O SENTIDO DO DEVER
“Limpai-vos, pois, do fermento velho, para que sejais uma nova
massa, assim como estando sem fermento.
Porque Cristo, nossa Páscoa, foi sacrificado por nós. Por isso façamos a festa, não com o fermento velho, nem com o
fermento da maldade e da malícia, mas, com os ázimos da sinceridade e da
verdade”, 1Cor.5:7-8
1.
Existe aqui um contraste entre
fazer as coisas por estarmos fermentados e fazermos sem fermento. A carne exige
“feeling” para fazer, espera ter “vontade” para cumprir,
raiva para brigar, bons sentimentos para compreender os demais, etc. Isso é
precisamente o que Paulo afirma aqui: a carne só faz estando fermentada. E
muitos buscam fermento para cumprirem e é por essa razão que as igrejas buscam
emoções e não a realidade de Cristo. A mãe só castiga quando está zangada ou
indisposta e não quando a criança precisa e, estando bem-disposta, passa a mão
por cima da cabeça da criança desordeira e desobediente só porque se sente
‘benevolente’. Isso é falsidade! O dever e o Espírito fazem sem fermento. A
sinceridade é colocada aqui neste versículo como um estado de espírito sem
fermento - simples, sem emotividades e sem interesses. A sinceridade é fazer sem
fermento – é fazer/cumprir quando é preciso o que é preciso (estando empolgados
ou não).
2.
Há quem diga que bons sentimentos
são altruístas e que eles são amor. Mas, podemos estar a seguir a carne. Nem
todos os bons sentimentos são santidade e nem todos os maus sentimentos são
pecado. Quando os actos provêm de um estado fermentado significa que a carne
está envolvida como mandante, seja mandante secreto ou mandante óbvio/visível. E
quando a carne está envolvida, Cristo e Seu Espírito não estão. Você consegue
fazer qualquer coisa sem ser por estar fermentado? Consegue fazer as coisas pelo
Espírito ou só consegue se for pela carne? Desde quando é que você começou a
acreditar que fazer as coisas por causa da emoção é sinceridade? Paulo afirma
que a sinceridade provém da ausência de fermento. (Devemos distinguir entre
fazer as coisas com emoção e fazer por causa da emoção). Já entendeu o real
significado de ter de “negar-se a si mesmo para seguir Cristo”?
3.
Os sentimentos é que devem seguir
o dever e não o dever seguir os sentimentos. Você não deve nada à carne para
obedecer-lhe. “De maneira que, irmãos, não somos devedores à carne para viver segundo a
carne”, Rom.8:12. Quando um homem ou mulher segue o que
sente, ele/a segue o próprio coração. E nem tudo aquilo que o homem sente é
ruim. Mas, nós só somos chamados a seguir Cristo e não o coração.
4.
Não é errado sentir: é errado
quando é o sentimento quem determina as acções e as reacções. Quando você vê
água quente, você procura loiça para lavar? Não é antes o inverso, isto é, você
tem loiça para lavar e, por essa razão, busca água quente? Se isso é verdade,
por que razão você só reage quando está emotivamente envolvido e quando é seu
coração quem exige uma actuação? Você só faz quando sente ou só sente quando
faz? É você que segue o seu coração ou o seu coração que segue a si? Seguir o
coração é o epicentro do pecado: é o que chamamos de egoísmo. Satisfazer o
sentimento é egoísmo. Quando as freiras se dedicam a cuidar de crianças, na
verdade, elas dedicam-se ao que sentem e não às crianças. Sentem dó e satisfazem
essa necessidade emocional ou emotiva. Caso não sentissem dó, não cuidariam das
crianças. O que deveria tornar-se uma ferramenta, tornou-se a causa ou o motivo. O egoísmo é o oposto do amor
e o amor é a lei de Deus. Por isso, seguir o coração é o oposto do amor. O
pecado é o egoísmo – é seguir o que sentimos quando sentimos. O egoísmo é
satisfazer as exigências do coração. O oposto do amor não é o ódio: é o egoísmo.
Seguir o coração é fazer por conveniência e por
motivos pessoais.
5.
O pior tipo de escravatura que
existe é sermos escravos de nós mesmos. Imagine quando o escravo é o próprio
dono dele! Eu já assisti um homem treinando xadrez. Ele jogava sozinho e era seu
próprio adversário. Mudava de cadeira ou virava o tabuleiro de xadrez para jogar
contra ele mesmo. Fazermos as coisas fermentados e
sermos os nossos próprios donos ou escravos é um jogo teatral. Jogamos sempre a
nosso favor. Se um dos adversários perde o jogo, saio sempre ganhando porque
jogo contra mim para jogar a meu favor.
6.
A liberdade que Cristo veio
dar-nos é esta: não precisarmos fazer as coisas por causa do fermento e muito
menos por causa daquilo que sentimos ou não sentimos. Cristo veio libertar-nos
de nós mesmos, ainda que essa liberdade total seja condicional a uma faxina de
todos os pecados e de toda a vida passada e presente. “Limpai-vos, pois…” Depois
dessa faxina de pecados, deve vir a rendição incondicional de tudo que somos e
temos a Jesus sem condições. Assim seremos libertos de nós próprios. Se o
objectivo principal da Cruz não fosse libertar-nos de nós próprios, por que Paulo diria:
“estou crucificado com Cristo”? Amém.
JOSÉ MATEUS
zemateus@msn.com