1 De Fevereiro

O Chamado de Deus

"Não me enviou Cristo para baptizar, mas para pregar o evangelho", 1 Cor.1.17

Paulo torna explícito aqui que a razão porque Deus o chamou foi pregar o evangelho; mas tenha sempre em mente o que Paulo entende por "evangelho", ou seja, a realidade da redenção em nosso Senhor Jesus Cristo. Pendemos a fazer da santificação a meta final de toda a nossa pregação. Paulo alude à experiência pessoal do crente em forma de ilustrações, nunca como um objectivo em si mesmo. Não existe nenhum texto que nos envie a pregar salvação ou santificação; somos enviados para apresentar Jesus Cristo, João 12.32. Dizer que Jesus Cristo sofreu a redenção para me tornar santo é torcer as coisas. Jesus Cristo sofreu para a redenção para redimir o mundo inteiro e colocá-lo íntegro e reabilitado perante o trono de Deus. O facto de que a redenção pode ser experimentada por nós é a ilustração do poder da realidade dela, mas essa não é a finalidade da redenção. Se Deus fosse humano, como haveria de se sentir desalentado e cansado dos constantes pedidos que fazemos em prol da nossa salvação ou ainda pela nossa santificação. Abusamos dos seus recursos, desde manhã até à noite, pedindo coisas que interessam apenas a nós mesmos – isso faz parte daquilo que eu quero ser liberto! Quando percebermos qual a realidade que fundamenta todo o evangelho, nunca mais voltaremos a incomodar Deus com pequenas quezílias pessoais.  

O anseio da vida de Paulo era poder proclamar o evangelho de Deus. Ele, de bom grado, aceitava desgostos, desilusões, tribulações, apenas por uma simples razão – porque essas coisas mantinham-no dentro duma inabalável devoção ao evangelho, exclusivamente.

 

2 De Fevereiro

A Compulsão do Chamado

“Ai de mim, se não pregar o evangelho?" 1 Cor.9.16

Cuidado para não tapar os ouvidos estando Deus a chamar! Todos quantos são salvos são chamados a dar testemunho pessoal dessa salvação; não é o mesmo que ser enviado a pregar, mas, antes para ser uma demonstração pratica dessa salvação. Neste versículo Paulo refere-se às "dores" nele produzidas pela compulsão de pregar o evangelho. Nunca associemos isto que Paulo diz a pregar o evangelho, mas, antes a colocar em contacto as vidas com a salvação representada em sua vida prática. Não existe nada mais fácil do que salvação, porque essa é obra soberana feita por Deus: “Olhai e sede salvos”. O Senhor nunca estabeleceu que as pré-condições para o discípulado fossem as mesmas condições para a salvação. Estamos todos necessariamente destinados à salvação através da cruz de Jesus Cristo. O discípulado traz consigo apenas uma opção a mais: "Se alguém quer vir após Mim..."

Essas palavras de Paulo são alusões exclusivas a tornar-se servo de Jesus Cristo. Deus nunca nos pede permissão para decidir o que fazermos ou ainda para onde iremos pregar. Deus faz de nós "pão partido" e "vinho distribuído" conforme o agrado dele. Ser "separado para o evangelho" significa ouvir o chamamento de Deus; e, quando começamos a ouvir esse chamar, passamos a viver uma agonia verdadeiramente digna do nome de Cristo. Todas as nossas ambições são logo ali extintas e amputadas; tudo com excepção duma coisa: "separado para o evangelho". Ai da pessoa que tentar andar noutra direcção depois de receber esse chamado. O simples objectivo deste Instituto Bíblico é levá-los a descobrir se Deus achará aqui um homem ou mulher que tenha interesse em proclamar o evangelho e a ver se Deus tem a mão firme sobre toda a sua vida. Mas, depois de dar ouvidos a esse chamado, cuidado com as vozes concorrentes!

 

3 De Fevereiro

O Lado Infamante do Relacionamento

"Temos chegado a ser considerados lixo do mundo", 1Cor.4.9-13

Essas palavras não são nenhum exagero. A razão por que não as aplicamos a nós que achamos ser ministros do evangelho, não é porque Paulo teria exagerado dizendo isso, mas porque nosso comprometimento é deslavado ao ponto de não nos permitirmos ser tidos como a escória deste mundo. "Preencher o que resta das aflições de Cristo", Col.1:24, não é simples resultado de santificação pessoal, mas antes de haver sido "separado para o evangelho".

"Não estranheis o fogo ardente que surge no meio de vós, destinado a provar-vos", diz Pedro. Se estranhamos as coisas com que nos deparamos, é porque somos covardes e medrosos e o tipo de compromisso que assumimos será dos que nos quer manter afastados do lamaçal: "Não me submeterei, nem me dobrarei". Não será preciso que o faça; você poderá ser salvo por um triz, se o quiser. Ou, então, poderá dizer: "Não me importo de ser tratado como escória do mundo, desde que o evangelho seja proclamado". O servo de Jesus Cristo é aquele que está pronto a caminhar para a morte através da realidade do evangelho de Deus. Quando alguém que se considera decente demais e se acha diante da rejeição, desprezo, baixeza, imoralidade ou mesmo diante da traição, sua reacção instintiva é tão repulsiva contra esses males que seu próprio coração se fecha para com o desprezador. A maravilha da realidade redentora de Deus está em que nem mesmo o pior e o mais vil pecador atingirá com dor os limites primordiais do Seu amor. O que Paulo disse não foi que Deus o separou para mostrar como poderia transformá-lo num homem notável, mas antes disse que seria "para manifestar seu Filho em mim”.

 

4 De Fevereiro

A Majestade Dominante do
Poder Pessoal

"Pois o amor de Cristo nos constrange” 1 Cor.5:14

Paulo diz que é governado, dominado pelo amor de Cristo e mantido firme por ele como que por um torninho. Poucos de nós sabem o que é estar preso desse jeito pelo amor de Deus, porque estamos presos apenas pela força de nossas experiências. A única coisa que cativava Paulo, ao ponto de nada mais permanecer diante de si, era o amor de Deus. "O amor de Cristo nos constrange"; quando nos apercebemos dessa realidade em alguém, concluímos que não teremos como confundi-la, pois reconhecemos que é o Espírito de Deus quem opera livremente nessa vida.

Quando nascemos de novo, do Espírito de Deus, colocamos ênfase no que Deus fez por nós e é justo que assim seja também. Mas, o baptismo do Espírito Santo muda para sempre essa nossa atitude antes assumida e começamos a perceber o que Jesus quis dizer quando disse: "Sereis testemunhas". Não testemunhas do que Jesus pode fazer, pois esse seria apenas mais um daqueles testemunhos preparados com certos elementos sabidos – mas, "minhas testemunhas". Consideramos tudo quanto nos pode acontecer como se acontecendo a ele, quer se trate do elogio ou de acusação, perseguição ou aplauso. Ninguém pode posicionar-se assim, dessa forma, em Jesus Cristo, sem ser constrangido ou perseguido pela majestade daquele seu poder pessoal. É a única coisa que realmente importa e o mais estranho de tudo isso é que essa é a última coisa que o obreiro cristão percebe. Paulo diz que é dominado com o ser de Cristo, razão por que age como age. Os homens podem tê-lo como louco ou mesmo sensato, pouco lhe importando; ele vive apenas para um único objectivo: convencer os homens no tocante àquela realidade sobre o justo juízo de Deus e o amor de Cristo. Só essa entrega total ao amor de Cristo pode produzir fruto a partir de vida; e a impressão que sempre deixa no ar é a do poder e dessa santidade de Deus – mas nunca de nossa própria santidade, senão a de Deus que também, agora, habita em nós.

 

5 De Fevereiro

Pronto Para Ser Oferecido?

"Entretanto, mesmo que seja eu oferecido por libação sobre o sacrifício e serviço da vossa fé, alegro-me e com todos vós me congratulo", Fil.2.17

Está mesmo disposto a ser oferecido pelo serviço aos fiéis, a derramar o seu sangue como libação sobre o sacrifício da fé dos outros? Ou você diz: "Ainda não vou ser oferecido; não quero que Deus escolha o meu serviço. Quero ser eu mesmo a escolher o cenário de meu próprio sacrifício; quero que pessoas de minha preferência possam assistir e exclamar: "Muito bem!"

Uma coisa é seguir a trilha solitária com heroísmo digno desse nome, mas, quando a rota traçada por Deus para si implica também que seja capacho para os pés de outros, isso já é outra coisa. Suponhamos que Deus queira ensiná-lo a dizer: "Sei estar humilhado". Está pronto para ser ofertado desse jeito? Está pronto a ser menos que um zero à esquerda – tão insignificante que nunca mais seja recordado ou lembrado em relação ao serviço que prestou? Está disposto a gastar e a ser gasto dessa forma? A não ser servido mas servir? Há aqueles que pensam que não podem fazer trabalhos servis e assim assumir continuar sendo santos, porque isso estaria um pouco abaixo da sua própria dignidade.

 

6 De Fevereiro

Pronto Para Ser Oferecido?

"Quanto a mim, estou sendo já oferecido por libação", 1 Tim.4.6

"Eu estou prontificado para ser oferecido agora". Este é um acto de vontade e não sentimental. Diga a Deus que você está pronto para ser oferecido por libação; e depois, sejam quais forem as consequências que advenham disso, não faça a mínima questão de queixar-se, não importa qual seja a decisão que Deus toma. Deus faz-nos passar por crises a sós; ninguém neste caminho com Ele pode ajudar seu próximo. Exteriormente a vida pode até ainda ser a mesma; a diferença estará na vontade a qual subsiste e permanece.

Vença essa crise a nível da vontade e, depois, na forma que ela reaparecer exteriormente, você nem pensará no preço que pagou. Se você não for operante segundo a vontade de Deus nessa área, acabará despertando em si auto-lamúria e lastimações injuriosas.

“Atai a vítima da festa com cordas e levai-a até aos ângulos do altar", Sal.118:27. O altar significa fogo – algo que queima, purifica e separa – com um único propósito: a destruição de todo tipo de afeição e desejo que não tenham sido gerados através de Deus e de todo apego que não tenha sido aprovado por ele. Não é você que os destrói mas sim Deus. Amarre o seu holocausto às pontas do altar, mas, cuidado para não entregar-se à auto-lastimação quando o fogo começar. Depois dessa passagem pelo fogo, nada haverá mais que o oprima ou deprima. Quando surgir uma crise, você notará que as coisas não o afectam mais como antes faziam. Que se dará com a sua passagem pelo fogo?

Diga a Deus que está pronto para ser oferecido então e o próprio Deus lhe mostrará que ele é tudo o que sempre pensou ele fosse.

 

7 De Fevereiro

A Disciplina do Desânimo

"Ora, nós esperávamos... mas depois de tudo isto, é já este o terceiro dia..." Luc.24.21

Todos os factos citados pelos doze eram fiéis e fidedignos; mas, as ilações que eles tiraram desses ditos fatos eram quase sempre erróneas. Tudo o que cheira a desânimo espiritual está errado de raiz. Se a depressão e a opressão me fazem oscilar, sou o principal culpado dele. Deus não tem essa culpa; nem ele, nem ninguém mais pode ser tido como responsável por ele. O desânimo tem uma de duas possíveis origens: ou satisfiz uma concupiscência, ou não a satisfiz. Em qualquer dos casos, o desânimo é a consequência directa dessa forma de pensar. A concupiscência diz: “tenho que obter isto já”. A concupiscência instiga-me a exigir uma resposta imediata de Deus também, em vez de buscá-Lo e achá-Lo a Ele acima de tudo, em resposta válida. O que estou querendo ou mesmo esperando que Deus faça por mim? Hoje também já é o terceiro dia para mim e ele também não fez o que eu esperava dele? Posso sentir-me e achar-me justo e justificado contra Deus assim desse modo, justificando o meu desânimo? Sempre que insistirmos para com Deus em relação a uma resposta logo ali, estamos fora de curso, seguramente. O verdadeiro sentido de toda a oração torna-se sempre claro desde que nos acerquemos e tomemos posse de Deus e não da resposta em si. É impossível estar fisicamente bem e animado. O desânimo é sinal claro de doença profusa e o mesmo é verdade dentro do espírito. O desânimo espiritual é coisa muito errada e somos sempre os únicos culpados dele.

Buscamos visões do céu, terramotos e trovões do poder de Deus e estarmos desencorajados apenas comprova isso por nós em nós mesmos através do desânimo. E a realidade é que nunca nos passa pela cabeça que Deus está todo o tempo presente nas coisas que nos cercam. Se formos obedientes e cumprirmos aquele dever colocado logo ali diante de nós, veremos Deus. Uma das revelações mais maravilhosas de Deus, vem ao nosso parecer quando descobrimos que é nas coisas do dia a dia que a divindade de Jesus Cristo melhor se manifesta.

 

8 De Fevereiro

Os custos da Santificação

"O mesmo Deus da paz vos santifique em tudo", 1 Tes.5.23,24

Quando oramos pedindo santificação, será que estamos preparados para acatar o real significado e custo de tudo quanto nos achamos pedindo? Na verdade, olhamos para o termo santificação com muita leviandade. Estaremos preparados para pagar o preço dessa santificação? Ela nos custará uma considerável redução para zero de nossos interesses terrenos e uma imensa ampliação de nossos interesses em Deus e seus afazeres. A santificação é uma absorção total de tudo quanto Deus pensa e acha por Ele. Significa que todos os recursos do nosso corpo, alma e do espírito estarão acorrentados e separados exclusivamente para o propósito de Deus. Estaremos preparados para que Deus faça em nós todas as coisas para as quais nos separou também? E, depois que ele tiver feito o seu trabalho em nós, estaremos preparados para nos separarmos a nós mesmos para Deus tal como Jesus também o fez? "Por causa deles Eu me santifico". A razão por que alguns de nós não entraram na experiência real da santificação de tudo quanto possamos imaginar ainda, é que ainda não assimilamos o que é santificação do ponto de vista de Deus. Santificar-se é tornar-se um com Jesus, ao ponto de a mesma disposição que o governou nos tenha como reger também. Estaremos preparados para pagar o preço que isso produzirá em nós? Custar-nos-á, também, a remoção de tudo aquilo que não vem de Deus.

Estaremos preparados para assumir plenamente essa oração do apóstolo Paulo para nós? Estaremos preparados a dizer: "Senhor, torna-me tão santo quanto podes santificar um pecador salvo pela Tua graça?" Jesus orou para que fôssemos um com ele, assim como ele é um com o Pai. A única característica exclusiva da presença do Espírito Santo numa vida, é uma forte semelhança a Jesus Cristo e também a libertação de tudo quanto não Lhe for característico. Estaremos nós preparados para nos separar de tudo a fim de que o Espírito Santo opere através de nós?

 

9 De Fevereiro

Está Exausto, Espiritualmente?

"O eterno Deus... nem se cansa nem se fatiga", Is.40.28

A exaustão interior significa que nossas forças vitais esgotaram-se. A exaustão espiritual nunca é decorrente do pecado, mas, do serviço; estar ou não exausto depende de onde nos "reabastecemos" espiritualmente. Jesus disse a Pedro, "Apascenta as minhas ovelhas", João 21:17, mas, não lhe deu nada para alimentá-las. O processo pelo qual somos transformados em "pão partido" e "vinho servido" implica sermos alimento completo para os outros até que eles aprendam a alimentar-se por eles, mas, de Deus; até lá, significa sermos sugados por eles até à última gota. Trate de "reabastecer-se" espiritualmente, então, senão não tardará muito a entrar numa fase aguda de exaustão total. Antes que outras pessoas aprendam a receber a vida de forma directa vinda do Senhor Jesus, elas têm que recebê-la através de nós; temos que ser literalmente "sugados" até que elas aprendam a retirar seu alimento de Deus. É nossa obrigação para com Deus estar no nosso melhor espiritualmente e sempre no auge tanto para suas ovelhas como para ele. 

Acaso a maneira através da qual você tem servido a Deus o arrastou de tal forma a levá-lo à exaustão? Se assim é, então reavive seu interesse e desejo de Deus. Qual foi a motivação no seu labor? Suas fontes baseiam-se no quanto entende ou na redenção de Jesus Cristo? Continuamente, faça por olhar para a origem de sua fonte e saiba sempre de onde lhe chega o poder para a Vida que tem em si. Você nunca terá aquele direito de dizer: "Ó Senhor, estou tão exausto!" Ele o salvou e santificou para esgotá-lo. Deixe-se esgotar por Deus, mas lembre-se que é ele quem o "reabastece". "Todas as minhas fontes estão em Ti”, Sal.87:7.

 

10 De Fevereiro

Sua Habilidade de ver Deus ofuscou-se?

"Levantai ao alto os vossos olhos e vede. Quem criou estas coisas?" Is.40.26

Nos dias de Isaías, o povo de Deus estava com a mente obscurecida de tanto contemplarem os ídolos. E Isaías os constringiu a olharem para os céus – para que começassem a utilizar correctamente a imaginação que tinham! Para os filhos de Deus, olhando a natureza pode ser fonte de inspiração e temor ao Deus que servimos. Se somos filhos, temos um fabuloso tesouro na natureza. Se usarmos a imaginação para constatar verdades, veremos em cada vento que sopra, em cada noite ou dia do ano, em cada sinal do céu, em cada florescer ou esvanecer da terra, uma manifestação real de Deus para connosco.

O teste da concentração espiritual consiste em levar cativa a imaginação sob Cristo. Sua imaginação está contemplando a face de um ídolo? Esse ídolo é quem? Será você mesmo? Seu trabalho? Sua concepção de como deve ser um obreiro? Sua experiência de salvação e santificação? Então está cego e ofuscado e quando você achar-se diante de dificuldades e trevas densas não terá nenhum poder para superá-las; mal se conseguirá suster lá. Se sua mente estiver ofuscada de Deus, não recorra à sua experiência do passado; é de Deus que você necessita. Não se volte para dentro de si mesmo; tire os olhos de seus ídolos e de tudo o que tem por capricho esvaziar sua mente. Erga-se, aceite para si também o desafio que Isaías dirigiu ao povo e resolutamente volte toda a sua imaginação e olhar firme para Deus.

Uma das razões porque a oração se torna enfadonha é que não se usa a imaginação; somos incapazes de nos colocar assim dessa forma deliberada diante de Deus. Temos que aprender a ser "pão partido" e "vinho expandido" na intercessão, mais do que no contacto com outras pessoas. A imaginação é a capacidade com a qual Deus dota seus filhos para que saiam de si mesmos e entrem em relacionamentos com ele os quais nunca conseguiram obter antes.

 

11 De Fevereiro

Sua Mente está fixada em Deus?

"Tu conservarás em paz aquele cuja mente está firme em ti; porque ele confia em ti",  Is.26.3

Sua mente está firme em Deus ou acha-se algo vazia dele? A mente vazia é um dos solos mais férteis para o desespero, exaustão e para o desgaste num obreiro. Se nunca usou a sua imaginação para colocar-se prostrado diante de Deus, comece então por usá-la já. Não adianta ficar esperando que Deus venha até si; desvie a mente da contemplação aos ídolos; olhe para Deus e será salvo.

A sua mente é a maior dádiva que Deus nos deu e deve ser exclusivamente consagrada a ele. Se tem levado cativo todo pensamento à obediência que há em Cristo, 2 Cor.10:5, isso será um dos maiores auxílios à sua fé durante aqueles momentos de tribulação, porque sua fé operará em harmonia com o Espírito de Deus. Aprenda a associar ideias dignas de Deus a tudo o que acontece na natureza – o nascer e o pôr-do-sol, a lua e as suas estrelas, a mudança nas estações. Logo descobrirá que seus pensamentos serão para com Deus também e sua imaginação nunca ficará à mercê de seus impulsos mas antes se achará sempre ao serviço e dispor de Deus.

"Pecamos, como nossos pais... (que) não se lembraram...", Sal.106:6-7 – então estimule sua memória e desperte logo! "Deus não está falando comigo agora". Mas deveria estar. Lembre sempre que você pertence a Deus e a Ele serve. Desperte-se sempre através dessas lembranças e seus afectos para com Deus crescerão dez vezes mais; e em vez da sua mente tornar-se raquítica e improdutiva, ela se tornará aguda e entusiasta e sua esperança se manterá inexprimivelmente vibrante.

 

12 De Fevereiro

Tenho que Ouvir?

"Disseram a Moisés: Fala-nos tu e te ouviremos; porém não fale Deus connosco, para que não morramos", Êx.20.19

Não desobedecemos a Deus conscientemente nem deliberadamente; simplesmente não o escutamos. Deus deu-nos todos os seus mandamentos; estão aí, mas não atentamos para eles, não através da desobediência voluntária, mas, antes porque não amamos e nem respeitamos Deus. "Se alguém me ama, guardará a minha palavra", João 14:15. Assim que nos apercebemos que temos estado constantemente a "desrespeitar" Deus, sentir-nos-emos envergonhados para sempre e humilhados por não lhe termos prestado a devida atenção.

"Fala-nos tu... não fale Deus connosco". Comprovamos o quanto amamos Deus através da preferência que temos em antes ouvir seus servos do que a Ele. Facilmente ouvimos testemunhos de pessoas, mas, não desejamos que seja o próprio Deus a falar-nos pessoalmente. Por que temos tanto pavor que Deus nos fale? Será porque sabemos que, caso nos fale, devemos-lhe obediência ou então teremos que comunicar-lhe que não lhe obedeceremos? Se o que ouvimos é apenas a voz de um servo, achamos que a ordem não é imperial e ainda nos resta a opção de argumentar e deslavar aquilo que se ouviu: "Bem, isso é simplesmente uma ideia dum homem, embora eu não negue que seja provavelmente a verdade de Deus".

Estarei eu colocando Deus na humilhante posição de tratar-me como filho enquanto o ignoro de forma infame e constante ainda? Quando, finalmente o escuto, a humilhação que lhe impus traz grandes prejuízos pessoais para mim: "Senhor, por que fui tão insensível e tão obstinado?" Mas, após ouvirmos Deus, finalmente, o resultado será sempre este – o verdadeiro regozijo de ouvi-lo mistura-se com aquela vergonha de termos demorado tanto a prestar-lhe ouvidos.

 

13 De Fevereiro

A Devoção de Ouvir

"Fala porque o teu servo ouve", 1 Sam.3.10.

O facto de eu ter ouvido Deus em algo que falou pontualmente, não significa que o ouvirei em tudo quanto ele diz. Será através da insensibilidade em meu coração e mente em relação ao quanto Deus diz que demonstro que não o amo nem o respeito. Quando amo um amigo, intuitivamente percebo o que ele quer. Jesus diz: "Vós sois meus amigos".

Terei desobedecido algum mandamento do Senhor esta temporada? Caso me tivesse apercebido que se trataria de um mandamento de Jesus, não o teria desobedecido intencionalmente; mas, a maioria de nós demonstra tal desrespeito por Deus, que nem buscamos ouvir o que ele diz e é como se ele não nos tivesse falado nada.

O alvo de toda a minha vida espiritual é ser identificado de tal forma com Jesus Cristo, que sempre tenha como escutar o que Deus diz; e eu já sei que Deus sempre me ouve, João 11.41. Se estou em uníssono e em união com Jesus Cristo, ouço a Deus porque estarei bastante interessado em ouvi-lo. Um lírio, uma árvore ou um servo de Deus podem transmitir-me uma mensagem de Deus. O que impede de ouvi-lo é estarmos envolvidos em outras coisas fúteis. Não que eu não queira ouvir a Deus, mas, é que minha devoção está voltada para a direcção oposta. Consagro-me a coisas, ao serviço e a convicções e Deus pode expressar-se o quanto desejar, que não o escutarei. A atitude de um filho deve ser sempre esta: "Fala, Senhor, porque o teu servo ouve". Caso não me tenha consagrado a ouvi-lo, só escutarei a voz de Deus em certas ocasiões; doutras vezes estarei dividido e envolvido com coisas – coisas que Lhe direi que necessito fazer – e assim torno-me surdo para com ele; isso não é vida própria de um filho. Terei ouvido a voz de Deus hoje?

 

14 De Fevereiro

Disciplina da Atenção

"O que vos digo às escuras, dizei-o a plena luz: e o que se vos diz ao ouvido, proclamai-o dos eirados", Mat.10.27

Por vezes, Deus coloca-nos sob uma disciplina intensa de trevas para ensinar-nos a prestar-lhe mais e melhor atenção. Alguns pássaros canoros são treinados para cantar no escuro; da mesma forma somos colocados à sombra da mão de Deus até que aprendamos a ouvi-lo, Is.49:2. "O que vos digo em trevas" – esteja atento para quando Deus o colocar na escuridão e uma vez lá mantenha toda a sua boca fechada. Você está nas trevas escuras neste momento, no tocante às circunstâncias nas quais se acha, ou no tocante à sua vida com Deus? Então permaneça calado. Se abrir a boca no escuro, falará de espírito errado; talvez seja esta a hora de ouvir. Não fale com outras pessoas sobre a sua situação aparentemente precária; não leia livros para desvendar qual o mistério das suas trevas; apenas ouça, preste mais atenção. Se conversar com outras pessoas sobre isso, não conseguirá ouvir o que Deus poderá estar a dizer. Sempre que estiver em trevas, ouça e Deus lhe dará uma mensagem muito preciosa para passar a outra pessoa, quando a luz voltar.

Após cada momento de densas trevas, sobrevirá sempre uma mistura de alegria e vergonha, pois se for só alegria, duvido que você tenha ouvido Deus; é lícito alegrarmo-nos por ouvir Deus falar, mas, sentimos enorme vergonha por ter demorado tanto a ouvir o que ele dizia! "Como demorei tanto para entender tudo isto!" E, no entanto, Deus sempre esteve falando todo este tempo. Mas, assim, oferecendo-lhe esta dádiva da vergonha que produz a brandura de coração e de espírito, aprenda a prestar mais e melhor atenção à voz de Deus e a ouvir de imediato da próxima vez.

 

15 De Fevereiro

Sou O responsável por Meu Irmão?

"Nenhum de nós vive para si mesmo", Rom.14.7

Já alguma vez lhe passou pela cabeça que você é espiritualmente responsável por outras pessoas diante de Deus? Por exemplo, se me permito desviar-me um pouco de Deus em minha vida privada, todos os que me cercam sofrerão com isso. Sentamo-nos juntos nestes lugares celestiais, Ef.2:6. “De maneira que, se um membro padece, todos os membros padecem com ele", 1 Cor.12:26. Sempre que se permita a egoísmos físicos, relaxamento mental, insensibilidade moral e espiritual, todos os que se relacionam consigo sofrerão com esse estado de coisas. E alguém dirá: “Mas, se o padrão de vida for esse, quem será suficientemente bom para estas coisas?" "A suficiência vem de Deus", 2 Cor.3:5 e somente dele.

"Sereis minhas testemunhas". Quantos de nós estamos dispostos a gastar cada gota de toda a nossa energia cerebral, da energia moral, mental e espiritual por Jesus Cristo? Esse é o significado que Deus dá à palavra testemunha. Isso leva tempo; seja paciente consigo mesmo.

Deus colocou-nos cá na terra – mas para quê? Para sermos salvos e santificados? Não. Para vivermos aqui com ele. Estou disposto a ser "pão partido" e "vinho derramado" em Seu nome? Ser inutilizado para este mundo, para esta vida terrena? Ser inútil sob todos os pontos de vista, menos num – na tarefa de fazer discípulos para o Senhor Jesus Cristo? A vida que levo como obreiro é a maneira como digo "obrigado" a Deus pela sua indescritível salvação? Lembre-se, é perfeitamente possível a qualquer um de nós ser jogado fora como prata para refugo – "para que, tendo pregado a outros, não venha eu mesmo a ser desqualificado".

 

16 De Fevereiro

A Inspiração da Iniciativa Espiritual

"Levante-se de entre os mortos", Ef.5:14

Nem todo tipo de iniciativa é coisa inspirada. Alguém pode dizer-lhe: "Anime-se; agarre pelos colarinhos essa sua falta de interesse pela obra, lance-a ao mar e faça por prosseguir adiante!" Isso não é nada mais que uma iniciativa meramente humana. Mas, quando é o Espírito de Deus que vem e nos diz: "Anima-te!" aí então não temos dúvida de que a iniciativa é das que são inspiradas.

Todos nós temos um sem número de sonhos e ideais quando jovens; mas, mais cedo ou mais tarde, logo descobrimos que não temos nenhumas das condições para realizá-los. Não conseguimos fazer as coisas que ansiávamos fazer e até nos podemos acomodar considerando-os como anseios mortos. Aí Deus tem que vir e dizer: "Levanta-te de entre os mortos". E quando a inspiração de Deus chega mesmo, vem com tal poder, que podemos levantar-nos de entre os mortos e realizar até o aparentemente impossível. O mais impressionante na iniciativa espiritual é que esse "reviver" só surge depois que "nos animamos". Deus não nos dá a vida vitoriosa; ele dá-nos vida na medida que vamos saindo e vencendo. Quando a inspiração de Deus vem e ele diz: "Levanta-te de entre os mortos!" temos de levantar-nos de imediato; não é Deus quem nos levanta. O Senhor disse ao homem da mão ressequida: "Estende a tua mão" e assim que o homem o fez, sua mão foi completamente restaurada; mas, ele teve que tomar a iniciativa de estendê-la. Se nos dispusermos a vencer, devemos verificar se a iniciativa foi inspirada por Deus; e a prova é que, simultaneamente com isso, ele dá-nos a vida.

 

17 De Fevereiro

A Iniciativa Contra a Depressão

"Levanta-te e come!" 1Reis 19.5

O anjo não deu a Elias uma visão, nem lhe explicou as Escrituras, nem fez algo notável diante dele: disse a Elias que fizesse a coisa mais simples do mundo – que se levantasse e comesse. Se nunca estivéssemos deprimidos, não seríamos seres vivos; um cristal, por exemplo, nunca fica deprimido. Um ser humano é sujeito à depressão, do contrário não poderia também receber a exaltação. Existem coisas que são por natureza deprimentes, coisas relacionadas com a morte. E sempre que fizer uma avaliação de si próprio, leve sempre em linha de conta a possibilidade de cair em depressão.

Quando o Espírito de Deus vem até nós, ele não nos dá visões; ele dá ordens muito simples de se cumprirem. A depressão tende a desviar-nos das coisas simples da criação de Deus, mas, sempre que Deus vem até nós, inspira-nos a fazer as coisas mais simples e naturais deste mundo – coisas as quais nunca associaríamos a Deus; mas, assim que as fazemos, descobrimos que é ele quem está nelas. A inspiração que nos vem dessa simples acção, é uma iniciativa sua contra a depressão; temos apenas de fazer o que deve ser feito logo de seguida e fazê-lo sob a inspiração de Deus. Quando tentamos vencer a depressão de alguma outra forma, acabamos por intensificá-la; mas, quando o Espírito de Deus faz-nos sentir intuitivamente o que devemos fazer – e o fazemos – a depressão some. Assim que nos levantamos e obedecemos, subimos para um grau de vida mais elevado.

 

18 De Fevereiro

A Iniciativa Contra o Desespero

"Levantai-vos, vamos", Mat.26.46.

Os discípulos adormeceram quando deviam estar acordados e, quando perceberam o que lhes aconteceu, entraram numa crise de desespero. Uma sensação de perda irreparável pode levar-nos ao desespero e a concluir assim: "Agora está tudo acabado: não adianta tentar mais nada". Se pensamos que somos os únicos a passar por esse tipo de desespero, estamos enganados; trata-se de uma experiência humana vulgaríssima. Sempre que percebemos não ter feito algo para o que tivemos uma magnífica oportunidade de fazer, podemos cair no desespero. Mas, Jesus Cristo logo volta e diz: "Continue a dormir, pois essa oportunidade perdeu-se para sempre; você não pode recuperá-la: mas, depois levante-se e parta para a próxima". Deixe o passado dormir como você dormiu, mas, deixe-o dormir no seio de Cristo e parta logo com ele para um futuro promissor.

Há experiências como essa na vida de todos nós. Ficamos desesperados, num desespero que provém de acontecimentos diários e não conseguimos erguer-nos para sair dele. Os discípulos, neste caso, tinham feito uma coisa imperdoável; tinham adormecido num lugar onde deveriam ser achados a vigiar com Jesus, mas, ele veio com uma iniciativa espiritual contra o desespero dizendo-lhes: "Levantem-se e façam o que está para vir ainda". Se somos realmente inspirados por Deus, o que é que vem em seguida? Confiar totalmente nele e orar baseados e firmados na sua redenção.

Nunca permitamos que o sentirmo-nos fracassados impeça o nosso passo seguinte.

 

19 De Fevereiro

A Iniciativa nas Tarefas Enfadonhas

"Levanta-te, resplandece", Is.60.1

Temos sempre de dar o primeiro passo como se Deus não existisse. Não adianta esperar que Deus nos ajude – ele não ajudará; mas, assim que nos levantamos, descobrimos que ele está ali mesmo. Sempre que Deus nos inspira, a iniciativa torna-se um imperativo. Temos que fazer a tarefa e não permanecer inertes. Se nos dispusermos e resplandecermos, as tarefas enfadonhas se tornarão divinamente transfiguradas.

As tarefas enfadonhas constituem um dos melhores meios de testarmos o carácter de alguém. Essas tarefas geralmente são serviços que não têm quase nada a ver com o nosso ideal; são tarefas humildes, bastante desagradáveis; e quando elas se apresentam a nós, sabemos imediatamente se somos ou não somos espiritualmente autênticos, João 13. Ali vemos o Deus encarnado executando o mais desprezível tipo de tarefa servil, lavando os pés de pescadores; e ele diz: "Ora, se eu, sendo o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros". Necessitamos da inspiração de Deus bem como de sua luz para darmos conta de tais tarefas enfadonhas. A maneira como algumas pessoas fazem determinado tipo de serviço, glorifica-o para sempre. Pode ser a tarefa mais vulgar de todas, mas, depois que a vemos feita, ela nos será muito diferente. Quando o Senhor faz uma obra através de nós, ele sempre a transfigura. O Senhor assumiu ser carne e a transfigurou e ela tornou-se, para todo cristão, o templo Espírito Santo.

 

20 De Fevereiro

A Iniciativa Contra o Devaneio

"Levantai-vos, vamo-nos daqui”, João 14.31

Não há nada de errado com sonhar que algo seja feito a fim de fazê-lo adequadamente; mas, ficar sonhando com ele quando o deveríamos estar executando, não é certo. Depois que o Senhor passou tantos ensinamentos maravilhosos aos seus discípulos, era de se esperar que ele mandasse que meditassem neles; mas, o Senhor nunca permitiu desvarios com isso. Quando entramos em contacto com Deus a fim de descobrir o que ele quer, é válido sonhar; mas, quando nos inclinamos a desperdiçar tempo flutuando sobre aquilo que ele mandou empreender, isso é errado e Deus não pode abençoar esse tipo de prática. Contra esse tipo de distracção, a iniciativa de Deus assemelha-se sempre a um aguilhão, que ordena que não nos sentemos, nem fiquemos de pé, mas antes que caminhemos.

Quando sabemos esperar em silêncio diante de Deus, porque ele nos disse: "Vinde repousar um pouco, à parte", isso é meditação, que tem por objectivo entendermos o que ele deseja; mas, depois que Deus já tiver falado, cuidemos para não nos entregarmos a meros desvios. Deixemos que ele seja a fonte e origem de todos os nossos sonhos, alegrias e deleites; depois, saiamos e obedeçamos àquilo que ele disse. Quando amamos alguém, não nos sentamos para ficar todo o tempo, depois, sonhando com a pessoa amada – vamos e fazemos alguma coisa por ela; e é assim que Jesus Cristo espera que vivamos. Ficar sonhando depois de Deus haver-nos falado é sinal de que não confiamos nele.

 

21 De Fevereiro

Já se Empolgou com Ele?

"Ela praticou boa acção para comigo”, Marcos 14.6

O amor que não leva o homem para além de si mesmo, não é amor. E se pensamos que o amor é sempre discreto, sempre sábio, sempre sensato e calculista, nunca vibrante e exuberante, também estamos enganados. Poderá ser afecto, poderá ser um sentimento caloroso, mas não terá nada em si mesmo da verdadeira natureza do amor de Deus.

Será que já fui impelido alguma vez para fazer algo por Deus, não porque fosse meu dever, nem porque fosse útil, nem porque houvesse nisso motivo par além do amor que tenho por ele? Já se apercebeu que pode dar coisas a Deus que significam bastante para Ele? Ou fica sonhando acordado acerca da magnitude da sua redenção, quanto existe um sem número de coisas que eu poderia estar fazendo por Ele? Não apenas coisas divinas, monumentais, que poderiam ser consideradas maravilhosas, mas, coisas simples, humanas, que seriam para Deus a prova de que sou totalmente dedicado a ele. Será que já fiz brotar do coração do Senhor Jesus o sentimento que Maria de Betânia conseguiu extrair dele?

Há ocasiões em que parece que Deus nos está observando para ver se lhe iremos dar prova da nossa dedicação e afeição, uma amostra do quanto o amamos na realidade. Uma total entrega pessoal a Deus tem maior valor do que a santidade e vive acima da santidade*. A santidade focaliza o olhar da nossa própria pureza: ficamos muitíssimo preocupados com a maneira como caminhamos, falamos e nos apresentamos diante de Deus e os homens, com medo de ofendê-lo. O perfeito amor lança fora tudo isso, todo o medo, tão logo nos entreguemos totalmente a Deus. Temos que libertar-nos da mania de estarmos sempre perguntando: "Estou sendo útil?" e admitir que não estamos; talvez assim nos aproximemos mais da verdade. Não se trata de sermos úteis ou não, mas, de termos valor para Deus. Quando nos entregamos totalmente a Deus, só ele actuará através de nós a tempo inteiro.

*Isto implica que somos mais que santos, excedendo a santidade e nunca ficando àquem dela.

 

22 De Fevereiro

A Disciplina na
Tenacidade Espiritual

"Aquietai-vos, e sabei que eu sou Deus", Sal.46.10

Ser tenaz é mais do que ter paciência aliada à certeza incondicional de que o que esperamos vai acontecer. A tenacidade é mais do que a perseverança, pois perseverança talvez seja apenas uma fraqueza, ou seja, um medo excessivo de recuar ou apenas uma vontade de não recuar. A tenacidade é o supremo esforço daquele que se recusa a acreditar que seu herói vai ser derrotado. O maior medo que temos não é o de sermos condenados, mas é o temor de que Jesus Cristo acabe levando a pior e que os valores que ele representa – amor e justiça, perdão e bondade entre os homens – acabem por não sair vencendo; o temor de que tudo quanto Ele é pareça ser fogo de artificio aos olhos dos homens. Vem logo ali, então, o apelo à tenacidade espiritual, não para perseverarmos sem fazer nada, mas, para trabalharmos determinadamente, na certeza de que Deus não vai ficar na pior.

Se neste momento essas nossas esperanças estão sendo pré-frustradas, isso apenas significa que estão é sendo purificadas. Não há nada de nobre pelo qual a mente humana não tenha esperado ou sonhado, que não possa vir a realizar-se a qualquer momento. Uma das maiores tensões da vida é a de esperar por Deus. "Porque guardaste a palavra da minha perseverança".

Permaneça tenaz.

 

23 De Fevereiro

A Determinação de Servir

"O Filho do homem... não veio para ser servido mas para servir", Mat.20.28

O Senhor disse: "No meio de vós, eu sou como quem serve", Luc.22:27; A ideia de serviço que Paulo obteve era a mesma "nós mesmos (...) somos vossos servos por amor de Jesus", 2Cor.4:5. Temos a ideia de que quem é chamado para o ministério é chamado para ser diferente dos outros. Segundo Jesus Cristo, ele é chamado para ser o "capacho" dos outros; para ser seu líder espiritual, nunca seu superior hierárquico. "Sei estar humilhado", diz Paulo. E esta é a ideia de labor que Paulo tem: "Gastar-me-ei até as últimas forças por vós; tanto faz que me elogieis ou me censureis, isso não me faz diferença nenhuma". Enquanto houver um ser humano que não conheça Jesus Cristo, sou seu devedor para servi-lo até que ele o conheça. A virtude-mor do poder do serviço de Paulo não era o amor aos homens, mas todo o amor a Jesus Cristo. Se nos devotarmos a uma causa pela humanidade, não demoraremos a ficar ressentidos e decepcionados, pois, muitas vezes, nos depararemos com mais ingratidão da parte das pessoas do que de um cachorro; mas, se nossa motivação é o amor a Deus, nenhuma ingratidão é capaz de impedir-nos de servir nosso semelhante melhor ainda e como a nós mesmos.

A compreensão que Paulo obteve de como Jesus Cristo o tratava é o segredo de sua determinação para servir o seu próximo. "Noutro tempo era blasfemo, perseguidor e insolente" – não importa como os homens possam tratar-me, nunca me tratarão com a mesma maldade e ódio com que tratei Jesus Cristo. Quando compreendemos que Jesus Cristo nos serviu a despeito de toda a nossa vileza, baixeza, egoísmo e pecado, nada que possamos ter que suportar dos outros esgotará nossa determinação de servi-los ainda melhor por amor a ele.

 

24 De Fevereiro

O Prazer no Sacrifício

"Eu de boa vontade me gastarei e ainda me deixarei gastar em prol de vossas almas", 1 Cor.12.15

Assim que o Espírito derrama todo o amor de Cristo em nossos corações, começamos por nos identificar mais com os interesses de Jesus Cristo pelas outras pessoas e ele está interessado em todo tipo de gente. No labor cristão não temos qualquer direito de nos deixar seduzir por nossas simpatias pessoais. Esta é uma das maiores provações do nosso relacionamento com Jesus Cristo. O prazer do nosso sacrifício está em darmos a vida por nosso Amigo; não jogá-la fora, mas dá-la deliberadamente em favor dele e de seu interesse pelas outras pessoas; e não por uma causa, mas antes por Ele. Paulo gastou-se apenas tendo um objectivo em mente – conquistar todas as vidas para Jesus Cristo enquanto havia tempo. Ele atraía as pessoas para Jesus, nunca para si mesmo. "Fiz-me tudo para com todos, com o fim de, por todos os meios, salvar alguns", 1 Cor.9:22.

Quando alguém diz que precisa desenvolver uma vida santa segregada e a sós com Deus, passa a não ter mais nenhuma utilidade para nenhum de todos os seus semelhantes; ele coloca-se num pedestal, distanciando-se de pessoas comuns. Paulo tornou-se uma personalidade sacramental: onde quer que ele fosse, Jesus Cristo servia-se de sua vida abundantemente. Muitos de nós permanecemos buscando e tentando conseguir objectivos próprios e Jesus Cristo não pode servir-se de nossa vida para outros fins nem por outros meios. Se nos entregarmos totalmente a Jesus Cristo, não teremos mais objectivos próprios. Paulo disse que sabia ser um "capacho" sem contudo ressentir-se disso, porque a principal razão de todo poder e de toda sua vida era a sua devoção a Jesus Cristo. É possível devotarmo-nos e consagrarmo-nos, mas não a Jesus Cristo e antes às coisas que nos emancipam espiritualmente e nos dão uma certa confiança naquilo que somos. Essa, porém, não era a motivação de Paulo. "Eu mesmo desejaria ser anátema, separado de Cristo, por amor de meus irmãos", Rom.9:3. Estranho, extravagante, não? Mas, quando alguém ama de verdade, não é exagero nenhum expressar-se desse jeito; Paulo, de facto, amava Jesus Cristo.

 

 

25 De Fevereiro

O Despojamento em Serviço

"Se mais vos amo, serei menos amado?" 2 Cor.12.15

O amor natural espera receber de volta como retribuição, mas Paulo diz: pouco me importa se me amais ou não; estou disposto a despojar-me inteiramente, não apenas por amor a vós, mas para vos poder ganhar para Deus. "Pois conheceis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo rico, se fez pobre por amor de vós", 2 Cor.8.9. A concepção de serviço que Paulo tinha é em tudo semelhante a esta – não me importo de gastar-me totalmente e ainda o farei com alegria. Isso era seu motivo principal para regozijo.

O conceito eclesiástico sobre o que se é ser como servo de Deus, não é em nada parecido com o de Jesus Cristo; segundo ele, é sendo servos uns dos outros que o servimos. Jesus é mais socialista que os socialistas. Ele diz que, no seu reino, aquele que for o maior será servo de todos, Mat.23:11. A verdadeira prova de cristão não é pregar o evangelho, mas lavar os pés dos discípulos para quem se prega, isto é, fazer aquilo que não conta muito na opinião dos homens, mas que é o que representa tudo para a opinião de Deus. Paulo dedicava-se com deleite a gastar-se pelo interesse que Deus tinha pelas outras pessoas e não se importava com o preço que teria de pagar por isso. Nós não; estamos sempre levando em conta a questão financeira: "Suponhamos que Deus queira que eu vá para lá – e qual será o meu salário? E o clima? Como cuidarão de mim por lá? Temos de pensar nessas coisas, sabes!" Tudo isso é prova de que estamos tentando servir Deus com reservas. O apóstolo Paulo não tinha nenhuma reserva. A vida de Paulo era uma amostra do conceito que Jesus Cristo tinha de um cristão real do Novo Testamento: alguém que não apenas proclamava o evangelho, mas, que se faz "pão partido" e "vinho servido" nas mãos do Senhor Jesus Cristo a favor de todos os que estão por perto.

 

26 De Fevereiro

Preocupações Mesquinhas Sobre Jesus

"Senhor, tu não tens com que a tirar", João 4.11

Já a alguma vez disse para si mesmo: "Impressiono-me muito com as coisas maravilhosas que Deus diz em Sua palavra, mas ele não pode esperar que eu as viva e experimente em minha vida sob todos os aspectos e pormenores dos quais fala!" Quando se trata de encararmos Jesus Cristo à luz de nossos próprios méritos, nossa atitude será sempre a de uma superioridade muito "espiritual": "Teus ideais são altos e impressionam-nos, mas perante a realidade dos factos não podem ser praticados". Todos nós pensamos mais ou menos desse jeito sobre Jesus e tudo quanto nos propõe dizendo. Essas apreensões vêem-se nas perguntas levianas que os outros nos fazem quando falamos sobre nosso relacionamento com Deus: "Onde vai arrumar todo esse dinheiro para seu sustento?" "Quem vai sustentá-lo? Como irá viver confiando em Jesus?" O cúmulo de todas as nossas apreensões será quando afirmarmos ou pensarmos que nossas circunstâncias são um tanto ou quanto impossíveis para ser ele a resolvê-las. É muito fácil dizer: "Confiai no Senhor", mas precisamos é viver. "Jesus não tem com que tirar água dum poço, não dispõe de qualquer meio para providenciar-nos tais coisas". Cuidado com essa atitude e concepção falsamente espiritual que se expressa deste jeito: "Não tenho alguma apreensão quanto a Jesus, apenas tenho no tocante a mim, porque eu sou falho". Nenhum de nós tem apreensões sobre si  mesmo; é que sabemos, na verdade, que falamos desse modo apenas porque sabemos do que somos capazes ou não de fazer; nossas apreensões estão relacionadas a uma ideia sobre Jesus através de nosso orgulho muito próprio, pois ficamos como que ofendidos mediante o facto de ele ter como fazer o que nós não conseguiríamos.

As nossas apreensões surgem sempre que decidimos esquadrinhar-nos a ver como Cristo conseguirá fazer determinada coisa. As dúvidas brotam das profundezas da nossa própria inferioridade. Se por acaso tenho como detectar em mim mesmo tais dúvidas, devo fazer por trazê-las à luz e confessá-las uma a uma: "Senhor, duvidei de ti; não acreditei na capacidade que é sempre tua sem o auxílio da minha; não acreditei que teu poder infinito pudesse realizar, independente da minha capacidade limitativa e de meu entendimento precário de tuas coisas".

 

27 De Fevereiro

O Empobrecido Ministério de Jesus

"Onde, pois, tens tu água viva?" João 4.11

"O poço é fundo" e muitíssimo mais fundo do que supunha a mulher samaritana! Imagine as profundezas da natureza humana, da vida humana, pense na profundidade dos "poços" que existem dentro só de si. Será que tem empobrecido o ministério de Jesus ao ponto de ele nada poder fazer quanto a isso? Suponhamos que em seu coração existe um profundíssimo abismo de perturbação e Jesus chega e diz: "Não se turbe o vosso coração"; e você encolhe os ombros e responde: "Mas, Senhor, o poço é fundo; não podes tirar dele serenidade e consolo?" Não, porque ele os trará desde lá de cima. Jesus não tira coisa alguma dos poços da natureza humana. Limitamos em muito o Santo de Israel, ao nos vangloriarmos do passado para lembrar o que lhe permitiríamos fazer por nós ou não e concluímos: "É claro que não posso querer que Deus faça isso desse jeito". Aquilo que foge ao domínio do poder de Deus é exactamente o que nós, seus discípulos, deveríamos crer que ele pode fazer. Empobrecemos o ministério dele quando esquecemos que ele é o todo-poderoso; o empobrecimento está em nós, não nele.

Recorremos a Jesus como o Consolador ou como o Senhor compassivo, mas não como o Todo-Poderoso. Alguns de nós somos exemplos tão pobres do cristianismo simplesmente porque não temos em Cristo um todo-poderoso em nós. Temos experiências de alguns atributos cristãos, mas, nunca fizemos uma entrega total a Jesus Cristo como ele é. Empobrecemos o seu ministério quando, em circunstâncias difíceis, dizemos: "Claro que ele não pode fazer nada por mim" e lutamos para atingir o fundo do poço na tentativa de retirar nós mesmos daquela água que só ele tem como dar. Tenhamos cuidado com a sensação de alívio que dá em desistir de tudo e dizer: "É impossível". Sabemos que, se olharmos para Jesus, é possível. O poço de nossa imperfeição é fundo, claro, mas não desistamos e busquemos ao Senhor tal qual ele é – ainda.

 

28 De Fevereiro

Agora Crê?

"Por isso cremos...respondeu-lhes Jesus: Credes agora?" João 16.30,31

Agora cremos. Jesus diz: "Credes agora? Vem a hora em que me deixareis sozinho". Muitos obreiros cristãos têm deixado Jesus Cristo só e ido trabalhar seguindo um dever ou necessidade oriundos de seu próprio discernimento e não através do Seu mandamento. A razão para isso acontecer é a ausência da vida neles que ressuscitou Jesus. A alma perdeu aquele contacto íntimo com Deus por se estribar em seu próprio entendimento religioso ou outro. Não há pecado nisso, nem a isso está ligada nenhuma punição; mas, quando a pessoa se apercebe o quanto barrou por ele mesmo a sua compreensão sobre Jesus Cristo, criando dentro de si mesmo barreiras de dúvidas, tristezas e dificuldades sem par, tem de voltar cheia de vergonha e contrição e nunca mais tornar a fazer o mesmo.

Precisamos confiar na vida ressurrecta de Jesus Cristo numa dimensão muito maior do que aquilo que fazemos, cultivando aquele hábito de consultá-lo sobre tudo; em vez disso, tomamos nossas decisões baseados só no bom-senso de pedirmos a Deus que as abençoe conforme conhecemos as coisas. Mas, ele não poderá abençoá-las, nunca terá como ou porque o fazer: Isso não bate certo com ele, está fora da realidade que Lhe é comum e muito própria. Se agimos levados pelo mero sentido de dever, estabeleceremos um padrão de vida em conflito com a vida de Jesus Cristo, a qual compete com Ele. Damos uma de "superior": "Bem: neste assunto devo fazer assim e assim". Colocamos no trono de Deus o nosso sentido de dever no lugar da vida ressurrecta de Jesus. Não nos foi dito que andemos à luz da consciência ou de um sensacionalismo do dever, mas, que andemos na luz como Deus está na luz. Quando fazemos algo a partir de nosso sentimento de dever, teremos argumentos para justificar o que fazemos e como o fazemos também; quando, porém, o fazemos em obediência ao Senhor, nenhum argumento há que justifique esse tipo de actuação mesquinha; por isso é que o servo de Deus é facilmente ridicularizado.

 

29 De Fevereiro

Que é que Você Quer que o
Senhor Faça por Você?

"Senhor, que eu tome a ver", Luc.8:41

O que é que não apenas o perturba, mas faz de si também um perturbador? É sempre algo que você não é capaz de resolver sozinho. "Repreendiam-no para que se calasse... ele, porém, gritava cada vez mais". Insista na perturbação até ficar face a face com o próprio Senhor Jesus; não queira endeusar o bom-senso de ninguém. E quando Jesus lhe perguntar o que você quer que ele faça por si quanto a essa incrível situação diante da qual se depara, lembre-se de que ele não age pelas vias do bom-senso, mas antes através das sobrenaturais.

Observe como limitamos o Senhor quando recordamos algo que, no nosso passado, desejamos que ele houvesse feito por nós. "Eu sempre batalhei com isso e sempre falhei". E por causa disso, não lhe pedimos o que queremos, pois pensamos: "Seria ridículo pedir a Deus que fizesse isto por mim, também". Mas, se se trata duma impossibilidade a seu ver, é exactamente o que terá de lhe vir a pedir. Se não se trata de algo impossível, não chega a ser de facto uma perturbação para si ou para Deus. Deus fará o que for absolutamente impossível para si também.

Aquele homem recuperou a vista. Se há algo realmente impossível para nós é chegarmos a identificar-nos tanto com o Senhor que nada reste da vida antiga que nos impeça de chegar a ele. Mas, ele o fará, se lho pedirmos. Mas, temos que chegar a um ponto onde possamos crer que ele é todo-poderoso. Não é ter fé no que Jesus diz, mas nele. Se nos voltarmos apenas para o que ele diz, nunca teremos dessa fé em nós. Uma vez que vemos Jesus, ele realiza o impossível com a mesma naturalidade com a qual respiramos. A angústia provém da obstinada estupidez de nosso coração. Não queremos crer, não nos queremos afastar da praia da nossa incredulidade; preferimos continuar na preocupação.

José Mateus
zemateus@msn.com