ALEGRAI-VOS, MAS NO SENHOR

"Então o Senhor perguntou a Caim: Por que te iraste? e por que está descaído o teu semblante? Porventura se procederes bem, não se há de levantar o teu semblante?" Gen 4:6-7.

É frequente em pessoas uma luta pela alegria das coisas ao invés de lutarem pelas coisas já com a alegria certa. Em vez de ser com a alegria, é pela alegria que lutam. As coisas e a alegria nunca são o alvo final: o Senhor é. Paulo disse que queria "ganhar a Cristo".

Existem coisas que nos tornam alegres e andamos atrás dessas alegrias e atrás das coisas pela alegria que estas nos fornecem. Se já é errado andar no encalço das coisas, aquelas que nos virão por acréscimo apenas, imagine-se a busca da alegria que essas coisas dão! As coisas dão alegria; nós buscamos as alegrias; está mal, pois nem com as coisas que as dão devemos nos ocupar e estar em sintonia. As pessoas só querem alegria – e essa alegria é fruto do Espírito. Deixem-me explicar melhor.

Quando Caim se enfureceu com Deus, o seu semblante caiu – tudo o que queria era um semblante levantado. Ele foi o primeiro a ter essa ideia de sacrificar a Deus – não lemos de mais ninguém antes dele. As pessoas que se fustigam e se cansam correndo atrás de prazeres e de alegrias têm com eles sempre uma grande dose de imaginação e de pioneirismo. Ele (Caim) era homem de andar no encalço puro de agradar para desse agrado retirar o devido fruto da alegria que buscava no mundo e que, para tanto, queria ter Deus do seu lado. Era agricultor e pensava que tudo funcionava da mesma maneira. “Eu dou a Deus, Deus fica feliz comigo e colho a alegria também”.

Mas Deus tem um recinto de onde retiramos os sacrifícios de paz que de nós é exigido. Sem santidade, podemos oferecer até a nossa própria vida – que fará Deus com ela se nada tem que Deus possa usar, colocar em Seu próprio Jardim, colocar do Seu Espírito que, por sinal, é Santo? Com santidade em nós podemos até oferecer um tostão de pedra, uma moeda furada, uma nota falsa – ele aceitará de nós com pleno contentamento! E nunca necessitaremos ser os primeiros a ter a ideia, podemos mesmo imitar Caim, como Abel fez. Uma vez puros, não necessitamos ser nem originais nem exclusivos. Podemos cantar o mesmo hino que o diabo dentro duma igreja, ao mesmo tempo que ele e Deus aceitará isso de nós. Então Deus disse a Caim, aquele que buscava a alegria de poder levantar seu próprio semblante, “Porventura se procederes bem, não se há de levantar o teu semblante?” Gen.4:7. “Quem subirá ao monte do Senhor ou quem estará no seu lugar santo? Aquele que é limpo de mãos e puro de coração; que não entrega a sua alma à vaidade, nem jura enganosamente”, Sal.24:3-4

Assim, fazem muito mal aqueles que pensam fazer eclodir Deus em seu meio através do louvor, do sacrifício do dízimo, da veleidade dum coração desonesto em todos os seus afazeres. Quem busca a alegria e não o Deus da alegria, é pessoa desonesta e falsa. Se buscarmos o bem, o que é implantado em nós pela presença real de Cristo em nós, aquele bem real e sempre presente que se pode praticar em alegria, logo a alegria estará no nosso encalço, perseguindo-nos. Será a alegria que estará em busca do nosso coração e não nós em busca da alegria.

É frequente as pessoas quererem ser tornadas crentes pela evidente alegria que sabem que usufruem aqueles que, pela sua santidade de coração, andam próximos de Deus, aquela fonte de tudo. Logo, fazem o que os outros fazem – não é que esteja errado, pois Abel fez o que Caim fez. Mas, seu coração era de ouro para com Deus e foi aceite. É de dizer “E dir-se-á: Aplanai, aplanai, preparai e caminho, tirai os tropeços do caminho do meu povo. Porque assim diz o Alto e o Excelso, que habita na eternidade e cujo nome é santo: Num alto e santo lugar habito e também com o contrito e humilde de espírito, para vivificar o espírito dos humildes e para vivificar o coração dos contritos. Pois eu não contenderei para sempre, nem continuamente ficarei irado; porque de mim procede o espírito, bem como o fôlego da vida que eu criei. Por causa da iniquidade da sua avareza me indignei e o feri; escondi-me e indignei-me; mas, rebelando-se, ele seguiu o caminho do seu coração. Tenho visto os seus caminhos, mas eu o sararei; também o guiarei e tornarei a dar-lhe consolação, a ele e aos que o pranteiam. Eu crio o fruto dos lábios; paz, paz, para o que está longe e para o que está perto diz o Senhor; e eu o sararei. Mas os ímpios são como o mar agitado; pois não pode estar quieto e as suas águas lançam de si lama e lodo. Não há paz para os ímpios, diz o meu Deus”, Is.57:14-21. Mas, Deus é quem é fonte de alegria.

Há que ver, então, porque razão estão contritos e qual a razão de estarem com seu semblante caído. É que, quem vê muita novela, se entristece porque deixou de namorar com alguém – muitas vezes alguém que nem Deus tem como aprovar. Esta contrição nada fará descer dos céus – nada mesmo, a não ser ira. Vai ficar mais triste ainda se olhar para cima e esperar algo de Deus a esse respeito, para preencher esse tipo de tristeza. Deus não se move pela chantagem, nem em forma de ira nem em forma de tristeza e de semblante baixo. Muitas vezes, a ira e a tristeza de semblante transformam-se em formas de chantagem contra Deus para as coisas que Ele não quer fazer - algo que Caim também tentou fazer e foi mal sucedido.

A contrição, desde a sua fonte tem de ser fidedigna e real – real não basta. A nossa contrição em pecado, a nossa ira e qualquer tipo de tristeza, é e será sempre uma forma de chantagem para com Deus. Se nossas mãos forem limpas e oferecermos algo a Deus, nem precisamos pedir que Ele a aceite de nós. Se pedirmos que Ele a aceite, logo pedimos que Ele crie e recrie as circunstancias que lhe proporcionem aceitar de nós mesmos, louvor, adoração, dízimo ou pregação em oração. Se estivermos puros e purificados diante de Deus, nem será a oferta que nos trará a alegria, pois a alegria estará em nós antes e depois da oferta, mesmo depois de nos havermos esquecido que ofertamos."Se porventura procederes bem, não se levantará o teu semblante?" Precisas sacrificar para ser alegre ou alegre para sacrificar? Amém.

  

José Mateus
zemateus@msn.com