1 De Novembro
Não se Pertence a si Mesmo
"Acaso não sabeis... que não sois de vós mesmos?" 1 Cor.6.19

Não existe essa coisa chamada "vida particular e privada" para um crente, para nenhum dos que participam de todos os sofrimentos de Jesus Cristo, um lugar para nos escondermos a sós e isolamo-nos do resto do mundo. Deus abre a vida particular de seus servos como abriu o Mar e deixa nela uma via aberta para o mundo e, por outro lado, uma passagem para o próprio Deus também. E nenhum ser humano consegue suportar tal coisa, a menos que seja identificado com Jesus Cristo de facto. Não somos santificados para benefício próprio; somos chamados à comunhão do próprio evangelho e, por isso, acontecem coisas que não têm nada a ver connosco, mas, com Deus em nós; o objectivo de Deus é, assim, levar-nos a uma comunhão consigo próprio. Permita-lhe, então, que faça a vontade dele através de si e em si; se não o fizer, em vez de ter alguma utilidade para Deus em sua obra que redime todo o mundo, você será tropeço impeditivo e um entrave para isso mesmo.

A primeira coisa que Deus nos faz é firmar os nossos pés na dureza da realidade até que não nos importemos mais com o nosso destino desejado e pessoal, contanto que se faça a vontade dele em prol do propósito que existe em sua redenção. Por que não deveríamos nós passar por dificuldades e tristezas? Através desses portões, Deus está escancarando portas para caminhos de plena comunhão com Ele. A maioria dos crentes deixa-se abater através do primeiro aperto duma dorzinha; senta-se na soleira do propósito de Deus e recusa-se a dar mais um passo e fica morrendo de auto-compaixão por ali mesmo. Todas as expressões da chamada "simpatia do Cristão" para com os tais, servirão apenas para apressar essa morte auto-condolente. Mas, Deus não a apressará. Ele estenderá a mão trespassada de seu Filho para afirmar: "Entra em comunhão comigo - levanta-te e resplandece", Is.51:1,2. Se através de determinado sofrimento Deus puder fazer com que se cumpram os propósitos dele para o mundo e para nós, então agradeça-lhe esse sofrimento.

 

2 De Novembro
Obediência ou Independência?
"Se me amais, guardareis os meus mandamentos", João 14.15.

O Senhor nunca insiste connosco para Lhe obedecermos sequer; ele diz-nos claramente que o benefício é todo nosso e mostra-nos o que deveríamos fazer, mas, nunca usa de meios para nos obrigar a fazê-lo quando o não quisermos. Temos que obedecer-lhe por causa da nossa unificação de espírito. Será por isso que, quando o Senhor falava em discípulado, usava a palavra SE - você só terá que fazê-lo, se o quiser. "Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo", Luc.9:23; ceda-Me todos os direitos sobre si. O Senhor não está a falar aqui de posições na eternidade, mas, de sermos úteis a ele já aqui na terra e será por isso que as palavras dele nos parecem ser severas, Luc.14.26. Nunca interprete essas palavras sem levar em consideração aquele que as proferiu.

O Senhor não dita com regras específicas. Ele deixa bem claros todos os seus padrões e, se o meu relacionamento com ele é de amor, farei o que ele me diz para fazer sem nenhuma hesitação ou objecção sequer. Caso hesite, será apenas porque amo alguém mais do que a ele - a mim mesmo. Jesus Cristo não nos impele à obediência, mas, devemos fazê-lo logo. Quando lhe obedeço, cumpro o meu destino espiritual e a vida que me estava destinada se concretizará. Minha vida pessoal pode estar crivada de incidentes mesquinhos, todos eles imperceptíveis e insignificantes; mas, se eu obedecer a Jesus Cristo mesmo em circunstâncias adversas de solidão e tristeza, elas se tornarão pequenos orifícios através dos quais verei a face de Deus brilhar sobre mim; e quando me encontrar face a face com ele, ser-me-á desvendado então que, através da minha obediência, milhares de pessoas foram abençoadas sem eu saber como. Quando a operação de Deus dentro duma alma específica encontra nela a obediência, a redenção sempre produzirá vida abundante. Se obedecer a Jesus Cristo, a redenção de Deus beneficiará outras vidas por mim também, porque por detrás desses actos de obediência achar-se-á escondida aquela realidade do Deus todo-poderoso.

 

3 De Novembro
Sendo Escravo de Jesus
"Estou crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim", Gal.2.19,20

Estas palavras significam que um fim foi dado à minha independência pessoal através de minhas próprias mãos, para me submeter totalmente à supremacia do Ser Supremo que é Jesus Cristo. Ninguém poderá fazer isto por mim; tenho que ser eu mesmo a fazê-lo. Deus poderá fazer-me chegar à beira dessa decisão trezentas e sessenta e cinco vezes por ano, mas, não pode obrigar-me a tomá-la. Essa decisão implica o rompimento da casca da minha independência em relação a Deus e na colocação da minha personalidade numa perfeita sintonia e união em uníssono com ele e nunca em prol de minhas próprias ideias, mas, visando absoluta lealdade a Jesus. Uma vez alcançada essa posição, não existirá mais espaço para qualquer discussão. Poucos de nós sabem realmente o que é ser leal a Cristo e a todos os seus princípios e o que significam as palavras: "…por minha causa", Mat.5:11. É essa lealdade que torna o cristão inabalável e impenetrável por outro amor.

Esse rompimento já se deu dentro de si? Tudo aquilo que passar disso será uma absoluta fraude religiosa. Existe uma única coisa para ser resolvida: renunciar, render-me a Jesus Cristo sem impor quaisquer condições quanto à forma desse rompimento de águas. Primeiro, tenho que me desprender da minha realização pessoal; feito isso, realiza-se imediatamente a identificação sobrenatural por dentro e o testemunho do Espírito de Deus será inconfundível: "Fui crucificado com Cristo". Renunciar deliberadamente a todos os meus próprios direitos para me tornar escravo de Jesus Cristo é o grande mecanismo do cristianismo. Enquanto eu não puder fazer isso mesmo, nem sequer comecei a ser discípulo ainda.

Caso apenas um aluno por ano ouvisse e fosse plenamente obediente ao chamado de Deus, isso seria razão suficiente para que Deus permitisse a existência desta escola. Como instituição académica, ela não tem valor; ela só existe para que Deus se tenha como vir servir da vida dos alunos que são seus. Irá Ele servir-se de nós, ou estamos obcecados pelo ideal daquilo que viremos a ser ainda um dia, pensando que Deus nos servirá ainda com essa finalidade?

 

4 De Novembro
A Autoridade da Verdade
"Chegai-vos a Deus e ele se chegará a vós outros", Tiago 4.8.

É essencial conceder às próprias pessoas a oportunidade de tomarem decisões sob o efeito da verdade de Deus. A responsabilidade deve ser deixada com o próprio indivíduo; ninguém pode agir por ele. A mensagem evangélica deve carregar consigo a subtileza da pessoa poder agir por ela, sendo que é necessário que essa decisão seja dela. A sua recusa em agir por ela trará consigo uma paralisia que deixa a pessoa exactamente onde ela estaria antes; mas, se ela agir nunca mais será a mesma a partir de então. A barreira que se interpõe no caminho de centenas de pessoas que já foram convencidas pelo Espírito de Deus, será a aparente loucura da acção que devem ter de tomar ainda. Assim que me esforço e tomo essa decisão certa, nesse mesmo instante começarei a ser vivente e a viver; tudo o mais será uma mera existência. Os momentos em que realmente vivo são aqueles com os quais ajo com toda a minha vontade dentro de Deus.

Sempre que uma determinada verdade de Deus me tocar na alma, devo agir antes que ela passe, não necessariamente no plano físico, mas, no plano da vontade. Registe-a, com tinta ou com sangue dentro de si. Mesmo a mais fraca das pessoas que se submete a Jesus Cristo se emancipa no mesmo instante em que age por ela, pois todo o poder omnipotente de Deus entrará em acção e penetrará dentro dela e a seu favor logo ali. Por vezes esbarramos na verdade de Deus e chegamos mesmo a confessar que estamos errados, apenas para voltamos atrás de novo; até um dia que entendamos que não devemos mais voltar atrás. Temos que tomar uma posição definitiva em relação a qualquer palavra vivificante vinda de nosso Redentor, rendendo-nos a ele por completo. Sua palavra "vinde", significa rendição incondicional. "Vinde a mim", Mat.11:28. Mas, infeliz é o ser para quem a última coisa será ir; apenas os que vão, descobrirão por eles mesmos que o fluxo sobrenatural da vida de Deus os invade no preciso instante em que se acometem, fazendo. O domínio do mundo, da carne e do diabo perdem seu poder e valor sobre eles, não pelo seu acto de rendição, mas, porque esse acto nos liga a Deus através do seu poder redentor.

 

5 De Novembro
Co-Participantes Nos Seus Sofrimentos Por Nós
"Alegrai-vos na medida em que sois co-participantes dos sofrimentos de Cristo", 1 Ped.4.13

Para que você seja usado e útil para Deus, ele o irá conduzir por múltiplas experiências que não se destinam a si propriamente; destinam-se a torná-lo útil em suas mãos e a capacitá-lo para compreender o que se passa com outras pessoas também, para que você, assim, nunca se surpreenda com o que vier a encontrar. Oh, eu não posso ajudar aquela pessoa. Por que não? Deus lhe deu amplas oportunidades de passar pela mesma experiência que ela e você fugiu dela porque lhe parecia uma tolice e uma perda de tempo.

Os sofrimentos de Cristo não são iguais aos dos homens. Ele sofreu "segundo a vontade de Deus", não do mesmo jeito que sofremos, como indivíduos. Só quando estamos unidos com Jesus Cristo é que podemos entender o verdadeiro propósito de Deus nas experiências que ele nos permite. Entender a conviver com o propósito dele insere-se na cultura cristã e será algo do que não nos poderemos separar. Na história da Igreja, a tendência tem sido evitar uma identificação com os sofrimentos de Jesus Cristo por nós; os cristãos têm procurado cumprir a ordem de Deus através de atalhos que consideram serem mais fáceis. O caminho de Deus é sempre o do sofrimento, o caminho da longa jornada do porquê que as pessoas sofrem sem ele.

Será que somos co-participantes dos sofrimentos de Cristo? Estamos dispostos a permitir que Deus elimine nossos anseios pessoais, destruindo nossas determinações através duma transfiguração real e realista em termos celestiais? Isso não quer dizer necessariamente que vamos entender por que Deus nos está para levar através de um ou outro caminho ainda, pois tal entendimento nos tornaria espiritualmente presunçosos e promíscuos. Não percebemos, naquela hora, o que Deus nos quer fazer passar; passamos por certas experiências básicas sem as entender muito bem. Mas, após isso, compreendemos tudo e exclamamos: "Deus me cingiu e me fortaleceu, embora eu não me apercebesse do que estava fazendo".

 

6 De Novembro
A Teologia da Intimidade
"Crês tu isto?" João 11:26.

Marta cria que todo o poder estaria ao alcance de Jesus Cristo; cria que, caso ele estivesse presente, poderia mesmo até haver curado o irmão dela. Também cria que Jesus desfrutava de uma intimidade peculiar com Deus e que tudo o que pedisse, Deus o faria; todavia, Marta precisava ter uma comunhão íntima com Jesus, pois a crença dela só enxergava, via e observava mediante uma ressurreição futura. Jesus foi conduzindo esta mulher aos poucos, até ela chegar a crer no que Jesus dizia como um factor real e, então, lentamente transformou-se numa herança particular e peculiar logo ali: "Sim, Senhor, eu creio que tu és o Cristo...", João 11:27.

Existe algo dentro de si semelhante a essa maneira peculiar pela qual o Senhor trata? Você é tratado assim? Será que Jesus o está instruindo com aquela finalidade expressa de vir a ter, também, uma intimidade pessoal com ele? Deixe que ele insista na pergunta: "Crês isto?" e nunca se ofenda com isso sempre que ele lhe voltar a inquirir sobre esse mesmo assunto de forma directa. Qual é a dúvida que o perseguiu até aqui? Você terá chegado, como Marta, a um momento crítico de sua vida, pelo qual sua crença esteja prestes a transformar-se em fé pessoal ou não? Isso não ocorrerá enquanto você não tiver um forte interesse em Cristo, talvez despertado por um dilema pessoal.

Crer é comprometer-se com a verdade, mas, em Cristo. Numa convicção meramente mental, comprometo-me com ela, rejeito tudo que se opõe a essa mesma convicção. Numa convicção pessoal, comprometo a minha moral, integralmente, com este modo de crer e prontamente me recuso a fazer concessões de qualquer tipo e a qualquer pessoa que seja; e na fé particular, comprometo-me espiritualmente com Jesus Cristo e tomo aquela deliberação de que, num compromisso assim, serei dominado somente pelo Senhor em todo lado onde possa ser levado.

Quando me ponho face a face com Jesus Cristo e ele me pergunta: "Crês tu isto?" descubro que a fé é tão natural quanto o ar que respiro e fico pasmado sem perceber como fui tolo por não ter confiado nele deste jeito peculiar real antes.

 

7 De Novembro
O Lado Sagrado e Não Detectável de Todas as Nossas Circunstâncias
"Todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus", Rom.8.28

É Deus quem coordena as circunstâncias de toda a vida de seus servos. Na vida deles não acontece nada por acaso, conforme se pode pensar. Deus, na sua providência, coloca-nos pelo lado de dentro de certas circunstâncias específicas que não conseguimos apreender, mas, que o Espírito de Deus as compreende e entende muito bem. Deus tem como colocar-nos em tais lugares, entre tais pessoas e em tais condições, com aquela finalidade de que seja o Espírito que está em nós a interceder por elas de Sua maneira peculiar. Nunca interfira nessas mesmas circunstâncias, dizendo: "Aqui sou eu quem vai tomar as providências; preciso tomar cuidado aqui, resguardar-me dali..." Todas as nossas circunstâncias estão sujeitas e entregues nas mãos de Deus; portanto nunca considere estranhas as circunstâncias nas quais você se possa achar envolvido. Seu dever na oração não é interceder com gemidos pessoais, mas, aproveitar as circunstâncias comuns e ajudar as pessoas entre as quais Deus, em sua providência, o coloca para levá-las perante o trono de Deus em oração através do Espírito, dando ao Espírito Santo que está em si aquela oportunidade única e exclusiva de interceder por elas através de si. Desse jeito, Deus alcançará todo o mundo através dos seus servos que Lhe são fieis nisto também.

Estarei a dificultar, mesmo sem saber, a obra do Espírito Santo através duma indefinição de minha parte ou com tentativas de fazer essa obra no lugar dele ou como eu acharia que deveria ser feita? As circunstâncias nas quais me possa achar e as pessoas ao meu redor, servirão para contribuir para o lado humano dessa intercessão peculiar. Tenho que fazer de minha vida um templo onde o Espírito Santo habita e, então, à medida em que apresento as pessoas diante de Deus, o Espírito Santo vai intercedendo por elas e depois através delas também.

As intercessões de outras pessoas nunca podem ser as minhas e as minhas intercessões nunca podem ser as mesmas delas; o Espírito Santo intercede em cada vida de forma individual, mesmo quando se usa dos mesmos objectos e os mesmos objectivos de intercessão. Tenho de saber que, sem essa intercessão, alguém ficará empobrecido espiritualmente.

 

8 De Novembro
O Poder Sem Rival da Oração
"Não sabemos orar como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós sobremaneira com gemidos inexprimíveis", Rom.8.26.

Reconhecemos que o Espírito Santo nos capacita para orar. Sabemos o que é orar no Espírito: mas, nem sempre entendemos que é o próprio Espírito Santo que ora, em nós, com gemidos inexprimíveis. Quando nascemos de Deus e o Espírito de Deus passa a habitar em nós, ele expressa através de nós o que é inexprimível em nós.

"Ele", o Espírito em nós, "segundo a vontade de Deus, é quem intercede pelos (através dos) santos", Rom.8:27. E Deus sonda o nosso coração, não para saber quais são as nossas súplicas, mas, para descobrir qual é a súplica do Espírito Santo em nós mesmos.

O Espírito de Deus precisa usar a natureza do cristão como um santuário para fazer sua intercessão ali. "Vosso corpo é santuário do Espírito Santo", 1Cor.6:19. Quando Jesus Cristo purificou o templo, "não permitia que alguém conduzisse qualquer utensílio pelo templo", Marc.11:16. O Espírito de Deus não consentirá que você use o seu corpo para os seus próprios interesses. Jesus expulsou violentamente do templo os que ali vendiam e compravam dizendo-lhes: "A minha casa será chamada casa de oração; vós, porém, a transformais em covil de salteadores", Mar.11:17.

Será que reconhecemos que nosso o corpo é mesmo "templo do Espírito Santo"? Se for assim, devemos ter o cuidado de mantê-lo sem mácula para ele ali poder habitar. Temos que nos lembrar de que, embora a nossa vida consciente seja apenas uma pequenina parte de toda a nossa personalidade, devemos considerá-la santuário do Espírito Santo exclusivamente. Ele cuidará da parte inconsciente, da qual nada sabemos e nós da consciente com ele; cabe a nós cuidar da parte consciente, pois somos responsáveis por ela.

 

9 De Novembro
Obra Sacramental
"Agora me regozijo nos meus sofrimentos por vós; e preencho o que resta das aflições de Cristo..." Col.1.24.

O obreiro evangélico terá de permanecer tão identificado com o Senhor e com toda a realidade da redenção, que ele próprio se possa tornar num "intermediário espiritual" através de quem Deus tenha como transmitir vida criativa de forma contínua e constante. Não se trata da força da personalidade de alguém sobreposta à de outro, mas, da presença real de Cristo manifesta através da vida corrente e fluente de seus servos. Quando pregamos os factos incansáveis e históricos da vida e morte do Senhor Jesus tal qual eles chegam até nós através do Novo Testamento, nossas palavras produzem vida em quem as ouvir. Deus usa-as e manifesta-se através delas com base fixa na sua redenção, para criar naqueles que as ouvem algo que de outra forma não poderia criar. Se pregarmos os efeitos que a redenção provoca na vida humana, em vez de manifestarmos a revelação de Jesus, o resultado nos que ouvem não será mais o novo nascimento, mas, apenas cultura espiritual. O Espírito de Deus não pode testificar de tal pregação porque ela pertence a outra esfera e regime. Temos que nos manter em uníssono numa comunhão tão viva com Deus que, ao proclamarmos a sua verdade, ele crie nas pessoas aquilo que só ele tem como e porque criar.

"Que personalidade maravilhosa! Que homem fascinante! Que capacidade de percepção!" Como o evangelho pode operar no meio de toda essa pompa? Ele não pode ser transmitido porque a atracção pessoal do homem é colocada sempre em primeiro plano. Quando uma pessoa conquista os outros por causa de sua personalidade, a atracção que exercerá sobre eles será nesse sentido mesmo; mas, se ela estiver identificada com a personalidade do Senhor, então os seus interesses convergirão para o que Jesus Cristo pode ainda fazer pessoalmente. O perigo está em endeusar o homem; Jesus diz que devemos exaltar só a ele, Jesus, João 12:32.

 

10 De Novembro
Comunhão Através do Evangelho
"Ministro de Deus no evangelho de Cristo", 1Tes.3.2

Após a santificação será sempre algo difícil poder afirmar qual o nosso alvo na vida, porque Deus, através do Espírito Santo, nos tem feito penetrar no propósito dele, o qual já é sabido dele; agora, ele está a fazer uso de nós para realizar os seus propósitos em todo o mundo, tal como usou o seu Filho com o propósito de efectuar a salvação em nós. Se buscarmos grandes coisas para nós mesmos - "Deus me chamou para fazer isso ou aquilo" - estaremos impedindo o que Deus quer fazer connosco. Enquanto estivermos buscando os nossos interesses pessoais, ou um determinado objectivo, não conseguiremos identificar-nos com os interesses de Deus em nós. Só o alcançaremos se abandonarmos para sempre os nossos sonhos de grandeza, permitindo que Deus nos faça penetrar no propósito que ele tem para o mundo; e como os nossos caminhos serão determinados pelo Senhor, nem sempre poderemos entendê-los muito bem.

Precisamos aprender que o alvo que destina toda a nossa vida vem de Deus e não de nossa própria vontade. Deus está-nos usando de acordo com o propósito dele e tudo o que ele nos pede é que confiemos nele, sem nunca nos queixarmos: "Senhor, isto faz-me sofrer!" Falando assim tornamo-nos um entrave e não uma bênção. Quando paramos de exigir de Deus o que queremos, ele nos usará para o que ele desejar, sem impedimentos que fazem tropeçar. Poderá humilhar-nos ou exaltar-nos; poderá fazer connosco o que entender. Ele, tão-somente nos pede que confiemos de forma implícita na sua pessoa e na sua bondade. A auto-consideração nasce no diabo e caso nos deixemos envolver por ela, não poderemos ser usados de Deus nos seus propósitos para o mundo: estamos vivendo em nosso mundo privado e particular de onde Deus nunca nos pode tirar porque temos medo de ser "machucados".

 

11 De Novembro
A Escalada Suprema
"Toma teu filho..." Gen.22.2

A ordem de Deus é: "Toma agora" e não "daqui a pouco". É impressionante como gostamos de contestar tudo! Sabemos que é certo fazer determinada coisa, mas, procuramos desculpas para não termos de fazê-la imediatamente ou da maneira que devemos. Subir até ao cume que Deus nos mostra nunca pode ser feito daqui a pouco; tem que ser feito neste momento. O sacrifício é sempre oferecido primeiro no plano da vontade de quem oferece e só depois é que será oferecido de facto.

"Levantou-se, pois, Abraão de madrugada... e foi para o lugar que Deus lhe havia indicado", Gen.22:3. Que simplicidade maravilhosa a de Abraão! Quando Deus falou, ele "não consultou carne nem sangue", Gal.1:16. Tenha cuidado quanto tiver o desejo de consultar carne e sangue - suas próprias preferências, seu próprio discernimento das coisas, ou qualquer outra coisa que não faça parte daquele relacionamento pessoal que tem com Deus. São essas as coisas que competem directamente com Deus e podem impedir que lhe obedeçamos de pronto.

Vemos que Abraão também não escolheu o sacrifício. Cuidado para não cair no erro crasso de fazer para Deus um serviço que foi você quem escolheu; o auto-sacrifício pode ser prejudicial em vez de ser obediência pura - pode ser falta de vontade de obedecer. Se a taça que Deus lhe deu é doce, sorva-a com gratidão; se ele a fez amarga, tome-a em comunhão através dele. Se a vontade de Deus para si for passar por dificuldades e problemas, faça por enfrentá-las; mas, nunca queira escolher o lugar do martírio, como que dizendo, "Irei até ali só e nem mais um passo!" Foi Deus quem escolheu a provação e o lugar da provação para Abraão e ele não contestou nenhuma das coisas; obedeceu sendo firme. Se você não estiver naquela vivência da plena comunhão com Deus, será fácil julgar Deus ou Abraão de forma errada. Você terá que passar pela provação para depois ter o direito de emitir opinião sobre Deus, pois só após a provação é que se efectivará o propósito de Deus e só ali passará a conhecê-Lo melhor. O Senhor está operante em si com a finalidade exclusiva de poder unir o propósito dum homem ao propósito dele.

 

12 De Novembro
A Vida Transfigurada
"E assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura: as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas", 2 Cor.5.17

Que tipo de entendimento você tem sobre o que será a salvação de toda a sua alma? A experiência da salvação significa que a sua vida diária realmente mudou, sem sombra para qualquer tipo de dúvida; que você não vê mais as coisas como antes via. Seus anseios são novos e as coisas velhas perderam o seu encanto por inteiro. Deus já alterou as coisas importantes, as principais, dentro de si? Essa é uma das características da experiência de salvação. Se ainda anseia pelas coisas antigas, será sempre um certo tipo de absurdo pensar que nasceu do alto; você está iludido e enganado. Se já nasceu de novo, o Espírito de Deus tornará visível essa transformação ocorrida em sua vida e em seu modo de pensar e ela será real e evidente ainda. E, quando lhe sobrevier a tentação para cair nela, mais que qualquer outra pessoa, será você a ficar admirado com a maravilhosa transfiguração operada dentro de si. Não haverá a menor possibilidade de se pensar que você a tenha podido produzir. A evidência da sua salvação é esta surpreendente e total transformação operada pelo lado de dentro.

Minha salvação e santificação fazem alguma diferença em minha vida actual? Por exemplo, será que suporto ser exposto à luz de 1Cor.13, ou irei remexer-me inquieto quando o leio? A salvação operada em nós pelo Espírito Santo liberta-nos totalmente da inquietação; e enquanto andarmos na luz como Deus está na luz, 1 João1:7, ele terá nada para nos censurar mais, porque a vida dele está sendo desenvolvida em cada pormenor de toda a nossa vida e a um nível muito mais profundo do que o da nossa esfera consciente.

 

13 De Novembro
Fé Ou Experiência?
"O Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim..." Gal.2.20

Teremos que passar e vencer os nossos estados de humor, sentimentos e emotividade para chegarmos a uma devoção simples ao Senhor Jesus Cristo. Pense regularmente de como o Novo Testamento manifesta Jesus Cristo, para depois verificar a mesquinhez da nossa miserável fé: "Eu não tive esta e aquela experiência!" Pense no que afirma a fé em Jesus Cristo - que ele é poderoso para nos apresentar diante do trono de Deus, imaculados, absolutamente rectos e profundamente justos e justificados. Tome sua posição de fé que não é mais relutante e a que cai em adoração simplesmente, uma confiança absoluta em quem se tornou para todos nós "sabedoria, justiça, santificação e redenção", 1Cor.1:30. Como podemos falar em sacrificar ao Filho de Deus ainda! Somos salvos do inferno e da perdição do pecado e ainda falamos em fazer sacrifícios a ele!

Temos que exercer constantemente a fé em Jesus Cristo; não no Jesus Cristo da reunião de oração, nem naquele dos nossos livros, mas, no Jesus Cristo do Novo Testamento, que é o Deus encarnado, o que deveria fazer-nos cair a seus pés como mortos em vez de nos tornar vivos nele. Nossa fé deve firmar-se naquele que é o autor dessa nossa experiência de vida nova nele e não na experiência. Jesus, para que isso tenha como acontecer, pede de todos nós uma entrega e devoção totais a ele somente. Não podemos conhecer a Jesus Cristo através das experiências que auferimos e experimentamos de forma real, nem contê-lo dentro dos limites do que o nosso coração imagina e experimenta; mas, tendo confiança total nele é que edificamos nossa fé real e exclusiva.

Será nesse ponto fulcral e particular que vemos como o Espírito Santo se impacienta contra aquela incredulidade ainda existente em nós. Todos os nossos temores são pecaminosos por essa razão; tememos porque não nos queremos alimentar nem identificar nessa fé desse jeito peculiar. Como é que uma pessoa que está identificada com Jesus Cristo ainda pode ter dúvidas ou medos, eu não entendo! Nossa vida deveria ser um maravilhoso cântico, revelando uma fé triunfante e invencível, impossível de abafar ou matar.

 

14 De Novembro
Desvendando Todos os Desígnios de Deus
"Estando no caminho, o Senhor me guiou..." Gen.24.27

Deveríamos estar em tal uníssono e união com Deus que não deveria haver qualquer pensamento ou necessidade sequer de estarmos a pedir a orientação dele vezes sem conta. Santificação significa que somos feitos filhos de Deus; a atitude normal do filho é a obediência ao Pai de dentro de seu ser e não em suas resoluções. Quando ele resolve desobedecer, sua consciência o acusa na hora devido à natureza interior que tem. No campo espiritual, essa acusação intuitiva é a advertência do Espírito de Deus, sendo iluminada por ele ali. Quando ele nos dá esse "sinal", temos que parar logo ali e ser renovados em nossa mente e forma de pensar, a fim de sabermos qual é a vontade de Deus sobre esse dado momento. Se já nascemos de novo pelo Espírito de Deus, é um contra-senso estar a pedir a Deus de forma ininterrupta e inconstante que nos esteja a guiar ainda. "O Senhor me guiou"; e analisando depois o que aconteceu, perceberemos que houve um maravilhoso desígnio que, como filhos de Deus, Lhe creditaremos.

Todos nós conseguimos ver a Deus naquelas coisas que são excepcionais; mas, será necessário uma maior maturidade espiritual para podermos ver Deus nos mínimos detalhes de nossa existência. Não aceite nenhum evento de nenhuma outra forma, senão como um propósito de Deus; e procure ver em qualquer evento da vida os desígnios divinos para si.

Tenha cuidado para não idolatrar sua fidelidade às suas convicções, em vez de ser dedicado a Deus exclusivamente. "Nunca farei isso". Existem muitas probabilidades de você passar por "isto ou aquilo", caso seja ainda um servo de Deus. Nunca houve na terra ser mais incoerente do que nosso Senhor Jesus Cristo; contudo, ele nunca foi incoerente para com o nosso Pai. Temos que ser fiéis à vida de Deus em nós e nunca a um princípio de nossa doutrina ou autoria. Será esta a vida em nós que nos vai identificar e esclarecer cada dia mais sobre quais são os propósitos de Deus para nós. É mais fácil tornar-se fanático do que servo fiel e simples, porque ser leal a Deus não nos glorifica e fere definitiva e principalmente a nossa vaidade religiosa.

 

15 De Novembro
"Que te Importa?"
"Senhor…E quanto a este?... Que te importa? Quanto a ti, segue-me", João 21.21,22.

Uma de nossas experiências mais difíceis é a que passamos quando não queremos entender e aceitar porque não devemos interferir na vida de outras pessoas. Demoramos muito a reconhecer o perigo de sermos "deuses" em amadurecimento, ou seja, de interferirmos na ordem de Deus para com os outros ao nosso redor. Vemos certa pessoa sofrendo e logo tratamos de afirmar: "Ela não sofrerá mais; vou providenciar para que não sofra mais por isso". Então, tentamos impedir o sofrimento que Deus permitiu para a poder salvar; todavia, Deus diz: "Que te importa a ti?" Caso esteja ainda nessa estagnação espiritual não se permita a veleidade de continuar nela nem por mais um momento; busque a Deus para saber a razão de se achar nela ainda assim, depois de conhecê-lo. Descobrirá, possivelmente, que ela chega a si devido à sua interferência na vida de alguém em quem Deus está a intervir dando sugestões que não tinha o direito de dar em momentos cruciais, aconselhando quando não tinha o direito de aconselhar de sua autoria. Quando você tiver que aconselhar alguém, Deus dará o conselho através de si, provendo-o de uma revelação do Espírito; a sua responsabilidade será apenas de manutenção desse relacionamento com o qual a pessoa se pode manter íntegro para com Deus, de tal modo que o discernimento flua constantemente vindo d'Ele até nós, para que, por intermédio de si, Ele tenha porque abençoar outros.

A maioria de nós faz por viver no limiar do nosso consciente - servindo e dedicando-se a Deus conscientemente apenas. Isso é uma imaturidade crucial; não pode ser tida como vida real ainda. O estado de maturidade é como a vida de criança - nunca é consciente, mas, vivente. Quando atingimos essa fase, entregamo-nos a Deus de tal forma que não temos consciência de estarmos a ser usados por ele. Se estivermos conscientes de que somos "pão para distribuir" e "vinho para oferecer", restará ainda um outro estágio a ser alcançado em nós, pelo qual não teremos consciência de nós mesmos, nem daquilo que Deus está fazendo através de nós. Um servo não tem consciência de que é servo; ele só tem consciência de que depende sempre de Deus.

 

16 De Novembro
Humanos Ainda!
"Fazei tudo para a glória de Deus", 1 Cor.10.31

A grande maravilha da encarnação de Cristo em todos nós desvanece diante na rotina da vida de um infante; a maravilha experimentada na transfiguração desaparece chegando ao vale perante alguém possuído de demónio; a glória da ressurreição desce para o nível de uma refeição matutina à beira-mar. Não se trata de um anti-clímax, mas, de uma grande revelação de Deus para todos nós.

A nossa tendência é procurar em nossa experiência só o que é extraordinário; confundimos o sentido do que é heróico com o de sermos nós os heróis. Uma coisa é passarmos por uma crise em grande estilo, outra é viver cada dia glorificando a Deus quando não há testemunhas, nem reflectores ou retransmissores, nem ninguém prestando a mínima atenção ao que fazemos. Se não buscamos auréolas para as nossas cabeças, queremos pelo menos que algo em nós leve as pessoas a dizer: "Que maravilhoso homem de oração é ele! Que mulher dedicada e devota é esta!" Se a sua dedicação ao Senhor Jesus for íntegra, você já alcançou a sublime posição onde ninguém pensará sequer poder notar que você existe; a única coisa que se nota é o poder de Deus fluindo através de si como templo, sem cessar.

"Oh Deus chamou-me para algo maravilhoso e glorioso!" Para que possamos fazer a tarefa mais corriqueira para a glória de Deus será necessário que o todo-poderoso Deus esteja encarnado e vivente em nós. É preciso que o Espírito de Deus esteja em nós para nos tornar profundamente seus, mantendo-nos ainda humanos e passando totalmente despercebidos nisso. Somos aprovados como servos de Deus, não por causa do sucesso, mas, antes pela nossa fidelidade em todos aqueles pormenores da nossa vida quotidiana. Estabelecemos como alvo ter sucesso na obra evangélica; mas o alvo a tomar é, exclusivamente, manifestar a glória de Deus na vida rasteira e humana cá na terra; é viver, sob as limitações humanas que temos, a vida que está "oculta juntamente com Cristo em Deus", Col.3:3, mas, em nós como somos. Será naquele cenário das relações humanas que a vida real e ideal, a de Deus, deve ser vivida e preenchida por inteiro.

 

17 De Novembro
O Alvo Eterno a Alcançar
"Jurei, por mim mesmo, diz o Senhor, porquanto fizeste isso... que deveras te abençoarei", Gen.22.16,17

Aqui, neste ponto específico, Abraão atingiu o ponto crucial pelo qual manteve o seu contacto directo com a própria natureza de Deus; ele, agora, compreende a realidade de Deus por inteiro.

"Meu alvo é Deus somente... A qualquer preço, amado Senhor, por qualquer caminho".

"A qualquer preço… em qualquer caminho" significa simplesmente que não somos nós que escolhemos os meios através dos quais Deus nos leva a atingir esse alvo e objectivo.

Quando Deus nos fala, se ele fala à sua própria natureza em nós, não pode haver a menor hipótese de a contestar; a única reacção possível será uma simples obediência natural, incondicional e imediata. Quando Jesus diz: "Vinde", eu simplesmente vou; quando ele diz: "Renuncia", eu prontamente renuncio; quando ele diz: "Confia em Deus nesta questão", eu confio sem questões. Todo esse processo é a simples evidência de que a natureza de Deus, de facto, permanece em mim.

O que determina que essa revelação de Deus seja feita em mim, será o meu carácter, não o carácter de Deus.

"Como sou desprezível, por essa razão, os Teus caminhos me parecem desprezíveis".

Através da disciplina e da obediência, posso chegar logo àquela mesma posição na qual Abraão se achou e vejo quem Deus é na realidade. Enquanto não me colocar face a face perante ele em Jesus Cristo, Deus não será real para mim de forma alguma; só ali poderei reconhecer que "em todo o mundo, meu Deus, não há ninguém senão tu, ninguém senão tu".

Enquanto não apreendermos, pela obediência, como a natureza de Deus é, as promessas dele não terão qualquer significado para nós. Às vezes lemos certas coisas na Bíblia trezentas e sessenta e cinco vezes sem que elas possam significar algo para nós, até que, de repente, nós obedecemos a Deus num ponto particular e, logo ali, compreendemos o que ele quer dizer com obediência; logo ali, também, a sua natureza se manifesta em nós e nós tomamos pleno conhecimento dela. "Porque quantas são as promessas de Deus tantas têm nele o sim; porquanto também por ele é o amem por nosso intermédio", 2Cor.1:20. Sempre que ratificamos e concordamos neste "Amem", isto é, "Assim seja", essa promessa torna-se logo nossa.

 

18 De Novembro
Ganhando e Entrando Pela Liberdade
"Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres", João 8.36.

Se ainda houver em nós algum vestígio de presunção, logo diremos também: "Não posso fazer isto". A personalidade individual (o verdadeiro eu) nunca diz "não posso" quando não pode; só que se apropria do que não é dele; ela quer sempre mais e mais e acha-se dono de tudo. É assim com a nossa natureza sem Deus. Deus criou-nos com uma grande capacidade inerente para buscá-Lo; e o que nos impede de chegar a ele é o pecado e a nossa individualidade específica. Deus liberta-nos de todo o tipo de pecado; mas, nós mesmos temos que nos libertar da individualidade que somos ainda - apresentando-lhe toda a nossa vida natural e sacrificando-a até que, pela obediência a Deus, exclusivamente, ela se transforme em vida espiritual por inteiro.

No plano que Deus possa ter para o nosso desenvolvimento espiritual, não existe a mínima consideração pela nossa individualidade natural; e temos que cooperar com Deus e não resistir-lhe, dizendo: "Não conseguirei fazer isso". Deus não nos disciplinará; nós é que temos que nos disciplinar a nós mesmos. Deus não levará cativo todo pensamento e imaginação vindas de nós; cabe-nos a nós encetá-lo. Não diga: "Ó, Senhor, sou dado a desvarios". Nunca seja, simplesmente! Pare de dar ouvidos à sua tirania individual e individualista e emancipe-se daquela personalidade agnóstica e desobediente que é.

"Se o Filho vos libertar..." Não substitua "Filho" por "Salvador". O Salvador nos liberta do pecado; esta libertação é operada quando Ele já é Filho. É isso que Paulo quer dizer em Gal.2.19: "Estou crucificado com Cristo". A sua individualidade natural foi quebrantada e sua personalidade unida à do Senhor Jesus Cristo; não absorvida, mas, unida na Sua morte. "Verdadeiramente sereis livres", mas, livres em essência, livres interiormente de nós próprios. Insistimos em ter poder, em vez de querer que este poder nos leve à identificação com Deus através de Jesus Cristo.

 

19 De Novembro
Quando Ele Vier
"Quando ele vier convencerá o mundo do pecado... "João 16.8

Poucos de nós sabe realmente o que seja convicção de pecado; provavelmente, tivemos apenas a experiência de nos sentirmos perturbados por termos feito coisas más e erradas. Mas, a convicção de pecado operada através do Espírito Santo coloca logo de lado todos os tipos de demais relacionamentos em relação a Deus sobre a terra, deixando apenas um: "Pequei contra ti, contra ti somente pequei!", Sal.51:4. Quando alguém se convence do pecado desta maneira específica e peculiar, sabe, com toda a pujança de toda a sua consciência que Deus não ousaria perdoá-lo apenas por perdoar e sem se converter, senão o homem manteria seu sentido soberbo de justiça em si próprio mais forte do que o sentido de Deus. Deus perdoa, mas, isso custou-lhe um profundo sofrimento, com a morte de Cristo. O grande milagre da graça de Deus é que ele perdoa os nossos pecados, mas, a única maneira através da qual a natureza divina pode perdoar e ainda permanecer fiel a si mesma dentro de nós, será mediante a morte de Jesus Cristo em nós. É absurdo dizer que Deus nos perdoa porque ele é amor. Depois que sentirmos a convicção de pecado, nunca tornaremos a dizer tal coisa. O amor de Deus significa Calvário e nada menos que isso; esse amor só é explicado pela cruz que tomamos e de nenhuma outra forma plausível. Deus dispõe de uma única base para me perdoar: a cruz do meu Senhor em mim. Ali, a sua consciência se satisfaz por ela mesmo.

O perdão não significa apenas que sou salvo do inferno e preparado para o céu (ninguém aceitaria perdão desse jeito específico sequer); o perdão significa que passo a ter um novo relacionamento numa identificação real com Deus em Cristo Jesus em mim mesmo. O milagre da redenção é que Deus, ao colocar dentro de mim como pecador que sou, uma nova disposição, a própria de Jesus Cristo, torna-me santo como ele é santo logo ali também.

 

20 De Novembro
O Perdão Vindo de Deus
"No qual temos... a remissão dos pecados", Ef.1.7.

Tenhamos cuidado com a tal concepção sobre a paternidade de Deus que é errónea, mas, que nos pode parecer agradável e que afirma: "Deus é um pai tão bondoso e amoroso que nos perdoará". Essa afirmação e explicação não se encontram em lado nenhum de todo o Novo Testamento. A única base que existe para Deus nos perdoar e nos reintegrar em sua graça total é a tremenda tragédia da cruz de Cristo dentro da humanidade; não há nenhuma outra base para tal. Falar do perdão partindo de qualquer outra base é blasfemar inconscientemente. Esse perdão, tão fácil de ser aceite por nós, custou ao próprio Deus o ter passado pela agonia do Calvário. É possível uma pessoa aceitar simplesmente pela fé o perdão do pecado, o dom do Espírito Santo e a santificação e esquecer o elevado preço que Deus teve que pagar para que tudo isso nos fosse possível ainda hoje.

O perdão é o milagre da graça divina sedeada em nós por nós; a cruz de Jesus Cristo foi o preço que Deus teve que pagar para poder perdoar o pecador e para o confirmar e ainda assim continuar e persistir como Deus santo que é. Nunca aceite um conceito sobre a paternidade de Deus que suprime a verdadeira essência da expiação que ele fez pelo pecado. A revelação que temos de Deus ali é que ele não pode perdoar apenas por perdoar; se o fizesse, contrariaria sua própria natureza santa e divina. O único meio através do qual podemos ser perdoados é a expiação consolidada dentro de nós também, a que nos reconcilia com Deus em natureza e em essência. O perdão de Deus só se pode tornar natural sendo o sobrenatural efectivado dentro de nós.

Comparada com o milagre do perdão do pecado, a experiência da santificação é coisa mínima. A santificação é apenas a maravilhosa expressão do perdão dos pecados dentro da própria vida humana; mas, o que pode vir a despertar a nossa mais profunda gratidão, será o facto de que Deus perdoou os nossos pecados por os haver retirado de dentro de nós. Paulo nunca se esqueceu disso. Depois que reconhecemos o alto preço que Deus pagou para ter como perdoar-nos, ficamos presos a ele, seguros pelo seu grande amor que toma o nosso lugar em nós.

 

21 De Novembro
"Esta Consumado"
"... Consumando a obra que me confiaste para fazer", João 17.4.

A morte de Jesus Cristo é a concretização da mente de Deus, no seu devido tempo e espaço. Não há lugar para o conceito de que Jesus Cristo teria sido um mártir; a Sua morte não foi um acidente que poderia ter sido evitado; foi a própria razão da sua vinda à terra.

Quando se achar a pregar sobre o perdão que há em Deus, nunca use o argumento de que Deus é nosso Pai e nos perdoará porque nos ama como Pai. Isso não corresponde à revelação que Jesus Cristo faz de Deus; torna a cruz desnecessária e a redenção fica mais parecendo "muito barulho para pouco efeito". Se Deus ainda perdoa o pecado, é por causa da morte de Cristo. E ele não poderia perdoar aos homens de nenhuma outra maneira, senão pela morte de seu Filho; e Jesus é exaltado para ser o Salvador por causa da sua morte também. "Vemos... Jesus por causa do sofrimento da morte... coroado de glória e de honra", Heb.2:9. O mais alto brado da trombeta do todo triunfo que alguma vez soou aos ouvidos do universo foi o que ecoou na cruz pela boca de Cristo: "Está consumado!" João 19:30. Essa é a palavra-chave e final da redenção de todo o homem.

Qualquer coisa que diminua ou tenha como suprimir a santidade de Deus mediante uma concepção falsa de seu amor, não corresponde à revelação de Deus dada por Jesus Cristo em nós mesmos. Nunca admita a ideia de que Jesus Cristo se coloca ao nosso lado e, por compaixão, contra Deus; ou a de que ele se fez maldição em nosso lugar por ter pena de nós. Foi por decreto divino que Jesus Cristo se fez maldição por nós. A nossa parte, na compreensão do profundo significado dessa mesma maldição, é a convicção do pecado; a dádiva da vergonha e contrição nos é dada e oferecida - nisso consiste a grande misericórdia de Deus se correspondermos. Jesus Cristo odeia o mal no homem e o Calvário também nos mostra a medida desse ódio.

 

22 De Novembro
Superficial e Profundo
"Portanto, quer comais, quer bebais, ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus", 1Cor.10.31.

Não se deixe levar pela ideia de que as coisas superficiais da vida não são ordenadas por Deus e para Deus; elas são de Deus tanto quanto as coisas profundas e enraizadas. Não é a sua dedicação a Deus que o leva a não querer ser superficial, mas, antes aquele desejo de impressionar os outros com o facto de que você não é superficial - sinal evidente de que você é presunçoso e irreal ainda. Cuidado para não cultivar desprezo aos outros, sendo esse desprezo um produto da presunção e que faz com que você ostente a sua "profundidade" para mostrar aos outros o quanto eles são superficiais. Evite passar como a pessoa profunda deste planeta; Deus se fez bebé.

Ser superficial não significa ser-se mau, nem indicia a inexistência de profundidade nesta vida; o oceano profundo tem as suas praias todas. As coisas superficiais desta vida: comer e beber, passear e conversar, são todos determinados por Deus também. São coisas que Jesus fazia e as fazia ainda como Filho de Deus e ele disse que "o discípulo não está acima do seu Mestre", Mat.10:24.

A nossa salvaguarda está em fazer as coisas superficiais, também. Temos que viver no meio delas de forma sensata e perspicaz. Deus nos dará as coisas mais profundas tanto quanto as que nos são superficiais. Nunca exponha as profundezas a ninguém, a não ser a Deus. Às vezes, somos tão sérios, tão excessivamente zelosos com a nossa "imagem" que nos recusamos a comportar-nos como cristãos nas coisas corriqueiras desta vida corrente.

Tome a firme decisão de não levar ninguém a sério, a não ser Deus; e a primeira pessoa de quem você terá de saber descartar-se - por ser o maior embusteiro e maior fraude que já conheceu - será você mesmo.

 

23 De Novembro
O Distracção das Atitudes Que Desprezam
"Tem misericórdia de nós. Senhor, tem misericórdia; pois estamos sobremodo fartos de desprezo", Sal.123:3

Precisamos ter bastante cautela, não tanto com o que possa prejudicar a nossa fé em Deus, mas, maioritariamente, com aquilo que pode prejudicar nossa atitude em Deus. "Portanto, guardai-vos em vosso espírito e não sejais desleais", Mal.2:16. Qualquer atitude errada tem efeitos tremendamente nocivos e maléficos; ela é a inimiga principal que penetra directamente na alma e desvia de Deus a nossa mente fazendo pensar que não. Existem certas atitudes às quais nunca nos deveremos entregar pela displicência. Caso o façamos, descobriremos que elas nos desviam da confiança que há em Deus; e, enquanto não voltarmos a aquieta-nos só diante dele, a nossa fé será uma nulidade autêntica e nossa confiança na carne e no engenho humano crescerão e serão o factor que predominará.

Acautele-se contra "os cuidados deste mundo", Marc.4:19, porque serão eles que produzirão a maioria dessas atitudes erradas. É impressionante notar como as coisas simples têm uma enorme capacidade de desviar a nossa atenção de Deus em vez de fazer-nos fitá-lo ainda melhor. Não se permita a veleidade de ser sufocado pelos cuidados das suas circunstâncias de vida.

Outra coisa que desvia nossa a atenção será aquele desejo intrínseco de nos justificarmos diante de todos. Santo Agostinho orava: "Ó Senhor, livra-me deste impulso de me estar sempre a justificar e a defender". Essa atitude destrói a nossa fé em Deus por completo. "Eu preciso explicar-me; preciso fazer com que as pessoas me entendam". O Senhor não se justificava; ele deixava que o mal-entendido se corrigisse por ele mesmo.

Quando percebemos que alguém não está em crescendo espiritualmente e permitimos que essa nossa descoberta se transforme em crítica moral contra tal pessoa, bloqueamos o nosso próprio relacionamento com Deus e com essa pessoa também. Deus nunca nos dá esse tipo de discernimento para que possamos criticar, mas, antes para que possamos interceder e revalidar sua comunhão com Ele.

 

24 De Novembro
Direccionando a Focalização
"Como os olhos dos servos estão fitos nas mãos dos seus senhores... assim os nossos olhos estão fitos no Senhor, nosso Deus", Sal.123.2

Este versículo descreve uma total confiança e dependência em Deus. Tal qual os olhos do servo estão fitos em seu senhor, assim também os nossos olhos deverão permanecer colocados no Senhor. Será assim que tomaremos conhecimento dele e veremos seu semblante que nos será manifestado por ele, Is.53:1. Quando paramos de erguer os olhos a ele, logo começamos a sofrer perdas espirituais importantes e cruciais. E essas perdas ocorrem mais por causa dos problemas da nossa mente, do que através de problemas externos a ela. É ali que começamos a pensar: "Desconfio de que talvez me tenha vindo a exceder um pouco, erguendo-me em bicos de pés, tentando assemelhar-me a Deus em vez de ser uma pessoa humilde". Temos de entender que, por mais esforços que encetamos, eles nunca serão demasiados.

Por exemplo, quando você tomou uma posição favorável a Deus, passou por uma experiência pela qual recebeu do Espírito o testemunho de que tudo estava certo e bem consigo. Mas, passaram-se muitas semanas, talvez anos e você vai, lentamente, chegando à seguinte conclusão: "Bem, será que não fui muito pretensioso? Será que não me posicionei um pouco alto demais para as minhas capacidades?". Aí, os seus amigos racionalistas chegam bem perto de si para lhe confirmarem também: "Deixe-se de tolices; quando você falava sobre esse avivamento espiritual, sabíamos que se tratava de um impulso passageiro por si e não conseguiu manter este nível de vida; Deus não espera nada disso de si". E você diz: "Bem, acho que desejei demais, de facto". Dizer isso pode parecer prova de humildade, só que, na verdade, significa que você deixou de confiar em Deus para confiar na opinião do resto do mundo, o qual perece. O perigo disso tudo será que, não confiando mais em Deus, você deixa de erguer os olhos só para ele. Só quando Deus o obrigar a dar uma travagem brusca e realista em seus pensamentos, é que se aperceberá o quanto foi prejudicado com tudo isso. Sempre que houver uma rotura e um vazamento espiritual dentro de si, trate de o consertar logo ali. Reconheça que alguma coisa se interpôs entre si e Deus e reajuste tudo logo e sem mais qualquer perda de tempo para si.

 

25 De Novembro
O Segredo da Consistência Espiritual
"Mas, longe esteja de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo", Gal.6.14

Tão logo alguém possa nascer de novo, ele torna-se incoerente, pois há nele um misturar de emoções e de acções desconexas e desprovidas de essência. O apóstolo Paulo possuía uma firme coerência interior; e, consequentemente, pôde deixar que a sua vida exterior se modificasse livremente mediante as circunstâncias. E isso não o preocupava em absoluto, pois estava arraigado e alicerçado em Deus de facto e somente. A maioria de nós é espiritualmente incoerente porque estamos mais preocupados em ser coerentes com os nossos modos e módulos exteriores. Paulo vivia no piso de baixo, enquanto os críticos coerentes vivem no último andar da manifestação exterior. Portanto, não pode haver contacto entre eles. A coerência de Paulo estava alicerçada no que há de melhor e fundamental. A solidez de toda a sua coerência era a agonia de Deus na redenção de todo o mundo, ou seja, poder apresentar aquela cruz de Jesus Cristo para o mundo.

Faça por reavaliar a sua crença e depois remova dela tudo aquilo que for possível, ficando apenas com a rocha angular e basilar, isto é, a cruz de Cristo. Na História Universal, a cruz é um acontecimento insignificante; porém, do ponto de vista Bíblico, ela tem mais importância do que todos os impérios do mundo juntos. Se, em nossa pregação, deixarmos de apresentar a tragédia de Deus na cruz, ela nada produzirá para mais ninguém. Não transmitirá o poder de Deus cedido ao homem; poderá até ser interessante, mas, não terá poder nem valor. Pregue a cruz e o poder de Deus operará sem rodeios. "Aprouve a Deus salvar aos que crêem pela loucura da pregação… Mas nós pregamos a Cristo crucificado", 1Cor.1:21,23.

 

26 De Novembro
O Ponto Fulcral de Todo o Poder Espiritual
"... Senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo", Gal.6.14

Caso deseje experimentar em si mesmo todo o poder de Deus (ou seja, a vida ressurrecta de Jesus Cristo), terá que meditar muito sobre a tragédia da cruz. Não fique demasiadamente preocupado com a sua própria condição espiritual, mas, faça por reflectir, através dum espírito aberto, sobre essa tragédia divina e se encherá do poder de Deus. "Olhai para mim", Is.45:22, concentre-se "lá" na fonte e o poder virá para "cá". Se não nos concentrarmos no objectivo concreto da Cruz de Cristo, perderemos todo o poder espiritual. Os efeitos da cruz são salvação, santificação, cura, etc., mas, não devemos pregar nada disso, temos que pregar é "Jesus Cristo e este crucificado", 1Cor.2:2. A pregação da mensagem de Jesus Cristo, por si mesma, irá operar no coração de todos aqueles que, de facto, são ouvintes. Ao pregar, concentre-se na cruz, o centro de todo o universo e mesmo que os ouvintes, aparentemente, não dêem muita atenção, nunca mais poderão ser os mesmos a partir de então. Se eu proferir a minha própria mensagem, ela não terá para si mais importância do que a sua terá para mim; mas, se eu falar a verdade de Deus, ela produzirá frutos, tanto em si como em mim. Temos que nos concentrar no foco do poder espiritual - a cruz - para nos mantermos sempre em contacto directo com essa fonte de todo o poder e, assim, ele agirá entre os homens e neles. Muitas vezes, nos movimentos de renovação espiritual e em reuniões de busca de poder, as pessoas tendem a enfatizar não a cruz, mas os efeitos dela sobre eles e sem obter resultados muito práticos.

Hoje, a fraqueza das igrejas vem sendo muito apontada e tal crítica se justifica em muito. Uma das razões dessa fraqueza é que tem faltado maior concentração do poder espiritual dentro dos crentes; e isso acontece porque não meditamos suficientemente na tragédia do Calvário e no significado da redenção que se efectuou lá.

 

27 De Novembro
A Consagração do Poder Espiritual
"Pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo", Gal.6.14

Sempre que medito na cruz de Cristo, não me torno num beato interessado apenas na minha própria pureza natural; o meu objectivo dominante passa a ser os interesses de Jesus Cristo em mim. O Senhor não foi um recluso nem um asceta; ele não se isolou da sociedade, mas, permaneceu todo o tempo isolado dela interiormente. Não se mostrava indiferente ao que se passava ao seu redor, mas, vigiava ligado a outro mundo. Com toda a verdade, achava-se tão integrado no mundo que os religiosos de seu tempo o acusavam de glutão e bebedor de vinho entre outras coisas mais. Mas, o Senhor não permitiu que nada disso pudesse interferir na consagração de suas energias espirituais às coisas e obras do Pai.

A falsificação dessa consagração é deixar de fazer certas coisas pensando com isso armazenar poder espiritual para uso posterior noutras coisas supostamente mais espirituais, mas, isso é um enorme engano. O Espírito de Deus tem tirado de todo o pecado muita gente, mas, mesmo assim, não experimentaram a liberdade nem a plenitude espiritual que Cristo prometeu. O tipo de vida religiosa que vemos por aí, hoje, é inteiramente diferente da santidade actuante que Jesus Cristo manifestava. "Não peço que os tires do mundo e sim que os guardes do mal", João 17:15. Temos que estar no mundo; mas, não ser do mundo; estarmos separados e isolados dele interiormente, não exteriormente, João 17:16.

Não devemos permitir que nada interfira na consagração de nossas energias espirituais às coisas que são consagradas por Deus. A consagração (dedicação exclusiva à obra de Deus) é a nossa parte; a santificação (separados de todo pecado em santidade) é a parte que cabe a Deus. Temos que tomar uma decisão e posição firme de nos interessarmos somente por aquilo que é do interesse de Deus. A maneira acertada de resolver as dúvidas que surgem em nós é contestá-las sempre com a pergunta: "Será que isto é o tipo de coisa na qual Jesus Cristo está interessado, ou é algo que interessa ao inimigo de Jesus apenas?"

 

28 De Novembro
A Riqueza Para Os Destituídos
"Sendo justificados gratuitamente, por sua graça...", Rom.3.24

O evangelho da graça de Deus desperta um intenso anseio dentro da alma humana, mas, também um ressentimento igualmente intenso, porque a revelação que ele traz não agrada nem um pouco à carne. O orgulho do homem permite-lhe dar e dar, mas, não vir e aceitar quando deve. Darei a minha vida pela causa e até morrerei por ela; eu consagrar-me-ei integralmente; farei qualquer coisa, mas, não me humilhe, colocando-me ao nível de um pecaminoso pedinte digno do inferno, dizendo que a única coisa que tenho de fazer é aceitar a dádiva da salvação por Jesus Cristo.

Temos que reconhecer que não podemos comprar nem fazer por merecer coisa alguma vinda de Deus; precisamos recebê-la como dádiva, ou, então, ficaremos sem ela porque não a quisemos receber. A maior bênção espiritual é reconhecer que somos pobres e destituídos; enquanto não reconhecermos isso mesmo, o Senhor não poderá abençoar-nos com nada. Se acharmos que nos bastamos para nós mesmos, ele não poderá fazer nada por nós e muito menos através de nós; temos que entrar no seu reino através daquela porta da pobreza. Enquanto nos considerarmos ricos, abastados de qualquer coisa que se assemelhe a orgulho ou uma independência de Deus, Deus nada poderá fazer por nós. Só após ficarmos cientes disso mesmo e espiritualmente famintos é que receberemos o Espírito Santo e do Espírito Santo também. Pelo Espírito Santo, a natureza de Deus torna-se eficaz dentro de nós e por nós, pois ele nos concede a vida de Deus, a que nos vivifica. Essa vida põe "o além" dentro de nós e tão logo isso tenha como acontecer, seremos colocados no reino de Deus, na esfera onde Jesus vive também, João 3.5.

 

29 De Novembro
A Supremacia De Jesus
"Ele me glorificará", João 16.14

Todos os movimentos de santidade actuais fogem em todos os seus aspectos cruciais daquela rigorosa realidade do Novo Testamento. Não há neles nada que precise com exactidão todo o valor da morte do Senhor Jesus Cristo; tudo o que se exige é urna atmosfera de religiosidade, oração e devoção e nada mais que isso. Esse tipo de experiência não é sobrenatural, nem miraculoso, nem nada real, pois não custou o sofrimento de Deus em nós, não foi tingido pelo "sangue do Cordeiro", Apoc.12:11, nem carimbado com a marca do Espírito Santo de forma que se veja claramente - marca essa que faz os homens olharem admirados e exclamarem em uníssono: "Isso é obra do Deus Todo-Poderoso". É disso que nos fala o Novo Testamento; é disso e nada mais e nem nada menos que isso.

O tipo de experiência cristã do Novo Testamento é o de uma total dedicação à pessoa de Jesus Cristo como pessoa real. Todos os outros tipos da chamada "experiência cristã" são desvinculados da pessoa de Jesus Cristo. Neles não é preciso ser verdadeiramente regenerado, nascer de novo para entrar no reino no qual Cristo vive de facto; neles há apenas a ideia de que ele é o nosso modelo que concretiza. No Novo Testamento, Jesus Cristo é Salvador muito antes de ser o modelo a seguir. Hoje, ele está a ser vergonhosamente divulgado como personagem eminente de uma religião, um mero exemplo para os homens. Ele é isso, mas, é infinitamente mais; ele é a própria salvação, ele é o evangelho do Deus vivo.

Jesus disse: "Quando vier, porém, o Espírito da verdade... ele me glorificará", João 16:13,14. Quando me comprometo com essa revelação como ela é feita no Novo Testamento, recebo de Deus o dom do Espírito Santo, que começa a interpretar em mim e para mim, tudo quanto Jesus fez e faz em mim, operando no meu interior tudo que ele realizou por mim na cruz para realizar agora em mim também.

 

30 De Novembro
Pela Graça de Deus, Sou o que Sou
"E a sua graça que me foi concedida, não se tornou vã", 1Cor.15.10

O hábito de falarmos continuamente sobre a nossa incapacidade é um insulto dirigido a nosso Criador. Deplorar a nossa incompetência é caluniar a Deus abertamente, insinuando que ele nos negligenciou de algum modo mais específico. Cultive o hábito de examinar, na presença de Deus, as coisas que parecem humildes aos olhos dos homens e se pasmará admirado de ver como elas são pouco importantes para ele. "Oh, eu não diria que sou santificado; não sou nenhum santo". Atreva-se a dizer isso diante de Deus e essa declaração toma o seguinte significado: "Não, Senhor, é impossível para ti salvar-me e santificar-me completamente; não tive muitas oportunidades; há tantas imperfeições em meu cérebro e em meu corpo mortal; não, Senhor, isso não é possível para mim mais". Diante dos homens, essas palavras podem ter aparência de grande humildade, mas, diante de Deus serão vistas como uma afronta.

E, também, as coisas que parecem humildes diante de Deus podem parecer o contrário diante dos homens. Dizer: "Graças a Deus, sei que fui salvo e santificado" é, aos olhos de Deus, o auge da humildade; significa que você se entregou tão completamente a Deus que sabe que ele é tornado verdadeiro dentro de si. Nunca se preocupe se o que diz parece ou não humilde diante os homens, mas, seja sempre humilde diante de Deus, deixando-o ser tudo em tudo dentro e fora de si.

Só um tipo de relacionamento importa: o nosso relacionamento particular com o nosso Redentor e Senhor, desde que pessoal. Abra mão de tudo o mais, mas, mantenha esse relacionamento a todo custo e Deus cumprirá o seu propósito através de toda a sua existência e vida. Uma única vida, a qual pode ser de inestimável valor para os propósitos de Deus, é a dele e essa vida pode ser a sua já.

José Mateus
zemateus@msn.com