SE DEUS FIZER

“Eu sei que tudo quanto Deus faz durará eternamente”, Ecl.3:14.

Muita pouca gente dá a devida atenção e seriedade a palavras como estas. Também as entendem conforme desejam e acreditam. Mas, com toda a verdade, este versículo está colocado em termos condicionais e não em termos afirmativos.

Todos conhecemos e citamos um versículo dos Salmos o qual dita assim: “Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam; se o Senhor não guardar a cidade, em vão vigia a sentinela. Inútil vos será levantar de madrugada, repousar tarde, comer o pão de dores, pois ele supre aos seus amados enquanto dormem”, Sal.127:1-2.

Os que constroem também podem construir sem Deus. Nada existe aqui de sacrifícios também, dízimos e dores como moeda de troca diante de Deus e de sua graça. Mesmo que existam dízimos, sacrifícios e dores, estas coisas não são moeda de troca diante de Deus. Mas também não lemos aqui que ele faz tudo quanto supre, isto é, que a chuva que Deus dá ao pecador e ao santo significam o mesmo para ambos, mesmo que a chuva possa ser a mesma. O pecador pode fazer por conta própria, tal como o santo também o pode fazer do mesmo jeito selvagem. Nos puros, no entanto, é Deus quem pega na dita bênção e a usa, corrobora e fortalece ou então deixarão de ser puros; “…para que vos torneis filhos do vosso Pai que está nos céus; porque ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons e faz chover sobre justos e injustos”, Mat.5:45. A bênção de Deus pode vir a ser tomada para proveito próprio. Lemos que Deus supre mesmo quando se dorme, ou especialmente quando dormem. E muitos dormem espiritualmente.

Havendo recebido da mesma chuva, do mesmo Deus, uns tornam-se responsáveis e voltam ao seu Deus para que Lhe seja devolvida aquela bênção especial para Ele reiná-la e geri-la, para que seja Ele a construir a casa para a qual forneceu os tijolos e depois ser Ele a habitar lá. Outros agarram nos tijolos e constroem a casa do jeito deles, para eles só porque receberam os tijolos ou parte deles, usando essa mesma casa para sua própria destruição através do egoísmo que é a verdadeira essência e raiz de todo pecado, mesmo que esse egoísmo pareça santo e agradeça pela chuva que Deus dá aos maus. Isto não quer dizer que o aproveitador não seja próspero no quanto faz e como faz, nem significa que aquele que entrega a bênção de volta a Deus não se atrase ou não sinta dores e dificuldades em sua concretização até final. Quer apenas dizer que, num, aquilo que se faz durará eternamente e noutro durará até Deus quiser tirar de novo. Por norma, todo aquele que prospera no início, dá-se mal com toda a bênção no fim a menos que a entregue a Deus para geri-la enquanto usufruir dela. E quando Deus vem e nos tira o que era d'Ele, dizemos como Jó: "O Senhor deu e o Senhor tirou. Bendito seja o nome do Senhor".

É muito importante aprendermos a ser usados por Deus dentro daquilo que é a Sua vontade. Sabemos o quão difícil é achar a vontade de Deus para nossas vidas. Mas o grau da dificuldade em achá-la está directamente relacionada com o grau de dificuldade que temos em fazê-la depois de havê-la achado. Deus conhece o tipo de coração que temos. E temos dificuldade em achar a vontade de Deus por uma razão específica: é que os homens precisam empregar todo seu coração naquilo que fazem de, com ou para Deus. E se empregam e aplicam todo seu coração na busca, aprenderam a usa-lo em sua totalidade e podem, assim, viver para Deus e só para Ele. Se fosse fácil e facilitado, nenhum homem ou mulher que crê realmente, colocaria todo seu coração em Deus e no jeito d’Ele empreender todas as coisas. Ao lermos o Pai Nosso como exemplo das coisas que devemos mencionar e orar a Deus para sermos ouvidos, lemos lá algo muito estranho que passa despercebido até aos mais atentos. Jesus diz: “Que tua vontade seja feita na Terra como ela é feita no Céu”. Vemos aqui que, mais que a vontade, acima do querer, está o jeito de empreender essa mesma vontade. Terá de ser feita do mesmo jeito, através dos mesmos recursos e poderes, do e no mesmo Espírito e com a mesma precisão dos Céus, aqui nesta Terra onde nada se vê de Deus, de perfeição, de exemplo a seguir. Assim sendo, temos de nos aplicar inteiramente, cerrar nossos olhos com cadeados que nunca se abrem para nunca mais olharmos para o jeito do mundo e como eles fazem as coisas por cá, aplicar todo nosso coração a ver as coisas celestiais para que o jeito se vá apoderando de nós pouco a pouco. Eu vejo que as pessoas, em termos reais, aprendem a viver com aquilo que vêm e assimilam nos outros, mais que pelas palavras que ouvem. Vendo o Céu e o seu jeito dentro de nós e não só (dentro dos outros também), buscando o que é celestial e esforçando-nos de todo o jeito para vermos Deus como Ele é e não como o possamos ter e imaginar, logo aprenderemos Seu jeito também por assimilação espontânea e semi-consciente. Apanhando Seu jeito, teremos de seguida de apanhar o Deus do jeito também, para empreender e construir a casa que nós achamos que edificamos. E será aqui onde muitos santificados falham o alvo, pois, depois de obterem, seguem seu próprio curso pensando que assim obedecem a Deus.

Imagine uma máquina estragada. Deus vem e arranja-a por dentro e por fora. Tira sua ferrugem, seus vícios de paragem e de falta de manutenção, a preguiça que aprendeu porque estava parada. Essa mesma máquina fica pronta para ser usada e ser ela a trabalhar por ela. Mas, este termo de “trabalhar por ela” tem muito que se lhe diga, pois a máquina sendo perfeita e aperfeiçoada de nada valerá se não for ligada à corrente que suprirá a devida energia para fazer tudo aquilo para que foi criada e feita. Essa mesma máquina vai andar à velocidade que for necessário para certo tipo de trabalho, isto é, se a obra necessitar de rapidez ela será colocada na velocidade apropriada, se a perfeição da obra exigir uma velocidade mais paciente e mais lenta, toda a máquina que anda rápido saberá ser colocada em velocidade mais baixa para que possa ser feita a vontade de quem a vai usar. Quem corre, sabe andar devagar também. Nem sempre, porém, poderemos dizer que quem anda devagar saberá correr.

Tudo quanto possa impedir uma comunhão real com Deus deve ser prontamente confessado e colocado de lado, restituído e colocado na luz para todos verem, incluindo o próprio que confessa e Deus. Logo ali nasce uma nova vida que nada de conhecido tem para nós: “Eis que tudo se fez novo”, conforme lemos. Mas, também será ali que, depois de perdoados e purificados, quando as pessoas se sentem leves e aliviadas de seus pesos e sufocos anteriores, elas empreendem do jeito que sabem fazer quando o que Deus mais quer é que deixem e abandonem o jeito. Seria mais aceitável fazer uma coisa antiga do jeito de deus que fazer uma coisa nova de nosso jeito antigo, mesmo que nem uma coisa nem outra possam ser aceites por Deus. Por essa razão lemos de Paulo, aquele homem simples, meticuloso e preciso que, “pois as armas da nossa milícia não são carnais, mas poderosas em Deus, para demolição de fortalezas; derribando raciocínios e todo baluarte que se ergue contra o conhecimento de Deus e levando cativo todo pensamento à obediência a Cristo”, 2Cor.10:4-5. O melhor caminho para a queda é viver a nova vida do jeito antigo. Não existe pecado maior sobre a terra que esse, nem maior mal. "Tu sais ao encontro daqueles que se lembram de Ti nos Teus caminhos", Is.64:5.

Se não for Cristo a construir o matrimónio que Ele fez saber ser a Sua vontade, em breve tal coisa que era Sua vontade se despedaçará nas rochas da ilusão. Se Cristo não fornecer, fortalecer, formar, nada se faz que possa permanecer. Se Cristo não fizer após haver fornecido, nada do que se faz permanece para sempre. Se Cristo não fornece o que se faz, tudo se torna ilusão também. Apenas tudo quanto Deus faz durará eternamente. Cabe a cada qual aprender a empreender do jeito do Céu, através do mesmo Deus e do mesmo poder depois de haver recebido do céu, pois não faltam poderes alternativos cá por baixo, de jeitos levianos e imprecisos, motivos e motivações egoístas e pecaminosas, na nossa terra e nos nossos momentos de sentimentalismo evangélico e Bíblico até. Nem tudo que possa ser evangélico é Bíblico.

Não existe emoção e emotividade maior que empreender por Deus. Mas não existe colapso maior e queda maior que empreender uma coisa dada e prometida por Deus sem Deus. “Aquele que não junta Comigo, espalha”, afirmou Jesus. “Eu sei, ó Senhor, que não é do homem o seu caminho; nem é do homem que caminha o dirigir os seus passos. Corrige-me, ó Senhor, mas com medida justa; não na tua ira, para que não me reduzas a nada”, Jer.10:23-24. Cada homem que já caminha após haver achado seu caminho, deve levar em conta que “se Deus não construir a casa, em vão trabalham os que edificam”. Isto não quererá dizer que os que constroem sem Deus nunca prosperam – só significa que constroem em vão e para a queda. “Eu sei que tudo quanto é Deus que faz, dura eternamente”. O que Ele não faz, nem pode durar. Amem.

José Mateus
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