CHAMADOS PARA FAZER AQUILO QUE NÃO DESEJAMOS

 Quais são os desejos dum Pecador? Os seus anseios? As suas mágoas estão relacionadas com quê? Os espinhos da sua vida devem-se aquilo que deseja e desfruta no seu coração. Tirar-lhe dos espinhos é espinhoso demais para um masoquista irreal e estranho – é o que um pecador é! Todo o mal e angústia que lhe advém e cai em cima, é e está relacionado com o pecado: o seu e o de outros com quem se relaciona. Mas mesmo assim é o que mais deseja, é por isso que luta, anseia e guerreia, pois sem isso não quer, acha que não sabe, pensa que não pode vir a viver. É tão crasso o seu erro, que em nenhum outro ser na vasta natureza na qual vivemos se pode achar coisa semelhante, com pensar idêntico. O pecador é o que parece ser o menos inteligente de todos, mesmo tendo os maiores recursos ao seu dispor para usar, o único que pode pensar como Deus.

É aqui que entra no dilema maior de toda a sua existência inútil e paradoxa qualquer homem que vive e quer continuar a viver separado do bem de que pode usufruir sem muito esforço: quando Deus o chama de volta a todas as suas origens. O pecador não deseja deixar o pecado, ser desviado e separado do seu próprio mal. O seu único anseio é viver abençoado no mal que tem em si. Quando Deus nos chama em Cristo Jesus, é para nos desviarmos cada um das nossas muitas e próprias transgressões, às quais muito nos habituamos, aprendendo a amá-las demais até. É isto que lemos em Act. 3:26 “Deus suscitou a seu Servo, e a vós primeiramente vo-lo enviou para que vos abençoasse, desviando-vos, a cada um, das vossas maldades”.

Ora, como é que alguém vai achar mau aquilo que é e faz sem sentir vergonha? A primeira barreira a vencer para salvar alguém do seu próprio erro, daquele pelo qual até pode vir a dar a vida, será então e apenas o seu orgulho e falta de jeito para reconhecer que não presta, sabendo que pode vir a prestar. Como pode alguém achar que a bênção é precisamente ser desviado daquilo que ama e porque sempre lutou sem descanso: o pecado? A sua única bênção é ser desviado do pecado. Por isso não crê o pecador, pois não usa o cérebro que tem a menos que seja para maquinar o mal que lhe convém. Falando de Maria, o anjo disse a José do primeiro filho dela que, “ ela dará à luz um filho, a quem chamarás JESUS; porque ele salvará o seu povo dos seus pecados”, Mat 1:21. Esse Filho que também é Deus connosco, o Emanuel que conhecemos, disse: “ se Eu vos libertar, sereis verdadeiramente livres (do pecado)”.

Então somos chamados para nos vermos livres daquilo que achamos que deve aumentar; daquilo que achamos que a nós mesmos devemos; do que faz com que nem o nosso Criador nos reconheça como criação Sua, chamando o pecador como “filho da ira”, havendo-nos criado inteligentes e com plenas capacidades de sermos idóneos no que recebemos igual ao que Ele tem inutilmente; por essa razão a porta é estreita, pois o pecador não quer ser salvo dos seus próprios pecados e prazeres. E também, depois de entrar a porta estreita, logo agora que tudo deveria virar a seu favor, o caminho é apertado e difícil, pois lemos em 1Pe 4:18, “E se o justo dificilmente se salva, onde comparecerá o ímpio e pecador”? Descobre o pecador, depois de tanto esforço despendido, que não entrou naquela porta estreita para ter tudo aquilo que deseja afinal, mas sim para deixar. E logo agora que encontrou e conheceu um Deus Todo-Poderoso! O que não faria um pecador com um Deus assim! 

Está a ser injustamente maltratado no seu emprego, na escola, na igreja? A sua ira e revolta nunca defendem, mas afundam-no mais ainda. O seu inimigo mortal é o seu coração e nunca o seu inimigo, parente, pai ou madrinha. A verdadeira liberdade é aquela onde se livra da sua ira, dos leões que viverem sempre na sua própria consciência e aos quais está habituado, considerando-os como lindos gatinhos de estimação! Quando eles rugem, você acha que é contra os outros – mas não se deixe enganar, pois é apenas contra si que fazem barulho. Sente-se mal porque lhe fizeram agravos e injustiças, ou talvez justiças mesmo? Sinta-se pior porque se ira, se impacienta e se manifesta na defesa de quem já deveria estar morto e não está: o monstro que você é! Não é? Claro que está enganado! É um monstro pouco sábio, muito inteligente, na posse todas as suas faculdades mas que não as usa! Não é um monstro com se insurge contra a própria vida, amando o pecado? Nem os pássaros escolhem os frutos venenosos da natureza! Porque escolheria você comer do veneno mais mortal que existe na face da Terra, levando a mal, condenado até Deus porque Ele nunca o abençoa em tal coisa, em tal acto! Acha-se inteligente? Por acaso é, mas não tanto assim, pois lemos que “o temor do Senhor é o princípio de toda a sabedoria”. “Até quando, ó estúpidos, amareis a estupidez? e até quando se deleitarão no escárnio os escarnecedores, e odiarão os insensatos o conhecimento”? Prov. 1:22. Será que é até se destruírem para além de poderem ser recuperados para o bom senso? Veremos. Mas nunca se esqueça que a liberdade, a única, é ser verdadeiramente livre de si mesmo, do seu pecado e consequentemente daquilo que deseja, Por isso lemos que somos e fomos chamados para sermos santos: nada mais! É tão difícil assim entender isso? E ainda se acha inteligente agarrando-se a si mesmo, àquilo que pensa, tendo vergonha da única fonte de Vida na face de todo o universo? “Quem de Mim se envergonhar, Eu dele Me envergonharei”, disse Quem pode salvar, o Único que pode salvar daquilo que não se quer ser salvo até.

Mas o pecador é como a presa sedenta que não quer ser salva da húmida saliva da boca do leão, porque tem sede; acha que se salvará pela humidade que sente presente à sua volta; é como o caracol que não se quer escapar da humidade do papo dum pássaro porque teme secar-se fora dele; o pecador é uma aberração contra-natura, algo que não existe – coisa que nem se deveria estar a discutir, quanto mais a discutir a sua permanecia, como permitir que viva bem e regaladamente! O fumador não quer ser salvo do tabaco, do cancro do pulmão, do mau cheiro, da despesa; o perverso só ouve se for para se encharcar mais ainda na lama devido no calor dos desejos que vem do inferno e lhe sobem à cabeça! A mulher linguaruda (ou o homem) só falando do que não interessa, ganha e mostra interesse! O irado diz “calma aí, pá!” só se for para se irar mais ainda! Ao que este mundo controverso e decadente chegou. Pecador, não se acha uma aberração da natureza, não nota que algo está mal, estranho na sua maneira de ser, de pensar e actuar? Até quando não achará?

Prov. 1:20 A suprema sabedoria altissonantemente clama nas ruas; nas praças levanta a sua voz.

1:21 Do alto dos muros clama; às entradas das portas e na cidade profere as suas palavras:

1:22 Até quando, ó estúpidos, amareis a estupidez? e até quando se deleitarão no escárnio os escarnecedores, e odiarão os insensatos o conhecimento?

1:23 Convertei-vos pela minha repreensão; eis que derramarei sobre vós o meu Espírito e vos farei saber as minhas palavras.

1:24 Mas, porque clamei, e vós recusastes; porque estendi a minha mão, e não houve quem desse atenção;

1:25 Antes desprezastes todo o meu conselho, e não fizestes caso da minha repreensão;

1:26 Também eu me rirei no dia da vossa calamidade; zombarei, quando sobrevier o vosso terror,

1:27 Quando o terror vos sobrevier como tempestade, e a vossa calamidade passar como redemoinho, e quando vos sobrevierem aperto e angústia.

1:28 Então a mim clamarão, mas eu não responderei; diligentemente me buscarão, mas não me acharão.

1:29 Porquanto aborreceram o conhecimento, e não preferiram o temor do Senhor;

1:30 Não quiseram o meu conselho e desprezaram toda a minha repreensão;

1:31 Portanto comerão do fruto do seu caminho e se fartarão dos seus próprios conselhos.

1:32 Porque o desvio dos néscios os matará, e a prosperidade dos loucos os destruirá.

1:19 Tais são as veredas de todo aquele que se entrega à cobiça; ela tira a vida dos que a possuem.

1:33 Mas o que me der ouvidos habitará em segurança, e estará tranquilo, sem receio do mal.

José Mateus
zemateus@msn.com