PAREDE DE SEPARAÇÃO

Havia um líder de uma igreja em quem Deus começou a operar uma forma de convicção de pecado à qual este resistia, pois já era presbítero. Mas, a cada dia que passava, angustiava-se mais e mais. Isso levou-o ao ponto de não conseguir viver mais daquela aparência religiosa e forçada, a qual a sua posição na igreja "exigia" dele, pois é comum todos quererem ser exemplos sem nunca se haverem humilhado diante de Deus e das pessoas. Este senhor entrou num processo de desespero depois de algum tempo. O desespero era tal que começou a pensar que Deus já não o aceitaria ou que já não o amava. A convicção foi aumentando, apesar de seus pastores terem tentado convencê-lo de que estaria apenas numa fase ruim da sua vida, que ele já era filho de Deus e que cresse. Mas, o pobre homem não se deixou enganar com palavreado que não enchia o vazio dentro de si, aquele enorme abismo que sabia existir dentro do seu coração e para o qual não achava explicação. Carregava dentro de si um peso e quanto mais orava e pedia a Deus, mais sentia a enorme sede de encontrar verdade dentro de si, verdade que não fosse apenas de aparência.

Não sei precisar quanto tempo permaneceu neste estado, mas um belo dia foi-se deitar, esgotado da luta e sonhou. Estava num deserto muito árido. Este sonho era tão real que parecia estar vivendo tudo aquilo. Nesse deserto buscava água para beber e não a achava, tal como na sua vida espiritual. Foi assim que passou a pensar que, se não achasse água viva muito rapidamente, não sobreviveria. Foi andando pelos caminhos que este deserto lhe ia proporcionando, tentando entrar por cada caminho que encontrava. Isto representa fielmente o caminho da sua vida de igreja e dos conselhos que as pessoas lhe tentavam dar. De repente deu de caras com uma parede feita de pedras, todas do mesmo tamanho. Sabia instintivamente que, atrás daquela parede, estava a água que tanto buscava. Mas, como chegar a ela? Pensou um pouco. Olhando para a direita e para a esquerda não via o fim da parede, nem de um lado e nem do outro, pois desaparecia de vista. As pessoas procuram sempre contornar as questões e foi precisamente esse o seu primeiro pensamento. Mas, logo viu que tal tarefa seria impossível de ser realizada. Sentia-se desanimado, esgotado, cansado de lutar. Olhou para cima para ver se conseguia subir pela parede para matar a sua enorme sede. Mas, viu que também era tarefa impossível. Desesperado e sem mais ânimo para pensar em achar solução, sentou-se numa das pedras que havia por perto e suspirou resignado à sua sorte. A pedra, na qual se sentou, era igual e do mesmo tamanho que aquelas que compunham a parede. Ficou pensando que Deus havia construído aquela parede para que não pudesse chegar à água. "Sabia que Deus não me quer mais", falou.

É assim que as pessoas fazem quando pensam que já não existe solução para as suas vidas. O desespero reina e falam em sua amargura desobediente. Falam rápido demais. Fazem de tudo menos pensar na coisa certa, tentam tudo e mais alguma coisa e, se nada mais resulta, morrem na resignação! Bastaria perguntar a Deus o que significava aquela parede. Mas, ele já havia resolvido que Deus não o queria mais. Foi com este espírito resignado que começou a divagar sobre a sua vida, sobre tudo o que havia feito anteriormente, pensando que chegara ao fim. Nestes momentos, nos quais as pessoas param para pensar um pouco na inutilidade da vida aqui na terra, Deus pode intervir milagrosamente, porque é aqui onde até um presbítero deixa de resistir à própria consciência. Resignando-se, deixa a consciência falar sem se importar com o que ela diz. Pensando e divagando, recordou-se de uma briga com a sua esposa. Sentiu-se mal e encarou aquilo que fez como um tremendo crime. Lembrou-se de como foi comprar umas flores (mais tarde), as quais ofereceu à esposa para evitar pedir-lhe perdão. "Como pude fazer tal coisa? Como pude ser tão hipócrita? Custava muito pedir perdão à minha esposa que tantos anos da sua vida me deu?" Exclamou. Pediu que Deus o perdoasse. As suas palavras ainda estavam quentes quando uma pedra da parede se soltou e caiu no chão perto dele. Havia um bilhete dobrado e colado na pedra com uma mensagem, a qual ele não se atreveu a abrir naquele momento. Ficou surpreso e assustado. Viu o buraco na parede, no lugar de onde a pedra havia saído. Cheirou a água no ar, algo que apenas uma pessoa muito sedenta consegue experimentar. Os sedentos sabem quando existe água por perto. Eles conseguem cheirar a água.

Recordou-se de um outro pecado quando era jovem. Havia-se trancado no banheiro para se masturbar. A vergonha que sentiu daquele pecado foi enorme! Não sabia o que se estava passando dentro dele. Não viu saída, não tinha como se esconder. Sentiu vontade de esconder o rosto na areia. Mas, a única coisa que podia fazer era expressar-se com pedidos de perdão a Deus, pois não havia mais ninguém por perto. Deixou de encobrir e não conseguiu evitar a enorme vergonha que sentia. Chorou e pediu perdão a Deus por aquele pecado também. Mais uma pedra se soltou, a qual foi lançada para longe dali, caindo num abismo e desaparecendo de vista. Olhou, admirado, para o novo buraco que aquela pedra deixou para trás e ficou pensando no significado de tudo aquilo. Olhou para a pedra que caiu perto dos seus pés com um bilhete e ganhou coragem para ler o que dizia. Estava escrito assim: "Esta pedra também cairá no abismo, desaparecerá e irá para bem longe de ti, tanto quando está o Oriente do Ocidente, assim que pedires perdão da tua hipocrisia à tua esposa. Se não pedires perdão, a pedra voltará para a parede. És tu quem vai decidir para onde ela irá". Ele entendeu a mensagem. Percebeu que as flores conseguiram conquistar a esposa, mas, não fez com que o pecado passasse despercebido diante de Deus. Para corrigir o erro, teria de voltar a conversar com a sua esposa sobre um pecado antigo na sua memória, mas ainda fresco nos livros do céu. Lembrou-se dos livros que serão abertos no céu, aqueles dos quais Apocalipse fala: "E os mortos foram julgados pelas coisas que estavam escritas nos livros, segundo as suas obras", Apoc.20:12.

Levantou-se para ir espreitar através dos buracos que ficaram na parede, para verificar se realmente havia água do outro lado e se valeria a pena o esforço de confessar todos os seus pecados. Já não lhe restavam dúvidas sobre o que deveria fazer. Mas, assim que colocou o nariz no buraco, ouviu uma voz firme, decidida, doce e meiga que lhe perguntou se sabia porque razão estaria aquela parede ali. Perguntou-lhe se ele sabia quem havia construído aquela separação e porque razão as pedras eram todas do mesmo tamanho. Respondeu que, quando ali chegou, havia pensado que fora Deus quem construíra a parede. "Mas", redimiu-se, "agora estou achando que fui eu quem a construiu. As pedras representam cada pecado que cometi em toda a minha vida". Deus perguntou-lhe mais: "Sabes porque razão as pedras são todas do mesmo tamanho?" Ele respondeu que não sabia, ao que Deus respondeu: "Não existem pecados pequenos e nem grandes. São todos do mesmo tamanho. Seja assassínio ou seja uma hipocrisia discreta, cada pecado coloca um tijolo do mesmo tamanho na parede que te vai separando de Mim. E, aquilo que te separa de Mim, também Me separa de ti. Não terei como chegar a ti enquanto estivermos separados". Ele entendeu e baixou a cabeça, recordando-se de quantas vezes havia acusado Deus de o haver propositadamente abandonado. Pediu perdão por haver sido tão precipitado com as suas palavras e soltaram-se mais algumas pedras, as pedras daquelas ocasiões em que havia falado contra Deus daquele modo. E o Senhor continuou perguntando: "Agora sabes como quebrar esta parede que construíste? Sabes o que fazer para que não estejamos separados pelos teus pecados?" Ele olhou para aquela pedra que ainda poderia voltar e tremeu só de pensar que poderia ser recolocada na parede. Pensou: "Vou apressar-me e pedir perdão a todo mundo contra quem pequei". E Deus acrescentou: "E, também precisas retratar-te com quem pecaste. Não apenas contra quem pecaste, mas precisas achar as pessoas que foram cúmplices em teus pecados".

Imagine a alegria do homem quando acordou! Sacudiu a esposa e pediu-lhe perdão daquele pecado e de outros que se lembrou. Levantou-se e foi para o escritório escrever cada pecado que lhe vinha à memória. No dia seguinte, foi devolver as ferramentas de um vizinho que se esquecera de entregar. O brilho no seu rosto era tão evidente depois de se limpar, que todo mundo falava da grande mudança que ocorreu dentro dele. As pessoas a quem ele pedia perdão sentiam-se embaraçadas e sem jeito, mas ele não se importava com nada do que ficassem pensando.

Lemos em Isaías 59:1,2 o seguinte: "Eis que a mão do Senhor não está curta que não possa salvar... mas as vossas iniquidades fazem separação entre vós e o vosso Deus". Quero terminar com um pensamento: todo aquele que se limpa detalhadamente, tem como renunciar cada pecado para sempre. Esse poder e a ocasião ser-lhe-ão concedidos. A Bíblia afirma que, apenas os que deixam o pecado, serão perdoados. E, apenas os que se limpam conseguem deixá-lo para sempre. A má-língua, o tabaco, a impaciência e tantos outros pecados, deverão ser abandonados assim que forem confessados! Lemos em Provérbios 28:13: "Aquele que confessa e deixa o seu pecado alcançará misericórdia"; e, em Isaías.58:20, lemos: "E virá um Redentor aos que se desviarem da transgressão...". "Deus suscitou a seu Servo para que vos abençoasse, desviando-vos, a cada um, dos vossos pecados", Act.3:26.

"Quem há entre vós que não acenda em vão o fogo do meu altar? Pois maldito seja o enganador que tendo... promete e oferece ao Senhor uma coisa vil; porque Eu sou grande Rei, diz o Senhor dos exércitos, o meu nome será tremendo entre as nações" Mal.1:10,14. Amem.

José Mateus
zemateus@msn.com