apenas deseja dá-la, mas acha-se mesmo ansioso para poder fazê-lo logo e a quem puder. Um amor eterno queima com aquele desejo de manifestar a Ele próprio aos seus amados e satisfazer suas necessidades oportunamente em absoluto. Deus não se atrasará nem por um momento mais do que aquilo que é necessário. Ele fará tudo aquilo que estiver em Seu poder, para tornar qualquer resposta segura e eficazmente rápida.

Mas porque então, se Seu poder é deveras infinito, leva Ele tanto tempo assim a entregar Suas respostas aos respectivos pedintes? E porque razão os eleitos e preferidos de Deus, entre medos e sofrimentos, clamam a Ele noite e dia sem parar nunca? Ele espera pacientemente por eles, pois "Eis que o lavrador espera o precioso fruto da terra, aguardando-o com paciência, até que receba a chuva temporã e serôdia", Tiago 5:7. Qualquer lavrador deseja que chegue a hora da colheita, mas sabe também que esta, antes de ser tornada possível, terá necessariamente de colher ainda muito sol e muita chuva, na sua devida medida e que, por essa razão, espera pacientemente que ela se torne madura e possível. Uma criança quer sempre colher uma peça de fruta meio-amadurecida. Mas o lavrador sabe de antemão que o tempo para colher esse mesmo fruto ainda não chegou. Todo o homem, em sua natureza espiritual, está sujeito a um crescimento gradual em tudo idêntico a este, o qual é comum a tudo quanto tem vida. Isto faz parte intrínseca do desenvolvimento de todos, para assim alcançarem um destino divino e comum. E é o Pai, nas mãos de Quem se acham os tempos de todas as estações, quem sabe qual o momento em que a alma duma igreja se encontra devidamente amadurecida nesse transbordar de toda a fé, a qual pode e tem como desancar uma bênção que terá como vir a manter perpetuamente. Tal como um certo pai que deseja que seus filhos cheguem logo de sua aprendizagem na escola diariamente e também deseja que terminem logo sua formação, assim também funciona Deus em toda a Sua estrutura de Pai: Ele é quem tem de ser paciente, pois Ele responde depressa demais até.

A visibilidade nesta verdade, suas verdades claras, darão o cultivo necessário ao crente para que obtenha assim a correspondente disposição espiritual: fé em paciência, esperando e antecipando ao mesmo tempo, será todo o segredo da perseverança. Pela fé e confiança inegável naquilo que foi Deus quem prometeu a Seu devido tempo, todos nós poderemos ter todas as petições que d’Ele pedimos. Fé toma para si a resposta condizente a tudo quanto d’Ele se pediu, como um valor selado duma possessão espiritual sem igual, alegra-se antecipadamente nela e pode até mesmo louvar por isso. Mas existe uma pequeníssima diferença entre fé que segura a Palavra, sabendo de antemão que esta contém e segura a resposta em si mesma e aquela que cresce e se desenvolve oportunamente em experiência real e sempre presente em sua alma e essência mais profunda. É no perseverar, nunca descrente, mas confiante ininterruptamente, que qualquer alma ganha sua plenitude na comunhão daquela união única com seu Senhor, entrando na possessão de qualquer bênção n’Ele também. Podem haver coisas nas pessoas ao nosso redor, em sua forma de ser e de se estar no contexto onde estamos inseridos, em seu sistema comum a todos, ou mesmo no governo que Deus detém sobre nós, que tenham ainda de ser postas em ordem antes duma resposta nos poder alcançar devidamente. Toda a fé que tem, de acordo com o mandamento apenas, como crer, terá como vir a receber oportunamente e tem porque deixar Deus levar Seu tempo em concretizar tudo quanto deseja a seu respeito. Esta fé sabe quando e porque prevaleceu, que sua resposta está assegurada devido a isso. Naquele sossego persistente e de determinada perseverança tornada calma quanto a todos seus temores mais agudos, ela persiste na fé duradoura e continuada e logo ali aparece a gratidão jorrando de dentro sem saber muito bem como. Aqui poderemos assim ver, dessa forma, algo combinando que à primeira vista pareceria impensável e impossível de unificar: uma fé que se regozija numa resposta vinda dum Deus invisível como uma real e presente possessão adequada nunca ilusória, com uma paciência infindável que clama noite e dia até que esta se concretize visivelmente. A rapidez na entrega destas respostas vinda da paciência da parte de Deus em pessoa, será sempre achada no caminho da fé dum filho expectante.

O nosso maior perigo, nesta escola de respostas por vir, é a tentação de fazer crer que, depois de tudo, não seja a vontade de Deus em nos entregar tudo quanto pedimos d’Ele. Se nossa oração estiver de acordo com a Palavra escrita de Deus, mas sob liderança pontual do Seu Espírito, nunca venhamos a ceder perante estes temores reais. Aprendamos a dar todo tempo a Deus, tanto quanto Lhe baste. Ele necessita que Lhe seja dado esse tempo por nossa própria culpa. Se Lhe fornecermos tempo quanto baste numa comunhão infinita e duradoura, isto é, tempo de comunhão recíproca com Ele, tempo quanto baste para Ele poder exercer toda Sua influencia sobre nossos espíritos, exercer Sua presença em nós mesmos a tempo inteiro, dia após dia, no decurso de todo nosso percurso em espera resoluta, para que a fé se comprove como real e fixamente irredutível, Ele próprio nos levará desde a esta fé até uma repleta visão real da sua concretização. Logo veremos toda a glória de Deus resplandecer sobre nós. Que nenhuma demora tenha como abalar nossa fé num Deus fiel. Da fé se diz que “a terra por si mesma frutifica, primeiro a erva, depois a espiga, por último o grão cheio na espiga”, Marcos 4:28. Cada oração crente, levar-nos-á indubitavelmente à victória final. Cada oração que detenha sua confiança inabalável, servirá apenas para fazer amadurecer ainda mais o fruto que esta pretende finalizar. Ela enche por completo a medida da oração em fé conhecida e vista apenas por Deus – que seja Deus a vê-la. Ela conquista todos os bloqueios do mundo invisível, apressa seu fim. Filho do Deus Altíssimo, dê tempo a seu Deus. Ele é quem está de paciência, escutando tudo quanto pede e diz. Ele deseja que sua bênção seja repleta, segura, contínua e que transborde para fora de si rapidamente. Dê de seu tempo a Ele, enquanto que ao mesmo tempo clama durante toda a noite e todo dia. Lembre-se apenas das palavras de Cristo, que nunca mente: "Digo-vos que depressa lhes fará justiça", Lucas 18:8.

A bênção real de tal oração perseverante é sempre indescritível do ponto de vista das palavras. Não existe nada mais investigador, mais prescutante, que mais sonde um coração, do que a oração da fé. Ela leva e ensina a confessar e a desvendar pecado na alma e a expor à luz de Deus tudo quanto possa vir a impedir a bênção – tudo quanto não esteja dentro da vontade do Pai. Ela levará sempre a uma melhor comunhão com Ele que nos sabe ensinar a orar também, a levar a uma entrega mais absoluta de tudo quanto somos e temos, para nos acercarmos melhor de suas bênçãos – mas apenas sob tutela do próprio Espírito Santo. Esta fé clama para a mais íntima comunhão e para uma permanência mais firme dentro dos contornos dum Cristo real e eternamente ao nosso dispor. Crente, dê todo tempo a Deus. Ele mesmo aperfeiçoará tudo que lhe toca pessoalmente.

Que seja assim consigo, quer peça por si e por suas coisas, quer ore por outros. Toda a espécie de labor, tanto espiritual como físico, pede tempo e esforço paciente de nós todos sem excepção: temos de nos vir a entregar de corpo e alma a isso mesmo. A natureza desvenda-nos essa lição sem paralelo e mantém visível esse segredo infinito para nós: este tesouro de diligente labor e meditação exaustiva constante e que nunca desiste. Por pouco ou muito que entendamos de tudo isto no lavradio celestial e espiritual, tudo funciona do mesmo jeito: toda a semente que for devidamente semeada nos solos férteis dos céus, todo o devido esforço que possamos colocar nessa aventura, toda a influencia que possamos vir a exercer no mundo vindouro, pede de todos nós todo nosso ser por inteiro: devemos de nos entregar por inteiro à oração recíproca. Dela nasce uma nova cultura, uma nova colheita a qual, a seu devido tempo, brotará seus frutos se não desistirmos dela oportunamente.

Aprendamos especialmente a lição na medida que oramos pela Igreja de Cristo. Ela é, realmente, semelhante à pobre viúva, na ausência de seu Senhor, aparentemente à mercê do seu adversário, inválida para obter justiça do alto – mas é a mais séria candidata a consegui-la oportunamente. Permitam-nos, quando orarmos por Sua Igreja ou qualquer porção dela, sob o poder do mundo, implorar-Lhe que a visite com as poderosas operações de Seu Espírito e para prepará-la para Sua vinda duma vez por todas – oremos na certeza da fé: a oração socorre, orando sempre e nunca desfalecendo, nos trará logo a resposta. Somente dê tempo a Deus. E então permaneça chorando dia e noite. "E disse o Senhor: Ouvi o que diz o injusto juiz. E Deus não fará justiça aos seus escolhidos, que clamam a ele de dia e de noite, ainda que tardio para com eles? Digo-vos que depressa lhes fará justiça. Quando porém vier o Filho do homem, porventura achará fé na terra?" Lucas 18:6-8.  

José Mateus
zemateus@msn.com