E Teus Irmãos?

“E ele lhe disse: ora vai e vê como estão os teus irmãos...” (Gênesis 37.14)

Na prisão, nós mal podíamos andar. Arrastávamos pesadas correntes nos pés—algumas vezes com mais de 20 quilogramas. Os guardas nos batiam na sola dos pés com cacetetes de borracha. Quem sabia de todas essas coisas e quem iria orar por nós?

Há um versículo na Bíblia que é muito apreciado pelos crentes: “Pois decidi nada saber entre vocês, a não ser Jesus Cristo, e este, crucificado” (1 Coríntios 2.2).

Numa ocasião especial, Paulo falou aos Coríntios somente sobre Jesus e este crucificado. Mas este não é o único assunto da Bíblia. Existe o Pai, o Espírito Santo, os anjos, os arcanjos e os santos sobre a terra. Há também muitos problemas que precisam ser tratados. Paulo falou sobre problemas até entre pais e filhos, maridos e mulheres, sobre as atitudes dos cristãos em relação às autoridades. Ele fala sobre muitos assuntos.

Quando ele fala a respeito de Cristo, ele não fala apenas sobre a Sua crucificação. Numa certa ocasião ele falou, mas Jesus esteve crucificado durante apenas três horas. Ele esteve bem vivo por mais de 30 anos. Ele foi uma criança, cresceu e pregou e realizou milagres.

Depois de ser crucificado, Jesus ressuscitou e subiu aos céus. Paulo também nos diz que Ele vai voltar.

Por isso a crucificação de Jesus é um assunto importante entre os cristãos. Não é o único assunto.

Quero falar sobre um assunto que existe na Bíblia e é raramente mencionado nos sermões. Paulo estava numa prisão perto de Roma. Eu visitei essa prisão. A cela em que estive detido era exatamente igual a cela de Paulo: ficava embaixo da terra. Ele não via a luz do sol. Durante vários anos eu fiquei sem poder ver a luz do sol, os prados, as campinas.  Tínhamos que ficar naquelas celas com correntes presas aos nossos pés e mãos. Tudo o que podíamos ver eram as paredes cinzas e os nossos uniformes cinzas. Cheguei a esquecer que existiam cores. Nossas celas eram à prova de som. Não conseguíamos ouvir nem um sussurro—nenhuma voz humana. As vozes interiores também se calaram. O silêncio era tão pesado naquela prisão que se podia corta-lo com uma faca.

Era o mesmo tipo de prisão em que Paulo esteve preso.

Em Colossenses 4.7-9, lemos que Paulo envia dois homens, Onésimo e Tíquico, para falarem aos cristãos: “Eles irão contar-lhes tudo o que está acontecendo aqui [nas prisões de Roma].”

Eles estavam acostumados a ouvir sobre o Pai, o Filho e o Espírito Santo, e também sobre a volta de Jesus, o céu, o inferno, o juízo final e o estado de suas almas. Agora, Onésimo e Tíquico precisam ir e fazer mais uma coisa: contar a eles que há cristãos na prisão.

Os cristãos precisam saber o que está acontecendo com seus irmãos e irmãs ao redor do mundo. Jacó mandou José ver como estavam seus irmãos e trazer notícias deles. Em 1 Samuel  17 também está escrito que Jessé mandou seu filho Davi à frente de batalha para ver como estavam os seus irmãos.

Isso é muito importante. Nós temos irmãos e irmãs e parentes, e de tempos em tempos queremos saber como eles estão passando. Escrevemos para eles. Às vezes telefonamos, mesmo que seja caro. Precisamos saber como eles estão.

Como estão seus irmãos e irmãs da China? Do Afeganistão? Do Sudão? Alguém pode alegar que o Afeganistão fica muito longe, mas a terra fica bem longe do céu. Jesus poderia ter dito ao anjo que lhe informou que as coisas não estavam muito bem com a humanidade na terra: “Terra, terra, onde fica esse lugar? Ah, o pequeno planeta a alguns milhões de quilômetros daqui. É muito longe. Conte-me outra coisa.”

Nada é tão distante para o amor. Algumas pessoas têm filhos que moram bem longe. Assim como não existe “muito longe” para uma mãe, também não existe “muito longe” para o amor cristão. 

Séculos atrás, houve cristãos que sentiram que o nosso país não ficava muito distante. Eles mandaram homens para falar do Salvador. Os crentes do Sudão, China, Vietnã, Cuba e Afeganistão são nossos irmãos.

O Afeganistão é um país muçulmano. Há poucos cristãos lá, mas há cristãos. Há igrejas secretas no Afeganistão. Como elas estão passando? Somos informados o que o talibã do Afeganistão faz aos que não concordam com ele. Eles são violentamente perseguidos, exatamente como seus irmãos e irmãs nos países comunistas e muçulmanos que se recusam a negar Cristo e abraçar as crenças sem Deus e sem amor dos governos.

Precisamos pregar a Cristo e este crucificado, mas e quanto a meus irmãos e irmãs? Eles são tão valiosos que Cristo morreu por eles; por isso, o próprio Cristo deseja que saibamos o que acontece com eles. Precisamos amá-los. Precisamos chorar de compaixão por eles. Precisamos ajudar, na pequena medida da nossa possibilidade, aos que nunca estão tão distantes para o amor.