AVIVAMENTO NA INDONÉSIA

Por Dr. Kurt Koch

 

1ª Parte

 

Existem três países hoje sobre os quais se focalizam preferencialmente as atenções de todo mundo. O primeiro destes países é sem dúvida, Israel. Este País permanece sendo o centro das atenções e dos acontecimentos no mundo. Poderemos dizer com toda a certeza que, a menor nação na face da terra, tem a historia mais rica de todas. Nem será aqui que debateremos este assunto, pois já o fiz em meu livro “Aquele que vem”.

O país que divide igualmente as nossas atenções nesta fase do tempo é o Vietnam. Será neste poço de fogo que se decidirá o futuro de toda a Ásia. E as perspectivas ocidentais nem são as melhores quanto a isso.

O terceiro País que é bastante discutido nos círculos cristãos mais próximos é sem dúvida alguma a Indonésia. Qual a razão para este interesse súbito em torno deste País? Iremos deixar esta pergunta sem resposta por enquanto para podermos olhar mais de perto para a história religiosa da Indonésia.

*Nota do tradutor: temos de levar em conta a data quando este livro foi escrito, perto de 1970.

 

I. O DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DA INDONÉSIA

 

Todo aquele que queira entender bem o presente, necessita entender bem seu passado. Como uma ponte entre dois continentes, o mundo de ilhas da Indonésia tem uma história bastante relevante e que em nada se pode considerar insignificante. Fósseis descobertos lá relacionam este país com a época do homem de Pequim e esta ligação ancestral asiática influenciou definitivamente a história econômica e cultural deste país de muitas maneiras.

As inscrições rupestres nas pedras datando mais de três mil anos ainda não foram totalmente decifradas e aguardam investigação científica mais apropriada.

A situação religiosa na Indonésia também é muito interessante de ser seguida. O país foi penetrado por quatro correntes de pensamento distintas e estas acrescentaram as suas várias influências ao animismo que se desenvolveu simultaneamente na área.

No primeiro e no segundo século mercadores indianos trouxeram o Hinduísmo para o país e foram estes mercadores que trouxeram a famosa madeira aromática para o mundo ocidental. Assim, a Europa conseguiu ter estas madeiras aromáticas antes mesmo de ter conhecimento do país de sua origem. A religião e a cultura Hindu desenvolveram-se durante os Séculos VI a XIV, tornando-se um poderoso reino e as raízes da linguagem atual da Indonésia baseiam-se precisamente nestas raízes da cultura Hindu.

No Século no VI, VII e VIII o Hinduísmo foi ultrapassado pelo Budismo e uma vez mais foram os próprios negociantes Indianos que importaram esta nova religião para dentro do País. Ao construírem o seu tempo em Borobudur, os budistas construíram um santuário em Java, local onde existia o santuário Hindu mais sagrado, Prambana. E foi assim que estas duas grandes religiões indianas subsistiram lado a lado em Java numa perfeita coexistência.

Foi apenas nos Séculos XII e XIII que começou a época do Islã a qual estabeleceu o seu primeiro pilar em Atche no norte de Sumatra. O reino Islâmico que começou sua existência no ano 1205 sob liderança do sultão John Sjah durou até ao ano 1903. Estas religiões causaram grandes dificuldades aos senhores coloniais Holandeses, inclusive a alguns ainda em nosso próprio século.

Qualquer um que leia com atenção os profetas do Velho Testamento descobre com facilidade que eles frequentemente mencionam as ilhas ou as regiões para além do mar. Este olhar visionário destes homens de Deus chegou muito para além do seu próprio país (Is.66:19). Seriam estas ilhas negligenciadas então pelo aquele que disse “Ide por todo o mundo, e pregai o evangelho a toda criatura (Marc.16:15)”?

Os primeiros mensageiros de Cristo que ali chegaram devem ter sido os primeiros pais do Cristianismo. Nem é de ignorar o fato de que o Apóstolo Tomé, o qual trabalhou na Índia, atravessou para Indonésia juntamente com mercadores Indianos. Em qualquer caso, temos conhecimento que missionários da Igreja Mar-Tomé (Igreja relacionada com o nome do apóstolo), trabalharam na Indonésia.

A próxima prova real de uma obra missionária na área foi confirmada através de avaliações exaustivas e dolorosas de documentos históricos pelos quais se comprova que Cristãos vindos da Pérsia vieram para Indonésia nos anos 671 até 679. Mas, depois disso este continente permaneceu nas trevas por um longo período. Estes foram os séculos durante os quais a igreja cristã do mundo ocidental foi perdendo pouco a pouco a sua força original. Gradualmente a candeia de Roma também foi colocada de lado e o seu ímpeto espiritual ficou com cede no Centro e Norte da Europa. Precisamos, também, levar nosso pensamento de volta até aos esforços dos missionários germânicos, para a reforma Cluníaca e também para aqueles que anteciparam a reforma: Wycliffe, Hus e Savonarola, para obtermos evidência destes fatos durante este tempo quando praticamente nada era conhecido sobre a Indonésia.

Isto, contudo, foi substancialmente alterado quando mercantes navegaram para os portos da Índia e se aperceberam do mundo de ilhas a Leste. Seguindo a época de descobrimentos de Cristóvão Colombo, o mundo tornou-se louco pelos descobrimentos de novos mundos. Ao mesmo tempo, as nações dos descobrimentos marítimos buscavam aumentar e fundamentar seu comércio.

Em 1511 os Portugueses conquistaram as Ilhas Molucas, causando a retirada dos Muçulmanos dali e pressionando-os mais para o Sul. Os Católicos entre os portugueses ocupantes de então fundaram a primeira Igreja Católica nas Ilhas Molucas em 1522. Não muito tempo depois disto, o missionário Francis Xevarius chegou ali vindo da Índia. Mesmo que ele tenha trabalhado na obra de Deus apenas de 1546 até 1547, a sua influência foi tão vasta e tão grande que desde então ficou conhecido como o Apóstolo dos Indonésios.

O século 16 também viu o início do poder colonialista holandês. Os cristãos indonésios não ficaram propriamente alegres quando os holandeses baniram o trabalho missionário do norte e do sul de Sumatra e de Bali. A razão invocada para os holandeses fazerem tal coisa era o temor de que os nativos se rebelassem e com isso abandonassem o trabalho nas plantações. A questão da expulsão dos cristãos de Bali trataremos adiante mais detalhadamente.

A formação da igreja protestante nas ilhas Indies é considerada pelos cristãos hoje como uma incoerência, estando os sentimentos divididos sobre o assunto. Os pastores eram oficiais do Estado que recebiam seus salários diretamente do governo holandês. Era algo similar ao que ocorreu no tempo de Constantino “O Grande” – qualquer um que quisesse progredir em sua vida particular teria necessariamente de se tornar cristão para que tivesse como alcançar seus objetivos. Foi assim que a igreja cristã nasceu na Indonésia e isso contribuiu para que nem as tradições pagãs e nem as crenças hindus fossem extintas da vida da igreja.

Para além da Igreja que era o próprio Estado em si, também surgiram obras missionárias de vários tipos e de outras igrejas locais em Java, Bali, Celebes, Bornéu, Sanghir, Nias, Sumatra, Sumba e Nova Guiné – para mencionar apenas algumas das mais importantes. A leste de Java a formação duma Igreja Indonésia fica para sempre ligada ao nome de um relojoeiro Germânico, o irmão Endo. Um cristão vindo da Rússia, irmão Coolen, também deveria ser mencionado neste capítulo.

No século XX, quando a era da descolonização começou, o poder das forças coloniais holandesas foi sucumbindo gradualmente. Na Indonésia um movimento fundado em 1908, conhecido como “Ressurgimento da Ásia”, foi ganhando terreno. Esta tendência sublinhou as lutas do povo Indonésio em prol da sua independência.

Durante a Segunda Guerra Mundial o País foi ocupado pelos japoneses por três anos e meio. Depois de sua retirada a Indonésia declarou sua independência no dia 17 de Agosto de 1945 e criou uma Constituição, conhecida como Pantja Sila. Contudo a Constituição não pôde ser implementada devido à recusa holandesa de reconhecer sua independência. Isto resultou numa guerra de libertação que durou mais ou menos quatro anos. Sob pressão da ONU e muito especialmente dos americanos, os holandeses finalmente cederam e abandonaram o país em 1950.

Mesmo assim esta terra não foi capaz de achar seu descanso. O inimigo que se seguiu era interno e vindo do seu próprio povo. Primeiro o poder colonialista teve de ser quebrado. Seguiu-se uma batalha contra um maior inimigo para os Indonésios.

 

II.            O tributo de sangue da indonésia

 

Através da tentativa de golpe de estado de 1 de Outubro de 1965, a Indonésia foi forçada a uma mudança radical da sua história. Atualmente existem revoluções de várias dimensões num ou noutro canto do mundo praticamente todos os dias do ano. Contudo devido ao curso dos acontecimentos do mundo hoje eles raramente são notados. E mesmo assim as circunstâncias da Indonésia são um tanto ou quanto excepcionais. Aqui os acontecimentos que tomaram posse do curso do país foram de importância crucial para o desenvolvimento político do leste de toda a Ásia.

Sempre se soube que o presidente anterior Sukarno alimentava simpatias comunistas quando a parte oeste da Nova Guiné foi forçada a estar sob administração Indonésia em 1 de Setembro de 1963. Logo ali os missionários previram grandes dificuldades em relação ao seu trabalho.

A premonição tinha razão de ser. A influência comunista cresceu no país. Qual seria o resultado final? O resultado foi completamente diferente daquilo que os comunistas esperaram.

 

O Massacre planeado

 

No dia 1 de Outubro de 1965 os comunistas tentaram obter o controle do país. Seu primeiro objetivo foi remover todos os generais e oficiais dos seus respectivos postos. Os comunistas tinham os seus próprios oficiais prontos e à espera para tomarem os lugares que iriam vagar.

Somente em Jacarta seis generais foram presos durante o primeiro massacre comunista. Eles foram tratados em conformidade com as práticas comunistas da época na Ásia. Os seus olhos eram parcialmente puxados para fora das órbitas e as vítimas mutiladas eram forçadas a correrem nus entre mulheres comunistas treinadas para o efeito, as quais espetavam os pobres generais com facas até que sucumbissem sob tortura. Contudo, escaparam dois da hierarquia em Jacarta. O primeiro desses foi Suharto. Seu filho estava gravemente doente no hospital na hora que se deu o início da revolta e ele foi obrigado a passar a noite ao lado da criança. Quando os comunistas o procuraram em sua casa não foram capazes de o achar.

Este pequeno imprevisto foi o suficiente para frustrar a revolução dos comunistas, a qual fora planejada minuciosamente. Suharto era a cabeça da estratégia da reserva. Ele alertou seus homens imediatamente e através de seu primeiro ato de retaliação apoderou-se da rádio de Jacarta.

Humanamente falando esta simples ação salvou as vidas dos cristãos e dos missionários do país. Os comunistas estavam à espera de um comunicado que seria difundido pelo pelas estações de rádio do país, para assim começarem o seu assalto final. Mas, estas ordens de ataque não chegaram e o ataque morreu antes de nascer.

A contra iniciativa de Suharto trouxe para a luz as listas daqueles que se encontravam na lista negra dos comunistas. Estes continham os nomes de cada oponente político dos comunistas.

A lista religiosa continha nomes de todos os sacerdotes e líderes muçulmanos, juntamente com todos os sacerdotes católicos e missionários protestantes. As comunidades cristãs da Indonésia teriam sido sumariamente eliminadas através deste golpe perfeito, caso Deus tivesse permitido o sucesso dessa revolução.

O segundo general a escapar das garras dos comunistas foi Natsution, que antes havia sido o ministro da defesa. A sua sobrevivência nas mentes dos Indonésios deve-se, tal como a de Suharto, a um pequeno milagre.

Quando os comunistas forçaram seu caminho para dentro de sua casa, Natsution quis entregar-se. Contudo, sua esposa não o permitiu. A primeira bala dirigida a ele falhou o alvo, mas infelizmente acabou por atingir a sua filha pequenina, a qual tinha acabado de sair de seu quarto correndo para o corredor. Morreu algum tempo depois.

Natsution escapou por uma porta das traseiras. Sua esposa correu com ele até o muro do jardim. Ele subiu nos ombros dela e foi assim que conseguiu alcançar os terrenos vizinhos, os quais pertenciam a uma embaixada estrangeira. Os dois cães de guarda existentes nesses terrenos também o deixaram escapar miraculosamente sem o importunarem. Entretanto, em sua casa um outro ato de amor cristão foi demonstrado. Um ajudante e oficial de Natsution era Cristão. Para poder encobrir a fuga do seu chefe, quando os comunistas perguntaram “você é Natsution?”, ele respondeu “sim, sou eu mesmo”. Ele foi abatido logo ali.

Os cristãos podem questionar se este homem deveria ter mentido ou não antes de morrer. Seja o que for que pensem, este ajudante fez o que fez apenas para salvar a vida do seu superior hierárquico e este ato de amor cristão prático será avaliado à luz da eternidade, acima de ser avaliado através das visões doutrinárias inflexíveis de muita gente.

 

A terrível retaliação

 

A maneira horrível como os generais haviam sido mutilados indignou os Indonésios e provocou-os a uma ira incontrolável. Juntamente com isto um outro incidente, o qual mais tarde foi vergonhosamente abafado, embalou a revolução em toda nação. As mulheres comunistas, para além de outras atrocidades que cometeram, virtualmente violaram os pobres generais enquanto estavam amarrados. E então, por último, o perigo mortal que estava ameaçando os sacerdotes muçulmanos provocou uma ira pública sem precedentes. Temos de ter em conta que 90% da população da Indonésia é muçulmana.

A subseqüente retaliação para a qual os muçulmanos foram provocados causou verdadeiramente mortes a mais pessoas do que aquelas que haviam morrido até então na guerra do Vietnam. Uma onda de anticomunismo varreu o país de ponta a ponta. À noite, pessoas movidas para a vingança, entravam pelas casas dos comunistas e outros que eram suspeitos, assassinando todos os homens que encontrassem. Esta onda de assassinatos custou à região algo como um milhão de vidas só nos meses de Outubro, Novembro e Dezembro de 1965. O mundo ocidental foi mantido sem qualquer informação da extensão destas medidas retaliatórias infligidas pelo povo Indonésio. Pelo menos desta vez os comunistas receberam em troca tudo aquilo que fizeram aos outros.

As contas e as conclusões finais dessa série de assassinatos foram terríveis do ponto de vista de vidas humanas e atrocidades cometidas. Em muitas vilas a leste de Java nem um único homem sobreviveu. Enormes covas eram abertas onde os comunistas assassinados eram lançados em massa para serem enterrados.

Imaginemos a dor que caiu sobre as famílias Indonésias: crianças sem pai e esposas sem marido! Este foi seguramente o único lugar em todo mundo onde os comunistas sofreram aquilo que eles próprios infligiram sobre outros povos na Rússia, na China comunista, em Cuba e em tantos outros países por este mundo fora, durante décadas e décadas.

 

O sofrimento dos cristãos

 

Os muçulmanos contentavam-se principalmente com a liquidação dos seus inimigos políticos, mas em outras partes do mundo como no leste da Nigéria e no sul Sudão eles aproveitaram a onda para atacar igualmente os cristãos, seus “inimigos” espirituais.

Por exemplo, uma família cristã numa vila muçulmana tentou aliviar a dor das esposas dos homens assassinados. Isto foi precisamente o que os muçulmanos estavam esperando. “Nós temos provas”, diziam eles, “que os cristãos são parceiros dos comunistas”. Voltando a atenção para casa dessa família, eles entraram, mataram o esposo e forçaram a pobre senhora a cozinhar para eles cada dia e também a lavar as suas roupas manchadas de sangue.

Os comunistas perseguidos frequentemente procuravam ajuda entre os cristãos porque sabiam que essa ajuda não lhes seria negada. Isto, com toda certeza, provocou os muçulmanos, os quais repetidamente clamavam pelas ruas: “os cristãos e os comunistas estão coligados!” Por esta razão, em muitas áreas, a perseguição aos comunistas alargou-se também para o lado dos cristãos.

No entanto o Senhor cuidou dos seus filhos. Um missionário de Bornéu, o qual viveu a confusão na ilha, relatou-me o que aconteceu em seu próprio distrito. Ele disse: “Entre as perseguições sangrentas e as atrocidades assustadoras, tivemos oportunidade de ver o poder de Deus operando, porque nenhum dos trezentos cristãos da área foi morto. O Senhor não permitiu que nem um cabelo de suas cabeças fosse beliscado”.

Um outro missionário que trabalhava noutra ilha disse: “Quando os assassinatos começaram, um jovem professor comunista foi procurar refúgio dentro da comunidade cristã. Enquanto esteve com os cristãos foi-lhe mostrado o caminho para Cristo. Ele vinha diariamente ter com os cristãos os quais oravam com ele regularmente. Mesmo que houvesse sido originalmente levado até eles devido ao seu temor, ele testificou mais tarde que o Senhor era de fato seu Salvador”.

Tempos depois um informante denunciou o caso aos muçulmanos. Indo para a igreja onde o professor costumava passar a noite, eles ficaram de vigia para o apanharem e uma manhã puxaram-no para fora e degolaram-no em frente da igreja. Os muçulmanos, de seguida, voltaram-se contra os cristãos. ‘Isto é mais uma prova de que vocês são comunistas’. Depois de alguma discussão entre os líderes muçulmanos, foi decidido massacrarem a população cristã na sua totalidade e em todo o distrito; mas Deus interveio. Uma companhia de soldados chegou ao local vindo dum batalhão próximo dali, os quais decidiram proteger os cristãos durante meses, até que os problemas houvessem passado. (Eu tive a oportunidade de visitar esta comunidade pessoalmente).

A intervenção militar nesta instância foi deveras marcante. As tropas governamentais, por norma, nunca se preocupavam com a onda de assassinatos que iam ocorrendo. As únicas perguntas que eles faziam eram: “Por quem é que nós devemos lutar? Qual o lado que está certo? Caso os comunistas tivessem triunfado tudo seria diferente”.

Esta luxúria muçulmana para derramar sangue foi muitas vezes a origem de muita ansiedade entre os cristãos. Um cristão chinês na ilha de Java disse-me uma vez: “Nós somos um espinho na carne dos muçulmanos de três maneiras: em primeiro lugar, eles não gostam de nossa raça; em segundo, eles têm ciúmes de nós, porque os chineses trabalham mais do que eles e obtêm maior sucesso em seus negócios; e em terceiro lugar, eles simplesmente nos odeiam por sermos cristãos”.

Eu também testemunhei este tipo de relacionamento tenso em todos os países do oriente. Cidades e países com uma forte presença chinesa, tendencialmente expandem-se e prosperam mais rapidamente que as outras áreas circundantes. Esta é a principal razão porque a Malásia e Singapura experimentaram um tão grande desenvolvimento econômico. Em ambos estes países, pelo menos 50% da população é de origem chinesa.

Olhando para o futuro, os conflitos são propícios a ocorrerem e em alguns casos já aparecem no horizonte. Por exemplo, os cristãos queriam construir uma igreja no subúrbio de Jacarta. Contudo, a população da área consiste majoritariamente de muçulmanos e esses logo acharam maneiras e mecanismos de impedirem a construção dessa igreja.

Similarmente, um médico cristão relatou-me como ele comprou um grande pedaço de terra de um muçulmano para ali poder construir um hospital cristão. Quando os muçulmanos vieram a saber qual a finalidade do prédio em construção, ele cancelou a venda durante as últimas legalidades da venda. O médico perdeu muitos milhares de dólares americanos devido à ocorrência. Mesmo que ele estivesse legalmente correto, ele decidiu nunca levar o caso a um tribunal muçulmano devido ao temor sobre o que estava escrito em I Coríntios 6.

Chegará o dia em que os muçulmanos entrarão em conflito aberto contra os cristãos. Essa é uma parte da realidade colocada como cenário diante do mundo antes que ele acabe. Os seguidores de Cristo irão passar por maiores e maiores provações antes que o Senhor venha em sua glória e os liberte de todas as suas dores.

 

III. A ECONOMIA DO PAÍS

 

Este livro é fundamentado por várias visitas que fiz à Indonésia e mesmo que as condições de 1966 e 1967 não sejam necessariamente as mesmas atualmente, a ilustração do crescimento que a Indonésia experimenta hoje, é de grande valor.

Numa das minhas primeiras visitas ao país fui imediatamente confrontado com a pobreza da população em geral. Jacarta, a qual na altura seria uma cidade com cerca de três milhões de habitantes, para além de alguns edifícios construídos com propósitos claros de busca de prestígio e aprovação, provou não ser mais que um aglomerado de estradas ruins, cabanas a caírem, cores horríveis e de pessoas subnutridas.

Durante os períodos de seca, a fome e a devastação logo se tornaram evidentes em muitos locais. Anteriormente, eu não tinha nenhuma concepção sobre a situação real existente na Indonésia. Normalmente, quando alguém fala de fome, temos tendência em pensar logo na Índia.

Durante estas minhas primeiras visitas ao país testemunhei diariamente demonstrações públicas de estudantes e alunos escolares. Inicialmente achei alguma dificuldade em tolerá-los devido ao barulho incessante e infernal dos seus gritos e de suas palavras de ordem. Contudo, fui confrontado com duas coisas distintas sobre esses manifestantes, as quais os contrastam fortemente com os loucos e descontrolados manifestantes da Europa e da América. Primeiramente, as procissões movimentavam-se nas ruas numa ordem perfeita. Não havia violência de qualquer tipo. E qual a segunda razão? Bem, na altura eles realmente tinham uma razão sobre para se manifestarem, algo que não pode ser dito da maioria dos manifestantes ocidentais.

O que os motivava? A sua fome! Por quê? A razão era que nas semanas anteriores o preço do arroz havia subido para mais de cem rúpias o quilo. Isto era o equivalente ao que um motorista duma fábrica ganharia de salário com um dia de trabalho. E ainda por cima, um quilo de arroz não durava muito tempo quando se tinha uma família inteira morrendo de subnutrição.

Os estudantes universitários e do ensino básico que eu tive oportunidade de presenciar, tinham justificação mais que suficiente para atraírem as atenções sobre o seu dilema. Se isso iria resolvê-lo, era uma questão à parte. Um dos membros do governo disse uma vez num discurso: “Se gritar alto ajudasse a baixar os preços do arroz eu seria um dos que gritaria mais alto”.

Qual é basicamente a raiz deste problema? Será a Indonésia capaz de alimentar sua própria população? Bem, em teoria a resposta seria sim, porque a sua área de cultivo é capaz de suportar não somente a população atual de 110 milhões de habitantes, mas seria até capaz de suportá-la mesmo que fosse multiplicada por três ou quatro vezes.

O país é de fato extremamente grande e é constituído por três mil ilhas separadas, alcançando cerca de quatro mil milhas de extensão, ou seja, cerca de 7.000 km de ponta a ponta. A terra em si, também é muito fértil e necessita apenas de ser cultivada.

Isto, contudo era precisamente um dos muitos problemas que necessitavam ser resolvido. Não existe qualquer plano sistemático para limpar o terreno e torná-lo arável. Quão fácil seria transformar as escarpas montanhosas em abundantes plantações de arroz. Seria apenas uma questão de conseguir armazenar a água durante a época das chuvas. Mas, ao invés disso, a água escorre pelas montanhas e transforma-se em grandes enxurradas que acabam por destruir as vilas nos vales abaixo dessas montanhas. Durante minha permanência em Jacarta a água estava a uma altura a cerca de 30 cm.

Devido a uma exploração insuficiente da terra, é preciso importar o arroz. Em 1968 foi-me dito que faltavam 600 mil toneladas de arroz para suprir as necessidades do país. “E de onde importam vocês o arroz, então?” Perguntei eu. “Da índia e de outros países asiáticos?” “Não, eles também não têm o suficiente para o seu próprio consumo! O arroz vem da América e é realmente muito amável da parte deles, porque nós nem sequer temos moeda estrangeira para que possamos comprar”.

O resultado foi que o arroz que tinham estivesse a ser comercializado a preços exorbitantes. Por essa razão, enquanto a população rica armazenava o arroz que recebiam, os pobres nunca seriam capazes de suportar o preço da compra e eram deixados à deriva para que achassem outras maneiras de encherem seus estômagos. Um importador disse-me: “Nós já estamos a comprar comida que se dá aos porcos nos Estados Unidos e misturamos com o pão”.

Mesmo assim, a Indonésia não tem qualquer necessidade de passar fome. É um país muito rico. No tocante a minérios e recursos minerais este país é considerado como o terceiro mais rico de todo o mundo.

Mas para que servem seus recursos naturais, no entanto, se não são explorados? A industrialização é sempre anda sempre em paralelo com uma agricultura eficaz. Existia uma falta clara de especialistas e de pessoas formadas para o efeito e mesmo que existissem nunca seriam capazes de obter os postos de trabalho para os quais haviam sido formados. As rédeas do país sempre estiveram nas mãos de oficiais militares. A Indonésia sempre foi um Estado militar. Isto significa que todos os postos importantes, ao invés de serem ocupados por pessoas especializadas, eram mantidos por oficiais de alta patente do exército.

O que é que um general sabe sobre agricultura ou exploração de minas? Normalmente não sabe nada. Dar provas de si mesmo numa parada militar ou no uso de armas, não qualifica ninguém automaticamente para um plano de sustentação da economia dum país.

“O exército arruinou literalmente a economia do país”, foi-me dito uma e outra vez. A população sempre apontou para o fato de os oficiais seniores haverem tomado para si as diretorias das empresas anteriormente holandesas e bem estabilizadas. Os resultados sempre foram desastrosos. Somente em 1967 cerca de 2.000 empresas importadoras entraram em situação de falência ativa. A situação precisava ser resolvida urgentemente.

Passeando por um shopping de Jacarta, vi muitas prateleiras vazias nos estabelecimentos comerciais, pois os donos dessas lojas não tinham capacidade para comprar os produtos que lhes faltavam devido à falta de capital. Estavam, por isso, preenchidos com produtos de baixa qualidade.

Este era o cenário dos primeiros anos seguintes ao fim das greves gerais que então houve no país. A pergunta é agora, se o governo é ou não capaz de clarificar esses problemas. Na minha visita mais recente pude verificar que alguns dos problemas da Indonésia já estavam sendo domados de forma eficaz.

No fim do ano de 1968, o governo começou a recolocar os especialistas nas suas devidas funções de responsabilidade. Foi então que, no dia 1 de Abril de 1969, um plano de cinco anos para desenvolvimento do país foi introduzido. O preço do arroz baixou tão dramaticamente que chegou a atingir zero do que era em 1967. Também não mais necessitavam importar o arroz que era dado aos porcos nos Estados Unidos para ser misturado com pão. As lojas estavam novamente repletas de bens. O país conseguiu superar a crise de estagnação que se havia instalado na economia.

É muito errado dar ouvidos àquela propaganda que os comunistas fazem hoje em relação à Indonésia. Pensemos um pouco no que seria deste país caso os comunistas houvessem tomado conta das rédeas dele. Certamente que seria mais um caso de miséria em massa organizada, tal qual acontece em todos os países comunistas desse mundo.

Existem três fatores fundamentais que devemos reconhecer quando tentamos acessar as características políticas e econômicas da Indonésia. Eles são:

1.                  Em primeiro lugar, o exército preveniu que o país entrasse em colapso sob a ameaça dos comunistas. Por essa razão todo mundo asiático deveria mostrar-se agradecido.

2.                  Ao governo precisamos dar um tempo para reconstruir a economia destruída. Os cerca de 20 anos desde a saída dos holandeses do país são muito poucos para que uma comunidade lutadora e desenvolvida se possa firmar, particularmente porque antes eram sempre colocados em antagonismo com o desenvolvimento.

3.                  Para um povo que conseguiu sua independência apenas há duas décadas atrás, será necessário que aprendam a consolidar e a preservar os valores de liberdade que, entretanto, conquistaram. Ninguém consegue alcançar o impossível. Será que os Estados Unidos e a Suíça se fizeram tudo aquilo naquilo que são hoje apenas em poucos anos?

Contudo, durante este breve período de independência da Indonésia, muito já foi alcançado. Alcançou um nome próprio dentro do mundo da liberdade e encontra-se hoje a melhorar substancialmente e a consolidar cada vez mais a sua posição econômica no mundo desenvolvido.

 

Se quiser desesperar-se, vá por via aérea

 

O que significa este provérbio? É com muito humor em suas vozes que os Indonésios usam essas palavras para descreverem a falta de regularidade das suas próprias linhas aéreas, uma inconstância permanente à qual nós próprios fomos sujeitos. Éramos cerca de 80 pessoas em Jacarta esperando um vôo para o leste de Java para participarmos numa conferência que se realizaria lá. Durante dias e dias, a única coisa que pudemos fazer dentro do aeroporto foi sentarmo-nos ora num lugar ora noutro e esperar. Foi um grande teste para a paciência de todos e posso afirmar que para mim pessoalmente também foi uma grande bênção.

Enquanto esperávamos, consegui fazer vários contactos. Uma das primeiras pessoas com quem comecei a falar foi o Rev. Ward, o vice-presidente da ‘World Vision’. Ele havia-me ouvido falar uma vez na Califórnia. Na tentativa de apanhar um outro avião, ele entrou num táxi e fez uma viagem de quase 30 horas – podíamos ver facilmente a exaustão estampada no seu rosto. Mas, em vez de se queixar, as suas únicas palavras eram: “Bem, creio que nosso desapontamento é o apontamento de Deus”. A sua atitude era simplesmente maravilhosa. Apesar de todos os problemas a que foi sujeito devido à falta de eficiência do seu próximo, nem uma palavra de queixume saiu dos seus lábios. Este missionário estaria certamente uns degraus acima do que eu estava na escola de Deus.

A bíblia e a vida muitas vezes ensinaram-me aquela lição de que Deus pode transformar nossos tempos de desespero em bênçãos secretas. A este respeito, as histórias do Velho Testamento sempre foram para mim valiosamente proveitosas.

Considerem, por exemplo, a história de José desde Gen.37-50. José foi lançado primeiramente num posso sem água pelos próprios irmãos e vendido a alguns negociantes midianitas. Imaginemos a angústia e a saudade de casa que o entristeciam. Contudo, essa sua aflição, ou antes, esse crime cometido pelos irmãos de José, foi transformado após muitos anos, numa das maiores bênçãos vinda da parte de Deus para com a humanidade. Quando a fome atormentou os humanos José foi capaz de salvar tanto seu pai quanto seus irmãos e foi desta sua maneira peculiar que ele executou o plano que Deus tinha para salvar a humanidade, pois foi através de sua migração para o Egito que os filhos de Israel proporcionaram tornarem-se aquela nação da escolha de Deus.

O atraso insuportável que sofri da parte das Linhas Aéreas Indonésias, GERUDA, trouxeram consigo variadíssimas surpresas. A única razão porque as descrevo aqui é para ilustrar a grande bondade de Deus para conosco devido ao fato de ele sempre esconder uma bênção no interior de cada desapontamento que possamos encontrar, desde que em Seu serviço.

Quando meu acompanhante me apresentou pelo meu último nome a um australiano que esperava conosco, o homem rapidamente exclamou: “Dr. Kurt Koch? Eu o ouvi falar numa igreja Batista na Austrália!”

Meia hora depois eu conheci um outro australiano apresentando-me apenas pelo meu nome Koch, ele replicou: “Eu tenho alguns livros de um Dr. Koch da Alemanha. Eles ajudaram-me muito em minha obra. Por acaso o senhor o conhece também?”. Eu? Conhecê-lo? Claro que o conhecia muito bem. Não conseguirão imaginar a surpresa que vi estampada no rosto daquele homem. Ele logo ali me convidou para ir falar em sua igreja em Melbourne em vários discursos e a coisa mais encorajadora foi verificar que as datas a que ele apontou encaixavam com muita perfeição dentro do programa planejado para a minha visita à Austrália.

Mas a melhor experiência de todas foi a última. Durante anos estive tentando encontrar o rastro de Bakth Singh. Era o evangelista mais conhecido da Índia. Nada menos que trezentas igrejas novas foram fundadas através dos seus esforços missionários. Em muitas cidades grandes ele consumou vários cultos em massa envolvendo milhares de pessoas sem um único recurso aos meios de publicidade abusadora e exploradora que os americanos propagaram pelo mundo.

Sempre tentei encontrá-lo em alguma ocasião ou pelas digressões pela Índia, mas nunca obtive qualquer sucesso. E eis agora, aqui estávamos um olhando para o outro numa manhã cheia de irritações e desapontamentos. Sentámo-nos a conversar durante horas porque ele estava esperando o mesmo vôo que eu.

Foi deveras uma ocasião maravilhosa e enquanto eu o questionava sobre sua vida, ele teve a oportunidade de me contar sobre a maneira como se converteu. No final, ele disse-me: “Vamos procurar um lugar sossegado onde possamos orar juntos?” O meu novo amigo de Melbourne ainda se encontrava comigo e achamos um lugar mais reservado onde passamos meia hora em oração e na qual nos esquecemos dos problemas que nos rodeavam. Bakth Singh também havia sido afetado pelo atraso. Ele já deveria estar discursando na mesma conferência para onde nos dirigíamos a leste de Java e, mesmo já tendo sessenta e cinco anos de idade, também foi forçado a sujeitar-se a uma viagem de comboio de dezoito horas assim que descobrimos que não teríamos qualquer hipótese de continuar nossa viagem por via aérea.

A comunhão que eu pude usufruir com este irmão abençoado durante os 14 dias seguintes, foi uma inexplicável bênção para mim. Quando nós enfim, nos separamos, ele convidou-me para ir a Hyderabad para discursar lá durante algum tempo. Eu tinha intenção de aceitar aquele convite durante uma altura dos próximos meses.

O provérbio inglês, na verdade, cumpriu-se. Sem esta falha da companhia aérea em nos providenciar um vôo, nunca teria achado esta oportunidade de comunhão com tantos outros missionários que se acharam ali presos comigo dentro do aeroporto de Jacarta. Aquilo que o diabo arruína, Deus refaz e molda naquilo que quer.

 

IV. BALI, A ILHA DO DIABO

 

No tocante à beleza paisagística, Bali é sem dúvida uma das pérolas das ilhas Indonésias. Descrever a beleza desta ilha num único relato seria praticamente impossível. Uma das primeiras coisas que tive oportunidade de apreciar a partir do hotel pobre e extremamente primitivo onde me encontrava, foi a praia. As ondas brincavam com a areia a uns 40 metros de distância da varanda de onde as apreciava. Diariamente traziam para fora da água quantidades enormes de estrelas-do-mar, moluscos e outras criaturas, as quais os habitantes locais recolhiam assim que na maré baixava. Depois, agradeciam ao mar pela bênção que, diziam, o deus mar lhes deu.

Para além das ondas nos corais do recife, a uns 500 metros de distância, as águas fervilhavam noite e dia. Apenas um mal aconselhado nadador se atreveria a entrar naquelas águas. Um jovem médico alemão pagou essa audácia com sua vida, tendo sido levado pelo mar. O seu quarto ficava apenas a duas portas do meu.

Ao largo da baía, podemos identificar nada menos que três vulcões. O maior deles, o grande Agung de dose mil pés de altura, estava ativo enquanto permaneci em Bali.

Bali herdou muitos nomes através dos turistas que a visitam. Alguns turistas chamam-na “A Ilha do Paraíso” e outros “A pepita dos Trópicos”. Quando Nehru visitou Bali, em 1954, ele cristianizou seu nome, chamando-lhe “O Alvorecer do Mundo”.

Pulau Dewata – Ilha dos Deuses – é o que os indonésios chamam à sua ilha. Eles deverão saber melhor que ninguém. Mas, quem são estes deuses? Certamente nenhum deles saiu do Velho ou do Novo Testamento. Tendo sempre em conta o nome local desta ilha e conforme se iam familiarizando com as práticas de seus habitantes, os missionários renomearam-na para a “Ilha do Diabo”.

 

A vida religiosa de Bali

 

O nome “Ilha do Diabo” já soa a desafio para qualquer crente em Deus. Precisamos explicar o que isso realmente significa.

A religião tribal ancestral dos Balineses é uma forma politeísta de adoração da natureza. Crêem que cada cemitério, rocha, montanha e caverna têm um espírito próprio. A cerca de 40 milhas a noroeste de Denpasar, dois mil búfalos selvagens ainda vivem em seu enorme cemitério, sendo venerados como animais sagrados. Ninguém os pode matar. São considerados espíritos encarnados dos nativos que morreram e foram enterrados naquele extenso cemitério.

Após a introdução inicial do país ao Hinduísmo e mais tarde do Budismo, juntamente com o Animismo que já existia por lá, os templos Balineses logo começaram a demonstrar o seu sincretismo religioso. Para além dos vários deuses relacionados com a natureza, também encontramos aqui os deuses indianos Shiva, Brahma e Vishnu.

Os problemas emergentes dessa mistura religiosa foram cuidadosamente ultrapassados através duma certa dose de perícia da parte dos nativos. Enquanto Buda ensina a não matar, os ancestrais deuses da natureza Balineses exigem sacrifícios de sangue. Como iria ser resolvido esse dilema? Muito facilmente! Os animais eram deixados a matarem-se uns aos outros.

Esta é uma das razões para o surgimento das horríveis lutas de galos nestas ilhas. Ao lado do templo Taman Ajun existe uma arena gigantesca onde esta forma de entretenimento se realiza. Os galos são bem alimentados antes das lutas. Os seus donos dão massagens em seus pescoços durante semanas a fio para assim fortalecerem os seus músculos. Também compram amuletos aos mágicos para fazerem de tudo para que seus galos possam vencer. Milhares de pessoas juntam-se para assistir a estes espetáculos horrendos. As competições duram até uma das aves morrer. Então é trazido um próximo par para lutarem.

Através destas lutas de galos foi trazido consenso entre deuses Indianos e Balineses. Os habitantes da ilha não matam animais. Mas, os galos matam-se. E é assim que os deuses da natureza conseguem seus sacrifícios de sangue.

Estes campeonatos, contudo, revelam um outro lado grotesco. Um ilustre visitante perguntou a um governador do distrito: “Por que é que não proíbem estes espetáculos grotescos? É uma mancha enorme na vossa cultura!” O governador respondeu: “Existe uma terrível luta interior e falta de paz dentro de cada nativo de Bali. Nós necessitamos desse tipo de escape. As lutas de galos funcionam como meras válvulas de escape. Se não tivéssemos essas lutas, teríamos provavelmente problemas maiores. Por isso, este mal menor mantém outros males piores longe do horizonte”.

Ao Balineses também criaram outros compromissos devido às misturas da sua religião com os deuses da natureza e com as religiões vindas da Índia. Durante milhares de anos existem nos cardápios os famosos pratos de cachorro. O pior de tudo é que estes cachorros são verdadeiramente nojentos e alimentam-se quase exclusivamente de excrementos humanos. São cachorros vadios que são apanhados, os quais são a “unidade de saneamento sanitário” das aldeias e cidades. Mas, o Budismo proíbe matar e comer animais. Os Balineses acharam um jeito muito próprio de se redimirem diante de Buda antes de matarem um animal, oferecendo uma oração a um dos seus deuses pedindo perdão e prometendo uma pequena porção da carne como oferenda: “Nós damos-te um pouquinho de nossa carne de cachorro!” De seguida estão prontos para saborearem o seu cachorro, se saborear é a palavra correta!

 

Templos e Danças

 

O templo Taman-Ajun o qual já mencionei anteriormente, é uma curiosidade real. Os Balineses chamam a este templo “Hotel dos Deuses”. É uma excelente terminologia. Até eu ter chegado cá nunca me teria apercebido que os deuses também passavam férias. Uma pessoa tem logo tendência comentar aquilo que o Elias disse em I Reis 18:27, quando desafiava os profetas de Baal exclamando: “Gritem mais alto, talvez o vosso deus tenha saído para algum lugar”.

Mas isto é aparentemente aquilo que dizem acontecer com os deuses Balineses. Estes nativos acreditam que os deuses se encontram neste templo uma vez por ano para uma conferência. Alguns vêem de muito longe e outros de mais perto. Antes deles se reunirem no maior templo de Bali, Besaki, eles passam a noite no templo Taman-Ajun. Depois disto vão para sua conferência em Besake, o qual fica situado nas escarpas montanhosas do vulcão Agung. Durante a erupção do vulcão em 1963, parte deste templo foi destruída. Contudo, os deuses ainda não pediram ajuda ao mundo ocidental, pois o templo ainda espera reparação. Elias poderia dizer a mesma coisa hoje que disse naquele tempo.

Certas danças de rituais famosas são realizadas durante as festas dos templos.

A primeira dança é a do fogo. Os que dançam são colocados em transe por um sacerdote. Uma fogueira é acesa diante do templo. Cada dançarino é persuadido que ele é um cavalo perseguido por um tigre. Ele começa a tremer. Em seguida o sacerdote convence-se que, o seu único caminho para escapar, é através do fogo. É assim que o dançarino hipnotizado passa correndo sobre o fogo. A seqüência é repetida várias vezes perante uma audiência entusiasta. Quando o dançarino é tirado do transe pelo sacerdote, mesmo estando completamente coberto de suor, ainda revela sinais de terror estampados no seu rosto e os seus pés não manifestam qualquer sinal de queimadura.

Outra dança é ainda mais famosa: a dança da faca. Esta é a maior atração de Bali, a qual atrai milhares de turistas à ilha todos os anos.

O calendário Balinês tem 10 meses de 35 dias cada. O dia de ano novo e outros festivais tendem a oscilar nas suas datas. Dois destes festivais são chamados Galungan e Kunigan.

O maior e mais importante festival é, contudo, Melis. Como parte deste festival, sacrifícios são trazidos para as praias. Os sacrifícios são feitos antes de a maré subir. É bastante notável como depois destes sacrifícios uma grande onda vem colhê-los. Os Balineses mantêm por isso a crença que isso revela apenas que os deuses aceitaram suas oferendas. Mas, na verdade, é apenas um fenômeno natural, pois a maré costuma chegar ali bem mais suavemente. Somente na data deste festival é que existe essa subida brusca das marés.

Quando os sacrifícios terminam é quando os nativos começam a dançar. E conforme dançam tentam contar uma história ancestral mitológica. O alvo deles é matar uma feiticeira chamada Rangda. Ela, contudo, consegue sempre escapar a seus inimigos. Os homens viram suas espadas contra eles próprios e enquanto fazem isso um deus amigo vem ajudá-los e as pontas aguçadas das suas espadas são impedidas de penetrarem em sua própria carne. A implicação mitológica deste teste é que, mesmo que o dançarino tenha intenção de matar a feiticeira Rangda e ela consiga virar as suas espadas contra eles através de seus poderes mágicos, todo o vingador do mal será sempre protegido e ajudado. Por detrás dessas representações podemos colher o conceito de o bem triunfar sobre o mal. Basicamente, os dançarinos são todos induzidos para atuar em transe. Este fenômeno de transe é muito vulgar em toda Ásia. Eu pessoalmente tive muitas oportunidades de testemunhar eventos como este, pois, os seus procedimentos dão-se sempre no exterior. Mesmo que seja muito fácil entrar numa multidão que se reúne para assistir a um espetáculo desses, eu nunca assisti deliberadamente a nenhum deles pois eu creio que um cristão deve evitar qualquer ritual pagão, desde que lhe seja possível.

 

A Guerra de Magia

 

De tempos a tempos em vários outros livros meus, mencionei os duelos de poderes mágicos. Quando cheguei a Bali em 1968 e fui chamado a intervir numa conferência de pastores todos me disseram: “Você chegou na hora certa. Existe um duelo mágico neste preciso momento em Bali”.

Um desses pastores relatou-me o que se estaria passando. Existem guerras mágicas em Bali desde tempos remotos. Estes duelos são, no entanto, mantidos secretos. Os turistas nem chegam a saber da sua existência. Essas batalhas só se tornam de conhecimento público quando os nativos Balineses que estavam envolvidos nelas se convertem ao cristianismo e começam a confessar os seus pecados secretos publicamente. Descobrimos que todos os mágicos da ilha (e existem bastantes) estão intimados e destinados a envolverem-se nestes assuntos.

Em Bali, tal como no Tibete, existem professores de magia. Cada qual tem os seus seguidores e discípulos e quando os seus pupilos chegam a alcançar certo nível de treinamento, estas guerras começam com o intuito de testar e fortalecer os poderes mágicos dos indivíduos nelas envolvidos. Estas olimpíadas mágicas são uma forma “pacífica” de combate.

A situação pode ser repentinamente alterada quando um dos combatentes morre. O duelo conseqüente traz muitas vezes a morte de um dos mágicos. As lutas, contudo, não são feitas com armas convencionais, mas antes com poderes mentais. Eles escondem-se debaixo de árvores assombradas, mais ou menos a 2 km umas das outras. É assim que eles se combatem através de poderes mágicos.

Caso um desses duelos se alastre para os amigos dos envolvidos, será então quando começam as guerras.

A guerra de magia de 1968 aconteceu da seguinte forma. Um dos mágicos pediu uma xícara de café num restaurante Balinês pequeno. O dono do restaurante, também um mágico, colocou veneno no café. O outro apercebeu-se do que lhe estavam fazendo e declarou guerra desafiando o dono do restaurante para um duelo de morte. Chamando os seus amigos para os ajudarem, as duas facções rivais tomaram os seus postos separados mais ou menos a 2 km. O sinal para a batalha começar consistia em duas luzes que vinham ao mesmo tempo, uma do leste e outra do oeste. Quando os nativos as viram, reconheciam-nas como luzes mágicas.

As guerras de magia são quase sempre limitadas a um mês de duração. Os feiticeiros guerreiam-se durante a noite e dormem durante o dia. Têm por hábito enviar primeiro os participantes com menos poderes para iniciarem essas batalhas. Quando recebi este relatório de um pastor local, ele acrescentou: “seis ou sete pessoas já morreram só nesta batalha, desde que começou”. No final deste conflito, os dois combatentes principais enfrentam-se pessoalmente e a guerra termina assim que o oponente mais fraco sucumbe e morre.

Muitas vezes perguntaram-me se uma guerra mágica não é sinal claro de que o diabo se encontra dividido contra ele próprio. Não! Quando dois homens lutam numa arena de boxe, o mais forte vence. Mas, nenhum dos dois deixa de ser pugilista e ambos continuam pertencendo à mesma profissão.

Antes de sair de Bali, tentei a todo custo saber um pouco mais sobre estas guerras de magia e, para isso, inquiri um nativo Balinês. Ele mostrou uma enorme surpresa ao perceber que eu sabia do que estava passando e perguntou: “como é que você veio a saber coisas sobre esses nossos assuntos ancestrais? Eles são cuidadosamente mantidos em oculto de todos os turistas e nós nunca revelamos nossos segredos a estranhos”. Eu não consegui descobrir mais nada deste homem.

 

Possessão Demoníaca em Bali.

 

Seria muito interessante para os filósofos da religião, para os parapsicólogos e para ministros evangélicos saberem que existem várias formas de possessão em Bali. Em nenhum outro país na terra achei tantas diversidades cuidadosamente diferenciadas. Isto dá-nos mais luz sobre esta “Ilha do Diabo”.

Em primeiro lugar, existem certas expressões em Balinês que não tem qualquer significado ético sequer. Referem-se apenas a um estado de possessão. Nestes tais termos incluem-se Kepangloh, Krangsukan, Kerauhan. Essas três palavras são meramente usadas para descreverem um inexplicável estado dos possessos.

Uma outra expressão, Daratan, tem sua origem numa palavra em Balinês Darati, a qual significa terra e descreve um tipo de possessão causado por espíritos da terra.

Kerasucan é usado para descrever um tipo de possessão onde a pessoa é acometida de um poder exterior a si mesma. É como se uma ‘auréola invisível’ fosse colocada sobre a vítima.

O termo Kemidjilan vem da palavra Midjil, a qual significa aparição. Este tipo de possessão está ligado a uma experiência com alucinações.

A palavra Bebainan originou-se da expressão Bebei, a qual significa ‘alma sem redenção’ ou então ‘pequeno demônio’. As pessoas atormentadas por esta forma de possessão são completamente controladas por ela. Especialistas Balineses são até capazes de distinguir entre diferentes tipos de doenças originadas por estas formas de possessão. Isto está acima daquilo que muitos psiquiatras do mundo ocidental alguma vez conseguiram fazer. Eu fiquei enormemente surpreendido com os conhecimentos psiquiátricos destes indígenas, os quais conseguem distinguir entre possessão Bebainan e a dança do Santo Vitus. Nunca ouvi falar de um psiquiatra ocidental que fosse capaz de fazer o mesmo e esses cientistas ocidentais têm, por norma, um ar de superioridade que levaria alguém a pensar que eles têm o monopólio da sabedoria.

Entre os fenômenos mais interessantes de possessão existe um conhecido como Sanghgang Tutut. Isso refere-se a um pedaço de madeira que se crê ter o poder de proteger uma pessoa. Isto é na realidade uma forma de possessão animista. Devido ao fato desses nativos acreditarem que todos os materiais inanimados possuem uma alma, isso leva-os a crer que essas mesmas coisas possam estar possessas. Do ponto de vista da história religiosa, isto trata-se obviamente de uma questão de panteísmo, mas também floresce nos perímetros da cultura cristã. O psiquiatra Dr. Lechler afirmou que não apenas pessoas, mas também casas poderiam ficar possessas. E nada menos que o Prof. Jung de Zurique também tem a mesma opinião. Contudo, nenhum deles ousou tornar públicas as suas opiniões. A razão eram seus temores de serem tidos como associados na loucura. Isto foi o que ele me confessou numa conversa em privado em Männedorf. Ele, contudo, escreveu o prefácio do livro do Dr. F. Moser intitulado “Fantasmas”. Estes fenômenos que o mundo ocidental tenta escamotear a qualquer custo são, no entanto, muito familiares aos nativos de Bali.

Os tipos de possessão acima mencionados não são de maneira nenhuma as únicas conhecidas em Bali. Isto foi apenas para demonstrar que a possessão demoníaca e demônios fazem parte do dia a dia de toda a ilha.

Como é que os cristãos e missionários deveriam enfrentar um problema desta envergadura? Nós podemos dar um grande suspiro de alívio que em Cristo todas essas coisas são vencidas e facilmente ultrapassadas. O poder da sua redenção e a eficácia do Seu sangue que Ele mesmo derramou por nós, são o suficiente para exterminar qualquer cadeia demoníaca que possamos vir a encontrar em nosso caminho. Naturalmente que cada cristão e ministro têm razões mais que suficientes para se alegrarem se Deus providencialmente prevenir que sejam obrigados a confrontarem-se diretamente com problemas como estes. Mas, qualquer um que seja chamado para contribuir para a cura das almas daqueles que são oprimidos através dos poderes do ocultismo, precisa saber qualquer coisa sobre a batalha onde se vai envolver. Nós não podemos de maneira nenhuma considerar pessoas mentalmente doentes como possessas e nem os possessos como mentalmente doentes. Os erros continuados neste campo não são apenas achados entre os psiquiatras, mas muito mais entre os ministros do evangelho. E tais erros levam a avaliações incorretas e a tratamentos extremamente pobres e inapropriados.

Um outro fator que dará um raio de luz na globalidade da situação em Bali, são as estatísticas médicas nesta ilha, as quais confirmam que 85% de todos os doentes desta ilha são doentes neuróticos. Não será isso apenas o outro lado dos transes induzidos, fenômenos mágicos e demoníacos que ocorrem por toda ilha?

 

Cristianismo em Bali

 

Considerando as circunstâncias que acabamos de descrever, nem nos poderemos surpreender com o fato de que o cristianismo progrediu muito pouco em Bali. Dos seus 2.000.000 de habitantes, 6.000 são cristãos protestantes e 4.000 católicos.

Deve ser levado em conta que entretanto se propagou uma triste combinação entre o cristianismo e todas as religiões locais. Assim, não apenas temos o hinduísmo e a adoração da natureza combinados um com o outro, mas também temos o cristianismo associado à prática de magia na ilha. Isso chegou a atingir o ponto vergonhoso que até existirem feiticeiros “cristãos”.

Mas, vamos ouvir primeiro algo acerca do desenvolvimento da igreja cristã em Bali. Recebi minhas informações de vários ministros do evangelho na área.

Na história do colonialismo holandês, Bali foi a última ilha grande a ser ocupada por eles. Até ao virar do século, oito reis compartilharam o governo da ilha entre eles. O genro do presidente do senado real deles foi o meu intérprete. Ele é, na verdade, um cristão.

Como esses oito reis se opunham aos holandeses em conjunto, os holandeses não foram bem sucedidos durante muito tempo na tentativa de tomarem o controle total da ilha, mesmo havendo estado há mais de trezentos anos em território indonésio.

A segunda metade do século XIX, um missionário católico estabeleceu-se em Bali. Ele conseguiu ganhar um único Balinês para sua religião. Este primeiro cristão, contudo, mais tarde apostatou-se e acabou por matar o infeliz missionário católico. O rei da região onde vivia este assassino, desejando agradar aos holandeses, entregou-o para ser julgado conforme as suas leis. Os colonialistas, preocupando-se pouco com o julgamento, mandaram fuzilar o assassino. Os Balineses iraram-se devido a este tratamento aparentemente sumário e arbitrário. O rei mandou dizer aos holandeses: “Nós não condenamos ninguém sem uma audiência prévia”. Devido a esta injustiça, uma oposição enorme surgiu. Como resultado, cerca de 170 holandeses foram sumariamente assassinados pelos Balineses. A rainha da Holanda reagiu tão severamente contra essa insurreição que acabou por assinar um decreto-lei, o qual proibia qualquer missionário de entrar em Bali. Devido a este decreto, nenhuma igreja conseguiu ser fundada em Bali até 1929 quando uns quantos missionários vindos do leste de Java entraram secretamente em Bali e acabaram por passar a mensagem cristã de boca em boca.

Este método de evangelismo não era tão inapto como se pode pensar, pois a religião Hindu em Bali sempre se centrou em famílias individuais. Desta maneira, cada família tem o seu próprio local de orações, templos e altares sacrificiais privados.

O progresso para com a fundação de uma igreja cristã não pôde, no entanto, ser impedido apesar desse decreto impeditivo. Mesmo porque alguns dos oficiais colonos holandeses favoreciam o cristianismo em claro desafio ao decreto existente. E assim, em 1930 uma igreja cristã foi formada. A igreja em Bali é por isso muito jovem e por assim dizer na sua primeira geração. Hoje, existem cerca de 25 pastores Balineses em toda a ilha.

A igreja cristã concorre com enormes impedimentos vindos dos costumes dominantemente pagãos de Bali. Em 1963, contudo, uma enorme oportunidade foi presenteada aos cristãos. Foi neste ano que o vulcão Agung entrou em erupção e devastou 12 vilas. Morreram 1500 pessoas. Os Balineses ficaram muito aturdidos, também devido ao fato de que o seu templo nacional, o grande Besakih, ficou parcialmente destruído. A sua fé nos seus deuses ficou muito trêmula e eles tornaram-se muito receptivos à mensagem cristã, especialmente porque a ajuda do mundo cristão em forma de dádivas começou a fluir para as áreas devastadas.

Contudo, a igreja não soube usar esta oportunidade extraordinária. Chegaram tantas dádivas que a organização do corpo de cristãos, ainda pequeno, não conseguiu administrar. Um ano inteiro foi necessário para distribuir toda a ajuda que ali chegou. Durante este tempo, as portas abertas tornaram a fechar-se. A igreja cristã em Bali perdeu a sua grande oportunidade. A obra social envolvente não deixou vaga para pregação do evangelho.

A igreja Balinês não é única neste aspecto. Temos muitos paralelos iguais a estes nas igrejas européias e americanas. Quão frequentemente nossas igrejas colocam o trabalho social como prioridade, negligenciando todo esforço evangelístico. As preocupações para com o corpo e o físico empurram para ao lado todos os cuidados que também deveríamos ter para com as almas dos que perecem sem serem ajudados a salvarem-se.

 

A Força da Magia e da Feitiçaria Dentro da Igreja

 

A igreja de Bali tem o caráter similar a muitas igrejas noutros campos missionários. Os cristãos que saíram dum ambiente pagão, ou cujos pais ou avós ainda estejam envolvidos a crenças pagãs, são facilmente apanhados pela magia e pela feitiçaria. Isto é o que acontece também em Bali.

Eu tive oportunidade de falar em cinco igrejas diferentes. Quando adverti contra a bruxaria, uma série de perguntas agitadas surgiram. Um dos presbíteros da igreja disse-me: “O que devemos fazer quando um de nós for mordido por uma serpente? Não existem médicos sequer nas redondezas. Estes curandeiros são os únicos que nos podem livrar de morrer. Por que razão nós, como cristãos, não podemos ir a um curandeiro Hindu num caso como este?” Respondendo a esse presbítero eu disse: “Nunca ouviu falar do que Jesus disse em Marc.16:17 que Ele também cura mordidas de serpentes? E nunca leu sobre Paulo que foi mordido por uma serpente na ilha de Malta e nada lhe aconteceu por intervenção direta do Senhor Jesus?” O presbítero ficou mudo e não me respondeu. Eu prossegui: “Como é que, nós cristãos, podemos visitar um feiticeiro pagão? Poderíamos fazer isso caso confiássemos mais no poder do diabo do que no poder de Deus. Mas, mesmo que Deus não me ajudasse depois de haver sido mordido por uma serpente venenosa, preferiria morrer a clamar ao diabo por sua ajuda”.

Então contei a toda congregação exemplos de alguns missionários que haviam sido mordidos por serpentes venenosas e os quais sobreviveram. Um desses exemplos foi um missionário no Brasil, o qual havia sido mordido por uma serpente bastante venenosa, sukkru. Os Índios ali presentes com o missionário afirmaram: “É o teu fim. Não existe cura para a mordida dessa serpente”. A visão do missionário já estava ficando degradada e pouco clara. Seu pé inchou tanto que ficou quase do tamanho duma pata de elefante. Os índios carregaram-no para dentro de uma de suas tendas. Eles vigiaram ali ao seu lado e ele acabou por ficar inconsciente. Após alguns minutos o desafortunado homem recuperou sua consciência e em desespero clamou: “Senhor Jesus, lembra as tuas promessas!” Ele ficou inconsciente novamente. Mas, foi ali que o poder do veneno quebrou. Em vez de morrer, o missionário, depois de ter ficado em coma durante algum tempo, recuperou totalmente. Não surgiram quaisquer seqüelas depois de sua cura milagrosa devido a esta mordida.

Contei essa história àquela igreja de Bali. Contudo, o dito presbítero mantinha as suas perguntas. Ele passou a explicar: “Nós temos um homem aqui que, mesmo não sendo um feiticeiro verdadeiro, tem uma pedra com a qual ele cura os doentes. Quando estive doente, pedi a este curandeiro a sua pedra branca, mas devido ao fato de eu ser cristão ele não me emprestou nem mesmo implorando-lhe. Por que razão isso seria errado de fazer caso houvesse conseguido usar essa pedra e caso ela possuísse os tais poderes milagrosos?” Ao que eu respondi: “Você pode dar-se por feliz por não ter conseguido usar essa pedra! Os efeitos póstumos são dramáticos e pertencem à esfera da bruxaria e do diabo, mesmo que apenas fossem meros poderes de sugestão”.

Mas eu não fui capaz de convencer este presbítero nativo. Contudo, no mínimo consegui que muitos outros presentes ali na igreja nunca mais recorressem ao poder dos curandeiros hindus.

É de lamentar que a maioria dos pastores nativos não consiga discernir o mal dessas coisas de bruxaria e, por essa razão, nunca chegam a esclarecer devidamente as suas congregações dando-lhes uma clara direção sobre questões do contacto com coisas ocultas.

Numa convenção de ministros em Bali, um dos pastores afirmou possuir poderes de médium e que estes lhe haviam sido dados por Deus. Seu avô havia sido um feiticeiro muito esperto e muito temido naquelas redondezas. Tanto ele quanto seu pai haviam herdado as habilidades de magia de seu avô. E esses poderes ocultos eram tidos como dádivas de Deus! Uma confusão completa de opiniões e uma absoluta mistura de espíritos! Contudo, esses são os homens que presidem às igrejas locais.

Um outro presbítero declarou abertamente perante a igreja lotada: “Eu ainda possuo todos os meus amuletos e instrumentos de encantamento em minha casa; mas eu creio que não têm qualquer poder sobre mim porque não acredito neles, não deposito fé neles”. Eu guiei o homem para At.19:19 onde os Efésios trouxeram todos os seus amuletos e livros de magia e fizeram uma enorme fogueira com eles. Adverti-o a fazer também o mesmo, queimando todos os seus objetos de ocultismo porque, com toda certeza, representariam um sério impedimento em sua vida e uma influência satânica sobre ele e também sobre sua família inteira até às 3ª e 4ª gerações. Mas, infelizmente, também não o consegui convencer ou demover de sua opinião já formada.

Será que nos podemos admirar de que a igreja em Bali ainda não tenha experimentado um avivamento real igual aos que se estão dando em outras ilhas Indonésias? A magia e a feitiçaria serão sempre barreiras enormes que operam contra o evangelho da vida. Nós podemos constatar essa verdade ainda mais claramente nos avivamentos que ocorreram na ilha de Timor e noutras também, onde o movimento do Espírito Santo sempre começou após as pessoas terem reconhecido pelo nome cada pecado e principalmente cada pecado de feitiçaria, trazendo seus amuletos e instrumentos de feitiçaria para fora e destruindo-os com fogo diante das igrejas.

Mas, mesmo assim, a situação nesta “Ilha do Diabo” não é tão negra quanto se possa pensar. Existem aqui algumas primícias do Espírito que revelam que o Senhor Jesus deseja claramente fazer progredir uma obra em Bali também.

Numa outra vila, depois de eu ter discursado durante algum tempo com um cristão, ele disse-me: “Até bem pouco tempo atrás eu era Hindu. Mas, desde que comecei a seguir o Senhor Jesus, fui severamente perseguido. Os habitantes da minha vila perseguem-me de maneiras inconcebíveis. A minha esposa não pode mais buscar água da fonte pública e eu fui ameaçado de que não seria enterrado no cemitério da vila porque, disseram eles, eu cortei todos os laços com a comunidade dessa vila”. Tentei encorajá-lo o melhor que pude como irmão. Qualquer pessoa que se torne cristão num ambiente pagão pode contar com perseguições ferozes. Mas, no entanto, o mesmo se poderá dizer das pessoas que se arranjam com Deus dentro das igrejas evangélicas do mundo ocidental. A diferença nem será grande.

No leste de Java encontrei um outro jovem cristão vindo de Bali. Ele relatou-me a sua história. Em 1962, um missionário chegou a Bali com uma comitiva de cristãos para ali trabalharem para Deus durante um tempo. Alguns jovens rapazes encontraram-se com o Senhor Jesus durante esse período de campanha evangelística. Três deles estão estudando hoje na Escola Teológica do leste de Java. (Nota do tradutor: Esta escola foi o centro, o epicentro e o início do avivamento na Indonésia). Um destes jovens era a pessoa com quem estava falando e o qual me relatou que não podia mais entrar na casa de seus pais devido a sua escolha de ter-se tornado seguidor de Cristo. Os seus pais ainda são pagãos e não estão minimamente dispostos a tolerarem a decisão irredutível que ele tomou. E foi assim que a Escola Teológica se tornou na sua nova casa e seu novo lar.

Mas agora e nesta fase, Bali já se poderá gloriar de mais e de melhores primícias do que as que acabamos de mencionar. Existe um número de cristãos espalhados pela ilha, os quais conseguiram escapar e libertar-se dos poderes opressores do ocultismo de seus antepassados. É verdade que existem muitos poucos crentes reais, mas um deles é o Pastor Joseph, o qual organizou toda a minha campanha e palestras pela ilha.

Estes cristãos, os quais encontram-se numa minoria tão evidente, tornaram-se realmente os combatentes pioneiros que levam Cristo sobre seus ombros dentro desta ilha. Eles não se desesperam e nem se nota qualquer sinal de angústia nos seus rostos. O Senhor Jesus sempre construiu o seu reino através de pequenas sementes de mostarda. Se esses indivíduos, que são a vanguarda de Cristo nesta ilha, permanecerem fiéis, o seu número nunca permanecerá pequeno. Será precisamente aqui nesta fortaleza das trevas – este paraíso de demônios – que esta ilha poderá vir a tornar-se a Ilha de Cristo e não mais a Ilha do Diabo.

 

V. JOHN SUNG

 

Ninguém deve ignorar a obra de dois evangelistas caso queiram escrever sobre o avivamento que decorre atualmente na Indonésia. Estes dois evangelistas fizeram nos últimos 30 anos variadíssimos cultos em grande escala dentro de Java. São dois apóstolos de Deus: John Sung e Andrew Gih. Eles eram particularmente amigos que de início começaram por trabalhar juntos, mas, a longo prazo, desenvolveram métodos evangelísticos individuais. Ambos eram oriundos da China e ambos estenderam as suas obras para dentro dos países que faziam fronteira com o seu. Entre os chineses dentro da Indonésia existem hoje muitos cristãos genuínos que podem afirmar que devem a qualidade da sua fé às campanhas destes dois homens. Em Jacarta o Dr. Toah disse-me que esses dois evangelistas chineses trouxeram mais chineses a Cristo do que todos os outros evangelistas estrangeiros em conjunto da história da China. Vamos, em primeira-mão, relatar a história de John Sung, o qual começou a sua obra em Java antes de Andrew Gih.

 

O Pequeno Pastor

 

Sem entrarmos em detalhes biográficos sem interesse, vamos no mínimo tentar dar uma imagem correta da vida e da obra de John Sung no seu tempo. A lâmpada deste homem excepcional brilhou durante cerca de 43 anos; desde 1901 até 1944. Deus deu-lhe uma plenitude de poder do Espírito Santo que eu nunca consegui detectar em nenhum outro evangelista do nosso século. Isto não é nenhum exagero sequer, mas é a minha firme convicção.

Havendo nascido e tendo sido criado em Hinghwa, John estava presente quando com nove anos de idade um avivamento começou na igreja de Hinghwa. Mesmo sendo ainda uma criança nessa época, ele foi literalmente quebrantado em lágrimas e experimentou uma definitiva e genuína conversão.

Logo desde o início da sua vida com Cristo, a oração tornou-se o ponto alto da sua vida espiritual. Quando, durante esses anos, seu pai ficou criticamente doente e foi dado como perdido por sua própria família, a desesperada mãe de John, a qual já não conseguia mais orar devido à sua angústia, disse-lhe: “Vai para o teu quarto orar por papai. Deus ouve orações”. John lançou-se sobre os seus joelhos e orou ardentemente pela vida do seu pai. Como resultado e apesar de todos os pontos de vista e expectativas dos médicos em sentido contrário, seu pai recuperou sua saúde milagrosamente. Esta foi a segunda resposta que ele obteve em toda sua vida como um jovem guerreiro do seu Senhor.

Durante o avivamento em Hinghwa, o pai de John tornou-se o líder dos pastores da cidade e logo se esgotou sob o jugo e o peso de toda a sua obra. Ele designou pregadores itinerantes, os quais usava para pregarem nas igrejas circundantes em sistema rotativo. John logo tomou o seu lugar entre estes mensageiros de Cristo, mesmo sendo de longe o mais jovem de todos eles. Ele já ministrava sermões conscientemente preparados e delineados na tenra idade de 14 anos. Quando seu pai se tornou incapaz de continuar o seu trabalho devido à pressão da obra sobre si, John passou a substituí-lo muito bem. As congregações amavam a sua forma simples de pregar devido ao seu estilo vívido e simples de entrega das mensagens. Já por essa altura, cristãos bem estabelecidos em Cristos ficavam a pensar: “O que vai ser este menino?” Luc.1:66.

Na vida de todos os homens verdadeiros de Deus, podemos quase sempre detectar a mão providencial e atuante de seu Criador. Isto é algo que também pode ser visto na vida de John Sung. Como rapaz na escola ele já chamava a atenção sobre si devido à facilidade que tinha para estudar e para a sua incansável sede de empreender e trabalhar. Assim, ninguém se deve surpreender que este jovem zeloso colocasse uma educação universitária como alvo diante dos seus olhos. Contudo, porque a China de então tinha uma grande instabilidade e guerrilhas desde 1919, ele começou a pensar entrar numa universidade Americana.

Mas vários obstáculos e impedimentos colocaram-se diante dos seus planos. Quem pagaria a sua viagem? Quem seriam os seus tutores durante a sua estadia nos Estados Unidos? E a parte mais difícil de todas, era que John tinha uma infecção nos olhos tipicamente chinesa, a qual lhe impediria sem dúvida a sua ida para a América! Um quarto tropeço era o seu próprio pai que se opunha às suas idéias de viajante. Eram quatro tropeços enormes demais para serem vencidos.

Mas pode alguma coisa ser impossível a Deus? John entregou-se à oração. Este era o curso que ele sempre tomava em alturas como esta. Deus deu-lhe a primeira resposta na forma de uma carta. Uma missionária americana, a qual nada sabia sobre seus planos, escreveu-lhe para encorajá-lo e aconselhá-lo a estudar nos Estados Unidos, dizendo que se ele assim desejasse ela seria sua tutora durante a sua estadia no país. Ele ficou enormemente alegre e mostrou a carta a seu pai e perguntou-lhe: “Não é isso, por acaso, a resposta de Deus?” Seguindo-se a esta primeira vitória conseguida, muitos donativos de dinheiro começaram a chegar de várias origens, que não apenas cobriam todas as suas despesas, mas também permitiriam que ele levasse consigo uma reserva financeira para cobrir as suas despesas iniciais na América. A ajuda para a infecção das suas pálpebras chegou inesperadamente de uma outra fonte. Enquanto cortava o cabelo, o barbeiro notou a infecção e ofereceu-se para limpa-lhe o interior das pálpebras com um osso revestido de prata e lavá-lo de seguida. John aceitou. Este processo penoso foi realizado nele várias vezes até que a infecção ficou totalmente curada. Finalmente, também seu pai lhe deu o seu consentimento para partir. Isto foi apenas o início da obra do “Grande Arquiteto” que, pela sua misericórdia, capacita sempre os seus apóstolos e filhos de tal maneira que consigam alcançar sempre os Seus objetivos.

 

A crise

 

Esta nova vida na América foi tudo menos fácil. Sua saúde era delicada, sua falta de dinheiro era contínua e uma cirurgia que ele não pode evitar contribuiu para que ele permanecesse firme em oração. A missionária americana também não cumpriu a promessa que lhe havia feito. Esta forma de atuar dos cristãos ocidentais sempre foi um grande vexame para muitos novos crentes, pois tudo que é promessa é tratado com muita banalidade. Mas, para John, isso significava simplesmente que ele teria a oportunidade de se agarrar e de se firmar nas melhores promessas que a Bíblia lhe fazia.

Apesar dessas dificuldades tremendas, John progrediu de tal maneira em seus estudos que qualquer um ficaria pasmado diante do seu sucesso. Em apenas três anos ele concluiu um programa curricular de cinco anos. Mais ainda, ele encontrava-se sempre no topo das melhores notas da universidade. Para além de ter conseguido receber os prêmios que se ganhavam no campo da física e da química, também lhe foi dada uma medalha de ouro devido ao seu aproveitamento nesse ano. Quando ele finalmente recebeu a sua graduação, todos os jornais fizeram reportagens que lisonjeavam este brilhante e talentoso jovem chinês. Três universidades tentaram assediá-lo para lecionar. A mundialmente famosa Universidade Harvard ofereceu-lhe mil dólares anuais se ele entendesse alistar-se entre os seus professores, uma soma que em valor monetário atual seria invulgar. Contudo, John ficou-se pela oferta mais modesta da Universidade Estadual de Ohio.

Por esta altura o estudante esfomeado por conhecimento aplicou-se em obter Doutoramento e Ph.D. em química. Mas, como nessa altura a química alemã era a mais avançada, John pensou aprender a língua para poder ter acesso aos livros científicos alemães. Durante as suas férias ele embrenhou-se no estudo desta língua estranha e em apenas dois meses conseguiu dominá-la de tal maneira que foi capaz de traduzir para o inglês um livro complicadíssimo de química. O professor que revisou a tradução pensou que ele tivesse estudado alemão durante anos. O que um homem normal poderia levar dois anos a conseguir, John conseguiu em apenas dois meses. Uma vez mais, este feito causou um grande reboliço nos meios americanos. Ele foi atormentado e assediado por prêmios e convites. Durante este tempo, até mesmo a Universidade de Pequim tomou conhecimento do sucesso desse seu compatriota e chegou a oferece-lhe o título de Ph.D. Contudo, o convite que maior atração exerceu sobre ele, chegou-lhe da Alemanha, local onde os serviços deste químico extraordinariamente talentoso eram muito desejados. Uma equipe de cientistas propôs um posto de pesquisa com condições financeiras invejáveis.

O Dr. Sung, como ele era conhecido agora, orava incessantemente sobre o passo seguinte. Como resposta o Senhor conduziu-o para as palavras em Mat.16.26: “Que proveito tem o homem em ganhar todo o mundo se perder a sua alma?” Os seus pensamentos foram imediatamente recolocados no seu plano e voto iniciais. Ele tinha apenas a intenção de estudar temporariamente na América e voltar para China como pregador do evangelho. Foi então que decidiu ir estudar teologia no Seminário Teológico durante certo tempo. Foi desta forma que ele chegou – certamente guiado por Deus – ao seminário da União Teológica de Nova Iorque, muito conhecida pela sua teologia liberal.

E foi assim, também, que ele começou a sua preparação final para a obra diante de si, através da qual proclamaria o reino de Deus. Mas, os ensinos desta escola iriam levá-lo a afundar-se sobre os seus joelhos de forma implacável.

A causa principal para esse colapso foi a teologia ensinada neste colégio. Cada problema ou obscuridade na Bíblia era discutida a luz da razão humana. Apenas aquilo que pudesse manter-se aos escrutínios da lógica era aceite como verdadeiro. A fé em Cristo como propiciação para os nossos pecados; a validade dos milagres; a ressurreição; a ascensão e a segunda vinda de Cristo eram banalizadas por carecerem de provas científicas. Tendo sido servido com esta dieta magra, o Dr. Sung perdeu toda a sua fé e foi empurrado para uma crise interior e para uma fase muito crítica da sua vida. Ele disse para si mesmo: “Tudo aquilo em que acreditei naturalmente até agora foi-me roubado. Não posso continuar a viver neste estado. Ou a minha vida termina, ou então Deus precisa dar-me outra maneira de vivê-la através do Seu Espírito”.

Deus ouviu o clamor do seu coração uma vez mais. Durante a noite de 10 de Fevereiro de 1926, o Senhor apareceu-lhe. Estando sob o peso infernal do jugo do seu pecado, o Dr. Sung clamou ao Senhor orando e chorando até muito tarde daquela noite. De repente, ele ouviu uma voz dizendo-lhe: “Meu filho os teus pecados te são perdoados”. Com isto a sua alma foi repentinamente preenchida de luz. Mesmo sendo noite escura, alcançou a sua Bíblia e começou a ler os evangelhos de uma maneira tal como nunca havia feito.

Na manhã seguinte todos os outros estudantes e professores notaram de imediato a transformação no seu semblante. O Dr. Sung também não tinha qualquer intenção de manter a sua nova experiência em segredo. Onde lhe fosse possível, ele dava testemunho do Senhor Jesus Cristo abertamente e o seu jeito abrupto de se exprimir causou logo reboliço dentro da escola. Mesmo porque desde criança ele havia sido uma pessoa de visão muito clara e de decisões muito radicais e bruscas que duravam para sempre.

Passou a descrever os seus livros de teologia como livros de demônios e, queimando-os, dedicou-se integralmente e exclusivamente ao estudo aprofundado da Bíblia e à oração. Os seus professores liberais ficaram extremamente chocados com esta sua maneira brusca e condenaram-no veementemente pela forma como catalogou a teologia deles. De imediato, imploram-lhe para se submeter a um exame psiquiátrico extensivo.

Isto é típico! Em primeiro lugar estes racionalistas destroem a fé dum homem e depois, quando ele se encontra completamente desfalcado e nu e acha o Senhor Jesus, é considerado como um doente mental e colocado no hospício. Eu tenho a sincera esperança de que, apesar de sua teologia, estes teólogos modernos possam vir a aperceber-se do seu grande erro e chegar tão perto do Senhor Jesus que ainda serem salvos. Eu gostaria de ver as suas expressões quando um dia se aperceberem de que a sua teologia é diabólica e serve apenas os interesses do diabo na terra.

Na história de José lemos o que ele afirma: “Vocês intentaram mal contra mim; mas Deus o tornou em bem”, Gen.50:20. Isto também foi o que aconteceu com o Dr. Sung. Aquilo que o seminário da União Teológica intentou contra ele, transformou-se subitamente no propósito de Deus para o Seu filho.

O Dr. Sung foi aconselhado a “descansar” durante seis semanas e ele concordou, embora com algum protesto. Contudo, depois desse prazo de seis semanas haver expirado, ele pediu permissão para voltar ao seminário. Mas, foi-lhe dito expressamente que não voltaria mais para lá. Foi então que o seu temperamento aguçado explodiu: “Eu fui enganado! Eu não estou mentalmente doente, mesmo levando em conta que meu coração foi completamente esmagado por esta vossa teologia miserável, a qual me foi servida no vosso seminário. Nem com ela eu fiquei louco!” Este desabafo energético levou o psiquiatra a transferi-lo para uma sala para pacientes violentos. Esta foi uma das piores experiências da vida de Sung, tendo sido obrigado a passar os seus dias e noites numa mesma sala com maníacos depressivos, violentos e que usavam continuamente palavrões indecentes para se expressarem!

Mas, uma vez mais ele inquiriu do Senhor o que isso significava. A resposta chegou de imediato: “Todas as coisas contribuem conjuntamente para o bem daqueles que amam a Deus”. Foi então que o Dr. Sung recebeu uma outra mensagem pessoal do seu Senhor e Rei. Foi-lhe dito: “precisas suportar o tratamento durante 193 dias. Será deste modo que aprenderás a suportar a cruz que te vou dar para poderes aprender a carreira de obediência até o Gólgota”.

Com esta resposta John Sung contentou-se e sossegou de imediato seu coração. Ficou sabendo que era a vontade de Deus para si e que tudo que poderia fazer era esperar com a certeza que acabaria saindo e que estava dentro da vontade de Deus. O psiquiatra autorizou-o a regressar para seu quarto privado inicial. Ali, o Dr. Sung teve bastante tempo para orar e explorar a sua Bíblia. Ele leu avidamente muitos capítulos por dia. Mais tarde ele comentou: “Essa foi minha verdadeira formação teológica!” Ele leu a Bíblia quarenta vezes durante este tempo de descanso forçado. Mas, não havia contado nada a ninguém sobre a promessa que Deus lhe fizera de tirá-lo dali em 193 dias. Mas, o fato é que 193 dias depois deram-lhe alta da clínica psiquiátrica. Isto apenas prova que a mensagem que ele recebeu tinha realmente vindo de Deus e não havia sido fruto da sua imaginação. Dr. Sung estava agora devidamente armado para as suas campanhas evangelísticas na China.

Nós cruzamos frequentemente com períodos de quietude como estes e verificamos que todos os instrumentos especiais de Deus passam sempre por eles. José ficou dois anos na prisão; Moisés passou 40 anos no deserto de Midiã; Elias ficou escondido no ribeiro de Querite; Jeremias achou-se sozinho na prisão muitas vezes e uma vez dentro do poço; João Batista esteve na montanha-fortaleza de Machaerus. Lutero em Wartburg até seu tempo haver chegado.

Estes tempos de solidão fazem parte do programa curricular da escola de Deus.

 

O Wesley da China

 

O seminário da União Teológica já há muito tempo que havia removido da sua lista de estudantes o nome de Dr. Sung. Não queriam mais nada com ele desde que queimou os seus livros. Mas, o coração de John estava apontado para a China e foi, em 4 de Outubro de 1927, que ele saiu de Seattle para Xangai.

Assim que o Dr. Sung chegou à sua pátria e tendo-se reunido à sua família que não via há 7 anos, descobriu que havia um pequeno pormenor ainda por esclarecer. O seu pai disse: “Filho, eu sempre fui um pregador pobre. Espero agora que tomes um lugar para ti na universidade para assim ajudares a pagar a educação dos teus irmãos”. John temia que isso viesse acontecer precisamente daquele jeito. Mas, a sua resposta a seu pai foi imediata: “Pai a minha vida foi dedicada a espalhar o evangelho da verdade. Eu estou morto para o mundo, para vocês e para mim mesmo também. Nunca terei a possibilidade de tomar outro caminho pelo qual possa seguir”. E foi assim que o curso de toda sua existência ficou permanentemente selado.

Foi então que em Maio de 1928 Dr. Sung se encontrou com Andrew Gih pela primeira vez. Ambos ficaram com a consciência de que a vida de um e do outro iriam tomar caminhos particularmente similares. Para ambos, era apenas uma questão absoluta de estarem completamente rendidos ao seu Senhor com o único propósito de espalharem o evangelho tal qual o Espírito Santo os levasse a fazer.

De início, esses dois homens trabalharam em conjunto. Andrew Gih muitas vezes servia de intérprete ao Dr. Sung nos distritos onde os seus dialetos não lhe eram familiares.

O primeiro encontro do Dr. Sung com o movimento das línguas estranhas provou ser significante e bastante esclarecedor. Isso ocorreu no porto de Tsingtau. Foi ali onde teve que se questionar sobre os dons do Espírito. O movimento “carismático” neste porto, com um tipo de população que se alterava constantemente, era bastante forte. Os seus seguidores afirmavam afincadamente que a plenitude do Espírito Santo se manifestaria através de sinais exteriores como línguas estranhas, canções espirituais, visões e sonhos. O Dr. Sung entrou numa argumentação bastante quente sobre este assunto sem se dar conta. Ele ficou confuso e foi então que decidiu não pregar mais e ficar somente a ouvir Andrew Gih. Orando incessantemente por clarividência não seria de admirar que o Senhor lhe concedesse uma vez mais a resposta.

Andrew Gih estava pregando sobre João 4 e falando sobre a água da vida que Jesus estava oferecendo à mulher samaritana. A resposta que ele queria do Senhor veio com uma revelação muito clara. Mais tarde John comentou-a resumidamente: “A bênção de Deus e a plenitude do Espírito Santo nunca consistem numa procura de línguas estranhas e nem de quaisquer manifestações exteriores, mas em tornamo-nos rios incondicionalmente puros para que essas águas da vida do Espírito Santo possam ter como fluir livremente a todas as almas sedentas à nossa volta”.

A partir desse momento Dr. Sung começou a pregar claramente através de uma nova força e poder. Não poucas vezes ele orava: “Senhor purifica-me e transforma-me de tal maneira que as águas vivas possam brotar de mim como as quedas e correntes do Niagara”.

Por onde que ele fosse havia um avivamento real e genuíno: homens reconhecendo publicamente seus pecados; inimigos reconciliando-se os com os outros; bens roubados sendo devolvidos aos seus respectivos donos com confissões; professores confessando os seus pecados aos próprios alunos e colegas. Mas, o melhor de tudo era que em cada campanha missionária que ele fazia formavam-se comitivas para levar o evangelho até às vilas e aldeias vizinhas. Não poucas vezes após uma única campanha entre sessenta a cem dessas comitivas eram formadas da noite para o dia.

O Dr. Sung tinha um “mestrado” em ilustrações e as usava as suas mensagens. Quando uma vez pregava como um pecado deveria ser arrancado sem dó pela própria raiz, ele dirigiu-se a uns vasos que continham plantas na plataforma, despedaçando uma a uma e arrancando-as pela raiz e proclamou de seguida de todo coração: “Agora não poderão mais crescer! É assim que o pecado deve ser arrancado de nós”.

Uma outra vez estava falando sobre Rom.6:23 onde se lê que “o salário do pecado é a morte”. Tinha um caixão pequeno perto do local onde pregava e um grande número de pedras foram-lhe trazidas para plataforma de onde discursava. Ele exclamava: “O caixão representa a morte. As pedras simbolizam o pecado”. E com isso Dr. Sung começou a chamar os pecados pelo nome e, por cada pecado que mencionava, atirava uma pedra para dentro do caixão. O evangelista passou a explicar o significado de tudo aquilo: “Cada homem carrega com ele um caixão e à medida que o caixão se vai enchendo de pedras, o interior torna-se cada vez mais pesado e insuportável. A pessoa em questão fica com seu interior sobrecarregado e em breve será esmagada sob o peso do fardo”.

Em outras ocasiões ele usava a seguinte ilustração quando se dirigia aos pastores de congregações. Ele tinha um ajudante que lhe trazia um fogão a carvão para cima da plataforma. Em seguida, ele pedia de forma audível uns pedaços de carvões pequenos os quais lançava para dentro do fogo juntamente com um pedaço de carvão enorme. Dez minutos depois, ele perguntava ao seu assistente sobre o progresso do fogo: “O que se passa dentro do fogão?” a resposta vinha: “Os carvões pequenos estão todos queimando e em chama viva. Mas, o pedaço grande está difícil!” Dr. Sung resumiria então a sua mensagem: “Os pedaços de carvões pequenos são os membros das congregações e o pedaço grande é como os pastores dessas mesmas congregações. Os pastores são sempre os últimos a pegarem fogo”. Só podemos imaginar como uma exemplificação dessas irritava os ministros das igrejas, os quais não morriam muito de amores por ele. Contudo, eram esses próprios ministros que no final dos seus esforços missionários vinham ter com ele reconhecendo que os membros das igrejas muitas vezes chegavam a triplicar.

No decorrer das suas pregações, o Dr. Sung muitas vezes usava dons proféticos. Uma vez apontou para um indivíduo no meio duma multidão com mais de 1000 pessoas e disse: “Você é um hipócrita! Arranje os seus caminhos com Deus”. A pessoa para quem ele apontou era um presbítero da igreja, o qual ficou achando que o seu próprio pastor se havia queixado sobre ele ao Dr. Sung. Mas, no outro dia o presbítero foi-se sentar num local completamente diferente na enorme sala. Foi no meio do seu sermão que o evangelista uma vez mais apontou em direcção ao presbítero, dizendo-lhe: “Você é um hipócrita”. Quando o Dr. Sung fez a mesma coisa uma terceira vez num outro culto, o presbítero ficou enfurecido e decidiu arranjar forma de matar o seu pastor, pois achava que havia sido ele a falar ao Dr. Sung. Convidou o seu pastor para uma refeição em sua casa. O pastor da respectiva congregação foi, contudo, avisado a não se arriscar. Mas, mesmo este fiel irmão resolveu ir visitar o presbítero. Conforme ia entrando em sua casa, aquele homem atirou-se a ele com um facão e na sua fúria levantou o seu braço para lhe dar o golpe fatal. Reagindo quase instintivamente, o pastor caiu sobre os seus joelhos sem ligar muito ao facão e clamou: “Senhor salva este homem!” O facão passou por cima da sua cabeça e entrou na parede. E o facão quebrou-se. Foi nesse preciso instante que o espírito de arrependimento caiu sobre o presbítero. Afundando-se nos seus joelhos ao lado do pastor, ele suplicou a Deus por perdão, entregando assim a sua vida a Cristo logo ali. Este é apenas um exemplo dos resultados práticos das palavras drásticas deste evangelista.

Num curto período de tempo, de 1931 a 1935, o Dr. Sung tornou-se numa das figuras mais conhecidas da China. Os cristãos deram-lhe o apelido de “O homem que quebra o gelo”. No jornal National Christian Council, o Dr. Sung foi colocado como sendo uma das seis personalidades mais conhecidas em toda China. Este país, com muitos milhões de habitantes, nunca possuiu um evangelista com este tipo poder. Por esta razão catalogaram-no como “John Wesley da China”.

 

Os Frutos da sua Obra

 

O cristianismo no mundo ocidental e, na verdade, em todo mundo, é marcante e destaca-se precisamente devido às suas muitas deficiências. O número de conversões genuínas é muito reduzido ou quase nulo e existem mesmo pastores que durante um ministério de 40 anos ou mais nunca obtiveram uma única conversão ou um caso de confissão de pecados. De facto, as conversões são basicamente uma obra pura do Espírito Santo. No entanto, Ele usa homens como seus instrumentos para tal efeito.

A falta dessas conversões significa, também, que existirão muito poucos jovens oferecendo-se ao Senhor como conseqüência, para servirem como Seus instrumentos tanto internamente quanto no estrangeiro. A outra deficiência é a falta de recursos que acabam sempre por se evidenciar na obra cristã. Consequentemente, a igreja permanece numa mendicidade de coletas de fundos, achando-se a pedir, quando tal coisa nem deveria fazer parte dum culto. A Bíblia também é pouco lida entre os homens e os que a lêem não a entendem tal qual Deus desejaria e nem entendem o Deus a quem pertencem todos os tesouros desta terra.

Como é que este tipo de situação afetava o Dr. Sung?

Vamos tomar como exemplo as suas três campanhas missionárias nas cidades de Taipeh, Taitschung e Taiwan, na Ilha Formosa. Só no final dessas três campanhas, das quais nenhuma foi dirigida da mesma maneira que as organizações americanas o fazem através da publicidade e da emotividade, cerca de 5.000 pessoas reconheciam publicamente haver-se encontrado de forma real com o Senhor Jesus Cristo. Quatrocentos e sessenta jovens ofereceram-se para a obra missionária e cerca de 4.000 dólares entraram como ofertas espontâneas juntamente com pedras preciosas e até anéis de ouro. O Dr. Sung não ficou com nenhum centavo daquilo que recebeu. Todas as ofertas foram bem usadas na manutenção de evangelistas fundadores de igrejas e não serviu nem sequer para comprar umas linhas para coserem os seus bolsos. Este homem era totalmente indiferente ao dinheiro e o incidente que se segue é bastante elucidativo sobre isso.

Um empresário rico visitou-o e ofereceu-lhe uma enorme soma de dinheiro. O Dr. Sung nunca tinha visto o homem. Olhando diretamente e sem pestanejar para os olhos do seu interlocutor, ele disse calmamente: “O Senhor Jesus não quer nem um tostão de todo seu dinheiro. Ele só quer a sua alma”. De seguida lançou o dinheiro aos pés do homem e nunca aceitou nada dele.

Sempre que o Espírito Santo mantém as rédeas da vida numa pessoa, apenas a salvação dos homens conta e não aquilo que se pode acumular. Jesus disse: “Buscai primeiro o reino de Deus e todas essas coisas vos serão acrescentadas”.

 

Obra Pioneira na Indonésia

 

Isto foi apenas uma breve biografia sobre Dr. Sung. Ela foi aqui colocada por duas razões. Em primeiro lugar, os cristãos no mundo ocidental, para quem esse homem é completamente desconhecido, devem partilhar da glória que Deus lhe manifestou durante o seu curto período de vida. Em segundo lugar, podemos ter a certeza de que o avivamento presente na Indonésia não é o primeiro que tinha aquela autoridade duma verdadeira mensagem do evangelho dada por Cristo. As ondas de avivamento causaram grande reboliço dentro do Dr. Sung e elas tornaram-se tão poderosas nestas ilhas quanto são hoje. A única razão porque elas não se espalharam tanto quanto se estão espalhado hoje, será porque aquele servo de Deus não permanecia nestas ilhas mais que algumas poucas semanas. Também deve ser referido e lembrado que o alvo das suas campanhas missionárias dentro da Indonésia, eram as comunidades chinesas que ali vivam.

Em conjunto, o Dr. Sung visitou a Indonésia quatro vezes. Em 1935 ele evangelizou a igreja chinesa de Medan no norte de Sumatra. Esta comunidade foi inteiramente revitalizada através do seu ministério.

Em 1936 o evangelista chegou até Sarawak no norte de Bornéu. Tanto na parte britânica como na parte Indonésia desta ilha, existem grandes comunidades chinesas. A campanha deu-se em Sibu (Sarawaka). No decurso dos dez dias missionários, cerca de 1600 chineses acharam o seu caminho até Cristo e mais de 100 ofereceram-se para a obra voluntária de propagarem o reino de Deus. Acrescentando a isso, 116 comitivas foram formadas para pregarem nas vilas circundantes e levarem até lá o fogo do evangelho. Se levarmos em consideração que um evangelista europeu muitas vezes trabalha durante 40 anos alcançando resultados iguais ou inferiores a este alcançado em apenas 10 dias de campanha, logo tomaremos a consciência de que algo de muito errado se passa com estes desnutridos evangelistas ocidentais. A obra dessas comitivas que se formaram, as quais mantiveram as suas obras constantes e o seu testemunho bem vivo apesar da ocupação japonesa que se deu depois disso, é bastante significativo. A sua obra prosseguiu firme e clara mesmo no meio da confusão da guerra e das guerrilhas.

A terceira visita do Dr. Sung foi feita à ilha de Java em Janeiro de 1939. Em Setembro desse mesmo ano, ele visitou a ilha novamente, estendendo os seus esforços missionários para as ilhas Celebes e Moluccas. Já iremos falar sobre este assunto para termos uma perspectiva melhor sobre esta graça excepcional e sem igual para com este país feito de ilhas.

 

A Exigência Total do Evangelho

 

A reputação do Dr. Sung como um grande evangelista já havia alcançado Java mesmo antes da sua chegada. No entanto, todas as pessoas que se reuniram em Surabaja para a sua primeira palestra, ficaram completamente abismadas com este homenzinho pequeno, magro e vestido numa túnica chinesa pregando diante deles. Eles tinham uma imagem deste Wesley da China completamente diferente. Contudo, um sermão depois, eles mudaram de idéias, pois foi o suficiente para os levarem a reconsiderar as suas opiniões e impressões iniciais apressadas. Tudo sobre este homem simples e mal vestido era energia revitalizante e poder.

Logo na sua primeira noite foram-lhes colocadas as suas exigências que fez em nome de Deus. Discursando perante a platéia ele disse: “Eu tenho 22 mensagens para vos entregar nesta semana. Isto significa que eu tenho que fazer três cultos diários e também quer dizer que todos vós ireis ter que estar aqui presentes e assistir a todos. De outro modo nunca irão descobrir quais as mensagens que Deus teria para vos entregar para vos desafiar com elas”.

Uma murmuração generalizada ouviu-se percorrendo toda a igreja: “O que será de nós? Precisamo-nos afastar dos nossos trabalhos e virmos a igreja o dia todo?” Os pastores todos avisaram John para não ser assim tão exigente, mas o Dr. Sung persistiu como se nada fosse com ele. E ele estava certo. Os seus discursos foram tão poderosos e tão simples em seu gênero de poder que pouquíssimas horas depois não era mais necessário insistir com as pessoas para virem assistir à suas palestras. Os lojistas chineses fecharam as suas lojas todas só para virem ouvir este evangelista pregar. Eles penduravam nas portas das suas lojas avisos que diziam o seguinte: “Fechados por uma semana – estamos na campanha missionária”.

O avivamento espalhou-se mais longe ainda e com mais força. As crianças na escola deixaram de freqüentar as aulas. Eles também ficavam ali sentados o dia todo a ouvirem o Dr. Sung sem se cansarem. E os professores nem se queixaram porque também se encontravam lá todos.

Contudo, aos olhos do Dr. Sung isto não bastava. Mesmo que as ditas campanhas durassem cerca de oito horas diárias, o evangelista ainda assim instigava os jovens com as seguintes palavras: “Nem pensem que seguir o Senhor Jesus é sentir esta paz de coração somente e ficar com o coração ardendo. Existem milhões de perdidos à vossa volta que não conhecem o Senhor Jesus como vós. Ide e levem este evangelho para eles também”. Os jovens formavam comitivas organizadas em grupos de três pessoas. E saindo pelas ruas e pelos bares e locais de entretenimento que haviam freqüentado assiduamente na sua vida anterior, espalharam a mensagem gloriosa que lhes queimava o coração e transbordava para o exterior.

Durante os dias seguintes, muitos trouxeram frutos e relatos da bênção enorme com a qual Deus manifestou através das suas obras.

Esta forma de atuar em grupos e comitivas que espalhavam o evangelho na Indonésia pode ser vista já desde o tempo do Dr. Sung. O que se faz é o trabalho através de grupos.

Todos aqueles que assistiam aos seus discursos missionários em Surabaja, certamente ficavam sem tempo extra. Desde manhã até à noite ficavam absorvidos, escutando o evangelho, pregando e organizando os grupos que partiam em missões.

Mas qual era a vida diária deste evangelista que fazia exigências totais às pessoas?

O seu dia normal era levantar-se às cinco horas da manhã para orar e ler estudar as Escrituras várias horas. Então, conforme acontecia em Surabaja, às nove horas da manhã havia um culto que se destinava somente aos doentes e enfermos, o qual durava cerca de uma hora. Só depois disto chegavam as três mensagens diárias, durando um mínimo de duas horas cada. Também lhes chegavam muitas cartas as quais ele precisava responder. Porque ele passava o dia pregando, havia muito pouco tempo para fazer um trabalho pessoal de aconselhamento. Por essa razão ele encorajava os seus ouvintes a escreverem-lhe e relatarem desse modo as suas necessidades espirituais. Ele também pedia aos novos convertidos uma pequena fotografia através da qual tentaria recordá-los em oração. Quase sempre, sua hora para se deitar, era depois da meia-noite, depois de haver terminado de escrever os seus apontamentos também. Isto deixava-lhe poucas horas de sono até o seu novo dia de trabalho começar.

Mesmo após uma semana destas de evangelização haver terminado, ele não tinha pausa para descanso. Ele pregava literalmente durante quatro semanas por mês. Os seus únicos dias livres eram aqueles que passava viajando e deslocando-se de um lado para o outro.

 

As Pregações

 

O Dr. Sung não tinha como hábito basear os seus sermões num tema ou num texto apenas. Ele pregava passando os seus pensamentos pela Bíblia inteira, versículo a versículo. A sua aproximação para com cada passagem das Escrituras, contudo, era tão variada que muitos o comparariam a Spurgeon. As suas pregações eram o preciso espelho expressivo de tudo aquilo que ele experimentava nos seus estudos privados da Bíblia. Nós já mencionamos como ele queimou todos os seus livros teológicos na América catalogando-os de ‘Livros de Demônios’. Foi desde então que a Bíblia tomou o primeiro lugar na sua vida e foi também desde ai que ele ganhou o hábito de ler no mínimo de 10 ou 11 capítulos nos seus joelhos diariamente, escrevendo conscientemente em seu diário todos os pensamentos que Deus lhe trazia ao conhecimento.

No seu sermão de I Cor.13 tudo ficou claro e vívido, isto é, selado nas próprias mentes dos seus ouvintes em Surabaja. Ele ilustrou como em sua própria vida se havia tornado cada vez mais orgulhoso como resultado da sua ascensão e fama nos Estados Unidos e como agora o Senhor Jesus aproximou-se da sua alma com muito amor permanecendo para sempre a seu lado depois de se ter humilhado. Ilustrou, também, o abismo que existe entre o nosso orgulho e o Seu esperar por nós pacientemente; a nossa arrogância e a sua humildade; a nossa vaidade complicada e a sua simplicidade; a nossa ambição e a Sua negação prática; as nossas maneiras de suspeitar dos outros e a confiança que coloca no pecador; a nossa justiça própria e desleixe para com todos aqueles que estão caindo no inferno contrastando com o amor que Ele tem para com os que caem e até mesmo os que tropeçam levemente. Mesmo sendo nós a merecer a cruz, o filho de Deus em Seu perfeito amor e humildade submeteu-se a essa vergonha por causa de nós.

A mensagem do Dr. Sung chegou fundo aos corações e às consciências de seus ouvintes. Ainda hoje, trinta anos depois, os efeitos da sua primeira campanha missionária em Java são evidentes e permanecem. Muitos dos chineses ali permaneceram fiéis seguindo o Senhor desde então.

 

A Doutrina da Imposição das Mãos

 

Vamos entrar agora numa área de muitas controvérsias. Orar através da imposição de mãos é abusado de três maneiras diferentes.

Em primeiro lugar, a igreja abusa das diretivas do Novo Testamento nos doentes e enfermos (Tiago 5:14; Marc.16:17) caindo na descrença de nunca fazerem uso desta graça dada por Deus.

Em segundo lugar, o próximo uso abusivo desta doutrina pode ser achada nos grupos extremistas que impõem as mãos sobre todas as pessoas tanto apressadamente como indiscriminadamente. Em terceiro lugar, muitos espiritistas e feiticeiros copiaram esta prática para executarem vários rituais e tipos de magia através da imposição das suas mãos.

Tendo isto em conta, será que um cristão ainda pode ter a coragem de orar por uma pessoa impondo-lhe as mãos? Será que ainda existe um uso correto desta doutrina de uma forma adequada de se impor as mãos sobre alguém? Claro que sim: a maneira das Escrituras!

Mas qual é esta maneira das Escrituras na prática? O Dr. Sung dá-nos a reposta. Durante o seu primeiro culto do dia dedicado aos doentes, em Surabaja, ele lia Tiago 5:14 e passava a explicar: “Eu venho até vós como um presbítero da igreja. Venho em nome do Senhor Jesus e não em meu próprio nome. Não possuo poderes mágicos nas minhas mãos; por essa razão não esperem nada de mim, mas apenas d’Aquele que estará aqui conosco e servo de Quem eu sou”.

A coisa que mais frequentemente se esquece nos círculos evangélicos hoje era o que mais visível se tornava na mente e na prática do Dr. Sung. Ele explicava e aplicava que nunca colocaria as suas mãos sobre alguém que não se houvesse convertido realmente. Apenas sobre uma pessoa que houvesse confessado todos os seus pecados conhecidos pelo nome, ele impunha as mãos. E se não os houvessem confessado, dizia ele, que nunca esperassem resposta sob a imposição das mãos seja de quem for – mesmo que se orasse dessa forma.

O Dr. Sung também encorajava os doentes a buscarem o conhecimento profundo de que todas as curas iriam depender da vontade de Deus. Ele disse: “Eu não posso garantir que todos os doentes entre nós sejam curados. Nem o Senhor Jesus curou todos os doentes por quem passou. Nem sempre Ele estava autorizado pelo Pai a curar todos os doentes nos dias que passou pela terra. Quanto mais isto será verdade em relação aos seus servos!”

Após estes apontamentos introdutórios, os doentes eram trazidos para a plataforma um por um. Eles se ajoelhavam, ele ungia-os com óleo em nome do Senhor e orava com eles.

Nessa mesma tarde havia um culto de agradecimento no qual algumas das pessoas curadas davam os seus testemunhos sem os emocionalismos dos cultos de hoje. Muitos eram curados, de fato, de doenças gravíssimas. Um missionário escreveu mais tarde: “Muitos cegos receberam a sua visão, muitos paralíticos começaram a andar, os mudos falaram, os surdos saíram com os ouvidos abertos; mas, o melhor de tudo foi essas curas terem durado para sempre e nada de pior lhes ter voltado a acontecer”. Era comprovado que não se tratava daquele tipo de auto-sugestão ao qual viemos nos habituando através dos emocionalismos de hoje.

A parte mais marcante de todas nem era as curas dos doentes, mas antes que a maioria dessas pessoas experimentava um profundo e real preenchimento através do Espírito Santo de Deus durante estas imposições das mãos. Era a história dos atos dos apóstolos sendo repetida uma vez mais.

Aquilo que já foi dito aqui precisa ser sublinhado novamente. O Dr. Sung não pode de maneira nenhuma ficar incluído na lista dos enganadores de hoje, dos quais muitos são extremistas enganados. O seu ministério era muito sóbrio, fiel e comprovadamente baseado na Bíblia. Ele opunha-se veementemente a qualquer tipo de fanatismo e emocionalismo. Ele rejeitava línguas, sonhos e visões como prova dos movimentos do Espírito Santo, tal como qualquer exagero de emoção. No reino de Deus não necessitamos qualquer experiência paranormal, mas precisamos tão só de nos tornamos canais completamente purificados e purificantes através dos quais os verdadeiros rios de água viva possam fluir. Este era o ponto de vista do homem, o qual, ao contrário de muitos evangelistas atuais, permaneceu sempre numa envolvente, contínua e crescente abundância do Espírito Santo. De fato, aqueles sobre quem ele imponha as mãos acabavam por receber a mesma plenitude de vida que ele próprio tinha.

É precisamente por esta razão que não podemos catalogar a obra do Espírito Santo com terminologia fanática e exageros exploradores das emoções das pessoas, mas antes através de uma sobriedade bíblica muito séria e evidente. Por isso, a pessoa que rejeita o extremismo não está nem perto de estar rejeitando a plenitude do Espírito Santo. Não será através de rejeitar o extremismo que rejeitará o seu Deus. De fato, o contrário é que pode ser verdade, pois pode não existir um tropeço maior para uma verdadeira obra de Deus do que um pequeno sinal da existência de extremismo. É através disto que o Espírito Santo de Deus é impedido de operar mais que qualquer outro motivo.

 

O Vulcão entre os Vulcões

 

Depois de ter deixado Surabaja, Dr. Sung prometeu voltar lá pouco tempo depois. Os Indonésios haviam definitivamente conquistado o seu coração. Ele haveria de cumprir a sua promessa em Agosto e Setembro do mesmo ano. Começou sua segunda campanha missionária em Java com uma campanha em Jacarta. A comunidade chinesa inteira estava definitivamente mexida e atordoada com a verdade. Ninguém queria perder uma única mensagem deste pregador cuja reputação alcançou todos os povos que falavam chinês. Antes da semana terminar, cerca de 900 pessoas haviam se arrependido, abandonado seus pecados e entregando suas vidas a Cristo.

A etapa seguinte de sua campanha levou Dr. Sung a atravessar uma parte de Java entre os vulcões. Ele estava em seu elemento natural! Entretanto, em Surabaja, as preparações estavam bem adiantadas para receberem o tão desejado visitante.

Cerca de 2000 voluntários declararam sua prontidão para colaborarem na campanha e na sua preparação. A cooperação de todas as igrejas evangélicas também estavam visíveis na lista, incluindo aquelas que fizeram grande alarido crítico contra a sua primeira missão. Acima de tudo, toda juventude estava numa enorme expectativa de esperança real. O Dr. Sung havia-se tornado no homem mais querido, no seu homem modelo. Na maior praça da cidade uma enorme “sala” foi improvisada. Um gigantesco teto de folhas de palmeiras garantiam a proteção contra sol e a chuva, mas mesmo assim o espaço tornou-se pequeno demais.

No decorrer da semana cerca de 5000 pessoas assistiam diariamente aos discursos do evangelista. Milhares tomavam os seus lugares por volta das oito horas da manhã para poderem garantir um lugar onde permaneciam até as onze horas da noite, até quando a última das três ou quatro mensagens diárias terminassem. Eu nunca ouvi falar e nem assisti em toda minha experiência de vida uma campanha desta envergadura e nem mesmo Billy Graham conseguiu tal feito. As pessoas assistiam entre 10 e 15 horas diárias de pregações da palavra de Deus durante dez dias seguidos. Somente o Espírito Santo poderia ser responsável por tal evento. Os melhores meios de publicidade nunca poderiam tornar possível tal organização de eventos similares com resposta tão efusiva e tão entusiasta duma fome enorme pela palavra de Deus.

A sociedade bíblica local esgotou todas as Bíblias que possuía vendendo tudo, incluindo os Novos Testamentos, apesar de todos os cuidados terem sido tomados para terem o suficiente para a campanha. Os 5000 hinários que possuíam esgotaram-se rapidamente, o que obrigou uma nova tiragem no mais breve espaço de tempo possível.

O Dr. Sung pregou a partir do Evangelho de S. Marcos, o que serviu o propósito preparar as novas comitivas evangelisticas que iam sendo enviadas. Os resultados finais da campanha de dez dias, foi a fundação de cerca de 500 destes grupos de evangelização, os quais invadiram todo território de Java espalhando a mensagem do evangelho por todos os cantos.

Um dos intérpretes do Dr. Sung, um pastor de Malang, disse: “Não havia nada de extraordinário nas pregações e no estilo do Dr. Sung. O seu repertório de sermões não era muito vasto sequer. As suas apresentações das mensagens eram frequentemente tão simples que qualquer criança as entenderia, mas um grande poder de convicção brotava a partir deste homem. Eu, como seu intérprete, pude sentir os efeitos da verdade dentro de mim próprio duma maneira excepcional”.

Parece até poético dizer isto, mas esta comparação justifica-se plenamente: Dr. Sung pregava entre os vulcões de Java e era um homem feito do mesmo fogo e molde. Uma vez ele disse sobre ele mesmo: “Existem muitas pessoas melhores que eu. No tocante à exposição das Escrituras, eu nunca igualarei a Watchman Nee. Como pregador nunca serei como Wang Mingtao. Como escritor, nunca serei comparável a Marcus Cheng. Mas, num ponto apenas consigo ultrapassá-los todos em conjunto: eu sirvo meu Deus com todas as fibras do meu corpo e com cada pedaço de força e energia que possuo. Não sobra nada de mim que não pertença a Deus e que Deus não use”. O Apóstolo Paulo não disse o mesmo dele próprio? “Eu trabalhei mais abundantemente que todos eles juntos”, I Cor.15:10.

De que maneira poderíamos afirmar estas mesmas coisas sobre Dr. Sung? Depois de termos ouvido um pouco sobre a sua rotina diária, podemos agora apercebermo-nos de como o seu labor esgotava todas as forças que ainda possuía.

Durante um longo período de tempo os seus amigos mais chegados aperceberam-se que ele estava doente. Eles o aconselharam-no a buscar tratamento médico ao que ele respondeu: “Eu não tenho tempo para isso eu preciso muito pregar o evangelho! Não dá tempo!” Durante a última palestra da campanha em Surabaja as dores na sua coxa tornaram-se insuportáveis ao ponto dele não conseguir mais ficar em pé para pregar. Mandou buscar um banco para ele, sobre o qual se ajoelhou. Ele pregou sobre os seus joelhos. Disse mais tarde: “As dores só paravam quando eu orava ou pregava, assim que terminasse elas voltavam”.

Surabaja foi o ponto alto de toda obra do Dr. Sung na Indonésia. Como os cristãos e os malaios ficavam atentos e agarrados a cada palavra vinda dos seus lábios! Quando ele deixou a cidade, no dia 30 de Setembro de 1969, centenas de pessoas ficaram em pé cantando-lhe uma despedida emocionante. Alguns missionários católicos em cima dum barco olhavam aquela multidão em uníssono com muita admiração. Eles perguntavam-se entre si quem seria aquela pessoa tão importante assim. Mas, a única pessoa que eles viram saindo foi um pequeno e insignificante homem chinês curvado debaixo das dores do seu corpo doente.

Naturalmente que muitas vozes de boas intenções se levantarão perguntando: Por que é que ele não se poupou? Por que não seguiu os conselhos de Paulo que dizia que um corpo saudável é algo de grande proveito? Por que razão este homem se martirizou a ele mesmo e não se cuidou?”

As respostas são difíceis de achar. É verdade que estas objeções se aplicam a todos os obreiros no reino de Deus, mas será que existe algum bom senso em dizer a um vulcão ativo: “Por favor podes parar de enviar fumaça para o alto e cinzas para os céus? Podes parar de lançar lava do teu interior?” Nenhum vulcão obedeceria a tais instruções. E o Dr. Sung era um vulcão por natureza.

 

O Profeta

 

O Dr. Sung não tinha como ser restringido e isto era certamente o plano de Deus para a sua vida. Em retrospectiva, isto pode ser afirmado com toda segurança. Este homem de Deus vivia sob uma permanente impressão de que precisava apressar-se: “Eu tenho tão pouco tempo”. E certamente que isso era uma verdade, pois ele faleceu aos 43 anos de idade e foi para casa para estar para sempre com o Senhor.

No tocante à política, ele também dizia que lhe restava pouco tempo. Em Surabaja ele uma vez disse profeticamente: “Guerras e tempos de perseguição virão sobre vós”. E como estas palavras vieram a cumprir-se! Ele sabia que tinha pouco tempo! A Indonésia foi ocupada durante dois anos pelos japoneses logo após isso. Surgiram as lutas para a independência contra os holandeses que descrevemos anteriormente, seguindo-se mais tarde o conflito sangrento com os comunistas, o qual dizimou cerca de 1.000.000 de vidas. E o pior de tudo foi o caos causado pela guerra através do qual surgiram as perseguições contra os cristãos de Sumatra, Leste de Java e outras áreas deste grande arquipélago.

E não menos importante, Dr. Sung sentia a aproximação da segunda vinda de Cristo. Ele pregava continuamente sobre este fato e lutava arduamente, preparando os cristãos para que eles fossem achados prontos para receberem seu Senhor.

A sua última mensagem à igreja, a qual ele deu pouco tempo depois da sua campanha na Indonésia, foi: “A obra do futuro aqui será a obra da oração”. Estas palavras também foram verdadeiramente proféticas.

Como chinês, Deus também lhe havia mostrado que na China e um pouco por todo mundo as portas se iriam fechar para o evangelho. Na China atual as portas estão realmente fechadas (*NOTA: este livro foi escrito na época e no auge do comunismo) e outros países encontram-se na senda de fazer o mesmo. Com a vinda do anticristo, a onda de perseguições terá a tendência apenas para aumentar.

Instigado e impulsionado pelo Senhor Jesus a partir do seu coração e não dando qualquer valor a sua própria vida, o Dr. Sung esgotou-se por completo queimando tudo que era ao serviço do seu Rei que ele achava que em breve viria. Na verdade, ele sempre teve uma grande esperança de poder morrer enquanto estivesse pregando no púlpito.

Para além deste lado profético da sua vida, temos ainda um assunto meramente humano para mencionar. O Senhor necessitava de ensinar ao seu servo a sua última lição: A arte do sofrimento. Seguindo-se a um exame médico em Xangai, os médicos detectaram tuberculose nos pulmões e um câncer. Uma escola interminável de dor e agonia combinou-se com as três cirurgias que se seguiram.

O Dr. Sung entendeu isso como o jeito de Deus para com ele. Ele disse: “Deus precisa derreter todo meu temperamento impulsivo e teimoso nas caldeiras da dor”. Isso foi precisamente o que aconteceu com ele. Durante o seu sofrimento ele perdeu por completo o seu jeito brusco de expressar-se e tornou-se o homem mais paciente, mais afável, quente e compassivo.

Vendo a morte aproximar-se, ele disse: “O Senhor Jesus está ali na porta esperando por mim para levar-me com Ele”. E isso também aconteceu assim. Poucas horas depois destas suas últimas palavras, ele foi levado para o céu.

 

VI. ANDREW GIH

 

Meus caminhos já cruzaram variadíssimas vezes com muitos panfletos deste abençoado evangelista: Em Hong Kong, Singapura, na Formosa e em Los Angeles. Depois do Dr. Sung, ele é um dos evangelistas mais proeminentes deste século na China. Na noite que eu estava a escrever este livro ele tinha 68 anos e estava passando essa noite na Califórnia. Para podermos ter um entendimento melhor do poder do seu ministério, iremos ouvir primeiro uma das experiências que teve durante o seu trabalho missionário.

 

O Bandido

 

Por altura dos distúrbios comunistas em Shantung, um bandido de nome Wang estava no auge da sua carreira de seus roubos, raptos e extorsões. Um dia, chegando a certa vila na esperança de conseguir dar um golpe, ele viu uma grande multidão reunida. “O que está acontecendo ali?” ele perguntou. Ninguém respondeu porque todos estavam ouvindo atentamente. Decidiu prestar atenção ao homem que falava na frente. Era o senhor Gih e ele começou a ler a história do filho pródigo em Luc.15: “Poucos dias depois, o filho mais moço ajuntando tudo, partiu para um país distante e ali desperdiçou os seus bens, vivendo dissolutamente”. Ele arregalou os olhos e muito admirado exclamou: “Como é que este homem sabe a história da minha vida?”

O bandido escutou atentamente ainda mais depois de achar que o evangelista estava a contar a história da vida dele. No final, ele também foi adiante junto com as outras pessoas entregar a sua vida ao Senhor Jesus. Foi nesse momento que um criminoso foi transformado num discípulo de Cristo.

A sua transformação trouxe muitos frutos para o reino. Logo no primeiro dia ele foi para casa, ajoelhou-se diante de sua esposa e implorou o perdão dela. De seguida, procurou os seus pais idosos e também lhes pediu para o perdoarem. A etapa seguinte levou-o ao pastor do distrito onde vivia. Tornou-se num membro ativo daquela congregação e usou todas as oportunidades que teve para proclamar a sua nova fé aos seus antigos amigos e companheiros de crime. Quando eles olhavam para ele admirados e riam na sua cara, ele calmamente firmava-se ainda mais no seu terreno, ficando inabalável, algo que era prova suficiente de que a sua natureza havia realmente mudado.

Contudo, numa ocasião um dos seus comparsas anteriores, enquanto escarnecia e fazia piadas rindo dele, disse: “se um gangster como tu pode pregar o evangelho, esse tal Jesus também…” – ele não terminou a frase. No momento seguinte Wang caiu-lhe em cima e arrancou-lhe uma orelha à dentada. Cuspindo a orelha para fora limpou o sangue da sua boca e disse muito calmamente: “Tu podes insultar-me o quanto quiseres e da maneira que quiseres, mas não irás insultar o Senhor Jesus na minha frente!” O homem ferido afastou-se dali fazendo um voto de vingança.

Wang dirigiu-se ao seu pastor e contou-lhe o incidente. Estava convencidíssimo que havia feito a coisa mais certa do mundo. Então, o pastor leu para ele a história onde o Pedro cortou a orelha do sumo-sacerdote Malco, onde Jesus o repreendeu e curou a orelha do pobre homem. Ele acrescentou: “Você fez exatamente a mesma coisa! Pedro, depois de ter sido cheio do Espírito Santo, nunca mais tornou a fazer algo semelhante”. Wang arrependeu-se de imediato e suplicou ao Senhor par a enchê-lo do Espírito Santo para não mais ser tentado a fazer aquilo. Ele achava que, quando fosse cheio do Espírito também não tornaria a fazer a mesma coisa!

Esta é uma clara referência do tipo de bênção que acompanhava Andrew Gih. Mas, ele ainda tinha um longo caminho para percorrer. Vamos agora ouvir algo sobre a forma como o seu ministério se foi desenvolvendo.

 

A Conversão de Andrew

 

O budismo foi a religião na qual ele nasceu e cresceu. Contudo, toda a sua família era apenas budista nominal, pois não eram praticantes. Eles estavam tão preocupados com Buda quanto muitos crentes estão com Cristo.

Foi a curiosidade que um dia levou o Andrew a visitar um templo budista. Mas, os ídolos monstruosos e as figuras assustadoras ilustrando o inferno revoltaram-no completamente.

A sua visita seguinte foi a uma igreja católica. Quando entrou ainda usava o seu chapéu de palha típico. Mas, alguém tratou de o arrancar da sua cabeça! Andrew ficou irritado com esse incidente e prometeu nunca mais voltar a entrar numa igreja cristã.

Contudo, já podíamos detectar a mão de Deus operando em sua vida. Os amigos de Andrew começaram a estudar inglês e ele também quis dominar a língua. Mas, não conseguia achar um local onde aprender. No final, ele decidiu relutantemente ingressar na escola missionária Bethlehem em Xangai. Mas, fez um voto a si mesmo que em circunstância alguma se envolveria com a religião dos estrangeiros.

Havia um culto diário nesta escola. Mas, Andrew evitava-o a todo custo com a desculpa: “Eu vivo longe demais e não consigo chegar a tempo”. Na missão a língua inglesa era, no entanto, ensinada a partir da Bíblia e foi dessa maneira que os seus conhecimentos sobre o grande Livro foram crescendo.

A maioria dos estudantes eram cristãos convictos e por essa razão muitos desafiavam-no constantemente. “Tu acreditas que Deus criou o mundo?” uma moça perguntou-lhe. “Não”, respondeu Andrew. “De onde chegamos nós então?” outro estudante perguntou de seguida. “Dos nossos pais, claro” Andrew respondeu prontamente. “E de onde vieram os nossos pais?” “De formas de vida anteriores”, respondeu ele. “E por que razão ainda existem macacos que não se transformaram em gente?” Andrew ficou sem resposta e irritado. Contudo, os cristãos não o deixavam em paz e nem cessavam de orar por ele.

Um dia, os professores da escola Bethlehem convidaram todos os estudantes para um encontro missionário. Para tornar mais conveniente a todos os estudantes, era-lhes oferecida a refeição da noite. Devido ao fato dos chineses serem muito cordiais, ele sentiu-se na obrigação de aceitar por causa da cordialidade para com a oferta da refeição.

Essa noite foi o ponto de mudança de rumo na vida de Andrew Gih. Explodiu nele uma profunda consciência dos seus pecados e do seu estado pecaminoso por estar em falta para com Deus. Durante essa noite não conseguia dormir e lutava, ora contra ora a favor do seu pecado, até finalmente sucumbir e clamar: “Senhor tem misericórdia de mim, um pecador!” Nesse momento, a paz de Deus invadiu a sua vida e a certeza de que Deus havia tomado posse de toda a sua vida apoderou-se indiscutivelmente dele. Logo no dia seguinte manifestou aos cristãos e não cristãos a sua nova experiência. “Tornar-me cristão foi a melhor coisa que fiz em toda minha vida!”

 

A Porta Aberta

 

Logo desde o início Andrew era um homem de oração. Ele agarrava com todas as suas forças em cada promessa que encontrava na Bíblia. Por essa razão, foi um grande encorajamento para ele quando um versículo explodiu e fez um grande eco dentro dele: “Eis que tenho posto diante de ti uma porta aberta, que ninguém pode fechar”, Apoc.3:8.

Confiante e dependente desta promessa saiu à procura dum emprego. Era preciso ajudar a sua mãe a manter a família por que seu pai havia falecido muitos anos atrás. Nessa época os correios principais de Xangai abriram 100 vagas. Contudo, o número de candidatos era aos milhares. Pior ainda, somente aqueles que falassem inglês seriam admitidos e Andrew era apenas uma principiante do idioma. Muitos dos candidatos já haviam viajado para o estrangeiro. Andrew decidiu-se pela oração. Ele ganhou um posto.

As lágrimas correram no rosto da sua mãe quando ele trouxe o seu primeiro salário. Ela disse: “Filho, eu nunca vi tanto dinheiro em minhas mãos desde o falecimento de papai”.

Mas, mesmo assim, Andrew não tinha desejo algum de ser empregado dos correios toda a sua vida. Uma noite teve um sonho. Viu um homem velho tocando um sino para convocar pessoas para um culto. De repente, enquanto o sino tocava, o homem foi atacado por um leão e morreu. Andrew ouviu então uma voz perguntando: “Quem tomará o lugar dele?” No exato momento que ouvia a pergunta, ele foi acordado e sabia de imediato qual a resposta que daria.

Com o coração pesado foi contar à sua mãe que sentia Deus chamando-o para o ministério. Ela começou a chorar e exclamou: “Então lá terei que voltar a tecer de novo até à meia-noite todos os dias para poder dar de comer aos outros filhos!” Como aquela resposta lhe despedaçou o coração. O Senhor, contudo, direcionou-o para o versículo: “Aquele que não deixa mãe, esposa e filhos por amor a mim não será digno de ser meu discípulo”.

Andrew concorreu para se tornar estudante bíblico na missão Bethlehem. Recebeu uma pequena bolsa, metade da qual oferecia à sua mãe. A outra metade ficava para ele, mas nem era o suficiente para suas roupas e sapatos e por essa razão andava sempre vestido de uma forma muito pobre.

No entanto, a sua vida interior era o exato oposto de sua aparência exterior. O seu coração queimava para Jesus. Todas a noites saia pelas ruas e pelos bairros vizinhos da cidade pregando o evangelho a toda gente que encontrava. Por que não tinha dinheiro para o ónibus, era obrigado a andar a pé para todo o lado. Durante a estação das chuvas quase sempre andava com água pelo joelho. Isso resultou numa gravíssima gripe da qual não conseguia curar-se. Ele orou e o Senhor respondeu-lhe uma vez mais com Is.43:2: “Quando passares pelas águas, Eu serei contigo; quando pelos rios, eles não te submergirão; quando passares pelo fogo, não te queimarás, nem a sua chama arderá em ti”.

Apesar duma tosse persistente, ele continuou pregando. Durante as férias ele e um amigo fizeram uma campanha evangelistica. Ficaram três meses numa província do sul e lá Andrew começou a cuspir sangue. No início de um dos cultos da noite, tossiu tanto que encheu um lenço de sangue. O seu amigo mandou-o para a cama, mas ele não conseguia descansar. Assim que ouviu os cânticos desde o seu quarto e quando chegou a hora da pregação, ele esgueirou-se para dentro da igreja. Subindo ao púlpito começou a pregar. Três meses depois a sua tuberculose desapareceu milagrosamente. Mais tarde, ele apercebeu-se que era pecado ser tão descuidado com a saúde. Contudo, desta vez o Senhor foi misericordioso para ele.

Andrew dependia inteiramente das provisões de Deus para as suas necessidades pessoais. Um dia orou a Deus por algum dinheiro para comprar um par de sapatos. A resposta chegou de imediato. Um amigo ofereceu-lhe dois dólares, os quais, na altura, seriam o suficiente para comprar os ditos sapatos. Mas, logo a seguir Andrew recebeu uma outra visita. Só que desta vez era um jovem que se tinha convertido há bem pouco tempo. Este jovem cristão encontrava-se numa situação desesperante, pois havia abandonado a sua anterior ocupação desonesta após a sua conversão. Pediu ajuda a Andrew depois de ele próprio já ter vendido alguma roupa para poder comprar arroz. Andrew orou por dinheiro para seu irmão em Cristo. Uma voz interior perguntou-lhe: “Por que me pedes dinheiro? Tu tens dois dólares. Dá-lhe!” Após haver hesitado uns instantes entregou-lhe o respectivo dinheiro. Alguns dias depois o Senhor pagou-lhe de volta com 1400% de juros. Alguém lhe deu 30 dólares!

Uma vez, após um culto da noite, Andrew ficou para trás para orar com umas pessoas que tinham assistido ao culto. Repentinamente, houve um alvoroço do lado de fora e ele ouviu alguém gritando ameaçadoramente: “Matem o porco!” Muitos cristãos correram de volta para dentro da igreja e ficaram ao lado de Andrew. Ajoelhando-se com ele começaram a orar. Um bando de gente entrou na igreja com cassetes e paus nas mãos, mas ao ouvirem os crentes orando recuaram mudos e abandonaram a igreja. O Senhor protegeu o seu Servo.

 

Revestido de Poder

 

Mesmo tendo tido algumas experiências maravilhosas com o Senhor, Andrew ainda sentia uma falta e um vazio dentro da sua vida e também uma falta de autoridade nas suas pregações. Consequentemente, um dia escutando um evangelista sóbrio, ele aceitou o convite de ir à frente. Este renovado ato de humildade diante do Senhor foi enormemente compensado. A presença do Senhor Jesus tornou-se real para ele e ele ganhou desde então uma forma de vida muito sóbria, isto é, uma realidade vivente. Ele escreveu mais tarde dizendo: “O que eu experimentei não foi nada sobrenatural. Não falei em línguas, não tive visões e não ouvi nenhuma voz. Simplesmente consegui render e entregar toda a minha vida por inteiro e incondicionalmente ao Senhor Jesus. Desse modo um novo poder foi fornecido para a minha vida”.

Esta sua nova bênção trouxe-lhe muitos frutos. Onde quer que o jovem evangelista fosse, acontecia um pequeno avivamento.

Por exemplo, numa certa cidade na Província de Cantão, o diretor do colégio Bíblico local opôs-se vigorosamente contra a campanha missionária de Andrew Gih. Mas, mesmo assim, muitos dos estudantes acabaram sendo convertidos. No final, o próprio diretor do colégio também foi ganho para Cristo. Como dizia John Sung: “Os pedaços maiores de carvão são sempre os últimos a pegar fogo”. No final desta campanha, o diretor da escola pôs-se em pé no púlpito, dando o seguinte testemunho:

“Eu tive a felicidade de ter sido criado e educado na América. Foi lá onde aprendi toda a minha teologia e doutrinas. Quando este jovem evangelista Gih começou a sua campanha aqui, opus-me a ele. Eu tinha a certeza que se justificava porque achava que ele estava enganando os jovens. Contudo, a sua última mensagem afetou definitivamente a minha consciência. Eu fui obrigado a confessar todos os meus pecados um por um, mesmo que resistisse a tal idéia e agora coloco-me aqui diante de todos vós que são os estudantes a quem ensinei muitas coisas durante muitos anos. Esta manhã, um jovem da mesma idade que a vossa deu-me a sua mensagem. Quando ele perguntou quem queria dedicar-se inteiramente a Cristo e quando todos vós tomaram as vossas decisões, tornou-se bastante claro para mim que também me faltava alguma coisa importante na minha vida. Os meus muitos estudos e treinos prolongados nunca foram capazes de vos influenciar e contagiar do mesmo modo que esta campanha conseguiu fazê-lo. Por favor, orem por mim para que me possa ser dado aquilo que ainda me falta em minha vida.

Na cidade seguinte a história repetiu-se. Os estudantes da Escola Teológica local experimentaram uma nova e profunda santificação das suas vidas. Até os professores se arrependeram e buscavam o perdão dos seus pecados da mesma maneira. As moças duma escola sênior feminina permaneceram em oração dentro da igreja até que todos os seus professores houvessem sido convertidos a Cristo. Até as desavenças mínimas entre Cristãos terminaram. A escola sênior para rapazes, também foi sugada para dentro do avivamento. Rapazes complicados, os quais haviam sido um enorme problema dentro da escola durante anos, converteram-se. O seu diretor igualmente confessou os seus pecados e declarou publicamente: “Devido à minha educação tornei-me ateu. Agora entreguei minha vida a Jesus Cristo”. Até mesmo pastores e outros ministros do evangelho arrependeram-se e confessaram publicamente os seus pecados e os seus desleixes ocasionais na obra de Deus. Grupos de orações despontaram por todos os cantos e cada um chegava a ter entre 50 a 60 participantes.

Andrew Gih dá-nos o perfeito exemplo de como uma mensagem dada através o Espírito Santo pode ser entregue sem quaisquer traços de fanatismo. Ele disse uma vez: “Antes de podermos falar sobre os dons espirituais, devemos obrigatoriamente nascer de novo e de seguida sermos cheios da plenitude do Espírito Santo. Só depois disso ter acontecido é que o Espírito Santo distribui os seus dons aos homens. Mas, ele distribui conforme quer e nem serão iguais para todos”. Numa outra ocasião ele declarou:

 “Qualquer um que não tenha a plenitude do Espírito Santo, não tem qualquer poder ou capacitação para o serviço de Deus e isso tornar-se-á uma triste e previsível conseqüência caso afirmemos ainda assim sermos seguidores dum Deus vitorioso. Se todos os servos do Senhor fossem cheios do Espírito Santo de forma real e não fosse ficção, então toda igreja traria muito fruto, o qual, por sua vez, traria transformação e ninguém poderia impedir que um avivamento a nível mundial viesse a acontecer. É por esse avivamento que todos nós oramos e se acontecesse os Seus filhos estarem cheios de Deus, esse avivamento seria seguramente o resultado a esperar”.

 

A Plenitude do Espírito Santo

 

Através dos seus sermões, Andrew Gih conseguia esclarecer muito bem tudo sobre ‘sermos cheios do Espírito Santo’. Vale a pena transcrever para aqui alguns dos seus pensamentos.

“Sempre que uma igreja cristã estiver orando por um avivamento real, então é preciso entender logo desde o início que, a Bíblia, sendo a palavra de Deus, necessita tomar seu lugar como a única referência de tudo que fazemos ou cremos. Antes de tudo precisamos ler a bíblia, dar ênfase somente à Bíblia, ensinar a Bíblia, pregar a Bíblia, reverenciar e praticar toda a Bíblia, antes de podermos ter uma ligeira esperança de podermos vir a ser cheios do Espírito do Deus, de Quem é a Bíblia.” Será que é isto que está a acontecer em nossas faculdades, escolas de teologia atuais e entre os líderes das igrejas?

“O Espírito Santo transforma tudo. Por exemplo, a caminho de Cafarnaum, os discípulos brigavam entre eles sobre quem entre eles seria o maior. Mas, depois do Pentecostes, tornaram-se de tal maneira humildes que até Pedro aceitou a repreensão de Paulo sem uma única palavra de murmuração e de contestação. Da mesma forma, Pedro fugiu de uma moça quando negou a Cristo, mas, depois do Pentecostes, ele permanecia firme e irreverente diante de multidões e encarava o mundo de frente sem pestanejar por um momento”.

Para os seguidores de Cristo de então, tudo se resumia em salvar as almas de sua perdição. Mas, hoje a ênfase recai sobre a constituição e normas das igrejas, obras sociais e ligações ecumênicas ou então em assuntos de semelhante valor e natureza.

Depois de terem sido cheios do Espírito Santo, Pedro e João apenas conseguiam dizer: “Não podemos falar se não aquilo que vimos e testemunhamos”. Hoje, a obra de um pastor resume-se a algumas idas ao púlpito, enquanto Paulo exorta-nos a pregar a palavra dentro e fora de tempo. O que Paulo diz, parece estar completamente esquecido ou então está a ser ignorado. Foi por essa razão que um pastor de uma igreja em Java foi excluído da sua igreja, pois ele saiu a pregar nas ruas. A igreja justificou a sua demissão com as seguintes palavras: “pregar fora da igreja é contra nossa constituição”.

Para podermos receber o Espírito Santo, existem certos pré-requisitos que nunca poderão ser ignorados: Fé, oração e uma obediência incondicional. Antes da sua ascensão Jesus prometeu aos discípulos: “recebereis poder quando o Espírito Santo vier sobre vós e sereis minhas testemunhas”, At.1:8. Os discípulos voltaram para Jerusalém e esperaram lá até que isso tivesse acontecido. Só esse fato de terem esperado manifesta sua fé espontânea. E de comum acordo dedicaram-se integralmente à oração.

Os seus conhecimentos sobre o dom das línguas também são bastante elucidativos. Ele disse: “Na sua conversão, Paulo não recebeu logo o dom das línguas. Esse dom surgiu mais tarde. No avivamento em Samaria também não se fala em nenhum dom de línguas. Mas, acima de todos os argumentos, existe o fato de que Jesus nunca falou em línguas. Existem hoje, contudo, crentes que erradamente assumem que o dom das línguas é a evidência do batismo com o Espírito Santo. Isso é claramente contrário ao que as Escrituras nos revelam. Também deve ser aqui lembrado que nenhum dos grandes homens de Deus como Wesley, Moody, Spugeon, General Booth, Hudson Taylor e muitos outros possuíram o dom das línguas e estavam indiscutivelmente cheios do Espírito Santo”.

Eu pessoalmente também acho muito interessante que Andrew Gih dizia haver três origens para o dom das línguas. Também descrevi estes três aspectos num livrinho intitulado “O problema das línguas”:

1.                  O dom das línguas existe como dom do Espírito Santo (Marc.16:17, Act.10:44 e 19:6, I Cor.12:14);

2.                  Este dom também pode ser fruto da expressão e do engano da própria alma da pessoa. Jeremias diz: “falam da visão do seu coração, não da boca do Senhor”, Jer.23:16”;

3.                  Línguas de origem demoníaca: “Se se levantar no meio de vós profeta, ou sonhador de sonhos e vos anunciar um sinal ou prodígio e suceder o sinal ou prodígio de que vos houver falado e ele disser: Vamos após outros deuses - deuses que nunca conhecestes - e sirvamo-los! Não ouvireis as palavras daquele profeta, ou daquele sonhador; porquanto o Senhor vosso Deus vos está provando, para saber se amais o Senhor vosso Deus de todo o vosso coração e de toda a vossa alma. Após o Senhor vosso Deus andareis e a ele temereis; os seus mandamentos guardareis e a sua voz ouvireis; a ele servireis e a ele vos apegareis. E aquele profeta, ou aquele sonhador, morrerá, pois falou rebeldia contra o Senhor vosso Deus, que vos tirou da terra do Egito e vos resgatou da casa da servidão, para vos desviar do caminho em que o Senhor vosso Deus vos ordenou que andásseis; assim exterminareis o mal do meio vós”, Deut.13:1-5.

Existem dois extremos hoje nas igrejas cristãs. Um deles, predominantemente entre os novos racionalistas, nega por inteiro a existência ou manifestação do Espírito Santo; a outra corrente é predominantemente extremista: eles dão ênfase total no artigo quinto da confissão de fé. Nunca podemos esquecer que a obra do Espírito Santo é somente glorificar a Cristo e torná-lo conhecido entre os homens. Jesus tem que estar no centro da nossa confissão de fé e no centro de nosso testemunho prático de vida. Qualquer pequeno desvio de ênfase levará a um falso ensino e à falsidade.

 

A Obra em Java

 

Andrew Gih foi um dos responsáveis indiretos do atual avivamento na Indonésia. É claro que não existe nenhuma ligação entre ele e o atual avivamento. Em todo caso, Andrew Gih e John Sung foram responsáveis pela primeira apresentação clara do evangelho neste território pagão.

Em 1951, Andrew chegou pela primeira vez à Indonésia. A sua obra começou em Bandung. Os primeiros frutos do seu ministério chegaram mesmo antes do previsto. Um jovem aproximou-se dele e implorou-lhe: “Por favor batize o meu pai! Ele encontra-se no leito da morte.” Andrew não conseguiu chegar ao homem moribundo. Ele encontrava-se já de olhos fechados. Disse-lhe: “o Senhor Jesus veio a terra e morreu por si na cruz. Você acredita?” Ouviu-se um murmúrio incompreensível. Logo de seguida Andrew orou da seguinte forma: “Senhor Jesus, só posso batizar esse homem na confiança. Eu peço que nos dês um sinal claro através duma palavra da sua boca que ele realmente se converteu antes de morrer”. No dia seguinte o velho homem melhorou consideravelmente e o seu filho disse: “Papai, ontem o pastor Gih batizou o senhor. Você reconhece o Senhor Jesus como o Senhor da sua vida?” O homem quase a morrer replicou: “mas é claro que sim, aceitei-O dentro de mim”.

Isto foi um bom início. Depois, a sua campanha estendeu-se de Bandung para Surabaja. Na primeira noite, cerca de 400 pessoas vieram ouvi-lo. Gradualmente e conforme a semana ia passando, a igreja chegou a estar tão cheia que no final da semana estavam cerca de 300 pessoas em pé à porta porque não havia mais lugar para eles dentro do local de culto. Todas as noites entre 30 a 200 pessoas vinham à frente arranjar-se com Deus. Surabaja não havia experimentado tal avivamento desde os tempos do Dr. Sung.

Acrescentando aos cultos que eram especificamente dedicados às pregações do evangelho, também houve um culto para a cura dos enfermos. Durante a sua campanha, Andrew Gih era constantemente pressionado a orar pelos doentes e a impor-lhe as mãos. Por fim acabou por concordar e aceitar realizar um culto só para os doentes. Ele pensava que cerca de uma dúzia de pessoas iria aparecer, mas, para sua admiração, apareceram entre 300 a 400. Mais tarde, muitos testemunharam e confirmaram que estavam realmente curados.

Uma mulher sofria dum tumor. E Quatro médicos aconselharam-na a fazer uma cirurgia. Contudo, como ela tinha de cuidar de outra pessoa doente, não havia maneira de ficar internada num hospital. Gih orou por ela. Quando foi ao hospital para fazer mais um exame médico, nenhum médico conseguiu detectar qualquer sinal do tumor. O Senhor tocou no seu corpo curando-a.

Na escola sênior feminina em Surabaja havia quatro professores. Três deles tornaram-se evangélicos durante o curso da missão. A quarta recusava-se a freqüentar os cultos. Mas, no final da semana ela ouviu dizer que Andrew Gih estava chegando de Xangai, local onde havia nascido também. Por causa disso e devido a sua curiosidade, resolveu ir ouvir o que ele dizia. Ela foi tocada pela mensagem e por tudo que ouviu e acabou por se converter nessa mesma noite. Experimentou dois milagres simultâneos em sua vida. Durante vinte anos havia sofrido do estômago e por essa razão era obrigada a manter uma dieta rigorosa. Conseqüentemente emagreceu bastante, mas, depois do culto, ela ficou para trás juntamente com os outros. Após haver esperado um longo tempo devido à grande multidão que aguardava por aconselhamento, Gih orou por ela impondo-lhe as suas mãos. Chegou em sua casa muito tarde nessa noite e sentiu uma fome incontrolável. Ela comeu tanto quanto lhe saciasse totalmente a fome e foi dormir um sono tranqüilo. Desde então permaneceu sempre de boa saúde o Senhor Jesus salvou-a tanto espiritualmente quanto fisicamente.

Andrew Gih concluiu a sua campanha missionária em Malang. Devido ao fato de 120 jovens numa única noite haverem decidido seguir a Cristo, Andrew teve a excelente idéia de formar uma Escola Teológica para formação de evangelistas. Naturalmente que tal empreendimento era contrariado por vários tipos de dificuldades. Eram necessários professores, um local e dinheiro para construir as instalações. Ele levou todas essas preocupações aos pés do Senhor em oração. E o senhor respondeu. Dos 12.000 dólares necessários para a construção, cerca de 4.000 dólares entraram só durante a primeira semana de campanha. Os primeiros cinco professores também vieram para oferecer os seus serviços. Os estudantes – algo que é a maior dificuldade no mundo ocidental – nem foram problema sequer. Eles já se encontravam à espera de serem admitidos mesmo antes da construção haver terminado.

Em 1968 Deus permitiu que eu fizesse uma visita pessoal às cidades afetadas pela pregação de Andrew Gih. Foi-me permitido o privilégio de discursar quatro vezes na Escola Teológica que ele fundou. Nessa data havia lá cerca de 90 estudantes dedicados. Também havia 400 outros estudantes num colégio que ele igualmente fundou.

E assim completamos estas curtas biografias de dois evangelistas chineses que foram os principais pioneiros de toda a obra atual na Indonésia. Eles eram os dois amigos, John Sung e Andrew Gih. A obra dos dois ficou consolidada predominantemente entre chineses da Indonésia, enquanto o avivamento poderoso atual está decorrendo entre a população malaia e muçulmana. Deus, na sua misericórdia, conseguiu alcançar os três principais grupos étnicos da Indonésia. Sem qualquer dúvida, podemos afirmar que o Senhor está alcançando todos os seus propósitos no meio dos povos da Indonésia.

Os pioneiros da obra missionária cristã foram perdendo a sua influência gradualmente, mesmo que as organizações que fundaram ainda existam e estejam operantes. O Senhor escolhe sempre novos instrumentos quando os antigos se tornam desgastados e obsoletos. No presente momento, é a vez da Indonésia estar a ser usada por Deus. No final dos tempos chegará, sem dúvida, o tempo de Israel ser usado. No entanto, a Indonésia é atualmente o país que carrega essa tocha do evangelho. Os sinais que suportam essa afirmação são bastante visíveis e claros.

 

VII. PERGUNTAS E QUESTÕES SOBRE O AVIVAMENTO NA INDONÉSIA

 

Os anos da minha vida foram um privilégio porque me foi concedido visitar um grande número de lugares que foram centros nevrálgicos de avivamentos reais. Isto encorajou-me a ler tudo o que encontrava sobre avivamento.

Todos os avivamentos reais dispõem de um curso e de uma maneira distinta extremamente bíblica. As minhas conclusões e as ilações que tirei foram as seguintes:

Em primeiro lugar, o Espírito Santo de Deus sopra só onde quer. Ele é soberano em tudo que possa fazer. Não podemos pensar que controlamos as suas atuações e as suas maneiras de atuar. Tentar forçar Deus mesmo que seja através da oração, pensando que Deus não quer dar de sua própria autoria, levar-nos-á sempre a um desvio psíquico, emocional ou mental. Esta afirmação não invalida de maneira nenhuma a seguinte verdade: “o reino de Deus sofre violência até agora e é tomado pela força”.

Em segundo lugar, descobrimos através duma intensa, exaustiva e aprofundada pesquisa que, todo aquele avivamento que é verdadeiramente real, provoca a ira de todas as igrejas estabelecidas e institucionalizadas. Aqui, podemos aplicar irreverentemente o pensamento de John Sung: “os pedaços de carvão maiores são sempre os últimos a pegar fogo”. Caso alguma igreja esteja concordando com um movimento espiritual logo desde o início, existem fortes razões para duvidar da sua natureza bíblica desse avivamento e da sua isenção pessoal dentro desse movimento.

Um avivamento real é sempre caracterizado por pessoas profundamente quebrantadas sob o peso da culpa dos seus próprios pecados, arrependendo-se e entregando as suas vidas a Cristo incondicionalmente, tornando-se Ele o seu único Salvador e Esperança.

Cada avivamento tem dentro dele, também, ramificações e correntes d’água nascidas no seio do diabo. Os crentes nominais ficam frequentemente impressionados, agnósticos e resistentes à obra de Deus devido a essas atividades satânicas paralelas, as quais associam à verdadeira obra de Deus. Mas, devemos sempre ter em conta que nos terrenos onde Deus semeia, um inimigo vem na calada da noite semear o seu joio também. As palavras do nosso Senhor glorioso ainda hoje se aplicam “Sei onde habitas, que é onde está o trono de Satanás”, Ap.2:13.

Obras de caridade, serviços sociais, ações de caridade dentro duma comunidade e teologia podem de fato tornar-se coisas boas, mas tem muito pouco a ver com um verdadeiro avivamento. Na verdade, essas ditas coisas boas estão sempre cobertas com uma auréola catastrófica de imunidade ao Espírito de Deus, devido ao fato de suas obras servirem de razão para não se transformarem por dentro. As pessoas tornam-se como um pato e mergulham para manterem apenas o exterior das suas penas limpas e brilhantes. Esses são os terrenos onde as doutrinas da busca de dinheiro, ou da busca do intelecto, abundam e será precisamente dali onde um avivamento real se ausenta.

O reino de Deus é sumariamente caracterizado por outros traços de comportamento. Deus busca abençoar qualquer um que seja suficientemente humilde e quebrantado. Ele estima uma pessoa sem nenhuma formação, humilde, acima dum professor universitário. A água assenta-se e fica em paz nos lugares mais baixos da terra e o mesmo acontece com a água da vida. Deus não respeita a grandeza humana. O Espírito Santo de Deus quando desce, tem muito pouco tempo ou disposição para se envolver com raciocínios, partidarismos ou preferências humanas. Deus torna os tolos em homens muito sábios e acha os sábios deste mundo tolos. Faremos bem em recordarmos essas palavras de Paulo em I Cor.1. É aqui que chega o fim, o limite, de toda inteligência.

De maneira similar, o Espírito de Deus nunca deve ser confundido ou associado ás operações psicológicas dum estado mental, ocasional ou emocional. Este é um dos maiores perigos que existem contra um avivamento. Estas operações e maquinações originam-se no orgânico e no físico, as quais são tão incompatíveis com as operações reais do Espírito de Deus quanto serão as maquinações de intelecto do homem. Os falsos profetas atuais deveriam pelo menos uma vez ler e entender as palavras de Jeremias 23, onde Deus descreve os muitos sonhos, visões e profecias de todos aqueles que proclamam estarem a falar em nome d’Ele falsamente, como sendo coisas que pertencem ao subconsciente da sua própria mente. Embora isto nem sempre leve ao extremismo, é no fundo a base principal para a propagação dos extremistas e das sementes do joio dentro dos terrenos onde Deus semeia e cultiva. Estas serão sempre as causas principais do extremismo.

O Espírito Santo é de Deus e não vem até nós devido ao raciocínio do intelecto humano (não ‘raciocinado’ para dentro da igreja), nem devido à aceitação e conivências desse mesmo intelecto. Também não provém do que é orgânico e psíquico. Quantos foram já os erros cometidos e os curto-circuitos provocados por esta confusão! Esta é uma das razões, também, porque os avivamentos não permanecem por muito tempo e raramente duram mais que duas gerações seguidas. Um avivamento é aquilo que desejamos, mas pode ser contrário a tudo que imaginamos ou conhecemos.

O Espírito Santo é tão distinto e tão diferente da natureza pecadora dos humanos que não existe nenhuma comparação possível entre a natureza de Deus e a do homem. Tudo é completamente diferente do que aquilo que o teólogo enganado Paul Tillich afirmou. Ele mantinha a seguinte afirmação: “Tudo aquilo que entendemos através de Deus ou através do Espírito de Deus, não é nada mais do que a soma de todas as manifestações exteriores das boas qualidades dos seres humanos”. Que idéia mais aberrante! O Espírito Santo parece, por essa ordem de idéias, totalmente dependente daquilo que os homens possam pensar e achar d’Ele. Este é o problema básico que existe nas teologias atuais, enquadrando e limitando Deus aos seus comportamentos teológicos.

Se o nosso desejo é investigar a veracidade e a profundidade de um avivamento, temos que nos preparar para que o Espírito Santo seja o Espírito Santo e nada menos que isso. Não podemos enquadrá-lo dentro do nosso intelecto. E muito menos deveremos associá-lo as meras expressões do nosso subconsciente. Temos necessariamente de falar do Espírito Santo tal e qual as Escrituras O descrevem e não de acordo com aquilo que nossas mentes possam assimilar ou aceitar.

 

Os Perigos do Avivamento na Indonésia

 

Pode parecer estranho falarmos aqui dos perigos em primeiro lugar, mas o nosso objetivo e desejo são de preservar esta maravilhosa dádiva que Deus deu à Indonésia o mais que podermos. Eu já visitei muitos campos missionários onde avivamentos reais morreram. Tornaram-se como vulcões mortos e mesmo assim as pessoas recusavam aceitar e reconhecer que o seu avivamento tinha acabado. Era muito difícil para eles aceitarem tal fato. Por causa disso, chegavam ao ponto de confundir Vida com meras atividades da carne e não se humilhavam.

Contudo o meu coração sente um enorme desejo de preservar este dom que Deus deu aos cristãos indonésios e por essa razão ajoelho-me orando pelos amigos que fiz nesta terra. Que Deus se agrade de mantê-los bem vivos e brilhando através deste movimento do seu Espírito que é, na verdade, um serviço para a igreja em todo mundo.

Cultos de personalidade são o primeiro perigo. Quando Deus chama e prepara os seus instrumentos especiais, eles nunca devem tornar-se mais importantes para nós que o próprio Senhor dentro da obra que lhes é dada a fazer. Como é fácil nossos corações incharem-se de orgulho e de idéias vãs quando o Senhor decide usar-nos. Será que não nos devemos lembrar que o Deus que escolheu e ungiu Saúl foi o mesmo Deus que mais tarde o excluiu do Seu reino? Conforme vamos lendo as histórias que seguem neste livro, nunca deveremos esquecer – nem por um momento – que toda glória pertence a Deus e não a qualquer homem.

O segundo perigo entre os cristãos dentro dum avivamento é o sensacionalismo à volta das histórias que ouvem. Os que lêem essas histórias podem ser a causa da destruição dum avivamento. Este sensacionalismo explica a razão da chegada dum cristão americano pentecostal a uma das ilhas. Ele queria levar com ele uma mulher que foi usada de uma forma grandiosa, para expô-la triunfantemente nos palcos e nas paradas evangélicas, tal como os americanos costumam fazer. Mesmo que esta mulher tenha sido verdadeiramente usada como instrumento para ressuscitar pessoas da morte, o único efeito das atuações deste homem (que não foi enviado por Deus) seriam inchá-la de orgulho e causar a sua morte prematura e a perda de toda autoridade espiritual que ela havia tido até ali.

Em terceiro lugar, os avivamentos podem ser ‘visitados até à morte’ ou ‘referenciados até à morte’, ou mesmo ‘glorificados e louvados até à morte’. Um avivamento deve servir de referência ao nosso dever e não para louvarmos alguém. Por essa razão se escreve sobre a obra real de Deus. E o pior de tudo é que é através das bocas dos missionários e evangelistas, que até estão cheios de boas intenções a respeito do avivamento, que esse avivamento muitas vezes morre.

Por que razão estou escrevendo isto aqui? Os meus livros missionários são lidos por cerca de 40.000 pessoas e eu suplico a todos que não cessem de orar por esse avivamento na Indonésia e que o fogo que Deus acendeu ali nunca se apague.

O avivamento na Indonésia está colocado diante de dois grandes perigos: está sendo confundido e associado com duas correntes religiosas do mundo atual.

Por um lado é associado à onda de batismos em massa dentro da tribo Batak e por outro lado é confundido com o movimento das línguas que se propagou pelo mundo cristão, o qual causa a todos nós grandes náuseas e preocupações mesmo quando afirmam ser um movimento de avivamento. Os batismos em massa que estão acontecendo em Sumatra e muito particularmente entre a tribo Karo Batak, tem duas explicações. Espiritualmente falando, tudo na Indonésia hoje acontece com um fluxo torrencial. Do ponto de vista psicológico, existem muitas explicações para estes batismos em massa. Tal como as costas das ilhas indonésias são banhadas por muitas águas, também acontece que a sua situação religiosa e espiritual é afetada por muitas correntes de pensamentos e de doutrinas.

A razão principal para a dita onda de batismos, contudo, deve-se à situação política do país. Logo após a revolta comunista, o governo ordenou (para contrariar as idéias anti-religiosas do comunismo) que todos os cidadãos tinham obrigatoriamente de pertencer a uma religião. As únicas opções existentes eram o Islã, o Hinduísmo e o Cristianismo. Devido ao fato dos muçulmanos terem sido responsáveis pelos massacres entre os comunistas, muitos indonésios, desejando uma vingança moral contra eles, optaram pelo Cristianismo. E foi assim que, em 1966 e 1967, a admissão às igrejas através de batismos em massa começou a propagar-se. Isso atingiu um tal número de ‘convertidos’ que apenas num espaço dois meses cerca de 10.000 habitantes locais foram batizados pelas igrejas. No entanto, esta ocorrência não pode ser vista como um renascimento espiritual nem poderá ser tido como novo nascimento do qual Cristo falou.

Esta mudança para o cristianismo, contudo, tem o seu lado bom e o seu lado mau. O lado mau é o perigo que subsiste dentro da igreja que se achará ainda mais diluída devido à união e à mistura dos mornos com os frios. A bênção consiste na grande oportunidade de se poder vir a alcançar estes povos para Cristo também já que foram alcançados para igreja. O Senhor Jesus também é capaz de transformar esta situação e construir o seu reino puro mesmo a partir das cinzas de um movimento artificial.

Falemos agora da confusão do movimento das línguas. O movimento das línguas espalhou-se pelo mundo inteiro e também não pode, de maneira nenhuma, ser associado e confundido com este genuíno avivamento dentro da Indonésia. Esta epidemia psíquica, alicerçada apenas no subconsciente das pessoas com inclinações profundamente religiosas e alucinações psíquicas, avarentas e enganosas, não pode nunca ser considerado como um avivamento. Mas, fazendo essas afirmações credíveis não temos que temer que isto afete a todos aqueles que possuem o dom genuíno do Espírito de Deus. Que nenhum desses tema prosseguir.

Como é realmente perigoso este movimento das línguas para com o avivamento, pode ser ilustrado através do seguinte incidente. Uma vez, quando todos os professores da Escola Teológica do Leste de Java estavam ausentes pelas férias da escola, um pentecostal vindo da Holanda visitou-os. Ele espalhou as suas doutrinas entre os estudantes, ensinando que uma pessoa que fosse cheia do Espírito Santo deveria falar línguas estranhas. Ele esteve prestes a ganhar os ouvidos dos estudantes com essas suas idéias hereges e pouco bíblicas. Mas, antes de consegui-lo, os professores da escola voltaram. A esposa de um dos professores, apercebendo-se imediatamente do que se estava passando, confrontou o homem e disse olhando no seu olho: “o senhor é um falso profeta”. Pouco tempo depois, ele saiu da escola e a ameaça foi desviada. O inimigo planejou ultrajar e danificar o rebanho quando os seus pastores estavam ausentes. O Senhor, contudo, impediu que qualquer estrago fosse causado.

A associação que podemos fazer entre o extremismo e o espiritismo pode ser ilustrado com mais este exemplo. Certo dia o dito evangelista pentecostal que acabamos de mencionar saiu para um passeio com um dos missionários. Repentinamente, ele disse ao seu companheiro algo que o deixou pasmado: “Está a ver aqueles três pássaros? O do meio é um espírito. Olhe bem para o que vai acontecer!” O pássaro do meio voou em direção ao evangelista e depois levantou, subiu e desapareceu no ar. Isto é um claro exemplo de algo que frequentemente ocorre dentro dos meios do espiritismo. Mas, para este “evangelista” era sinal do seu batismo com o Espírito Santo. Esta história não é nenhuma fábula, pois foi-me relatada pelo próprio missionário que acompanhava esse evangelista holandês. Para além disto tudo, existe um perigo mais (algo que frequentemente é menosprezado, mas que se torna uma ameaça real contra um avivamento). Um velho ministro do evangelho na Inglaterra, o qual esteve presente no avivamento do país de Gales uma vez disse: “Lá para o fim do avivamento, toda gente falava no Espírito Santo e só se falava no Espírito Santo e não mais no Senhor Jesus”. Este perigo é verdadeiramente real, pois toda ênfase é retirada da obra de Cristo e transposta para o Espírito Santo. Mesmo que as nossas igrejas atualmente estejam pecando ao não darem ênfase ao Espírito Santo e às Suas operações, durante avivamentos, os cristãos costumam ser levados para o outro extremo. Toda obra de salvação está colocada sobre Cristo. E o Espírito Santo tem por obra exclusiva revelar e manifestar Cristo e falar d’Ele. Jesus disse, pouco antes de o Espírito Santo ser derramado sobre os homens que escolheu: “o poder do Espírito Santo virá sobre vós e sereis Minhas testemunhas”.

 

VIII. UMA ESCOLA TEOLÓGICA NO LESTE DE JAVA

 

A Escola Teológica no Leste de Java ainda é muito jovem e por esta razão ainda se encontra no período do seu primeiro amor.

Esta jovem semente foi semeada em território Indonésio em 1959. Começou sendo uma grande família constituída por nove estudantes e quatro professores, um dos quais é David Simeon. No ano seguinte, o número de estudantes cresceu para dezessete. O mais conhecido deles é, sem dúvida Pak Elias, sobre quem iremos ouvir bastante.

Em 1961, um dos membros fundadores abandonou a escola para se unir a organização “World Vision” porque sentiu-se chamado a concentrar as suas forças num trabalho social entre crianças.

Quando David Simeon voltou de umas férias (durante as quais havia casado), a liderança desta jovem obra foi parar em suas mãos.

A obra dessa escola expandiu-se muito rapidamente e de forma maravilhosa. Em 1967, o número de estudantes alcançou pela primeira vez um número com três dígitos e muitos foram obrigados a permanecer numa lista de espera na esperança de conseguirem uma vaga mais tarde. Isto é o que realmente acontece quando o Espírito de Deus começa a movimentar-se livremente sem barreiras e constrangimentos.

Paralelo com o crescimento no número de estudantes, muitos edifícios tiveram de ser construídos devido à cadeia das circunstâncias miraculosas. Uma antiga igreja holandesa, a qual anos atrás havia sido completamente destruída, foi reconstruída e ficou como nova. O edifício principal foi construído nesta fase, em sua maioria, através das ofertas dos próprios cristãos indonésios.

 

Profundidade e Extensão

 

Existem duas palavras-chave que podem ser usadas para descrever o desenvolvimento e o crescimento desta escola de teologia. Não tivesse sido a profundidade com que foi alicerçada, a escola ter-se-ia tornado muito superficial e leviana.

A Dra. Raquel, superintendente do hospital no centro de Java, tem ligações de longa data com a Escola Teológica. Ela relatou-me alguns fatos muito interessantes. Ela própria convidou várias vezes os grupos evangelísticos que se formaram a partir da escola para trazerem a mensagem de Cristo aos hospitalizados e ao pessoal hospitalar também. Dizia-me: “Nós víamos claramente uma mudança vívida, simples e radical em todas as nossas meninas (pessoal de enfermagem). Quatro delas decidiram-se logo na primeira visita inscreverem-se para ingressarem na escola e serem formadas para servirem na obra de Deus em tempo integral. E, quando elas voltaram da Escola Teológica, a sua mudança tornou-se ainda mais visível e marcante. Elas não se importavam de executar os trabalhos mais vis e mais simples, eram tão honestas e possuíam um espírito de gratidão tão grande que nós, os que já seguimos a Cristo, nos envergonhávamos só de estar perto delas. O Espírito de Cristo estava literalmente demonstrado e impresso em todas as facetas das suas belas vidas”.

Dentro da própria Escola Teológica, os verdadeiros ventos de avivamento já sopravam há alguns anos. Isto pode ser ilustrado com o que aconteceu na primavera de 1967. Os professores tinham, naquela altura, grande dificuldade com certo número de estudantes e consideravam mesmo a possibilidade de os mandarem embora. Mas, os professores começaram a orar. Logo de seguida, a nuvem negra que os separava começou a dissipar-se e as reuniões de oração começaram a prolongar-se até muito tarde na noite sem que se dessem conta. Os estudantes vinham falar com os professores implorando-lhes o seu perdão e os professores por seu turno confessavam aos estudantes aqueles pecados dos quais eles eram culpados. Um dos professores, uma vez, falou a um grupo de estudantes reunidos diante dele: “Eu sou um homem muito orgulhoso. Por favor, orem por mim”. Tudo aquilo que Espírito Santo revelava e tudo aquilo de que eram convictos (mesmo que ligeiramente), era colocado na luz e confessado publicamente sem qualquer hesitação. O que exigia restituição era prontamente restituído – nem que fosse a honra de alguém.

A Dra. Raquel, uma mulher que teve o privilégio de participar e de conviver no avivamento deste período na Escola Teológica, relatou-me todos esses incidentes e fatos e também me deu muito mais informações preciosas sobre os professores. Contudo, o melhor será não cairmos na tentação de publicarmos estas coisas, pois este tipo de acontecimento e ocorrência é facilmente sensacionalizado por um lado e, por outro, dá matéria para a má-lingua de quem quer ferir a obra de Deus. Esta é uma das maneiras mais ávidas de entristecer o Espírito de Deus. A Dra. Raquel continuou dizendo: “Durante este período, conforme o espírito de limpeza total e incondicional varria toda a escola de alto abaixo, do menor ao maior, muitas coisas começaram a acontecer que só têm paralelos e referências aos próprios tempos de Cristo. Opressões de ocultismo, pecados ocultos e de ocultismo e bruxaria envolvendo até terceiras e quartas gerações eram trazidos e colocados na luz de Deus depois de revelados pelo Espírito Santo. Por exemplo, uma moça estava possessa e um grande número de demônios teve que ser expulso dela”.

David Simeon disse-me a esse respeito: “Até aquele momento nós só tínhamos conhecimento dessas coisas e desses pecados vindos de três e quatro gerações, apenas dos seus livros. Mas, agora nós obtivemos a experiência real de tudo aquilo que o senhor fala”. Eu fiquei enormemente agradado e muito grato a Deus de que os meus livros eram instrumentos para formação dessas pessoas usadas de forma tão magnífica e tão simples. Muitas vezes, uma simples expressão dessas serve como um grande encorajamento para aqueles que lutam tanto e constantemente pela verdade. Eu acho a minha vida constantemente sob fogo cruzado e intenso vindo de todos os lados e até já me achei tentado a ficar desmotivado e exausto. Uma palavra destas é muitas vezes o suficiente para nos fazer prosseguir e ganhar uma nova leveza no nosso caminho com Cristo.

Vamos uma vez mais ouvir as palavras da Drª. Raquel: “Se eu tivesse apenas lido sobre as coisas que aconteceram aqui, com certeza teria duvidado delas. Mas, aconteceu eu própria estar envolvida nesses acontecimentos. Mais importante para mim do que a libertação das pessoas dos seus pecados de feitiçaria e de ocultismo, foram os frutos do Espírito Santo tornarem tão visíveis entre os estudantes. Eram vistos claramente. Por exemplo, Deus havia derramado o Seu amor no coração de um certo jovem indonésio. Os outros ficaram tão quebrantados por causa disso que sentíamos no ar a humildade crescente que se propagou por todos eles com muita facilidade. Um outro reconheceu sua desobediência e pediu perdão abertamente diante de todos. Não houve nenhum professor e nenhum estudante que tivesse ficado indiferente ao toque do Espírito Santo e que não tivesse sido tocado durante o decorrer dos acontecimentos. Somando a isso, as distinções na escala hierárquica entre os professores e alunos deixou de existir. Os estudantes e os professores acabaram por formar um grupo coeso de pessoas iguais umas as outras e era assim que se uniam em uníssono diante de Deus. Os ventos de Deus sopraram e ainda sopram nesta escola. Não tenho qualquer vergonha em admitir que choro e que me vêm as lágrimas aos olhos sempre que entro naquela atmosfera da escola. Nem consigo conter as lágrimas”.

Agora é a minha vez de relatar as minhas próprias impressões. Eu estive na Indonésia durante quatro semanas, duas das quais no leste de Java. O que eu experimentei ali, impressionou-me mais do que qualquer coisa que alguma vez experimentei durante os meus 39 anos de caminhada com a minha cruz e com Cristo. Deus permitiu ver certo número de coisas durante esse tempo abençoado. A minha vida espiritual pessoal ficou tão enriquecida pela experiência que desde então dedico três vezes mais tempo à oração do que dedicava antes. Devido ao fato de viajar muito, a minha memória tornou-se como um mapa do mundo. Desde que cheguei da Indonésia, percorro diariamente cada continente orando por todas as pessoas que conheço. Ficou impresso no meu coração que era negligente e culpado no tocante à oração, não apenas diante de Deus, mas também culpado perante os povos que servi. Nós precisamos obter o que procuramos e somente em oração e de joelhos dobrados. É verdade que eu orava regularmente desde que aprendi seguir Cristo e isso incluía mesmo passar várias noites em oração. Mas, mesmo assim, nasceu um reboliço espontâneo dentro de mim através deste avivamento na Indonésia que me fez sentir estar em falta. Quão diferente teria sido a minha vida se eu não tivesse sido tão negligente na oração. Quantas decisões erradas teriam sido evitadas se tivesse permanecido um pouco mais de tempo nos meus joelhos achando Deus. Eu sinto uma urgência dentro de mim em tentar compensar tudo que perdi e onde falhei – se é que isso ainda é possível! Por essa razão, dobro os meus joelhos cada dia e viajo desde o Alaska até Tierra del Fuego, da Escandinávia até a cidade do Cabo. Então, pego na costa asiática e atravesso o Pacífico percorrendo todas as ilhas conforme a minha memória viaja. Como são de grande ajuda todas as viagens que fiz no passado! Sinto-me em casa em qualquer continente deste mundo. Em meu coração tenho apenas um pedido atualmente: que Deus me perdoe ter sido tão morno na oração e na perseverança de alcançar os pedidos que faço a Deus. Tudo isso recebi de volta por ter visitado a Indonésia.

Faz parte da essência do cristianismo puro e real o Senhor guiar os seus discípulos até um isolamento e desse isolamento para a obra. Isto é o que se pode ver, também, nesta Escola Teológica do leste de Java.

Uma Escola Teológica sem qualquer saída prática para o exterior dela torna-se um peso e um fardo de teoria que não serve para nada. A idéia da evangelização da Indonésia surgiu e por isso tornou-se um peso extremo dentro dos corações, tanto dos estudantes como dos professores. Esta atitude justifica-se ainda mais devido ao fato de haver muito poucos missionários estrangeiros dentro deste país. Mesmo tendo uma população de cerca de 110.000.000 de pessoas, a Indonésia tem apenas cerca de 2000 missionários ativos. Por essa razão, a primeira tarefa que desafiou a escola, foi a evangelização do próprio país. Para alcançarem esse objetivo, estudantes bem treinados eram enviados para trabalharem para Deus nas ilhas vizinhas. Um dos acontecimentos mais relevantes e mais extraordinários a esse respeito, foi quando uma tribo de fabricantes de venenos pediu a um missionário para vir visitá-los e trazer-lhes o evangelho.

Uma maior oportunidade para o serviço prático nasce precisamente do hábito que a escola tem de treinar os estudantes durante as próprias campanhas de evangelização. Para esse efeito, todos os anos, os estudantes são divididos em grupos e são enviados para trabalharem por sua própria conta durante dois meses. Só em Junho de 1967, dezessete desses grupos missionários foram organizados e enviados, envolvendo um número de 95 estudantes, os quais foram enviados numa missão que cobria toda a Indonésia. Não vale de nada os professores planearem ou decidirem onde cada grupo deve trabalhar. Durante dias e antes de serem enviados, unem-se todos em oração para tentarem descobrir quais as indicações que Deus lhes dá e qual a Sua vontade para cada grupo. Uma das indicações claríssimas de que o Espírito Santo guia essas pessoas é a forma como concordam e como coincidem todas as conclusões finais alcançadas tanto pelos professores como pelos estudantes. Eu nunca experimentei nada deste gênero em toda minha vida interior. Quantas vezes os missionários que são enviados para o campo de batalha não conseguem ser unânimes sobre as decisões dos seus líderes e superiores hierárquicos no quartel general! Isso serve apenas para ilustrar como esta falta de união no Espírito existe e como é uma realidade dentro daqueles que são enviados ou acham que estão sendo enviados. Onde o Espírito guia, todos concordam. No leste de Java, contudo, os crentes continuam em oração até que haja clarividência sobre cada detalhe de cada saída missionária. Este é um sinal claro que este avivamento é realmente sóbrio, sólido e bíblico.

O passo seguinte, conforme o campo missionário se alarga, é o envio de missionários para outros países também. Enquanto estive na Escola Teológica em 1968, o objeto das suas orações eram a Tailândia e o Camboja.

Contudo, eu tenho forte um pressentimento que isto não será o último passo que irão dar. Sabendo que o mundo ocidental está tão enraizado e tão feliz dentro do ácido corrosivo da teologia, não me surpreenderia nem um pouco se um dia a América e a Europa viessem receber missionários oriundos da Indonésia para fazê-los voltar a Cristo. Eu tenho a certeza que, caso esses irmãos da Indonésia mantenham a sua humildade e perseverança, isto vai acabar por acontecer.

Gradualmente, as igrejas tradicionais na Indonésia estão cessando a oposição que criaram contra esta Escola Teológica. Muitas igrejas, entre elas a Presbiteriana, Metodista, Menonita e outros grupos protestantes no qual se incluem alguns dos grupos pentecostais mais moderados, começaram a enviar os seus jovens para serem treinados nesta instituição abençoada. Isto é um passo de gigante em direção àquilo que deveria ser. Parece que o Senhor está em cima do monte Nebo comandando os cristãos dizendo: “Eis a Indonésia diante de vós. Ide possuir a terra”.

É precisamente isto que eles têm tentado fazer sem objeções.

 

Movimento do Espírito Santo

 

Eu já havia partido da Indonésia e estava quase terminando de escrever este livro quando, pela graça de Deus, recebi relatos adicionais sobre o avivamento na Escola de Teologia em Java. Os relatos chegaram até mim através de dois líderes professores desta escola e falam muito mais do que o meu próprio testemunho. Aqui fica apenas expresso a gratidão da minha parte por este testemunho maravilhoso das operações tão visíveis do Espírito Santo nesta Escola Teológica Indonésia:

“Quando o Senhor trouxe do cativeiro os que voltaram a Sião, éramos como os que estão sonhando. Então a nossa boca se encheu de riso e a nossa língua de cânticos. Então se dizia entre as nações: Grandes coisas fez o Senhor por eles. Sim, grandes coisas fez o Senhor por nós e, por isso, estamos alegres. Faz regressar os nossos cativos, Senhor, como as correntes no sul. Os que semeiam em lágrimas, com cânticos de júbilo segarão. Aquele que sai chorando, levando a semente para semear, voltará com cânticos de júbilo, trazendo consigo os seus molhes”, Sal.126:1-6.

Caros amigos

As nossas bocas estão cheias de riso e as nossas línguas entoam louvores. Durante os últimos meses tivemos aqui tempos similares aos que iremos passar quando estivermos no céu. Nunca houve tanto louvor, tanto agradecimento e tantos cânticos tão ordeiramente oferecidos como tem acontecido agora. Nunca os professores e os alunos estiveram tão unidos em vínculos de amor real e fraternal. O Senhor derramou sobre nós tanto as chuvas serôdias como as temporãs. Grandes coisas têm vindo acontecer entre nós e também em nove outras ilhas através do trabalho desinteressado de dezessete grupos missionários distintos.

Tudo começou com a nossa própria convicção da dura realidade de não sermos dignos e de não nos pertencermos a nós mesmos. Durante meses (anteriormente) estávamos completamente arrasados e desapontados com o nosso estado espiritual aqui na escola. Um grupo de pessoas começou, então, a orar por um avivamento. Os alunos do quinto ano estavam abandonando a escola já e, mesmo assim, um grande número desses estudantes encontrava-se num estado de espiritualidade muito precário e quase satânico. Mas, foi então que o Senhor começou a responder às nossas orações, enviando-nos dois dos seus mensageiros. As suas mensagens cheias de autoridade a respeito da batalha espiritual que enfrentamos dentro de nós (e a qual precisa ser vencida a qualquer custo), revestidos com toda a armadura de Deus, revelou-nos como estávamos tão longe do nosso objetivo de servir Deus como Ele quer. Como estávamos com fome e com sede! Como andávamos longe da luz (de manifestar publicamente os nossos pecados todos) e de caminharmos nela espontaneamente! Mas, mesmo assim, o Senhor teve misericórdia de nós e estava operante em nosso meio. Dez dias mais tarde, Dan, nosso co-missionário indonésio e companheiro em Cristo, obteve uma experiência maravilhosa de uma total renovação interior na sua vida. O Espírito Santo suscitou tal convicção de pecado dentro dele que chorou sem parar durante mais de uma hora para logo de seguida o Senhor encher a sua vida. Este homem, no passado, havia-nos causado grandes problemas e enormes apertos de coração devido ao seu enorme orgulho e espírito de crítica. Tornou-se numa pessoa de grande amor e humildade, de tal forma que nem o reconhecemos mais. Tornou-se numa pessoa completamente diferente do que era. Todas as vezes que olho para ele agora, gratidão e louvor enchem o meu coração e boca, pois tenho diante de mim uma grande obra da maravilhosa graça de Deus.

Por fim, foi tornado possível a todos os obreiros, orarem juntos. Começamos na quarta-feira à noite. O Senhor humilhou-nos tanto que, pela primeira vez em nossas vidas, começamos a chorar e a interceder diante dele por nossos jovens e por nossos pecados. E a sua resposta foi uma surpresa para nós. No final da nossa sessão de oração em conjunto, o Senhor derramou seu Espírito sobre nós de tal maneira que todos os pecados e todas as obras das trevas foram trazidos para a Sua luz. Quando chegamos a casa, tarde nessa noite, achamos nossas moças esperando por nós à porta. Uma delas estava endemoninhada. Na verdade, ela sempre esteve endemoninhada. Houve vezes que suspeitávamos disso, mas, as coisas haviam estado tão escondidas nas trevas que os espíritos malignos que ela possuía conseguiam facilmente achar lugar dentro da nossa Escola Teológica e passarem totalmente despercebidos. Durante essa noite e as noites que se seguiram, saíram dela cerca de cinqüenta demônios, todos expulsos permanentemente em nome de Jesus. Na verdade, foi uma luta de vida e de morte. Uma e outra vez, os espíritos malignos tentavam ou enlouquecê-la ou forçá-la a suicidar-se. Houve vezes que pesávamos que tínhamos chegado ao limite das nossas forças tanto espirituais como físicas. Mas, Jesus é na verdade um Salvador maravilhoso. O Senhor ensinou-nos bastante durante esta batalha que travámos. Todos os espíritos malignos tinham que revelar sua identidade e por que razão possuíam Hanna, até sabermos quais os pecados e a origem da possessão. Muitas práticas ocultas e de ocultismo foram reveladas e trazidas para a luz. Mais tarde, descobrimos que não havia um aluno ou professor que não tivesse estado envolvido em práticas de bruxaria e de ocultismo. Confissões com listas que excediam os duzentos pecados de bruxaria não eram tão raras assim e isto precisamente dentro da Escola Teológica onde os estudantes aprendiam tudo a respeito dos perigos do ocultismo! Isso apenas revela como o inimigo tem capacidade de cegar os olhos do homem! E também revela como a luz do Espírito Santo é e até que profundidade ela consegue penetrar.

Depois da primeira noite, começamos a orar em conjunto diariamente e cada dia mais estudantes eram renovados da mesma forma que Dan. Mas, a vitória final chegou quando, numa segunda-feira, cancelamos todos os trabalhos que tínhamos e toda escola se uniu cumprindo as profecias de Joel 2, chamando um dia de oração e jejum. Depois de nós professores termos reconhecido em lágrimas as nossas incapacidades e falhas, o Espírito Santo operou poderosamente e de tal forma que muitos estudantes ficaram convictos de seus próprios pecados. Nesta fase, a dimensão das trevas começou a tornar-se visível e a verdade é que a verdadeira batalha mal tinha começado. Nós oramos todas as noites até muito tarde. Ninguém tinha mais consciência do tempo. Mais alguns casos de possessão tornaram-se evidentes dentro da escola. Não poucas vezes, as nossas batalhas contra os poderes das trevas prolongaram-se até de manhã, devido ao fato de nossos moços e moças, vencidos pelo pecado, nos procurassem incessantemente para aconselhamento. Durante essas semanas quase nem dormimos, mas a alegria do Senhor era a nossa força. O trabalho da escola prosseguia mesmo que tivesse sido necessário parar os trabalhos durante certas ocasiões quando as orações de todas pessoas eram necessárias e requisitadas devido aos casos de possessão mais graves. Mas, mesmo isso foi instrutivo. Os exames finais para os terceiros e quintos anos estavam-se aproximando. Contudo, os resultados nem foram piores que nos outros anos, apesar de nem termos tido tempo suficiente para fazermos as devidas revisões. Era o triunfo do amor e por essa razão todos os estudantes estavam sempre preparados para abandonarem os seus livros quando se tratava de ajudar a libertar, através da oração, um dos seus irmãos possessos.

Durante aquelas semanas, o Senhor deu-nos uma visão muito profunda sobre a realidade do pecado; sobre a herança do pecado; a maldição de Deus sobre terceiras e quartas gerações e também sobre opressão e possessão demoníaca. Era um abismo de trevas e de necessidades que clamavam e bradavam aos céus! E como isso que estávamos fazendo aborrecia o inimigo! Mas, quão poderoso é o nome do Senhor Jesus em destruir todas as fortalezas do inimigo e quão invencível é o poder do Seu sangue em lavar os nossos pecados e de responder a todas as acusações e contra-acusações que sofremos do maligno! Quão maravilhosa é esta salvação perfeita que nos veio através de Cristo! Muitas vezes surgiam perguntas como esta: será que a maldição de Deus sobre práticas de ocultismo dos nossos antepassados não é automaticamente retirada de nós quando nascemos de novo em Cristo? Não estamos a menosprezar a salvação de alguém quando mais tarde tentamos libertar uma pessoa dessas opressões vindas dos seus antepassados? O Senhor deu-nos a resposta durante as noites de oração ao fazer-nos lembrar a história de Lázaro. Ele recebeu o dom da vida através de Jesus, mas era incapaz de se libertar das ataduras e das roupas fúnebres e não conseguia viver plenamente essa dádiva da vida sem ser desamarrado e liberto. Tinha vida, mas não tinha a liberdade e a disponibilidade de vivê-la. E Jesus entregou essa tarefa aos que ali estavam presentes e que haviam sido testemunhas da ressurreição dele. Isso foi literalmente o que nós estávamos experimentando de forma muito prática com alguns estudantes. Muitos deles, apesar de terem nascido de novo, nunca haviam experimentado a alegria da sua salvação e nem conseguiam lutar com eficácia através da sua vida espiritual porque não se encontravam libertos dos seus pecados. Contudo, assim que as suas roupas fúnebres eram tiradas e desamarradas, eles tornavam-se instantaneamente testemunhas reais, alegres e poderosas do seu Senhor. Descobrimos que a tarefa e a autoridade de libertar as pessoas da opressão, a qual Jesus entregou nas mãos dos seus discípulos, foi-nos revelada de tal forma como se nunca tivéssemos aprendido algo sobre o assunto. Talvez esta seja a resposta para muitos dos problemas que as igrejas e os cristãos enfrentam por todo mundo.

Nós estamos nos aproximando, agora, da época dos grupos saírem em serviço para o Senhor. Na verdade, os grupos já estão decididos há muito tempo e as cartas necessárias já foram enviadas para as igrejas que estarão envolvidas na evangelização. Contudo, o Senhor baralhou todas as nossas opiniões e planos em cada reunião, nas quais nos entregamos para finalizar questões e detalhes. Por fim, acabamos por dar livre arbítrio aos estudantes e demos-lhes as seguintes instruções: “esperem receber instruções diretamente do Senhor e depois comuniquem-nos quais foram”. Um plano maravilhoso por parte do Senhor foi nos revelado. As várias diretivas do Senhor (algumas delas através da Bíblia e outras através de visões) nunca se contrariavam. E, mais ainda, o Senhor guiou-nos a visitar distritos que nós nunca teríamos a audácia de visitar, pois temíamos acatar as responsabilidades de ter que enviar os nossos jovens para tais áreas. Essas áreas eram as fortalezas do ocultismo nas ilhas de Ambon e Sabu, na ilha de Mojo, a fortaleza islâmica de Atjeh e Minangkabu, as inultrapassáveis terras inundadas das províncias de Sumatra (Djambie e Riau), o pântano de imoralidade na área portuária de Jacarta e, por ultimo, as prostitutas de Surabaja. Alguns dos estudantes estavam obviamente temerosos com as tarefas que o Senhor lhes designara e, por essa razão, em vez de nos dizerem ou contarem o que o Senhor lhes havia dito, eles deixaram a decisão vir de nós. Contudo, nos dois dias de oração anteriores ao domingo que os grupos iriam ser enviados, o Espírito Santo operou tão poderosamente que os nossos jovens quebraram em lágrimas pedindo ao Senhor para lhes perdoar e suplicando-nos que lhes fosse permitido visitar as áreas que o Senhor lhes indicara. Como o Senhor respondeu tão maravilhosamente! Quantas promessas Ele nos deu e quanto poder recebemos através da oração! Eu gostaria que você estivesse aqui presente para poder ter uma idéia do que aconteceu entre nós nestes dois dias e meio de oração! Nós orámos sem cessar, com apenas uma curta pausa para o almoço e outra para o jantar. Começávamos pelas oito horas da manhã e as nossas orações prolongavam-se até cerca das onze horas da noite. Ninguém se sentia cansado e ninguém tinha noção do tempo. Ao mesmo tempo, durante as horas das refeições e durante o resto da noite que sobrava, aconselhávamos os estudantes a quem o Senhor havia manifestado a sua vontade diretamente. Nós experimentávamos igual bênção e experiência nessas ocasiões como naquelas durante os tempos de oração. E foi então que chegou o clímax: o domingo da partida e da validação para o serviço. Se me lembro corretamente, o culto da tarde começou às quatro e trinta e durou até as nove da noite. Quão maravilhoso foi esse tempo! Seguiu-se, depois, as preparações para as partidas dos respectivos grupos. O Senhor acrescentou bênçãos materiais às bênçãos espirituais: cobertores, mochilas, sacos de dormir e sandálias chegaram para os grupos. Da Alemanha chegou-nos um gênero de pão usado pelo exército alemão que era leve na bagagem, mas muito nutritivo. Dois dias antes da partida do primeiro grupo, nós recebemos uma quantidade de rádios-gravador. Juntado a isso, conseguimos reunir antecipadamente muitas dádivas de literatura, de panfletos, de evangelhos de João e Novos Testamentos. Finalmente, nós recebemos oferendas monetárias que eram o suficiente para o início da viagem dos grupos. A verdade é que, nenhum grupo saiu com o suficiente para o seu consumo diário e nem para sua passagem de volta. Mas, isso não deteve ninguém de cumprir a vontade de Deus. Todos eles sabiam que podiam depender de Mateus 6:33. Por favor dêem graças a Deus por nós e orem conosco”.

Vamos agora ouvir as histórias e as vitórias que Deus alcançou por essas paragens.

 

IX. JESUS ENTRE OS MUÇULMANOS

 

A vida pessoal do Ruben é uma confirmação de como o Senhor honra a sua palavra: “Deus escolheu as coisas loucas do mundo para confundir os sábios; e Deus escolheu as coisas fracas do mundo para confundir as fortes”, 1Cor.1:27.

Ele pediu para ser aceite na Escola Teológica do leste de Java e recebeu a seguinte resposta: “Espere mais um ano”. Como ele não podia ficar um ano esperando sem fazer nada, tentou arranjar um emprego nos correios e conseguiu.

Um ano depois, fez nova inscrição para ingressar na Escola Teológica. Só que desta vez foi-lhe dito que, se quisesse, poderia ingressar na escola, mas como jardineiro. Ele aceitou, mas continuou em oração perseverante. Quatro meses depois fez uma terceira inscrição e foi finalmente admitido.

Contudo, conforme o curso ia progredindo, tornou-se muito evidente que o Ruben não era um estudante com grande capacidade para estudar. Ele não tinha este dom. Mesmo trabalhando arduamente e mesmo sendo muito aplicado, não conseguia reter nada do que estudava. Um dia, o seu tutor acabou por chamá-lo e perguntou-lhe: “O que é que nós vamos fazer contigo? Não estás conseguindo qualquer proveito do teu trabalho”. Ruben respondeu humildemente: “Se por acaso os senhores acharem que eu não sirvo para estudar, então talvez fosse melhor eu desistir!” Mas, assim que foi para o seu quarto, jogou-se sobre os seus joelhos e clamou ao Senhor: “Senhor Jesus, foste tu que me chamaste para o ministério. Peço-te que me faças conseguir terminar este curso com êxito”. No dia seguinte, o seu tutor convocou-o novamente e, ai invés de expulsa-lo, encorajou-o a prosseguir os seus estudos e logo veriam o que aconteceria. Este foi um sinal claro da consistência das coisas quando é o Espírito Santo quem guia. O Ruben, na sua humilde fé e cheio de simplicidade, achava que a única opção seria terminar o curso.

Chegara o tempo dos exames. O jovem estudante, apesar da sua falta de aptidão para os estudos, estudava noite e dia sem cessar. Mas, ele não conseguia reter nada. Foi então que, na noite antes do exame, o Senhor falou-lhe indicando: “lê esta e aquela parte”. Ruben obedeceu. No dia seguinte, as perguntas que saíram, cobriam aquilo que Deus lhe indicara. Foi uma forma maravilhosa de o Senhor Jesus ser “desonesto” na Sua própria escola. Mas, mesmo que seja bonito para o Senhor fazer isto, não devemos fazê-lo de nossa autoria.

Contudo, o Ruben era tão honesto que se aproximou dos seus professores para lhes confessar: “A noite passada, o Senhor Jesus falou comigo e mostrou o que deveria estudar. Foi por esta razão que consegui passar os exames”. Os professores ficaram satisfeitos com o sucedido e resolveram deixar as coisas como estavam! Não iriam brigar com Jesus!

Mas, no tocante ao seu ministério, a figura era totalmente diferente apesar da sua evidente falta de dons para os estudos. Eu já tive oportunidade de visitar muitos países controlados por muçulmanos, tanto na África como na Ásia. Testemunhei neles os sérios problemas que os cristãos enfrentam por causa da propagação do evangelho. Mas, vamos ver como é que o Ruben se deu com eles.

Ele foi enviado da escola para uma vila muçulmana no leste de Java. Ali existia apenas uma família cristã e, mesmo assim, eram crentes nominais. Quando Ruben os visitou, não o quiseram receber e recusaram o seu trabalho.

Este jovem missionário não ficou minimamente desencorajado com o acontecido. Dormia ao relento e as ruas eram a sua igreja. Quando pedia ao Senhor para providenciar as suas necessidades básicas diárias, nunca saiu desapontado, pois não demorava muito tempo até que os próprios muçulmanos o convidassem a comer em suas casas e a dar-lhe cama para dormir em seus lares. Aquilo que os cristãos não fizeram, os muçulmanos providenciaram ao servo fiel do Senhor.

No final do primeiro ano, cerca de 100 muçulmanos já se haviam convertido a Cristo e todos eles foram sacudidos interiormente pelo poder do evangelho e abriram as suas casas para que Jesus entrasse. Ruben tinha por hábito orar e estar com eles diariamente. Os outros muçulmanos, contudo, ficaram irritados com o sucesso missionário de Ruben. No início do segundo ano, uniram-se contra ele e cerca de sessenta homens entraram pelas casas dos cristãos armados com seus facões. Os cristãos nada podiam fazer a não ser ajoelharem-se e implorar ao Senhor por proteção. Naquele instante soou uma sirene e um carro da polícia aproximou-se em grande velocidade quando estava fazendo a sua ronda diária. Os muçulmanos esconderam os seus facões o mais rápido que podiam. Foi desta maneira que foram protegidos. Algumas semanas depois, outros sessenta muçulmanos vieram a Cristo. Foi como se a onda de perseguição tivesse dado frutos de igual número. No final do segundo ano do seu ministério, a congregação deste jovem indonésio incluía já cerca de 200 muçulmanos verdadeiramente convertidos. E isto podemos dizer que é o fruto apenas de um irmão em Cristo pouco dotado e, para muitos, incapacitado. “Mas, Deus escolheu as coisas pequenas deste mundo para confundir os sábios deste século e escolheu as coisas fracas para com elas envergonhar as fortes”.

 

X. DENTRO DAS FOTALEZAS DO ALCORÃO

 

Na minha Bíblia inglesa, cruzo-me várias vezes com essas expressões “um espírito quebrantado” e “um coração quebrantado”. Nós encontramos essas palavras, por exemplo, no Sal. 51:17: “O sacrifício aceitável a Deus é o espírito quebrantado; ao coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus”. Essas palavras aludem claramente a uma situação espiritual na qual a pessoa não mais resiste a vontade de Deus, mas prefere, antes, considerar-se nada e nessa situação permite que Deus use tal pessoa da maneira que Ele próprio escolher. Isto é mais fácil falar do que fazer, pois muitos poucos cristãos estão realmente sujeitos a Deus e à sua vontade desse jeito e a muito poucos Deus consegue guiar dentro da Sua vontade. Eu próprio, conhecendo meu coração rebelde, sinto alguma dificuldade em escrever seja o que for sobre este assunto.

Na Indonésia, contudo, vi e testemunhei vezes sem conta essas atitudes demonstradas de uma forma tão evidente na vida dum certo jovem crente. O seu nome é Dan. Mesmo tendo vindo duma família pagã, alguns anos depois do seu nascimento, os seus pais adotaram o cristianismo como a sua religião. Eles batizaram todos os seus filhos. O pequeno Dan, contudo, nunca havia experimentado uma verdadeira transformação na sua vida interior e o pecado, consequentemente, tomou as rédeas da sua vida.

Foi então que durante uma missão em 1957, ele se converteu. Logo de imediato, ingressou no serviço do seu Senhor também. Inscreveu-se na Escola Teológica em Java e foi logo aceite. Ao completar os seus estudos, prosseguiu com um curso de treinamento para ministros e continuou na escola como professor.

Conforme o tempo foi passando, ele sentia que havia um enorme fosso em sua vida e uma grande falta de autoridade. Foi então que Roy Hession e William Nagenda visitaram Java. Estes dois homens de Deus foram usados pelo Senhor para administrarem uma nova benção e uma nova perspectiva de vida aos estudantes e aos líderes da Escola Teológica. Depois de se terem ido embora, este jovem professor ficou maravilhosamente exercitado e compungido com o tema de andarmos e vivermos na luz.

Contudo, ele ainda assim sentia que algo mais faltava em sua vida. Um dia Deus abriu-lhe os olhos. Ainda carregava consigo os pecados antigos de ocultismo de seus pais e antecessores. Em nenhum outro aspecto da vida cristã os pecados das terceiras e quartas gerações tornam-se tão marcantes quanto na área da feitiçaria e do ocultismo. Era este drama antigo de opressão pelo ocultismo que era o responsável pela a falta de poder espiritual em sua vida pessoal. Ele logo tratou de confessar esses pecados um a um e experimentou uma grande libertação logo de seguida.

Conforme já mencionamos, durante este avivamento que incendiou e incentivou esta escola teológica, Dan foi cheio do Espírito Santo de tal forma que se tornou o cristão modelo para todos os estudantes, professores e colegas, tal como para todos os visitantes em geral. Na minha própria experiência do contato que tive com ele, achei-me também enormemente abençoado.

 

Pioneiro de Atje

 

A seguir à sua libertação, o Dan tornou-se um instrumento escolhido do Senhor para Atje. Este distrito fica no extremo norte de Sumatra e é conhecido como uma das fortalezas mais fanáticas dos muçulmanos. Foi precisamente ali onde os holandeses tiverem sua maior dor de cabeça e a resistência mais feroz durante a ocupação de Sumatra e da Indonésia. Foi apenas em 1903 que essa resistência cedeu e foi finalmente superada.

Durante as reuniões de oração na escola teológica, tornou-se claro para Dan que deveria fazer uma visita a Atje juntamente com seu grupo de missionários. Os cristãos do mundo ocidental nunca poderão imaginar nem conceber as dificuldades duma tal missão.

A distância era o primeiro obstáculo. Eram milhares de quilômetros! Era uma área que nunca havia sido explorada pelo cristianismo! Não havia ninguém para recebê-los quando chegassem! Não tinham qualquer contacto ou conhecido no local. O Dan não tinha nem um único endereço ou referência a quem pudesse recorrer para ajuda. E ainda por cima tinham pouco dinheiro.

Era, por isso, uma zona de características únicas, uma tarefa invulgarmente impossível de ser conseguida. Tudo isto era o que confrontava Dan. Mas, o pior de tudo foi que um dos estudantes teve uma visão pela qual profetizava que toda a viagem missionária terminaria em fracasso. Contudo, os cristãos logo se aperceberam que isso era uma visão vinda do diabo com o intuito de abortar a missão. Este incidente revela claramente como o diabo também consegue imitar Deus através de visões e profecias, mesmo dentro de um ambiente de plenitude e de avivamento. De fato, até dentro dum ambiente de grande bênção e durante tempos de plenitude, o inimigo encontra-se bastante ativo e sem rédeas. Só temos de saber discernir.

Com os olhos postos no Senhor, a missão seguiu em frente. Seis estudantes, entre os quais estava Dan, partiram com a luz do evangelho em suas mãos penetrando nas mais densas trevas de Sumatra.

As suas provisões financeiras eram ridiculamente pequenas. Eles tinham entre eles um total de 35.000 rúpias, o que equivaleria a cerca de 150 dólares. Para que serviria tal quantia para quem tinha intenção de viajar cerca de 9.000 km numa campanha que duraria cerca de dois meses?

Contudo, eles levavam com eles muito mais que uma magra soma de dinheiro. O tesouro mais valioso que possuíam era a bíblia e dentro dela estavam contidas inúmeras promessas que lhes assegurava que Deus era genuíno e fiel.

Eles foram e experimentaram a fidelidade de Deus logo no início, quando partiram no trem de Surabaja para Jacarta. Conforme o trem saía, começaram a cantar e a conversar com os passageiros. Uma mulher escutava-os atentamente. Finalmente, ficaram cansados e foram dormir, até porque era uma viagem de dezoito horas, a qual eu próprio já fiz devido àquela aventura causada pela má organização das linhas aéreas da Indonésia. Mas, Dan permanecia acordado e em oração. Conforme ela ia saindo numa paragem, a mulher que escutava atentamente o que diziam, levantou-se. Antes mesmo de sair do trem, entregou a Dan um embrulho feito com papel de jornal. Ela disse: “Isto vem do Senhor para vocês”. Dan perguntou qual era o nome dela. Ela respondeu: “Meu nome não é de grande importância. O Senhor Jesus quer dar-vos isto”. Ela desapareceu no meio da multidão na plataforma.

Dan foi compartilhar aquela alegria com todos os seus companheiros. Tirando-os do seu sono, ele logo contou-lhes o sucedido. Terminou exclamando: “Vejam! Deus cumpriu uma vez mais com a sua promessa ‘Ele supre aos seus amados enquanto dormem’, Sal. 127:2b”. Abriu o embrulho que tinha 500 rúpias (cerca de $ 3). Não era uma grande soma de dinheiro, mas era algo que servia como sinal claro de que o Senhor providenciaria tudo o resto para eles. Juntos se ajoelharam e agradeceram a Deus por aquela dádiva pequena que servia apenas como sinal de encorajamento.

Após a longa viagem de trem e depois de terem finalmente entrado em Sumatra, o grupo saiu do trem com as seguintes palavras: “Nós entramos neste terreno em nome do Senhor”. Cerca de cem anos antes, um outro missionário havia usado exatamente as mesmas palavras. Ele era Nommensen, o apóstolo de Deus a Batak. Ele clamou: “Eu começo aqui a batalha que o Senhor Jesus iniciou há muito tempo atrás”. Vemos a origem do espírito pioneiro dos crentes ali, o qual ainda não morreu. O grupo, contudo, não tinha intenção de alcançar Batak, mas antes os muçulmanos de Atje.

 

O Grande Pacificador

 

O grupo, de início, não sabia para onde deveria dirigir-se. Antes de decidirem o que fazer, eles oraram implorando literalmente ao Senhor para lhes dar uma direção clara. Estava chovendo torrencialmente. Os jovens procuravam um lugar para se abrigarem e para passarem a noite – mas até nisso, também buscavam a vontade do Senhor, pois nem se importariam de ficar à chuva. Descobriram um hotel barato e também descobriram que estava situado mesmo em frente a uma igreja evangélica. E maior se tornou a sua surpresa quando se encontraram com um homem que era um dos presbíteros dessa igreja.

Mas, ainda havia coisas mais maravilhosas para acontecerem. No dia seguinte, o Pastor regressou de uma viagem de avião. Quando se encontrou com eles, ele disse em forma de protesto: “Eu fui a Java com a intenção de achar um Pastor para liderar esta igreja. No entanto, como estava chovendo torrencialmente, o avião não pôde pousar em Java e fomos obrigados a voltar. E eis-me aqui de mãos vazias e sem sucesso!”.

Ao ouvir a história deste homem, Dan sentiu um ligeiro toque no seu coração vindo do Espírito Santo dando-lhe a direção. Ele disse: “Isso não é verdade, pois o Senhor fez tudo certo. Você não podia achar um pastor em Java porque o pastor veio de Java e já se encontra aqui. Pode escolher um destes jovens que vieram comigo. Todos eles são treinados devidamente e um deles poderá ficar aqui como pastor”. E foi isso mesmo que aconteceu. Quem duvida ainda de que o Senhor era realmente o seu guia? Quão maravilhosamente as peças encaixavam nos seus devidos lugares e tudo sem contatos prévios ou avisos de chagada, sem planejamento de qualquer tipo. Isto é, verdadeiramente, ser guiado por Deus!

Da mesma maneira, o Senhor arranjou um lugar onde ficarem e, também, resolveu os seus problemas de transportes e de provisões.

Conforme os componentes do grupo iam dando os seus testemunhos numa das vilas, o Espírito Santo mexeu profundamente com o coração de um homem influente, o qual era administrador de uma empresa petrolífera. Mesmo sendo muçulmano, ele colocou um carro a disposição do grupo, o qual poderiam usar sem qualquer despesa enquanto permanecessem na área.

Os jovens cristãos ficaram ainda mais comovidos quando o presidente dessa empresa lhes deu 5.000 rúpias – cerca de 25 dólares. E assim os inimigos da cruz tornaram-se os servos de Cristo. Tenho a certeza que Deus não deixará de recompensar estas ofertas no dia do juízo. Quantos cristãos serão envergonhados pela generosidade de muçulmanos como estes!

O grupo teve variadíssimas e maravilhosas experiências no tocante as suas provisões diárias. Eles necessitavam de 200.000 rúpias para cobrir todas as despesas dos dois meses de campanha e eles saíram de casa com apenas 35.000. No entanto, quando retornaram a Java entregaram de volta 80.000 rúpias do que tinha sobrado de toda a sua campanha. Mesmo tendo em conta que trabalharam entre muçulmanos e cristãos materialistas nominais, Deus abençoou-os com todas as provisões necessárias. Isto é uma fórmula de matemática difícil de fazer. Este tipo de matemática não é ensinada em nenhuma universidade hoje. É um tipo de contas que existe apenas na escola daquele que se chama Maravilhoso.

 

Poder das Trevas

 

O caminho que o grupo trilhou, contudo, nem sempre foi cheio de luz. A área onde se encontraram era, de fato, uma das maiores fortalezas do Alcorão.

Estes jovens mensageiros de Cristo, um dia, programaram para pregar em certa vila, mas, porque começou a chover, foram obrigados a abandonar a idéia. As chuvas torrenciais nos trópicos são, de forma geral, muito mais severas que em qualquer região da Europa. De início, eles ficaram desapontados. Contudo, vieram a saber que um líder muçulmano formou um grupo armado para matá-los naquele local. Através desta chuva, o Senhor protegeu os seus servos e desfez os planos deles. Aquilo que para nós, muitas vezes, é um desapontamento, nem sempre é ruim. O Senhor, muitas vezes, esconde uma benção sob algo que nos desaponta.

Os numerosos cristãos nominais também foram um problema para Dan e seus companheiros. Descobriram, também, para grande surpresa, que havia cerca de 14.000 cristãos inscritos na área. Estes cristos nominais quase sempre viraram as costas ao trabalho do grupo. Mas, isso nem devia surpreender ninguém e muito menos surpreendeu a eles, pois, para além de serem cristãos, muitos deles consultavam feiticeiros e tinham em sua posse muitos amuletos e objetos de superstição.

Sempre que este grupo era rejeitado, eles logo de seguida perguntavam ao Senhor: “Senhor para onde devemos ir?” Achavam que não havia nenhuma porta fechada para eles enquanto as palavras do Senhor fossem verdadeiras. E as suas palavras eram: “Eu sou a porta e a porta que eu abrir ninguém fecha”.

A sua dependência era exclusivamente de Deus. No início de cada dia, inquiriam do Senhor sempre que liam a Bíblia e oravam pela manhã: “Senhor, para onde iremos hoje?” Nunca começavam o dia sem terem a certeza absoluta de qual era a vontade de Deus para aquele dia.

O Dan contou-me: “Por vezes era difícil descobrir quais eram os planos que Deus tinha. Por essa razão nós persistíamos em orar e por vezes jejuar até que conseguíssemos reconhecer toda a vontade de Deus. Uma vez, quando todas a portas pareciam estar trancadas, fomos obrigados a viajar cerca de 75 Km para um local onde se abriu uma porta para trabalharmos lá. Sentíamos literalmente que estávamos sendo acompanhados e protegidos por enormes pilares de fogo. Foi uma coisa muito boa termos rendido as nossas vidas por inteiro ainda em Java, caso contrário a nossa missão em Atje teria sido um sério fracasso.

 

Os frutos

 

No final daquela viagem missionária, conseguiram contabilizar os números do grande triunfo do evangelho. Centenas de pessoas permaneceram convertidas. Os habitantes locais traziam todos os seus amuletos, pecados e objetos de ocultismo para fora e queimavam-nos publicamente. Confessavam os seus pecados a Jesus abertamente e 36 jovens ofereceram-se para a obra missionária. Esses queriam ir para a Malásia (outra fortaleza dos muçulmanos). Outros, ainda, sentiam-se chamados para irem para Índia. Na verdade esses dois países são mais próximos de Atje do que a própria capital, a qual encontra-se a cerca de 1.800 Km do topo norte de Sumatra. Atualmente, alguns desses jovens cristãos de Atje estão sendo formados na Escola Teológica do leste de Java. Eu próprio tive a oportunidade de conhecer alguns deles lá.

Quão grande benção foi o simples fato de o Dan ter conseguido reconhecer e confessar os pecados que o oprimiam e eram oriundos de práticas ocultas dos seus antepassados e pela graça de Deus ele foi totalmente liberto de toda culpa e opressão. Só assim ele foi extremamente útil em libertar os outros das suas próprias opressões. Esta autoridade de libertar os outros em nome do Senhor (Mt 18:18), só é dada aqueles que experimentaram libertação dos seus próprios pecados. Dois meses de campanha trouxeram bastantes frutos para o reino. “João 15:8”

O Senhor cumpriu com este grupo tudo o que prometeu. Na Escola Teológica eu encontrei pastores que haviam obtido uma renovação total da sua fé e das suas vidas pessoais e, consequentemente, das suas congregações, devido ao fruto e ao ministério deste grupo de Dan.

 

XI. ENTRE OS FABRICANTES DE VENENOS

 

Iremos agora “visitar” a área no extremo sul de Sumatra, mesmo que não abandonemos esta extensa ilha de 1.500 km de comprimento.

Já havia mencionado que os Holandeses haviam proibido toda a atividade missionária nestas áreas porque temiam as repercussões que isso traria. Contudo, hoje, esta área tornou-se o centro do maior avivamento entre muçulmanos de que temos conhecimento. Nem existe paralelo ou comparação na era Cristã.

Quando Deus decide operar, Ele escolhe aqueles instrumentos que são os mais apropriados para alcançar os Seus propósitos. Neste caso específico, os instrumentos nem foram os Cristãos, mas antes os próprios muçulmanos. Vamos antes ouvir a história.

 

Abrão, o Chefe de Fabricantes de Venenos

 

Sob o regime de Sukarno, o anterior presidente da Indonésia, os comunistas haviam conseguindo muito sucesso no País. E foi assim que Abrão, em 1963, como chefe tribal, recebeu instrução e formação ingressando num curso educacional Comunista. Este curso político havia terminado mais ou menos pela época do Natal. No dia que Abrão se ia embora para a sua terra, viu um carro com as seguintes palavras pintadas: “Indjil”. Esta palavra traduzida significa “Evangelho”. Ele olhou para o carro com um interesse estranho. Aquela palavra também o intrigava muito, pois ele reconhecia o seu significado do árabe. Ao aproximar-se do local onde o carro estava estacionado, ouviu as palavras dum sermão de Natal que saia pela janela duma casa onde havia uma reunião Cristã. Ele nunca havia ouvido aquela mensagem anteriormente e o evangelho era novidade para ele. Mas, apesar de seu grande interesse, não se atreveu a entrar para sala e permaneceu do lado de fora ouvindo o sermão.

Aquela mensagem ficou presa na sua mente. De volta a casa, contou a todo o seu povo a história de Belém e de Cristo em vez de propagar e ensinar tudo que havia aprendido no curso Comunista. Sem se aperceber e mesmo sendo muçulmano, Abrão tornou-se o primeiro missionário para a sua própria tribo. Mas, seu povo queria ouvir mais sobre este Cristo-criança. Abrão escreveu uma carta de imediato para alguém vir falar ao seu povo. Escreveu o endereço seguinte no envelope: “Indjil, Bengkulen”! E apesar daquele endereço incompleto e sem nexo, aquela carta chegou aos destinatários. Quantas vezes uma carta com o endereço completo não chega ao seu destino no mundo civilizado e ainda menos na Ásia?

Depois disso, um grupo de Cristãos ficou interessado na tribo de Abrão. Esta tribo era muito temida devido aos venenos que fabricavam e que davam aos visitantes. A primeira pessoa a chegar ali foi um oficial, evangélico, de Bengkulen e depois dele um estudante vindo da Escola Teológica do leste de Java, o qual vivia em Palembang. Por fim, Park Elias, também visitou a tribo. Eu não irei repetir toda a história aqui porque já descrevi todos os acontecimentos no meu livro “Nome sobre todos os nomes, Jesus”. O resultado dessas visitas foi um tremendo avivamento genuíno, mesmo que o próprio Abrão não se tivesse decidido por Cristo por algum tempo. Ele temia as repercussões e as reações perigosas que poderiam vir da sua tribo. Foi apenas quando várias centenas deles se tornaram cristãos que tomou o passo decisivo.

Os caminhos de Deus são muitas vezes estranhos para nós. Ciro, aquele Rei pagão dos persas, foi muitas vezes chamado como ‘O Servo de Deus’. Abrão, o líder mulçumano, trouxe pela primeira vez a mensagem de Cristo à sua própria tribo mulçumana. A palavra do Senhor nunca volta vazia. Lutero uma vez disse: “Mesmo que um ministro seja velho e desajeitado, sua palavra nunca perderá o seu efeito”.

 

Timóteo

 

A próxima testemunha do evangelho que podemos fornecer para além de Pak Elias, é Timóteo. Tal como muitos outros antes dele, também era um fervoroso mulçumano antes da sua conversão. Estudava na Universidade de Jogdjakarta e decidiu tornar-se professor. Levado ao extremo pelo seu fanatismo, tornou-se um líder de um grupo de jovens de Maomé, os quais perpetravam todo tipo de atos de terrorismo contra os cristãos. Uma vez, juntamente com seus amigos, apedrejou todas as janelas de uma igreja evangélica e também as janelas de um ministro protestante que morava ali perto.

O ministro, contudo, não fez caso desses ataques. Isso irritou ainda mais o jovem Timóteo e ele acabou por visitar o pastor só para lhe perguntar por que razão não se havia retaliado e nem tomado nenhuma medida contra ele. O pastor passou a explicar-lhe: “Deus ama-o e, por essa razão, nós também o amamos. Os cristãos não pagam mal com o mal”.

Depois disto, este jovem líder muçulmano nunca mais conseguiu ter paz. Comprou uma Bíblia para estudar os princípios da fé cristã. Ele queria estar numa posição de conseguir refutar habilmente tanto a Bíblia como a fé cristã. Por essa razão comprou a Bíblia.

Mas, o resultado final não saiu como ele esperava. Timóteo acabou por se converter. Abandonou o seu nome de Maomé e adotou um nome Cristão. Isso causou um grande reboliço no seu círculo de amizades, pois, por norma os muçulmanos não toleram a conversão de um dos seus para o cristianismo.

Todas as tentativas para fazê-lo mudar de idéias fracassaram e não deram em nada. Abandonando os seus estudos de seguida, decidiu obter conhecimentos teológicos. A sua primeira idéia foi ingressar num seminário teológico em Jacarta, mas quando se apercebeu que o dito seminário estava envolvido com teologias modernas e que questionava a maioria das verdades básicas da Bíblia, ficou desconsertado e profundamente abalado. Será que havia abandonado a sua ambição de vida e suportado o escárnio dos seus amigos e familiares para que a sua nova fé ficasse desgastada e lhe fosse retirada? Ele começou a questionar-se: “que tipo de cristianismo é este? Isto não é, seguramente, a razão pela qual troquei a minha vida antiga!” E foi assim que ele começou a procurar aqueles cristãos que realmente tinham fé e acreditavam só naquilo que a Bíblia dizia e da maneira que ela falava. A sua busca não foi em vão.

Timóteo entrou em contato com a Escola Teológica do Leste de Java e ingressou nela. Quando terminou o seu treinamento, em conjunto com seus professores, sentiu em seu coração que deveria dedicar-se por inteiro aos muçulmanos de Sumatra. O seu ministério conseqüente foi poderosamente abençoado. Eu mesmo encontrei-me várias vezes com este jovem e tornamo-nos grandes amigos. Ele está no topo da minha lista de orações por Sumatra.

Os incidentes a seguir servem apenas para ilustrar a obra deste bravo soldado da cruz de Cristo. Um dia, Timóteo encontrou-se com um líder de uma mesquita de noventa 90 anos de idade. O jovem ministro perguntou-lhe: “você sabe que assim que morrer vai pro inferno?” O velho respondeu: “sim eu sei disso, mas se tu souberes o caminho para o céu mostra-me”. Timóteo mostrou o caminho para Cristo a esse mulçumano. O homem entregou-se a Cristo e foi salvo.

Noutra ocasião Timóteo entrou num diálogo com um sacerdote muçulmano. Como já havia sido mulçumano e tinha profundos conhecimentos do alcorão, Timóteo foi capaz de mostrar com muita clareza as diferenças entre a fé cristã e as crenças em Alá. Ele disse ao sacerdote: “O Alcorão não nos diz nada sobre tornamo-nos filhos do Altíssimo (1 João 3:1). E ainda mais, o Alcorão não nos assegura nenhum tipo de perdão e nenhuma certeza de uma vida eterna. Mas, a Bíblia assegura-nos, claramente, que ‘todo aquele que crer em Jesus tem a vida eterna’ (João 3:36). E Paulo também nos diz (Ef.1:7) “em Cristo temos a redenção pelo seu sangue, a redenção dos nossos delitos, segundo as riquezas da sua graça”. O sacerdote ficou muito pensativo e aquilo que nenhum missionário alguma vez conseguiu – a conversão de um sacerdote muçulmano – aconteceu ali mesmo através do Espírito Santo. Rasgando a sua roupa de sacerdote muçulmano em pedaços, lançou-a para a entrada da mesquita. De seguida, aprendeu a seguir a Cristo e acabou sendo eleito como presbítero de uma igreja local mais tarde.

 

Tu és a verdade – só a tua palavra

Verdadeira sabedoria tu dás

Tu somente informas a mente

E transformas o coração

 

Christophorus

 

Eu estava para conhecer o Cristophorus numa conferência para ministros na Escola Teológica de Java. Contudo, assim que ele chegou, recebeu um telegrama convocando-o urgentemente para Sumatra. Os muçulmanos haviam, uma vez mais, concertado em levar por diante um plano de assassinatos contra os cristãos.

Christophorus é o mais jovem cooperador de Timóteo entre a tribo de fabricantes de veneno e havia igualmente recebido o seu treinamento nesta Escola Teológica. Mas, o seu ministério já provou ser de particular sucesso.

Um dia, recebeu um convite para jantar e, sem suspeitar de nada, aceitou. Mas, depois da refeição foi atormentado por terríveis dores de estômago. Os seus anfitriões colocaram veneno tal na sua comida que em circunstâncias normais teria sido letal.

Christophorus ficou de cama. Durante três dias sofreu dores horríveis em seu estômago e pulmões, como se queimassem. Ele clamou ao seu Senhor sem cessar. Após os três dias a crise passou. Os muçulmanos ficaram muito admirados porque o veneno não havia surtido efeito sobre ele. Eles começaram a dizer depois disso: “Temos de ter muito cuidado com esses cristãos. O Deus deles ajuda-os sempre”.

O verdadeiro resultado desta tentativa abortada de assassinar o Christophorus foi um grande número de famílias muçulmanas terem-se convertido. Isto, contudo, não converteu nenhum daqueles que fabricavam o veneno.

Cada muçulmano convertido necessita viver diariamente como se fosse morrer. É necessário viverem continuamente preparados para morrer. Isto é uma lição assegurada para todos aqueles que se tornam cristãos nesta área.

No final, Deus acabou por converter os fabricantes de veneno, ganhando-os para Ele. Ele usou muitos meios e muitas maneiras para alcançar os seus objetivos.

Vamos dar um exemplo. Um cristão orou com um sacerdote muçulmano com problemas mentais e o resultado foi a cura desse homem que, consequentemente, tornou-se cristão. Isto enraiveceu o governador muçulmano, porque o homem em questão havia sido sacerdote durante 38 anos. Enviou soldados para prendê-lo e sob tortura perguntaram ao ex-sacerdote: “Por que você se tornou cristão?” Ele respondeu: “Eu era doente mental e o Senhor Jesus curou-me; é por essa razão que irei permanecer com Ele”. Como que por milagre, o ex-sacerdote não sofreu qualquer dano e deixaram-no ir para casa em paz. Mas, noutras ocasiões, os muçulmanos que se tornavam cristãos eram brutalmente espancados pelos soldados e até mesmo colocados na prisão.

Deus também usou crianças muçulmanas como instrumento de salvação. O Pastor Christophorus, uma vez, ensinou crianças a cantarem um hino: “O sangue do Cordeiro te lava dos teus pecados, tornando toda a tua vida completamente nova”. Na sexta-feira seguinte, que seria o sábado muçulmano, as crianças começaram a marchar para cima e para baixo durante suas celebrações religiosas na rua em frente a mesquita, cantando o hino que tinham aprendido. Christophorus ficou alarmado com o que se estava a passar e foi conversar com as crianças para tentar convencê-las a não fazerem aquela marcha. Contudo, quando ele viu que o próprio filho dum sacerdote muçulmano participava da marcha alegremente, decidiu não interferir. Em muitos casos, os pais são levados a Cristo através dos testemunhos dos próprios filhos.

Durante outra celebração religiosa, os cristãos foram alvo de um violento ataque verbal. Temendo o pior, os cristãos reuniram-se para orar. Mas, o resultado foi muito diferente daquele que todos esperavam. Conforme o sacerdote muçulmano incitava os seus seguidores a atacar os cristãos, um dos homens, dentro da mesquita, levantou-se de repente e dirigiu-se sem hesitar para casa do Prastor Christophorus. “Eu quero tornar-me cristão”, disse o homem ao pastor. Christophorus hesitou um momento, pois, achava que era uma armadilha. O muçulmano prosseguiu: “Você não acredita em mim? Olhe, ali tem carne de porco. Dê-me um pouco e eu vou comê-la para provar a si que não estou brincando.” Comer carne de porco é um sacrilégio para qualquer muçulmano. Depois de ter comido, ele acrescentou: “Agora dê um pouco também a minha família. Todos nós decidimos abandonar a mesquita para seguirmos o Senhor Jesus”. E foi precisamente o que aconteceu. Toda a família acabou por se converter. Esta foi a resposta que Deus deu contra as ameaças do sacerdote e, também, às orações dos seus filhos.

Um outro muçulmano, de nome Uzza, converteu-se e acabou trazendo toda a sua família e todos os seus vizinhos a Cristo ao mesmo tempo. Não muito tempo depois, os muçulmanos colocaram-no na prisão. Uma noite, a sua esposa veio a correr até os cristãos clamando: “o nosso campo de arroz está em chamas. Devem ser os nossos perseguidores de novo. Por favor, venham ajudar-me a apagar o fogo”. Os cristãos saíram todos correndo em sua ajuda porque o arroz já estava pronto para colheita, seco. Contudo, os seus esforços foram em vão. Por causa da seca daquele ano, não havia água nas redondezas para que o fogo fosse extinto. A única coisa que os cristãos puderam fazer foi orarem de joelhos clamando ao Senhor por socorro. Foi então que aconteceu o milagre. Em poucos minutos após as suas orações, o Senhor enviou chuva, mesmo levando em conta que não era a época das chuvas e que raramente chovia naquela altura do ano. O fogo foi extinto e a colheita foi salva. Como resultado deste milagre mais duas famílias, do distrito uniram-se a Cristo. A perseguição serviu, uma vez, mais para alargar o reino de Deus.

Perto do Pastor Christophorus também vivia uma família muçulmana. Ele orava incessantemente por esta família e chorava pela sua salvação. Um dia, pela manhã, a mãe veio a ele e disse-lhe: “Todos nós queremos nos tornar cristãos”. “O que vos fez tomar esta decisão?” perguntou Christophorus. A mulher respondeu: “Ontem à noite tive um sonho onde me foi dito que eu e a minha família nos deveríamos tornar cristãos”.

Existem muitos feiticeiros entre os muçulmanos também. Na verdade, a maioria dos sacerdotes não baseia a sua autoridade no Alcorão, preferindo o uso de poderes de feitiçaria. Enquanto pregava, um dia, Christophorus foi confrontado com três destes feiticeiros. Ao falar com eles, mostrou-lhes o caminho de Cristo e dois deles converteram-se. Contudo, o terceiro era muito rico e recusava abandonar o que possuía. Mais tarde, numa ocasião quando Christophorus o visitou novamente, confrontou-o com as seguintes palavras: “O que vale ao homem ganhar o mundo se perder a sua vida?” Contudo o feiticeiro ainda resistia e continuou rejeitando a Cristo. Nove dias depois, morreu repentinamente.

O evangelho continua a sua marcha. Nem veneno, nem ameaças, nem tentativas de assassinato conseguiram impedir a obra do Espírito Santo. A Indonésia é, hoje, uma maravilhosa ilustração desta verdade. Mais ainda, cada ocorrência dá-se com ligeireza e sem qualquer traço de fanatismo, extremismo ou barulho – coisas que são muito usadas por pessoas que gostam de simular avivamentos. Durante os anos mais recentes, muitos dos cristãos em Sumatra chegaram a ser presos pela sua fé. Mesmo assim, até nisso podíamos discernir a vontade de Deus, pois, através do seu encarceramento, escapavam com muita freqüência às tentativas de assassinatos que pendiam sobre suas cabeças. E, através deles, muitos outros prisioneiros e guardas prisionais eram convertidos através dos testemunhos dentro da prisão.

Uma das pessoas mais conhecidas que havia sido presa, foi um ex-diretor das missões muçulmanas. Ele foi convertido através duma campanha ao ar livre liderada por Pak Elias. Quando foi batizado, mais tarde, os seus anteriores apoiantes começaram a suspeitar dos seus motivos políticos e mandaram prendê-lo. Mas, não foi em vão, pois, este homem convertido trouxe quatro outros a Cristo, batizando três deles ainda dentro da prisão. O quarto, após a sua libertação, caminhou mais de 37 Km até achar uma igreja cristã para ser batizado e isto confirmou que tipo de coisas e que tipo de evangelho ele ouviu e aprendeu enquanto preso.

O avivamento entre os muçulmanos é um autêntico espelho do livro dos Atos dos Apóstolos. Na verdade, podemos considerá-lo como o ‘Atos dos Apóstolos moderno’. O Espírito Santo está realmente operante e o Senhor Jesus persiste em glorificar o seu próprio nome. Mas, ao mesmo tempo, o avivamento é uma era de perseguição e uma época de confrontos e ataques demoníacos. No entanto, tudo isto faz parte da vida cristã.

Os muçulmanos usam tudo o que podem. Entram pelas casas dos cristãos, penetram nas suas reuniões secretamente para os espiarem, forjam provas contra eles, enviam a polícia e o exército e conseguem mandatos de captura contra os cristãos. Usam veneno e outros meios, na verdade tudo que lhes vier à mão. Os cristãos são tratados como excluídos da sociedade e são demitidos dos seus postos de trabalho sob a desculpa de manterem os serviços públicos limpos. E, se um muçulmano se tornar cristão, perde o seu emprego imediatamente. Contudo, o Senhor ainda continua no trono e “o seu reino dura para sempre”.

Apesar de todas essas pressões, a igreja constituída por muçulmanos convertidos, os quais haviam sido inimigos da cruz de Cristo, aumentou para os 1400 membros atualmente. Desde 1965 que têm uma Escola Teológica própria, a qual tem 30 estudantes vindos da tribo dos fabricantes de veneno. Em vez de praticarem as atividades anteriores, voltaram-se para a pregação do evangelho.

 

XII. Professor Universitário converte-se

 

Enquanto estive na Indonésia, tive o prazer de conhecer um advogado cristão que se chamava Sr. Tamba. Ele é um confiante e competente membro da tribo batak e, mesmo que essa tribo seja composta por uma população bastante orgulhosa por natureza, o Sr. Tamba entrou para a Escola de Cristo onde tudo que é estimado pelo homem é tornado desprezível. Ele, muito amavelmente, concedeu-me permissão para publicar aqui o seu testemunho. Que o Senhor possa usar essa narrativa para ajudar os que se acham em situações semelhantes. Vamos ouvir o Sr. Tamba:

Que o nome do Senhor Jesus Cristo seja sempre glorificado pelo amor que manifestou para comigo, o qual me permitiu achar o caminho até Ele. Eu escrevi uma data, dia 10 de agosto de 1967, na minha Bíblia. Posso considerar esse como o dia que nasci espiritualmente e com o dia da minha conversão numa igreja em Palembang, Sumatra.

Eu era e ainda sou membro da Igreja Batak, a qual é a maior igreja na Indonésia. Mas, antes de ter achado o Senhor Jesus Cristo, eu era um homem muito orgulhoso. Toda a gente comenta que a principal característica dos bataks é a arrogância e o orgulho. O meu próprio orgulho era nutrido e alimentado pelo fato de eu ser o único cristão em Palembang com um diploma universitário – Mestrado em Direito. Eu não era somente professor na Universidade de Sriwidjaja, mas, também era o diretor executivo da Associação de Advogados de Palembang. E, como se não bastasse, também fui eleito presidente do Clube dos Intelectuais Cristãos. Com todos estes títulos e ofícios e por causa do grande salário que recebia, nem era de admirar que eu desprezasse todos os cristãos que encontrava.

Nas atividades cristãs, o meu progresso era notável. Em 1962 fui constituído o líder máximo dos grupos de coral dos nossos jovens e logo tratei de desprezar qualquer um que não soubesse cantar. Quando uma campanha de evangelização chegou à nossa cidade vinda da Escola Teológica do Leste de Java, o líder do seu grupo de coral perguntou-me se podíamos juntar os dois grupos de coral sob a sua liderança. Eu ironizei dentro de mim mesmo imaginando que uma união entre os dois grupos só iria resultar bem sob minha regência. Eu fiquei tão iludido que achava que o nosso grupo seria o único em toda Sumatra capaz de cantar o ‘Aleluia de Handel’.

Mas, como se as minhas presunções musicais ainda não bastassem, pedi emprestado, de um familiar, um bom comentário sobre a Bíblia e comecei a estudar as Escrituras como nunca, não para achar o meu caminho até Cristo, mas apenas para poder estar à altura de discutir qualquer assunto com os Teólogos. Eu era, por isso, espiritualmente arrogante também.

Será que existe alguma esperança para um homem assim e que Deus consegue dobrá-lo e humilhá-lo?

 

O Ponto de Viragem

 

O evangelista responsável pela campanha missionária em nossa cidade era Pak Elias. Assim que começou a pregar, a sua mensagem penetrou profundamente em minha consciência. Contudo, quando ele pediu às pessoas para se irem arrepender dos seus pecados lá na frente, continuei de coração duro e orgulhoso demais para seguir o seu conselho. Em vez de ter sido eu a ir, um grande número dos meus jovens foram a frente e confessaram todos os seus pecados, um por um. Fiquei furioso e chamei a atenção dos jovens que não deveriam fazer aquilo. ‘Vocês já nasceram de novo através do batismo e profissão de fé!’ Isto era o que a Teologia Luterana nos ensinava erradamente, a qual me havia alcançado através de missionários alemães. Eu estava tão furioso naquela noite que comecei a abusar dos membros do meu próprio grupo de coral. Algumas das moças chegaram a ser levadas às lágrimas.

Tentei esquecer toda aquela noite, mas não conseguia achar a minha paz. Foi então que, ao invés de ir a um cinema assistir um filme ou de ir para outro lugar de diversão qualquer, fui novamente ouvir o que o Pak Elias tinha para me dizer. Na terceira noite, ele falou sobre como se deve ler a bíblia. A sua mensagem foi uma grande revelação para mim, porque até então eu havia adquirido o hábito de ler a minha Bíblia como se estivesse a ler uma série do faroeste ou de histórias da Índia.

No final da mensagem, fui conversar com Pak Elias. Eu ainda me sentia muito orgulhoso e queria somente ter um argumento com ele. Perguntei: “Como é que uma pessoa deve ler a Bíblia? Já me deram muitos pontos de vista teológicos sobre esse assunto”. Pak Elias respondeu muito docilmente: “Como é que Jesus lhe ensinou a ler a sua Bíblia?”. Eu fiquei sem saber o que responder àquela pergunta, pois nunca me havia passado pela cabeça que deveria perguntar ao Senhor Jesus sobre como se devem ler as Escrituras. Pak Elias começou a conversar comigo com muita paciência, explicando-me durante duas horas de que maneira me poderia tornar um verdadeiro cristão. Senti um grande peso sobre mim e um fardo sobre a minha alma. Os meus pecados passados e o meu incalculável orgulho apareciam diante de mim e não conseguia ver mais nada diante dos meus olhos. Foi a primeira vez que eu realmente pedi ao Senhor Jesus para me perdoar todos os pecados de um por um e foi ali que eu senti que fui verdadeiramente salvo.

A partir daquele dia, a Bíblia tornou-se um livro aberto para mim. Contudo, ainda viria a fazer uma outra descoberta maravilhosa durante o período daquela campanha evangelística. Havia um grande número de passagens bíblicas que eram de difícil entendimento para mim e as quais eu nunca havia entendido. Uns dias depois, estando novamente sentado com Pak Elias e sem lhe perguntar qualquer coisa, ele abriu a sua boca e começou a explicar-me todas aquelas passagens que eram obscuras para mim. Era bastante claro que ele estava sendo guiado pelo Espírito Santo e isso revelou-me, ali, o quanto o Senhor Jesus realmente me ama.

Uns meses depois dessa campanha – ela beneficiou todas as igrejas da nossa cidade – achei-me uma vez mais atolado num pântano de problemas relacionados com meu trabalho. Quase não tinha tempo para orar. Foi então que o Senhor Jesus resolveu enviar-me um tutor na forma de meu sobrinho de dois anos de idade. Eu sempre lhe havia dito que um cristão deveria falar sempre com o Senhor Jesus antes de dormir. Ele estava-me visitando por essa altura e nós permitimos que ele dormisse no mesmo quarto que eu. Quando fomos dormir, o meu sobrinho perguntou-me: “Titio já não estás orando antes de dormir? Estás zangado com o Senhor Jesus? Vocês tiveram alguma discussão?”. Estas perguntas e a forma como elas me foram dirigidas trouxe-me de volta ao bom senso. O Senhor Jesus havia escolhido um menino de dois anos para me servir de conselheiro e para ser um testemunho da verdade. “Da das crianças saem o perfeito louvor.” Sal.8:2.

 

Opressões

 

Agora chegou a hora de falarmos sobre a minha família. Cresci num lar nominalmente cristão e minha avó chegou a ser uma presbítera de nossa igreja. Contudo, o meu avó paternal, ao invés de ser cristão, era um dos feiticeiros mais famosos e temidos de Tapanuli, Sumatra. O seu nome era Datu Parangongo. A coisa que mais me horrorizou enquanto cristão, foi descobrir que muitas pessoas da nossa vila ainda estavam na posse de amuletos e instrumentos de encantamento que haviam obtido do meu avô. Foi apenas quando ouvi o Dr. Nahum falar sobre estas coisas que eu tomei consciência de que toda a minha família ainda estava sob ameaça e sob a influência da feitiçaria. Causa-me grande angústia só de pensar que, enquanto estou lendo a minha Bíblia, muitos dos meus compatriotas persistem em usar os seus objetos de feitiçaria que receberam do meu avô. Mas, o pior de tudo, é que o meu próprio pai ainda sofre devido a estas opressões.

Quando descobri isto pela primeira vez, tentei de todas as maneiras falar do Senhor Jesus para os meus pais e o restante da família. Mas, nunca aceitaram a minha mensagem. O meu pai simplesmente rejeitou as minhas palavras de maneira muito fria. Sem pestanejar, ele disse: “tu deverias torna-te pastor. Eu não preciso de nenhuma dessas coisas”. Também meus irmãos e irmãs, mesmo sendo membros da igreja, não querem nada com o Senhor Jesus de forma real. Fui levado a orar intensamente por eles e o Senhor não me desapontou.

Um tempo mais tarde, Pak Elias voltou a visitar a nossa casa. Conforme ele ia testemunhando do Senhor Jesus, para grande admiração minha, os meus pais renderam as suas vidas ao Senhor Jesus. Os meus irmãos e irmãs ainda resistem à mensagem, mas eu continuo orando para que o seu dia também chegue. Como me alegrei ao ver o zelo dos meus pais tentando trazer muitas pessoas para o caminho de Cristo após a sua conversão. Eles começaram a fazer um estudo aprofundado de vários livros evangélicos, estudando-os avidamente com o intuito de ajudar os outros a tornarem-se cristãos. Que Deus conceda que a obra que Ele começou, continue até ao fim e que acabe convertendo toda a minha família.

 

Transformações

 

Quando o Senhor Jesus toma o trono de uma vida, nada nela permanece igual. Eu tive a oportunidade de confirmar isso na minha própria vida.

Antes da minha conversão, eu era conhecido na universidade onde lecionava como senhor ‘matador’. Os estudantes deram-me essa alcunha devido à maneira como eu costumava implicar e superiorizar-me a qualquer uma pessoa com quem não simpatizasse. Muitas vezes, quando tinha uma aversão contra um estudante, eu simplesmente fazia com que ele fosse reprovado. Como cristão, depois, assumi que era um comportamento muito feio o qual afetava diretamente a vida do meu próximo. Arrependi-me do meu pecado. Contudo, ainda existem muitas injustiças em todo sistema de exames nas escolas universitárias.

Depois da minha conversão, a minha atitude mudou radicalmente. Todos os estudantes tornaram-se meus amigos. A situação agora é de tal maneira notável que, muitos deles, ficam à espera na esperança de conseguirem uma carona depois das aulas. Eu, o homem orgulhoso, tornei-me o seu motorista. É obvio, no entanto, que seguir Cristo sem batalhas e sem provas é uma utopia. Um dos problemas que continuamente me seduz com facilidade, é a enorme quantidade de trabalho diário que preciso fazer. Em 1968, considerei a possibilidade de me ausentar de uma das Conferências promovida pela Escola Teológica de Java devido ao excesso de trabalho que tinha. Contudo, muitas pessoas começaram a orar por mim e no fim acabei por colocar o trabalho de lado para assistir à conferência. Eu sei que isto foi claramente o que Deus queria, pois foi através do que ouvi, aprendi tudo sobre o poder das práticas de feitiçaria dos meus antecessores e reconhecer que elas eram uma prisão invisível sobre minha vida. Porém, eu não era a única pessoa em Palembang cuja vida experimentou uma mudança tão radical. Muitos outros cristãos nominais experimentaram o mesmo tipo de transformação que eu. Durante toda aquela semana, centenas de pessoas vieram à frente confessar os seus pecados um por um, entregando-se ao perdão do Senhor Jesus Cristo, achando-o e experimentando-o como seu Salvador. Fiquei deveras surpreendido como as pessoas se convertiam. Uma única frase dum evangelista, muitas vezes, bastava para quebrantar um Batak orgulhoso e confiante. A palavra dilacerava-os. Era verdadeiramente a obra do Espírito Santo ao vivo e presença real. Nenhuma das igrejas que participaram daquela campanha se arrependeu de ter participado. A única igreja que se manteve fora das palestras foi a minha igreja, a Igreja Batak, a qual pensava que os evangelistas da Escola de Java eram pentecostais. Mas, estavam redondamente enganados. As mensagens dos dois evangelistas e do resto do grupo responsável pela conferência, era de arrependimento de uma convicção de pecado profunda e não eram usados nenhum recurso emocional ou sensacionalista. Era tudo feito na maior reverência.

Uma das conseqüências desta missão em particular, foi a formação de enormes grupos de oração, os quais reúnem-se desde então sem cessar. Estamos plenamente conscientes que, sem estas orações, não alcançaremos nada aqui em Sumatra. Também tenho plena consciência que o mesmo será verdade em relação à salvação dos meus familiares. Eu nunca tive qualquer dificuldade em providenciar tudo o que necessitavam para as suas necessidades físicas e carnais, mas, hoje, as suas necessidades são outras e são muito diferentes daquelas que eu outrora sabia suprir. Eu creio que o Senhor um dia salvá-los-á a todos. Talvez você, meu caro amigo, seja aquela pessoa cuja oração Deus irá ouvir orando por minha família. Esta é um das razões que me levaram a escrever este testemunho. Mas, também existem duas outras razões. Em primeiro lugar queria contar como a minha vida outrora, caracterizada e monopolizada pelas tradições e pela cultura da igreja, me transformou num assíduo freqüentador dos cultos e um participante ativo da vida da igreja, mas nunca me conseguiu tornar um verdadeiro discípulo de Cristo. Em segundo lugar, sinto a necessidade de ilustrar aquilo que a minha ignorância nunca se apercebeu em relação a opressão demoníaca que pairava sobre toda minha família devido aos atos e a vida do meu avô, que era o mais temido feiticeiro da região. Dou graças a Deus por meus olhos haverem sido abertos desta maneira maravilhosa e através dum dos seus mensageiros, Dr. Nahum. A conseqüência foi a minha total libertação. Esta glória é de Cristo integralmente.

 

XIII. A CONVERSÃO DE UMA ILHA

 

“Deus dá graça aos humildes”, diz a palavra do Senhor. O Pastor Gideão é um homem extremamente simples e humilde de natureza. Eu nunca conheci um homem cuja humildade me impressionou tanto.

Para poder descobrir os detalhes da sua vida vi-me forçado a voltar para todos aqueles que o conhecem bem, pois ele não fala nada sobre a sua pessoa.

Ele é um pastor na ilha de Rote, a qual se situa a sul de Timor e é a ilha, do arquipélago Indonésio, mais próxima da Austrália. Devido à enorme falta de pastores e ministros na região durante os últimos anos, Gideão tenta cuidar de cerca de 30 congregações sozinho. Um dos pastores daquela zona cuida de 48 grupos de cristãos.

Em 1966 Pak, Elias rumou para a ilha de Rote em campanha. Foi essa a primeira vez que ele se encontrou com o Pastor Gideão. Sabendo Pak Elias que Gideão tinha avisado todas as suas congregações para evitarem essa campanha e para não participarem dela, Pak Elias perguntou-lhe: “O senhor conhece o Senhor Jesus?” “Eu estudei teologia e passei meus exames com distinção”, veio a resposta.

Depois desta conversa, o Pastor Gideão ficou atormentado e sem paz. Conforme os dias iam passando, Gideão via milhares de pessoas serem convertidas; era também testemunha ocular de pessoas sendo curadas e os possessos sendo libertados; alcoólatras eram libertos do seu alcoolismo para sempre. Devido à enorme plantação de açúcar, esta ilha é uma potência de uma bebida fermentada extraída das palmeiras, a qual, os nativos usam com freqüência e a qual carregam com eles numa botija ao seu ombro.

As igrejas começaram a encher-se apesar de seu pastor permanecer endurecido e desligado das pregações. Gideão, contudo, via as poderosas manifestações do Espírito Santo, como no tempo dos apóstolos descerem sobre todo o povo da sua ilha. Ele, no entanto, permanecia intacto.

Os dois homens voltaram encontrar-se. Só que, desta vez, a situação havia-se revertido completamente. O Pastor Gideão admitiu abertamente: “Eu estou no ministério há sete anos e nunca consegui converter uma única pessoa através do meu trabalho. Agora, acho que descobri a razão. Eu nunca me arrependi de verdade de todos os meus pecados e agora tenho a certeza que nunca fui perdoado por Deus. Tenho absoluta convicção, também, que nunca nasci de novo dessa maneira que você descreve nas suas mensagens. Eu vou-me demitir do meu cargo de pastor. Não poderei continuar assim”.

Pak Elias replicou: “Você não precisa abandonar o seu ministério. Simplesmente comece de novo, só que desta vez com o Senhor Jesus do seu lado. Venha conosco para nossa Escola Teológica durante um tempo e descubra o que nós estamos ensinando. Eu tenho a certeza que não é aquilo que as pessoas chamam de teologia moderna, nem de perto. Porém, tenho a certeza e absoluta convicção que é a teologia da cruz de Cristo que se manifesta abertamente”.

Gideão levou o conselho a sério e fez o que lhe haviam dito, sentindo profundamente que ele nem poderia continuar assim e nem queria continuar sendo estéril. Acabou por freqüentar o seminário durante um ano em Java e foi ali que experimentou, pela primeira vez, o poder do Senhor Jesus na sua própria vida.

Quando voltou à sua ilha, era um homem transformado aquele que subiu ao púlpito para pregar. As suas mensagens agora obtinham um efeito tremendo e via-se claramente o Espírito Santo usando o resto do seu ministério. Foi desta maneira que um homem quebrantado, um ministro isolado de Deus, recebeu autoridade para pregar. Ele tinha uma autoridade única de pregar profeticamente e uma autoridade para curar. No entanto, todas as coisas que ali aconteciam, eram evidenciadas através de um absoluto silêncio, a ausência de espetacularidade e através de uma grande paz. Não havia qualquer barulho, nenhum indício de sensacionalismo conforme vem acontecendo naqueles cultos onde as pessoas são influenciadas através de um fundo musical. Isso é o que os extremistas costumam usar para enganar o povo. Gideão olha fixo nos olhos do homem que tenha um pecado escondido ou que não tenha sido perdoado e diz-lhe sem pestanejar o que se passa nas trevas do seu coração.

Antes de voltar para Rote, Gideão havia acompanhado uns dos grupos missionários que chegaram muito perto da fronteira Portuguesa de Timor Leste. Ele foi tomado por um desejo enorme de alcançar, também, os seus colegas pastores que estavam nas trevas – como ele esteve – e sentia-se encorajado a dar-lhes diretivas espirituais. Mantinha a esperança viva de um dia poder visitar o seu próprio pai, o qual também era pastor na altura. Mas, ele chegou muito tarde, pois seu pai morreu afogado pouco antes da sua chegada. Gideão acabou por usar esta experiência devastadora para apelar às consciências dos seus colegas de profissão. Ele conhecia muito bem a situação e a condição dos pastores em Timor. Muitos deles viviam em profundo pecado. Havia muitos envolvidos em feitiçaria, os quais chegavam ao ponto de se desafiarem para lutas mortais. Numa congregação, por exemplo, o pastor, os presbíteros da igreja e um professor estavam todos envolvidos numa luta mortal de feitiçaria, cada um usando os seus próprios poderes satânicos. Gideão foi visitar os homens e perguntou-lhes o seguinte: “Vocês vão para o céu quando morrerem?” O velho pastor respondeu: “Eu não sei e a Bíblia também não sabe”. Perguntando a outro pastor Gideão disse: “Você está pronto se o Senhor Jesus vier?” O homem respondeu: “Eu preferiria que Jesus não viesse ainda, porque ainda não estou pronto para ser recebido por Ele”.

Após ter feito uma larga pesquisa na ilha de Timor, Gideão voltou para a sua ilha, para Rote. Ele sentiu em seu coração que o seu primeiro dever era evangelizar toda ilha e durante um ano visitou uma congregação atrás da outra, pregando o evangelho incessantemente onde quer que fosse. Durante este tempo, o próprio Senhor Jesus confirmava o seu ministério de um modo que não deixava dúvidas a ninguém. Mais de mil pessoas foram trazidas aos pés de Cristo no primeiro ano após a conversão de Gideão. Enormes grupos de oração começaram a despontar por toda a ilha, os quais tornaram-se a essência e a coluna vertebral de todo o seu ministério e sucesso. Cada dia, ele dependia de cerca de seiscentos cristãos que oravam por ele incessantemente, orando também pelas congregações por onde passava.

No final deste ano, uma onda de avivamento rebentou em Rote. Conforme o pastor Gideão caminhava para a igreja, encontrava literalmente multidões dos nativos esperando do lado de fora por não haver mais lugar dentro da igreja. Eles seguiam todo sermão através das janelas e as portas que ficavam permanentemente abertas. A única ‘dificuldade’ que ele encontrava era o fato do povo nunca permitir que ele parasse de pregar e ele pregava muitas vezes até a meia-noite. Quando sentia que o seu sermão estava chegando ao fim, o povo erguia-se e clamava: “Continue! Não pare”. Tal era a fome que os nativos tinham pela palavra de Deus. Deus apoderava-se de todo seu coração.

Havia ocasiões que o Pastor Gideão não conseguia suportar o calor tropical dentro duma igreja superlotada. “Está muito calor aqui! Não consigo continuar”, disse ele. Contudo, a congregação logo tratou de achar uma solução. “Precisamos orar para Deus mandar chuva para refrescar o ar”. O sermão foi interrompido e muitos nativos começaram a orar por chuva. Como resultado, o Senhor que já havia graciosamente derramado sobre eles o Seu Espírito, também enviou a chuva que havia sido requisitada. Aconteceu como já havia acontecido com Elias no Monte Carmelo, quando ele orou por chuva e a recebeu. “Então ele orou outra vez e o céu deu chuva”, Tiago 5:18. Respondendo às orações dos seus filhos, Deus enviou tanto a água para a vida como uma chuva refrescante. Só poderei dizer uma coisa a todos aqueles que tenham dificuldades em acreditar nestas histórias e que as colocam ao mesmo nível dos fanáticos que dizem viver para Deus: “Vão à Rote e a ilha de Timor vós mesmos e vejam com vossos olhos se estas coisas são verdadeiras ou não. Mas, não se aproximem muito do Pastor Gideão! Ele pode dizer publicamente quais são os pecados secretos olhando para vossos olhos sem pestanejar e, creio que será uma cena muito embaraçosa para qualquer um”.

Como é que a vida de Gideão é vista olhando de fora? Como homem, ele é inteiramente dedicado ao seu ministério e não se dedica a mais nada. Tal como John Sung, ele é consumido e distribuído como pão ao serviço do seu Senhor. Homens como ele, deixam-se simplesmente consumir e queimar até não existir mais nada deles, nem força e nem recursos. Gideão nem se preocupa com a sua comida ou onde vai passar a noite. Todo o seu tempo é gasto e consumido em viagens entre as suas 30 congregações espalhadas pela ilha. Não é mais ele que vive mais Cristo que vive pelo lado de dentro dele. No presente momento que o livro está sendo escrito, cerca de 23.000 cristãos são o apoio incondicional por trás dele e de toda a sua obra.

Um provérbio indiano descreve muito bem o seu modo de vida: “aquele que caça leões não se preocupa com mosquitos”. Noutras palavras: “aquele que serve ao Senhor não se preocupa com mais nada deste mundo”. Quem de nós está preparado para cavalgar neste caminho montanhoso? Quão mesquinhos e pequeninos nós podemos parecer quando colocados ao lado desses mensageiros de Cristo! Algo muito forte da glória de Deus transparece através dos seus rostos e das suas vidas e aqueles que convivem com eles de perto ficam com a idéia estampada de que a imagem de Cristo já foi formada neles.

Existe muita alegria nos céus por cada pastor evangélico que se converte. Quanto mais alegria haverá entre os anjos quando uma ilha inteira se converte.

 

XIV. O AVIVAMENTO EM TIMOR

 

Timor é uma da ilhas ilha do extremo oriente do grande arquipélago da Indonésia. Na verdade, encontra-se mais próximo da Austrália do que da sua capital. Em 1964, com uma população um pouco acima de 1.000.000 de pessoas, cerca de 450.000 dos habitantes locais pertenciam a igreja reformada holandesa. O número de pastores na época, contudo, eram 103. Eram poucos pastores para a dimensão do trabalho que tinham que fazer. Conforme já dissemos anteriormente, só um dos pastores cuidava de 48 congregações diferentes ao mesmo tempo.

O estado espiritual das igrejas era, no entanto, catastrófico. Fica-se a dever, de certa forma, ao modo e a metodologia que os holandeses usaram para melhor administrarem a colônia que lhes pertencia. Cada ministro de cada igreja tinha de ser necessariamente um oficial colonial. Por essa razão, qualquer um que desejasse obter uma coisa do governo, teria necessariamente de ser membro da igreja colonial. Timor, por isso, nunca havia sido evangelizada. Apenas foi cristianizada. As anteriores crenças ligeiramente ateístas, magia e feitiçaria, promiscuidade e alcoolismo, continuaram a florescer dentro das igrejas como se Cristo não existisse.

O estado espiritual das igrejas tornou-se um grande peso para interseção dentro do coração do pastor Joseph, o Presidente da Igreja Presbiteriana em Soe. Durante os anos que precederam o avivamento, dede 1960 até 1964, o seu trabalho levou-o ao desespero.

O Pastor Joseph é um homem com uma capacidade, uma visão espiritual e um entendimento das coisas de Deus muito invulgar. O fato é que os seus livros favoritos são os livros de Moody, Dr. Torrey e Livingstone. A par de Pak Elias, ele é o homem mais capacitado e melhor formado dentro do avivamento na Indonésia.

Para as igrejas no mundo terem uma visão correta sobre o avivamento, será necessário esclarecer um pouco sobre como reagiam os líderes eclesiásticos em Timor contra o avivamento, o qual é genuíno e real. Os líderes do sínodo da igreja reuniram-se a 4 de outubro de 1967. Nesses lideres incluía-se o Presidente Joseph, Pastor Radjahaba, Pastor Meroekh, Pastor Baldey e o Pastor Micah. Para além desses, Pak Elias e o Pastor Gideão também estavam presentes devido o seu envolvimento direto no avivamento. Após muitas discussões e um tempo muito proveitoso em oração, finalmente concluíram e sublinharam que, aquele movimento, era genuíno e que toda a obra na ilha de Timor estava sendo ministrada e diretamente liderada pelo próprio Espírito Santo. O Pastor Gideão (de quem já falamos aqui) recebeu como tarefa a organização de vários grupos de evangelização para que a obra prosseguisse. Deus certamente abençoará esses líderes devido à decisão acertada que tomaram num ambiente tão difícil e tão conturbado como é o nosso atualmente. Infelizmente, ao longo da história da igreja, podemos observar sem hesitação que eram os próprios líderes que frequentemente se opunham a qualquer avivamento que fosse genuíno. Sempre que esses avivamentos aconteceram, os líderes eclesiásticos mantinham-se formalmente e obstinadamente fora deles e contra eles.

Embora tenhamos aqui passado à frente de alguns acontecimentos, foi necessário fazer isso para dar uma descrição clara e fiel da verdadeira estrutura sobre a qual este trabalho genuíno do Espírito Santo aconteceu e se desenvolveu.

 

O Movimento de Curas

 

O avivamento em Timor foi precedido por um outro movimento que tinha o Espírito Santo como autor. Em outubro de 1964, um professor na ilha de Rote teve uma visão de Deus. O Senhor havia-lhe dito para viajar até Timor e encetar uma campanha de cura lá. Isso pode parecer um tanto ou quanto estranho para as mentes ocidentais, mas precisamos entender quais as circunstâncias que apóiam uma tal ordem de Deus. Não existem médicos em toda ilha de Timor e nem nas ilhas mais próximas. Muito menos existem nas vilas. Todos aqueles que ficavam enfermos eram obrigados a buscar ajuda entre feiticeiros e em pessoas com poderes de magia. O resultado era que até os cristãos da área viessem a sofrer de certos tipos de opressões satânicas causadas por essas práticas de cura. Não é de admirar, então, que o estado espiritual de toda igreja bradasse aos céus por algo que viesse socorrer. Havia uma hemorragia fatal em cada igreja. Com este cenário, só podemos entender que o Senhor tinha razões de sobra para demonstrar poderes sobre os enfermos.

Jephthah, o professor em questão, levantou-se de imediato e foi discutir o assunto com seu pai, o qual por sua vez era o Pastor na ilha. Havendo-lhe contado a sua experiência, pediu ao seu pai para ungi-lo para essa missão. O pai hesitou de início, questionando-se se visão seria genuína. Mas, acabou por fazer algo que nunca havia feito e ungiu o seu próprio filho para uma tarefa inesperada.

Após a sua unção, Jephthah orou com o primeiro grupo de pessoas doentes que encontrou. Todos ficaram instantaneamente curados. Encorajado através desse seu sucesso inicial, decidiu fazer uma campanha que ficou conhecida como ‘Movimento de Cura’, na primeira grande cidade que encontrou na ilha de Timor. Quando foi confirmado que um grande número das curas que ele realizou eram genuínas, o sínodo da igreja Reformada (Presbiteriana) concordaram fornecer todo seu apoio àquela campanha. Aquela missão foi um grande sucesso, a qual levou à formação de um comitê especial para estudar a fundo todas as formas de cura que podiam ser usadas.

Após o final daquela campanha, houve mais uma semana de curas na ilha de Soe. Os milagres maravilhosos de cura que consequentemente ocorreram, despertaram uma grande fome pela palavra de Deus entre os crentes das cidades. E assim nasceu o movimento que durou desde Outubro até Dezembro de 1964. De acordo com várias testemunhas, as quais confirmaram tudo diante do Diretor Joseph, vários milhares de pessoas haviam sido permanentemente curadas.

Contudo, conforme o tempo ia passando, todos se aperceberam que havia uma grande fraqueza e uma enorme fragilidade naquele movimento de cura. De uma maneira ou de outra, a proclamação do evangelho estava sendo negligenciada. Arrependimento e conversão não eram o tema central da sua mensagem. No entanto, o movimento de cura pode, como resultado de oração, ser considerado como uma preparação para o movimento de avivamento que se seguiria.

 

O Início do Avivamento

 

Em 1965, David Simeon chegou em Timor com um grupo da Escola Teológica de Java. Começou uma campanha de evangelização tanto na ilha K. e em Soe. Como resultado desta campanha solidamente bíblica, o fenômeno espiritual que estava ocorrendo na ilha foi manifestado. A mensagem do grupo estava inteiramente direcionada para o arrependimento, novo nascimento e santificação incondicional através do Espírito Santo. A obra daquele verão foi o novo nascimento da ilha e o início do avivamento supra-genuíno que acabou por se espalhar por toda Indonésia.

Aquelas campanhas foram seguidas por um enorme derramamento do Espírito Santo de Deus onde a santidade imperou e o qual não tem qualquer paralelo em todos os avivamentos que houve desde o tempo dos Apóstolos. Os nativos traziam em grande escala todos os seus amuletos e instrumentos de feitiçaria, esvaziando as suas casas e fazendo pilhas com eles para os queimarem. Uma onda de limpeza varreu em profundidade todas as fileiras de cristãos que havia na altura. Mais importante ainda, foi o fato de o Senhor ter chamado muitos dos habitantes da ilha para usá-los para espalhar o fogo do avivamento por todo lado.

O Pastor Joseph relatou mais tarde acerca da obra feita através de David Simeon: “Antes do grupo da Escola Teológica ter voltado para o leste de Java no dia 1 de setembro de 1965, Simeon pregou sua mensagem de despedida. Conforme ia falando, parecia estar ministrando através do Espírito Santo de uma forma muito especial, porque tudo que ele dizia soava a coisas proféticas. Ele dizia: ‘Eu espero, de coração, que Deus faça nascer grupos que saiam para pregar o evangelho e que eles não apenas alcancem a metade da ilha que pertence a Indonésia, mas que a sua mensagem alcance, também, o território português de Timor’. Quando e como isso irá acontecer, eu não sei. Mas, de uma coisa eu tenho certeza: a própria mão de Deus está muito próxima para fazer cumprir estas palavras”.

As primeiras testemunhas do avivamento em Timor foram trazidas através do Ministério da Escola Teológica de Java.

Tamar havia estudado na Universidade de Salatiga em Java e era na altura a Diretora da Escola Cristã em Soe. Ela foi a primeira pessoa a ser chamada por Deus para o evangelho. Sentindo profundamente em seu coração que precisava freqüentar a Escola Teológica, falou sobre isso ao Pastor Joseph, Pastor Micah e David Simeon que pretendia ir para Java. O Pastor Joseph ficou com alguma ansiedade de início com a idéia de vir a perder uma professora fabulosa. Na verdade, havia uma enorme falta de professores cristãos na área. E, para além disso, um grande número dos professores da Escola Cristã eram comunistas. Tamar, também tinha o grande afeto dos seus alunos. Mas, a sua mente estava decidida e resoluta e nada neste mundo conseguia alterar a sua decisão. Quando o grupo da Escola Teológica partiu, ela pediu ao Pastor Joseph para fazerem um culto de despedida dentro da igreja.

A noite do culto chegou. A igreja estava lotada de gente. Começando às oito horas da noite, Tamar falou até cerca da uma hora da madrugada sem interrupção. Apesar do seu sermão de cinco horas, nem uma pessoa abandonou o culto e ninguém se sentia cansado no final. O Espírito de Deus tinha começado uma obra. Conforme a reunião seguia para o término, Tamar perguntou: “Se alguém estiver preparado para começar a servir ao Senhor esta noite, por favor levante a sua mão”. A resposta foi marcante. Quando todos os nomes foram escritos, contavam-se mais de cem nomes de jovens que se haviam oferecido voluntariamente para começar aquela obra de avivamento. O Pastor Joseph decidiu mais tarde começar algumas aulas de instrução e formação duas vezes por semana para todos aqueles que se haviam escrito para servirem ao Senhor a tempo integral.

Nós começamos já aqui começamos a ver a diferença entre as igrejas do ocidente, cansadas e sob fardos e a igrejas no centro de uma área de avivamento. No ocidente, ninguém pára de se lamentar ano após ano pela falta de candidatos para o campo missionário ou para serem evangelistas a tempo inteiro. Na Indonésia atual, quando uma mulher fala sob a inspiração do Espírito Santo, cem pessoas entregam-se de todo coração para a obra missionária numa única noite. E ficou provado que isso não foi apenas uma coisa esporádica e perdida no tempo. Teremos a confirmação deste fato mais adiante. Desde que o avivamento começou, muitos dos novos convertidos colocaram os seus nomes numa lista de espera interminável para ingressarem na Escola Teológica na escola de Java. Tantas pessoas buscavam ser atendidas que se tornou insuportável e impossível acomodar todos os candidatos.

 

Um Saulo Vira Paulo

 

As palavras proféticas de David Simeon vieram a cumprir-se muito antes daquilo que qualquer um poderia imaginar ou achar possível. Na noite da sua partida para Java, Tamar desencadeou uma cadeia de acontecimentos e reações dentro da igreja. Naquela noite estava um jovem sentado numa das filas de trás. Todos os seus amigos levantaram as mãos para se entregarem a obra de Deus e ele fez o mesmo. Mas, de seguida ficou irado e angustiado com a idéia que atravessou sua mente: “Estás louco? Não podes fazer uma coisa tão absurda!”

Quem era este jovem? Ele havia perdido um dos seus pais e vivia na casa do Pastor local desde a idade de sete anos. Contudo, isso não preveniu que desenvolvesse uma atitude ímpia e perturbada para com a vida. Ele era muito conhecido pela sua apetência para brigas e rixas, tal como para o alcoolismo. Em muitas ocasiões, chegou a perturbar os cultos na igreja. Uma vez, quebrou uma das janelas na hora do culto à pedrada. A única razão porque ele havia assistido aquele culto de despedida, era porque conhecia Tamar pessoalmente e estava muito curioso sobre o que havia causado todo aquele reboliço. Este foi o homem que Deus usou para introduzir a prática da limpeza incondicional e da faxina dentro da igreja e nas vidas das pessoas.

Algum tempo após o culto, Saulo – conforme era chamado – estava sentado no seu quarto estudando inglês. De repente, tudo à sua volta se escureceu. Ele não conseguia saber qual a razão para aquela cegueira súbita. Colocou o seu rosto bem perto da lâmpada para ver se enxergava a luz, mas a única coisa que conseguiu foi queimar a sobrancelha. Decidiu que a única coisa a fazer seria deitar-se e esperar para ver o que ia acontecer.

Após 10 minutos, uma figura vestida de branco com o cabelo até os ombros falou-lhe. Saulo sabia instintivamente de que se tratava do Senhor Jesus. Ele jogou-se no chão com o rosto em terra e em grande temor. Sentiu uma mão invisível colocada sobre o seu corpo. Tentou erguer-se, mas faltavam-lhe as forças.

Foi naquele momento que o Senhor falou com ele: “Que tens dentro da tua mala?” Saulo lembrou-se de seus amuletos de feitiçaria que se encontravam lá. “Pega neles e vai entregar ao teu pastor confessando os teus pecados”. Saulo obedeceu. Quando voltou para o quarto, o Senhor continuou: “Precisas de ser lavado e ser limpo. Necessitas de uma faxina completa. Depois disto, irei dar-te a tarefa de limpar toda igreja também e de saíres para pregar o evangelho. Vais orar por pessoas doentes e elas se curarão. Nem a morte será problema difícil para ti. Mas, lembra-te disso e nunca te esqueças: o poder é meu e não teu. Dá testemunho às pessoas na igreja no próximo culto sobre tudo o que aqui se passou entre nós dois”. Assim que o Senhor terminou de lhe falar, sumiu da vista de Saulo.

Saulo ficou emudecido e sem reação. Mais tarde, quando falei com ele pessoalmente, disse na presença de um dos missionários: “O meu colega que divide o quarto comigo entrou quando tudo aquilo estava acontecendo. Ele ouviu passos e sentiu uma forte presença de alguém muito poderoso dentro do quarto, mas não viu o que eu vi.” Podemos desde logo achar aqui uma semelhança entre esta experiência e a visão que Paulo teve perto de Damasco, quando aqueles que estavam com ele ouviram a voz, mas não viram ninguém.

No culto seguinte, Saulo pediu permissão para falar. O pastor hesitou um pouco por causa das suas atitudes anteriores, mas acabou por permitir. Quando Saulo terminou o seu discurso, o poder do Espírito Santo parecia estar sendo sentido profundamente por cada pessoa ali presente. Como se tivessem combinado, começaram todos a confessar pecados um a um ao mesmo tempo e muitos saiam apressadamente para casa voltando depois com os seus instrumentos de magia e de feitiçaria. Naquela mesma noite, todos os objetos trazidos foram publicamente queimados diante da igreja.

Quando Saulo falou, mais tarde, numa escola que ele havia freqüentado, o mesmo processo de limpeza repetiu-se. Ao dar testemunho da sua experiência aos alunos, todos eles foram buscar amuletos e outros instrumentos de feitiçaria, seus livros de romances, músicas mundanas, cartazes de ídolos e fizeram um monte com eles no pátio da escola, o qual Saulo mandou tocar fogo.

Quando a polícia soube do que se havia passado, de imediato prenderam aquele que consideravam ser o líder dos ‘desacatos’. Levaram-no para a delegacia e interrogaram-no sobre os motivos daquele ‘grave incidente’. Mas, como o avivamento havia começado, ele não escondeu e ficou tudo esclarecido. O pastor ainda estava um pouco desconfiado e manteve-se um pouco crítico em relação a tudo aquilo que estava acontecendo. Contudo, nem era de esperar outra coisa do pastor devido ao fato de Saulo ser muito conhecido pelos seus atos de vandalismo.

 

O Primeiro Grupo

 

O dia em que nasceu o primeiro grupo foi em 26 de setembro de 1965. Saulo discursou nesse dia, tanto no culto da manhã como no culto da tarde na igreja e na presença do Pastor Joseph. Uma onda de arrependimento varreu toda a congregação. Ao apelo do jovem discípulo de Cristo, muitos vieram à frente e entregaram-se para o serviço de Cristo. E foi assim que o grupo 1 foi formado. Saulo escolheu vinte e três jovens nativos para trabalharem com ele.

Quando o grupo partiu, começaram a pregar por toda ilha. Onde quer que esses jovens discípulos passassem, muitas pessoas convertiam-se e algumas eram curadas. O Espírito Santo havia distribuído dons específicos a este grupo: pregar o evangelho, autoridade para curar e dom de profetizar.

Pastor Joseph relatou que numa certa cidade apenas, cerca de 700 pessoas haviam sido curadas de suas doenças através da oração e imposição das mãos. Aqui seguem-se alguns exemplos. Uma vez, encontraram um homem paralítico e após haverem-lhe mostrado o caminho para Cristo e ele ter confessado os seus pecados, oraram por ele e a cura foi instantânea. Durante um dos cultos, uma criança caiu de onde estava e ficou inconsciente. Saulo, o líder do grupo, foi chamado ao local. Após ter orado pela criança, ela recuperou a consciência logo ali. Mas, o próximo exemplo é ainda mais marcante.

O grupo havia pregado numa igreja das oito horas às quinze horas. Uma das características dos avivamentos, é as pessoas perderem a consciência do tempo quando se encontram sob a influência da palavra de Deus ministrada pelo Espírito Santo. Enquanto decorria o culto, um rapaz de nove anos de idade teve um colapso e caiu morto. A sua mãe correu para Saulo e contou-lhe o que se passou. “Nós precisamos terminar a reunião primeiro. Iremos orar por ele só depois do culto ter terminado”, disse Saulo. O rapaz havia morrido apenas duas horas após o início do culto e só cinco horas depois é que Saulo foi ver a criança. Ao chegar perto dele, começou a orar. Foi então que o Senhor lhe sussurrou audivelmente: “Sopra na boca da criança e no seu nariz colocando a tua mão sobre a sua testa”. Saulo obedeceu imediatamente. Após quinze minutos a crianças mexeu-se. Mas, não foi antes de um bom tempo ter passado que ele recuperou a consciência. Levando a criança com ele, Saulo apresentou-a à congregação e todos deram graças a Deus reverentemente e em temor. Como resultado daquele milagre, muitos ali presentes converteram-se.

Conheço muitos dos argumentos científicos que criam certas objeções nas mentes das pessoas. Uma das objeções que poderá ser colocada, era que o moço não estava realmente morto e apenas inconsciente ou paralisado. Mas, mesmo assim teria sido um caso de cura real.

Antes de eu ter testemunhado estas coisas com meus próprios olhos e ouvidos, também duvidava dos relatos que chegaram até mim, vindos da área do avivamento. Contudo, hoje não tenho qualquer dúvida sobre o que está acontecendo ali, pois eu pessoalmente conversei com todos os líderes, também com Saulo e muitos outros líderes de vários grupos que Deus estava usando. Era realmente o Senhor Jesus em pessoa que estava operando ali.

O aspecto mais importante do grupo 1, foi-me relatado pelo Pastor Joseph. Nas duas semanas que o grupo esteve trabalhando na cidade de N., cerca de nove mil pessoas haviam-se convertido. Isto são daqueles tipos de números que facilmente associamos aos atos dos apóstolos: três mil converteram-se no dia de Pentecostes, cinco mil uns dias depois. É encorajador saber que o poder do Espírito Santo não diminuiu nem se enfraqueceu desde que foi derramado em Pentecostes, 2000 anos atrás. Esse é um dos argumentos dos cristãos atuais, pois afirmam que aquilo não se repete. Temos de estar certos que, sob a luz que o Espírito Santo nos vem dando através do seu poder, que a sua vinda se aproxima muito rapidamente. Todas as conversões que acabamos de mencionar foram acompanhadas de uma poderosa limpeza das vidas, da qual dificilmente teremos palavras para descrever aqui. Amuletos eram queimados, bens roubados eram devolvidos aos seus donos com confissão, rixas antigas eram desenterradas e resolvidas também através de pedidos de perdão e muitos milhares de pessoas eram curadas.

Acontecimentos como estes deveriam levar os evangelistas atuais e os missionários espalhados pelo mundo a olharem muito bem para suas próprias vidas, examinando profundamente os seus corações e achando os motivos porque Deus não opera assim através deles. Caro colega, como é que seu ministério fica se o compararmos com obra deste pequeno grupo de pessoas sem qualquer formação?

O Senhor Jesus chamou-me e pegou em minha vida no ano 1930. No dia seguinte à minha conversão, saí evangelizando e contando aos meus amigos na escola tudo sobre a minha fé em Cristo. Como resultado, um bom número deles converteram-se. E, na realidade, foi ali que meu ministério de aconselhamento e intercessão começou. Hoje, contam-se 39 anos passados desde então. Olhando para trás e para os meus apontamentos, creio ter pregado em mais de 800 igrejas em mais de cem países em todo mundo. Devo ter aconselhado pessoalmente cerca de 20.000 pessoas. Mas, apesar disto tudo, nunca durante esses 39 anos de trabalho consegui trazer 9.000 pessoas a Deus. Contudo, esse número foi o resultado de duas semanas de trabalho do grupo 1. Certamente que isto é o cumprimento das seguintes palavras: “Os últimos serão os primeiros”. Quão insignificantes parecem ser os nossos labores evangelísticos quando colocados perante a luz de tudo aquilo que Deus está fazendo através de discípulos sem nome e desconhecidos na Indonésia hoje. Podemos assegurar que o Senhor não precisa de nenhum daqueles que, devido ao seu preconceito, imaginam ser algo. “Deus escolheu o que é desprezível para confundir o mundo”, 1 Cor.1:27. A auréola dos pregadores famosos não terá qualquer brilho quando colocados perante a grandeza de muitos dos homens santos anônimos que vemos aqui. Somente aqueles que seguram o seu próprio prestígio para que não cesse, falham discordando do fato de que as suas palavras de grandeza e de jactância, um dia serão varridas da presença santa do Espírito de Deus.

 

XV. O FOGO ESPALHA-SE AINDA MAIS

 

Nós ainda não falamos nada sobre os métodos usados pelos diferentes grupos da obra de evangelização. Por norma, limitam as suas missões a algumas semanas de cada vez. Após essas campanhas, todos os participantes dos grupos voltam às suas ocupações normais. A única exceção é o grupo 1, o qual manteve uma campanha durante vários meses.

Um dos problemas que normalmente colocados diante dos jovens, eram as aulas. Muitos deles deixavam a escola de lado por um tempo, voltando apenas após o término da sua missão. Os professores faziam certos exames especiais aos que faltavam para verificarem se poderiam continuar na mesma série depois do retorno. Mas, até nisto Deus estava com eles. Nenhum dos participantes do grupo reprovava. Isto, também, manifesta a maneira especial na qual o Senhor abençoava-os. Vamos, agora, acompanhar um dos grupos numa das suas viagens de campanha para melhor vermos o que o Senhor faz através e a favor deles. Os relatos que tenho foram fornecidos por várias fontes, incluindo muitas conversações individuais com os líderes dos grupos e com o Sr. Klein, um missionário da área. Por ordem de importância, chegaram até mim, também, relatórios do sínodo central da Igreja Presbiteriana em Timor. Também tenho em minha posse relatos fidedignos de David Simeon e de Pak Elias, os quais trabalharam intensamente nesta ilha. Os fatos diante de nós foram confirmados por muitas testemunhas fidedignas. É importante realçar isto porque, os eventos que vamos descrever aqui, são muito maravilhosos e muito pouco usuais em qualquer igreja ocidental e haverá sempre uma certa dificuldade em acreditar neles, mesmo pesando o fato de que nada disto seja diferente de tudo aquilo que vem relatado no livro de Atos dos Apóstolos no qual os crentes ocidentais dizem acreditar. Aqueles que realmente acreditam nas Escrituras não terão qualquer dificuldade em acreditar na verdade e na veracidade desses fatos que vamos aqui relatar resumidamente. Vamos, então, ver a obra dos vários grupos e ouvir o que o Senhor tem a dizer para nós através desses leigos missionários que Deus usa poderosamente.

 

O Grupo Um

 

A particularidade deste grupo existe no fato de que, durante as suas missões, algumas vezes eram vistas chamas de fogo descer sobre os locais e sobre as igrejas onde pregavam, como aconteceu com as línguas de fogo sobre os Apóstolos. Os testemunhos deste grupo resultaram sempre numa incomparável, tremenda e profunda limpeza de todas as congregações por onde passavam. Alcoólatras abandonavam o vício logo ali, gatunos devolviam os bens roubados que ainda possuíam e os feiticeiros traziam seus pecados e amuletos para os confessarem e queimarem publicamente.

Este grupo operava inicialmente entre uma tribo católica da ilha e muitos dos nativos foram verdadeiramente convertidos a Cristo. Foi então que surgiu a pergunta pela primeira vez se esse grupo deveria passar a fronteira para o lado português da ilha e evangelizar os nativos que pertenciam à Timor portuguesa. Os nativos de ambos os lados da fronteira falam o mesmo idioma, mas pertenciam a países diferentes. O que deveriam fazer os cristãos?

Antes das suas conversões, os nativos ocidentais da ilha cruzavam a fronteira para roubarem gado. Quando o avivamento chegou ali, no entanto, deixou de haver roubos de vacas. Ao invés disso, começaram a cruzar a fronteira para “roubarem” almas para Cristo. Um Cristão que viva pela letra da regra pode argumentar e dizer: “Isto não está de acordo com as Escrituras. Necessitamos respeitar e reconhecer os limites das nações e as fronteiras”. A eles eu pergunto: “Quem é que decidiu onde essas linhas de fronteira iriam cair? Não foi através de decisões arbitrárias dos poderes colonialistas cujo único objetivo era possuírem a maior quantidade de terra possível? Que tipo crime seria os nativos cruzarem a fronteira para conquistarem almas para Cristo?”

Outra objeção seria: “Mas porque razão os grupos não tentavam adquirir vistos legalmente e cumprirem todos os procedimentos legais para entrarem em Timor oriental”? A resposta é a seguinte: “Caso seguissem as vias humanamente legais para fazerem o trabalho de Deus, nunca conseguiriam fazer a obra que fizeram porque as autoridades legais do outro lado da ilha eram ferozmente católicas. Na verdade, são católicos tão ferrenhos que chegaram relatórios até nós de missionários protestantes assassinados naquela área”. Um missionário protestante que fortuitamente conseguiu um visto de entrada, foi generosamente pedido para abandonar o país num avião oferecido pela própria Igreja Católica desde que saísse imediatamente. Seria esperar muito que as autoridades ecumênicas permitissem a evangelização de Timor Oriental.

Eu não posso acreditar que Deus, algum dia, irá culpar qualquer um destes missionários nativos pelo fato de terem cruzado uma fronteira sem visto, levados pelo seu zelo e amor abnegado por Cristo e pelas almas por quem Ele morreu. Não podemos esquecer que todos os católicos na parte oriental da ilha não são em nada piores ou melhores que os protestantes da parte ocidental antes do avivamento. Ambos negavam Cristo. O coração do homem é igual em todo lado, fosse a doutrina católica ou protestante que tivesse tomado posse desses respectivos corações. Fosse qual fosse a bandeira ou estandarte, o coração era dominado pelo pecado.

 

As Provisões dos Grupos

 

Ninguém consegue olhar para o nascimento e o desenvolvimento dos grupos sem ficar maravilhado. Praticam literalmente aquilo que Jesus disse em Luc.10:4 – “Não leveis bolsa, nem alforje, nem alparcas pelo caminho” . Os grupos saiam ou sem provisões ou, então, com apenas o necessário para as primeiras horas de cada viagem. Quem providencia as suas necessidades? Será nos esquecemos facilmente da experiência e da contabilidade matemática do irmão Dan?

Uma vez, o Senhor havia escolhido dois casais para trabalharem para ele. O esposo do primeiro casal perguntou: “Senhor quem é que providenciará para nós?” Como resposta o Senhor retorquiu: “A tua esposa precisa jejuar quatorze dias de um modo que eu mostrarei a ela pessoalmente”. A esposa foi obediente e começou o jejum. Após os primeiros sete dias foi lhe dito: “Toma um coco e uma banana. Bebe somente metade da água do coco e come metade da banana. Coloca a outra metade da banana e o resto da água do coco de lado para mais tarde”. Ela tornou a obedecer. Depois de terem passado os quatorze dias, o Senhor tornou a dizer-lhe: “Vai ver o que se passa com a água de coco e com a banana e verifica se ainda estão frescos”. Para admiração deles, acharam tanto a banana como a água de coco em estado fresco. Haviam estado ali sete dias. Nos trópicos, qualquer tipo de fruta estraga-se em menos de um dia quando descascados.

Quanto à mulher em questão, apesar de ter jejuado catorze dias, não sentia qualquer tipo de exaustão se quer. Através deste sinal o Senhor tornou claro para esse casal que ele os manteria vivos de qualquer jeito e com qualquer porção de comida, fosse ela muita ou pouca. Os dois casais uniram-se e formaram o grupo três. Foi assim que partiram para uma missão específica de evangelização.

As experiências do grupo trinta e um também ilustram de forma prática e o jeito que Deus providencialmente atendia às questões e provisões diárias. Uma vez, quando este grupo se encontrava a trabalhar numa certa vila e quando estavam para irem embora, foram-lhes dadas 9 bananas para o caminho. No entanto, o grupo tinha 15 membros. Mais tarde quando pararam para distribuírem as bananas entre si, cada um recebeu uma. Eu percebo que, para um teólogo racionalista, isto seja demais e uma história como esta torna-se (para ele) impossível de acreditar. Mas, bastará tão só pensarmos no que lemos no novo testamento, onde cinco pães e dois peixes chegaram para satisfazer as necessidades de mais de 5.000 pessoas (Mt. 14:19). É o mesmo Deus quem providenciou as necessidades dos seus filhos. Ele ainda é o mesmo hoje e existe verdadeiramente.

Este grupo experimentou e viveu um milagre semelhante numa outra das suas missões. Ficaram numa casa dum casal que tinha um filho às portas da morte. Quando o pai se arrependeu de seus pecados e acabou de confessá-los, a criança foi instantaneamente curada. Mas, antes do grupo partir, a família em questão implorou-lhes que ficassem para uma refeição composta de arroz e carne. Na verdade, teriam muita dificuldade em providenciar comida quanto bastasse para satisfazer os estômagos de 20 pessoas. O grupo havia, entretanto, crescido porque alguns presbíteros das igrejas locais haviam-se juntado a eles. Contudo, o Senhor não deixou de contemplar esta família. Deus falou aos membros do grupo para que se servissem apenas com duas colheres de arroz cada um e dois pedacinhos de carne. Conforme o arroz ia sendo servido, todos ali presente viram uma mão aparecendo sobre a comida abençoando-a e todos saíram dali de barriga cheia.

Um outro nativo, Barnabé, também experimentou algo muito semelhante. Ele tem trinta e dois anos de idade e é o líder do grupo quatro, o qual é composto por cinco outros colaboradores. No dia 10 de fevereiro de 1968, o Senhor mandou-o ir a uma vila que ficava a cerca de 75 Km de Soe. Ele deveria pregar o evangelho lá. O Senhor disse-lhe: “Não leves nenhuma comida contigo e nem água. Não descanses até haveres chegado à vila”. Sem dúvida que isso seria um enorme teste para ele, pois não podemos esquecer que Timor é uma ilha nos trópicos; e 75 Km é muito mais do que aquilo que alguém possa caminhar em apenas um dia. No entanto, Barnabé foi obediente e partiu logo de imediato. Mais tarde, quando começou a ser vencido pela fome e sede, ele implorou ao Senhor que lhe desse qualquer coisa para se refrescar. Naquele mesmo instante uma brisa fresca soprou e um tamarindo desprendeu-se em direção a ele. Ele apanhou-o no ar. Contudo, em vez de comê-lo logo, perguntou ao Senhor: “Senhor Jesus, esta fruta é para mim ou é para eu dar a alguém na vila para onde vou?” Jesus respondeu: “É para ti”. Após ter dado graças Barnabé comeu a fruta. Era muito doce e muito suculenta e tanto a sua fome como a sua sede não voltaram até ter chegado ao seu destino.

Esta história também pode manifestar-nos que o mesmo Deus que providenciava o maná no deserto onde não havia nada, aquele Deus que mandava os corvos providenciar carne para Elias, ainda está vivo hoje. Essas experiências maravilhosas não podem, contudo, colocar-nos na senda de buscarmos que milagres sejam feitos. A coisa mais importante que nos pode acontecer, não são os milagres que aqui são relatados, mas é antes a vida salvadora de Cristo que nos tira da morte e nos faz viver para Ele. O nosso desejo não deve ser aguçado através desses milagres para não causar sensacionalismos de qualquer espécie. Devemos, apenas, esforçar-nos para obter um conhecimento real e completo de Cristo e uma experiência adequada e pessoal com o próprio Senhor Jesus Cristo. Esses milagres das provisões que o Senhor concedeu, servem apenas para ilustrar e demonstrar que o Senhor, de fato, aceita a responsabilidade de cuidar daqueles que Ele mesmo envia para saírem e pregarem o evangelho por todo mundo. (*Nota do tradutor: Note-se que, todos os milagres eram de autoria de Deus e nenhuma das pessoas buscou antecipadamente nada do que se fez). A verdade seja dita: o número de seguidores que levam o evangelho sobre os seus ombros e os seus corações, tornou-se muito grande. No primeiro ano apenas, 72 destes grupos saíram cada um para o seu lado. Como cada grupo consiste de 4 a 28 membros, isto significa que cerca de 1.000 mensageiros do evangelho trabalham incessantemente nesta ilha. Todos eles viajam sem bolsa, sem provisões, sem segurança e ainda sem lugar para dormir. Não faziam planos antes de partirem, não perguntavam como seriam abastecidos, baseando a sua confiança integralmente nas promessas e nas diretivas antecipadas do Senhor. Não é isto um testemunho tremendo para todos nós? Não será isto, também, um desafio para a aquelas igrejas que se dizem vivas deixarem de pretender e simular a realidade de Deus? Precisam fingir? Não será este um exemplo a seguir para a igreja moribunda do mundo ocidental, a qual tem muito pouco de semelhante com os irmãos nativos e sem formação da Indonésia?

 

Os Cegos Vêem

 

Em Mateus 11 lemos a história de onde João Batista enviou seus discípulos para Lhe perguntar se seria Ele aquele que deveria vir. Jesus respondendo disse: “Os cegos vêem, paralíticos andam, os leprosos são limpos, os surdos ouvem, mortos são ressuscitados e aos pobres é pregado o evangelho do Reino”.

Durante o tempo de vida de Jesus aqui na terra, o mundo experimentou o maior avivamento de sempre até aquele momento. Contudo, sempre que a igreja experimentou um avivamento através dos séculos, a sua história reflete apenas os eventos relatados nos Evangelhos e no de Atos dos Apóstolos. Aquilo que está acontecendo na Indonésia atualmente é uma repetição dos Atos dos Apóstolos. Mas, qualquer um que tenha tempo e disponibilidade para comparar um avivamento com o outro sobriamente, concluirá, com muita alegria, que este avivamento atual na Indonésia é o mais parecido que existe com aquele que houve na era inicial do Novo Testamento. Provavelmente, não deve haver outro avivamento na história da igreja que mais se assemelhe ao livro de Atos dos Apóstolos.

Vamos ouvir falar um pouco sobre o trabalho dos grupos a esse respeito também. As experiências do Grupo 48 são-me particularmente impressionantes. Impressionam qualquer um. O seu jovem líder de 25 anos é uma moça que não saber ler nem escrever. Chama-se Anna. Seus pais já faleceram e tanto ela como seus quatro irmãos e irmãs participam ativamente na propagação do Evangelho puro.

O Senhor chamou Anna através das palavras de Mt. 10. Ela não conseguia ler e pediu a alguém que as lesse para ela. Anna é, espiritualmente falando, um dos mensageiros com maior autoridade dentro deste avivamento. Os primeiros dons que recebeu do Senhor foram as letras de quatro hinos que ela aprendeu avidamente, memorizando-os. Sempre que cantava aquelas mensagens em hino, todos aqueles que escutavam, convertiam-se.

Ela é um excelente exemplo de um missionário “caseiro” que anda de casa em casa. Todas as pessoas trazem os seus amuletos e instrumentos de sorte e de feitiçaria para serem destruídos. Ganhou do Senhor, também, um dom especial de profecia o qual revela o pecado das pessoas mesmo a frente delas.

Um dia, entrou numa casa e encontrou ali uma senhora cega. Após haver-lhe mostrado o caminho para Cristo, o Senhor incumbiu-a de lhe derramar água sobre os olhos para que fosse curada. Ela foi curada instantaneamente. Encorajada através desse sucesso inicial, Anna perguntava ao Senhor sempre que encontrava um cego se podia curá-lo. Pedia poder para fazê-lo. Como resultado desta oração, ela conseguiu orar por várias pessoas e dez delas recuperaram a sua visão. Mas, a cura só se dava quando as pessoas houvessem confessado e deixado todos os seus pecados, um por um. São acontecimentos como estes que distinguem o avivamento daquele movimento de cura que precedeu esta grande obra do Senhor. Em cada caso de cura, era uma obrigatoriedade a salvação da pessoa em questão e a confissão minuciosa de todos os pecados, antes de tudo. A condição espiritual de cada alma tinha a ênfase correta acima da cura física. Foi dessa maneira peculiar que o Senhor Jesus foi glorificado aos olhos de todos que eram curados e de todos aqueles que os conheciam. Esta é uma das razões principais porque este avivamento ainda se mantém florescendo e intacto. Por isso, também, é uma fonte de visão espiritual muito pura e que está de acordo com as Escrituras. Isto é o que Jesus diz ser “crer como as escrituras dizem”, João.7:38.

Uma vez, Anna conheceu uma pessoa surda. O Senhor disse-lhe: “Coloca os teus dedos nos seus ouvidos e implora por ele”. Ela obedeceu e o homem ficou curado ali mesmo.

Em outras ocasiões, orou por mortos e eles ressuscitaram. Mas, necessitamos realçar que ela nunca o fez sem o Senhor a ter ordenado antecipadamente que o fizesse. Nunca tomou a responsabilidade sobre ela própria de tomar tais decisões arbitrariamente. Uma vez, foi guiada, também, para uma criança de dois anos de idade que havia falecido. Após oração, a criança ressuscitou tal e qual a filha de Jairo muitos anos atrás.

A vida particular de Anna e, consequentemente, o seu ministério são exemplos muito vivos e encorajadores de como uma vida deve e pode ser direcionada apenas pelo Senhor. Ela só vai para lugares onde o Senhor a tenha enviado. Levando em conta que ela é uma pessoa analfabeta, podemos achar que algumas das tarefas que o Senhor lhe dá não são fáceis de cumprir. Ela foi incumbida de visitar escolas, representantes do governo e também de ir falar a pastores sobre os pecados deles. Onde quer que ela vá, o Senhor tem sempre preparado um lugar para ela pousar. Recusa dormir num colchão e não usa travesseiro, preferindo dormir no chão. Cada noite, o Senhor dá-lhe todas as tarefas do dia seguinte. Ela vive um dia de cada vez. Em 1967, o Senhor deu-lhe o nome de um missionário que iria visitar a sua ilha. No dia que esse missionário chegou, ele ficou perplexo quando Anna o cumprimentou chamando-o pelo seu nome.

Uma das tarefas mais difíceis que o Senhor lhe deu para fazer, foi no dia 10 de fevereiro de 1968. O Senhor disse-lhe: “Vai aos escritórios do governo e dá testemunho de Mim lá”. Ela foi obediente. Todos os governantes da área ouviram a mensagem da visitante analfabeta e 20 homens converteram-se.

Mais ou menos por esta altura, foi mandada por Deus para ir visitar um ministro do evangelho cujos filhos estavam sempre adoecendo. Numa visão antes da sua visita, ela viu uma espada de dois gumes. Chegando ao local, viu a mesma espada pendurada na casa do ministro. Encontrava-se ali desde o tempo dos holandeses e tinha uma história de feitiçaria e ocultismo por trás dela. Ela disse ao pastor que a espada precisava ser destruída imediatamente. Após a sua destruição, as crianças ficaram permanentemente curadas.

Anna não é a única pessoa a ser usada pelo Senhor deste jeito. Muitos dos membros de todos os grupos têm experiências semelhantes e similares em sua obra de evangelização. Podemos ilustrar este fato com apenas dois exemplos os quais estão bem comprovados, devido ao fato de muitos pastores terem estado presentes em ambas as ocasiões. A primeira ocorrência foi escrita por um pastor que está ativamente envolvido na obra do Senhor.

Num dos cultos de Timor e no qual estavam três pastores, um dos quais era uma mulher e outro era o presidente do sínodo presbiteriano, um homem de 58 anos de idade foi instantaneamente curado através de oração. O cego em questão ficou apavorado quando descobriu que conseguia ver. Ele não sabia como reagir ao que lhe estava acontecendo. Foi preciso que um dos presbíteros da igreja lhe desse ordens específicas para que soubesse o que fazer. Não sabia como adaptar-se à visão. Joga fora a tua vara e anda até aqui sem ela. O homem obedeceu e a pastora ali presente, olhando para aquilo tudo, começou a duvidar de toda aquela ocorrência. “O homem está mentindo. Ele nunca foi cego.” Naquele mesmo momento, a mão pesada do Senhor caiu sobre ela e tão rápido quanto foi a cura do homem, foi a cegueira dela. Ela ficou cega diante das pessoas. Existe uma história que tem algo semelhante a esta em Atos 13:11 onde o Elimas, o feiticeiro, ficou cego por se opor a Paulo.

No avivamento na Indonésia encontramos muitos acontecimentos com semelhanças no Velho e Novo Testamento. Assim que o moderador do sínodo da igreja ouviu falar da cegueira da pastora, ele perguntou: “Quem foi o responsável por aquilo que lhe aconteceu”? Ninguém conseguiu responde-lhe. Na verdade, o Senhor era o responsável por aquele ato. Durante três dias, a senhora permaneceu cega devido àquela atitude crítica em seu coração e da qual ninguém sabia. Durante esses três dias, muitos crentes reuniam-se para orar por ela sem qualquer êxito. Mas, após três dias haverem passado, ela confessou o seu pecado abertamente e todos ficaram a saber porque ficou cega. Assim que se arrependeu, recuperou a visão.

Vamos terminar com mais um caso, no qual uma pessoa foi curada de cegueira. O homem em questão tinha 46 anos de idade e era cego de nascença, ou pelo menos desde sua infância. Doenças deste tipo são muito vulgares na China e outros países asiáticos. Após um dos membros do grupo ter-lhe mostrado o caminho para Cristo, seguindo os mesmos critérios de confissão de pecado, orou por ele impondo-lhe as mãos. Com esse ato, as pálpebras do homem abriram-se de repente e derramaram um pouco de sangue. Logo após isso, o homem conseguia ver. Mas, ficou bastante confuso com tudo à sua volta, pois ele não tinha qualquer lembrança de ter visto alguma coisa em toda a sua vida. Uma vez mais, realço aqui que esta história foi-me narrada e confirmada por um pastor presente quando tudo aconteceu e o qual me garantiu ser um caso verdadeiro.

Devido ao fato de nos esquecermos facilmente de certas coisas, vou aqui lembrar a todos uma coisa muito importante: se Jesus consegue abrir os olhos espirituais de alguém, cujo feito é de tanto maior importância e de maior dificuldade de ser operado, não nos podemos admirar de que Ele consiga curar alguém com uma doença meramente física – mesmo que seja cegueira. Nunca devemos retirar a ênfase que as Escrituras dão sobre a verdade e sobre Cristo, para colocá-la em ocorrências maravilhosas como esta que se estão passando na Indonésia atualmente. Jesus é muito maior e muito mais importante que todos os milagres em conjunto que foram feitos e que ainda poderão ser feitos em Seu nome. Contudo, podemos regozijar-nos um pouco com esta forma que Deus escolheu para se glorificar.

 

Os Mortos são Ressuscitados

 

Nós já falamos aqui de um caso onde uma pessoa foi ressuscitada da morte através do ministério do grupo 1. Existe um grupo em particular, no entanto, que se destaca através das experiências desta natureza. A líder deste grupo é conhecida como a mamãe Sharon.

Tal como Anna, ela não sabia ler nem escrever. Um dia, o Senhor apareceu-lhe vestido numa túnica branca e resplandecente e comunicou-lhe: “Chamei-te para ires pregar o evangelho”. Eu estou imaginando as objeções nas cabeças dos teólogos contra este curso de acontecimentos. Consigo vê-los perguntar: “Por que razões necessitam de visões como estas? A nossa fé não deve estar baseada só na Palavra de Deus?” Eu concordo que devemos depender somente da palavra de Deus e até poderia concordar que um soberano Deus seguisse os conselhos de um teólogo. Mas, deixem-me perguntar: como é que o Senhor se revela através Escrituras a uma pessoa que não sabe ler e nem sabe se a Bíblia esta para baixo ou para cima? É de esperar que, em situações dessas e em casos específicos como este, os meios que Deus usa, sejam os mais adequados para tal pessoa mesmo sendo invulgares para nós. E para além do mais, desde quando é que Deus precisa de autorização e da concordância dos teólogos para se manifestar pessoalmente a alguém e transmitir-lhe a Sua vontade? Se Deus fosse obrigado a pedir a concordância dos líderes do cristianismo atual, tenho a certeza que a desgraça deste mundo seria ainda mais evidente do que aquilo que já é. Quando o Senhor se manifestou a esta mulher analfabeta, ela respondeu quase como respondeu Jeremias: “Senhor eu não sei pregar não tenho qualquer educação ou formação. Nunca entendi a Bíblia”. Contudo, o Senhor superou todas as suas objeções. Após ter formado um grupo com mais três pessoas, ela saiu para dar testemunho da palavra de Deus e pelo caminho aproveitava para orar pelos doentes também. Os frutos do seu trabalho eram visíveis e marcantes. Um grande número de pessoas chegou a ser ressuscitado dos mortos através do seu ministério.

Num dos primeiros casos, o qual foi investigado e confirmado por Pak Elias no local onde ocorreu, conversou com a própria mãe cuja criança fora trazida de volta à vida. A criança havia morrido seis horas antes de mamãe Sharon ter chegado ao local. Após alguém ter lido uma porção das Escrituras, mamãe Sharon orou pela criança e, assim que abriu os olhos depois da oração, a vida da criança foi-lhe restituída.

Uma outra ocorrência foi confirmada no terreno pelo missionário Sr. Klein. Uma criança havia estado morta durante dois dias. As formigas já andavam pelo lado de dentro das suas órbitas e do seu corpo estava apodrecendo. Contudo, os pais recusaram-se a enterrar a criança no primeiro dia, conforme é hábito nas regiões tropicais, Não enterram porque resolveram chamar mamãe Sharon. Ela só chegou ao local dois dias depois. Em breves momentos, a vida da criança foi restituída.

Fomos colocados diante de testemunhos de três grupos diferentes. O primeiro grupo experimentou milagres de mortos serem ressuscitados na cidade de N. os outros dois grupos experimentaram os milagres concluídos por duas mulheres analfabetas, Anna e mamãe Sharon.

Para uma quarta testemunha dos mortos serem ressuscitados, podemos voltar-nos para um pastor evangélico, o qual também é um filho de Timor. Ele relatou-me a história de duas pessoas que viviam numa ilha vizinha, os quais após terem morrido, foram levados para o hospital local onde haviam sido pacientes anteriormente. Após oração ambos voltaram a viver.

É essencial e importante frisar aqui que a ressurreição espiritual de alguém significa muito mais para essa pessoa do que milhares de milagres que possam vir a ocorrer durante a sua vida inteira. É seguramente mais importante que ressurgir dos mortos. Em Luc.15:24, lemos assim: “Este é o meu filho que estava morto e reviveu”. A conversão espiritual e o renascimento interior de qualquer pessoa têm uma maior importância para ela do que uma ressurreição física. Devemos lembrar sempre este fato, para que não resulte que as obras que Deus faz, não sejam achadas a operar contra Ele e que os milagres conseguidos numa área de avivamento não cheguem a perturbar minimamente o nosso crescimento espiritual, mas preferencialmente encorajá-lo. De outro modo, estaremos trilhando os falsos caminhos da aparência religiosa.

 

XVI. MILAGRES

 

Os milagres não são as finalidades do que fazemos. Eles podem ser o meio. Servem apenas como placas de sinalização apontando para o Messias que os executa. Nunca os milagres foram a coisa mais importante e o objetivo a alcançar. São objetos de importância secundária. Existem, também, para confirmarem a palavra de Deus em algumas circunstâncias. No fim do evangelho de Marcos lemos assim: “O Senhor operou através deles confirmando a sua mensagem através de sinais que os acompanhavam”. A pregação do evangelho é de importância vital. Qualquer um que tenha intenção de construir sua vida evangélica sobre milagres de qualquer natureza, tornar-se-á uma presa fácil do extremismo e será guiado para um deserto sequíssimo a sua alma e para uma pobreza interior sem precedentes. A palavra do Senhor é o fundamento do nosso pão diário. Milagres não são o nosso pão diário, são a exceção: são sinais colocados ocasionalmente no nosso caminho. Durante épocas de avivamento, toda a questão e a doutrina relacionada com todas as formas de milagres tornam-se, no entanto, tema de grandes pesquisas e discussões porque impressionam o povo. No caso da Indonésia, não houve exceção, pois, ali aconteceram coisas maravilhosas e invulgares. Contudo, cada milagre que ali ocorreu, tem fundamento bíblico e podemos achar uma semelhança para todos eles nas páginas da Bíblia.

Ester é líder do Grupo 17. Este grupo tem 15 membros, incluindo Ester. Um dia, o Senhor falou-lhe: “Vai para Rote”. Ela alugou um barco de imediato, o qual pertencia a um muçulmano. A caminho de Rote, uma forte tempestade surgiu no mar. O muçulmano, desesperado, disse-lhes: “Se o vosso Deus ouvir as vossas orações e acalmar o mar, eu entregarei a minha vida a Ele”. O grupo ajoelhou-se, orando e, escassos minutos depois, o mar estava tão calmo que nem uma brisa soprava. O muçulmano converteu-se logo ali. Mais tarde, mudou o nome do seu barco para ‘Nova Vida´. Para Deus, qualquer coisa é possível. O mesmo Jesus que acalmou o mar da Galiléia (Mt. 14), ainda vive hoje – do mesmo jeito.

O Grupo 49 operava entre uma tribo de adoradores do sol. Ao estarem fazendo um culto num dos edifícios, a chuva começou a cair torrencialmente. De repente, aquela chuva torrencial parou e sol começou a brilhar muito forte. Naquele preciso momento, todo o grupo viu Jesus nos céus colocando-se acima do sol. Todos correram para fora para ver aquela visão. Usando a oportunidade que surgiu com a visão como parábola, a qual foi testemunhada por muitas pessoas em plena luz do dia, começaram a pregar: “O Senhor Jesus é maior que o sol, pois foi Ele quem criou o sol com as suas próprias mãos. Precisam adorar o Criador e não aquilo que Ele criou”. Como resultado desta pregação, cerca de 20 adoradores de sol converteram-se a Jesus. Quando o acontecido foi relatado numa vila vizinha, nesse mesmo instante, várias pessoas enfermas ficaram instantaneamente curadas. Não nos devemos lembrar, aqui, daquela visão de Apoc.1, onde Jesus apareceu a João e está escrito “A sua face brilhava como o sol na sua força”?

O Senhor, não apenas fornece as provisões dos mensageiros que envia, mas também lhes faz companhia na viagem. O Grupo 31, o qual era liderado pelo Pastor Gideão, quase sempre viaja a pé durante a noite. Pela altura da lua nova, as noites nos trópicos podem tornar-se assustadoramente escuras. Devido a esse fato, o Senhor ocasionalmente ia adiante deles em forma de luz, tal e qual ele fazia quando acompanhava os filhos de Israel pelo deserto. Também, quando chovia, o grupo não se molhava. A chuva caia dum lado e do outro do caminho, mas, nem uma gota caía no caminho onde eles passavam. Eu já ouvi falar de experiências semelhantes em outros campos missionários. No meu livro ‘Nome acima de todos os nomes’, existe um relato de uma ocorrência similar, a qual envolveu um cristão esquimó, Hester Egak.

O Grupo 47, também experimentou essa luz-maravilha em várias ocasiões. Uma noite, foi-lhes dito para irem a uma cidade de nome N. De início, tentaram alugar um carro, mas, o dono do carro que era mulçumano, não quis alugar o seu veículo a eles depois de descobrir quem eram. Decidiram ir a pé, sendo obedientes ao Senhor de qualquer jeito. Quando já iam a caminho, de repente, o Senhor disse-lhes para pararem e orarem. Eles obedeceram instantaneamente. Logo de seguida, aproximou-se um carro que estava indo na mesma direção que eles e conseguiram alcançar a vila seguinte. Nessa noite, o diretor da escola providenciou-lhes onde dormirem. Era um quarto muito escuro e sem luz. Mas, apesar disso, o quarto estava sendo iluminado misteriosamente pelo Senhor Jesus de forma sobrenatural. No dia seguinte, continuaram a sua viagem. Na vila seguinte não havia qualquer iluminação dentro da igreja. Também desta vez, o Senhor iluminou toda a igreja para eles.

Nós temos aqui um milagre parecido com aquele descrito em At. 12, onde a cela em que Pedro se encontrava foi miraculosamente iluminada pela aparição de um anjo. Também, em Ap. 22, lemos assim: “Não existirá mais noite; não precisaram mais da luz do sol porque o Senhor seu Deus será a sua luz eternamente”.

Esses sinais envolvendo luz, são simples demonstrações da presença do Senhor e do fato de Ele ser a nossa luz. Também dão-nos uma pequena prova de como Ele, um dia, será a nossa luz eternamente. Todos aqueles que se familiarizaram com o reino de Deus, nunca acharão que um destes milagres seja algo fora do comum ou que se refiram a eles como sinais ou milagres. São coisas simplesmente naturais em Deus e não têm nada de absurdo nelas. Nós, simplesmente, concluímos através destes fatos, que o Criador usa a sua criação para servir os seus propósitos. O universo contém nele mesmo, muitas mais possibilidades de uso do que aquelas que possamos imaginar. É um fato que a era de investigação nuclear vem fazendo novas descobertas a cada dia que passa. Contudo, qualquer cientista está capacitado a descobrir somente o que já existe e foi implantado dentro da criação de Deus.

Alguns dos milagres desse avivamento na Indonésia podem, de início, parecer-nos um pouco estranhos e extravagantes. Mas, mesmo assim, não acho que sejam assim tão pouco familiares para mim. Muitas vezes, perguntei-me a mim mesmo acerca de certos fenômenos que ocorrem sob a tutela do ocultismo e da feitiçaria e qual seriam as sua contra-semelhanças bíblicas, porque, na verdade, muitos milagres satânicos são imitações dos milagres de Deus. Foi o que aconteceu com Jambres e Janes no Egito, quando imitaram Moisés. No Japão, por exemplo, existem um sacerdotes Shinto que praticam a levitação. Eles são capazes de desaparecer do topo de uma montanha e aparecer dez minutos depois noutra montanha acerca de 22 Km dali. Foram-me narrados, muitas vezes, os incríveis feitos dos aborígines na Austrália. Contam acerca deles, por exemplo, que certos membros de determinadas tribos são capazes de correr de uma costa da Austrália até a outra em quatro dias. Humanamente falando, isto é uma coisa impossível de se realizar, porque teriam de andar cerca de novecentos quilômetros por dia. Entre os tibetanos e alguns povos do Haiti, ouve-se falar dos fenômenos que se chamam ‘Navegando no Vento’. Isto é uma forma de feitiçaria que capacita certas pessoas com poderes ocultos a viajarem distâncias muito longas num curto espaço de tempo. Mas, todas essas coisas não deixam de ser realizadas através de poderes satânicos. Os poderes que as envolvem são fatais para a alma humana.

Estes tipos de fenômenos têm paralelo nas Escrituras e, na verdade, lemos de alguns acontecimentos na Bíblia com efeitos parecidos, os quais se acham numa dimensão completamente oposta e abençoada. Como exemplo, Enoque foi transladado e Elias foi levado para o céu num redemoinho. Em Atos dos Apóstolos lemos que Felipe foi transportado pelo Espírito de Deus e, também lemos no Novo Testamento, sobre a ascensão de Jesus no Monte das Oliveiras. Em cada caso específico, podemos encontrar um exemplo parecido de como Deus venceu tanto a gravidade como a distância através do Seu poder.

Vamos agora abandonar esta longa introdução para nos virarmos para um milagre que foi experimentado pelo Grupo 47. O grupo foi mandado por Deus para irem pregar o evangelho numa certa vila que estava a cerca de 48 horas de viagem dali. Partindo a pé, acabaram por chegar ao local em apenas 4 horas. Quando chegaram lá, encontraram os nativos todos reunidos lotando a igreja. Passaram a descrever de como ouviram um som de trombeta vindo das montanhas convocando-os para se reunirem e a população pensava que era alguém do Grupo 47 avisando-os da sua chegada. Contudo, nenhum membro do grupo possuía trombeta. Havia cerca de 50 pessoas enfermas dentro da igreja e todos eles ficaram curados, incluindo três pessoas que eram surdos de nascença. Após as suas línguas se soltaram, começaram a produzir sons audíveis.

Com o intuito de colocar mais um pedaço de lenha na fogueira das dúvidas das pessoas que acham que estamos exagerando com estes relatos, iremos mencionar um último exemplo. A pessoa que me trouxe a história foi Nathan, um governante do distrital que já havia sido líder dum grupo. Nathan descreveu-me que o grupo sob a liderança de Ruth, foi ameaçado de morte por um grupo de soldados. Algum povo pagão incitou os soldados contra o grupo. Certa noite, o cabo do exército estava reunido com seus soldados, arquitetando e discutindo um plano para impedir a obra dos cristãos. Enquanto estavam discutindo os seus planos, o grupo visado reunia-se em oração noutro local. Conforme estavam orando, algo inesperado aconteceu com Ruth. Ela achou-se momentaneamente entre os soldados ouvindo todos os detalhes do plano que discutiam contra o grupo que ela liderava. Contudo, os soldados não conseguiam vê-la. Quando Ruth se achou de volta entre os Cristãos, relatou-lhes o que ouviu e todo grupo começou a orar instantaneamente para que os soldados ficassem com muito sono e se sentissem cansados ao ponto de abandonarem a execução daquilo que planejavam. E aquilo que pediram aconteceu da forma que eles pediram. Os soldados foram vencidos por uma grande vontade de dormir e acabaram deixando de lado os planos e foram antes para casa dormir.

A questão que aqui se coloca é como devemos olhar para este tipo de experiência a luz das Escrituras. Primeiramente temos a história dos anjos de Deus que abriram portas de prisões em duas ocasiões: At. 5:19 e 12:78. Também temos a narração de Paulo e de como ele foi levado para os céus em II Co 2:1-4. Será que, a nosso ver, Deus perdeu o jeito de fazer estes milagres atualmente? Será que agora somos somente enteados e já não somos filhos? Não será verdade ainda que Jesus é o mesmo hoje, ontem e eternamente?

Nós não necessitamos de milagres como estes para sermos salvos. Contudo, se Deus escolher esta maneira de operar dentro de um avivamento extraordinário, como é o da Indonésia, não temos qualquer direito de nos tornarmos ditadores de Deus ou de duvidarmos de casos reais. Em todo caso, a única origem das dúvidas é a confiança que temos no nosso próprio entendimento, no qual nos apoiamos facilmente. Confiamos mais em nós próprios do que num Deus vivo todo poderoso. Será que já nos esquecemos de como é viver dentro do mundo da Bíblia? Se for esse o caso, nem será estranho que estas coisas nos pareçam inacreditáveis. Um dia, quando Deus nos julgar, esses nativos analfabetos de Timor irão assentar-se na cadeira do tribunal julgando o orgulho com o qual cobrimos a nossa inteligência e formação.

O nosso intelecto ainda será desafiado com mais relatos que se seguem neste livro. Os cultos de santa-ceia numa área de avivamento são muito participados. A natureza da fome pela Palavra e a natureza dos acontecimentos provoca uma grande participação de todas as pessoas. Conforme já mencionamos anteriormente, em alguns lugares, cerca de 9.000 nativos foram convertidos em apenas duas semanas. Seria de esperar que estes recém nascidos em Cristo desejem ardentemente participar da ceia do Senhor. Contudo, para eles não é só uma questão de festa ou de comemoração, mas trata-se antes de uma comunhão, intensa e real, com o próprio Senhor Jesus. Por isso, torna-se um evento de enormes expectativas e de grande participação. Qualquer pessoa perguntaria logo: “De onde virá o vinho para tanta gente”? Este povo, que já experimentou da ajuda do Senhor de variadíssimas formas e em muitas ocasiões, tornaram isto um assunto de oração. Um tempo mais tarde, o Senhor falou com eles diretamente: “Encham alguns recipientes com água duma nascente”. Foram imediatamente buscar essa água numa nascente e oraram durante algumas horas. Quando chegou a hora da celebração da ceia, toda a igreja tomou da água que foi transformada em vinho. Por ocasião deste milagre, já havia acontecido três vezes.

Nós temos aqui uma repetição do milagre sobre o qual lemos em João. 2. A questão coloca-se, novamente, se iremos construir uma teologia baseada em milagres ou no intelecto. Qual das duas é a pior? Temos que decidir se vamos colocar a nossa confiança só em Deus e fazer aquilo que Ele quer quando quer, ou se vamos depender das nossas capacidades intelectuais e dos nossos pontos de vista mirrados e sem luz. Quanto a mim, devido aos sofrimentos de Cristo na cruz e à sua ressurreição, Jesus é suficientemente grande para salvar fazendo milagres ou não fazendo milagres. Se Ele quiser ou achar melhor fazer os milagres que temos ouvido, então, que a Sua vontade seja feita. Contudo, temos que levar em conta que os nativos da Indonésia, no seu ardente desejo de celebrar a ceia do Senhor, seriam impedidos de cumprir os seus anseios porque não tinham pão nem vinho para comemorar aquilo que Jesus fez por eles. Será que, para alguns intelectuais, Jesus deixou de ser o Conselheiro Maravilhoso? Temos um Deus que opera milagres! Disso nunca poderemos esquecer. “Cantem ao Senhor uma nova canção, pois Ele fez coisas maravilhosas”, Sal 98:1. Eu prefiro colocar-me ao lado destes servos de Cristo, simples e analfabetos, em Timor, ser participante da sua fé simples e quase infantil, do que assentar-me numa roda de escarnecedores racionalistas, os quais tentam, sem sucesso, rasgar as partes da Bíblia que não se encaixa na sua maneira de pensar e de raciocinar. Teríamos, deveras, um Deus muito pequeno se Ele fosse obrigado a sujeitar-se e a pactuar com os planos e as idéias que fazem dele os filósofos atuais.

 

XVII. A RELAÇÃO ENTRE O PECADO E A DOENÇA

 

Existe uma ligação estreita entre o pecado e a morte e também entre o pecado e a doença. Paulo escreve em Rom.6:23 “que o salário do pecado é a morte”. Através da queda de Adão, a doença e a morte entraram livremente para este mundo, tendo a liberdade de operar. Nós desistimos onde elas operam. “Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo e pelo pecado a morte, assim, também a morte passou a todos os homens, porquanto todos pecaram”, Rom.5:12.

Não podemos, contudo, tornarmos-nos irresponsáveis sem visão ao ponto de acharmos que, através daquele curto circuito de Adão, passou a existir sempre uma relação direta entre todas as doenças e o pecado. Este pensamento ou teologia nunca deveria sequer entrar em nossos pensamentos mais fortuitos, quanto menos dar-lhes voz na presença de uma pessoa enferma. Não podemos dizer a todos os enfermos assim: “Cometeste pecado e por isso adoeceste”!

O próprio Senhor Jesus banalizou a teoria que as pessoas adoeciam porque pecavam. Em Luc.13:4 Ele pergunta a seus discípulos: “Ou pensais que aqueles dezoito, sobre os quais caiu a torre de Siloé e os matou, foram mais culpados do que todos os outros habitantes de Jerusalém?”. Em João 9, quando se referia ao homem que nasceu cego, os discípulos perguntavam: “Mestre, quem pecou ele ou o seus pais para que nascesse cego”? Jesus respondeu diretamente a sua falta de visão da verdade: “Ele não ficou cego porque pecou e nem porque os pais dele tenha pecado, mas antes para que as obras de Deus pudessem ser manifestas nele”.

É verdade que a Bíblia atesta que existe uma ligação entre o pecado e a doença, mas rejeita veementemente que todos os casos da doença tenham como origem o pecado que cometemos. A Bíblia rejeita essa teoria de que a doença tenha a sua origem sempre num pecado particular.

Com tudo isto, no entanto, a Bíblia não exclui a possibilidade de, sob certas circunstâncias ou mesmo sob circunstâncias dum avivamento, que haja uma doença devido a um pecado. Os avivamentos são, de fato, circunstâncias excepcionais, as quais não obrigam a que não haja doenças relacionadas com o pecado. Até mesmo depois da era de Cristo existem ocasiões e circunstâncias que são caracterizadas como sendo extraordinárias. Não tomam o rumo normal duma vivência porque Deus intervém conforme quer, pessoalmente e soberanamente.

Esta verdade pode ser constatada em qualquer avivamento que seja real e, por essa razão, encontramos várias ilustrações fidedignas neste movimento do Espírito Santo que está varrendo a Indonésia contra o pecado. E, se Deus está contra o pecado, pode também usar a doença para exterminá-lo. Achamos Deus ali falando a estes nativos simples através de visões, sonhos, aparições de anjos e, também, através de uma voz direta. Algumas vezes fala através da doença e da cura. Sob outras circunstâncias, no entanto, deveríamos lidar com esses fenômenos muito cautelosamente e mesmo dentro de um avivamento real temos que nos precaver contra o diabo e contra as pessoas falsas, pois, procuraram sempre injetar para dentro da obra de Deus as suas visões e experiências demoníacas que não passam de meras experiências satânicas ou físicas, ilusórias e enganadoras. É verdade que satanás é o anjo da luz, um imitador e enganador por excelência, o qual sobrevive à custa de desacatos e desordens de todo tipo onde quer que passe.

Os acontecimentos atuais, na Indonésia, revelam-nos claramente o modo como Deus se movimenta através da santidade entre aqueles cristãos que se limpam, modo esse visto poucas vezes por própria culpa das pessoas noutras partes do mundo. A verdade que constatamos na área foi que, cada mínima coisa que acontecesse ou que se fizesse, era diretamente afeta pela presença de Deus que era genuína e real. Cada experiência que ali ocorria, ganhava um novo significado apenas devido ao fato de Jesus se encontrar realmente presente no meio do povo.

No caso das curas dos enfermos significa que, quando Jesus manda os seus mensageiros dizer a alguém para primeiro destruírem os seus instrumentos de feitiçaria para depois serem curados, a promessa realiza-se sempre que a condição é cumprida. De outro jeito não é. E isto, no entanto, não significa que os membros com dons específicos dentro dos grupos estejam autorizados a orar por qualquer pessoa que encontrem. Pelo contrário, consultam sempre o Senhor pessoalmente em cada caso específico antes de consultarem o coração que sente dó. É muitas vezes através do dom de profecia que algumas pessoas ficam a saber que algumas doenças são conseqüências de certos pecados próprios ou de seus antepassados. Em casos especiais, como estes onde os pecados são revelados como sendo a raiz e a origem da doença, acontece sempre as pessoas curarem-se quando se arrependem e destroem o seu pecado para sempre.

A cura dos doentes na Indonésia – e podemos afirmar que o mesmo acontece em qualquer movimento de Deus que seja genuíno – nunca se opõe a qualquer semelhança ou ensino daquilo que vem nas Escrituras. A única coisa que não correspondeu completamente com a estrutura Bíblica, foi aquele movimento de cura que antecedeu o avivamento. Contudo, os cristãos de Timor reconheceram pessoalmente que assim era e viram essa verdade porque Deus lhes revelou, pois estavam aptos e limpos para serem instruídos pelo Senhor. O movimento de cura foi apenas uma voz no deserto para preparar o caminho para tudo aquilo que iria seguir-lhe com pureza e sob liderança das instruções do Senhor, tal e qual João Batista abriu caminho para a vinda de Cristo.

Com estes pequenos pensamentos bem delineados sobre aquilo que as Escrituras nos ensinam a respeito disto, vamos então analisar alguns exemplos que, mesmo que encaixem dentro da estrutura deste avivamento específico, não podem servir de padrão para a igreja de Cristo em geral. Caso isto aconteça, haverá muitos caminhos e maneiras de errarmos e nos desviarmos da verdade.

Já havíamos mencionado antes, que o Grupo 31 foi enormemente abençoado em sua obra entre os enfermos e os doentes. Os jovens evangelistas aconselham, contudo, os nativos adequadamente a limparem-se com Deus e não terem qualquer pecado por confessar antes que eles lhes possam impor as mãos para orarem pela sua recuperação. Por vezes, quando se faz um culto especial dedicado inteiramente àquelas pessoas que precisam ser tratadas de doenças físicas, a palavra de Deus é exposta com muita sabedoria e calma em primeiro lugar. Logo de seguida, todos aqueles que têm enfermidades (porque são muitas pessoas) são aconselhados a escrever num papel o tipo de doença que possuem e o que desejam do Senhor. Quando uma pessoa não sabe escrever, existe sempre um cristão por perto para ajudá-la. Os papéis escritos são recolhidos e uma vez mais um membro do grupo explica exaustivamente que a cura depende inteiramente da vontade de Deus. Também lhes é afirmado que não podem esperar serem curados se não estão preparados para entregarem a sua vida a Cristo em todos os aspectos e se não se limparem completamente de todos os pecados. Após esta preparação paciente e exaustiva – a qual pode demorar várias horas – certos membros do grupo oram pelas pessoas com a imposição das mãos. Mas, na verdade, os nativos sentem mais o poder de Deus do que as mãos sobre eles. Aquele poder penetra fundo em todo seu ser. O culto é encerrado com alguns testemunhos de pessoas que são encorajadas a manifestarem-se e dando louvores e ação de graças em cânticos. Com freqüência acontece todas as pessoas serem curadas mas, em muitos casos, apenas cerca de 90% dos doentes presentes experimentam uma cura real. Quando algumas pessoas não são curadas, são aconselhadas novamente e analisam seu coração. Depois oram por elas pela segunda vez. Precisamos realçar, para finalizar, que tudo isso ocorre dentro da mais completa sobriedade, calma e sem aqueles sons de fundo que as igrejas falsas costumam usar.

O Grupo 32 foi enviado pelo Senhor a certa vila onde havia 36 enfermos. Após haverem pregado o evangelho e exposto toda verdade sobre o caminho para Cristo lucidamente, os membros dos grupos exortaram-nos a renderem as suas vidas ao Senhor em todas as áreas antes que pudessem nutrir qualquer esperança de virem a ser curados de qualquer doença. Mas, era-lhes dito que, mesmo que não fossem curadas, ainda assim seria a sua obrigação entregarem as suas vidas a Cristo. Isso era o mínimo que o Senhor esperava deles.

Quando oraram pelos doentes, das 36 pessoas, 32 foram instantaneamente curadas. Vamos mencionar um caso especial sobre a ligação que existe entre pecado e doença. Uma criança estava às portas da morte por causa de uma enfermidade. O Senhor mostrou ao líder do grupo a causa da doença. O pai da criança havia sido chamado para a obra de Deus e ele recusou-se. Quando o evangelista disse ao pai porque a criança estava doente, arrependeu-se e a criança ficou imediatamente curada. Havendo mencionado este exemplo, contudo, devemos frisar a necessidade de evitarmos más compreensões da verdade e más construções de ideologias sobre o que estamos aqui falando. O que teria acontecido se os 36 nativos fossem confrontados desta forma “Vocês pecaram e por isso estão doentes!” Isso teria sido uma falta de sabedoria e um erro muito diabólico. Mas, é isto mesmo que muitos fazem, hoje em dia. De todos estes casos, apenas a criança estava doente por causa do pecado. Com os outros 35 não era isso que acontecia.

O Grupo 47 também experimentou um número de curas durante seu ministério. Temos o exemplo de uma senhora que não conseguia dar à luz. Já estava em trabalhos de parto há oito dias quando a líder do grupo, uma senhora de 35 anos, foi orar com ela. Enquanto orava, foi revelado que o pai da criança estava em desobediência para com o Senhor. O Senhor havia chamado para segui-lo e ele estava resistindo à vontade de Deus. Por fim, arrependeu-se e, logo de seguida, a criança nasceu normalmente.

Em fevereiro de 1968, o mesmo grupo passou por uma experiência semelhante. A pessoa envolvida era novamente a líder do grupo que visitou uma outra mulher, também com problemas de parto. Começando a orar por ela, o senhor sussurrou-lhe no ouvido: “Tanto a mãe como o pai estão viciados em álcool. Não ajudarei a mulher até que tenham abdicado do seu vício para sempre”. O casal, contudo, não estava preparado para abdicar do álcool e como resultado disso, a criança, ao nascer, parecia estar morta e não respirou durante 8 horas. Os pais entraram numa luta interior terrível e a preocupação levou-os a confessarem e deixar o seu pecado. Após isso ter acontecido, o Senhor tornou a sussurrar no ouvido da líder: “Toca na língua da criança pelo lado de trás dentro da sua garganta”. Assim que fez o que o Senhor lhe mandou, a criança começou a respirar. Mais de dez pessoas estiveram presentes e testemunharam este milagre ao vivo. Este relato é fidedigno.

O líder do Grupo 2 era Abel. O Senhor deu-lhe a seguinte tarefa: deveria ir visitar uma família que tinha uma criança muito enferma há várias semanas. A criança em questão não conseguia comer e chorava incessantemente. Assim que Abel chegou ao local, perguntou logo ao pai se ele tinha amuletos ou instrumentos de feitiçaria em casa. O pai tentou evitar responder à pergunta. O Senhor mostrou a Abel então que, de fato, havia instrumentos de feitiçaria naquele lar. Por fim, a família reconheceu o seu pecado e trouxeram todos amuletos e instrumentos de feitiçaria e magia para fora de casa – e eram muitos. A criança começou a acalmar-se gradualmente conforme iam trazendo tudo para fora, peça a peça. Quando trouxeram o último amuleto, a criança deixou de chorar e acalmou-se completamente. Assim que Abel orou por ela, a criança levantou-se logo e pediu algo para comer. Trouxeram-lhe duas tigelas de arroz e ela comeu tudo. Estes exemplos ilustram muito bem como os pecados do pai ou da mãe podem afetar diretamente os seus filhos todos ou só um deles. Como pais, temos uma grande responsabilidade para com os nossos filhos. “Visito a iniqüidade dos pais sobre os filhos até a terceira e quarta geração”, Ex.20:5. Todos os pais cristãos não devem apenas orar pelos seus próprios filhos, mas também por seus netos e bisnetos e geração seguinte. Eu sinto, no meu coração, uma enorme responsabilidade a esse respeito, principalmente quando vejo como os netos e os bisnetos de grandes homens de Deus acabam por cair em pecados grosseiros.

 

XVIII. RELAÇÃO ENTRE O PECADO E O JUÍZO DE DEUS

 

O relacionamento entre o pecado e o juízo de Deus é em quase tudo similar ao que acabamos de descrever sobre a relação entre pecado e doença. Contudo, se conseguíssemos assimilar e levar em conta alguns casos onde o juízo de Deus caiu sem dó sobre as pessoas, seria incorreto generalizar fundamentados nestes casos. Se Deus fosse castigar imediatamente todos aqueles que pecam o mundo tornar-se-ia num grande campo de concentração e de tortura. Similarmente, se Deus requerer a vida de alguém porque alguém pecou, ninguém estaria vivo na terra hoje.

Temos, por isso, de ser muito cuidadosos para não generalizarmos as coisas que acontecem dentro dum avivamento e levá-las como sendo doutrinas dominantes ao invés de serem coisas completarem e específicas que ocorrem quando menos esperamos, é certo, mas dentro da vontade de Deus. O Senhor é soberano e tem a liberdade de atuar fora dos nossos padrões. Deus não pode ser pressionado ou impressionado para se moldar e aceitar certa conduta ou doutrina apenas porque ele usou delas em certas ocasiões que eram necessárias a Seu ver. O Espírito Santo é independente de todos, ele é Deus e recusa-se a ser mandado e a ser instruído na forma como deve atuar. Ele não precisa de professores. É um caso sério de blasfêmia quando nós impomos nossa vontade como seres criados e mandar Deus ir de um lado para o outro como se Ele não fosse Deus. Ele atua, opera, decide, julga e abençoa; tudo Ele faz. Tendo isto em conta vamos fazer um voto permanente de colocar de parte os nossos pensamentos e doutrinas mais certas ou menos certas e tentarmos impressionar Deus e as pessoas com elas. Vamos tirar a nossa pessoa do filme de Deus esperemos na sua atuação.

a)      Vamos transcrever aqui, antes de mais, alguns exemplos ilustrando com muita clareza como Deus castiga as pessoas. Servem estes exemplos como referência que todos serão castigados um dia. Mas, não servem para dizer que acontecerá assim quando as pessoas se arrependem e também não significa que Deus castiga logo após cada pecado.

O Grupo 31 trabalhou numa área dentro de uma das maiores cidades de Timor. Um policial católico ouvia a mensagem e começou a dar risada: “O que vocês estão dizendo é uma estupidez”. Após o grupo ter partido daquela cidade, o homem que não se arrependera até ali, saiu para a mata com uma carroça para apanhar lenha. Chegando à mata, colocou a sua arma na carroça com a baioneta virada para cima. Conforme ia amontoando a lenha em cima da carroça, a arma caiu e baioneta atravessou-lhe o corpo e matou-o instantaneamente. Nathan, que era o presidente do distrito, foi chamado para ser líder do Grupo 11. Juntamente com seu grupo, saiu para evangelizar no norte da ilha. Contudo, os cristãos nominais da zona incitaram a polícia local para impedirem que pregassem o evangelho da verdade. Como resultado, o presidente da polícia (que também era cristão nominal e alcoólatra), proibiu todo o trabalho de evangelização na área. No início, o grupo de evangelistas sentiu-se desencorajado, mas Nathan foi falar diretamente com o chefe da polícia e perguntou: “Quem é que lhe deu as ordens para impedir a obra de Deus aqui na área? São ordens dos governos que você esta cumprindo ou tudo isto é de sua autoria?” O Chefe da polícia ficou sem jeito e não conseguiu esconder perante o governador de distrito, admitindo: “Foram os crentes daqui. Eles fizeram-me preocupar-me muito através de tudo que diziam e eu senti uma grande necessidade de proibir o vosso trabalho. A ordem é de minha autoria”. Após aquela conversa, a proibição foi revogada. Quando Nathan voltou para o seu grupo, ele achou-os reunidos em fervorosa oração. Sem lhes ter dito nada do que tinha feito, ajoelhou-se e entrou no espírito de oração. Repentinamente, toda a casa onde se encontravam foi sacudida como se fosse um tremor de terra, tal como aconteceu em Atos. 4:31: “E, tendo eles orado, tremeu o lugar em que estavam reunidos; e todos foram cheios do Espírito Santo, e anunciavam com intrepidez a palavra de Deus”. Após esta experiência incrível alguns membros do grupo levantaram-se cheios do Espírito Santo e afirmaram através de profecia que Deus iria castigar todos os responsáveis pela ordem que os impedia de pregar o evangelho. Três meses depois (quando já ninguém esperava) a casa do chefe de polícia pegou fogo e ficou reduzida a cinzas. Não sobrou nada do que ele tinha.

O juízo de Deus não cai somente sobre os descrentes, mas sobre qualquer crente também, ainda mais se for crente só de nome. Poderemos constatar isso mesmo através do exemplo que se segue. O Pastor Joseph, em certa ocasião, acompanhava o Grupo 3 numa das suas missões. Isso mostra como muitas vezes os pastores mudam de opinião e juntam-se aos grupos para benefício de todos porque é Deus quem opera e quem assim ordena. O Pastor Joseph é na verdade, o líder máximo da Igreja Presbiteriana. Quando o avivamento começou, este pastor ficou muito desconfiado e afastou-se do trabalho dos grupos. Ele estava na dúvida se tudo aquilo seria mesmo a obra pura do Espírito Santo. Contudo, ao comprovar por ele mesmo as coisas maravilhosas que Deus estava fazendo no seu meio, acabou por cair para o lado da obra de Deus. Ficou inteiramente convencido da genuinidade daquele movimento liderado, pois era liderado por Deus. Hoje é uma das figuras que lideram este avivamento. Também é interessante constatar que ele tornou-se apenas num membro do grupo e não líder, sendo pastor. Este é um bom exemplo como Deus não depende da educação da pessoa ou da hierarquia terrena quando ele opera – de fato, cada líder de cada grupo, é uma escolha direta e exclusiva de Deus.

O grupo saiu para visitar certa cidade na ilha, cuja igreja estava sendo dilacerada e dividida por ciúmes e invejas entre duas facções dentro da congregação. Os principais culpados era um casal de professores cristãos. Quando o Pastor Joseph chegou àquela cidade, todos na igreja se reuniram para lhe fazerem uma festa de boas vindas. Contudo, quando o Pastor Joseph soube o que estavam preparando, disse-lhes com sabedoria e sutileza: “Eu não vim aqui em visita oficial. Sou um membro dum grupo que tem um líder”. E foi assim que, durante duas semanas, o Grupo 3 trabalhou e conviveu com esta igreja lançada numa ruína espiritual. Foi então que o Senhor mostrou que os dois professores em questão deveriam ser retirados dos seus cargos e substituí-los por outras pessoas. A congregação estava de acordo. Mas, assim que o grupo saiu da cidade, as guerrinhas internas começaram novamente. Os amigos e apoiantes dos professores fizeram de tudo para invalidarem a decisão tomada pelo grupo que, na verdade, era o próprio conselho de Deus. O Pastor Joseph e os outros membros do grupo, chegando a Soe, ouviram dizer que havia anulado a decisão de Deus. Enviaram uma mensagem de aviso aos cristãos em disputa, que o juízo de Deus cairia sobre todos eles se chegassem a destruir a igreja novamente através de contendas mesquinhas. Os homens que substituíram os professores haviam sido diretamente escolhidos pelo Senhor e não havia sido decisão de homem! Mas, as contendas não cessaram. Devido a isso, o terrível juízo de Deus caiu sobre a igreja. Vinte e nove pessoas que estavam envolvidas nas contendas morreram todas repentinamente através de uma doença misteriosa. Esta história foi confirmada mais tarde pelo Sr. Missionário Klein em 11 de Fevereiro de 1968. A testemunha principal, no entanto, é o próprio Pastor Joseph.

b)      Outra forma de julgamento é aquela que serve apenas para corrigir quem está errado.

O Grupo 31, um grupo que já mencionei em ocasiões anteriores e cuja obra e frutos eu aprecio particularmente, estava trabalhando numa certa vila quando seu líder, o Pastor Gideão, entrou numa casa onde havia uma criança com tosse crônica. Conforme Gideão estava falando com o pai, que era um líder da igreja local, descobriu em seu coração que ele estava secretamente em oposição ao avivamento na área. Gideão confrontou-o e disse-lhe: “O Senhor é espiritualmente orgulhoso. Por essa razão a sua criança está doente”. Assim que o pai ouviu aquelas palavras, confessou os seus pecados e arrependeu-se, mudando de atitude. Oraram pela criança e ela ficou instantaneamente curada.

Certa família, que ouviu falar da obra que os grupos estavam realizando, começou a escarnecer e a dar risadas. Como resultado, um dos seus filhos caiu numa enfermidade súbita e foi levado para o hospital. O Senhor disse para Judite, a esposa do líder do Grupo 2, para ir visitar a família. Quando ela se encontrou com os pais da criança, olhou nos olhos deles e disse calmamente: “Vocês insultaram o Senhor criticando os grupos que ele próprio enviou. Arrependam-se para poderem ter o vosso filho de volta. O Senhor não precisará de médico para vos dar a criança de volta”. Eles aceitaram a exortação, arrependeram-se e a criança ficou curada em seguida.

Uma vez, o Grupo 17 viajou até a ilha de Rote para cumprir o mandamento de Deus numa missão. Os líderes da igreja local recusaram-lhes hospitalidade e comida. “Eles só vieram aqui para se aproveitarem de nós”, afirmaram. Na noite seguinte a este comentário, um dos líderes do grupo tentou acender o seu candeeiro mais de dez vezes sem sucesso. No final, o Senhor falou-lhe: “vocês falaram mal do trabalho do grupo que veio ajudar-vos. Vão se retratar diante de Deus e ajudem-nos em tudo que necessitarem”. O homem arrependeu-se imediatamente e colocou o seu coração para obedecer. Na tentativa seguinte o seu candeeiro acendeu. Como foi maravilhosa aquela noite! Quando o grupo terminou o período de testemunhos, 20 pessoas converteram-se e uma menina paralítica ficou curada. Na vila seguinte, 400 das 500 pessoas que estavam doentes, foram curadas de suas enfermidades.

c)      Em terceiro lugar, existem formas de juízo que procuram exclusivamente a santificação total dos crentes envolvidos. Vamos mencionar dois exemplos.

A líder do Grupo 43 era uma mulher cristã de nome Abigal, a qual era analfabeta. Contudo, havia sido o Senhor quem a chamou para a obra e, mesmo assim, ela hesitou e retardou a obediência. Aconteceu, então, que começaram a adoecer os filhos dela, um após o outro. Ela chamou um dos líderes dos grupos e implorou-lhes para que orassem pelos seus filhos. Contudo, o Senhor explicou: “Os filhos de Abigail adoeceram devido à desobediência dela. Ela tarda em obedecer a minha palavra”. Quando Abigail ouviu aquilo, arrependeu-se e tornou-se imediatamente obediente a Deus. Conforme saiu, indo de casa em casa e levando a mensagem de Cristo, o Senhor também lhe deu certa autoridade para curar pessoas. Ela encontrou um homem de idade com um ferimento que não sarava. Após haver-lhe mostrado o caminho para Cristo e ele ter confessado os seus pecados, ela orou pelo homem e a ferida começou a secar e sarar à frente deles. Os filhos dela também ficaram bons. Numa outra ocasião, o Senhor disse a Abigail para ir visitar a prisão local e falar de Jesus aos que estavam presos. Contudo, ela saiu de casa e foi dar o testemunho aos doentes dum hospital. O Senhor não lhe havia falado nada sobre o hospital. Mais tarde, quando já era quase noite, apercebeu-se que já não daria tempo para visitar a prisão naquele dia. Virou e foi a caminho de casa. Enquanto andava, a perna dela ficou paralisada. Não conseguia dar nem mais um passo. Foi então que se apercebeu da sua desobediência e implorou ao Senhor que lhe perdoasse. A perna dela ficou restabelecida no mesmo momento. Isso ilustra como nós negligenciamos a tarefa que o Senhor nos dá fazendo outras. Deus não requer de nós atividade e sim obediência.

O Grupo 45 era liderado por um professor de 43 anos. Ele chamado pelo Senhor através de um sonho. Viu as suas roupas velhas e sujas serem-lhes tiradas e uma túnica nova sendo-lhe vestida. Ao mesmo tempo, ouviu uma voz dizendo: “Esta é a túnica de Elias”. Quando acordou, duvidou da veracidade do sonho. Contudo, durante o dia, um dos seus filhos queimou o braço. O professor chamou um dos líderes e implorou que orasse pela criança. Foi então que Deus mostrou qual era a causa. Arrependendo-se logo o professor dispôs-se a obedecer ao Senhor, colocando-se à disposição da vontade de Deus. Ele foi uma das pessoas a quem o Senhor deu autoridade sobre os demônios e também para curar.

 

XIX. A PRESENÇA REAL DE JESUS NO AVIVAMENTO DA INDONÉSIA

 

O avivamento na Indonésia ainda é muito jovem e ainda se encontra em sua fase inicial. É bem provável que dure até o dia do juízo. Que Deus conceda que continue até a vinda de Cristo e que este maravilhoso derramamento do seu Espírito não cesse até que o Senhor remova a tocha do evangelho deste mundo para sempre e tome para si os mensageiros do seu fogo.

O presbitério (sínodo geral da igreja) de Timor levou muito tempo até se pronunciar sobre a natureza do avivamento e fazer um juízo sobre tudo que estava acontecendo na ilha. Não tinham a certeza se era mais um movimento falso ou se tudo aquilo vinha de Deus. O corpo administrativo da igreja não tem apenas o direito, mas o dever de agir com a máxima prudência. Quantas vezes, movimentos religiosos que nascem e levam o estandarte com as inscrições de “avivamento”, não passam de epidemias psíquicas que aprenderam muito bem ou a ser falsos ou a imitar a obra do Espírito Santo por razões pessoais.

O que é que o corpo da liderança da igreja escreveu depois de ter observado os acontecimentos durante um ano? Em primeiro lugar, produziram algumas estatísticas no mínimo maravilhosas para um país entregue ao islamismo e à bruxaria. Só no primeiro ano converteram-se 80.000 pessoas na ilha; 40.000 desses eram ex-comunistas e a outra metade eram pagãos convencidos. Durante o mesmo intervalo de tempo, 15.000 casos de curas permanentes estavam comprovados e documentados. Não eram casos como aqueles que afirmam que as pessoas estão curadas – ou onde os próprios acreditam que foram curados – e, quando chegam a casa, ainda estão doentes. A assiduidade nos cultos cresceu fenomenalmente. Para termos uma idéia, algumas igrejas tinham cerca de 30 membros assistindo os cultos de domingo, os quais eram os mais freqüentados. Após o primeiro ano do derramamento do Espírito Santo, as mesmas congregações tinham acima de 500 membros ativos. Muitas das igrejas não tinham espaço suficiente para albergar o povo que queria assistir às pregações, movidos por uma fome da Palavra que se tornou incontrolável. Podemos acrescentar a esses fatos que uma onda de arrependimento e santificação varreu toda a igreja existente, desde os líderes até aos membros moribundos. Mais de 100.000 amuletos e instrumentos de feitiçaria foram contabilizados nas queimadas (fora os que não foram contados). Isto apenas na ilha de Timor.

O primeiro ano também viu nascer 72 grupos de evangelização que viajaram por toda área sem qualquer ajuda ou promessa financeira, sem recursos e pregando o evangelho por todo lado com muito sucesso.

Estas estatísticas dizem respeito apenas ao que foi contabilizado pelo sínodo da igreja local só no primeiro ano. Um dos pastores da ilha disse-me que hoje, no fim do terceiro ano de avivamento, os números cresceram ainda mais. A quantidade dos que se encontram convertidos e ativos, ascendeu para mais de 200.000. No entanto, hoje é quase impossível contabilizar o crescimento espontâneo das igrejas. Não podemos fazer uma contabilização exata de todo o panorama existente na Indonésia. A história do que está acontecendo aqui é maravilhosa demais e não existem palavras nem números para as descrevermos. Preciso notar que antes do avivamento começar quase não existiam crentes na ilha. Os números dos crentes na época nem atingiam os três dígitos. Hoje existem crentes que não se consegue contar. Parece areia do mar.

O número de grupos evangelísticos cresceu muitíssimo e já ultrapassou a marca dos duzentos. O número total de curas contabilizadas excedeu os 30.000.

Estes números representam uma vitória clara para o Senhor Jesus na Indonésia de hoje e desejamos que seja apenas o início. Mas, números somente não revelam as características e a essência de qualquer avivamento genuíno.

O número de crentes transformou por completo a visão e a estrutura de todas as igrejas na área. É muito interessante compararmos os registros das igrejas nas ceias nos anos 1963, 1966 e 1968. Se não soubéssemos que havia ocorrido um avivamento por ali, qualquer um exclamaria: “O que é que aconteceu para a igreja se multiplicar vinte vezes mais”? As ofertas também falam por si. Quando os bolsos dos crentes não são tocados, nada aconteceu dentro deles ainda. Temos que entregar toda a nossa vida a Deus e por regra o bolso é a última coisa a ser entregue. A porta da conta bancária de alguém é sempre a última porta a ser aberta para Cristo. Em muitos casos não é aberta para Ele – ou é aberta para os falsos profetas ou para ninguém. As estruturas das igrejas também foram obrigadas a mudar. Os cultos mudaram. Em 1963, se as congregações assistissem a um culto mais de uma hora, toda gente se queixava. Contudo, hoje, os cristãos não permitem que o Pastor Gideão deixe o púlpito sem ter falado sete ou oito horas sem parar. Eles queixam-se agora se ele falar pouco! Os crentes na área do avivamento perdem completamente a noção do tempo, não sentem fome nem sede, desvalorizam ou não sentem cansaço e perdem todo senso de dinheiro, luxo ou de bem estar. Mas, podemos acrescentar ainda mais a tudo isto. A estrutura social das igrejas mudou radicalmente. Divisões sociais de classes simplesmente não existem mais. O pastor, que é o diretor geral de todas as igrejas, também é um simples membro de um grupo liderado por Deus e por um analfabeto. É Deus quem designa os líderes dos grupos e todos são obedientes, sem impor qualquer condição. Vemos, por exemplo, a irmã de Pak Elias, uma mulher de nascimento nobre, sentada humildemente conversando com mulheres analfabetas sobre o Deus que têm em comum.

Os valores da sociedade e as hierarquias entre os cristãos simplesmente deixaram de existir. A única coisa que permaneceu e que vale a pena mencionar é o fato de podermos apontar uma causa e uma origem para tudo isso: “Ele é antes de todas as coisas, e nele subsistem todas as coisas; também ele é a cabeça do corpo, da igreja; é o princípio, o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a preeminência, porque aprouve a Deus que nele habitasse toda a plenitude”, Col.1:17-19.

Isso leva-nos outra vez a falar exuberantemente das características reais deste avivamento: a real, genuína e sempre presente presença do Senhor Jesus. É uma presença literal e real – é sentida em todo o lado. Como é difícil para os crentes ocidentais imaginarem uma ocorrência destas. Como é difícil para muitos de nós sabermos algo sobre a vontade de Deus em relação a nós mesmos ou ao nosso trabalho. Contudo, este povo simples, experimenta com muita simplicidade encorajamentos diretos do Senhor, contatos diários com o um Senhor sempre presente e real. É difícil imaginarmos uma situação destas. Só vivendo-a. Naturalmente que, como teólogo, já fico imaginando como todas as seitas se aproveitaram daquilo que é verdade para darem ênfase e mais credibilidade às suas próprias revelações de mentiras enquanto afirmam que vêem de Deus. Os falsos profetas do Velho Testamento também faziam o mesmo do mesmo jeito. O ‘lumen internum’, a luz interior da visão ou revelação divina, é constantemente assaltada e imitada dentro dos corações dos homens. Também é sobejamente verdadeiro o fato de que, onde o Espírito Santo opera de forma real, o diabo também envia os seus mensageiros com uma bíblia na mão. Esses são os perigos que ameaçam todos os avivamentos que são reais. Existe uma força satânica numa operação paralela e similar à obra de Deus – a diferença entre a verdade e a mentira é muito tênue.

Mas, este perigo não nos pode levar a insultar a obra do Espírito Santo e nem a rejeitá-la como tal. Para usar um exemplo simples, podemos dizer que seria uma grande tolice que as mulheres deixassem de ter filhos porque as crianças são expostas a doenças. Não seria razão proibir e banir os nascimentos do mundo. O mesmo se pode dizer do novo nascimento e dos avivamentos. Não podemos desistir da verdade apenas porque existem mais falsos do que verdadeiros no mundo.

Não devemos forçar a nossa conduta por termos medo destes serrados ataques demoníacos bem delineados e com isso ficar contra a obra de Deus. Não podemos permitir que o diabo consiga matar dois coelhos com a mesma paulada. Isto é, colocar as pessoas a favor da obra errada e, por outro lado, colocar outras tantas contra a verdadeira obra de Deus por medo daquilo que o diabo faz. Não podemos negar esta maravilhosa presença real do Senhor Jesus por causa das imitações dos homens e do diabo. Em nenhum outro avivamento deste século a presença do Senhor Jesus e a sua liderança direta, tornaram-se tão evidentes como neste.

A realidade duma continuada presença real do Senhor dentro desta área de avivamento tem um significado escatológico, a qual pode ser igualada aos tempos dos apóstolos. Isto é o que está acontecendo com nativos simples em Timor e cuja importância pode não ser aceite e reconhecida.

 

Um Sinal da Segunda Vinda de Cristo

 

Quanto mais eu olho para os acontecimentos que se estão desenrolando em Timor, mais me convenço de que Deus nos quer transmitir alguma mensagem que deve ser entregue ao mundo inteiro. O avivamento na Indonésia não é de maneira nenhuma apenas um acontecimento nacional e limitado àquele país. Mas, creio que seja uma maravilhosa manifestação de Cristo que precisa ser levada em conta por todo corpo de Cristo espalhado pelo mundo. O Pastor Joseph teve um sonho que guardou para si durante algum tempo, o qual ilustra muito bem esta tese. Mas, antes de descrever o sonho, permitam antecipar-me aos meus críticos: eu sei que aquilo que a palavra de Deus diz é mil vezes mais fiável do que qualquer sonho de qualquer homem de Deus. Mas, existem sonhos que manifestam o que a palavra de Deus diz. Eu já falei bastante sobre a realidade atual da Indonésia e, por esta altura, já podemos ter uma noção da realidade espiritual ali decorrente e qual a necessidade deste tipo de revelações para o povo que não sabes ler e nem escrever. Também mencionei as razões que levam a essa necessidade. Para além do mais, o Pastor Joseph é um dos homens mais maduros e mais sóbrios de todos os avivamentos que eu alguma vez presenciei em todo mundo. Ele é, ainda, o próprio presidente do sínodo da igreja de Soe. Neste seu sonho, ele viu uma multidão composta de gente de todas as nações debaixo do sol sendo atraídos de todas as igrejas para frente de uma igreja. Cantavam um hino em conjunto e, mesmo que a melodia fosse a mesma, cada um cantava no seu próprio idioma. Assim que acordou, o Pastor Joseph pediu ao Senhor que lhe explicasse qual o significado daquele sonho. A resposta veio em seguida: “O sonho significa que o avivamento em Timor tem um significado e uma importância universal”.

Estamos vivendo onde o “satanás tem o seu trono”. Esse trono já conquistou os púlpitos das igrejas evangélicas e não evangélicas do mundo ocidental. Os teólogos desmentem a divindade de Cristo e anularam a necessidade da sua presença real, colocando ênfase e autoridade no seu raciocínio das coisas e nas suas doutrinas que servem como armas para se atacarem uns aos outros e se diferenciarem entre eles destacando-se. Está acontecendo a mesma coisa que vimos durante a Revolução Francesa de 1789. Constatamos que já não é mais Deus que é reverenciado e adorado, mas é antes o homem que é idolatrado, ouvido e seguido. O Espírito de Deus não sofrerá e nem suportará esta tolice vinda seja de quem for – muito menos dos teólogos que tem conhecimento da verdade. A blasfêmia destes teólogos é evidente e só não vê quem não quer. Mas, sabemos que será varrida do panorama mundial e acontecerá com ela aquilo que aconteceu com a Torre de Babel, a qual não existe mais.

Na face deste mundo vemos uma rebelião universal contra Deus. Mas, é neste mundo que Jesus mostrou como se deve fazer as coisas usando um dos cantos do mundo mais desprezado e menos importante: as ilhas longínquas da Indonésia. Não será através da sabedoria dos teólogos que veremos Deus fazer tudo aquilo que faz através de nativos simples e analfabetos. Deus não precisa nem de teologia nem de teólogos – Ele só precisa ser Deus e reinar literalmente. Ele está escolhendo novamente os mais desprezados e os mais pequenos deste mundo para envergonhar todos os outros e para que eles, um dia, se assentem nos tronos colocados no céu julgando a elite e a nobreza da igreja e do mundo. Aquele que tiver olhos para ver, que os usem bem. Muitos, contudo, preferem continuar cegos, incompreensivelmente surdos e abnegados pelas causas próprias, as quais não levaram a lado nenhum. A igreja de hoje está preenchida e lotada de blasfemadores que amam ocupar os lugares principais, para não dizermos os lugares de ensino e de discipulado onde ensinam somente e obrigatoriamente aquilo que é muitas vezes inspirado e arquitetado no coração de satanás sem se aperceberem que seja assim, sequer. É verdade que ainda existem exceções e em muitos cantos do mundo há aqueles que recusaram dobrar os seus joelhos a Baal, preferindo serem escarnecidos e lançados em tribunais públicos e em tribunais de opinião para não desprezarem alguma coisa que Cristo lhes revelou pessoalmente sobre como se deve ser um discípulo verdadeiro.

Podemos mencionar aqui a história de um irmão que foi escolhido para andar neste caminho estreito e íngreme que leva ao céu. Uma vez, quando Dr. Prof. Michel de Tübingen entrou numa sala de aulas, encontrou um papel escrito à mão em cima de sua mesa. Um aluno seu havia deixado um bilhete para ele ler dizia o seguinte: “Michel é o seu nome e Michel (que quer dizer tolo) você é. Tudo que você ensina é lixo”. Isto ilustra o espírito de rebelião contra Deus tanto naqueles que ensinam como nos que aprendem, isto é, naqueles que são atualmente os melhores “seguidores” de Cristo.

O Senhor achou por bem incendiar algumas igrejas e dar uma nova luz e uma nova chance a este mundo. Para isso usou um dos cantos mais insignificantes do planeta. Contudo, esta luz não serve apenas para agir como um contra peso ou uma oposição contra o espírito humano. Não é – é muito mais que isso. Toca a todos nós e fala-nos do fim dos tempos. Ou melhor, do último troço do fim dos tempos. Quem será a pessoa que vai terminar o mundo? Quem irá estar acima de todos e irá queimar o presente caos de valores humanos? Quem está sentado no trono e reina para sempre? Quem irá ter a última palavra? A quem é que Deus deu um nome acima de todos os nomes? A resposta é obvia: é aquele que se curvou sob o peso do pecado do mundo figurativamente representado através de uma cruz pesada de maldição. Aquele que depois foi pendurado nessa cruz para salvação do mundo no monte do Golgota. Sim, ele mesmo, aquele que sepultou as maldições dos pecados que se espalham como praga pelos corações dos homens e que só terminou no Hades pregando para os cativos de lá. Todo o poder foi dado Àquele a quem a morte não conseguiu prender: ao Cordeiro de Deus cujos louvores lotam o céu e um dia lotarão a terra.

Ele é aquele que vem e as suas pegadas e forma de operar ficaram claramente estampadas na ilha de Timor. Creio mesmo que, em mais nenhum outro lugar do mundo, isto ficou tão óbvio, isto é, as pegadas de Jesus. Este avivamento em Timor tem uma enorme importância escatológica. Muitos dos nativos envolvidos nele profetizaram (e não eram falsos) que os exércitos do céu já se preparam para aquele glorioso dia que será a vinda do Cordeiro para acabar com o mundo.

 

XX. A RAZÃO DE SER DESTE LIVRO

 

O avivamento da Indonésia transmite-nos muitas mensagens e dá-nos muitas lições de forma prática. Devemos, em primeiro lugar, estar cheios de alegria que o Senhor derramou graciosamente esta benção maravilhosa sobre os seus filhos. Quantas vezes ficamos cansados de esperar por notícias deste gênero e elas não chegam. Todos aqueles que oram por um avivamento genuíno sentir-se-ão motivados a persistirem em suas orações e a não cessarem de orar. Contudo, Deus não se deixa influenciar e age como Ele quer e onde Ele quer.

O derramamento de vida espiritual abundante na Indonésia deveria colocar-nos na senda de uma busca santa e pura até que achemos. Os nativos de Timor foram compelidos a entregar todas as suas feitiçarias, amuletos e ídolos para serem queimados para sempre. Não será que também é nosso tempo de entregarmos os nossos pecados secretos e ídolos do coração para serem destruídos? Cada ídolo que possuímos é um rompimento com a vida de Cristo em nós, o qual rouba os nossos frutos quando trabalhamos. A mensagem principal deste avivamento para nós é: “Filhos de Deus em todo mundo, purifiquem-se até ficarem mais brancos que a neve e limpem-se de qualquer pecado que Deus diz que é pecado. Sem esta santidade nunca haverá um derramamento do Espírito Santo sobre ninguém”.

Os eventos ocorridos na Indonésia, também deveriam estimular-nos a fé abundantemente. A dimensão da nossa incredulidade revela-se no fato de nós ainda questionarmos muitos dos milagres que ali ocorreram por autoria de Deus. Que duvidássemos dos milagres falsos ainda seria aceitável e desejável. Mas, durante anos viemos lendo sobre essas coisas na Bíblia e quando elas acontecessem diante de nós, não conseguimos crer nelas.

Também, este avivamento deveria abrir-nos os olhos para a grandeza da glória de Deus. Como um jovem cristão anos atrás, eu lia muitas palavras de Jesus em João 14:12: “Em verdade, em verdade vos digo: Aquele que crê em mim, esse também fará as obras que eu faço, e as fará maiores do que estas; porque eu vou para o Pai”. As palavras “maiores obras” raramente entravam na compreensão da minha mente. Eu nunca entendi muito bem. Mas, após haver seguido Jesus por 39 anos, eu vi estas coisas cumprirem-se diante dos meus olhos na ilha de Timor. Agora entendo melhor.

E, por último, este acontecimento em tudo similar ao que aconteceu na era dos Apóstolos, exige de nós cristãos que estejamos preparados. Devemos preparar-nos e armar-nos com a idéia de que o dia final da chegada de Jesus está para breve. Em meu livro ‘Der Kommende’, eu falo muito sobre isso. Deus já está preparando Israel e seu povo para aquele grande dia. A igreja real de Cristo está sendo limpa e preparada. O avivamento em Timor só nos alerta ainda mais para esse fato.

 

A Nossa Responsabilidade

 

Estas notícias vindas de Timor, sendo um encorajamento para todos nós, devem-nos fazer dobrar os joelhos na mais profunda oração e humildade. Mesmo que este acontecimento seja provavelmente o maior acontecimento espiritual depois dos Apóstolos de que temos conhecimento, existem, mesmo assim, muitos perigos contra esta nova era da história da igreja de Cristo.

O inimigo convocou todos os seus exércitos deste do inferno numa tentativa de destruir, incapacitar ou danificar esta genuína obra do Espírito Santo de Deus. Esta é a maior guerra mundial que alguma vez enfrentaremos. Nunca houve outra igual. Uma batalha feroz está ocorrendo no mundo espiritual, a qual apenas alguém com dons proféticos conseguirá enxergar. A Indonésia tornou-se, atualmente, no alvo principal de satanás neste mundo. Cada filho de Deus na Terra deve sentir no seu coração o dever de entrar na união e na luta intercessora para que este avivamento se mantenha intacto.

Já houve um grande número de cristãos da Indonésia vítimas de orgulho e outros pecados mais. Os milagres, as curas e a ressurreição dos mortos podem subir facilmente à cabeça das pessoas. Mas, pela misericórdia de Deus, sempre que isso aconteceu, as pessoas em questão perderam toda autoridade que Deus lhes havia dado.

Alguns outros caíram em pecado de imoralidade e promiscuidade. As vidas de grupos mistos representam um desafio acrescido e também mostrou ser um perigo. Aqueles que se entregaram aos namoros fora da vontade Deus também perderam toda a sua autoridade.

Houve outros que caíram no laço do dinheiro. Todos aqueles que foram curados através deles mostraram agradecimento natural e espontâneo e davam o que tinham para manifestá-lo. Mas, aqueles que oravam por eles, deveriam ter levado em conta que o Senhor disse expressamente “De graça recebestes, de graça daí”, Mt 10:8.

Também houve pessoas que caíram em barulho e desordem. Sermos guiados pelo Espírito não é sinônimo de êxtase e nem de barulho. Onde Deus reina existe ordem, mesmo que não seja implementada pelo ser humano. Não devemos colocar de lado regras comportamentais de bom senso apenas porque estamos livres para sermos guiados por Deus abertamente.

Damos graças a Deus que houve muitos desses que caíram que, após reconsiderarem os seus caminhos, voltaram para Deus. Permitiram-se, também, serem corrigidos por irmãos na fé aceitando exortações e admoestações de bom grado e com toda a humildade. A humildade que adquiram após terem voltado, manifestou claramente que Deus não os havia expulsado para sempre do Seu reino.

Devido ao fato de podermos partilhar e participar nestes eventos maravilhosos, temos a obrigação colocada sobre nossos ombros de orarmos a Deus intensamente para que este avivamento se mantenha. Os avivamentos não são locais para farsantes piedosos e endoutrinados. Quando satanás mobiliza os seus exércitos, os crentes também devem agrupar-se nas suas respectivas fileiras ouvindo o chamamento e exortação do seu Rei. A coisa mais importante que podemos fazer hoje, é a oração pura que é ouvida. Intercessão é um ministério por si mesmo. No entanto, poucos crentes o praticam. É com muita facilidade que deixamos nossos irmãos serem ameaçados e sacudidos em seus fundamentos pelos poderes que satanás tem para confundir o mundo. Os crentes deviriam aprender a lutar nos seus joelhos conta o comunismo e outros males mais, como os que estão acontecendo na China vermelha. Na Indonésia, temos muitos crentes perseguidos e executados pelos servos do nosso inimigo. Não podemos ficar parados a olhar sem fazer nada. Muitos tornaram-se culpados de pecados da execução de seus irmãos em países oprimidos. Essa é uma das principais razões porque escrevo este livro. Meu desejo é que nasça um ardente desejo em todos para ajudarem a obra de Deus em todos os aspectos em qualquer canto do mundo e, principalmente, dentro deles mesmos. Quem está ouvindo este apelo? Mesmo que não consigamos ser missionários ou evangelistas, podemos ser intercessores ativos, algo que pode significar o sucesso das obras de todos aqueles que estão na linha de frente da batalha. Aqueles que dão a cara por Cristo agradecem. Os que se salvam também. Hudson Taylor tinha o mapa da China e ajoelhava-se sobre ele todos os dias enquanto orava por aquele país perdido. Hoje, a China tem cerca de 170.000.000 de evangélicos. Se formos missionários de oração, seremos missionários de melhor tipo que há.

Como seria maravilhosa a surpresa quando chegarmos à eternidade e cada irmão do mundo ocidental encontrar-se dentro do céu com algum africano, asiático ou outro que se salvou enquanto orava. Imaginemos esses crentes perguntarem-nos: “Foi você que orou por mim enquanto eu estava perdido? Foi a sua oração que Deus ouviu?” Eu tenho a certeza que muitos crentes serão recebidos com essas coisas maravilhosas assim que entrarem no céu. A única pergunta que se coloca é: você será um deles?

A nossa história ainda não terminou. Mal começamos a contar as coisas deste avivamento na Indonésia. Vamos agora ouvir a história de um dos responsáveis por esta obra maravilhosa. Guardei o seu nome para o fim para que a glória fosse dada a Deus logo no início. Vamos ouvir a história de um homem a quem Deus usou de uma forma peculiar e o qual foi um dos instrumentos mais importantes para tudo o que ali aconteceu.

 

XXI. PAK ELIAS

 

Os parágrafos seguintes são uma biografia muito superficial de um homem de Deus que foi usado de uma forma muito particular neste avivamento. Deixei a sua história para o fim intencionalmente, pois senti no meu coração que a ‘biografia’ de Deus deveria está em primeiro lugar. Não se deve subestimar o fato do homem, por vezes, ficar com parte da glória que é unicamente de Deus. Qualquer forma de heroísmo ou de reverência a heróis sempre termina com a carreira de qualquer homem de Deus, porque a glória de Deus não Lhe é dada. Contudo, parece instintivo que as pessoas consigam empurrar os evangelistas para cima dos pedestais, colocando-os numa situação muito ingrata e muito venerável. Sempre que isso acontece, a chama do Espírito Santo extingue-se mesmo que a fama do evangelista perdure. Eu estou muitíssimo consciente dos perigos que envolvem uma descrição da vida deste homem grandiosamente usado por Deus e de uma forma invulgar e peculiar.

É um método que Deus usa para lidar com a humanidade perdida, selecionando pessoas específicas para tarefas peculiares. Estes são três aspectos deste fenômeno: a tarefa, o tempo de cumprir e o homem escolhido. Foi assim que, no tempo do êxodo, a tarefa de libertar os filhos de Israel das garras da escravidão no Egito e no auge do seu sofrimento, o homem escolhido foi Moisés. Podemos verificar como em todos os métodos que Deus usou para lidar com Israel havia sempre um triângulo divino. Quando pensamos na construção do templo vemos que a tarefa era arranjar uma habitação para a arca de Deus e que o homem escolhido foi Salomão. Consideremos também o ministério de João Batista. A tarefa era preparar o caminho para o Messias e o tempo da Sua aparição foi logo a seguir e João foi a voz escolhida para clamar no deserto. O mesmo fundamento aplicou-se na história da igreja. Se falarmos da reforma, como exemplo, comprovamos que a tarefa era renovar a igreja cristã, o tempo disso acontecer foi antes da era moderna – quase na época da descoberta da América e outras terras – e o homem escolhido foi Martinho Lutero.

O avivamento indonésio também manifesta este mesmo padrão. David Simeon e o seu irmão estiveram juntamente com Pak Elias quando o avivamento começou entre os estudantes da Escola Teológica de Java, onde o Pak Elias ainda era um dos estudantes. Hoje, o Senhor promoveu Pak Elias para um grau acima dos seus professores. Pak Elias é um nativo da Indonésia e o Senhor achou por bem colocar Indonésios no comando deste avivamento. Nem sempre é assim.

A tarefa que tinha em mãos era a limpeza e a renovação integral da igreja quase petrificada de Timor e a conversão dos muçulmanos para Deus. O tempo apontado para esta obra foi após a conclusão das guerras com japoneses, holandeses e comunistas. Não haveria mais guerras enquanto a obra estivesse prosseguindo. O instrumento que Deus escolheu para esta obra foi Pak Elias.

Todas as biografias tornam-se monótonas quando são longas. Por esta razão irei limitar o que digo para abreviar os comentários. Pak Elias nasceu em 1928, sendo filho mais novo de uma família de sete. O seu pai faleceu quando ele tinha três meses de idade, o que significa que a sua infância e adolescência foram muito penosas e difíceis. Sofreu muitas necessidades.

Os anos de juventude de Pak Elias ficaram marcados por muitas guerras e revoluções, algo que só veio beneficiar este homem porque, além de saber os dialetos de Timor e Ambom, ele também fala fluentemente indonésio, japonês, holandês e inglês. Esses idiomas refletem, de certa maneira, o tipo de formação que ele obteve: na escola primária na ilha de Rote; escola secundária na ilha de Timor; formação como professor numa escola em Ambom; professor em Java e finalmente um posto na Academia de Bandung. Foi uma formação de educação, não apenas marcada pelas diferentes mudanças políticas no seu país, mas, também, destacam-se pelas distâncias entre etapas da sua formação. A dimensão real do arquipélago da Indonésia é a cerca de 12.000 Km. Por isso, tanto lingüisticamente como geograficamente, a formação de Pak Elias era a mais apropriada para servir toda a Indonésia. Podemos comprovar a mão de Deus no percurso da sua vida. Não foi Moisés preparado durante 40 anos no deserto de Midiã antes de Deus o chamar para cumprir a sua tarefa? Será que Davi perdeu aqueles anos entre os filisteus e que foi um tempo em vão antes de receber a sua coroa? Os propósitos de Deus nem sempre são reconhecidos até que as coisas já se tenham cumprido. Será, também, que foi em vão que Pak Elias foi açoitado de um lado para o outro através dos ventos da vida, passando de ilha em ilha na Indonésia?

Mesmo com falta de dinheiro e vivendo sem ajuda para completar os seus estudos, a carreira de Pak Elias pode ser considerada excepcional. Era periodicamente forçado a trabalhar durante um tempo para juntar dinheiro para poder continuar os estudos. Mesmo assim, a sua inteligência acima da média permitiu que terminasse a sua formação acadêmica antes de seus colegas. Quando tinha 23 anos já era diretor de uma escola secundária em M. Estudou ainda mais depois disto e acabou sendo o diretor duma Faculdade na mesma cidade. Com 29 anos e sendo diretor dessa faculdade e ao mesmo tempo professor universitário, também tornou-se diretor de uma escola com cerca de 2.000 estudantes. De fato, uma carreira excepcional!

Pak Elias também era um homem muito respeitado em todos os círculos da igreja. Com 24 anos era líder de todos os jovens da cidade de Bandung e aos 26 tornou-se presbítero da igreja local. Para além disso, aos domingos pregava para cerca de 2.000 estudantes da sua escola e também para os 200 alunos da mesma faculdade onde era diretor. É um currículo invejável.

 

A Ofensa

 

Tanto na sua vida pública como na igreja, era reconhecido como um líder nato. Foi então que algo de extraordinário aconteceu com ele. Em novembro de 1957, o Dr. Roland Brown do Instituto Bíblico de Moody nos Estados Unidos fez uma campanha missionária no Leste de Java. Pak Elias assistiu ao culto no dia 18 de Novembro e a mensagem mexeu muito com o seu coração. Quando as pessoas foram convidadas a ir à frente entregar as suas vidas à vontade de Deus e a Cristo, ele quis obedecer ao apelo. Mas, faltou-lhe a coragem.

Naquela noite, uma batalha feroz deu-se dentro do seu coração. Era como se ele ouvisse uma voz incriminando-o: “Tu não nasceste de novo”. Mas, em resposta o diabo respondia: “Tu já pregas há sete anos e até já és líder da igreja!” Aquela voz interior persistia: “És orgulhoso. Constróis o teu próprio sucesso e crias a tua própria igreja. Deus não tem nada a ver com o sucesso que tens”. Novamente o diabo respondia: “Sempre viveste uma vida boa. Estás no caminho certo. Não existe nada de errado que possam apontar em tua vida”.

A batalha era feroz e continuou noite adentro. Por fim, o tentador falou-lhe severamente: “Fica fora desses cultos! Eles não têm nada de bom para ti”.

Mas Pak Elias voltou ao culto no dia seguinte para ouvir o Dr. Brown. Novamente, a mensagem falou profundamente com ele. Quando o missionário exortou as pessoas a virem confessar os seus pecados publicamente, Pak Elias esqueceu-se de tudo, levantou-se e foi para o altar. Entregou-se a Jesus, confessou seus pecados e rendeu a sua vida integralmente ao Salvador. Termos provas que a entrega foi genuína e integral. Também foi aceito pelo Senhor.

A conversão de Pak Elias caiu como uma bomba no meio do povo da igreja. Não sabiam como reagir. Os pastores, os presbíteros da igreja, os professores da escola dominical e também os membros de todas as igrejas ficaram profundamente chocados e irados contra aquilo que ele fez. De comum acordo, todos começaram a dizer: “Ou ele estava bem com Deus antes e desviou-se, ou então sempre foi um hipócrita. Tanto uma coisa como outra são coisas gravíssimas”. A razão porque as pessoas se enfureceram tanto, na verdade, era porque eles deveriam fazer aquilo que Pak Elias fez e nasceu um temor no subconsciente de todos aqueles que vivam sob uma falsa segurança, a qual estava sendo ameaçada por aquele ato de um líder seu.

Este é um problema comum entre todos os membros das igrejas atuais. Não conseguem aperceber-se o que realmente é a conversão e um novo nascimento e nem a sua extensão, extensão ou implicação. O mesmo podemos afirmar da grande maioria dos ministros do evangelho atuais e da grande maioria dos líderes das congregações locais.

A conversão de Pak Elias e o seu contato conseqüente com a escola teológica do leste de Java resultaram na sua expulsão de presbítero da igreja. Como isto é próprio do nosso mundo cristão atual! A igreja não se endurece com blasfêmia dos ministros e dos pastores; não se ofende quando os seus líderes bebem e fumam; não se importam de falar uns dos outros e de brigarem; mas quando um homem, pela graça de Deus, se converte de todas essas coisas, eles ficam endurecidos e rejeitam-no irados. Durante os anos seguintes, Pak Elias foi proibido de pregar em qualquer igreja. Mas, ele não se deixou afetar por esta condenação porque o fogo de Deus queimava nele fervorosamente. Ele pregava nas ruas e nas estradas por onde andava.

 

Envenenado por Cinzas e Enxofre

 

Em 1960, Pak Elias recomeçou os seus estudos. Freqüentou a Escola Teológica do leste de Java e buscou uma nova formação. O ambiente espiritual da escola respondia a todos os anseios e a todos os clamores com que o seu coração bradava. Em 1961, ele já organizava e participava em campanhas nas ilhas de Celebes, de Java e de Timor. Quando a organização ‘World Vision’, a qual cuidava de crianças órfãs, reconheceu o seu valor, convidou-o para ser seu vice-presidente. Em 1963, Pak Elias estava trabalhando em Borneo e em Rote. Foi durante este trabalho que se encontrou pela primeira vez com o Pastor Gideão, homem que acabou por se converter através do seu ministério.

Mas, 1963 também foi um ano de crise. No dia 17 de Abril, o vulcão Agung na Ilha de Bali, entrou em erupção e soterrou várias vilas. Pak Elias estava ali presente, trabalhando numa campanha. Acabou por entrar na ajuda humanitária levando muitas crianças para lugares seguros. As estradas, contudo, estavam soterradas e cobertas com vários centímetros de cinzas quentes, e como conseqüência, os pulmões de Pak Elias ficaram terrivelmente queimados. No hospital, os médicos começaram a dura batalha pela sua vida, a qual parecia ser em vão. No final, aproximaram-se da sua família e disseram: “É tudo em vão! Os pulmões dele sofreram muito e estão completamente queimados. É uma questão de dias até ele morrer”. Veio uma hora de crise e a sua esposa chamou os médicos responsáveis, os quais disseram: “Ele não vai sobreviver esta noite”. A temperatura do eu corpo subiu até aos 39º. A inflamação espalhou-se, também, para o seu fígado. À meia-noite, entre o dia 30 de Abril e dia 1 de Maio, contudo, este paciente aparentemente em fase terminal começou a cantar. Olhou para sua querida esposa e disse: “Esta não será a minha última noite na terra. Ainda preciso glorificar o Senhor Jesus. O Senhor deu-me dois versículos para confirmar a sua vontade: “A ti também, Senhor, pertence a benignidade; pois retribuis a cada um segundo a sua obra”; “Quando passares pelas águas, eu serei contigo; quando pelos rios, eles não te submergirão; quando passares pelo fogo, não te queimarás, nem a chama arderá em ti”, Sal 66:12 e IS 43:2. Eu passei pelo fogo mas o Senhor livrou-me”. A sua profecia cumpriu-se. Naquela noite, a condição de Pak Elias melhorou substancialmente. No dia a seguir, ele já estava em recuperação total.

Enquanto estava no hospital, ficou claro para ele que teria de abandonar a organização ‘World Vision’ e dedicar toda a sua vida à pregação do evangelho.

 

As Portas Abriram-se

 

Em 1964, Pak Elias foi uma vez mais pregar em Java numa campanha missionária. As igrejas permaneciam encerradas para ele. Recebeu um convite para ir pregar em Sumatra e viajou para lá. Foi lá que presenciou um grande avivamento entre os muçulmanos, do qual já falamos.

Uma noite, Pak Elias foi despertado pelo Senhor e foi-lhe revelado que iria pregar para milhares de pessoas. Por essa altura, ele não tinha a mínima idéia de como ou onde isso iria acontecer e nem o que aquela profecia significava. Mas, sete anos após as igrejas haverem encerrado as portas para ele, recebeu um convite de Bandung. A carta dizia que, todas as igrejas da área, iriam participar ativamente na campanha. Pak Elias mal conseguia acreditar no que estava lendo. Todas as igrejas pedindo para ouvi-lo, a ele, o expulso? Não respondeu ao convite, mas, uns dias depois, recebeu uma nova chamada com o mesmo convite. No entanto, orando, não recebia nenhuma resposta da pare do Senhor e, por essa razão, não se comprometera ainda. Mas, uma semana mais tarde, duas pessoas chegaram de Bandung com outro convite formal para ir pregar na campanha. Três convites! Deve ser a vontade de Deus, pensou. Decidiu ir.

A campanha em Bandung foi um grande acontecimento. Havia 52 igrejas diferentes e todos os pastores participaram ativamente naquela campanha. Um grupo de 75 estudantes, juntamente com os seus professores, veio da Escola Teológica de Java para ajudar na preparação da campanha. As igrejas foram divididas em quatro grupos por ordem de distritos e os estudantes e os professores dedicaram-se inteiramente à pregação da Palavra. Durante aquele tempo de preparação, muitas pessoas foram trazidas a um relacionamento direto com Jesus, os quais, por sua vez, eram treinados a aconselhar pessoas para saberem como orientar as pessoas que se iriam converter durante a campanha. Pak Elias foi o instrumento usado para o efeito. Cada manhã entre 8.000 e 15.000 pessoas vinham ouvir o evangelho e, ao todo, cerca de 3.000 limparam as suas vidas com o Senhor. Os novos convertidos, contudo, não foram deixados ao acaso e vários cultos foram organizados para orientá-los e para edificá-los. Aquela obra de edificação e de seguimento dos novos convertidos durou três meses e a campanha durou 18 semanas.  

Homens de negócios, professores universitários e estudantes foram alcançados pela Palavra de Deus e, como resultado, Pak Elias venceu a barreira da desconfiança que havia contra ele. Todas as igrejas aplaudiram a sua obra, a qual antes rejeitavam friamente, indignados contra ele.

 

Autoridade

 

Em Lucas 9:1,2 lemos: “Reunindo os doze, deu-lhes poder e autoridade sobre todos os demônios, e para curarem doenças; e enviou-os a pregar o reino de Deus”. Onde vemos essa autoridade hoje no meio evangélico? Mesmo que vejamos as igrejas cheias de oradores fantásticos, poucos deles conseguem manifestar e evidenciar Cristo nos testemunhos que dão. E, o numero de cristãos com os dons que Deus distribui pessoalmente, seja para curar ou para expulsarem demônios, são escassos ou quase inexistentes. Pak Elias já disse em várias ocasiões o seguinte: “Eu não tenho autoridade para curar e nem para ressuscitar pessoas da morte”. Mas, ele não disse nada sobre a autoridade que possui sobre demônios e sobre forças ocultas. É um bom sinal que ele não fale das coisas que possui. Sei que, todos aqueles que realmente possuem dons reais, raramente falam deles. E comprovei que, todos aqueles que falam em seus dons, são precisamente aqueles que não os possuem.

Vamos ouvir uma história que se passou dentro da Escola Teológica em Java. Havia um homem que era um feiticeiro muito poderoso. Inscreveu-se para ser motorista dentro da Escola e foi aceite. Havia aprendido as suas artes de feitiçaria em Meca e em Medina. Conta-se que, uma vez, quando vivia na Índia, deixou-se enterrar vivo e ficou quatro semanas debaixo de terra sem respirar. E, eis aqui, um homem enviado por Satanás mesmo dentro da Escola de Deus! Apenas muito gradualmente os estudantes e os professores tomaram consciência da sua presença. Conforme o tempo foi passando, viram a sua habilidade e poder para matar cachorros e outros animais com o seu olhar e poderes de concentração.

Os líderes da Escola foram obrigados a intervir. Convocando o homem para uma reunião, questionaram-no sobre os seus poderes ocultos. Perguntaram-lhe: “É verdade que possuis estes poderes? Consegues matar animais através dos teus poderes?” “Sim”, respondeu. “Não apenas mato animais, mas também mato pessoas”. Fitando Pak Elias nos seus olhos, acrescentou: “Não olhe diretamente para os meus olhos! Se o fizer, dentro de segundos estará morto”. Pak Elias sentiu o desafio no ar e, dentro de seu coração, orando, sentiu a paz de Deus para aceitar o desafio. “Olhe para mim! Em nome de Jesus, ordeno que estes poderes de Satanás sejam presos e inutilizados”.  Passaram cinco segundos e nada havia acontecido, nem a um e nem ao outro. Os dois homens continuaram a fitar-se e o mágico (feiticeiro) caiu repentinamente no chão, inconsciente. O seu corpo estava todo esticado e a sua carne dura como pedra. Pak Elias não desejava que aquele homem morresse e disse: “Em nome de Jesus, ordeno que te levantes”. O feiticeiro recuperou a consciência. Os seus poderes satânicos haviam sido derrotados. Os crentes, depois, começaram a conversar com ele e ele confessou ter quatro agulhas de ouro enterradas dentro da carne dos seus braços. Afirmava que aquela era a origem dos seus poderes. Ele desafiou alguns dos estudantes a cortá-lo e a extraí-las. Fazendo uso duma faca, a sua pele nem se beliscava. Novamente, Pak Elias ordenou, em nome de Jesus, que aquelas agulhas saíssem. As agulhas começaram a movimentar-se e saíram uma por uma sem ninguém mexer nelas. Por fim, o mágico cedeu e prometeu entregar a sua vida a Jesus. Contudo, não cumpriu sua promessa que fez, pois descobriram que ele ainda mantinha certos amuletos e objetos dos quais recusava separar-se. Ele foi demitido das suas funções. Apesar de ser um dos feiticeiros mais temidos de Java, conseguiu, mesmo assim, ficar trabalhando durante quatro meses na Escola que estava sendo usada por Deus para mudar a Indonésia. Satanás consegue infiltrar-se dentro da obra de Deus de qualquer maneira – até mesmo colocando feiticeiros temíveis, onde só Deus deveria estar operando.

Muito poucos cristãos estão verdadeiramente atentos aos esquemas e aos planos que Satanás elabora para confundir e para desarrumar a casa de Deus. Um pastor dos mais sóbrios duma certa Igreja Pentecostal, disse-me uma vez: “Descobrimos, muitas vezes, que várias pessoas com capacidades satânicas, entram no nosso meio e falam em línguas estranhas. Causam desordem e agora somos conhecidos por essa desordem”. A sua observação foi corajosa e revela que tem certa capacidade para interpretar a Bíblia normalmente.

Pak Elias e o Pastor Gedeon estavam trabalhando juntos em Timor em certa ocasião. Gedeon estava pregando num culto há cerca de meia hora quando uma mulher da audiência levantou-se e tentou desorganizar a reunião. A mulher era, na verdade, uma feiticeira e contradizia tudo aquilo que o Pastor Gedeon dizia. Se ele dissesse que o sangue de Jesus nos limpa, ela dizia que era mentira e assim continuava. Por fim, Pak Elias virou-se para Gedeon e disse: Temos de silenciar esta mulher ou, senão, o culto não vai dar em nada. Esta obra é de Satanás e não da mulher”. Virou-se para a mulher e disse-lhe: “Em nome de Jesus, cale-se e venha à frente ouvir a mensagem toda”. A senhora parou com as objeções e foi para a frente ouvir a mensagem. No final, pediu para ser aconselhada, mas não conseguia crer. Apesar disso, todas as pessoas dentro do culto, incluindo o pastor e os presbíteros da igreja, tiveram oportunidade de testemunhar o poder de Deus.

No seu ministério, Pak Elias já experimentou vários tipos de perturbações nos seus cultos. Num outro culto, onde muita gente estava presente, estava uma feiticeira que pretendia perturbar a ordem. Ela saiu do seu banco e foi cair como morta diante do púlpito. Duas pessoas foram vê-la e disseram a Pak Elias: “Ela não está inconsciente. Está morta!” Pak Elias não interrompeu o curso da pregação e entregou a mensagem toda. Depois do término do culto, contudo, ele dirigiu-se à mulher e disse: “Em nome de Jesus, levante-se”. A mulher pôs-se em pé logo de imediato e, confessando todos os seus pecados, foi verdadeiramente salva deles.

 

A Proteção do Senhor

 

Pak Elias foi de avião, certa vez, para a ilha de S. para fazer uma campanha missionária. Antes de ter chegado, um feiticeiro muçulmano que vivia na ilha, teve uma visão na qual lhe havia sido revelado que um homem muito perigoso iria chegar de Java e ele deveria matá-lo a qualquer custo. O feiticeiro foi mandado pelo diabo a ir ao aeroporto, mas o homem não conseguiu perpetrar o seu ato de assassinato porque havia muitos policiais por perto. Pak Elias foi para certa casa, na qual haveria uma reunião. O feiticeiro seguiu-o, mas também ali acabou por não fazer nada, porque havia muita gente que impedia que ele se aproximasse o suficiente para conseguir o que pretendia. No fim do culto, Pak Elias saiu da casa para falar com as muitas pessoas que não haviam conseguido entrar no lugar lotado. O feiticeiro achou que aquela seria a ocasião de matá-lo. Ele era um excelente atirador de pedras, uma arte muito usual na Indonésia ainda hoje. Para aumentar as suas hipóteses de sucesso, o homem espetou algumas agulhas no seu rosto para chamar os seus poderes. Achando o lugar ideal para lançar a pedra, o seu braço esticou-se para atrás para arremessar a pedra. De repente, o seu braço ficou duro e não conseguia dobrá-lo novamente. Pak Elias nem se apercebeu do que estava acontecendo. No final da pregação, ele convidou as pessoas a virem entregar-se a Cristo, arrependendo-se e confessando todos os seus pecados. O feiticeiro veio entregar-se e confessou os seus pecados, incluindo o pecado que o levara ali. Contou, mais tarde, que, no momento que ia lançar aquela pedra, o solo debaixo dos seus pés mexeu-se e cedeu. Confessou o seu terrível plano e, também, os seus roubos, assassinatos e outras coisas mais. No dia seguinte, foi procurar todas as famílias de quem roubara coisas e devolveu tudo o que tinha. Até devolveu uma camisa que trazia vestida, despindo-se dela. Esta história maravilhosa é uma ilustração do modo claro como o Senhor protege os Seus mensageiros.

Os muçulmanos daquela ilha, certa vez, insurgiram-se contra Pak Elias e contra os outros cristãos. Os irmãos em Cristo tentaram proteger Pak Elias, mas ele disse-lhes: “Deixem-nos aproximarem-se de mim. Aqueles que estão conosco são mais do que os que estão com eles”. Os muçulmanos avançaram. Repentinamente, um homem no meio da audiência, o qual tinha vindo para ouvir o que os cristãos tinham a dizer, levantou-se. Ele era um alto oficial do exército e bradou: “Se não pararem imediatamente com a vossa demonstração e se não calarem, darei ordens aos meus soldados para atirarem a matar! Vim aqui para ouvir este homem falar. Sentem-se e ouçam também!” Os ativistas congelaram e alguns deles começaram a sentar-se em lugares vazios. No fim do culto, o oficial veio conversar com Pak Elias e disse: “Preciso de Jesus. O senhor pode ajudar-me a encontrá-Lo? Por favor, mostre-me como devo fazer para segui-Lo”. O seu pedido foi atendido. Certamente que ele era um irmão do centurião de Atos 10.

Numa outra ocasião, Pak Elias estava usando um gráfico de flanela com o intuito de ilustrar o estado do coração do homem. Uma multidão de muçulmanos havia sido incendiada por dois feiticeiros e aproximavam-se. Os Cristãos começaram a preparar-se para o pior. No meio da mensagem, Pak Elias falou com o povo cristão e pediu para que não se inquietassem com nada e que dessem toda a atenção à mensagem. Ele lia o Salmo 2: “Por que se amotinam as nações e os povos tramam em vão?...” quando terminou, ele concluiu: “O Evangelho de Cristo precisa ser gritado nas trevas e proclamado em voz alta onde existem trevas”. Enquanto falava, os dois feiticeiros envolvidos acidentaram e, antes do culto ter terminado, estavam ambos internados no hospital.

O último ataque que iremos descrever terminou pior. Uma vez mais, deu-se com muçulmanos. Tentaram, através de outra demonstração, impedir uma enorme concentração de cristãos e de pessoas que desejavam ouvir a Palavra de Deus. Dois homens, em particular, eram os maestros do tumulto. Como terminou aquilo tudo? Uma semana mais tarde, um deles caiu dum precipício no seu carro e o outro afogou-se no seu barco quando saiu para o mar e uma onda súbita engoliu o seu barco. Devido a esses acontecimentos, o povo que participava nos tumultos, ficou alarmado e cheio de medo porque considerava aqueles dois homens como seus líderes. Haviam escrito cartas para entregarem às autoridades locais, queixando-se da obra que os crentes estavam fazendo na sua área. Mas, aquelas cartas nunca chegaram a ser enviadas. Diziam: “É muito perigoso entrarmos para a lista negra dos crentes, eles têm de estar a favor de nós e não contra nós!” Foi assim que aquela ameaça de Satanás favoreceu toda a obra de Jesus e dos seus filhos.

Sê o nosso Salvador ainda hoje;

Tu que és Senhor sobre a Vida e sobre a Morte;

Dá-nos a graça de engrandecermos o Teu nome;

Até ao nosso último fôlego!

 

XXII. SABEDORIA A SEUS PÉS

 

Pak Elias, pela graça de Deus, conseguiu alcançar tanto os sábios e estudiosos como os analfabetos, os pequenos e os grandes, os importantes e os insignificantes. No entanto, sabemos que estas coisas e estas distinções nem existem para o Espírito Santo. Elas simplesmente não existem! Quem acha que é alguma coisa, tornou-se nada. Mas aquele que se apercebe da realidade da sua insignificância, diante da majestade de Deus, recebe graça.

Já ouvimos falar aqui dum professor universitário em Palemburg que, reconhecendo os seus pecados e a sua própria pobreza de espírito, achou Cristo numa campanha de Pak Elias na sua cidade. A história foi repetida em Bandung onde uma mulher achou a chave da verdadeira sabedoria. Paulo disse, acerca disso: “Conhecê-lo e a ao poder da Sua ressurreição”, Fil. 3:10.

 

Conhecer Jesus

 

Não existe caminho mais sublime que este. Mesmo que cavássemos as profundidades dos credos, das existências e do mundo, nunca iríamos achar verdade mais sólida. É somente Jesus que pode ser o lugar central de todos os pensamentos dos homens. Nunca algum ser deve tentar retirar esta verdade do seu lugar devido.

Vamos, agora, ouvir o testemunho duma mulher excepcional. Ela não é apenas uma advogada, mas, também é uma professora na Universidade de Bandung. Quando conheci a Sra Mapalley na Indonésia, fiquei deveras interessado na sua obra, pois, ela fez a sua tese de doutoramento tendo o ocultismo como assunto – tal como eu. O título da sua obra é: “Uma Breve Análise das Várias Formas de Ocultismo na Indonésia de Hoje”. Melhor ainda: ela concordou traduzir para Indonésio o meu livro “Entre Cristo e Satanás”. Vamos ouvir o testemunho dela.

Dois anos atrás, Pak Elias fez uma campanha em nossa cidade. Na mesma semana, um cantor pop muito conhecido, converteu-se. Ficou tão cheio do amor de Cristo que, logo de seguida, ligou-me para me perguntar se estaria disposta a cantar juntamente com ele num dos cultos. Concordei e cantamos todas as noites um hino que tinha como tema o Filho Pródigo. Inicialmente, nem suspeitava que aquele tema estava falando de mim. No passar da semana, cada mensagem tornava-me ainda mais hiper-consciente da minha ruindade e pobreza interior. Por fim, não agüentando mais, entreguei-me a Cristo.

Como resultado da minha conversão, pedi a Pak Elias para visitar a nossa casa, na esperança de que os meus familiares achassem o caminho para Cristo também. Naquela noite, sentia-me muito consciente de como realmente havia sido perdoada pelo Senhor Jesus, radiava esperança no futuro e experimentava uma alegria que ninguém conseguia tirar de mim.

Antes desta experiência maravilhosa, a minha vida era gerida e instrumentalizada por uma vida rotineira de igreja e eu segurava-me numa visão doutrinária muito tradicional. O meu pai foi pastor evangélico e ensinou-nos sempre a fazer as nossas orações. Mas, nós nunca fomos instruídos a entregar as nossas vidas e todos os detalhes dela, um por um, a Cristo.

Para além dos meus estudos, a minha vida de criança e de jovem, também foi dedicada ao desporto. Eu era uma tenista apaixonada e o meu passatempo favorito era arrecadar troféus atrás de troféus.

Capacidades de Médium

 

Pode parecer estranho falarmos dos muitos crentes ainda presos em correntes ocultas de opressão espiritual. Pode parecer ainda mais estranho dizer que sofrem opressões sendo crentes. Foi terrível para mim quando descobri que eu era uma das pessoas a quem se referiam as palavras de êxodo 20:5: “Porque eu, o Senhor teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a iniqüidade dos pais nos filhos até a terceira e quarta geração daqueles que me odeiam”. O meu avô, na verdade, foi um feiticeiro. Mesmo que o meu pai tenha sido pastor, existia uma linhagem de poderes e de correntes do diabo sobre toda a nossa família. Essas capacidades e demonstrações satânicas encontraram expressão precisamente em mim. Já quando eu era criança, notei que possuía certas habilidades de adivinhação e de ocultismo. Ouvia vozes ocasionalmente e sentia a presença real de seres invisíveis cantando para mim. Sempre que me encontrava com alguma pessoa estranha, detectava imediatamente que tipo de pessoa era e o que estava pensando. Para piorar as coisas ainda mais, costumava ter certos sonhos que se realizavam mais tarde – algo que me fez ter muito medo de sonhar.

Posso dar um exemplo do qual me recordo neste momento. Após o meu casamento, sonhei e vi que dois médicos inclinarem-se sobre mim numa cirurgia. Um deles era Indonésio e o outro era Ocidental. Ainda me recordo da lâmpada que iluminava a sala de cirurgia. Na manhã seguinte, contei à minha irmã o que havia sonhado e ela serve como minha testemunha disto que estou aqui dizendo. Uma semana depois, deu-me uma dor intensa na zona do meu estômago e os médicos suspeitaram que fosse apendicite. Decidiram que era necessário recorrerem a uma cirurgia. O sonho que tive concretizou-se detalhadamente, incluindo os médicos e a lâmpada daquela sala. O pior de tudo é sentirmos vergonha ou medo de falarmos destas coisas.

As minhas duas filhas também herdaram estas capacidades satânicas. A mais velha tem capacidades telepáticas e uma disposição interior de hiper-sensibilidade. Isto significa que ela tornava-se mais consciente das coisas à sua volta do que outras pessoas. Ela funcionava como se fosse um receptor de rádio, o qual apanhava no ar todos os sinais invisíveis à sua volta. Mas, pior ainda, ela contatava diretamente com o mundo dos espíritos e acordava de noite confrontando-se e debatendo-se com terríveis batalhas. A outra filha também experimentava a presença de seres invisíveis dentro de casa. Ela via mesmo os espíritos.

As pessoas que trabalhavam em nossa casa também se apercebiam de muitas coisas que se passavam no mundo invisível. Como exemplo, posso citar como a cozinheira que me viu duas vezes dentro do quarto, vestindo-me, quando eu nem estava em casa! Numa outra ocasião, a faxineira afirmou que viu um ídolo de Bali dançando e pulando na minha janela com certo ritmo. A minha filha entrou no quarto e perguntou irada: “Quem está batendo na janela? Estão a enervar-me!”

Os espíritos invisíveis pareciam atormentar todas as pessoas dentro de casa. Já não sabíamos o que fazer. Uns meses mais tarde, David Simeon visitou o nosso distrito com um grupo de estudantes da Escola Teológica. Quando lhe contei o que estava acontecendo, fiquei surpreendida ao verificar que ele, não apenas sabia do que se tratava, mas também tinha experiência de expulsar demônios de casas e de pessoas! Depois de o grupo ter entrado em todos os quartos da minha casa e comandado todos os espíritos saírem dali em nome de Jesus, a nossa casa tornou-se um ambiente de paz e de quietude.

O Senhor ensinou-me muitas coisas através destas experiências estranhas. Em primeiro lugar, nunca me havia apercebido que os pecados de feitiçaria do meu avô poderiam exercer influencias sobre as nossas vidas, mesmo que o meu pai tenha sido pastor. As opressões de ocultismo podem, por isso, permanecer nas vidas de crentes nominais e até conseguirem atingir várias gerações seguintes. A segunda lição que aprendi, foi que, apesar da minha conversão ser genuína e evidente, nunca havia sido verdadeiramente liberta daqueles poderes ocultos. Necessitei de aconselhamento e de tratamento especializado. Deus foi muito misericordioso para mim. Em terceiro lugar, aprendi que, até as minhas filhas sofriam deste mal. Esta foi a parte mais dolorosa desta experiência. Elas também herdaram as capacidades ocultas do meu avô. E, por último, a nossa casa foi afetada também. As pessoas, sob opressões e sob maldições deste gênero, geram opressões sobre aquilo que possuem e sobre as coisas que os circundam.

Estas foram as quatro lições específicas que retirei sobre como os pecados de ocultismo e de feitiçaria são uma maldição automática colocadas sobre as pessoas, até mesmo três e quatro gerações depois. Contudo, nunca teria a coragem de falar sobre estas coisas, mesmo que fossem fatos reais e fenômenos visíveis e palpáveis. Se não tivesse aprendido uma outra lição, também não teria falado com ninguém sobre os nossos problemas. A lição a mais que aprendi, também, foi que, mesmo sendo atormentados e rodeados pelo poder do nosso inimigo de sempre, o poder do nosso Senhor Jesus derrota para sempre até as insinuações das coisas que saem da cartola e da boca de Satanás. Jesus derrotou todos os poderes do mal. Por essa razão e através d’Ele, derrotamos qualquer inimigo e podemos ser mais que vitoriosos sobre qualquer poder.

Com estas grandes lições, aprendi a maior de todas: Jesus é e continuará sendo vitorioso sobre qualquer coisa, sejam poderes na terra ou vindos de Satanás e do inferno!

Olhando para trás, posso ver e entender porque razão Deus permitiu que passasse por todas estas experiências. Mesmo que muitas pessoas estejam, ainda, presas e oprimidas por poderes idênticos na Indonésia, não existe mais ninguém em nosso país para além dos estudantes da Escola Teológica, que saiba lidar com este fenômeno e, também, de aconselhar da maneira certa as pessoas sob essas influencias de opressão. Pelo menos, eu encontrei ajuda séria e eficaz nestes servos do Senhor. No mínimo, eles são corajosos e enfrentam os poderes de Satanás sem virarem a cara. Desde que a minha libertação aconteceu, Jesus enviou muitas pessoas até mim para serem ajudadas e as quais também consegui aconselhar. Esta escola de dificuldades preparou-me para a obra de libertação, também.

Todo o poder vitorioso do nosso Senhor Jesus é a única resposta que temos para todos os problemas deste mundo, incluindo os problemas e os dilemas da feitiçaria e do ocultismo. Verdadeiramente.

Aqui termina o testemunho da Sra Mapalley. Fiquei sensibilizado pelo testemunho desta mulher e senti-me encorajado a continuar esta grandiosa obra na área do ocultismo. Animei-me pelo fato de esta professora universitária ter chegado às mesmas conclusões que eu cheguei sobre este tema. Só nos encontramos em 1968, mas, após ter lido os meus livros, ela disse: Isto é exatamente aquilo que descobri por experiência própria! Posso traduzir este livro para Indonésio?” Creio que o pedido veio do Senhor.

 

XXIII. O DONO DE UMA PLANTAÇÃO ENCONTRA CRISTO

 

Nas conferências do Leste de Java, tive o prazer de conhecer o Sr. Tanen Djin. Ele falou-me em alemão. É um homem de enormes talentos.  Fala fluentemente em vários idiomas e viajou pelo mundo inteiro. Vamos deixar que seja ele a contar-nos a sua história.

Nasci em 1905. Os meus pais eram Confucionistas devotos. No tocante à minha educação, freqüentei uma escola Holandesa. Devido às nossas convicções religiosas muito fortes, eu e a minha esposa casamos de acordo com todos os procedimentos da religião de Confúcio.

O nosso casamento deu-nos três filhos: Boon, Hooi e Leong. Eles estudaram em Roterdão, Londres e Amestardão. Leong tornou-se famoso como jogador de xadrez, havendo-se tornado num dos melhores do mundo.

Eu e a minha esposa éramos extremamente religiosos. Mas não sabíamos nada sobre o Senhor Jesus. Começamos a orar a Deus em 1932, mas, como os de Atenas em Atos 17, orávamos a um Deus desconhecido.

A 2ª Guerra Mundial e as ocupações Japonesas foram momentos muito difíceis para todos nós. Fomos perseguidos de muitas maneiras e atormentados com impostos muito altos. Seguiu-se a guerra entre os Holandeses e os Indonésios. Isso também nos afetou muito.

Depois veio a tragédia: o nosso filho exemplar e talentoso ficou mentalmente doente. Recebemos um telegrama dos nossos amigos na Europa, o qual nos informava que Leong havia sido admitido no hospital de Amesterdão. O médico disse-me que ele sofria de um tipo de esquizofrenia incurável. Foi um grande choque para toda a família e um abalo enorme para mim. Ao falar com os seus médicos, disseram-me: “Leve-o de volta para a Indonésia. Terá maiores hipóteses de se recuperar num ambiente familiar no sol tropical”.

Voltamos para Bandung. Quando chegamos, Leong continuou a ser tratado. Os médicos prescreveram-lhe os mesmos medicamentos que lhe haviam prescrito no Holanda: Largactil, Librium e Serpasil.

Mal souberam que o meu filho estava de volta, os seus antigos amigos começaram a telefonar para casa. Incentivaram-no a participar no xadrez novamente. Leong tinha, na verdade, feito parte da equipa internacional, a qual havia viajado até Leipzig para as Olimpíadas de xadrez em 1960. Ele conseguiu uma pontuação de 16,5 nos 20 possíveis. Os seus amigos desejavam que ele fosse com eles para um campeonato na Europa em 1965. Contudo, tudo aquilo apenas piorou o seu estado de saúde e ele acabou por ser internado num hospital militar para ser tratado. Mas, não havia qualquer esperança e as condições do Hospital não eram boas.

Tentamos de tudo para que ele saísse do hospital, pois os quartos eram fechados com grades de ferro. Quando conseguimos, ele acalmou-se um pouco. Na nossa ignorância, permitimos que o nosso filho fosse tratado por um astrólogo. Foi um erro desastroso. Os pais desesperados fazem qualquer coisa para poderem tratar os seus filhos. Mas, nem se apercebem de que lhes estão a causar danos irreparáveis. Essa deveria ter sido a última coisa a que recorrer. Colocamos o nosso filho sob os poderes das trevas e ficou exposto a eles.

Depois de termos conversado com alguns obreiros missionários, os quais tentaram mostrar-nos o caminho para Cristo no final de 1965, conseguimos suspeitar que a nossa religião (de Confúcio) estava a enganar-nos. Contudo, ainda não estávamos preparados para aceitar o Caminho Certo. No entanto, começamos a orar ao Deus dos Cristãos esse ano – era apenas mais um, para nós.

Em Março de 1966, o Pastor Simeon e a sua esposa chegaram à nossa cidade vindos da Escola Teológica e fizeram uma série de cultos e palestras. A Sra. Simeon usou muito do seu tempo para nos aconselhar e ajudar. Ela tentou levar-nos ao Senhor. Contudo, os nossos corações eram duros como diamantes e não conseguiram segurar o apelo feito para nos entregarmos Cristo.

Em Maio do mesmo ano, Pak Elias chegou a Bandung com o seu grupo. Quando ele encorajou as pessoas a irem à frente entregarem-se a Jesus e se arrependerem dos seus pecados, finalmente decidimos tomar o passo decisivo. Pela primeira vez em nossas vidas, todos os pesos caíram. Estávamos muito preocupados, na altura, sobre o que os nossos pais iriam dizer por abandonarmos a fé de Confúcio. Fomos correndo para casa e contamos o que fizemos. Inicialmente, ficaram muito chocados e disseram: “Agora não temos ninguém. Quem é que vai sacrificar para nós quando morrermos? Ninguém nos irá visitar no outro mundo, depois de morrer”. Tentamos confortá-los, mas não serviu de nada. Naquele preciso momento, entraram Leong e a minha esposa apressadamente. Era muito visível a alegria e o brilho nos seus olhos por se haverem entregado ao Senhor Jesus. Os meus pais aperceberam-se da mudança também. Por essa razão, acabaram por aceitar melhor o passo que havíamos dado.

Com esta mudança em nossa vida e com o conhecimento de Jesus, a alegria entrou para o nosso lar. Jesus transformou tudo. Nem dava para acreditar. Era glorioso demais. Mais tarde, mais uma porção de alegria redobrada foi-nos acrescentada com a visita de Pak Elias. Enquanto ele estava conosco, confessei todos os meus pecados, um por um, diante dele, experimentando o verdadeiro perdão de tudo quanto fiz. A enfermidade do meu filho sumiu. Os médicos de Amesterdão estavam enganados: Jesus cura ainda. Quando já não existe esperança, ainda sobram milhares de hipóteses em aberto nas mãos do Senhor Jesus. O seu braço nunca será curto demais de forma que não nos consiga ajudar. A cegueira do homem é que o faz pensar que o braço de Deus não consegue salvar.

No dia 21 de Julho de 1966, a minha esposa, Leong e eu fomos batizados. As coisas velhas passaram, eis que tudo se fez novo através do Senhor Jesus Cristo. Olhando para trás, não consigo entender porque razão nunca decidi seguir Jesus antes. As coisas são tão claras. É muito estranho. Não tenho explicação para as razões que me mantiveram tão longe de Deus durante tanto tempo. Já poderia ter entregado a minha vida a Jesus há tanto tempo! Por que tanta tolice, por que razão deixamos passar as nossas vidas sem vida, se Ele é a fonte da coisa mais agradável que nos pode acontecer, isto é, o perdão de todos os nossos pecados? Através d’Ele temos paz com Deus, uma paz que ninguém pode tirá-la de dentro de nenhum de nós!

 

O avivamento na Indonésia tocou profundamente em todos os acordes meu coração. Desde que voltei daquelas terras longínquas, as palavras do grupo de coral na Ilha de Ambon ainda estão nos meus ouvidos e nos meus sentidos. Eles cantaram em alemão para nos darem as boas vindas à sua terra. 

Jesus minha alegria,

Tu pastoreas no meu coração;

Jesus minha coroa, como anseio pelo lugar onde estás!

Jesus, Tu és meu, eu pertenço-Te;

Não existe nada mais querido na terra para mim do que Tu.