Este grande puritano nasceu no mesmo ano que os Padres
Peregrinos desembarcaram em Plymuth. Seu lar foi Elstow, perto de Bedford, na
Inglaterra. Seu pai era latoeiro, e ele aprendeu o mesmo ofício; era um rapaz
vivaz e agradável, com um aspecto serio e quase mórbido em sua natureza. Todo
ao longo de sua primeira idade adulta esteve arrependendo-se dos vícios de sua
juventude, e isso embora nunca tivesse sido bêbado ou imoral. As ações
particulares que angustiavam sua consciência foram a dança, tocar os sinos na
igreja, e brincar de tip-cat, um jogo de jardim. Foi numa ocasião, enquanto
jogava a isso, que "uma voz acudiu repentinamente do céu a minha alma, que
disse: 'Deixarás teus pecados e iras ao céu, ou manterás teus pecados e irás ao
inferno?' ". Foi por volta deste tempo que ouviu falar a três ou quatro
pobres mulheres em Bedford enquanto tomavam sol na porta. "Sua conversação
era acerca do novo nascimento, da obra de Deus nos corações. Estavam muito além
de minha capacidade".
Em sua juventude foi membro do exército parlamentário durante
um ano. A morte de um camarada perto dele aprofundou sua tendência aos
pensamentos sérios, e houve épocas nas que parecia quase louco em seu zelo e
penitencia. Durante um tempo esteve totalmente seguro de ter cometido o pecado
imperdoável contra o Espírito Santo. Enquanto era jovem casou com uma boa
mulher que lhe comprou vários livros piedosos que leu com assiduidade,
confirmando assim seu fervor e aumentando sua inclinação às controvérsias
religiosas.
Sua consciência foi mais acordada pela perseguição do grupo
religioso dos batistas, aos que se havia unido. Antes da idade de trinta anos
tinha-se convertido num predicador batista destacado.
Então lhe chegou o turno de ser perseguido. Foi arrestado por
predicar sem licencia. "Antes de ir ante o juiz, roguei a Deus que se
fizesse Sua vontade; porque não deixava de ter esperanças de que meu
encarceramento pudesse resultar num despertamento dos santos da região. Somente
nisto encomendei a questão a Deus, e verdadeiramente quando voltei me encontrei
docemente com meu Deus na prisão".
Padeceu verdadeiras penalidades, devido ao mísero estado dos
cárceres daqueles tempos. A este encerro se agregou a dor pessoal de estar
afastado de sua segunda jovem esposa, e de quatro filhos pequenos, e
particularmente de sua filinha cega. Enquanto estava no cárcere se recreou com
os dois livros que tinha levado consigo: a Bíblia e o "Livro dos
Mártires" de Fox.
Embora escreveu alguns de seus primeiros livros durante este
longo encarceramento, não foi senão durante seu segundo encarceramento, mais
breve, três anos depois do primeiro, que redigiu seu imortal "Progresso do
Peregrino", que foi publicado três anos depois. Num tratado anterior tinha
pensado brevemente na similitude entre a vida humana e uma peregrinação, e
agora desenvolveu este tema em fascinante detalhe, empregando as cenas rurais
de Inglaterra como fundo, a esplêndida cidade de Londres para a Feria das
Vaidades, e os santos e vilões que conhecia pessoalmente para descrever os bem
desenhados caracteres de sua alegoria.
O "Progresso do Peregrino" é verdadeiramente o
relato das próprias experiências espirituais de Bunyan. Ele mesmo tinha sido o
"homem coberto de andrajos, de pé, e com as costas voltadas para a sua
habitação, tendo sobre os ombros uma pesada carga e nas mãos um livro".
Depois de perceber que Cristo era sua justiça e de que isso não dependia
"do bom estado de seu coração" ou, como diríamos nós, de seus
sentimentos, "agora caíram certamente os ferrolhos de minhas pernas".
Seus tinham sido o Castelo da Dúvida e o Pântano do Desespero, com muita parte
do Vale da Humilhação e da Sombra da Morte. Porém, por acima de tudo, é um
livro de vitória. Uma vez, saindo da porta da sala do tribunal onde tinha sido
derrotado, escreveu: "Enquanto saia da porta, teve grande gozo de
dizê-lhes que levava comigo a paz de Deus". Em sua visão estava sempre a
Cidade Celestial com todos os sinos repicando. Tinha combatido constantemente
contra Apolião, e amiúde ferido, envergonhado e caindo, mas no final,
"mais que vencedor por meio dAquele que nos amou".
Seu livro foi a princípio recebido com muitas críticas por
parte de seus amigos Puritanos, que viram nele somente um agregado à literatura
mundana de seus tempos; porém então os Puritanos não tinham demasiadas coisas
para ler, e não se passou muito tempo antes que fosse devotamente colocado
junto a suas Bíblias e lido com gozo a proveito. Passaram talvez dois séculos
antes de que literários começaram a perceber que esta história, tão cheia de
realidade humana e de interesse, e tão maravilhosamente modelada sobre o inglês
de tradução autorizada da Bíblia, constitui uma das glórias da literatura
inglesa. Em seus anos tardios escreveu várias outras alegorias, de uma das
quais "A Guerra Santa", foi dito que se o "Progresso do
Peregrino" não tivesse sido nunca escrito, seria considerado como a melhor
alegoria da língua inglesa.
Durante os últimos anos de sua vida, Bunyan ficou no venerado
pastor e predicador locar. Também era um orador favorito nos púlpitos
inconformados de Londres. Chegou a ser um líder e mestre tão a escala nacional,
que freqüentemente era chamado o "Bispo Bunyan".
Nem útil e desprendido de sua vida pessoal, seu caráter era
apostólico. Sua última doença foi devida aos embates de uma tempestade durante
uma viagem na que tratava de reconciliar um pai com seu filho. Seu final chegou
o 3 de agosto de 1688. foi sepultado em Bunhill Fields, o pátio de uma igreja
de Londres.
Não há dúvidas acerca de que o "Progresso do
Peregrino" tem sido mais útil que qualquer outro livro fora da Bíblia. Foi
oportuno, porque continuavam queimando mártires na Feria das Vaidades enquanto
ele estava escrevendo. É um livro duradouro, porque enquanto diz pouco de viver
a vida cristã na família e na comunidade, sim interpreta a vida até ali onde é
da alma individual, numa linguagem simples. Bunyan desde logo "mostrou
como reconstruir um trono principesco sobre a humilde verdade". Ele tem
sido para muitos seu mesmíssimo Bom Coração, o valoroso guia de peregrinos.