QUANDO A OBEDIÊNCIA É PECADO

"Vós me chamais o Mestre e o Senhor e dizeis bem: porque eu o sou", João 13.13.

A obediência a Jesus nunca é a obediência a quem tem sede de ser obedecido. Jesus é Rei naturalmente e Ele é o que é – simplesmente.

É diferente quando alguém impõe a obediência sobre outro ser, pois só o faz porque não tem autoridade. A obediência a Jesus é feita porque nos tornamos naturais diante dele também – ou tal obediência será falsa e falsamente concebida. Essa obediência dá-se entre iguais, isto é, entre quem tem a mesma natureza. Caso não tenhamos em nós a mesma natureza que Jesus tem, nossa obediência será sempre forçada e hipócrita. Nossa obediência verdadeira, quando santa, não será apenas a um ser excelso, mas antes a uma Vida que recebemos d’Ele.

Cristo é Vida. Quando Ele entra e penetra em nós, tornamo-nos viventes. Só é necessário que seja mesmo real e não apenas uma mera questão de fé. Sempre que Deus desce em pessoa, ou entra em nós como tal, nunca ninguém ficará indiferente a tal ocorrência – é mesmo real. Anulemos daqui as experiências actuais em carismáticos que se dizem viventes quando dançam no seu estado de morte. Quando esta Vida (eterna e constante) penetra até ao mais obscuro e escondido local da alma humana, será porque essa alma se limpou, não apenas pela confissão integral e abandono total de tudo quanto é Deus quem diz que é pecado, mas também porque Cristo em pessoa deveras atingiu essa mesma alma através de Seu sangue. Essa Vida não se mistura com o pecado. O pecado também nunca se mistura com essa Vida, pois é-lhe contrário – sempre e incondicionalmente. Então, quando as pessoas querem ficar longe dos pecadores e dos pecados dos outros, que se tornem santas elas próprias.

Como Cristo é Vida, a obediência é uma forma de vida também – não um esforço. O esforço pode ser o de permanecer nessa vida bem quieto e sossegado, mas obedecer nem é esforço - desobedecer é que é. Quando falamos de obediência em termos humanos, nunca levamos em conta que, na verdade, se trata mais duma incoerência do que duma obediência. Jesus é submisso – mais submisso que Ele não existe. Mas Ele é Rei por natureza – não necessita mostrar que é Rei sempre que o achamos de forma real. Ele é o que é e apresenta-se sem fingimento sequer. Só estar em Sua presença, nota-se logo o que Ele é. Quer adorá-Lo mesmo? Então, nunca o adore antes de encontrá-Lo como Ele é. Sua adoração será espontânea logo ali, caso sua natureza seja igual à do próprio Cristo – submissa.

Jesus não obriga à obediência. Aliás, uma tal obediência será sempre uma afronta aos Céus e nunca um acto de contrição ou submissão sequer. Um crente que se esforça para Lhe obedecer, é um crente fictício por muito evangélico que seja. Antes de se esforçar a obedecer-Lhe no tocante à Vida em si, tente obter uma relação com ele e logo verá porque a obediência a Deus é a coisa mais bela e mais natural de se ver e fazer – a mais simples de todas as coisas que possa fazer também. Por essa razão é que Seu jugo é suave e leve – desde que a pessoa em questão seja tornada leve e suave também. 

Ora, nestas circunstâncias, obediência que não seja natural torna-se algo egoísta. Uma obediência forçada, ou tem motivos dúbios por detrás dela (querendo algo do Deus da Vida de volta), ou então teme ir para o inferno ou deseja ir para o Céu que tem na cabeça. Qualquer pecador que veja realmente qual a essência do Céu, desistirá logo de desejar ir para lá devido à natureza que possui em si, a qual é contrária à que existe no céu. Ou essa natureza é transformada ou o pecador recusar-se-á logo ali a conviver com Cristo como Ele é. Convenhamos que Cristo enche o Céu.

O pecador, em todo sentido da verdade, é obediente a uma natureza – segue-lhe os passos, o seu jeito peculiar e as suas vontades sempre que pode. Do mesmo modo, a obediência a Cristo será sempre uma Vida que entra em nós e à qual seremos obedientes com o mesmo à-vontade assim que nos tornamos familiarizados com ela. Quando um pecador quer obedecer a Deus, terá necessariamente de se esforçar para achar o Deus que transforma para depois poder habitar nele, em vez de procurar ser obediente a uma natureza que não tem acima de obedecer a natureza que tem. Levemos em linha de conta que as Escrituras afirmam que, “Os seus mandamentos não são penosos (difíceis) ”, 1João 5:3. Nós obedeceremos por natureza, por consequência – muito naturalmente até.

Sempre que esta vida se torna penosa, sempre que a fé naufraga e se torna difícil, inoperante e incoerente, deve haver algo onde a pessoa tropeçou e se agarrou – um pecado. Esse pecado separa de Cristo, torna impossível o acesso à Vida com a qual nos familiarizamos e bloqueia-nos todo acesso à naturalidade em questão. Assim, muitos caem ainda mais fundo na tentativa de obedecer Deus a qualquer custo e preço, sendo que deveriam era parar toda a actividade que entretanto se tornou religiosa, para poderem achar a Vida que perderam, colocando na Luz arrasadora de Cristo o que os separou tanto da sua naturalidade como de Cristo. É assim que se formam os religiosos, pois, na ausência de verdadeira Vida, agarram-se a mandamentos de todo género – até a mandamentos de homens. “Conheço as tuas obras, o teu trabalho e a tua perseverança; sei que tens perseverança e por amor do meu nome sofreste e não desfaleceste. Tenho, porém, contra ti que deixaste o teu primeiro amor (tua forma inicial de amar). Lembra-te, pois, donde caíste, arrepende-te e pratica as primeiras obras; e se não, brevemente virei a ti e removerei do seu lugar o teu candeeiro, se não te arrependeres”, Apoc.2:2-5. É interessante notar que, em vez de nos ser dito para obedecermos, somos antes aconselhados a voltar atrás, “onde caíste”.

É aqui que a obediência se torna pecado, pois tenta colmatar e encobrir uma falha ou mais e tenta compensar a falta de Vida real obedecendo com algo que não é da Vida, em vez de se arrepender e voltar ao local do crime para confessar e esclarecer seu pecado diante de Deus. Assim, a obediência torna-se saturada de egoísmos e não é natural. Quando em Cristo, teremos Vida à qual seremos obedientes quase sem nos apercebermos disso e tudo nos é natural aqui na terra como é no Céu.

Será assim que a obediência se torna pecado, pois tenta encobrir e colmatar falhas através dela e tenta ver seus desejos cumpridos como recompensa sempre que é forçada, Is.28:9-18. Amem.

José Mateus
zemateus@msn.com