Lembrem-se dos que estão presos

 por Richard Wurmbrand - 01/12/1998

 

Queridos irmãos e irmãs,

"Lembrem-se dos que estão na prisão, como se aprisionados com eles..." (Hb 13.3).

Como eu gostaria de poder descrever em meus sermões os mesmos sentimentos que Jesus tinha ao pregar, ou de Paulo quando ele lembrava das suas prisões.

Um antigo cristão ortodoxo, John Golden-Mouth (João Boca de Ouro), quando estava trabalhando nas suas explicações das epístolas, orava para que Deus o ajudasse a interpretar fielmente.

Um monge, Proclu, costumava ficar observando da sua janela a sala em que João trabalhava. Uma noite, ele viu alguém que parecia-se com o apóstolo Paulo, como representado nas pinturas, sentado ao lado de João, ditando para ele. Na manhã seguinte, Proclu procurou João: "Quem era o homem que estava com você ontem à noite e que ditava para você escrever?"

João respondeu: "Não tinha ninguém comigo ontem à noite!"

Outro monge, Iehie, também teve uma visão dos apóstolos João e Pedro visitando João Boca de Ouro e ministrar-lhe poder no preparo da sua pregação. Ele, que estava recebendo o poder do alto não tinha consciência do que estava acontecendo a ele.

Nossa esperança é que hoje o Espírito Santo esteja inspirando os mensageiros da Palavra de Deus, cercando-nos com a nuvem de testemunhas mencionada em Hebreus 12.1. Dos púlpitos e das escrivaninhas falam pessoas inspiradas e autorizadas por Deus, como se trabalhando com Ele.

Os domingos são dias de tremendas responsabilidades para os pregadores e também para os ouvintes. A Palavra de Deus é pregada e ouvida. Nossos cultos podem ser chamados de "cultos de adoração", mas esta é uma idéia muito vaga. Culto de adoração é na verdade tudo o que um cristão verdadeiro realiza durante a semana inteira, no trabalho fora de casa como no meio da família.

No domingo, nos reunimos para receber ânimo e luz para o culto de adoração que devemos realizar durante a semana seguinte. O ensino que recebemos na igreja no domingo precisa ser a nossa meditação durante toda a nova semana que está para começar. Como o boi que adoece se não ruminar a sua comida, da mesma forma, o cristão que não "rumina" a palavra recebida no domingo não pode ser um cristão saudável.

Certo dia, em certa igreja, chegou um pastor novo. Logo no começo, ele impressionou a todos com a sabedoria do seu sermão. A notícia se espalhou, e no domingo seguinte a igreja estava lotada. O pastor pregou o mesmo sermão do primeiro domingo. As pessoas o desculparam dizendo: "Ele deve ter repetido o mesmo sermão porque viu que eram outras pessoas presentes ao culto desta vez."

No terceiro domingo, ele pregou a mesma coisa. E, assim foi no quarto domingo. As pessoas lhe perguntaram: "Você sabe pregar alguma outra coisa?"

Ele respondeu: "Não há razão para eu pregar um novo sermão, porque eu ainda não vi ninguém de vocês pondo em prática o ensino do primeiro!"

A prisão produz uma erosão terrível no caráter e na fé dos cristãos. Por isso, a prisão é pior do que a morte. Provavelmente, é mais fácil morrer por Cristo do que ser preso por causa dele.

No século 16, a região de Flandres pertencia à Espanha sob o reinado de Felipe II, o mesmo Felipe que mandou o Duque de Alba exterminar os protestantes. Quem fosse encontrado estudando a Bíblia era enforcado, morto na fogueira, afogado, esquartejado ou enterrado vivo.

Os inquisidores foram mandados para inspecionar a casa do prefeito de Brugge para ver se estava tendo algum estudo bíblico. Acharam a prova da acusação. Todos disseram não saber nada a respeito.

Uma jovem criada, Wrunken de Roneses, declarou: "Eu estava lendo a Bíblia!"

O prefeito tentou defendê-la: "Ah não, ela só tem o livro, mas não o lê." A criada não queria ser defendida com uma mentira: "É verdade, este livro é meu, eu o leio e para mim ele é mais precioso do que tudo na vida!"

Ela foi condenada à morte por sufocação, emparedada no muro da cidade. No lugar, pouco antes da execução, ela foi interrogada pelo oficial: "Tão linda e tão jovem e quer morrer?" Ela respondeu: "Meu Salvador morreu por mim. Eu também morrerei por Ele."

E o muro ia sendo levantado mais e mais alto, já chegando à altura do seu rosto, quando ela foi novamente avisada: "Você vai morrer sufocada!" Ela respondeu: "Vou estar com Jesus."

Quando faltava apenas um tijolo para fechar a parede, ela foi mais uma vez avisada: "Arrependa-se! Basta uma palavra!" Ela disse simplesmente: "Ó Senhor, perdoa os meus matadores!"

Os ossos dela foram encontrados depois de muitos anos. Agora ela está sepultada no cemitério de Brugge.

Morrer por Cristo é fácil. Mas a prisão destrói.

Dizem que Niels Mauge, que no início do século 19 deu início ao reavivamento por Cristo na Noruega, foi jogado na prisão onde ficou sete anos por causa da sua fé. Saiu de lá um homem quebrado, não só no corpo, mas também na alma. Na prisão ele foi praticamente induzido a ler somente livros racionalistas. Só e não tendo nenhum outro livro, ele tinha somente aqueles tipos de livro para ler e, com isto, a sua fé foi abalada.

Quando você encontrar um homem que sofreu, não fique espantado se ele tiver a fé enfraquecida. Em vez disto, você deveria se maravilhar de ele ainda ter fé. Na China, no Laos e na Coréia do Norte, e no mundo muçulmano, os cristãos estão na prisão onde a fé deles pode ser corroída e destruída. Eles precisam do seu amor e da sua compreensão. Os santos do Novo Testamento pregaram com as suas experiências da prisão. Lembrem-se dos santos que estão hoje nas prisões. Imagine-se a si mesmo na mesma situação e ore por eles.

Agradecemos pelo seu cuidado amoroso.

Sinceramente em Cristo,

Richard Wurmbrand.