QUER GANHAR ALMAS?

O fruto do justo é árvore de vida; e o que ganha almas sábio é”, Prov.11:30 

Só existe fruto onde existe uma árvore – fruto sem árvore não existe. Logo, quando existe o fruto da rectidão dum coração, tanto em palavra como em comportamento, é porque existe justiça implantada dentro de alguém. A justiça em Deus não é algo que se aplica, mas algo que se é. Justiça é algo que nos faz sermos justos de raiz, de género, por dentro e por fora. Deus nos imputa, nos dá ser justos de raiz. Toda a justiça de Cristo vem viver em nós. Logo, essa justiça dá um fruto e outro e mais outro ainda, que a Bíblia nos diz que é a árvore da vida para muitos que colhem desses frutos de nós. “O fruto do justo é árvore de vida”.

Um justo é alguém que já se justificou – se tornou justo de raiz. A essência da palavra do Novo Testamento “Justificação” é precisamente essa – tornar justo por dentro. A palavra “justo”, é muito mais que ser justiceiro, correcto – é ser conforme a imagem original com a qual Deus nos criou, isto é conforme Deus. Lemos para não sermos conformes ao mundo, não nos conformarmos com a essência dele, mas com Deus apenas, com aquilo que Ele é de facto. Porém para assimilarmos aquilo que Ele é, teremos de O vir a ver como Ele é, ou então como O assimilaremos? Um filho assemelha-se a qualquer pai, aprendendo dele durante uma vida. Mas para assimilarmos nosso Pai, o que Ele é, temos de conviver com Ele conforme Ele é – temos de o ver. Os limpos de coração verão Deus Mat.5:8.

No entanto, muito para além de assimilar vendo apenas, Deus vem viver em nós de facto caso sejamos baptizados em Seu Espírito, naquilo que Ele é de facto: Santo. Dali em diante não apenas assimilamos, mas somos. Daí as palavras “Sê perfeito PORQUE Eu sou perfeito”. Deus poderia dizer isto mesmo sem usar a palavrinha “porque”, mas antes escolheu explicar devidamente o que se passa com alguém que canta Emanuel “em verdade e Espírito”. É nessa plenitude de vida que devemos buscar viver continuadamente, pois ela nos envolve, transforma, nos traga, não nos deixa ver mais nada, desejar mais nada, nos remodela através dessa justiça líquida e real que vem d’Ele, que inunda nosso ser com aquilo que Ele é, sendo santos porque Ele é santo. Assim se cumpre a promessa de Emanuel, isto é, Deus connosco. “Nisto conhecemos que permanecemos nele e ele em nós: por ele nos ter dado do seu Espírito. Nisto é aperfeiçoado em nós o amor, porque, tal qual ele é, somos também nós neste mundo”. 1João 4: 1317.

Vemos então porque Pedro diz assim: “Arrependei-vos, pois e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados, de sorte que venham os tempos de refrigério, da presença do Senhor”, Act 3:19. Arrependimento é obra de influência do próprio Espírito Santo onde todo o homem coopera com Ele. Mas arrependimento nunca será plenitude de vida. Arrependimento é influência de Deus em nós: plenitude e justiça liquida em nós é a própria presença de Deus que vem habitar dentro de cada pessoa como se fosse a própria pessoa, (o que é muito mais que influenciar apenas ao arrependimento!), cumprindo assim aquelas palavras de Cristo, “Eu vim cumprir a Lei” e em João 15:3-5, “Vós já estais limpos pela palavra que vos tenho falado. (4) Permanecei em mim, e eu permanecerei em vós; como a vara de si mesma não pode dar fruto, se não permanecer na videira, assim também vós, se não permanecerdes em mim. (5) Eu sou a videira; vós sois as varas. Quem permanece em mim e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer”. Uma pessoa limpa nunca mais conseguirá fazer nada sem Deus, mesmo que o mundo consiga tal proeza. É fácil para o mundo conseguir as coisas sem Deus – mas tal coisa é impossível para os limpos de coração.

Este fruto de justiça, esse exemplo de vida que não é aplicativo e imposto, mas comungável e comunicável espontaneamente, é o que torna os pecadores conscientes de Deus diante dos justos. Sabemos que as pessoas são influenciados uns pelos outros porque se querem agradar ou desagradar mutuamente. Se elas querem alguém, entram no jogo de agradar essa pessoa e tornam-se tal qual eles para conseguir seus objectivos. Se não querem alguém fazem o mesmo jogo, só que em sentido oposto, desagradando. Mas a vida dum justo nunca será influenciável mas influencia, nunca agradará nem desagradará pessoas nem por conveniência e nem por inconveniência, pois é simples e atrai, tem tudo o que sempre se desejou, não se conforma com o mundo à sua volta e nem dá qualquer crédito a outra forma de vida! Mas o mundo à sua volta ainda anda à procura de onde se manter feliz, de segurança na vida interior, de Deus na verdade e deixa-se influenciar pela vida dos que são justos. É nossa vida que ganha os outros, só que agora não os podemos ganhar para nós. Logo, sendo instáveis são influenciáveis num certo sentido e rumo de vida – o que devemos saber fazer por Deus. Assim sendo, havendo crentes firmes por perto que nunca são influenciados pelo mundo, logo influenciam as vidas instáveis e desagregadas à sua volta para bem ou para mal, pois, se desgostarem dos crentes firmes, suas culpas estarão aninhadas sobres suas cabeças e Deus logo os destituirá de toda a vida. Mas a quem quer achar verdade e vida, este fruto do justo é a árvore da vida para tais almas penadas e destituídas de Cristo, que é toda a Vida, toda a Verdade e o único Caminho. Como o justo não será influenciável naquilo que vive a não ser por de dentro, pela presença de Deus, tornando-se cada vez mais igual a Deus em pessoa, logo influencia naturalmente quem anda por perto dele – muitas vezes sem se dar conta de tal ocorrência e facto. Se notar, deve considerar tal coisa como algo normal, pois nunca terá como evitar tal acontecimento. Crente que nunca influencia, é na verdade um pagão de Bíblia na mão e com doutrina no coração – busca converter por palavras e acções premeditadas e não com vivência real e natural.

Ora, lemos ainda neste texto que estamos a usar como referência que “o que ganha almas sábio é”. Isto quer dizer que a pessoa se tornou sábia, tanto em seu viver como em seu comportamento e palavras muito bem escolhidas, genuinamente vindas da fornalha de Fogo. Se a pessoa que vive com Deus ganha almas, será porque se tornou sábia de facto, pois “o que ganha almas sábio é” – se não fosse sábio, não ganharia. Ganhar almas nunca será ganhar pessoas para a nossa opinião, mas para Deus. E como Deus não se deixa comprar, a pessoa tem de dar os passos correctos caso queira cair nas boas graças do Criador.

As pessoas que ganham almas para a sua opinião, é porque têm algo que os atormenta e buscam um certo apoio para se sentirem “acompanhadas” e bem perto duma opinião que os corrobora em algo, algum tipo de vida. Sentem-se sós em suas vidas, logo tentam ganhar as pessoas para o seu círculo de carinho, entrando para o aprisco das ovelhas saltando o muro e nunca entrando pela porta do arrependimento e transformação. Mas, quem está de bem com Deus de facto, nunca mais busca a opinião dos outros para se sentir seguro – apenas acha que tal pessoa é um ser humano que nunca diz coisa com coisa. É preciso ser-se sábio de facto para nunca temer olhar para dentro duma outra opinião. Quem ouve uma opinião muito bem é aquela pessoa que nunca será influenciada através dela e que por essa razão nunca teme ouvir; as pessoas de forma geral não andam conforme as opiniões, mas conforme como querem andar e se a opinião for nesse sentido, logo irá parecer que foi a opinião que a influenciou. Mas as pessoas ouvem apenas aquilo que lhes agrada ao ouvido e convém, sendo teimosas por natureza. Uma ovelha também ouve aquilo que lhe cai bem ao ouvido: a voz do Bom Pastor apenas e “de modo algum seguirão o estranho, antes fugirão dele, porque não conhecem a voz dos estranhos”, João 10:5. Uma pessoa que esteja de bem com Deus, tem uma plenitude de vida dentro dele mesmo que não lhe dará espaço para ouvir outras coisas fora do seu agrado e do seu coração.

Mas, digamos que esta pessoa se tornou sábia porque a sabedoria veio habitar nele de forma liquida e real, sabedoria essa que não será sua, mas que o fará fazer e alcançar coisas sem saber muito bem como – algo que nunca deveria ser motivo de admiração, pois é Deus que está com a pessoa, Aquele que abriu o mar vermelho sem esforço de maior. Dentro desta sabedoria, de toda essa justiça liquidificada e transformadora mas real, pode um homem ainda viver como se nada mais tivesse que ser mudado nele? Claro que não, pois toda a obra desta presença dentro da pessoa será transformá-la de facto, pois uma coisa é a pessoa tornar-se dócil e influenciável, outra é a razão porque essa doçura e influência veio ser conseguida. O que vale à pessoa ser tornada dócil e maleável apenas em relação a um único tipo de influência, se não for obediente e praticante de seguida? De que vale ter espírito obediente se não obedece, um pássaro saber bater as suas asas sem voar? Uma coisa é ser tornada obediente a uma única influencia – outra é praticar essa mesma obediência, pois o acto e actor são coisas distintas. Um engenheiro pode sê-lo sem exercer sua profissão e alguém também pode tentar exercer engenharia sem ser formado devidamente. Então, ser tornada em ovelha obediente que tem nela mesma apenas espírito que ouve uma só voz, é a raiz do mal sendo transformada, para logo de seguida se lidar contra os efeitos nocivos do mal, sendo estes devidamente eliminados e reprogramados em bem prático. A justificação lida com o centro do mal, a santificação com o programa que o mal deixou para trás instalado. Mas para além destas coisas, existe essa influencia divina, ainda, em muitos na forma real da presença de Deus em um só sentido: o céu. A pessoa ter a presença Deus de forma real e sensível dentro dele mesmo, porque tem um coração limpo e vê Deus, nunca significa que ela não tenha de ser transformada só porque tem essa presença de Deus dentro dela. Também havendo sido transformada, não pode deixar de buscar ter essa presença de Deus nele mesmo de forma continuada, pois ambas as situações são possíveis de se vir a dar.

Essa presença é o garante que nunca irá mal, caso quem tem ouvidos para ouvir, ouça de facto. Mas sob essa presença, a pessoa muito para além de ser justificada – pois um ladrão se tornou justo quando deixou de ser ladrão por dentro e não quando deixou de roubar, isto é, justificou-se perante Deus porque a fonte do mal nele foi dissecada e eliminada para sempre ao nascer de novo – terá ainda de ser santificada em seu motivos, sua vida prática, em todas as suas acções, pois sempre esteve habituada a uma certa maneira de viver que agora não bate certo com a nova criatura em que se tornou. Mas, após estar justificada e santificada de facto, de que vale tudo se não se tornar numa pessoa normal dentro duma vida nova e real de santificação? De que me vale ser amoroso se não sigo amando da maneira certa, ser obediente de espírito caso não obedeça depois, ser dócil se não vir a seguir o Pastor? Ser um ser obediente e obedecer são sempre coisas distintas: não posso buscar obedecer sem ser de natureza obediente, pois tornar-me-ei legalista; mas também não me poderei conformar em não obedecer sendo obediente por natureza, refeito para Deus para as boas obras. Se tenho já uma natureza obediente em mim, devo fazer aquilo para que fui recriado, devo viver e conviver conforme a minha nova natureza. Lemos que “somos feitura Sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras”, Ef.2:10.

Será esta vida de boas obras naturais que conquista (e condena) o mundo, pois esse mundo só pode ser bom pensando que é bom sem o ser, esforçando-se em sê-lo, muitas vezes por motivos errados mesmo. Mas alguém em Deus nem se dá conta que é como Cristo, pois um homem saudável raramente se dá conta de que respira, como o faria alguém com uma doença pulmonar, com dificuldade de respiração. Quem está mais consciente e se alegra que respira? Não será alguém que tem dificuldade em fazê-lo? Quem pula e salta dentro da igreja com se Deus fosse irreal senão um descrente?

Logo, para salvarmos almas, sendo sábios por dentro, também o seremos por fora. Se temos uma hiper-consciência ligada às realidades de estarmos a ser vistos (mesmo havendo Cristo desde logo avisado que é impossível esconder uma cidade num monte!), se ouvimos a critica e a escutamos, se nos deixamos influenciar ouvindo, se as pessoas nos fazem bem e devolvemos, se falam bem de nós e nos animamos, se nos fazem mal e amaldiçoam e nos retraímos, que mais estaremos a fazer que os gentios fazem? Jesus disse que nos daria sabedoria que ninguém teria como resistir. Logo, se ligarmos o que fazemos pretensiosamente ao que nos fazem também, seja bem ou mal, não seremos influenciadores mas influenciados. Se Jesus nos dará sabedoria tal que ninguém terá como ou porque resistir, ganharemos todas as almas ao nosso redor, pois lemos que “Quem anda com os sábios, sábio será”, Prov.13:20. Mas para isso não podemos estar atentos às opiniões do mundo sobre aquilo que somos ou dizemos, se Deus já nos julgou e transformou. “Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica”, Rom 8:33. Eles não têm erro que se aponte, a menos que seja falsamente.

Do mesmo modo, devemos dizer ainda: “Pois busco eu agora o favor dos homens, ou o favor de Deus? Ou procuro agradar aos homens? Se estivesse ainda agradando aos homens, não seria servo de Cristo”, Gal 1:10; “não servindo somente à vista, como para agradar aos homens, mas como servos de Cristo, fazendo de coração a vontade de Deus”, Ef.6:6. “Mas, assim como fomos aprovados por Deus para que o evangelho nos fosse confiado, assim falamos, não para agradar aos homens, mas a Deus, que prova os nossos corações”, 1Tes.2:4. O mundo só consegue ser bom se fingir e se esforçar, ou por motivos errados; também repreende apenas quando se ira e se sente profanado ou difamado – vamos nós fazer o mesmo? Mas o filho sábio de Deus, enche de gozo seu próprio e único Pai porque “nunca anda segundo o curso deste mundo”. Por essa razão lemos assim: “Sê sábio, filho Meu e alegra o Meu coração, para que Eu tenha o que responder àquele que Me vituperar”, Prov.27:11. “Filho meu, se o teu coração for sábio, alegrar-se-á o Meu coração, sim, ó, Meu próprio; Prov.24:5. O sábio é mais poderoso do que o forte; e o inteligente do que o que possui a força. Prov.23:15 O filho sábio alegra a seu Pai”, Prov.15:20.

Quem ganha almas, só ganha porque sábio é. Peça essa sabedoria a Deus, pois ganhará almas com ela. “Ouça também, o sábio e cresça em ciência e o entendido adquira habilidade”, Prov.1:5.

José Mateus
zemateus@msn.com