CORAÇÃO ROUBADO

Andei como vagabundo neste mundo, vivendo onde não me sentia bem.

Era de cá, não era de cá… tudo me fazia sentir mal!

Era assim porque o meu coração havia sido roubado.

É estranho vivermos no lugar onde nascemos e onde achamos que pertencemos

E, ainda assim, sentirmo-nos mal por lá. Estamos ali sem coração.

Deus roubou o meu coração e comecei a buscar a vida que não tinha em mim.

Que vazio! Que dor sentia com o meu peito vazio! Sangrava, chorava e suspirava

Cada momento, cada movimento da minha vida era um suspiro de desconforto!

Subi montes, mudei de países, vivi sem viver porque buscava o que me foi roubado.

Meu semblante era triste enquanto demonstrava esperança que parecia cega.

Mas, a única saída, o último recurso é o caminho que Deus abriu para achar o coração.

Tudo o resto está fechado, é intransitável, tenebroso.

Dá medo, temos temor só de olhar para os caminhos de onde Deus tirou toda a luz.

Mas, sempre existem tolos!

 

Quando olhava para a tentação do pecado, por muito forte que fosse o seu fascínio

Sentia que não tinha nada de bom para mim. O meu coração estava longe dali.

Meu corpo e mente entregavam-se sem ele, porque havia sido roubado.

Mas, onde estava? Foi levado, mas, para onde, eu não sabia.

O que traria o brilho que nunca tive no meu rosto? Qual o segredo? O que me falta?

O desespero da busca; a chantagem da vontade de desistir; o medo de claudicar;

A vergonha de não achar; tudo era tropeço para mim em meu caminho.

O orgulho tinha medo de não ser visto a vencer.

Ah, se soubesse que o orgulho não tem utilidade no lugar para onde foi levado o meu coração!

Não teria medo, não teria vontade de desistir e nem vergonha de não achar.

Morto não sente medo, não sente vergonha e nem orgulho.

 

Suspeitei que o meu coração estivesse em um alto monte de santidade, preso.

Olhei e, sem pernas, rastejei para chegar ao cume desse monte.

Estava sendo atraído por aquilo que me foi tirado do peito.

Deus subiu e levou-o cativo com Ele para me atrair.

Quando for levantado da terra, todos atrairei a Mim”, João 12:32.

Poderia usar asas como os anjos, mas queria andar para subir. Exigia andar!

A carne exige os seus meios para não ter receio de buscar o que crê incerto.

Precisa agarrar-se a alguma coisa sua para não morrer de vez.

Queixava-me de leve por não conseguir andar

E o queixume tirava os meus olhos das asas que recusava usar.

Voar como águia não cansa. Mas, rastejar sem pernas para andar,

Para subir um alto monte, faz-nos crer que não temos amor

E muito menos amor pelo monte, ou pelas asas que recusamos usar.

Subir rastejando faz-nos duvidar de muitas coisas nesta escalada.

Duvidamos de tudo e perguntamos se valerá a pena o sacrifício.

São perguntas e questões próprias de quem recusa voar para poder rastejar.

No entanto, com Deus está o nosso coração, preso e enjaulado para viver sempre do bem.

 

Por essa razão sempre senti um desconforto quando não voava, quando desesperava.

O desespero é não esperar, é recusar voar. É suicida orgulhoso e decidido.

É não esperar receber de outra forma ou não esperar receber outra coisa.

Quem tem expectativa, quem é esperançoso voa alto e não se cansa.

Quem espera de Deus, mantendo-se no Senhor, corre sem saber o que é o cansaço

Mas, sem coração preferia rastejar para poder recusar voar! Reagia pela vingança!

Porque Deus não me dava pernas para andar? Perguntei suspirando!

Com pernas eu obrigar-me-ia a andar, teria leis para me suportar e alimentar!

Eram perguntas sem nexo, pois Deus perguntava porque queria andar se podia voar?

Quem voa alto precisa das leis de quem caminha pela força da violência?

Eu não queria entender meu Deus e Ele não me entendia, não respondia.

Eu queria que fosse do meu jeito e, já agora, sem me cansar.

Mas, para o topo daquele monte só existe caminho voando, esperançado;

E só voa quem tem expectativa, quem se alegra com o modo do céu,

Quem sabe que toda a boa dádiva vem do alto, de Deus.

Deus exigia de mim que recebesse com as duas mãos, alegre.

E eu recusava ter esperança de encontrar vida daquela maneira!

Quem me dera poder caminhar do meu jeito, achar com as minhas forças!

Se achasse vida do jeito de Deus, a minha deixaria de existir! Tornar-me-ia inútil!

Perderia tudo se recusasse perder a vida própria, os próprios modos.

Mas, como teria o meu coração de volta rastejando, recusando perder o mau feitio?

Como acharia, também, o que nunca tive?

 

A carne é falsa e enganosa. Ela até aceita o céu como objectivo final

Desde que recuse abdicar da sua força e da sua crença.

Precisa manter alguma coisa sua para poder viver, isto é, para não morrer

Porque recusa morrer, tenta ajudar o Espírito, o seu inimigo

Tenta sobreviver ignorando a inimizade que Deus tem contra o braço da carne.

Recusa entender quando Deus diz: “Quem não junta Comigo, espalha!”

Mantendo um pedaço dela própria, a carne mantém ainda a confiança!

Mas, em Deus, ela desconfia. E ela está certa, pois sabe que não viverá perto d’Ele.

Mas, a carne tem de crer ou de morrer? Tem de confiar ou de ser exterminada?

Hei-de consumir por completo tudo sobre a face da terra, diz o Senhor”, Sof.1:2.

 

No fim, não desisti de voar.

Deixei de resistir e comecei a resistir a ideia de rastejar.

Vi o meu coração ao longe e Deus colocou-o em seu lugar.

Não me atrevi a tirá-lo da mão de Deus porque pertencia-Lhe.

Finalmente em mim! Sossegado, calmo e feliz com Deus – por Deus e não por mim.

Iria ficar feliz por quem já não vive? Ou por Quem vive para sempre?

Estava desmamado, preso e abraçado no amor que Deus lhe tem.

Amém.

 

José Mateus

1 De Setembro 2007