ENSINAR  A  GUARDAR  AS  SUAS  OBRAS

“Mas o que tendes, retende-o até que eu venha. Ao que vencer e ao que guardar as minhas obras até o fim, eu lhe darei autoridade sobre as nações”, Apoc.2:25-26

Não é comum encontrarmos pessoas que tenham como fazer várias coisas ao mesmo tempo, estar em locais distintos ou falar em simultâneo alto e baixo. Acho que é impossível. Mais impossível se torna se as coisas que temos que fazer mexem maioritariamente com aquele sistema nosso de fazer essas mesmas coisas. Seria o mesmo que esperar dum carro que andasse enquanto está a ser reparado numa oficina. Não é possível tal coisa – ou uma ou outra. A obra de Deus é essa: arranjar quem anda para que ande bem – depois apenas. “toda vara que dá fruto, ele a limpa, para que dê mais fruto”, João 15:2.

Não convém andar quando se estiver a ser reprogramado pela nova vida, para que andemos em novidade de plenitude, de força e poder simples. Mas, se vemos que ninguém gosta das ferramentas que Deus usa, pois são sempre muito pessoais – determinadamente pessoais e vão até ao fim – nada mais podemos senão questionar a vontade de quem diz querer servir Deus. O que Deus quer será apenas aquilo que um bom mecânico deseja: tempo e disponibilidade duma qualquer viatura para ser arranjada – e que a viatura não ache que esta em condições de andar quando não está. Mas assim que estiver em plenas condições de o fazer, também não queira mais ficar por lá parada, saindo para dar glória a quem a reparou.

Porém, se a viatura não estiver disponível, como se arranjará? E se estiver com pressa de sair daquela oficina que chega mesmo ao fundo de todas as questões e avarias? E se a viatura ou seu dono não gostarem do cheiro da oficina, do jeito do mecânico, das ferramentas que usa? Na obra de Deus em nós será a mesma coisa – ou fazemos a nossa revisão instalando novos e diferentes programas em nós mesmos, ou andamos conforme aquilo que nos apetece, conforme o poder precário que temos. Então, se quisermos poder conviver com mais poder, melhor poder, teremos de ter uma viatura que possa suportar os muitos cavalos novos em sua estrutura. Para isso temos de entender muito rapidamente que ou estamos ocupados com suas obras em nós mesmos, ou nos dedicamos a outras antes de podermos ser usados.

Podemos servir um mestre apenas. Ou entramos naquele ciclo dum novo emprego que desejamos, duma nova esposa, dum novo carinho, duma ilusão, ou tão só seguimos Deus naquele emprego, naquela realidade que nos é propícia a dado momento encetar e empreender, uma obra duradoura em nós mesmos, porque é feita em Deus pelas suas provações em obediência contínua que Deus pretende assegurar desde logo. Uma das características duma qualquer obra Sua, é que tem como permanecer – permanece para sempre. Mas lemos que, da própria boca de quem dizemos ser nosso Senhor, “Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor; do mesmo modo que eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai e permaneço no seu amor”, João 15:10. Será preciso saber e aprender a obediência à verdade, sob pena de não termos como mantermo-nos na rota até ao fim do longo e difícil caminho estreito, que é Cristo em pessoa que tem como conduzir à vida de tal forma que lá se seja eterno e constante.

Não será possível permanecer em algo do qual nos é contrária a sua natureza, pois ou mudamos antes, ou caímos eventualmente se encetamos sem mudança, se entramos no curral mas não pela porta. O que Deus nos ensina não será fazer as coisas, mas sim o jeito de permanecer fazendo sempre e em qualquer circunstância. Se bem nos recordamos, a oração modelo de Jesus, ensina-nos a orar que a Sua vontade seja feita aqui na Terra como ela é feita lá no Céu e não apenas que a Vontade seja feita. Mais importante será o jeito, o à-vontade na difícil tarefa, o poder com que se faz e o acesso a tudo isto – incluindo acesso a esse poder – será de importância primordial, pois para um pecador será importante aprender os contornos, os meios e recursos de uma nova vida, mais do que a Vontade em si; como se tem acesso a ela, será mais preciso apreender o jeito do que tentar empreendê-la sem jeito e sem poder e ajuda de Quem é Salvador, isto é, sem bênção de cima. Jesus disse que, "Quem não junta comigo, espalha".

Depois de quebrar a barreira dos nossos pecados não confessados – o acesso a tudo isto através do sangue de Cristo – há que nos apoderarmos de tudo aquilo que nos pode ser promessa a qual pode estar ao alcance duma oração feita de todo o coração. É obvio que se apreendemos e aprendemos a saber como fazê-la, também teremos como aprender qual a Vontade a fazer – o contrário não garante nada disto. Porque, saber apenas qual a Sua vontade, nunca nos dá acesso directo a ela, à sua efectivação, pois lemos sobre “aqueles servos que sabiam a vontade do Mestre e não a fizeram”, os quais sofrerão maior dano e mais açoites que aqueles que não sabiam e consequentemente não a fizeram por essa razão. Mas, sabendo fazer, sabendo guardá-la num coração puro e em fogo real, o como e o porquê, a disponibilidade e o interesse interior, um coração que se torna voluntário e inconscientemente constante na Sua feitura, através do Seu poder, tudo subsistindo n’Ele e através d’Ele para Ele, sendo Ele mesmo tanto a própria meta como também o próprio caminho para ela, no encetar daquilo que Deus quer e o poder e a bênção daquela presença real de Deus em nós, dá-nos sempre acesso automático a esta vontade, sem a qual nunca entraremos no Céu.

Transparece que é aquele acesso a esta Vontade Suprema que nos está vedado como a Árvore da Vida estaria pela espada flamejante à volta dela. Estamos, pois diante de algo como “Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados, de sorte que venham os tempos de refrigério, da presença do Senhor”, e “Deus suscitou a seu Servo e a vós primeiramente vo-lo enviou para que vos abençoasse, desviando-vos, a cada um, das vossas maldades”, Act.3:19,26.  Uma fé natural não se admira, não se acanha diante e perante uma real presença de Deus, não imaginada, não imitada por forças satânicas ou emocionais, nem endoutrinada. Será diante desta real presença onde as pessoas terão de ser achadas com naturalidade, com à-vontade aceitável diante do Próprio. As pessoas separaram-se de Deus pelo pecado – agora terão de reaprender a perfeição de estar envoltos com a Sua presença pela santidade - o que é novidade, mas nunca deveria ser. Não só o espírito voluntário será necessário, mas um que seja governável pelo próprio Espírito Santo.

Daí que a vontade de Deus seja que se consiga como fazer as coisas de forma idêntica à maneira que ela é feita nos Céus, acima de tudo,  mas de forma eterna e constante, para sempre e não só temporariamente.  Há que ensinar a guardar, a permanecer, mais do que ensinar o que guardar. Sem o cesso tanto a ela como ao espírito voluntário que a pode preceder e permitir a fazer como Deus quer que seja feita, do jeito que Deus aceita de nós, isto é, segundo a nova natureza e nunca segundo o nosso parecer, segundo o que agora somos e nunca segundo obras às quais nos entregamos contraditoriamente e também segundo aquela disponibilidade e desejo de serem feitas obras em Deus somente. Daí que se comece na carne não é de admirar, mas que se acabe e termine no Espírito, pois este Espírito só é dado aqueles que têm como Lhe obedecer.

É esta voluntariedade espontânea e sem preço que Deus busca de nós pela renovação que em nós começou, “aprendendo a obediência” desde a confissão dos nossos muitos pecados anteriores até àquele praticar espontâneo de justiça celestial, aquela justiça que buscamos acima daquelas coisas que nos podem ainda vir a ser acrescidas, das quais nem sempre tomamos consciência. Se Deus acha o jeito instalado num ser, tudo se torna simples para deus fazer e efectivar por tal criatura logo ali. Daí que lemos que Jesus fala dos que nem sequer sabiam que O haviam visitado na prisão, nem que lhe haviam vestido e dado de comer quando estava nu e com fome. Tudo começa algures num inicial negar da carne, passando para um mais adiantado estado de coração e natureza de apenas não mais ter como ceder a ela, para depois chegar a abominar – que será mais que um simples ódio dela – não apenas a carne mas até a roupa manchada dela. É como alguém que gostava tanto de chocolate que enjoando por haver comido demais dele, chega até a sentir vontade de vomitar com aquele simples cheiro a chocolate. Há pessoas assim.

José Mateus
zemateus@msn.com