Por Que Sofrer?

“Aqueles que sofrem... devem confiar sua vida ao seu fiel Criador...”   (1 Pedro 4.19).

A dor mais forte do que todas as outras que suportavam os romenos e os habitantes de outros países comunistas era não saber por que tinham que sofrer tanta dor. Este pensamento paralisa a mente.

Cerca de 50 milhões de pessoas inocentes foram mortas na Rússia; na China, outros 50 milhões. Ninguém sabe quantos foram mortos na Roménia e em outros países. Uma pessoa estava presa por ser judia; outra, por ser anti-semita. Pastores eram presos por fazer propagando religiosa; ateus, por terem sido ineficazes em sua propaganda anti-religiosa. Anticomunistas sofriam ao lado de comunistas que tinham caído fora da graça do próprio partido por causa da interpretação de algum princípio marxista.

Prisioneiros espancados e com fome renunciavam algumas poucas horas de sono para discutir questões intermináveis como: “Por que estão acontecendo todas essas coisas connosco e com o mundo?”, “Deus existe?” e “Onde está Deus em tudo isto? Ele não é todo-poderoso e amoroso? Ele poderia ter evitado que essas coisas acontecessem ou, pelo menos, acabar com elas agora mesmo. Por que Ele não faz isso?”

Um prisioneiro judeu, que tinha ficado louco, vivia repetindo uma palavra em hebraico “Maduah?” – “Por que?”

Nunca vi um prisioneiro que ficasse satisfeito com a explicação de que a causa de todos os males – Auchwitz, Gulag, Piteshti, etc. – é o fato de Adão e Eva terem comido o fruto proibido. Eles se tornaram pecadores e transmitiram a sua natureza pecaminosa aos seus descendentes através de todas as gerações. Até a natureza foi contaminada pelo pecado. Ovelhas são comidas por lobos, os peixes menores pelos peixes maiores e crianças são espancadas até sangrar na frente dos seus pais para obrigá-los a confessar – tudo porque milhares de anos atrás um casal comeu um certo fruto. A culpa é do pecado original.

Pode ser por causa da natureza pecaminosa herdada de Adão que os seus descendentes da nossa geração não conseguem entender essa explicação. Estas são algumas das outras explicações que ouvi ao longo dos anos: “Deus não existe e, portanto, não tem sentido”. “Estamos sendo castigados pelos nossos próprios pecados”. “O sofrimento não é real, é apenas ilusão. Ele pertence ao reino da imaginação”. Mas estas explicações também não satisfaziam.

Um prisioneiro que tinha conseguido escapar de um campo nazista, no qual perdera quase toda a sua família, e agora sofria sob o comunismo, gritava desesperado: “Já não aguentei o suficiente dos nazistas e dos comunistas? Por que você quer agora me atormentar com as suas explicações sem sentido? Já não basta todo este sofrimento? Não piore as coisas com as suas explicações!”

Os crentes que conhecem Deus pessoalmente deveriam confiar n’Ele sem fazer perguntas. Nossas mentes não conseguiriam entender a resposta.

O povo judeu, geralmente considerado muito inteligente, teve Jesus em carne e osso no meio dele. Ele falou com eles numa linguagem simples e clara, mas eles não O entenderam nem quando ele lhes falou através de parábolas simples. Os próprios discípulos só conseguiam entender Jesus em parte, mas eles creram n’Ele. Isto é fé. Ela complementa a razão, que só consegue compreender uma porção infinitamente pequena deste universo imenso. Até hoje, não sabemos precisamente o que é um átomo. A cada dois anos muda a imagem que a ciência consegue definir de um átomo. Como podemos, então, querer entender Deus?

Como as crianças na escola, os discípulos de Jesus avançam do meramente humano para o divino. São aprendizes. Não se pode aprender na escola elementar o que é ensinado na universidade. Um dia “conhecerei como sou conhecido” (1 Coríntios 13.12).

De todas as respostas à pergunta “Por que tanto sofrimento?”, a mais constrangedora é simplesmente: “Não sabemos”.

Disse Jesus: “Ao vencedor darei o direito de sentar-se comigo no meu trono, assim como eu também venci e sentei-me com meu Pai em seu trono” (Apocalipse 3.21). Há um trono a partir do qual são criados e governados os universos. Esse trono vai ser meu também. Hoje, eu preciso pacientemente aprender tudo o que vou precisar para o momento da entronização. O conhecimento do sofrimento faz parte do currículo. O próprio Jesus se fez perfeito através do sofrimento.

Alguns teólogos adoptam um tom mais suave do que o da Bíblia, alegando que Deus apenas permite o mal. Mas, em Isaías, Deus diz: “Eu faço o bem e crio o mal” (Isaías 45.7 – Mal, aqui traduzido da palavra hebraica “ra”, inclui tudo o que os homens chamam de mal: desgraça, infortúnios, punição, dificuldades, coisas que sobrevêm ao homem por causa do pecado).

O treinador de cavalos de corrida não constrói somente a pista de corrida, mas também os obstáculos que o cavalo precisa ultrapassar. È uma comparação que pode parecer inadequada para nós, porque nós temos que suportar terríveis torturas físicas e psicológicas. Quando enfim nos encontrarmos com Jesus face a face, veremos que os nossos sofrimentos foram insignificantes em comparação com o que teremos conquistado. As cicatrizes serão os nossos ornamentos. Os feridos serão recompensados por tudo o que perderam. Os que foram mortos terão uma vida exuberante.

Os cristãos, portanto, não enfrentam o problema do mal, mas os seus desafios. Problemas deprimem, desafios nos estimulam à ação. Os cristãos da Roménia não viam possibilidade alguma de solucionar os problemas, mas aprenderam a transcendê-los, enxergá-los como lugares celestiais. Para nós, bastavam os sofrimentos que os comunistas nos infligiam. Tomamos a decisão de não nos torturarmos com sofrimentos auto-infligidos, como ficar filosofando sobre o incompreensível.

Cada tormento era apenas mais um desafio para sobrepujarmos o maior obstáculo: ganhar o atormentador através do amor. Amemos os nossos inimigos, e a será grande a nossa recompensa (Lucas 6.35).