1 De Dezembro
A Diferença Entre a Lei e o Evangelho
"Pois, qualquer que guarda toda a lei, mas, tropeça em um só ponto, se torna culpado de todos", Tiago 2.10

A lei moral não toma nota nem leva em consideração, de nenhuma maneira, nossas ditas falhas e fraquezas como seres humanos; ela não leva em conta nossa hereditariedade e fraquezas, mas, exige que sejamos integralmente morais como Deus. A lei moral nunca se alterará, nem para os mais nobres, nem para os mais fracos; ela será eternamente inquestionável e sempre a mesma. A lei moral ordenada por Deus não se faz fraca para os fracos, não encobre os defeitos de quem os tem, mas, permanece imutável pelos tempos dos tempos e por toda a eternidade. Se não a reconhecermos assim, é porque não estamos vivos em Deus; assim que nos tornamos vivos, a vida acaba por tornar-se uma tragédia. "Outrora, sem a lei, eu vivia; mas, sobrevindo o preceito, reviveu o pecado e eu morri", Rom.7:9. Quando reconhecemos isso, então o Espírito de Deus nos convence do pecado - de todo pecado. Enquanto isso não acontecer e não entendermos que não há esperança, a cruz de Jesus Cristo é uma farsa para qualquer um de todos nós. A convicção do pecado faz qualquer homem sentir-se preso pela lei e sem esperança possível, "vendido à escravidão do pecado", Rom.7:14. Eu como um pecador culpado, por mim mesmo nunca poderei reconciliar-me com Deus porque já estou irreconciliável em mim mesmo. Só existe um meio pelo qual serei justificado diante de Deus: a morte de Jesus Cristo efectuada em mim também. Preciso de livrar-me do conceito que me ronda de que poderei um dia reconciliar-me com Deus pela minha obediência sem Cristo vivente em mim - qual de nós poderia obedecer a Deus com absoluta perfeição assim?

Só reconheceremos o poder desta lei moral quando ela vem precedida por um "se". Deus nunca nos coage. Em certos momentos, dependendo do nosso humor, gostaríamos que Deus nos obrigasse a obedecer-lhe em tudo; noutros, porém, gostaríamos que ele nos deixasse em paz. Mas, sempre que a vontade de Deus está em primeiro lugar para nós, não sentiremos em nós a menor sensação de coerção e obrigatoriedade. Quando tomamos a deliberação de obedecer-lhe, então ele moverá os céus e terra a nosso favor com toda a pujança do seu poder.

 

2 De Dezembro
Perfeição Cristã
"Não que eu o tenha já recebido, ou tenha já obtido a perfeição..." Fil.3.2

Trata-se de um erro crasso aludirmos que Deus quer fazer de nós exemplos de perfeição como criaturas dele. O projecto de Deus é fazer-nos um com ele acima de tudo. Alguns movimentos de renovação tendem a ensinar que Deus está a produzir espécimes de santos para colocar no seu museu celestial ou aqui na terra. Caso permita-se a veleidade de embarcar nessa ideia de santidade pessoal e exclusiva, o seu alvo principal não será Deus, mas, o que você chama de manifestação de Deus em sua vida pessoal. "Nunca poderá ser vontade de Deus que eu fique doente". Se foi vontade de Deus ferir seu próprio Filho, por que razão você não seria ferido como filho dele também? O que conta para Deus não é a sua fidelidade à ideia do que deve ser um "santo", mas, antes e acima de tudo o relacionamento vital que mantém com Jesus Cristo e a sua entrega a ele individualmente, quer você esteja enfermo ou num estado excelente de saúde.

A perfeição evangélica não é e nunca será um tipo de perfeição humana. A perfeição cristã é uma perfeição existente e real vinda e nascida a partir dum relacionamento vivo que se mantém com Deus em absoluta exclusividade, a qual se pode manifestar desde as coisas mais irrelevantes da vida humana, como de todas as outras. Quando obedecemos ao chamado de Jesus Cristo, a primeira coisa que notamos é a irrelevância, para Deus e nós, das coisas que, supostamente, temos de fazer e o que notamos de seguida, é o fato de que as outras pessoas parecem estar a viver vidas perfeitamente coerentes. Tais pessoas tendem a deixar-nos com a impressão de que Deus é desnecessário e que, mediante a dedicação e o esforço humano, poderemos alcançar o padrão devido e plenamente desejado por Deus em nós. Num mundo decaído, isso jamais será possível sem o poder de Deus efectivado em nós mesmos ainda aqui. Somos chamados a viver em perfeita harmonia com o nosso relacionamento com Deus, com a finalidade expressa de que a nossa vida possa trazer e produzir noutros um grande anseio por Deus e não pela santidade apenas e muito menos admiração pela nossa pessoa. Preocupações e ilusões acerca de nós próprios, tratarão de diminuir drasticamente a nossa utilidade em relação a Deus. Deus não visa apenas aperfeiçoar-nos para que sejamos peças de exposição em seu teatro de guerra contra o pecado; o Seu alvo é levar-nos ao ponto onde possa usar-nos através de Jesus Cristo também. Permita que ele possa e tenha como fazer o que Lhe agrada imenso.

 

3 De Dezembro
"Não por Força nem por Violência"
"A minha palavra e a minha pregação não consistiram em linguagem persuasiva de sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de poder", 1Cor.2.4

Se, ao pregarmos o evangelho, substituirmos a confiança no poder do evangelho pelo conhecimento que temos do próprio caminho da salvação, impediremos que as pessoas cheguem à verdade por nós e por Cristo. Precisamos ter aquele cuidado especial de que, ao proclamar os nossos conhecimentos sobre o caminho da salvação, nós mesmos estejamos arraigados e alicerçados na fé em Deus para nossa própria defesa contra o pecado. Jamais confiemos na clareza da nossa exposição; mas, ao sabermos desenvolvê-la, certifiquemo-nos de que nós estamos confiantes na obra do Espírito Santo em nós, apenas. Confiemos na certeza do poder redentor que vem com Deus e ele reproduzirá da vida dele em quantos nos ouvem também.

Uma vez que estamos arraigados pela verdade, nada poderá abalar-nos; se a nossa fé se baseia em experiências pessoais e explanadas, qualquer problema de menor terá, provavelmente, como abalar e fazer tremer os nossos fundamentos de vida. Mas, nada poderá abalar Deus ou a poderosa realidade da redenção se ela existir de facto em nós e por nós. Fundamente a sua fé nessa base peculiar e exclusiva e achar-se-á eternamente tão seguro quanto Deus está. Depois que puder entrar num contacto pessoal com Jesus Cristo, nunca mais será abalado por nada deste mundo. Esse é o verdadeiro e inquestionável significado da santificação. Quando começamos a aceitar a concepção de que a santificação é meramente uma experiência e nos esquecemos de que a própria santificação tem que ser santificada, João 17.19. Deus desaprovará tudo acerca dessa experiência pessoal. Tenho que poder oferecer deliberadamente a Deus toda a minha vida santificada para que possa ser transposta e colocada ao seu serviço com a finalidade expressa de que ele possa usar-me como as suas mãos e como seus próprios pés.

 

4 De Dezembro
A Lei da Oposição
"Àquele que vencer..." Apoc.2.7.

Vida não existe sem conflituosidade e será impossível de haver tanto na esfera natural quanto na esfera do sobrenatural. É um facto da vida física, mental, moral e espiritual que existam casos dramáticos para serem resolvidos continuamente.

A saúde é o equilíbrio entre esta vida física e as forças que nos possam rodear no nosso exterior e a nossa natureza; esse equilíbrio só se mantém e sustém quando há vitalidade interior bastante para resistir às agressões externas exercidas sobre nós. Tudo o que existe ao redor da minha vida física destinar-se-á a levar-me à morte a qualquer custo. As mesmas coisas que me sustentam enquanto estou vivo, desintegram-me quando estiver morto. Se eu possuir força suficiente e combativa dentro de mim, alcançarei um maravilhoso equilíbrio em minha saúde. O mesmo se pode afirmar em relação à minha vida moral; se meu desejo é manter uma vida mental vigorosa e rigorosa, terei de lutar para vencer; e será assim, dessa maneira, que se produzirá o equilíbrio mental em nós, aquilo a que chamamos de pensamento.

Moralmente, ocorre o mesmo dentro de todos nós. Tudo aquilo que não seja um participante da nossa natureza e virtude, é constituído inimigo das virtudes existentes em mim e vencer e produzir virtude depende do calibre moral que possa possuir e manter ainda. Tão logo me entregue a essa luta sem tréguas, torno-me um agente moral nesse confronto e ponto particular. Nenhum homem se pode tornar virtuoso por compulsão; as virtudes são adquiridas, trabalhadas e operadas em nós.

E a obra espiritual dá-se da mesma maneira. Jesus disse: "No mundo tereis aflições", João 16:33, ou seja, tudo o que não seja espiritual contribuirá apenas e simplesmente para a minha ruína, mas, "tende bom ânimo, eu venci o mundo". Tenho necessariamente de aprender a superar as coisas que se amotinam e se reúnem contra mim para, dessa maneira, produzir o equilíbrio da santidade; então, enfrentar a oposição torna-se uma alegria e nunca uma tristeza acumulada.

A santidade é o equilíbrio entre a minha disposição e a lei de Deus conforme expressa e manifesta em Jesus Cristo e por Ele através de mim.

 

5 De Dezembro
"O Templo do Espírito Santo"
"Somente no trono eu serei maior do que tu…", Gen.41.40

Tenho que prestar contas a Deus agora e depois, da maneira pela qual governo o meu corpo, sendo ele quem domina. Paulo diz: "Não anulo a graça de Deus", Gal.2:21 - não a torna sem efeito. A graça de Deus é absolutamente incontestável e a salvação de Jesus perfeita e suficiente, consumada para sempre. Não estou sendo salvo; estou salvo, pois a salvação é tão eterna quanto o trono de Deus; o que eu tenho de fazer é pôr em prática o que Deus opera em meu interior. "Desenvolvei a (nossa) vossa salvação", Fil2:12; eu sou responsável por saber fazer uso de tudo quanto me for fornecido. Isso significará que tenho de manifestar neste corpo a vida do próprio Senhor Jesus, não de maneira mística, mas, ela mesmo de forma real e clarividente. "Mas, esmurro o meu corpo e o reduzo à escravidão", 1Cor.9:27. Todo crente evangélico pode manter o seu corpo sob absoluto controlo, pela causa de Deus. Deus nos deu o controle absoluto sobre o templo do Espírito Santo, 1Cor.6:19, inclusive sobre imaginações e afeições dele, pelas quais seremos sempre tidos como responsáveis; nunca devemos entregar-nos a afeições desordenadas. A maioria dos cristãos é mais exigente com os outros do que consigo próprios; arranjamos desculpas para nossas falhas, quando condenamos, nos outros, todas aquelas coisas para as quais não temos nossa inclinação natural virada.

"Rogo-vos, pois, irmãos", diz Paulo, "que apresenteis os vossos corpos por sacrifício vivo", Rom.12:1. A questão a decidir será se concordo com o meu Senhor e Mestre que meu corpo é o Seu templo exclusivo. Caso assim seja, então toda a lei de Deus para mim em relação ao meu corpo, resume-se nesta revelação - meu corpo é "o templo do Espírito Santo".

 

6 De Dezembro
"Meu Arco-íris nas Nuvens"
"Porei nas nuvens o meu arco; será por sinal da aliança entre mim e a terra", Gen.9.13

A vontade de Deus é que os seus seres humanos entrem numa aliança e num relacionamento moral com ele e todas as alianças que faz connosco têm somente essa finalidade. Por que Deus não me salva? Ele me salvou, mas, não entrei em relacionamento com ele. Por que Deus não faz isso ou aquilo? Ele já fez; mas, a questão é - estou relacionado com a aliança e com ele nela? Todas as bênçãos de Deus são consumadas e completas, mas, não se tornarão minhas enquanto eu não entrar em relacionamento exclusivo com ele, com a sua aliança como base fixa.

Esperar que Deus vá agir havendo agido já, é demonstrar incredulidade, pois, significa que não tenho fé nele e, por isso, ainda espero que vá agir; espero que ele faça alguma coisa em mim para que, depois, possa confiar naquilo que fez e não nele. Deus não o fará, porque não é essa a base fixada do relacionamento dele com o homem. O homem tem que tomar a iniciativa em sua aliança com Deus, a que já se acha feita e integrada, como Deus tomou a sua iniciativa quando fez a sua aliança com o homem. É uma questão de ter fé em Deus - a coisa mais rara na terra; temos fé apenas em nossos sentimentos e no que sentimos ser verdade. Eu não crerei em Deus enquanto ele não puser em minha mão alguma coisa para que eu possa saber que a tenho; aí então direi: "Agora sim, agora creio". Isso não é fé. "Olhai para mim e sede salvos", Is.45:22.

Quando entro de facto no acordo de Deus em uníssono com ele sobre a sua aliança e me posso entregar inteiramente só a ele, não há nisso nenhum sentimentalismo de mérito, nenhum esforço humano, mas, um singular sentido de estar em uníssono com Deus perante ele. Aí, com paz e alegria, tudo se transfigura diante de mim e em mim diante dele.

 

7 De Dezembro
Arrependimento
"Porque a tristeza segundo Deus produz arrependimento para a salvação", 2 Cor.7.10

A melhor descrição de convicção de pecado que existe é a seguinte: "Meus pecados, meus pecados, Salvador meu, Com tristeza recaem sobre Ti!"

A convicção do pecado é uma das experiências mais raras que os homens obtêm. É o limiar de uma compreensão e compensação entre eles e Deus. Jesus Cristo disse que, quando o Espírito Santo viesse, ele teria como missão convencer-me do pecado. Quando o Espírito Santo desperta a consciência de uma pessoa e a conduz até à presença de Deus, o único relacionamento com que ela se preocupa naquele exacto momento será o seu relacionamento com Deus: "Pequei contra ti, contra ti somente pequei e fiz o que é mal perante os teus olhos", Sal.51:4. A maravilha da convicção de pecado, do perdão e da santidade entrelaçam-se de tal forma que só a pessoa perdoada se torna santa; ela prova que está perdoada quando, pela graça de Deus, se torna o oposto do que foi até ali. O arrependimento leva sempre qualquer pessoa a esse ponto de partida: "Pequei". O sinal mais certo de que Deus está operante em alguém, é quando ele faz essa declaração e o faz com sinceridade verídica. Tudo aquilo que ficar aquém disso é remorso por ter cometido um engano, um reflexo daquele facto de estar irritado consigo mesmo por não haver feito melhor. A pessoa entra no reino quando as dores atrozes do arrependimento colidem com a sua dignidade em competição assumida; então, o Espírito Santo, que gerou essa agonia em nós, começa a formação do Filho de Deus dentro daquela vida. A nova vida se manifestará através dum arrependimento consciente e duma santidade inconsciente - nunca o contrário disso. A pedra fundamental e basilar do cristianismo é o arrependimento. Para ser exacto, ninguém pode arrepender-se na hora que quer, pois o arrependimento é uma dádiva de Deus sobre a coisa certa. Os Puritanos costumavam orar pedindo o "dom das lágrimas". No dia em que você deixar de conhecer a virtude do arrependimento em si por si, achar-se-á em trevas. Examine-se e verifique se já se esqueceu do que é arrepender-se.

 

8 De Dezembro
O Poder Imparcial de Deus
"Porque com uma única oferta aperfeiçoou para sempre quantos estão sendo santificados", Heb.10.14

Se pensarmos que somos perdoados por estarmos arrependidos de nossos pecados, estamos afrontando o sangue do Filho de Deus. A única explicação para o perdão de Deus e para a insondável profundidade da sua capacidade de esquecer tudo que fizemos, é a morte de Jesus Cristo. Nosso arrependimento é simplesmente o resultado desse nosso reconhecimento pessoal da expiação que ele realizou por nós em nós. "Cristo Jesus... se nos tornou... sabedoria e justiça e santificação e redenção", 1Cor.1:30. Logo que compreendemos que Cristo se tornou tudo isso por nós, começamos a sentir o sublime gozo de Deus dentro; e onde não houver este gozo, a sentença de morte contra todo pecado entrará em acção irreversível a partir de então.

Não importa quem somos ou o que somos, temos reconciliação completa com Deus através da morte de Jesus Cristo e por nenhum outro meio alternativo o teremos e não porque ele a suplique, mas, porque ele morreu na cruz de vez. Não a obtemos por méritos pessoais, mas, pela sua aceitação. Toda súplica que deliberadamente se recusa a reconhecer a cruz, para nada serve; é o mesmo que bater numa outra porta sem ser na que Jesus abriu por nós. "Não quero passar por esse caminho; é humilhante demais ser recebido como pecador". "Não existe nenhum outro nome... pelo qual possamos ser salvos", Act.4:12. Essa aparente insensibilidade de Deus, na verdade, é a expressão do seu coração, pois pelo caminho que ele propõe, as possibilidades de entrada no reino serão, a partir de então, ilimitadas. "Nele temos a redenção, pelo seu sangue", Ef.1:7. Identificarmo-nos com a morte de Jesus Cristo significa identificarmo-nos com ele para morrermos para tudo que não se relaciona com Jesus.

Deus só é justo em salvar homens maus se os tornar justos e bons também. O Senhor não faz de conta que estamos bem quando, na verdade, não estamos e nos achamos em erro. A expiação é uma propiciação através da qual Deus, com a morte de Jesus, torna santo um homem que sempre foi ímpio.

 

9 De Dezembro
Quando a Vida Natural se Opõe
"E os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne, com as suas paixões e concupiscências", Gal.5.24

A nossa vida natural não é pecaminosa; devemos separá-la de todo pecado e não ter nada a ver com ele sob qualquer forma ou pretexto. O pecado nasceu do inferno e do diabo; então, eu, como filho de Deus, pertenço ao céu e a Deus. A renúncia aqui não é ao pecado, mas, aos meus direitos sobre mim mesmo que é o que faz o pecado em sua essência, sobre minha independência e auto-confirmação; e é aí que a batalha se trava, nessa esfera. São coisas justas, nobres e boas do ponto de vista natural que nos mantêm afastados do melhor que há em Deus. Quando entendemos que as virtudes naturais se opõem naturalmente à nossa rendição total a Deus, estamos em vias de colocar toda a nossa alma bem no centro do seu maior campo de batalha. A maioria dos cristãos não questiona sequer nada mais sobre a malignidade do pecado, do mal e do erro, mas, no entanto, nos embaraçamos no que é bom na aparência. É o bom que é inimigo do melhor; e quanto mais alto subimos na escala das nossas virtudes naturais, tanto mais intensa será a oposição a Jesus Cristo. "E os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne" - os custos reais são sacrificar em nós tudo que há de natural e não apenas algumas coisas que há de mal. Jesus disse: "Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo", Mat.16:24, ou seja, renuncie a todos os seus direitos sobre si mesmo; e ninguém o fará enquanto não compreender quem é Jesus Cristo de forma real e evidente. Cuidado para não se recusar a assistir ao velório e funeral da sua própria independência.

A vida natural não é pecaminosa, mas, também não é espiritual e só pode tornar-se espiritual através do sacrifício dela. Se não sacrificarmos resolutamente tudo aquilo que é natural, o sobrenatural nunca poderá tornar-se natural dentro de nenhum de nós. Não há um caminho fácil para se poder chegar lá; a responsabilidade é sempre de cada qual. E não é uma questão de oração, mas, de prática, de acção voluntária e activa contra si próprio.

 

10 De Dezembro
O Sacrifício de Tudo Que é Natural
"Abraão teve dois filhos, um da mulher escrava e outro da livre", Gal.4.22

Neste capítulo de Gálatas, Paulo não lida com o pecado, mas, da relação que existe entre o âmbito natural e o espiritual. O natural deve ser transformado em espiritual através do sacrifício, senão ocorrerá um divórcio desastrado da vida real. Por que Deus ordenaria que o natural fosse sacrificado? Ele não ordenou. Não se trata de uma ordem de Deus, mas, de sua vontade permissiva. A determinação de Deus foi de que o natural se transformasse em espiritual através da obediência incondicional; mas, a presença do pecado tornou necessário que o natural fosse sacrificado logo ali.

Abraão teve que oferecer Ismael antes mesmo de poder oferecer Isaque. Alguns de nós estamos a tentar oferecer sacrifícios espirituais a Deus antes de sacrificarmos tudo aquilo que nos possa ser natural. O único meio de podermos oferecer a Deus um sacrifício espiritual, será apresentar o nosso corpo como sacrifício vivo a ele diante dele. A santificação significa mais do que libertação do nosso pecado; significa uma entrega deliberada de mim mesmo, a Deus, sem importar-me com o preço que me irá custar ainda.

Se não sacrificarmos o natural ao espiritual, a vida natural zombará da vida do Filho de Deus dentro de nós, produzindo uma permanente vacilação e oscilação em todos os nossos passos e mecanismos. Isso é sempre produto de uma natureza espiritual indisciplinada e irascível. Erramos por sermos teimosos, recusando-nos a disciplinar-nos física, moral e mentalmente. "Eu nunca fui disciplinado quando era criança". Mas, tem que se disciplinar agora. Se não o fizer, a sua vida pessoal não irá ter qualquer valor para Deus.

Enquanto persistirmos em tornar a nossa vida natural mimada e acariciada por nós mesmos, Deus não terá porque a abençoar; quando, porém, a colocarmos no deserto e resolutamente a subjugarmos a ele e a nós mesmos para lhe obedecer incondicionalmente, então Jesus será com ela; abrirá poços e oásis dentro de nós e cumprirá todas as suas promessas em relação à nossa vida natural, Gen.21:15-19.

 

11 De Dezembro
Individualidade
"Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue", Mat.16.24

A individualidade é a casca dura à volta da vida interior. A individualidade empurra os outros para o lado, separa e isola e não permite que seja tocada. Nós vemos isso como a primeira reacção duma criança e com razão; mas, se confundirmos individualidade com vida pessoal, ficaremos isolados de tudo que tem valor também. Essa casca de individualidade é um invólucro natural criado por Deus para a protecção da nossa vida individual, espiritual e caracteristicamente pessoal; contudo, a individualidade tem que se romper para que a vida pessoal possa desabrochar e entrar dentro duma comunhão individual e pessoal com Deus. Confundimos individualidade com espiritualidade, assim como confundimos lascívia com amor. Deus criou a natureza humana para ele mesmo; a individualidade degrada a natureza humana fazendo-a subsistir e existir só para si mesma.

As características da individualidade são independência e auto-afirmação. O que mais atrapalha a nossa vida espiritual é a constante auto-afirmação de nossa individualidade pessoal e individual. Quando teima em dizer: "Não consigo crer", é a individualidade que está por ali entrelaçada com alguma coisa; a individualidade nunca consegue crer. Mas, o nosso espírito não pode deixar de crer. Cuide-se quando o Espírito de Deus estiver em acção dentro de si. Ele o empurrará para as margens da sua individualidade; e você terá duas opções: dizer "não!" ou render-se e quebrar a casca da sua individualidade protectora para permitir que a vida pessoal surja e irrompa de dentro de si. O Espírito Santo sempre nos apontará essa como única questão, Mat.5.23,24. O que me impede de reconciliar-me com o meu irmão é a minha individualidade pessoal. Deus quer levá-lo a uma união de facto só com ele, mas, a menos que você se disponha a renunciar a todos os seus direitos sobre si, ele não poderá fazê-lo. "Negue-se a si mesmo " - negue o seu direito independentista para que toda a sua vida verdadeira tenha aquela oportunidade de vir a crescer.

 

12 De Dezembro
Personalidade
"Para que sejam um, como nós o somos", João 17.22

A personalidade é aquela coisa única, peculiar e profunda que nos faz distintos de todas as demais pessoas. A nossa personalidade é complexa demais para a compreendermos bem. Uma ilha no mar pode ser apenas o cume de uma grande montanha abaixo de água. A personalidade é como uma ilha; não sabemos nada sobre as profundezas que existem abaixo dela e, por consequência, não somos capazes de nos poder avaliar a nós mesmos mediante o que sabemos de nós mesmos. Inicialmente, achamos que podemos, mas, acabamos por entender que só existe um Ser capaz de nos entender muito bem e é quem nos criou.

A personalidade é uma característica do interior de todo o homem espiritual, como a individualidade é uma característica do homem exterior. Torna-se impossível para nós podermos definir o Senhor Jesus em termos de individualidade e de forma independente, mas, apenas em termos de personalidade diremos que, "Eu e o Pai somos um", João 10:30. A personalidade tem a propriedade de se poder vir a unir a outra; assim, cada pessoa só alcança a sua verdadeira identidade quando se une a outra. Quando o amor, ou o Espírito de Deus toca em alguém, essa pessoa transforma-se e não mais insiste em sua individualidade como sendo distinta. O Senhor nunca defendeu a individualidade ou um posicionamento isolado de cada indivíduo; as suas palavras eram em defesa da personalidade: "Que sejam um, como nós somos um". Se você entregar a Deus os direitos que tem sobre si mesmo, logo ali a verdadeira natureza da sua personalidade corresponder-se-á com a dele intimamente. Quando é Jesus Cristo quem emancipa a personalidade, toda aquela individualidade que temos logo se transfigura; o elemento de transfiguração é o amor, a nossa devoção pessoal a Jesus Cristo em pessoa dentro de nós. O amor é o transbordar dessa personalidade em plena comunhão com a dele.

 

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Oswald Chambers

(1874-1917)

13 De Dezembro
Oração Intercessora e Eficaz
"Orar sempre e nunca esmorecer", Luc.18.1

Não pode interceder de forma real e eficaz caso não tenha como crer na realidade da redenção; apenas fará da intercessão uma fútil compaixão por humanos como você, o que apenas aumentará o contentamento deles longe de Deus devido à sua simpatia por estarem separados de Deus, em vez de descontentes com isso. Na intercessão, colocamos diante de Deus uma pessoa ou uma das circunstâncias específicas nas quais ela esteja envolvida, até nos sentirmos motivados pela atitude de Deus para com aquela pessoa ou circunstância peculiar e pontual. Interceder significará, apenas, preencher "o que resta das aflições de Cristo", Col.1:24; será por isso que existem tão poucos intercessores de verdade. A intercessão é apresentada, por vezes, da seguinte maneira: "Coloque-se no lugar de fulano". Nunca! Interceder é colocar-se no lugar de Deus.

Uma vez envolvido nesse ministério, tenha o cuidado de estar sempre ouvindo o que Deus lhe quer comunicar sobre a realidade das situações perante as quais se depara, senão será esmagado sob o peso das mesmas. Se chegar a saber algo a respeito de certa pessoa, por quem ora, mais do que Deus quer que você saiba, não conseguirá orar continuamente, pois as terríveis condições nas quais se acha impedi-lo-ão de enxergar realidades.

Nossa responsabilidade será sempre consultar Deus a respeito de tudo que pretendemos; mas, entretanto, esquivamo-nos e tornamo-nos servos activistas em vez de leais para com Deus. Estamos prontos a fazer tudo aquilo que pode ser relatado, mas, interceder não. A intercessão é a única actividade nobre que não oferece armadilhas, porque mantém o nosso relacionamento com Deus estreitamente aberto e ligado.

Nesse tipo de intercessão, precisamos ter aquele cuidado específico de nunca virmos a colocar "remendos" e compromissos desleais na alma das pessoas; elas têm que entrar em contacto directo com aquela vida de Deus. Pense em quantas pessoas Deus colocou em seu caminho e você as abandonou ou empurrou para fora dessa vida. Quando oramos com base na redenção, por meio desse tipo de intercessão, Deus realiza coisas que, de outra forma, estaria impossibilitado de as realizar.

 

14 De Dezembro
A Grande Vida
"Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou... Não se turbe o vosso coração", João 14.27.

Sempre que nos deparamos com uma encruzilhada difícil em nossa experiência evangélica, corremos aquele risco de culpar Deus por isso; mas, somos nós que estamos errados, não pode ser ele; é que há em nós alguma forma de mal a que não queremos renunciar. Assim sendo, logo que abrimos mão disso, tudo se torna claro como a luz do dia. Enquanto tentarmos servir a nós mesmos e a Deus ao mesmo tempo, permaneceremos confusos e baralhados. Nossa atitude deve ser de completa confiança em Deus apenas. Quando agirmos assim, nada nos será mais fácil do que uma vida santa; a dificuldade surge quando queremos usurpar a autoridade do Espírito Santo em nós para a realização dos nossos próprios fins.

Sempre que possamos obedecer a Deus, esse acto será prontamente selado com aquele testemunho da nossa paz, não natural, mas, especial e incompreensível para todos nós, isto é, a paz de Jesus. Caso não sintamos essa paz dentro de nós, devemos esperar até que ela chegue ou, então, procurar descobrir por que razão ela não chega. E se estivermos agindo através de impulsividade e mesquinhez, ou em busca dum sentimento de heroísmo para impressionar os demais, não sentiremos essa paz dentro de nós, já que esse nosso gesto não demonstra em nada, nem a simplicidade nem confiança em Deus. A simplicidade nasce do Espírito Santo, não de nossas decisões, pois, elas opõem-se claramente a essa simplicidade, a esse tipo de simplicidade específica.

As dúvidas surgirão apenas sempre que deixamos de obedecer-lhe especificamente. Quando obedecemos a Deus, os problemas nunca se interpõem entre nós e ele, mesmo que os haja; servem, isso sim, de ferrão para fazer com que a mente fique ainda mais maravilhada ante a revelação que nos chega de Deus. Todos os problemas que possam surgir quando estamos em disposição de obediência para com Deus - e surgem muitos - aumentará o nosso gozo espiritual, porque sabemos que o nosso Pai tem conhecimento desses mesmos problemas; então, ficamos a observar e, em antecipação, a ver como ele os solucionará por nós.

 

15 De Dezembro
"Aprovado Por Deus"
"Procura apresentar-te a Deus, aprovado, como obreiro que não tem do que envergonhar-se, que maneja bem a palavra da verdade", 2Tim.2.15

Você não conseguirá expressar-se devidamente sobre algo em que crê ou sublinha, até que o faça. Caso não o consiga fazer, alguém ficará mais pobre para o resto da vida perdendo uma bênção por sua causa. Esforce-se para expor para si mesmo alguma verdade vinda de Deus e ele o levará a expressá-la melhor ainda para abençoar outras pessoas à sua volta. Passe pelo lagar de Deus, onde as uvas estão sendo esmagadas. Você deve lutar até conseguir expressar essa verdade de forma experimental e, só então, virá o tempo em que ela se poderá transformar em vinho para fortalecer a todos os outros; mas, se você se quiser apenas acomodar e disser: "Não vou lutar para expressar-me sobre isso para mim mesmo, vou lançar mão das ideias de terceiros para me expressar", a exposição não terá utilidade nenhuma para ninguém, nem servirá para si mais. Tente poder expor para si mesmo o que você crê ser uma verdade de Deus e só assim Deus terá a oportunidade de passá-la a outrem através de si e de suas capacidades, abençoando-as.

Crie em si aquele hábito de desafiar a sua própria mente e ser, analisando todos os fatos que aceita sem questionar, pois, por não questionar poderão vir a adormecer-se a eles mesmos. As posições que assumimos não serão realmente nossas enquanto não as tornarmos nossas sofrendo com elas e por elas. O escritor que mais nos beneficia não é aquele que nos lega algo que não sabíamos, mas, aquele que expressa uma verdade que já estava em nosso interior e desejávamos ansiosamente saber como expressá-la e manifestá-la em nossa vivência prática.

 

16 De Dezembro
Lutar Diante de Deus
"Portanto, tomai toda a armadura de Deus... orando em todo tempo..." Ef.6.13,18.

Temos que lutar contra tudo que nos tenha como impedir de chegar a Deus, seja bom ou mau e, em oração, lutar a favor de outras pessoas também. Nunca afirmemos que lutamos com Deus em oração, porque essa colocação não tem coerência fundamentada nas Escrituras. Se você lutar com Deus, ficará aleijado para o resto da vida como Jacó. Se alguém se atracar com Deus e lutar com ele, como fez Jacó, Gen.32:24,25, pelo facto de ele agir de uma forma que não lhe agrada, estará obrigado a desconjuntá-lo. Não seja um coxo nos caminhos de Deus; seja um daqueles que lutam diante de Deus, tornando-se mais do que vencedor através dele, Rom.8:37. Lutar diante de Deus conta muito no seu reino. Se você me pedir para orar por si e eu não estiver aperfeiçoado em Cristo, poderei orar, mas, não surtirá efeito nenhum; contudo, se eu estiver aperfeiçoado em Cristo, minha oração prevalecerá por si. A oração só é eficaz quando somos íntegros: "Portanto, tomai toda a armadura de Deus…".

Precisamos de fazer sempre aquela distinção entre a vontade e a autoridade de Deus, ou seja, o seu desígnio providencial relativamente a nós. A vontade eterna de Deus é imutável; é pela sua permissão que temos de lutar diante dele. Nossa reacção à sua permissão tem por nos capacitar ou não a chegar à vontade que ele tem para nós ou para outros. "Todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus", Rom.8:28 - dos que permanecem fiéis à vontade eterna de Deus, ao seu chamado em Cristo Jesus. A sua permissão é o meio e a razão pela qual seus filhos se manifestam diante dele. Não devemos ser meros conformistas, dizendo: "Ah, isto é a vontade de Deus". Não temos que lutar com Deus, mas, sim, lutar diante de Deus. Tenhamos cuidado para não ficarmos acomodados diante de Deus em vez de lutar heroicamente e com valor acrescido para nos podermos apropriar de toda a Sua pujança e poder.

 

17 De Dezembro
Redenção - Criando a Necessidade que só Ela Satisfaz
"Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura", 1Cor.2.14

O evangelho de Deus tem por consequência poder criar um sentido de necessidade do próprio evangelho. Paulo diz: "Se o nosso evangelho ainda está encoberto, para aqueles que perecem está encoberto, os quais o deus deste século cegou os seus entendimentos, aos que não crêem...", 2Cor.4:3,4. A maioria das pessoas está bem segura da sua própria moralidade; elas não têm nenhuma sensibilidade prognóstica de necessidade do evangelho. É Deus quem cria dentro de nós essa carência espiritual, da qual nenhum ser humano tem consciência a não ser depois que o próprio Deus a manifesta interiormente. Jesus disse: "Pedi e dar-se-vos-á", mas, Deus não pode dar enquanto o homem não pedir. Não que ele retenha as dádivas, mas, é dessa maneira que ele estabeleceu que tudo possa acontecer ainda, com base nessa redenção que Cristo efectuou e efectiva ainda. Por nossos pedidos, Deus transpõe-se para colocar em acção os mecanismos mediante os quais ele cria as suas dádivas, as quais por sua vez, só passarão a existir depois que as pedirmos e recebermos. A realidade intrínseca da redenção é que ela está sempre formando e criando. Assim, como a redenção cria em nós a vida de Deus por nós, ela cria igualmente todas as dádivas relacionadas com essa mesma vida. Nada pode satisfazer certa necessidade senão aquilo mesmo que a criou. Esse é a essência de toda a redenção - ela cria o que satisfaz.

"E eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a mim mesmo", João 12:32. Quando pregamos a nossa própria experiência, as pessoas podem ficar interessadas, mas, isso não despertará nelas a consciência de sua necessidade espiritual se ela não existir já dentro de si. Se Jesus Cristo for levantado, o Espírito de Deus irá criar uma necessidade consciente dele próprio. Por trás de toda a pregação do evangelho real está a criativa redenção de Deus em acção do lado de dentro dos corações dos homens. Não será apenas nosso testemunho pessoal que salva as pessoas. "As palavras que eu vos tenho dito são espírito e são vida", João 6:63.

 

18 De Dezembro
O Teste de Toda a Lealdade
"Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus", Rom.8.28

Só uma alma leal crerá que Deus cria circunstâncias. O modo como tomamos liberdades com essas circunstâncias mostrará apenas que, na verdade, não acreditamos que Deus as criou; embora digamos que sim, encaramos as coisas que nos acontecem como se fossem criadas por homens. Ser fiel em toda circunstância significa ter compromisso apenas com uma pessoa: o Senhor Jesus Cristo. Repentinamente, Deus desfaz uma determinada série de circunstâncias e então vem-nos a compreensão de que lhe fomos desleais por não termos reconhecido que ele as havia ordenado soberanamente; não entendemos o que ele pretendia com tudo aquilo e aquela experiência nunca mais se repetirá em nossas vidas. O teste da nossa lealdade é exactamente este aqui. Se aprendermos a adorar a Deus em circunstâncias difíceis, ele as alterará em questão de segundos, sempre, quando quiser.

A lealdade a Jesus Cristo é o ponto mais alto de todos e no qual nos engasgamos muitas vezes. Estamos prontos para ser fiéis em nosso trabalho no serviço cristão, ou em qualquer outra coisa, mas, não a Jesus Cristo como pessoa que é e como é. Muitos cristãos mostram-se impacientes quando se fala sobre lealdade a Jesus Cristo. O Senhor é mais vezes colocado fora do trono por seus próprios conservos do que pelo mundo. Deus é transformado numa máquina de abençoar para a qual Jesus Cristo foi supostamente concebido para se tornar servo dos demais servos.

A questão não é que trabalhemos para Deus, mas, que lhe sejamos tão leais que ele possa realizar sua obra através de nós, pois ele não pode dar-se ao luxo de falhar: "Conto com todos vós para o serviço extremo, sem queixumes de vossa parte, nem perda de tempo com explicações da minha parte". Deus quer usar-nos como usou a seu próprio Filho.

 

19 De Dezembro
Onde a Nossa Mensagem Se Deve Focalizar
"Não vim trazer a paz, mas, espada", Mat.10.34.

Nunca se compadeça da pessoa cujo problema o leve à conclusão de que Deus é severo demais para com ele. Deus é mais brando do que possamos imaginar. De vez em quando, porém, ele permite que sejamos severos para que ele possa manifestar toda a brandura que lhe é exclusiva e peculiar. Se alguém não consegue chegar até Deus, será apenas porque existe algo oculto do que ele se recusa ter de renunciar: "Posso admitir que errei, mas, não tenho a menor intenção de renunciar àquilo que acho que cabe a Deus aceitar em mim". É impossível lidar com um caso desses compassivamente; temos que ir de encontro à raiz do próprio problema, para que a pessoa revele o seu antagonismo obstinado e o consequente ressentimento contra a própria mensagem. As pessoas querem as bênçãos de Deus, mas, não suportam que lhes toquemos no seu ponto mais sensível.

Se você se tem submetido a Deus, a sua mensagem como servo dele é de insistência implacável no sentido de cortar o mal pela raiz seja em quem for; caso contrário, nunca haverá cura para tal pessoa. Insista na mensagem até que o ouvinte não mais possa conseguir fugir de sua aplicação prática dentro dele para com ele próprio. Comece por abordar as pessoas a partir do ponto onde estão, até levá-las a perceber o que lhes falta ainda e então apresente-lhes o padrão de Jesus Cristo como vida alternativa para elas. "Nunca conseguiremos ser assim", dirão ainda. Mas, será um argumento de obstinação apenas. Lance, então, o argumento final: "Jesus diz que vocês têm que ser assim e nada menos que tudo isso". "Mas, como poderemos vir a ser assim?" "Não poderão; a menos que recebam um novo espírito e um novo Deus em vós para o gerir", Luc.11.13.

É absolutamente necessário que as pessoas tenham plena consciência da sua necessidade absoluta e exclusiva para que a mensagem possa surtir qualquer utilidade prática nelas. Milhares de pessoas estão felizes sem Deus neste mundo. Se eu estive feliz e até vivia uma vida decente até Jesus vir ter comigo, por que foi que ele veio então? Porque esse tipo de felicidade e paz tem bases erradas, fundamentos na areia. Jesus Cristo veio para passar ao fio da espada toda paz que não brote de um relacionamento pessoal só com ele, exclusivamente.

 

20 De Dezembro
O Tipo De Ajuda Correcto
"E eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a mim mesmo", João 12.32

Poucos de nós terão aquela compreensão da verdadeira razão pela qual Jesus Cristo morreu. Se compaixão é tudo o de que os seres humanos precisam, então a cruz de Cristo é uma autêntica farsa; não havia necessidade para ela. O que o mundo precisa não é de "um pouquinho mais de amor", mas, de uma operação cirúrgica, uma mudança interior radical.

Quando você for achado face a face com uma pessoa com um problema espiritual, lembre-se sempre de Jesus Cristo na cruz. Se aquela pessoa puder chegar a Deus de qualquer outro modo, então a cruz de Jesus Cristo é tornada vã e desnecessária. Se você puder ajudar outros com a sua compaixão ou compreensão por eles, é um traidor a Jesus Cristo. Você tem que se manter num relacionamento correcto, estreito, colaborante e chegado com Deus e dar-se aos outros à maneira de Deus, não à sua maneira humana, que ignora Deus por completo em Sua obra interior. A ênfase hoje em dia é religiosidade benévola e não a mudança radical a partir do interior.

A única coisa que temos de fazer é apresentar Jesus Cristo como crucificado, erguê-lo o tempo inteiro diante de qualquer um. Toda doutrina que não estiver baseada na cruz de Jesus Cristo levará o ouvinte para uma direcção oposta e errada. Se nós, servos de Cristo, cremos nele e confiamos na realidade da redenção que ele próprio efectivou e consegue dentro de cada um de nós, as pessoas às quais falamos irão sentir isso mesmo de forma profunda e acutilante. O que de resto permanecer e se aprofundar será exclusivamente para servir o nosso próprio relacionamento com Jesus Cristo; a nossa utilidade para com Deus dependerá tão-somente da maneira como se torna efectiva a redenção dentro de nós próprios.

A vocação do servo de Cristo é descobrir o pecado e manifestar a Jesus Cristo como Salvador real, primeiro dentro de si; consequentemente, ele não pode ser poético ou eloquente, tem que ser rigorosamente cirúrgico e pontual. Somos enviados por Deus para levantar Jesus Cristo diante de todo o mundo, não para fazer discursos maravilhosos e belos aos olhos dos homens. Temos que sondar os outros profundamente, como Deus nos sonda a nós e manter aquele discernimento para descobrir os textos que revelam directamente a verdade e aplicá-los sem sombra de temor.

 

21 De Dezembro
Experiência ou Revelação Sobre a Verdade De Deus?
"Temos recebido... o Espírito que vem de Deus, para que conheçamos o que por Deus foi dado gratuitamente", 1Cor.2.12.

A minha experiência não será sobre o que torna a redenção realidade, pois, a redenção é uma realidade em si já; mas, a redenção não fará qualquer sentido para mim enquanto ela não falar a minha própria linguagem, operando pela minha vida consciente. Quando me converti, o Espírito de Deus me libertou de mim mesmo e de minhas experiências pessoais para me identificar com Jesus Cristo. Se as minhas experiências, entretanto, ainda permanecem comigo, elas não foram produzidas por causa da redenção. A prova de que uma experiência é produzida através da redenção é que ela me liberta cada vez mais de mim mesmo e de minhas experiências; não considero mais as minhas experiências como bases para essa realidade; levo em conta, apenas, a realidade que reproduziu essas experiências em mim. Minhas experiências não valem para nada, a menos que tenham como me manter e colocar junto à fonte, Jesus Cristo.

Se você tentar prender e limitar o Espírito Santo que está dentro de si para que as experiências possam produzir-se subjectivamente, descobrirá, então, que ele romperá todas as barreiras e o levará de volta ao Cristo de sempre. Nunca alimente uma experiência que não tenha Deus como fonte e a fé em Deus como resultado continuado. Caso o fizer, a sua experiência será anticristã, não importando quais as visões que você possa ter tido e experimentado. Jesus Cristo é o Senhor de suas experiências, ou você está tentando ser o senhor dele por causa das suas experiências? Alguma experiência lhe é mais preciosa do que o próprio Senhor Jesus Cristo em pessoa ali sempre presente? Ele é quem tem de ser seu Senhor absoluto e incondicional e nenhuma experiência sobre a qual ele não seja o Senhor deve manter qualquer valor para si ainda. O tempo virá pelo qual Deus o tornará indiferente às suas experiências: "Pouco me importa aquilo que experimento; estou seguro e certo é nele".

Caso seja dado a falar sobre as experiências que teve e já passou, seja implacável consigo mesmo logo ali; a fé que se afirme a si mesma não é mais fé; a única fé que existe é a que tem segurança em Deus sedeada e fixada nas verdades por ele reveladas, como sobre uma rocha.

 

22 De Dezembro
Aquela Atracção Vinda Do Pai
"Ninguém pode vir a mim se o Pai que me enviou não o trouxer", João 6.44.

Quando Deus começa a atrair-me para ele mesmo, surge imediatamente a questão da minha vontade: aceitarei a revelação dada por Deus? Irei a Ele? Discutir sobre questões espirituais é uma impertinência. Quando Deus lhe falar, não discuta isso com ninguém mais. A fé não é um acto intelectual, mas, acima de tudo um acto moral, mediante o qual me entrego deliberadamente a Ele. Estarei disposto a entregar-me totalmente a Deus e a agir com base só no que ele diz? Nesse caso, verificarei que estou alicerçado na realidade do evangelho, que é tão seguro quanto o próprio trono de Deus.

Ao pregar o evangelho, insista sempre numa decisão da vontade do próprio homem. A fé deve ser a decisão de crer. Deve haver uma capitulação da vontade própria em nós mesmos - não ante um poder persuasivo - mas, ante uma firme caminhada direccionada e alinhavada em e para Deus, baseada nele e somente no que ele diz, até que eu perca a confiança no que tenho feito e confie apenas em Deus e nunca mais em mim mesmo. O problema é que não confio em Deus, mas, apenas na minha compreensão intelectual que tenho sobre ele. No tocante aos meus sentimentos, não devo confiar neles nunca mais. Preciso tomar a decisão de crer e isso nunca poderá ser feito sem um esforço violento de minha parte contra mim mesmo para separar-me da minha antiga maneira de ver as coisas e entregar-me totalmente e só a ele.

Todas as pessoas têm condições de ir muito além do seu próprio alcance. É Deus quem me leva a si e todo o meu relacionamento com ele é, em primeiro lugar, um relacionamento pessoal, não intelectualizado e amestrado. Entro nesse relacionamento pelo milagre de Deus e por minha própria vontade em crer; depois passo a ter uma compreensão e uma apreciação inteligente da maravilha de tal acontecimento pelo lado de dentro de mim.

 

23 De Dezembro
Ser Participativo na Expiação?
"Mas, longe esteja de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo", Gal.6.14

O evangelho de Jesus Cristo força sempre a que se tome uma decisão sobre Cristo. Será que aceito o veredicto de Deus sobre o pecado, dado na cruz de Cristo? Terei o mínimo interesse na morte de Jesus Cristo em pessoa? Aceito ser identificado com a sua morte (com o tipo de morte para todo o pecado, Rom.6.10), morrer para todo interesse pelo pecado, pelo mundanismo, por mim mesmo - e identificar-me de tal modo com Jesus que nada mais me interesse senão ele? O privilégio do discípulado será eu poder estar alistado sob a cruz de Cristo em exclusivo e isso significará a morte para o pecado. Fique a sós com Jesus e diga-lhe, ou que você não quer que o pecado morra em si, ou que deseja ser identificado com a morte dele a qualquer preço e custo. Tão logo você o tenha como fazer assim, pela fé no que o Senhor fez na cruz por si e em si, ocorre uma identificação sobrenatural com a morte dele do lado de dentro de si e com uma certeza que ultrapassará todo o entendimento; você se assegura de que o seu "velho homem está crucificado com Cristo", Rom.6:6, passando pela mesma experiência que ele passou na cruz, crucificando-se com Ele, Gal.2:20. A prova é a facilidade com que a vida de Deus a partir de dentro de si o capacita a obedecer à voz de Jesus Cristo sem relutância e sem pudor.

De vez em quando o Senhor permite-nos ver o que seríamos se não fosse por ele, para provar o que ele disse: "Sem mim nada podeis fazer", João 15:5. É por isso que a base do cristianismo é um amor ardente pelo Senhor Jesus Cristo em pessoa viva dentro de mim. Confundimos o êxtase de nossa experiência inicial de ingresso no reino com o propósito que Deus tinha ao introduzir-nos bem para dentro de seu reino; seu propósito, ao introduzir-nos nele, é que possamos compreender tudo o que a identificação com Jesus Cristo pode ainda significar para todos nós.

 

24 De Dezembro
A Vida Oculta
"A vossa vida está oculta juntamente com Cristo, em Deus", Col.3.3

O Espírito de Deus testifica da extraordinária segurança da vida "oculta com Cristo em Deus". E isso é constantemente ressaltado por Paulo dentro das suas epístolas. Falamos de viver uma vida santificada como se isso fosse uma coisa muito incerta; porém, é a mais segura que existe, porque essa vida contém em si e por trás dela o Deus todo-poderoso do universo. A coisa mais incerta é tentar viver sem Deus. Se já nascemos de novo, a coisa mais difícil será locomovermo-nos em erro; e a mais fácil é viver a partir dum relacionamento concreto e correcto com Deus, bastando para isso que prestemos atenção às suas advertências e nos mantenhamos em sua luz, 1João1:7.

Quando pensamos em andar na luz, em ser libertos do pecado, "sermos cheios do Espírito", Ef.5:18, isso nos parecerá o pico de uma montanha muito alta para concluirmos assim: "Oh, eu nunca conseguiria viver lá em cima!" Mas, quando, através daquela graça abundante de Deus lá chegarmos, descobrimos que não se trata de um pico duma montanha, mas, antes dum planalto onde existe amplo espaço para se poder viver e crescer livremente apenas. "Alongaste meus passos debaixo de mim e eu não resvalei em meu caminho", Sal.18:36.

Se você realmente vir a Jesus e estiver de facto com ele, eu o desafio a duvidar dele. Quando ele diz: "Não se turbe o vosso coração", João 14:27, se você o vir, eu o desafio a deixar que sua mente se perturbe; quando ele está presente é impossível duvidar mais. Todas as vezes que você entrar em contacto directo e muito íntimo e pessoal com Jesus, as palavras dele se tornam excessivamente reais. "A minha paz vos dou", João 14:27 - uma paz que abrange tudo e excede tudo quanto se possa imaginar, desde o alto da cabeça até a sola dos pés, uma confiança irreprimível e impossível de ser ainda contida. "A vossa vida está oculta juntamente com Cristo, em Deus" e a paz perfeita de Jesus Cristo é transmitida em seu íntimo.

 

25 De Dezembro
Seu Nascimento e o Nosso Novo Nascimento
"Eis que a virgem conceberá, dará à luz um filho e lhe chamará Emanuel", Is.7.14

Seu nascimento na História. "Por isso também o ente santo que há de nascer de ti será chamado Filho de Deus", Luc.1.35. Jesus Cristo nasceu no mundo, não do mundo. Não surgiu da História; ele entrou na História, vindo de fora. Jesus Cristo não é o melhor dos seres humanos. Ele é um ser que não pode, em absoluto, ser explicado através da raça humana. Ele não é um homem que se tornou Deus, mas, Deus encarnado, Deus vindo do céu e assumindo a carnalidade humana nele para a destruir por completo. Sua vida é a mais elevada e a mais santa que aqui chegou entrando pela porta mais humilde possível. O nascimento do Senhor foi um advento - o aparecimento de Deus em forma humana.

Seu nascimento em mim. "Por quem de novo sofro as dores de parto, até Cristo ser formado em vós", Gal.4.19. Assim como o Senhor entrou na história humana, também deve entrar em mim. Terei permitido que minha vida se transforme numa "Belém" para o Filho de Deus também? Eu não posso entrar nos domínios do reino de Deus e obter acesso a ele, a menos que nasça do alto através de um nascimento totalmente diferente do que conhecemos como o modo natural. "Importa-vos nascer de novo", João3:7. Isso não é uma ordem, é um facto fundamental indescritível. A característica do novo nascimento é que eu me renda a Deus de forma tão completa que "Cristo seja formado" em mim. Assim que Cristo é formado em mim, a sua natureza começa a activar e actuar através de mim.

Deus manifesto na carne. Isto é tudo quanto nos é tornado possível, a mim e a si como homens e através da redenção dentro de cada homem através de Jesus Cristo.

 

26 De Dezembro
"Andai na Luz"
"Se, porém, andarmos na luz como ele está na luz... o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado", 1 João 1.7

É um erro crasso confundir o estarmos cientes do facto de que estou livre do pecado consciente com a libertação do pecado pela expiação feita por Cristo em nós. Ninguém entende o que é pecado enquanto não nascer de novo. Pecado foi o que Jesus Cristo enfrentou no Calvário, não a morte. A prova de que estou liberto do pecado é que entendo a verdadeira natureza do pecado em mim depois de sair dela. Para que o homem entenda o que o pecado é, será preciso que ele experimente o máximo da expiação de Jesus Cristo, ou seja, a comunicação da sua absoluta perfeição dentro de si.

O Espírito Santo aplica a expiação dentro de todos nós tanto na nossa esfera inconsciente como na que temos consciência; e só quando chegarmos a ter uma ideia do verdadeiro poder do Espírito Santo em nós é que compreenderemos o real sentido de 1João 1.7: "O sangue de Jesus... nos purifica de todo pecado". Isso não se aplica apenas ao pecado consciente, mas, à compreensão profunda do pecado, que só posso receber do Espírito Santo sempre que habita em mim.

Se eu andar na luz como Deus está na luz - não na luz da minha consciência, mas, na luz de Deus em minha consciência e não só - se andar nela, sem que nada esteja encoberto para ninguém, então receberei esta maravilhosa revelação: o sangue de Jesus Cristo me purifica de todo pecado, a tal ponto que o Deus todo-poderoso nada mais vê de repreensível em mim. E isso é obra! O resultado disso na minha consciência é um doloroso conhecimento do que é o pecado verdadeiramente. O amor de Deus que opera em mim faz-me odiar, com o mesmo ódio do Espírito Santo, tudo o que não esteja de acordo com a santidade absoluta de Deus. Andar na luz significa que tudo o que é das trevas me impele mais para dentro da Sua luz.

 

27 De Dezembro
Onde as Batalhas São Ganhas ou Perdidas
"Se voltares, ó Israel, diz o Senhor..." Jer.4.1.

As batalhas são ganhas ou perdidas nos lugares secretos da nossa vontade em primeiro lugar, perante Deus e não no nosso mundo exterior. É o Espírito de Deus que me constrange e sou obrigado a ficar a sós com Deus e travar as batalhas diante dele antes de se darem em minha esfera exterior. Enquanto isso não acontecer, sairei sempre derrotado de qualquer batalha, por pequena que esta seja. A batalha pode levar um minuto ou um ano, isso dependerá apenas de mim, não de Deus; mas, deve ser travada a sós diante de Deus e em mim e eu devo atravessar resolutamente o inferno duma renúncia diante de Deus para entrar nos pastos verdejantes de qualquer vitória. Nada tem qualquer poder sobre quem já batalhou diante de Deus e saiu vencedor.

Se vier a dizer assim: "Vou esperar pela provação e então porei Deus à prova sobre isso", descobrirei que isso é impossível de ser feito. Tenho que acertar as coisas entre mim e Deus nos lugares celestiais e secretos de minha alma, onde nenhum estranho tem como interferir e apenas então poderei prosseguir com a certeza de que a batalha estará ganha. Se a perder ali, me sobrevirão calamidades e transtornos, tão certos quanto os decretos de Deus o dizem. Uma das razões porque eu não ganho nenhuma batalha é que tento vencê-la primeiro na esfera exterior. Fique a sós com Deus, lute diante dele, resolva a questão ali de uma vez por todas e só depois trate de sair para fora.

Ao lidar com outras pessoas, a nossa função é levá-las a resolver a questão em termos duma decisão perante e diante de Deus. Esse é o meio através do qual se inicia uma entrega real. De vez em quando, Deus pode-nos levar a empreender uma certa batalha numa certa encruzilhada. Esse será um ponto crucial; daí por diante, ou partimos para um tipo de vida evangélica cada vez mais fraca e inútil, ou nos tornamos mais e mais inflamados para glorificar Deus - o máximo de nós para a glória de Deus em nós e através de nós.

 

28 de Dezembro

A conversão continua

"...se não vos converterdes e não vos fizerdes como crianças", Mat.18:3

Essas palavras do Senhor aplicam-se devidamente à nossa conversão inicial, mas, temos que nos converter continuamente, todos os dias de nossa vida, buscando sempre a Deus até atingirmos a perfeição das crianças. Se confiarmos em nosso entendimento em vez de confiarmos em Deus plenamente, acarretaremos com aquelas gravíssimas consequências pelas quais Deus nos responsabilizará sempre. Sempre que somos colocados em novas condições de provação contínua por coisas trazidas pela providência de Deus, temos que cuidar para que a vida natural se submeta à vida do espírito e obedeça ao Espírito de Deus vivente lá. O facto de já termos feito isso uma vez ou outra, não é prova de que tornaremos a fazê-lo caso suceda a oportunidade de novo. A relação do natural com o espiritual será o de uma conversão para continuar e persistir e é justamente a isso que mais resistimos; há quem queira vencer e submeter-se agora para nunca mais ter de se submeter. Em todas as situações nas quais possamos ainda ser colocados, o Espírito de Deus e a sua salvação permanecem imutáveis dentro de nós, mas, temos que nos revestir "do novo homem", Ef.4:24. Deus sempre nos responsabilizará tantas quantas vezes nos recusarmos a converter-nos de algo específico. A razão dessa recusa será sempre nossa obstinação e falta de vontade em nos submetermos. Não nos deixemos governar através da vida natural; é Deus quem nos governará continuadamente e sempre - até nas coisas virtuosas.

O grande impedimento existente em nossas vidas espirituais será o facto de não nos dispormos a converter-nos continuadamente; há áreas de obstinação em que o nosso orgulho cerra os punhos diante do trono de Deus e diz: "Não me renderei porque considero que isto não está errado". Endeusamos a independência e a teimosia obstinada e até lhe damos outros nomes virtuosos. Aquilo que Deus vê como uma persistente fraqueza, nós chamamos de força prudente. Existem áreas inteiras de toda a nossa vida que ainda não foram submetidas a Deus e isso só pode ser feito pela continuidade da conversão. Lenta, mas, seguramente, podemos conquistar todo o território do pecado para o Espírito Santo de Deus viver em nós.

 

29 De Dezembro
Desertor ou Discípulo?
"À vista disso, muitos dos seus discípulos o abandonaram e já não andavam com ele", João 6.66.

Quando Deus, através do seu Espírito, aplicando a Palavra, nos dá e fornece uma certa revelação ou manifestação do que ele quer, temos de poder andar à luz dessa visão ainda, 1 João 1:7; nossa mente e alma vibrarão em excesso com isso; mas, se não obedecermos a essa instrução, tornar-nos-emos escravos dum ponto de vista que o Senhor nunca teve e cuja manifestação era apenas o início de algo. Não olhe, depois, para outrem para lhe confirmar: "Se ele pode adoptar essas opiniões e prosperar, por que isso não acontece comigo também?"Você tem que andar à luz da revelação que lhe foi dada, sem se comparar aos outros ou julgá-los porque não o seguem mais; isso fica entre eles e Deus. Sempre que descobrir que há uma colisão entre o que Deus lhe manifestou e um ponto de vista no qual se desvirtua moralmente e lhe traz a dúvida, começarão a surgir em si certas atitudes - um sentido de posse de bens materiais e de direitos pessoais que acha que conseguiu adquirir de Deus, coisas essas a que Jesus Cristo não dava valor. Ele era sempre contra tais coisas pessoalmente e as afrontava como a raiz de tudo o que lhe era oposto. "A vida de um homem não consiste na abundância dos bens que ele possui", Luc.12:15. Se não estamos convencidos disso, é porque ignoramos as profundezas do ensinamento do Senhor.

Nossa tendência natural será sempre acomodarmo-nos e deleitarmo-nos à sombra das recordações das maravilhosas experiências que tivemos no passado e que já não contam em absoluto por agora - apenas a obediência a elas contará e indicará virtude. Caso exista um único preceito revelado por Deus no Novo Testamento com o qual você não se conforma e não se sente inclinado a cumprir nos seus mais elevados pormenores, isso é o início de apostasia; significa que sua consciência não atende e nunca se submete integralmente à verdade. Você nunca poderá ser o mesmo depois da revelação duma verdade. Aquele momento marcá-lo-á para sempre, para ter como prosseguir como um bom discípulo de Jesus Cristo ou retroceder como desertor infame e obstinado.

 

30 De Dezembro
"E Cada Uma Das Virtudes que Possuímos..."
"Todas as minhas fontes são em ti", Sal.87.7.

O Senhor nunca remenda nossas virtudes naturais, isto é, as nossas características naturais, anseios ou mesmo qualidades. Ele refaz todo o homem por dentro completamente. "Vos revistais do novo homem", Ef.4:24; ou seja, faça com que sua vida natural se revista com todos os trajes correspondentes à nova vida. A vida que Deus implanta em nós desenvolve as suas próprias características e virtudes; não as virtudes de Adão, mas, as de Jesus Cristo em nós. Observe que, depois da nossa santificação, Deus faz perecer aquela confiança nas virtudes naturais e em qualquer poder que tenhamos obtido, até que aprendamos apenas e exclusivamente a buscar vida nos reservatórios da vida ressurrecta de Jesus Cristo. Se estiver num processo de passar por uma experiência que produz secura em sua alma, agradeça a Deus por isso.

Um sinal de que Deus está operante dentro de nós é que ele abala nossa confiança em qualquer de todas as nossas virtudes naturais, porque elas não são promessas do que vamos ser, mas, sim, os resquícios da personalidade com que Deus criou cada homem. Agarramo-nos às virtudes naturais, enquanto Deus está tentando colocar-nos apenas em contacto estreito e real com a vida de Jesus Cristo dentro de nós mesmos, que nunca pode ser descrita em termos de virtudes naturais, mas, em termos de vento que não se sabe apreender e agarrar. Não existe nada mais triste do que ver pessoas ao serviço de Deus apoiarem-se em algo que a graça de Deus nunca lhes concedeu a experimentar, ou em algo que elas próprias possam ainda possuir por um acaso da hereditariedade e por mera criação. Deus não aperfeiçoa nem transfigura nossas virtudes naturais, porque elas nunca poderão sequer aproximar-se do que Jesus Cristo deseja de nós. Nem o amor natural, nem a paciência natural, nem uma pureza natural poderão atender a nenhuma das suas exigências. Mas, naquela mesma medida que colocamos cada parcela de nossa vida em harmonia com a nova vida que há Deus dentro de nós, ele manifesta em nós essas mesmas virtudes que foram características principais do Senhor Jesus.

E cada virtude que possuímos, terá de ser exclusivamente dele…

 

31 De Dezembro
Ontem
"Pois não saíreis apressadamente, nem ireis em fuga; porque o Senhor irá diante de vós, e o Deus de Israel será a vossa retaguarda", Is.52:12

Seguros contra nosso passado. "Deus pede as contas de tudo quanto passou…", Ecl.3:15. No fim do ano, olhamos com grande expectativa tudo quanto Deus tem para o nosso futuro, mas, mesmo assim, podemos ficar aprisionados nos dias de ontem. O presente gozo da graça de Deus pode ser reprimido pela recordação dos pecados e falhas e pudores de ontem. Mas, Deus é o Deus do nosso passado e permite que nos lembremos dele a fim de transformá-lo numa lição espiritual para o futuro também. Deus faz-nos lembrar do passado para que não nos resguardemos na segurança superficial do presente momento.

Seguros no amanhã. "Porque o Senhor irá diante de vós". Esta revelação nasce da misericórdia de Deus, a de que ele nos protegerá, quando não nos protegemos a nós mesmos. Ele vigiará para que certos obstáculos não nos façam recair nas mesmas falhas de sempre, como certamente o fariam se ele não fosse a nossa retaguarda também. A mão de Deus pode estender-se ao passado possibilitando-nos de manter a consciência limpa.

Segurança para hoje. "Porquanto não saíreis apressadamente". À medida que nos aproximamos do novo ano, não o façamos com a pressa da alegria impetuosa ou da irreflexão impulsiva e contraditória, mas com aquela força paciente da certeza de que o Deus de Israel marchará adiante de nós também. Nosso passado apresenta-nos falhas irreparáveis; é verdade que deixamos passar oportunidades que agora se acham perdidas para sempre, mas, Deus pode transformar essa ansiedade destrutiva numa força construtiva de reflexão para o futuro. Deixe o passado no esquecimento, mas, deixe-o nas mãos de Cristo também.

Entregue a ele o irreparável passado e entre com ele no irresistível futuro adiante.

José Mateus
zemateus@msn.com