QUANDO É QUE NOSSO JUGO SE TORNA LEVE?

“Ora, iam com ele grandes multidões; e, voltando-se, disse-lhes: Se alguém vier a mim e não aborrecer a pai e mãe, a mulher e filhos, a irmãos e irmãs e ainda também à própria vida, não pode ser meu discípulo. Quem não leva a sua cruz e não me segue, não pode ser meu discípulo. Pois qual de vós, querendo edificar uma torre, não se senta primeiro a calcular as despesas, para ver se tem com que a acabar? Para não acontecer que, depois de haver posto os alicerces e não a podendo acabar, todos os que a virem comecem a zombar dele, dizendo: Este homem começou a edificar e não pode acabar”, Luc.14:25-30.

Nós sabemos que o Senhor Jesus nos disse que Seu jugo é leve e suave sobre todos nós. Só não entendemos como isso acontece em nós que, deixando tudo que achamos que amamos, a vida se torne muito mais suave e mais fácil de suportar. Mas, temos de levar em conta que Jesus nunca se engana e que Ele disse algo que nós devemos saber que acaba por se tornar sempre verdade.

Antes de tudo, levemos a sério as palavras d’Ele quando afirma “não pode ser meu discípulo”. Ele disse isso a multidões que o seguiam, como que querendo desencorajá-las de seguir em frente assim conforme estavam. Jesus não se impressiona com multidões. As pessoas quando não extraem tudo, mas tudo, de seus próprios corações e horizontes, nunca terão como se tornar discípulos de Jesus, por muito que cantem na banda de sua igreja, por muito que orem e preguem a Bíblia. Seu testemunho é falso e procuram arranjar um jeito de não pagarem o preço do discípulado real e efectivo: aquele que Jesus pede e aceita como tal, única e exclusivamente. Pregam e oram para olharem por cima de muita coisa que querem manter em suas vidas. Isto é o que Jesus chama de “Hipócritas, raça de víboras”.

Nosso jugo torna-se suave quando abandonamos tudo em favor daquela vida que não é pesada para ninguém porque fomos criados para ela, para a podermos viver. Mas, sempre que tentamos viver das duas vidas (ora uma, ora outra) ou as duas vidas ao mesmo tempo, pesará muito mais sobre todos nós (até sobre outras pessoas à nossa volta por nossa causa também) do que se estivéssemos apenas vivendo da vida pesadíssima do pecado que achamos em nosso mundo. Viver do mundo para o mundo estando a evitar todo o tipo de pecado é bem mais pesado para nós, do que vivermos do pecado e do mundo a tempo inteiro. Viver de Deus e sem o mundo é a vida mais leve que pode existir em toda a criação de Deus. Por essa razão Jesus tinha razão explicando que Seu jugo é suave e Seu fardo leve.

Quando Jesus nos fala em negarmos até a própria vida, ele fala assim para quem não a negou. Quem deixou tudo não tem nada do que negar mais – tudo se fez novo se saiu até do coração. Só tem do que viver a partir dali. Então, uma vida de sacrifício é uma vida suposta, fingida, falsa e falsamente concebida para fins próprios e fingidos, vivendo em dois mundos: no de Deus e no do diabo. Jesus disse que ninguém terá como servir dois mestres ao mesmo tempo. Um crente mundano tem uma vida mais pesada que um pecador em seu mundo de sujeira. O crente morno tem uma vida mais difícil de suportar, tanto interiormente quanto no exterior, do que terá uma pessoa do mundo que nunca ouviu falar de Deus. Isso ocorre apenas porque ele tenta servir dois mestres ao mesmo tempo. Por essa razão o mundo se ri dos crentes, pois eles não são entregues a Deus. “Assim pois, por vossa causa, o nome de Deus é blasfemado entre os gentios, como está escrito”, Rom.2:24.  

Se é sacrifício para si salvar sua própria vida, salvar-se deste mundo e de sua corrupção, se seu coração se recusa ter o céu dentro dele e precisa se sacrificar para não ter de mudar por dentro para mudar apenas por fora, seria melhor parar para decidir o que deseja que aconteça consigo, pois, Deus não tolera seres anormais assim. Ele diz que tais pessoas fazem-no vomitá-los da boca para fora. Isto quer dizer que o tornam indisposto e doente e precisa vomitar para colocar para fora de seu corpo tudo aquilo que o torna indisposto e doente. “Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente; oxalá fosses frio ou quente! Assim, porque és morno e não és quente nem frio, vomitar-te-ei da minha boca”, Apoc.3:15-16. E se a nossa vida é assim difícil de suportar (para nós), imaginemos como será difícil para Deus suportá-la também. O sacrifício insinua e induz a saber que vivemos exteriormente de algo que recusamos que aconteça em nosso interior – por essa razão nos sacrificamos, porque não somos aquilo que pretendemos ser, viver e demonstrar.

A dificuldade de Deus em suportar nossas vidas está directamente relacionada com o grau de dificuldade que obtemos em viver com Deus para Deus, sem pôr nem tirar. O que é difícil para nós, será difícil para Deus em sentido inverso, isto é, se formos analisar as dificuldades que temos em viver uma vida simples com Deus mesmo em meio de tribulação, Deus tem a mesma dificuldade em conviver connosco em nossas tribulações. A vida torna-se ultra-leve na medida da entrega que fizemos, na medida da realidade e da espontaneidade dessa mesma entrega – conquanto seja real e definitiva e desde que tudo aquilo que deixamos para trás também tenha saído de nossos corações de forma livre e legal pelas leis da Natureza de Deus, na liberdade. Logo ali nossa vida se pode tornar um fardo maior do que seria anteriormente ou então pode-se tornar na coisa mais leve e mais linda que alguma vez se viu. Tudo depende da vida que escolhemos para sempre para nós mesmos e se abrimos mesmo mão da vida anterior. Será então que nosso cálice irá transbordar e a Vida que Deus nos dará será abundante e efervescente para sempre e sem retorno possível (a menos que pequemos).

Não nos esqueçamos que Jesus afirmou que todo aquele que beber da água deste mundo, seja de que género for, tornará a ter sede. “Todo o que beber desta água tornará a ter sede; mas aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede; pelo contrário, a água que eu lhe der se fará nele uma fonte de água que jorre para a vida eterna”, João 4:13-14. Se quiser que a Vida e o Jugo de Deus sobre si seja leve e suave, deixe de tentar viver duas vidas, viver de dois jeitos, de agradar pessoas e Deus ao mesmo tempo. "Vós de duplo ânimo...", Tiago 1:8;4:8. Amem.  

José Mateus
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