PORQUE E QUANDO A INCREDULIDADE SE TORNA CONDENÁVEL?

“Vede, irmãos, que nunca se ache em qualquer de vós um perverso coração e incrédulo, para se apartar do Deus vivo”; “E Jesus, respondendo, disse: Ó geração incrédula e perversa!” Heb.3:12 Mat.17:17.

Porque razão se vêm juntas as palavras “perversidade e incredulidade”? O que é a fé e o que torna a incredulidade tão desprezível ao ponto de molestar e agoniar o Senhor Jesus? Porque e quando a incredulidade se torna desprezível e perversa?

A razão porque a grande maioria das pessoas não condenam a sua própria incredulidade e antes a justificam e se justificam através dela, é apenas porque ou têm o conceito errado do que é a fé real, ou então têm o conceito certo mas não possuem essa fé de forma real, liquida, vivente e como fruto consequente advindo duma comunhão fidedigna com Deus. Uma criança vem ao mundo através dum relacionamento entre marido e esposa. Do mesmo modo, a fé é filha nascida entre coração e Deus, nascida dessa realidade duma comunhão, dum enlace a dois. O mesmo se pode dizer dos outros frutos do Espírito também.

Deus não irá ter esta filha sozinho – pois, Ele não precisa ter fé – nem o homem a conseguirá fazer nascer sem Deus. A incredulidade torna-se condenável porque é precisamente o filho nascido fora deste casamento. A incredulidade nasce sempre que um coração acasala com o mundo, com o pecado ou com Satanás. A falta de fé é filho que nasce fora dum casamento, é um filho de adultério e de prostituição espiritual. Se a fé é fruto do Espírito Santo, a incredulidade só pode ser fruto do espírito que não é santo, dum pecado – seja este qual for, grande ou pequeno.

Vemos o Senhor Jesus dizer algo assim: “Quem crê no Filho tem a vida eterna; aquele que, porém, desobedece ao Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus”, João 3:36. Muitos assumem que é a fé que nos traz Vida. Mas aqui vemos que é a vida que nos dá e alimenta a fé e é a desobediência que anula em nós essa mesma Vida que dá a fé e que a torna possível. Estando separados desta Vida, instala-se a incredulidade de pronto. Por essa razão lemos em Pedro sobre a “Fé Viva”. Aquele que crê consegue fazê-lo porque tem a vida eterna nele. Quem vem primeiro: a galinha ou o ovo? Diremos sempre que a galinha, pois foi Deus quem a fez e foi dela que saiu o primeiro ovo. Do mesmo modo se pode considerar que a fé está em relação à Vida Eterna como o ovo estará para a galinha, ou a semente para o fruto. Poder-se-á perguntar: “que vem primeiro? A Fé ou a Vida Eterna?” E nós sabemos que é a Vida, pois Jesus mesmo disse que “Quem crê (quem pode crer) é porque já tem a Vida eterna” e é porque a tem nele instalada que pode crer.

A Vida Eterna é aqui e agora (“a Vida que agora é”, 1Tim.4:8) – aqui começa e nunca mais acaba. A palavra “Eterna” não significa apenas “sem fim”, mas significa acima de tudo “constante, sem altos e baixos, permanente”. Esta Vida Eterna entra em nós com a purificação de nossos corações, através da vinda de Cristo até nós. Por isso lemos, “Cristo EM nós, esperança de glória”. Dali nasce um filho que se chama “fé” e que terá de ser nutrido, cuidado e preservado tal qual se faz com uma criança, até atingir uma idade adulta, a qual, se manterá por si mesma na união com Cristo. Quero com isto dizer que a fé que salva terá necessariamente de ser viva, de ser fruto consequente dum real relacionamento com o Espírito Santo, real e não fictício ou imaginado e de ser cuidada – muito cuidada – após haver nascido. Por essa razão lemos que a fé é fruto do Espírito Santo.

A incredulidade é condenável por várias razões. Mas, acima de ser condenável tenho a certeza que é a própria condenação em si, mais e acima de ser condenável. O acesso bloqueado a uma fé sã e realmente virtuosa, vivente, líquida e sempre presente na simplicidade, é a maior consequência dum afastamento de Deus. Após isso, a perversidade que se instala trará consigo maior perversidade ainda, maior afastamento passo-a-passo e consequentemente uma maior incredulidade ainda. Não nos esqueçamos que será a fé real que nos dá vitória sobre o mundo e tudo que ele contém para enganar, 1João 5:4. A incredulidade torna-se, assim, um ciclo descendente com fonte num pecado que algures separou alguém de Deus e que torna essa pessoa incapaz de crer pela simplicidade. Só os desonestos acharão que podem crer nessas circunstâncias e se esforçam para crer quando não podem. Jesus falou em “Quem pode crer”, Marc.9:23. Há quem não possa crer e tenta crer.

A fé forçada, aquela que nos obrigamos a ter sempre que oramos ou lemos a Bíblia, na verdade, é uma forma de incredulidade. É impossível não sentir o calor quando estamos ao sol, tanto quanto nos será impossível sermos descrentes perto dum Deus Vivo. Se me esforço para aquecer, será porque não acho o sol e não estou debaixo dele. Se não respiro, é porque não existe ar ou então, se existir ar, porque algo de muito errado existe com meu sistema respiratório. Nota-se que uma pessoa com dificuldades de respiração será uma pessoa doente e não uma saudável, pois quem está bem pode respirar naturalmente e sem que lhe digam: “inspira, expira”! Um crente que se esforça para crer deve tratar-se primeiro, acima de tentar crer forçadamente, tal qual alguém que tem dificuldade em respirar pense que se deve tratar também.

A incredulidade torna-se, assim, visível, desprezível e vil porque é por si só a própria condenação, a própria consequência duma vida afastada da Vida, isto é, Cristo que é exclusivamente o Caminho, a Verdade e a Vida. Se Cristo afirmou que ninguém vem ao Pai senão por Ele e se sabemos que é pela fé que nos chegamos ao Pai, deduzimos que só pode ser Cristo que nos induz a crer como devemos (e não como queremos). A incredulidade sempre que se instala tem uma origem peculiar: um pecado em alguma lugar, seja em crente ou descrente. A fé é uma dádiva e o que nos separa de Cristo, Ele que é Vida Eterna e constante, será a única coisa que pode fazer essa fé naufragar, pois é essa Vida que alimenta a fé. A incredulidade é a existência dum outro pecado algures. Lemos: “conservando (…) uma boa consciência, a qual alguns havendo rejeitado, naufragaram na fé”, 1Tim.1:19. Quem se esforça a crer, ainda não entendeu o que significa “guardar o mistério da fé numa consciência pura”, 1Tim.3:9. Quem está perto de Deus, a quem o pecado não afasta de Deus porque não cai nele, esse mesmo crê por natureza. A fé é adquirida e alcançada. Por essa razão Pedro fala “aos que connosco alcançaram fé igualmente preciosa”, 2Ped 1:1.

A incredulidade é condenável, também, quando as coisas são por demais evidentes para nós, como realidades e não apenas como coisas às quais nos devemos entregar forçadamente. Assim, sempre que algo se torna real para qualquer um de nós e nos recusamos a aceitá-las porque não gostamos, porque achamos que não precisamos, porque não desejamos o jeito que vem até nós, ou então porque descremos por não estarmos assim tão familiarizados com as verdades quando estas se tornam mesmo reais, a incredulidade torna-se extremamente execrável e pecaminosamente saturada de motivos errados e contagiosos.  

A incredulidade tem por hábito conceber um caminho próprio e por consequência angariar e forçar uma fé falsa e falsamente concebida como atenuante, por muito evangélica que esta seja ou possa parecer. As pessoas afastadas de Deus, agarram-se ao que sabem da Bíblia – muito ou pouco – e mutilam e anulam a realidade em que se deve tornar – ainda – aquilo que aprenderam. Uma verdade que não seja concebida, levada e instalada para ser real, pelo próprio Deus, nunca será aceite diante dum Deus vivo. Árvore que Deus não faz frutificar, nunca poderá ser considerada como árvore de fruto, mesmo que seja tida como tal. Árvore sem fruto, mesmo que seja árvore, não será considerada árvore de fruto por Deus. Crente que ora para receber os dízimos estando milhões perecendo em seu pecado, crente que se preocupa, crente que só prega e os únicos a aderirem à sua igreja são outros crentes que se acham no mesmo estado de espírito que ele, crente que sabe mais da Bíblia do que ela resulta em sua própria vida, nunca poderá ser considerado a salvo ou uma árvore que frutifica e deixa sua semente para haver outras árvores iguais.

Eu concordo que existem pessoas com dois talentos e outros com cinco – só não concordo com quem afirma que, tendo recebido dois talentos, traga só um de volta para entregar a Deus se até aqueles que trazem o que receberam sem desperdiçarem são excluídos da vida! Na verdade, tudo quanto um crente sabe, deveria ser mais que uma constatação prática de sua própria vida. Aquilo que lê da Bíblia deveria ser sempre uma aprendizagem prática, acima de ser algo memorizado e estudado. Quem sabe tudo sobre a oração e quando ora não é atendido, deveria ensinar-se a ele próprio primeiro. Já frequentei igrejas evangélicas onde se ora por um doente uma e outra vez sem resultados práticos. Também já entrei em lugares que dizem que Deus curou e a congregação sai toda dali a acreditar que se curou (por vezes até o próprio) e depois a pessoa chega a casa ainda doente! Só que o resto da congregação não se apercebe de tal situação sequer, com excepção do enfermo e do pastor que persistem em mentir e arranjar desculpas para o ocorrido – ou para o que não ocorreu e que Deus deseja que vejam que não ocorreu de facto!

O maior desaire, o mais vil de todos, é que a incredulidade, em vez de se dobrar diante de Deus, ergue-se e usa o nome de Deus em forma de presunção para angariar uma "fé" ainda baseada na Bíblia para que se ache forma de conviver com um desaire após o outro. Sempre que as coisas de Deus não funcionam em sua vida, escute-me crente: volte atrás, busque seu Deus e humilhe-se, pois Deus quer mesmo que você veja que Ele não está consigo. Ele não é fingido. Deixe de se ouvir, deixe de ouvir o homem e deixe de ouvir sua “fé”: vá ter com Deus e arruíne seu pecado logo ali de vez. Foi mesmo Ele quem disse: “…também Eu negarei”, Mat.10:33. Descubra então porquê, porque isso sucede ainda consigo. Amem.

José Mateus
zemateus@msn.com