BRINCAR AO ARREPENDIMENTO

"Ora, João usava uma veste de pelos de camelo e um cinto de couro em torno de seus lombos; e alimentava-se de gafanhotos e mel silvestre. (5) Então iam ter com ele os de Jerusalém, de toda a Judeia e de toda a circunvizinhança do Jordão, (6) e eram por ele baptizados no rio Jordão, confessando os seus pecados”, Mat.3:4-6

Se formos dar ouvidos a toda a gente que diz ter um filho ou mais, se estivermos resolutos em acreditar em tudo quanto se diz, teremos de aceitar como verdade que uma criança, pegando em suas bonecas, nos afirme que são seus filhos e filhas também. O pior é que, neste mundo, os filhos são tratados como bonecos e os bonecos como filhos verdadeiros e dignos de todo carinho. Mas, tal como o mundo olha para os crentes e aceita que eles estão iludidos em muita coisa, assim, da mesma forma, aceitamos que as crianças digam que as bonecas são seus filhos sem levar a mal. Nada ou quase nada dentro de nossas igrejas hoje é real e verdadeiro a nível de funcionamento e da real bênção que acompanha Deus. Usam e abusam de Palavras sobre a verdade para se iludirem com muita mentira prática e palavras de verdade. A maior parte dos que dizem ter um ministério de cura, ou de evangelização, são apenas pessoas iludidas com algo que até poderia ser verdade. A maioria dos pastores de hoje são como as crianças que brincam com bonecas.

Quando olhamos para João Batista vemos nele algo que nenhum pregador actual deseja ser, pois temem perder pessoas da sua igreja. João nada tem em comum com quem se quer vestir bem hoje, pois vestia roupas estranhas demais porque não tinha como comprar outras; ele nem podia pensar em almoço a menos que achasse umas abelhas fazendo mel ou uns gafanhotos passando no deserto onde não passam gafanhotos por falta de vegetação; ele nem podia escolher um lugar com mais verdura para conseguir apanhar esses tais gafanhotos. Por isso, havia algo em João que atraía as pessoas até ele, pois sua fama logo desde muito cedo se espalhou. Só que, todos quantos o vinham visitar, também sairiam ou desapontados ou convertidos, pois ele era simples e concreto em seu falar, repetia sempre a mesma mensagem sem que esta perdesse seu valor e essência por essa razão e foi através dele que muitos chegaram a Cristo. Eu creio mesmo (e de todo coração o faço) que a razão principal pela decadência de nossas igrejas, da falta de membros ou do excesso de membros errados (o que vai dar no mesmo) é porque ninguém fala mais como João falou ou falaria sem perder nem a sua mensagem, nem tão pouco a naturalidade e espontaneidade da mesma. Com alguém como João as igrejas se enchem e nunca se esvaziarão, só que enchendo-se por João serão membros que permanecerão fiéis a Deus e não mais a homem ou à instituição. E os líderes eclesiásticos têm medo de membros assim.

Um dia, uma senhora falava-me de como se arrependeu de seus pecados. Ela disse-me que se sentiu muito mal e depois de ouvir um pouco mais senti que seu arrependimento era falso, por muitas lágrimas que houvesse vertido. Havia no ar um leve sentimento de que se lamentava ou porque isso a privava de bênçãos da parte de Deus (e o que ela desejava era ser abençoada e nada mais) ou, também, porque queria evitar a todo custo ir pedir perdão pessoalmente a quem roubou e ofendeu anteriormente. Dizia-me que se sentia ainda muito mal por tudo quanto fez e por ser pecadora. Sabiamente lhe perguntei de que coisas se havia arrependido, quais as coisas que a faziam sentir pior. Ficou estupefacta com aquela pergunta que nada tinha de inocente. Ela não conseguia dizer de quais pecados se havia ressentido sequer, quanto mais quais a fizeram sentir pior! Ela sentia era falta das bênçãos e por essa razão chorava diante de Deus como hipócrita.

Na verdade, é este o tipo de arrependimento que é aceite, procurado e pregado em todo lado onde existe uma igreja hoje. Muitas pessoas sentem-se mal, mas não porque pecaram, mas antes para evitar devolverem o dinheiro que roubaram. Acham que por se sentirem mal logo estarão ilibados da restituição. A maioria dos pastores com quem conversei (dos quais muitos são teólogos) nunca confessou seus verdadeiros pecados pessoalmente e individualmente sequer. Achei mesmo em minha curta caminhada, que são estes os primeiros a ressentirem-se, evitarem e a magoarem-se de tal doutrina de arrependimento quando esta se torna real e verdadeira.

Caro amigo, em nome de Cristo lhe falo: para você chegar a Cristo de verdade (não sendo de brincadeira nem apenas por uma questão de fé de sua própria autoria e do seu jeito), para O achar de facto tal qual Ele é, terá necessariamente de passar pelo Jordão, de passar por João Batista também, o qual lhe dirá umas verdades sem pestanejar. Será que, quando João olhar para si, depois de você ter tido tanta expectativa em conhecê-lo e vê-lo por ser famoso e este lhe disser sem hesitar em seu falar “raça de víbora” com uma voz que você não tem como refutar pelo amor à verdade que se sente nela, será que se subjugará à verdade ou irá buscar outra igreja ou outro pregador que pregue aquilo que gostaria de ouvir? É por isso que lemos “Pois este é um povo rebelde, filhos mentirosos, filhos que não querem ouvir a lei do Senhor; (10) que dizem aos videntes: Não vejais; e aos profetas: Não profetizeis para nós o que é recto; dizei-nos coisas aprazíveis e profetizai-nos ilusões; (11) desviai-vos do caminho, apartai-vos da vereda; fazei que o Santo de Israel deixe de estar perante nós. (12) Pelo que assim diz o Santo de Israel: Visto como rejeitais esta palavra, e confiais na opressão e na perversidade e sobre elas vos estribais, (13) por isso esta maldade vos será como parede que, prestes a cair, já forma barriga num alto muro, cuja queda virá subitamente, num momento. (14) E ele o quebrará como se quebra o vaso do oleiro, despedaçando-o por completo, de modo que não se achará entre os seus pedaços um caco que sirva para tomar fogo da lareira, ou tirar água da poça. (15) Pois assim diz o Senhor Deus, o Santo de Israel: Voltando e descansando, sereis salvos; no sossego e na confiança estará a vossa força. Mas não quisestes”, Is.30:9-15.

José Mateus
zemateus@msn.com