ANTES DE ORARMOS

"Quem há entre vós que feche as portas e não acenda debalde o fogo do meu altar?  Eu não tenho prazer em vós, diz o Senhor dos Exércitos, nem aceitarei da vossa mão a oblação. Mas desde o nascente do sol até ao poente, será grande o meu nome entre as nações; e em todo o lugar se oferecerá ao meu nome incenso e uma oblação pura: porque o meu nome será grande entre as nações, diz o Senhor dos Exércitos. Mas vós o profanais..." MAL. 1:10,11.

Antes de se orar tenhamos em mente porque razões oramos. Porque razão se dirige a Deus em oração, caro leitor? Temo que a maior parte das muitas pessoas que conheço ora para acalmar consciências e nunca como forma de obter respostas conclusivas da parte de Deus. A razão de ser de qualquer oração é a resposta que esta pode obter e não o tempo que gastamos balbuciando de joelhos, sentados, deitados ou em pé. "Mais é a vida que o sustento e o corpo mais do que o vestido", disse Jesus. Tanto assim é que não deveremos nunca agir como animais irracionais e sem entendimento que gozam mais o tempo que passam ao sol do que o sol em si; gostam mais de se passear pela erva do que comê-la. Ora, a resposta é a vida de qualquer oração, sendo o seu insignificante alimento a maneira come se ora e as palavras que se usam para tal fim. Também aqui mais será a vida que o alimento e o corpo mais que o vestido.

O alvo pois, é a obtenção da resposta e nunca o tempo consumido em oração. Vejo que pelas igrejas onde passo e onde supostamente deveria haver luz tal, brilhante ao ponto de iluminar qualquer um que por lá passe, nada mais importante transparece das suas orações do que o tempo e as palavras que usam para tal finalidade. E logo haveria isto de me acontecer a mim que prefiro obter mil respostas num minuto de oração do que nenhuma resposta em mil minutos de oração!

Ora quando se almeja apenas a resposta, qualquer quantidade de tempo usado para o efeito passará sempre despercebido. Ao orar-se para obter respostas na hora, o tempo que se usa para tal coroar do nosso tempo, passa desprevenidamente inerte por nós. Ao obter-se resposta levantamo-nos e sacudimos o pó dos nossos joelhos e podemos assim prosseguir para aquele louvor que só assim sairá muito naturalmente. Assim se ouvem comentários como "ainda são só x-horas" ou "já são y-horas, como o tempo passou!". Passe-se um ano em oração ou apenas um minuto, convém sempre que nunca percamos de vista a finalidade porque nos virarmos para Deus em espírito e em verdade. Qualquer pessoa que ignora que o alvo é a resposta, estará a ignorar que Deus existe, porque se o "pedi" nos é dirigido a nós, o "dar-se-vos-á" refere-se a Deus. E tão pouco se me dá quantas vezes tal "Ás da oração" aceitou Cristo, pois decerto que não estará em plena comunhão com o Deus que é o natural proprietário da sua alma. A coroa da nossa rainha é a resposta que lhe convém e quanto mais pura tanto mais preciosa nos será.

É por esta razão que antes de falar em como se deve aproximar dum ser tão maravilhoso como o é Deus, quero assegurar que almejemos sempre a resposta e nunca qualquer outra coisa. A melhor maneira de se obter respostas validas e concretas será obtê-las no instante em que se pede. Qualquer pedinte sólido deveria recusar levantar-se dos seus joelhos sem que haja obtido resposta do seu Deus! Note-se o caso de Jacob (Gen. 32:26-29) como se recusou deixar Deus partir sem ser abençoado primeiro! Ora, quantas pessoas desejam assim tão intensamente ser abençoados pelo Deus omnipotente e quantas serão assim tão atrevidas? Olhe-se também para o caso daquele cego em Jericó (Lucas 18:35-43) que ao ouvir que Cristo passava não se importou que o repreendessem e que Cristo parecesse não querer atendê-lo. Gritou até ser atendido, pois sabia que quando o sumo criador de tudo passa por nós algo pode sempre acontecer se o importunarmos até não mais poder-nos recusar (Lucas 18:1-8).

Asseguro-vos que existirão sempre milhões de razões que levam as pessoas à oração quando deixam de lado a religiosidade precária que até ali pensariam ser o servir Deus. Assim que alguém se apercebe que a verdade sempre existe afinal, corre-se sempre o risco de tentar pôr remendos novos em roupa velha ou vice-versa, enxertar ramos novos numa árvore já de si morta. Creio que nenhum cadáver necessite dum implante ou transplante para que assim pareça estar a renascer! Imagine que alguém saiba fazer muito bem enxertos em árvores de fruto e escolhe uma árvore em fim de vida para lhe enxertar um novo galho de bom fruto. Que pensaríamos nós de tal feito, mesmo os que nada percebemos desta arte agrícola? Pois, creio que qualquer um que se ponha de joelhos sem ser para ser ouvido se ponha ao mesmo nível de tal pessoa, porque sabendo fazer a vontade do Pai não a faz como deveria, preferindo estragar e remendar o que deveria ser de todo novo. Foi por esta razão que Cristo respondeu a quem lhe inquiriu sobre a falta de oração dos seus discípulos, que "não se coloca vinho novo em odres velhos" (Mat. 9:17). As pessoas ao virem dum festim de rezas mal atendidas e pouco lógicas para um Deus que se quer vivo, por haverem vivido durante bastante tempo a enganarem-se pela morte evidente das suas preces, tentam então empregar os seus hábitos antigos na sua maneira de orar agora nova, muitas vezes sem a finalmente clara de obter respostas concretas. É sobejamente sabido que as pessoas que não conhecem Deus entregam-se à religiosidade das orações apenas porque tal pratica lhes aufere, de certo modo, um certo bem-estar enganador pelo tempo que passam a orar ou mesmo a rezar. Assim, nunca necessitam esclarecer-se se de facto chegaram a obter as tais respostas concretas a pedidos evidentes ou não. Acabam de orar, ou de fazer vigílias intermináveis e assim terminam o seu acto religioso sem se darem conta de que não estará terminado o seu acto religioso a menos que hajam sido ouvidos pelo Objecto das suas orações! Caro leitor, quantas vezes foi ouvido por Deus? Quantas vezes pediu pelos enfermos da sua igreja sem que estes hajam sido postos de boa saúde outra vez? Se assim acontece, porque se insiste em orar afinal de contas? Se se fazem sempre as mesmas orações pelas mesmíssimas pessoas por causa dos mesmos problemas, não será porque algo de errado se passa com quem ora? Ou terá o leitor um deus morto em mente?
É impossível não se obterem respostas concretas imediatas pedindo em nome de Jesus dentro da sua vontade em manifestar-se a quem clama de coração puro. Mesmo pedindo fora da sua vontade qualquer ser humano pode sempre obter um não e não também é resposta! (2Cor 12:8,9). Asseguro que não é possível não ser-se ouvido pelo Deus que conheço. Mas então, que se passará com as fastidiosas orações e vigílias intermináveis de tempo mal gasto que só servirão para irritar o Criador dos Céus e da Terra? Que ignorância será esta que mantém assim tão cativos quem vive uma vida inteira a orar sem obter um único sinal de vida do outro lado da linha? Será por esta razão que um ser tão amoroso e paciente como o Senhor se vira contra quem ora em vez de se movimentar a favor dos mesmos? Que se passará connosco então? Que tremenda ofensa será esta para que Deus assim reaja? "Pelo que o juízo está longe de nós…esperámos pela luz e eis que só há trevas; pelo resplendor mas andamos na escuridão". "Ai dos que ao mal chamam bem e ao bem chamam mal; que fazem da escuridade luz e da luz escuridade; que fazem do amargo doce e do doce amargo. Ai dos que são sábios a seus próprios olhos e prudentes diante de si mesmos". Não será agora que se passa aquilo que Zacarias profetizou dizendo que "e acontecerá naquele dia que não haverá nem preciosa luz nem espessa escuridão... nem de dia nem de noite será...". Porque dirá o Senhor, "todavia Me procuram cada dia, tomam prazer em saber os meus caminhos como um povo que pratica a justiça... têm prazer em se chegar a Deus... dizendo: porque jejuamos nós e não atentas para isso?" E Deus responde: "Não conhecem o caminho da paz (paz de espírito e de consciência!) nem há juízo nos seus passos: as suas veredas tortuosas as fizeram para si mesmos; todo aquele que anda por elas não tem conhecimento da paz!" (Is. 58:2; 59:8; 5:20; Zac.14:6,7).

Ora aqui está uma afirmação que procurarei desenvolver sem nada lhe acrescentar nem tirar: "as suas veredas tortuosas as fizeram para si mesmos...", isto é, para servir nada mais que a si próprios dentro do clausulo de religiosidade que para si criaram, esteja esta dentro das doutrinas da verdade ou não, só para poderem continuar a não ser ouvidos de forma coerente e real e para que assim tenham forçosamente de rever todos os caminhos que para si criaram. É que as pessoas estão habituadas a que Deus lhes seja um ser distantemente longínquo e irreal e assim que se torna omnipresente e verdadeiro, todos optam contra Ele a favor daquele que só existe no mundo das suas conclusões precipitadas. Um Cristo vivo é sempre crucificado por quem não aufere nem gosta de realidade no mundo que não vê, isto é, no espiritual. Enquanto tal mundo se parecer com uma lenda e não ameace o nosso que durante anos foi auto-criado com esforço (ignóbil), tudo se aceita e remedeia. Mas assim que Deus transparece da vida e das orações de quem Vive, as coisas deixam de ser muito bem aceites por qualquer espectador, pois deixa necessariamente de ser passivo. Ninguém gosta dum Deus vivo e digo-o para que todos se envergonhem de tal atitude criminosa! Qual a razão deste fenómeno? Não será porque as pessoas têm muito a esconder? Não será porque passam uma vida inteirinha a fingir sobre os preconceitos e intrigas do seu coração, principalmente os religiosos, e que em tal mundo não cabe um Deus puro e acima de tudo real? As obras são más, mesmo aquelas que pertencem a quem é visto como santo e quem é tido como correcto, tem sempre mais razões para se esconder do que qualquer outro. É por essa razão que "a luz resplandece nas trevas e as trevas não a compreenderam. Veio para o que era seu e os seus não o compreenderam!"! "Porque todo aquele que faz o mal aborrece a luz e não vem para a luz para que as suas obras não sejam reprovadas". (João 1:5,11; 3:20), pois existe uma ideia generalizada que quem manifesta tudo o que se passa no seu coração será condenado e isto enquanto o contrário é que será a única verdade aceitável diante de Deus!

Posso citar muitas partes das escrituras onde Deus afirma que quem ora ou reza sem ser para obter respostas à vontade de Deus é pecaminoso, arrogante e opera contra Deus e quem persiste em mesmo assim continuar a sua religiosidade pior se torna ainda! A tais pessoas só lhes convém que a religiosidade seja a verdade porque lhes convém serem tidos como ignorantes por haver uma série de caprichos que gostam de satisfazer, os quais não lhes será nunca permitido sendo Deus verdadeiro e real. Que horror haver pessoas que se enganam a si mesmas e com isso tentam enganar o seu próximo com a sua aparência religiosa! E se tal pessoa sabe mesmo orar correctamente, tanto maior se torna o seu crime! Com quanta justiça fala Deus quando diz "Ouvi ó céus e presta ouvidos tu ó terra... criei filhos... mas eles prevaricaram contra mim. O boi conhece o seu possuidor e o jumento a sua manjedoura; Mas o meu povo não tem conhecimento... não entende... ai da nação pecadora, (Is.1:2-4).
Terei tempo de elaborar sobre esses textos mais adiante. Bastará manter em mente por agora que, quem ora sem ser para obter respostas, é hipócrita e não sabe nem o que faz nem o que pretende! Porque pedirá o Papa paz para o mundo e esta nunca se resolve aparecer? O piorar das disputas entre povos prova-me o quê afinal? Ou alguém é hipócrita e nunca foi inspirado por Deus naquilo que pede, ou Deus não existe e é por essa razão que faz por causar boa impressão diante do mundo inteiro! Ou será porque Deus não existe apenas e só no seu mundo? Para qual das hipóteses se inclina o meu caro leitor? Terá você a coragem de expor e admitir o erro, nem que seja apenas no seu coração? É que Deus existe mesmo e é real, por isso podemos chegar a conclusões muito evidentes sobre muita coisa no fruto de quem é tido como líder de muitos! Olhemos para o fruto da árvore e não para as folhas, pois quem se alimenta de folhas anda com quatro patas e não pensa racionalmente! E quem menciona a paz no mundo pode ainda elaborar sobre muito mais questões, disso não tenhamos duvidas!

Pretendo assegurar que antes mesmo de se aprender a orar (ciência simples demais até para ser explicada em palavras e que até crianças assimilam sem qualquer dificuldade!), se veja quais as dificuldades em se obter respostas bem concretas aos pedidos que efectuamos, antes ainda de aprendermos sobre aquilo que podemos e devemos orar. É sabido que qualquer jogo terá sempre as suas regras muito próprias e este não será diferente em nada de qualquer outro, sendo apenas diferenciado na sua forma de ser assustadoramente real e de tão fácil acesso. Existem porém obstáculos intransponíveis à oração, os quais devemos eliminar e nunca tentar suplantar. Com isto não direi que será difícil orar, mas sim ser ouvido caso as regras hajam sido ultrajadas. É sabido que os crentes que encontram verdade e a conseguem assimilar nos seus corações, pensem sempre que mesmo não se obtendo respostas se está bem com Deus, o que é falso e contrário à verdade pois a resposta à oração é sempre sinal dum fácil e desimpedido acesso ao Pai que é nosso. Não nos iludamos com a verdura da folhagem da árvore da qual comemos! Como poderá alguém crer que Deus ouviu uma oração que pede a salvação da sua alma, se ao pedir pão não é sequer ouvido? Se Deus não ouve uma oração, porque haverá ouvido a outra? Os canais das orações não são todos os mesmos? E se Deus ouviu uma oração que pede salvação, porque não ouvirá Ele uma que pede pão? A menos que Ele queira que alguém morra à fome!

Não nos iludamos com a verdura da folhagem da árvore da qual comemos! Como poderá alguém crer que Deus ouviu uma oração que pede a salvação da sua alma, se ao pedir pão não é sequer ouvido? Se Deus não ouve uma oração, porque haverá ouvido a outra? Os canais das orações não são todos os mesmos? E se Deus ouviu uma oração que pede salvação, porque não ouvirá Ele uma que pede pão? A menos que Ele queira que alguém morra à fome!

É de necessidade absoluta ser-se ouvido quando se ora e por isso deve-se sempre ter em conta que tão mais importante que orar é e sempre será o ser-se ouvido. Pretendo mostrar que antes de se orar devemos saber que existem coisas pelas quais não se pode nunca obter resposta a menos que estejamos em direcção contraria ao Céu - para o inferno - e que existem regras muito precisas neste jogo que começamos a jogar, sempre para vencer e sempre que quisermos. Mas mesmo nestas poderemos obter respostas negativas. Se pensarmos que Jesus Cristo atendeu um pedido de demónios para se entranharem nuns porcos, porque razão se pensará que os crentes não poderão ser ouvidos? Estarão estes em piores condições espirituais que demónios condenados para que não sejam ouvidos?

É também de levar em conta que tudo o que se volta para nós em forma de 'sempre que quisermos', deixa de ser obstáculo e por essa razão passa a ser negligenciado como dado já adquirido. As pessoas só se atiram de cabeça quando as coisas são difíceis e sem acesso, porque assim obtêm a ocasião única e egoísta de contraporem religiosamente como tendo razão para os seus muitos insucessos. É difícil as pessoas irem ter com alguém precisamente quando estão presas no erro e muito mais quando têm plena consciência disso. Mas reconhecendo quando estão erradas que não serão ouvidas por méritos próprios mas porque Jesus lhes abriu caminho ao Pai, as coisas tornam-se simples demais para atraírem quem adora seguir só e sempre uma forma complicada de empreender seja o que for. Não entra na cabeça de muitos que é simples ser-se ouvido por Cristo em pessoa e que se por vezes as coisas se tornam complicadamente difíceis, será porque essa deverá ser a única forma de Cristo se fazer ouvir em nós por causa dos nossos contínuos mau feitios! As pessoas gostam de fitas, de dramas e de respostas dramáticas. Porém, é coisa simples Cristo mudar o mundo num abrir e fechar de olhos. Existe aqui então um contra censo que convém explicar de forma a que as pessoas deixem duma vez por todas de ser complicadas demais perante um Deus supremo em simplicidade. Para Deus é simples trazer coisas à vida, para os humanos só o complicado faz sentido. Será necessário pois, empreender aqui uma reconciliação de estar na vida entre Deus e ser. É por esta razão que a Bíblia nos fala em sermos "reconciliados com Cristo", pensando da mesmíssima maneira que Ele.

Mas antes de falar de tudo isso, quero primeiro insinuar e depois provar que existe sempre um ponto de partida para todas as maratonas desta nossa vida que se quer eterna: a confissão incondicional dos nossos pecados na sua totalidade. Só a partir daqui é que poderemos começar a falar em oração. Não só isso, mas também a sua consequente renuncia através da fé n'Ele. Existem obstáculos que não são de maneira alguma o simples não cumprimento das regras impostas desde há muito para o pleno sucesso de qualquer oração. Por esta razão pretendo desde já realçar que a coroa de qualquer oração é a resposta que esta obtém, seja esta positiva ou negativa. É e será sempre pela resposta que se obtém que se vê se alguém sabe orar ou não, nunca pelas palavras bem pronunciadas, lavadas em lágrimas ou mesmo impregnadas de conhecimento bíblico. Depois de se orar, deverá sempre haver resposta. Só assim se saberá se tal pessoa está em plena comunhão com Deus ou não. Não a havendo havemos perdido o nosso tempo de forma idolatra em oração, pois a idolatria é-o de muitas mais formas do que as que possamos imaginar.

O conceito por detrás de qualquer forma de idolatria pressupõe falsidade: um deus que não fala, não anda nem se mexe. Ora, na oração passar-se-á o mesmo. Que dizer então dum deus elaborado na minha mente através de verdades estudadas mas que não corresponde aos meus pedidos? Estará esse vivo? Qualquer oração não ouvida tem a selagem perfeita da mentira e do engano, pois tem o poder de enganar por estarmos a orar correctamente ou talvez não. A oração que não é ouvida é idólatra e tem o poder de manter quem ora, firme no engano e no preconceito religioso - os tais trapos que vieram connosco da vida antiga. Tenhamos então em mente que a oração perfeita é aquela que é atendida e nunca aquela que é bem explícita. Também não será nunca aquela que é explícita num local certo e apropriado, como diante dum qualquer altar, pois se assim for tal altar se torna um perfeito sacrilégio para um Deus que disse: "e dali (onde quer que estejas) clamarás ao Senhor e o acharás se o buscardes de todo o teu coração e de toda a tua alma" (Deut. 4:29). O facto de havermos sido ouvidos pressupõe apenas um coração puro diante de quem é santíssimo. Um coração puro será tão só um muito simples e sem preconceitos religiosos, pois Deus está vivo e qualquer religiosidade pressupõe sempre uma forma morta dum Deus que se gostaria que fosse real! Quando oramos a um Deus vivo em confiança, como oramos perde a sua razão de ser, pois tais razões que muito se usam para nos sentirmos confiantemente confortados na mentira que auferimos hipocritamente, não servirá para nada mais do que para debilitar uma fé já de si tornada impura pelo muito palavreado que muito mal usamos através das irracionais acusações ocasionais de consciência mal informada. O bem explicar nunca será sinónimo de se ser ouvido, pois até Cristo disse "e quando orares não sejas como os hipócritas... não vos assemelheis pois a eles porque o vosso pai sabe o que vos é necessário antes de vós lho pedirdes..." (Mat.6:5,7,8).

A idolatria descarada só engana quem se quer deixar ser enganado para que a pessoa em questão passe sempre a usufruir dum qualquer proveito do pecado enquanto se é religioso e enquanto se usa o nome de Jesus em vão. Isto é notório demais até e praticamente factual, pois a idolatria assegura sempre uma vida muito própria e propicia ao crime e pecado dentro da religiosidade. Se assim não fosse as pessoas não seriam religiosas nem idolatras. Mas, saindo alguém duma vida religiosa e idólatra pela graça de Deus seja através dum esforço tremendo ou não, deixa de rezar para começar a orar. E é aqui que a mentira se transfigura em verdade e onde o anjo da luz parece nunca pertencer às trevas de onde é originário e para onde opera "porque não há verdade nele; quando profere a mentira fala do que lhe é próprio porque é mentiroso e pai da mentira", mesmo quando tenta com a verdade. Ao deixar-se de lado, pois, aquela idolatria descarada e peremptória, qualquer ser humano pode, no entanto, reflectir através da verdade que encontra todos os seus caminhos antigos, dos quais adquiriu hábitos de não ver que mente quando mente, ou simplesmente de se contentar em ser religiosamente capaz de perfazer-se agora de verdade palavreada apenas. Pensa assim que agora não existirá qualquer impedimento na verdade em que crê, mesmo sendo mentira o que vive e experimenta, pois o que professa nunca corresponde à sua vivência do dia a dia!

Não me quero alongar muito sobre estas verdades já, pois terei oportunidade de expandir sobre as mesmas muito discretamente mais adiante para evitar qualquer aparecimento de dureza num coração já de si obstinado e religioso. Prefiro espalhar e assim disfarçar a boa semente no meio do fertilizante que vou usando e semear esse mesmo fertilizante impregnado de semente, do que atirá-la para a terra expondo-a assim a céu aberto onde qualquer pássaro pode arrebatar o que um dia poderá vira ser uma grande árvore de fruto. Outra maneira seria a semente ser extremamente pequena (Mat.13:32) e pouco visível, mas aqui torna-se tal coisa impraticável precisamente devido à grandiosidade do tema que vamos tratar neste espaço que quero puro. Tenho plena consciência que a única altura em que alguém que se chama diabo pode engolir uma árvore inteira, é quando esta ainda é semente. É mais fácil destruir uma avestruz enquanto esta ainda for ovo e embrião, do que quando for adulta, embora a mutilação numa adulta criação de semente perfeita também possa levar à morte.

Para se obter resposta aos nossos transformados anseios e não só, será pois necessário não só manter a forma como também se deve estar muito bem equipados para o que der e vier do desconhecido poder de sermos ouvidos, o qual agora pretendemos seja nosso porque finalmente apanhamos Deus a ouvir-nos. "Eis para quem olharei, para o quebrantado e humilde de espírito". Mas logo de seguida nos apercebemos que o facto de havermos atraído a atenção daquele ser que muito nos quer atender, não nos faz alcançar tudo aquilo que pedimos. Vemos que oramos dentro da sua vontade, que sabemos aprovar e concordar com as coisas que só Deus vê como boas, mas mesmo assim surpreende-nos o ricochete que fazem as nossas orações num Céu que mais nos parece feito de ferro do que de graça, de paz e de boa vontade. É precisamente aqui que nascem muitas falsas formas de vida que dão a origem às muitas igrejas que hoje vemos na face desta pequena terra. Por isso lemos em Romanos daqueles que "sabem a Sua vontade e aprovam as coisas excelentes sendo instruídos por lei" (Rom.2:18-24). É que os crentes ignoram de variadíssimas maneiras que não estão sequer a ser ouvidos, quanto mais atendidos e apreciados lá do santo alto que se chama Sião! Dizem para crermos de variadíssimas formas para não perdermos a esperança neste caso falsa e remendada das nossas precárias ascensões ao alto das respostas concisas. A sinceridade é sempre posta de lado em casos destes porque têm sempre de se conseguir agarrar a uma qualquer blasfémia que os mantenha a flutuar em verdades que aprenderam, por se estar em poder da verdade que nos advém da Bíblia que por sinal começamos a entender da maneira correcta. È precisamente aqui onde se perdem a maioria dos que entram na boda com roupas muito desapropriadas para tal ocasião. Não admira pois que sejam lançados fora mais tarde por se haver esgotado o tempo que lhes foi concedido com a finalidade de reconsiderarem o erro que herdaram da suas vidas anteriores e ao qual se agarraram insolentemente, pensando tal coisa nunca lhes vir a poder trazer qualquer mal quanto mais infortúnio eterno! Que mal terá usar um pouco dos nossos remendos sujos que trouxemos connosco da nossa vida antiga, pensarão estes levianos de nariz empinado!

Mas tenho por seguro que quando se não é ouvido, isto é, quando não se obtêm respostas concretas e grandiosamente visíveis, corre-se certamente aquele risco de se estar a perder a vida de forma inconscientemente desnecessária. A Bíblia chama a tais de tolos e muito bem, diga-se de passagem pois "a soberba é o princípio da queda". Quem não obtém respostas e continua a orar sem se aperceber que Deus não o ouve, nunca descobrirá o porquê de tal ocorrência estranha demais para ser tida como possível e isto precisamente devido à sua soberba despercebida e sem fundamento. Como poderá alguém em tais circunstâncias pensar sequer que tem posse da vida eterna? As tais a Bíblia chama de tolos com razão e por isso sem possível ofensa.

É impossível não se ser atendido por Deus quando se ora. Mas então porque razão existem tão poucas pessoas que dão testemunho válido de como foram ouvidas por Deus? Não incluo aqui aqueles que por razoes obvias se desviam de Deus. Também não incluo aqui todos aqueles que obtêm o bem que a qualquer um, bom ou mau, pode calhar. "Deus dá a chuva tanto aos bons como aos maus" sem distinção de pessoas. Por isso, não aceitemos que tais coisas sejam respostas concretas às nossas orações mas sim dadivas normais de Deus que servem a qualquer um. Tudo o que quero mostrar aqui é aquele simples mover de Deus em prol de tudo aquilo que pedimos e damos.

Para se saber se Deus está presente numa certa e determinada igreja, bastará passar algum tempo nas suas reuniões de oração, pois ali se podem tirar variadíssimas ilações sobre a realidade da presença de quem pregam ser real e haver de facto ressuscitado dos mortos. Pegue-se num lápis e assentem-se todos os pedidos e verifique-se se são atendidos ou não. É de certa maneira por aí que se vê que Deus vive no meio de quem pede ou não. Existem ou não vãs repetições de pedidos mês após mês, ano após ano sem por vezes se darem conta de tal ocorrência? Porque se assim é, Cristo disse: "não useis de vãs repetições quando orardes como os que pensam que por muito falarem serão ouvidos...". Ora, se Cristo nos fez este aviso, como e o quê é que nos faz sermos ouvidos lá no alto então? Qual o segredo?

A ascensão da oração tem como sinal um movimento claro e inequívoco de resposta concreta. Imaginemos que Elias não havia obtido resposta aos seus pedidos sobre a chuva que faltou sobre Israel; quem de entre os samaritanos acreditariam mais nele mesmo depois daqueles sinais poderosos da queima daquele holocausto feito sobre um altar de doze pedras? (1Reis 17 - 19). Lemos que Elias seria uma pessoa normalíssima sujeita às mesmas paixões que qualquer ser humano (Tiago 5:17). Por isso concluímos que a diferença estaria entre o Deus com quem este comungava constantemente e os deuses que os ditos seres humanos como ele, adoravam. Mas também é provável que as pessoas vissem as gostar mais de Elias depois de o acharem mentiroso e até passassem a crer nele caso nada do céu viesse, pois iria de encontro á sua própria natureza de mentirosos. Se já criam em Baal nada mais surpreendente haveria se aceitassem Elias só por passar a ser igual aos seus falsos profetas. Por isso diz a Bíblia que das pessoas "pusemos a mentira por nosso refúgio e debaixo da falsidade nos esconderemos"; "coisa espantosa e horrenda se anda fazendo na terra. Os profetas profetizam falsamente e os sacerdotes dominam pelas mãos deles e o meu povo assim o deseja", "também estes escolhem os próprios caminhos" (Is.28:15b; 66:3; Jer. 5:30,31). Mas não entremos neste campo; vamos antes a questões concretas de evitar que as nossas orações se tornem repugnáveis em vez de serem um suave cheiro de um incenso desejável, por quem morreu para que pudéssemos precisamente vir a ser atendidos oportunamente.

Antes pois de entrarmos nos corredores dos grandes segredos simples da oração, analisemos um pouco uma das condições muito prévias, (os primeiros passos!) para se obterem respostas às orações que reiteramos constantemente. Existirão sem duvida vários impedimentos à resposta na oração, pois se assim não fosse o mundo estaria transfigurado há muito, tantos são já os pedidos que se fizeram ouvir entre os crentes! Mas o pior de tudo não será o simples existir de obstáculos concretos, mas sim a ignorância das pessoas em continuarem e persistirem na sua vida muito religiosa sem nunca obterem respostas aquilo por que muito pedem. É esta razão que me leva a pensar que as pessoas não levam a sério o não estarem em plena comunhão com Deus, porque se estivessem não se deixariam enganar em falsas esperanças de orações nunca atendidas. É aqui que reside a primeira chave do nosso segredo em obter o que pedimos: antes de tudo levemos em consideração que as respostas existem de facto.

O simples crepitar de mentira evasiva nos nossos pedidos deveriam transfigurar a nossa atitude perante tão grande manifesto. Mas são todos tão levianos com eles próprios que nem se dão conta de que sem respostas as orações serão sempre inócuas e não fazem qualquer sentido. O culto não faz sentido a quem quer viver de verdade em verdade e tão pouco o fará a um Deus que vive eternamente. Deixemos pois de ser promiscuamente e voluntariamente hipócritas porque existe solução para as realidades concretas de todos os nossos problemas, muito principalmente daqueles que nos separam de Deus! Lemos que "Deus olhou desde os Céus para os filhos dos homens para ver se havia algum que tivesse entendimento e buscasse a Deus. (Mas) desviaram-se todos e juntamente se fizeram imundos... não há um sequer..." (Salm.53:2,3). É de levar em conta que todas as orações não atendidas testificarão contra quem as pronunciou, pois Cristo disse que todos sem excepção darão contas de qualquer palavra ociosamente pronunciada, seja esta em forma de pedido ou de simples leviandade diante de homem ou mesmo diante de Deus.

Pretendo desde já e antes de mais nada realçar que, não me sujeitaria sequer a pedir algo a um bocado de pedra ou de madeira, ouro ou mesmo prata que se faz simbolizar em forma de Deus, posto tais coisas não poderem vir a ouvir nunca. As pessoas que a tais coisas pedem, mesmo chamando-se estas de Cristos ou algo diferente só terão aquilo que merecem mesmo: uma resposta tão mentirosa quanto o ídolo a que se encurvam para pedir algo. Que se esperará dum deus de pedra senão uma resposta também de pedra, fria e imaginária? Partindo pois do principio que se ora a um Deus vivo, mesmo sendo manifestamente invisível, vamos então vasculhar dentro daquilo que é possível a condição embrionária de qualquer possível resposta à oração. Tenhamos em conta que quando se fala de uma vida, esta nada seria se não houvesse sido embrionária num dado momento da sua existência. Por isso, vamos àquela que figurativamente passo a chamar a pré-história da oração, precisamente algo que todos os crentes deveriam saber de antemão e não sabem mesmo anos depois de frequentarem assiduamente as suas igrejas. Depois falaremos das outras fases duma vida de orações conseguidas até esta ser eternamente adulta e sem mácula, isto é, no que toca a oração.

Lemos em Isaías 58 e 59 que Deus condena veementemente o seu povo por estarem a pisar os seus átrios sob o pretexto de virem orar e jejuar perante o seu Deus. Estariam a passar fome ou mesmo sede por falta de chuva, talvez com desgostos amorosos e de faltas de compreensão por parte dos amigos, falta de paz nos lares, talvez tudo o que levaria pessoas sem entendimento a poder pensar serem rezas bastante validas para livremente pisarem átrios sagrados. Mas vemos que Deus não só os recusara mas também disse que abominava as suas tentativas de oração e de jejuns mal concebidos. Lemos até em outras partes da Bíblia que Deus disse: "ouvi pois vós que vos esqueceis de Deus, para que vos não faça em pedaços sem haver quem vos livre. Àquele que bem ordena o seu caminho Eu mostrarei a salvação de Deus", seja esta salvação de problemas de pecado ou de qualquer outra coisa. Logo de seguida deparamos com uma afirmação no mínimo estranha da parte de Deus: "Eis que a mão do Senhor não está encolhida que não possa salvar, nem o seu ouvido agravado para não poder ouvir. Mas as vossas iniquidades fazem separação entre vós e o vosso Deus: e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós para que vos não ouça". Ora pois, eis aqui um pequeno grande enigma que, tenhamos em mente, foi explicado ao Seu povo, àqueles que se chamam crentes.

Existe pois uma primeira barreira nas fileiras e nos canais das orações sem quaisquer respostas: o pecado. É estranho que ninguém dê a devida atenção a este fenómeno. As pessoas pedem perdão dos pecados muito geralmente sem nunca sequer pensar no que possam ter feito contra Deus e contra o próximo. Neste tipo de atitude muito dificilmente se verão respostas a pedidos a quem se recusa ouvir as súplicas de bocas hipócritas e contaminadas. È sabido que Deus não atenderá nunca um qualquer pedido de oração enquanto houver um único pecado conscientemente não confessado. E não será confessá-lo a um padre ou um suposto santo intercessor que irá alguma vez resolver a questão. Cristo disse: "ninguém vem ao pai senão por mim; Eu sou o caminho a verdade e a vida".

Ora, assim sendo, analisemos um pouco aquilo que considero a maior de todas as hipocrisias em meios religiosos, evangélicos ou não. Apenas muito ocasionalmente se ouvem pessoas a confessar os males e os crimes que cometeram contra seja quem for, mesmo contra eles próprios sejam estes por meio do álcool, droga, tabaco, com praticas extra conjugais de sexo, mentiras sob o pretexto de auto defesa e que mais. Mas, aquela constante limpeza em humilhação (porque é humilhante confessar em verdade e em espírito) raramente é levada a peito dentro dos círculos de quem prontamente ora. Sendo esta uma das razões principais porque se contaminam as pessoas que estão sempre prontas a serem os que sempre oram nas igrejas para serem vistos e não propriamente porque tenham o espírito de colocar algo diante de Deus, resistindo ao bom senso (quanto mais a Deus!), tornam-se tais razões para se orar sempre muito mais fortes que qualquer dos colóquios que a consciência muito de vez em quando promove a favor do bem-estar espiritual e que são sempre prontamente sonegados duma forma ou de outra, ou seja através de não se tentar pensar no assunto ou seja por culpa de crenças pretensamente religiosas que se esforçam sempre contra o único caminho de se livrarem duma vez por todas de qualquer acusação mais ou menos directa, não admira pois que Deus se vire contra quem ore. As palavras "vinde então e argui-me diz o Senhor: ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve... como a branca lã" não fazem assim tanto sentido. Duas coisas são sempre esquecidas em versículos como este: a primeira é a pequena e insignificante palavrinha 'então', isto é depois de algo haver antecedido o vir e a segunda será o pecado se tornar branco como a neve.

Olhando à minha volta para quem pede perdão por aquilo que faz muito geralmente ou a uma pessoa que se diz representar Deus cá na terra (crime pelo qual irá pagar seguramente), nota-se mesmo sem ser preciso esforçarmo-nos para tal, que a consciência não se tornou tão branca como a neve nem o que se pareça. Existe um outro versículo que muito se usa nas igrejas que se apegam a este tipo de confissão de pecado que é o salmo 103:12, "quanto está longe o oriente do ocidente, assim afasta de nós as nossas transgressões". É no entanto de realçar que quanto mais as pessoas confessam à maneira delas ou à maneira duma qualquer instituição religiosa porque lhes convém de certa maneira que assim seja, mais os seus pecados fazem parte da sua vida. Qualquer confissão deveria trazer a paz de espírito que reflecte uma presença e proximidade de Deus no espírito de quem confessou principalmente porque é inevitável que tal aconteça. Esta presença garantirá sempre vitória sobre qualquer tentação e daí a promessa de alguém se tornar alvo como a mais branca neve. Ora aqui lemos precisamente que as pessoas se tornam brancas como a neve e que afasta de nós as nossas transgressões como o oriente está do ocidente. No entanto, é sabido que o transgredir se apega ainda mais a qualquer religioso e que quem confessa volta sempre a confessar mais tarde ou mais cedo, pois tanto assim é que as pessoas que nunca vão a uma igreja clamam a alto e bom som que vivem com menos falhas do que aqueles que vão à igreja e diga-se desde já que é verdade o que proclamam aos quatro ventos desta nossa terra. É por esta causa que as escrituras dizem "o meu nome é blasfemado por vossa causa". É um facto que em vez do pecado se distanciar a um continente de distância do pecador, a consciência do pecado e da acusação deste e das maneiras de persuasão contra uma consciência manchada e sem outra saída senão a humilhação diante de Cristo em pessoa, aumentam a olhos vistos. É notório a falta de paz nos crentes, razão pela qual estes estarão sempre a auto convencer-se de que são os salvos e que nada de mal lhes sucederá. "Curam a ferida do meu povo muito levianamente dizendo 'paz, paz' quando não há paz" "e não dizem no seu coração que Eu ainda me lembro de toda a sua maldade: agora pois cercam as suas obras; diante da minha face estão!"

É sempre de realçar que todos os que se entregam a estas praticas contagiantemente pecaminosas e sem qualquer cura para algo que se chama pecado, nunca deixam de se agarrar a coisas que fizeram num passado recente ou não, como por exemplo o já ter aceite Cristo como salvador ou o já ter-se envolvido em obras de caridade ou outra qualquer de que se cercam as pessoas; daí as palavras "agora pois cercam as suas obras" para que não fujam da vista e sirvam de calmantes para uma consciência já ténue e enfraquecida daquela consciência doutras verdades que são sempre postas de lado e rejeitadas ao mínimo som de acusação. As pessoas procuram é o bem-estar a qualquer custo, desde que não tenham de se humilhar diante de alguém. É mais fácil para as pessoas sacrificarem-se com caminhadas intermináveis a santuários supostamente santos do que irem pedir perdão a alguém que odeiam. Pensam que o sacrifício acaba por compensar duma qualquer maneira que eu até ao dia de hoje ainda não consegui descortinar. As palavras "sacrifícios não queres mas sim um espírito contrito e quebrantado", o qual nunca faz parte duma das hipóteses de se reconciliarem com Deus, nunca são levados seriamente em conta! Porque haverá dito Cristo (e ninguém poderá negar que disse isto aos seus discípulos!), "portanto se trouxeres a tua oferta ao altar (mesmo sendo esta oferta a nossa vida!) e aí te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa ali diante do altar a tua oferta e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão e depois vem e apresenta a tua oferta. Concilia-te depressa com o teu irmão enquanto estás no caminho com ele para que não te aconteça que... te encerrem... na verdade te digo que não sairás dali enquanto não pagares o ultimo ceitil!". Qual será a obra da qual alguém se possa cercar para poder usá-la como escudo e que alguma vez poderá argumentar contra algo posto assim a quem crê e já segue a Cristo sem sequer olhar para trás, o que seria o caso de Pedro, João, André e mesmo Nataniel que recebeu o testemunho da boca de Cristo de que este seria alguém em quem não haveria dolo (João 1:47,48)?

Juntando pois todas estas conclusões quero partir agora para uma outra que irá de certeza provocar muito mal-estar em qualquer mente que se agarra em doutrinas para sobreviver a um naufrágio da sua nau já de si condenada à partida de qualquer argumento. As palavras que lemos em Isaias 59:1,2 dizem algo que também passa sempre despercebido aos menos atentos, isto é, "a mão do Senhor não é curta que não possa salvar, mas...". Parece-me que aqui Deus até faz depender a salvação de algo que Ele abomina e que quer que seja retirado de diante da sua face antes mesmo de se orar e pedir pela salvação da nossa alma futuramente. É estranho isto? Até pode ser, mas lá que aqui Deus fala em "salvar", isso não poderemos nunca negar. Se não entrarmos num jogo do gato e do rato (aquele que acrescenta e retira das escrituras aquilo que lhes apetece só com o intuito destas poderem enquadrar-se melhor dentro das doutrinas preferidas de cada qual mesmo correndo os riscos de que Apoc. 22:18,19 nos fala, então passaremos a ser destros e honestos numa correcta interpretação das Escrituras que nunca deixaram de ser simples e bastante concisas.

Antes de elaborar sobre o que aqui interpreto das palavras de Deus em Is. 59:1,2, quero citar um ou dois casos reais de algo que aconteceu com pessoas que pensavam que nada tinham a temer de Deus até algo como o dia do juízo antecipado os haver surpreendido. Vivi durante algum tempo numa zona em África onde Deus operou e opera dentro dos parâmetros originais da fé dos apóstolos e demais crentes da altura. Casos de juízo como o de Ananias e Safira passaram a ser relatados com pormenores duma das facetas de Deus que até então se desconhecia ou se fazia por não serem nunca levados em conta. Depois do Senhor ter derramado o seu Espírito como o fez em Jerusalém (através de um vento forte) as pessoas começaram a arrepender-se aos milhares diariamente, isto depois do arrependimento do principal pecador da zona que era o pastor duma congregação evangelisticamente bastante ousada. Mas o que mais impressionou quem assistia a tudo isso, foi a ira com que Deus se manifestou contra quem se diz crente e continua a levar uma vida profana sem haver sequer confessado tudo o que faz e fez até ali, dando assim de caras com a maior das surpresas da sua vida.

Foi numa normal reunião de oração onde algumas pessoas se reuniam para orar e ler das escrituras. Uma senhora da etnia local (zulu), entrou e assentou-se humildemente. Ninguém esperava que nada demais se passasse, mas Deus resolveu intervir de forma muito dramática. O silêncio e a ordem que lá reinava eram absolutos. De repente a senhora saltou aflita como que querendo apagar um fogo que ninguém via a vista aberta. Batia os pés no chão a clamar que se estava a queimar e que Deus viera ali para consumi-la porque estaria em pecado. Estavam todos atónitos com aquela ocorrência e por essa razão o silêncio imperou mais ainda. Aflita, dizia que nunca deveria ter entrado ali naquele local sem ter pedido perdão a outros daquilo que havia feito. Clamando pediu quase em forma de vénia (como é costume entre esta tribo quando se dirige a outras pessoas) que permitissem a sua saída para que pudesse ir regularizar umas coisas com os seus filhos e marido. Disseram-lhe que sim (ao contrario muitos pastores dariam um qualquer outro conselho desapropriado que Deus perdoa e que mais!) e a senhora saiu de lá como uma seta em alta velocidade. Como é costume entre esta tribo o filho mais velho ser quem mais respeito merece, sendo depois o segundo e o terceiro sucessivamente, a primeira pessoa quem a senhora procurou foi o seu mais velho. Ao ver o estado da mãe, o filho perguntou-lhe o que se passava com ela e esta quase sem dar credito às suas perguntas relatou como havia sempre sido uma má mãe para ele e que agora Deus havia vindo cobrar a factura dos pecados dela. Perguntou ao filho se este lhe perdoava e este sem hesitar, ao ver que o assunto era bastante sério mesmo (pois nunca lhe passaria pela cabeça que a sua mãe fizesse tal coisa!), disse-lhe que sim. Ela agradeceu-lhe de todo o coração e desatou a correr em busca do segundo filho e depois do terceiro com os mesmos resultados. Depois foi ter com o marido e suplicou-lhe que lhe perdoasse por coisas que para ela passaram a parecer bastante graves, mas que para o marido seriam apenas uns quaisquer deslizes, embora tais se houvessem passado durante anos a fio. Mas por esta insistir muito no seu perdão ele disse que sim que lhe perdoava, se era isso o que ela desejava. Não me recordo ao certo quantas mais pessoas esta mulher foi procurar para regularizar tudo o que naqueles momentos lhe começaram a parecer montanhas enormes de condenação sem igual. Acho que até procurou vizinhos expondo-lhes muita coisa má que havia feito. Passado algum tempo, umas horas suponho, a senhora voltou a aparecer no local de culto onde todos ainda se encontravam. Entrando de rompante, ajoelhou-se à frente de todos e orou em voz alta como que falando com quem não via mas sentia. Disse-Lhe: " Senhor agora salva a minha vida de tudo quanto é o meu coração. Obrigado por me teres dado uma oportunidade de por em ordem todos estes males que são grandes questões para Ti. Toma a minha vida em tuas mãos e salva-me".

Ora, aqui está um exemplo onde se manifesta a pratica forçada dos textos que acima transcrevi. É notório que a senhora deixou ali no altar a sua oferta (que neste caso seria a sua vida), foi confessar toda a sua convicção a quem de direito, voltou e só então pediu salvação do coração que possuía. É assim que entendo este versículo em Is.59:1-2.

Qualquer pedido de oração, mesmo se tal é de salvação, deverá ser precedido de condições de se poder ser ouvido, porque senão oramos em vão! Um outro caso passou-se com um presbítero de igreja (penso que reformada) em quem Deus começou a operar em forma de convicção de pecado à qual este resistia, pois já era presbítero, mas que por essa razão angustiava-se cada vez mais. Isso levou-o ao ponto de não conseguir estar mais a viver daquela aparência religiosa muito forçada, a qual a sua posição na igreja "exigia" dele, pois é comum todos quererem ser exemplos de 'bons serem' sem nunca se haverem tentado sequer humilhar perante evidências marcantes da sua própria consciência. Este senhor entrou em desespero total passado algum tempo e passou a pensar que não teria Deus na sua vida. A convicção foi aumentando até ao ponto de que não haveria mais duvidas de que assim era de facto, apesar dos seus pastores o tentarem convencer que apenas estaria numa fase menos boa da sua vida e que ele já seria filho de Deus há muito. Mas o pobre homem não mais se deixou enganar por palavreado que em nada lhe satisfazia aquele enorme abismo que sentia existir dentro de si a partir dum certo momento.

Carregava dentro de si um enorme peso e quanto mais orava e pedia a Deus que viesse em seu auxilio, mais este homem sentia a enorme sede de encontrar verdade dentro de si sem ser só a nível das aparências. Não sei precisar quanto tempo passou neste estado de coisas, mas um belo dia foi-se deitar esgotado e sonhou que estaria num destro muito árido. Este sonho era tão real que não deixava duvidas que o seu significado era divino. Nesse deserto buscava água para beber e não a achava, tal qual se passava na sua vida. Ora, passou a pensar que se não encontrasse agua viva muito rapidamente, não subsistiria por muito mais tempo. Foi andando pelos caminhos que este deserto lhe ia proporcionando representando fielmente o caminho que seguia enquanto acordado, até dar de caras com uma parede feita de tijolos, todos com o mesmo tamanho. Instintivamente sabia que por detrás daquela parede existiria a água que há tanto buscava. Mas como chegar a ela, pensou. Olhando para a direita e para a esquerda não via o fim da parede, pois desaparecia de vista. As pessoas procuram sempre caminhos fáceis para contornarem questões, pois foi precisamente esse o seu primeiro pensamento. Mas logo viu que tal tarefa seria impossível de realizar mesmo que não estivesse esgotado como já se sentia. Olhou para cima a ver se conseguiria trepar pela parede para alcançar a sossego da sua enorme sede. Mas não, não era possível.

Desesperado sentou-se num pedregulho que havia lá por perto e suspirou resignado com a sua sorte. É assim que fazem as pessoas quando pensam que as suas maneiras de resolver as coisas não deixam mais solução possível. O desespero impera porque gostam de coisas complicadas e só uma impossibilidade os retira das tentativas ténues de se salvarem a eles próprios. Fazem de tudo menos pensar na coisa certa, tentam tudo e mais alguma coisa e se nada mais resulta, morrem na resignação de nada poder fazer! Tudo seria mais fácil fazer excepto o mais simples. Foi neste espírito resignado que ele começou a divagar sobre a sua vida, sobre tudo o que havia feito anteriormente, pensando que chegara o seu fim. Nestes momentos em que as pessoas param para pensar um pouco na total inutilidade da vida cá na terra, Deus pode intervir milagrosamente, porque é aqui onde até um presbítero deixa de resistir à própria consciência que tem das coisas. Foi pois neste estado de espírito que este se recordou de algo que havia feito contra a sua esposa. Sentiu-se tão mal (pudera, já não tinha como resistir!) e encarou a visualização daquilo que fez como um tremendo crime. "Como pude fazer tal coisa", exclamou. Pediu que Deus o perdoasse e ainda as suas palavras estavam quentes e desprendeu-se um dos muitos tijolos daquela parede, o qual foi lançado para longe dali para dentro dum abismo sem fim. Nunca mais veria tal tijolo, pois desaparecera por completo. Olhou admirado para o buraco que ficou na parede e quando ia espreitar nele para ver se havia da água que buscava por detrás dela, saiu de lá uma voz forte, doce e meiga que lhe perguntou se sabia porque razão estaria aquela parede ali e porque razão os tijolos seriam todos do mesmo tamanho. Essa voz nem lhe permitiu ver se existia do outro lado daquela água que procurava, mostrando assim que deveria crer nos seus instintos espirituais. Ao afirmar que não, disse-lhe a voz outra vez que havia sido ele quem construíra aquela barreira entre ele próprio e Deus e que cada tijolo ali representava um pecado seu, fosse este de que tamanho fosse. Uma pequena mentira ou uma grande afronta colocaria sempre um tijolo de igual tamanho naquilo que o separaria do Deus que sempre procurara servir, pois não havia pecados nem mais pequenos nem maiores uns que os outros. O homem despertou do seu sonho e foi logo em busca dos seus pastores e de mais pessoas clamando que sabia qual o seu mal. Todos se admiraram com a sua urgência em falar-lhes e muito mais quando lhes pediu que orassem com ele sobre todos os crimes que cometera, os quais passou a confessar ali mesmo diante deles. No dia a seguir, quando outras pessoas repararam na expressão mudada do seu rosto, todos se perguntavam que milagre haveria ocorrido com o seu presbítero, pois cantarolava de alegria e perdera toda a sua postura de fingido e esforçado em ser um exemplo.

É de realçar nestes casos que Deus manifestou a todos que haviam barreiras muito concretas até a pedidos de regeneração espiritual. Se assim sucede com aquilo porque Cristo veio ao mundo, a nossa salvação, imagine-se o que sucederá com os outros pedidos que muitos consideram banais! Lembro-me de palavras proferidas por pelo menos um dos maiores evangelistas de sempre (coisa que muito alvoroço causou nas igrejas da altura porque este homem era sempre muitíssimo bafejado pela benção de Deus onde quer que pregasse) e que em muitas partes do mundo foi reconfirmado por muitos outros em circunstancias mais ou menos semelhantes. Ele era sempre peremptório em afirmar que ninguém poderia esperar ser ouvido por Deus, mesmo que fosse tal pedido para salvação de sua alma, enquanto tivesse em consciência um pecado por confessar, fosse este a humano ou a Deus. Aqui confirmam-se as palavras de Isaias que dizem "eis que a mão do Senhor não está curta que não possa salvar... mas as vossas iniquidades fazem separação entre vós e o vosso Deus". Se nada acrescentarmos ao que lemos e se nada lhe retirarmos também, a mensagem deste capítulo fica assim concluída. Mas não quero terminar sem no entanto fazer uma observação pertinente: se assim é com o pecado não confessado, imagine-se como será com qualquer pecado não renunciado, como má-língua, tabaco, impaciência e outros tantos mais! Lemos em Provérbios 28:13 que só aqueles que "confessam e deixam o seu pecado alcançarão misericórdia" e em Is. 58:20 "e virá um Redentor... aos que se desviarem da transgressão...".

Concluo com as Palavras com que comecei este capítulo: "Quem há entre vós que não acenda debalde o fogo do meu altar? Pois maldito seja o enganador que tendo... promete e oferece ao Senhor uma coisa vil; porque Eu sou grande Rei, diz o Senhor dos exércitos, o meu nome será tremendo entre as nações" Mal.1:10,14.

José Mateus
zemateus@msn.com